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Análises de livros

ANÁLISES DE LIVROS

WHY WE SLEEP. J. HORNE. Um volume (16 x 24 cm), encadernado, com 319 páginas. Oxford University Press, Oxford, 1988.

As teorias que procuram explicar ou justificar a existência do sono ou que atribuem funções a ele são numerosas. Elas mudam ao longo do tempo, de acordo com tendências de cada pesquisador, com o amadurecimento teórico da época, com a possibilidade de investigação no momento e sofrem influências de idéias análogas trazidas de toda a biologia ou mesmo de outros campos.

Dentre aa hipóteses mais conhecidas atualmente encontramos as que vêem o sono como processo de restauração do organismo ou apenas do sistema nervoso central, conseqüente ao desgaste da vigília. Outras querem mostrar o sono como um momento necessário para a organização e consolidação da memória, com deleção de dados desnecessários. Algumas propõem um dualismo do sono REM recuperador da atividade psíquica para o dia seguinte e o não-REM, como essencial ao restante do organismo. Outras ainda, colocam o sono REM como um momento necessário para manter o cérebro ativo, estimulado, durante as longas horas da noite, sem precisar do despertar. Há ainda as que julgam o sono como resultado da evolução, sendo o melhor estado de repouso e manutenção de energia para nós durante a noite, já que não estamos aptos a sobreviver no escuro e ficaríamos vulneráveis aos predadores.

Horne discute detalhadamente as várias teorias sobre o porquê da existência do sono nos mamíferos e particularmente no homem. Apresenta, em minúcias, apoiado em vasta bibliografia, de forma elegante e imparcial os pontos de vista de cada uma delas, mostrando os elos que ainda nos faltam e as linhas de pesquisa por fazer. Vai além da constatação e comparação de dados, propondo suas próprias idéias e conclusões. Intrigante e fértil, esta é uma leitura obrigatória aos que pesquisam o sono sob qualquer ângulo.

RUBENS REIMÃO

A TEXTBOOK FOR EPILEPSY. J. LAIDLAW, A. RICHENS, J. OXLEY, editores. Terceira edição. Um volume (19 x 25 cm) encadernado, com 644 páginas. Churchill Livingstone, Edinburg, 1988.

A proximidade da aposentadoria do Dr. Laidlaw trouxe o Dr. Oxley para o grupo editorial deste que permanece sendo o único livro-texto de epilepsia por enquanto existente. Extensas revisões e adições foram feitas à segunda edição. O problemático assunto de classificação em epilepsia é abordado em três partes, pelos editores: Parsonage (que dá a visão européia contra as recentes classificações da ILAE) e, Porter que dá a visão atual do «establishment» epileptológico. Vários novos autores escrevem, inclusive Wallace em epilepsia em crianças, Binnie em eletrencefalografia, Rimmer em conjunto com Richens em farmacologia clínica. Há vários novos capítulos, como genética (Anderson e Hauser), serviços médicos (Shorvon), retardo mental (Corbett), problemas em mulheres (Cleland e Espir), problemas dentais (Addy), aspectos sociais (Craig e Oxley). O capítulo de, países em desenvolvimento foi expandido e inclui seção sobre a América Latina e uma sobre visão geral (Meinardi). Várias partes já existentes, como o capítulo de fisiopatologia (Meldrum), foram estendidas e atualizadas. No capítulo crises epilépticas em adultos, de Marsden e Reynolds, grande quantidade de informações recentes de importância prática, como por exemplo a história natural de epilepsias crônicas e de crises únicas, são amplamente discutidas.

Em resumo, é um volume com lugar já conquistado na biblioteca de todos os neurologistas e que, agora, passa a ter importância aumentada para profissionais de áreas correlatas.

PAULO ROGÉRIO M. DE BITTENCOURT

MOVEMENT DISORDERS. N. S. SHAH, A. G. DONALD. Um volume (15,5 x 25,5 cm), encadernado, com 406 páginas. Plenum Press, New York, 1986.

Este volume, editado por especialistas da Universidade da Carolina do Sul, engloba uma série de trabalhos concernentes às principais afecções que se caracterizam por alterações de movimentos: doença de Parkinson; discinesias tardias; síndrome de Gilles de la Tourette e outros tiques; doença de Huntington.

Precedendo o estudo desses quatro grupos de afecções, Stahl se incumbe de revisão da Neurofarmacologia das Desordens de Movimentos. À fisiologia e farmacologia da doença de Parkinson é dedicado o capítulo 1 (Newman e Calvin); a seguir, são atualizados conhecimentos sobre o tratamento da afecção (Knoll), as conce.ituações da doença (Lieben e Goldstein), a avaliação da terapêutica no parkinsonismo e modelos experimentais das disfunções dos sistemas dopaminérgicos encefálicos (Bianchine e col.). A segunda parte é reservada ao estudo das discinesias tardias, inicialmente da epidemiologia, fisiopatologia e farmacologia. Os peptídeos encefálicos originados no hipotálamo e seus análogos que eventualmente melhoram a transmissão dopaminérgica podem ser úteis ao combate aos sintomas das discinesias tardias induzidas pela administração crônica de neurolépticos (Bhargav). Os aspectos clínicos das discinesias tardias são considerados (Garden e col.): uma discinesia intensa com comprometimento funcional é rara e seu tratamento é habitualmente difícil; os antagonistas dopaminérgicos podem eventualmente suspender os movimentos coreoatetóticos, mas frequentemente à custa de manifestações parkinsonianas; drogas colinérgicas e várias compostos antidistônicos podem ser benéficos mas, também, à custa de não raros efeitos colaterais. As possibilidades de tratamento das discinesias tardias através de drogas não catecolaminérgicas e não colinérgicas são revistas (Alphs e Davis). A curiosa sindrome de Tourette. assim como outras variedades de tiques, são assunto da terceira parte: após revisão geral (Shapiro e Shapiro), capítulo especial é reservado aos efeitos da terapêutica pela clonidina (Dorsey); ampla revisão da patogenia da síndrome é apresentada (Lockman e col.). A quarta parte do livro é reservada ao estudo da doença de Huntington.

Diversos outros capítulos, concernentes a temas sobre desordens de movimentos encerram este livro, que é acompanhado de abundante e bem selecionada bibliografia.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

TREATMENT DEVELOPMENT STRATEGIES FOR ALZHEIMER'S DISEASE. T. CROOK, R. BARTUS, S. FERRIS, S. GERSHON, editores. Um volume (12 x 21,5 cm), encadernado, com 699 páginas. Mark Powley Associates, 1986.

No início do século XX, apenas 4% da população norte-americana tinha 75 anos de idade ou mais. Hoje ela excede a 11% e, se a mesma tendência persistir, atingirá 20% dentro de 50 anos. Em números absolutos, essa faixa etária que se limitava a três milhões de pessoas em 1900, cresceu para 27 milhões em 1980 e calcula-se que, no ano 2.030 atingirá 50 milhões. Compreende-se pois, o problema que a doença de Alzheimer constitui, por seus efeitos devastadores em indivíduos habitualmente idosos. O objetivo deste livro é a investigação e a exposição dos processos de abordagem do tratamento dessa doença e de afecções correlatas. Este volume é o terceiro de série publicada pelos mesmos editores e visando a atualização no tratamento da doença de Alzheimer: o primeiro, Strategies for the Deve-lopment of an Effective Treatment, foi publicado em 1981; o segundo, Assessment in Geriatric Psychopharmacology, em 1983. A leitura comparativa desses livros impressiona pelos progressos experimentados nestes últimos 5 anos.

São 29 os capítulos deste livro, em que os fundamentos dos processos de tratamento da demência de Alzheimer são analisados e criticados. Aos autores desses capítulos, foi solicitado que liberassem sua imaginação e considerassem mesmo eventuais processos de tratamento ainda não ortodoxos. Hollister, em suas considerações finais, emprega paráfrase da famosa declaração de Winston Churchill sobre os russos: «após 80 anos de sua descrição original, a doença permanece uma charada, envolvida por um enigma, envolvido por um mistério». Pelas analogias entre a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson, é compreensível que, em ambas, o tratamento se focalize essencialmente na reposição do principal neurotransmissor carente. Se é verdade que o tratamento com levodopa na doença de Parkinson apenas se reveste de sucesso moderado, a terapêutica visando a aumentar a atividade colinérgica na doença de Alzheimer tem sido muito mal sucedida. Três possíveis abordagens podem ser consideradas. Em primeiro lugar, a terapêutica de reposição, quer pela administração de precursor de neurotransmissor carente, quer de outros meios, pelo aumento de sua atividade. Em segundo lugar, a pretensão de medida curativa, presumiria o combate à causa fundamental mas, como se sabe, a causa das doenças de Alzheimer e Parkinson é apenas conjectural. A terceira atitude seria a preventiva mas, também ela, pressuporia o conhecimento sobre a patogênese dessas enfermidades. No que concerne à terapêutica por reposição de neurotransmissores carentes, na doença de Alzheimer as tentativas baseiam-se na hipótese colinérgica. A perspectiva da descoberta de homólogo da acetil-colina que franquearla a barreira hêmato-encefálica pareceria mais apropriada que tentativas com precursores colinérgicos diretos ou, então, com a colinesterase. Por analogia teórica com a doença de Wilson, poder-se-ia admitir um decantado efeito tóxico do alumínio no cérebro de pacientes demenciados. Entretanto, é preciso convir que a neurotoxicidade do alumínio, como se observa na demência por diálise, condiciona um tipo diferente de filamentos helicoidais, em relação aos da doença de Alzheimer.

Existiriam ainda muitos tratamentos potenciais para a doença de Alzheimer, mas seu ensaio clínico ainda se reveste de dificuldades. Estes são alguns dos infindáveis aspectos que são considerados neste livro de leitura recomendável para o especialista.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

NEUROCUTANEOUS DISORDERS. J. P. CALLEN, R. J. MECKLER, editores. Neurologic Clinics, Vol. 5, N° 3. Um volume (23 x 16 cm), encadernado, com 497 páginas. W.B. Saunders, Philadelphia, 1987.

Este grupo de afecções neurocutâneas inclui, substancialmente, o clássico grupo das facomatoses. Lesões cutâneas freqüentemente constituem marcadores importantes de doenças internas e, em várias especialidades, podem ser a conseqüência do uso de terapêutica sistêmica. Múltiplas síndromes caracterizam-se pelo comprometimento concomitante da pele e do sistema nervoso. Dentro desses conceitos não compreendemos porque não há, neste volume, qualquer referência à angiomatose encéfalo-trigeminal (doença de Sturge-Weber) ou à doença de von Hippel-Lindau.

O primeiro capítulo é dedicado ao estudo da neurofibromatose (Riccardi), espectro de alterações que se manifesta de variadas formas e em que diferentes anormalidades podem se desenvolver. Entre as formas do comprometimento do sistema nervoso central, destaca-se o aparecimento de neoplasias, incluindo gliomas do nervo óptico. Os característicos neuro-fibromas, peculiares à doença de von Reckglinghausen, tendem a crescer ao longo de nervos periféricos (raquidianos ou cranianos), assumindo desde dimensões relativamente pequenas até tumores plexiformes gigantes. Alterações mentais podem acompanhar o quadro clínico. A esclerose tuberosa, afecção familial subordinada a transmissão autossômica dominante, multissistêmica e caracterizada pela tríade de retardo mental, epilepsia e adenona sebáceo, é estudada no capítulo 2 (Ranno e Beck). Uma genodermatose rara, ocorrendo quase exclusivamente no sexo feminino, é a incontinência pigmentada («Incontinentia Pigmenti»), objeto de revisão de Cohen (capítulo 3). A dermatomiosite, condição que alia uma miopatia inflamatória a características lesões cutâneas, é revisada por Callen (capítulo 4) e as manifestações cutâneas, imunológicas e neurológicas da síndrome de Sjögren são estudadas por Provost, Vasily e Alexander no capítulo subseqüente. A doença de Behçet, afecção complexa, multissistêmica, composta essencialmente por úlceras aftosas, aftas genitais e irite (a qual eventualmente determina a cegueira) é objeto do capítulo seguinte (Jorizzo). Amy Paller incumbe-se de 3 capítulos que se seguem: Desordens Metabólicas por Angioqueratoses e Disfunções Neurológicas, Ataxia Teleangietacsia e Síndrome do Nevo Epidérmico. Infelizmente, o capítulo concernente à ataxia teleangiectasia, embora enumere os principais dados que compõem a afecção, é deficiente no que concerne ao estudo das alterações eromossômieas; não há referências sobre seu possível valor na eventual compreensão patogênica e a bibliografia é extremamente escassa. Silverman estuda a seguir as manifestações cutâneas das infecções neurológicas na criança: relata, entre as afecções neo-natais, o herpes simples, a sífilis congênita, a listériose, a candidíase congênita com meningite e a rubéola congênita; a varicela congênita e os exantemas virais são revistos; as púrpuras, encontradas nas meningites meningocócicas e na febre das Montanhas Rochosas, são consideradas. Entre as doenças peculiares às crianças, são citadas as doenças de Lyme (meningopolineuropatia veiculada por picada de carrapato), a influenza por hemófilo e a doença da arranhadura de gato (cat scratch disease). Às desordens psico-somáticas é dedicado o capítulo de Master, concernente a interação entre o psiquismo e a pele. Finalmente merece realce, por seu interesse prático, o último capítulo: Reações Cutâneas a Drogas Neurológicas.

Em resumo, este volume da Neurologic Clinics, mantém seu padrão era relação aos anteriores e merece figurar na biblioteca do neurologista.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jun 2011
  • Data do Fascículo
    Mar 1989
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