IN MEMORIAM
Professor Dante Robusto Giorgi. 1914 -1974
No dia 23 de abril de 1974, consternando profundamente seus colegas e amigos, falecia em São Paulo Dante Robusto Giorgi, professor de Clínica Neurológica da Escola Paulista de Medicina.
Nascido em São Paulo a 13 de maio de 1914, Dante Giorgi ingressou em 1932 na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde se diplomou em 1937. Como estudante estagiário, em 1934, começou a trabalhar na 2.ª Enfermaria de Clínica da Santa Casa de Misericórdia, onde deveria permanecer durante quase um decênio, auferindo sólidos conhecimentos de clínica geral que marcariam fortemente toda sua futura atividade neurológica.
Em 1939 o saudoso Prof. Paulino W. Longo, então catedrático da Clínica Neurológica da Escola Paulista de Medicina, convidava Dante Giorgi para fazer parte de seu Serviço ao qual ele se ligou com entusiasmo, iniciando sua carreira de neurologista, cujos degraus deveria galgar firme e progressivamente, a ela emprestando inteligência, tenacidade, amor ao trabalho e exemplar assiduidade. Em 1966, quando já exercia o cargo de professor adjunto, aposentava-se seu querido mestre e amigo Paulino Longo, vindo a ocupar a cátedra seu companheiro Paulo Pinto Pupo que, desde logo, indicou Dante Giorgi para a chefia de clínica. Juntos dedicaram-se com afinco aos proble- mas de organização interna, à modificações curriculares então em plena ebulição e a um alentado programa de trabalhos científicos e didáticos. Infelizmente, em agosto de 1970, súbita e prematuramente falecia Paulo Pinto Pupo, ficando a Dante Giorgi a responsabilidade de substituir àquele notável neurologista como professor, cargo que exerceu com eficiência e dignidade até dezembro de 1973, quando foi acometido pela insidiosa moléstia que deveria vitimá-lo também prematuramente.
Durante os 35 anos em que trabalhou na Escola Paulista de Medicina, Dante Giorgi exerceu intensa atividade didática, ministrando grande número de aulas, organizando cursos de especialização, fazendo parte de bancas examinadoras de concursos; participou de congressos, reuniões e simpósios realizados no Brasil e no estrangeiro, por vezes como organizador ou como relator; publicou numerosos trabalhos científicos, destacando-se neste setor aqueles referentes ao tratamento das meningites. Realmente, ocupando-se com a terapêutica desses processos inflamatórios, primeiro das meningites purulentas e depois das meningites tuberculosas e por criptococos, graças sem dúvida aos seus conhecimento de clínica geral e aos seus dotes de paciência, perseverança, meticulosidade e arguta observação e, ainda, à sua profunda sensibilidade frente ao sofrimento alheio, conseguiu notáveis resultados, estabelecendo normas e condutas que foram adotadas até no estrangeiro.
Mas, Dante Giorgi foi realmente grande e inexcedível pelas suas qualidades humanas. Homem de posses, jamais fez alarde nesse sentido mostrando, pelo contrário, modéstia e quase humildade admiráveis. Dotado de imensa bondade e de profundo amor ao próximo, compartilhava dos problemas e dos sofrimentos de seus companheiros de trabalho, de seus clientes, de seus colegas e de todos que dele se acercavam, mesmo o mais humilde, ajudando-os sempre com infinita paciência, compreensão, solicitude e mesmo com sacrifício, procurando manter sempre viva a chama da esperança. Sempre estava disposto a esquecer, a perdoar, a estender a mão, quando por vezes alcançado pela mágoa da incompreensão ou da ingratidão.
Assim sendo, Dante Giorgi deveria deixar com sua morte a mais profunda tristeza no coração dos que ficaram, pois ele não tinha inimigos.
Octavio Lemmi
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
16 Abr 2013 -
Data do Fascículo
Jun 1974
