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In memorian Celso Machado de Aquino: 1912 - 1982

In memorian Celso Machado de Aquino: 1912 - 1982

Newra Tellechea Rotta

Celso Machado de Aquino, nascido em Porto Alegre, RS, em 27 de maio de 1912, filho do médico Affonso de Aquino e de Marieta Machado de Aquino, ao falecer, em 26 de maio de 1982, momentos antes de completar 70 anos de idade, deixou grande número de discípulos, que, espalhados por todo o Estado do Rio Grande do Sul, e, principalmente, concentrados no Instituto de Neurologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, serviço para o qual dedicou sua vida, guardam ciosos, de sua responsabilidade, um pouco do muito que este grande mestre era capaz de ensinar.

Sua primeira escola foi o Ginásio Estadual Anchieta onde, desde 1922 até 1929. cursou primário e secundário, completando o bacharelado em Ciências e Letras. Em 1930 ingressou na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, tendo se destacado como Preparador da Cadeira de Histologia e Embriologia Geral, como Interno Acadêmico da Cadeira de Microbiologia e da IV Cadeira de Clínica Médica, onde permaneceu, após a formatura até 10 de junho de 1938 como Assistente Voluntário, trabalhando sob a orientação do Prof. Manuel Madeira da Rosa. Em setembro de 1935 colou grau em cerimônia integrada nas comemorações do centenário da Revolução Farroupilha.

Desde a época de estudante freqüentava, assiduamente, o serviço dos Professores Antonio Saint-Pastoux de Freitas e Fábio do Nascimento Barros, seu mestre nos intrincados caminhos da Neurologia que começava a trilhar.

Em 12 de novembro de 1937 foi-lhe conferido o título de Doutor em Medicina por ter sido aprovado, com distinção ao defender a tese "O RH na Tuberculose pulmonar evolutiva e nos tipos morfológicos a ela predispostos e resistentes". (Contribuição ao seu estudo). Em 1938 foi nomeado Assistente da Cadeira de Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina, e no mesmo ano, foi designado Docente Livre de Neurologia após ser aprovado em concurso no qual apresentou a tese "Hemorragia Cerebral" (Estudo Etiopatogênico). Foi nomeado, após concurso de títulos, Catedrático Interino de Clínica Neurológica, em substituição ao Professor Fábio de Barros que se aposentava, cargo que exerceu nos períodos de 1940-46; 1948-53; 1954-57. Em 1943 realizou tese sobre "Distrofia Muscular Progressiva", que seria apresentada à Faculdade de Medicina de Porto Alegre no concurso para Professor Catedrático de Clínica Neurológica. Por motivos alheios a sua vontade isto não se concretizou.

Em 1960 foi nomeado Regente da Cadeira de Neurologia da UFRGS; Assistente de Ensino Superior em 1962; em 1965, Professor Adjunto; em 1968, Professor Catedrático e em 1969, Professor Titular.

Desde 1965 foi Professor Titular e Chefe do Departamento de Neurologia da então Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre, atual Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, tendo participado dos primórdios de sua organização.

O Professor Celso Machado de Aquino desde sua formatura em 1935 iniciou a longa caminhada, só interrompida pouco tempo antes de sua morte, pelos infindáveis corredores da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, tendo sido nomeado: Assistente Voluntário da 17ª Enfermaria em 1938, Diretor Interino da 19ª Enfermaria em 1947, Diretor Efetivo da 14ª Enfermaria em 1952, Diretor da 15ª Enfermaria em 1964, Diretor do Instituto de Neurologia da Santa Casa em 1969.

Foi neste serviço, sua segunda casa, que pode reunir ao seu redor um grupo de discípulos atentos, dedicados e constantemente surpreendidos por sua inesgotável capacidade de trabalho, por sua semiologia invejável, por seu raciocínio brilhante e por sua cultura invulgar.

Participou de várias sociedades médicas: Sócio da AMRIGS desde sua fundação, sócio fundador da Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia do RS, e Membro Titular Fundador da Academia Brasileira de Neurologia. Foi Presidente da Academia Brasileira de Neurologia de 1968 a 1970. Foi Vice-Presidente da Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia de 1974 a 1975 e Presidente da referida Sociedade de 1976 a 1977. Foi membro da Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia de Buenos Aires, desde 1945. Foi membro correspondente da Sociedade de Neurologia de Montevideo desde 1955. Foi Membro Titular Fundador do Instituto Sul-rio-grandense de História de Medicina.

Em 1951 foi homenageado dos formandos da Faculdade de Medicina da UFRGS, foi homenageado de honra dos formandos de 1952 e em 1953 foi paraninfo da turma cinquentenária da mesma escola, tendo proferido a oração na qual comenta, muito rapidamente, seu afastamento do cargo de Professor Titular Interino em 1953. "Sofrei que vos diga nesta oportunidade, algumas palavras que vos teria dirigido talvez em outra, a margem de nossas aulas, como costumavamos, não tivessem sido elas interrompidas abruptamente em setembro último, por motivo assaz conhecido, que repelistes com naturalidade por ser imoral".

De sua produção científica consta a participação de 26 congressos sulamericanos, tendo sido o Presidente do IV Congresso Brasileiro de Neurologia e III Congresso Brasileiro de Eletroencefalografia e Neurofisiologia Clínica realizado em Porto Alegre.

Muito escreveu nosso mestre, tendo publicado algumas de suas obras científicas e culturais, destacando-se entre elas: Considerações sobre a chamada Epilepsia Cardíaca; Evolução do conceito patogênico de hemorragia cerebral; Luxação da espádua por ataque epiléptico; Formas atípicas da doença de Friedreich; Espondilose traumática com espondilolistese incipiente; Polineurite anêmica; Distrofia muscular progressiva; A dança como expressão patológica da Idade Média; Musicoterapia nos problemas motores.

Foi Membro do Conselho Consultivo da Revista da AMRIGS de 1960-1970 e Conselheiro Regional do Estado do Rio Grande do Sul da Junta Editôra dos Arquivos de Neuro-Psiquiatria, órgão oficial da Academia Brasileira de Neurologia desde 1970.

Convivendo por 22 anos com o Prof. Celso Machado de Aquino, desde 1960, na 14ª Enfermaria de Neurologia da Santa Casa, para onde me dirigi na 3ª série do curso médico e onde permaneço até hoje, aprendi a entendê-lo, admirá-lo, questioná-lo, acompanhá-lo, mas acima de tudo aprendi a respeitá-lo como figura ímpar, portadora de indiscritível magnetismo pessoal, de quem posso dizer com orgulho, tive o privilégio de ser amiga.

É, portanto, com extrema dificuldade que faço estas breves referências do que foi nosso mestre Celso Machado de Aquino, elaboradas no vazio deixado pelo seu desaparecimento, com a certeza de que com ele se encerra uma página brilhante da Neurologia do Rio Grande do Sul.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Ago 2012
  • Data do Fascículo
    Set 1982
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