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Tolerância a agente curarizante provocada pela administração repetida da droga

Tolerance to curarizing drug induced by chronic administration: an experimental study

Baseados em teoria discutível segundo a qual a miastenia grave é provocada pela presença no sangue de substância curarizante liberada pelo timo, tentou-se reproduzir um modelo experimental. Foram utilizados 40 ratos, criados nas mesmas condições, nascidos no mesmo dia, pesando ao redor de 350 g e divididos em 4 grupos: o Grupo I não foi manuseado; no Grupo II foi injetada solução fisiológica, 1 ml i.p. durante 6 semanas; no Grupo III foi injetada a dimetil tubocurarina (DMT) 2,8 mcg/kg i.p., durante o mesmo tempo; no Grupo IV 14 mcg/kg da mesma droga foram injetados i.p. Uma semana após a última injeção i.p. os ratos, anestesiados, foram preparados para registro neuromuscular. O nervo ciático foi estimulado nas freqüências de 0,33 pulsos/seg, 70 pulsos/seg (séries de 10 pulsos a intervalos de 3 seg), 70 pulsos/seg (mantidos por 15 seg) e novamente 0,33 pulsos/seg logo após a tetanização. A dose curarizante de DMT foi determinada por uma "terceira parte cega" quando 80% do bloqueio era alcançado. Quando apenas 10 estímulos em alta freqüência foram aplicados ao nervo, foi observada diferença significativa (p<0.05) na resposta: Grupo I, 46,50 ± 20,00 g+; Grupo II, 55,25 ± 11,33 g+; Grupo III, 37,25 ± 10,77 g+; Grupo IV 37,00 ± 12,74 g+. Diferenças significantes de força muscular foram também observadas após a tetanização mantida: Grupo I, 79,00 ± 16,21 g+; Grupo II, 76,75 ± 15,23 g+; Grupo III, 59,12 ± 17,38 g+; Grupo IV, 61,62 ± 14,74 g. Doses significamente mais altas de curare i.v. foram necessárias no grupo injetado diariamente com a maior dose de curare do que em qualquer dos outros grupos (p < 0,01): Grupo I, 3,62 ± 1,17 mcg/kg; Grupo II, 3,69 ± 1,21 mcg/kg; Grupo III, 4,01 ± 0,80 mcg/kg; Grupo IV, 5,48 ± 1,40 mcg/kg. Tais resultados mostram que a administração crônica do curare leva ao enfraquecimento físico e hiposensibilidade à droga. Isto sugere que embora a existência de substância curarizante no sangue humano possa realmente contribuir para a fraqueza muscular do paciente miastênico, o curare sangüíneo não tem importância fundamental na patogênese da síndrome, pois o miastênico é altamente sensível à injeção de qualquer substância curarizante.


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