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Estudo sobre 115 tumores do lobo occipital

Diretor da Clínica Neurocirúrgica da Universidade de Colonia (Alemanha)

Os tumores do lobo occipital não têm despertado o interêsse que merecem do ponto de vista diagnóstico. A literatura consigna poucas comunicações a respeito (quadros 1 e 2).



Nosso relatório se baseia sôbre 115 casos de afecções expansivas localizadas no lobo occipital (quadro 3). E' de notar que os glioblastomas e os meningiomas são os tumores mais freqüentes. Comparando a freqüência de sua localização no lobo occipital com a freqüência total dos tumores intracranianos ver-se-á que a percentagem da localização occipital é importante.


E' sabido que os tumores do lobo occipital são difíceis de diagnosticar. De 23 casos de meningiomas occipitais, 13 estavam com diagnóstico errado ao serem internados em nosso Serviço. Entre nossos 115 casos, apenas em 15 conseguimos um diagnóstico topográfico exato, baseado em sintomas clínicos e radiológicos. Considerando as anamneses, verifica-se que os sintomas de hipertensão intracraniana são mais freqüentes que os sintomas focais. O quadro 4 mostra que 3 casos somente não apresentavam sinais de hipertensão intracraniana, ao passo que 28 casos apresentavam hipertensão discreta e 84 outros apresentavam hipertensão elevada. Éste último grupo encerra todos os casos de glioblastomas e de abscessos.


Dos sintomas focais, o mais freqüente é a hemianopsia homônima. Freqüentemente os doentes chegam ao neurocirurgiao tão tardiamente que já não é mais possível um exame pormenorizado do campo visual; isto se passou em 27% dos nossos casos. Em 14% dos casos foi verificado um estreitamento concéntrico do campo visual. E' preciso acrescentar que 11% dos doentes não apresentavam déficit visual algum. Isto dá um total de 52%, isto é, aproximadamente a metade do total de casos, que não apresentavam sintomatologia focal occipital.

Ao contrário, os sintomas do lobo temporal vizinho se fazem notar com freqüência, sendo relativamente precoces. Em 55% dos casos havia sinais dependentes de lesão do feixe piramidal.

Assim, é possível que, pela falta de sintomas focais occipitais, o diagnóstico topográfico não seja acertado. Os resultados dos exames radiológicos também podem ser enganosos: em 45% dos casos encontramos alterações da sela turca e em 20%, uma dilatação muito nítida da sela turca, causas freqüentes de êrro, conduzindo ao diagnóstico de tumor selar ou para-selar. Em nosso material, 6 casos foram tratados pela radioterapia como adenomas hipofisários e 2 foram operados erradamente.

E' a angiografia que merece interêsse especial. Segundo dados da literatura, é o empurramento e deslocamento da parte posterior dos vasos do grupo siîviano que caracteriza os tumores do lobo occipital. Em 33 de nossos casos, nos quais foi feito êste exame, 15 apresentaram tal deslocamento dos vasos silvianos. Entretanto, nos casos restantes, as artérias posteriores e anteriores também sofriam deslocamentos; para explicar este fato é preciso lembrar que em 2/3 dos nossos casos de glioblastomas, o tumor se localizava no polo occipital.

Nos ventriculogramas nota-se, freqüentemente, que as deformações dos lobos frontais são mais acentuadas que as das partes occipitais, fato que conduz a erros diagnósticos. As alterações no eletrencefalograma em geral são observadas no mesmo lado em que localiza o tumor, mas elas freqüentemente aparecem também nos lobos parietal e temporal.

Em 100 de nossos casos, o tumor pôde ser extirpado. A mortalidade pós-operatória chegou a 18% do total, repartindo-se, em várias épocas, entre 22% e 14,5%.

Conseguimos fazer o seguimento em 55 pacientes, observados até 16 anos após a intervenção: 47% dos casos morreram em conseqüência de recidivas; 6 pacientes ainda vivem, 12 anos após a intervenção. Dois terços dos pacientes operados retornaram ao trabalho ativo; a incapacidade para o trabalho foi devida, em primeiro lugar, pelos distúrbios da acui-dade visual.

Comparados com o de tumores localizados em outras partes do cérebro, o prognóstico dos tumores do lobo occipital nos parece relativamente favorável. Resultados melhores poderão ser esperados quando o diagnóstico fôr precoce.

Aula proferida no Serviço de Neurologia da Escola Paulista de Medicina (Serviço do Prof. Paulino W. Longo) em 10 maio 1953. Texto traduzido por O. Lange.

Clínica Neurocirúrgica - Universidade de Colonia, Alemanha.

  • Estudo sobre 115 tumores do lobo occipital

    W. Tönnis
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Abr 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 1953
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