ANÁLISES DE LIVROS
Lineu Corrêa Fonseca
A CLINICAL GUIDE TO EPILEPTIC SYNDROMES AND THEIR TREATMENT. C.P. PANAYIOTOPOULOS. Um volume (18 x 25 cm) encadernado com 278 páginas. ISBN 1-904218-23-72. Oxfordshire - UK, 2002: Bladon Medical Publishing (12 New Street, Chipping Norton, Oxfordshire, OX7 5LJ, UK).
O autor, Chrysostomos P. Panayiatopoulos, do Departamento de Neurofisiologia Clínica e Epilepsias do Hospital St. Thomas de Londres, é mundialmente reconhecido pelas importantes contribuições para os conhecimentos sobre epilepsia, particularmente os relacionados à caracterização e ao detalhamento de síndromes epilépticas.
São 9 capítulos que incorporam as recomendações recentes da proposta de esquema diagnóstico da Liga Internacional Contra a Epilepsia (2001) e que abrangem de modo global os aspectos clínicos das epilepsias, apresentados de modo didático, conciso e atualizado nos conceitos e nas citações.
O capítulo inicial mostra passo a passo os procedimentos diagnósticos, criticamente analisados. A seguir são discutidas as crises e síndromes neonatais e do lactente. O quinto capítulo é dedicado às crises e síndromes focais benignas da infância, entre elas a síndrome, descrita pelo próprio Panayiotopoulos, de susceptibilidade a crises focais, principalmente, crises e status autonômicos. Esta síndrome, apesar de relativamente freqüente, é ainda pouco conhecida e diagnosticada. As epilepsias idiopáticas generalizadas, outra área que ganhou impulso com Panayiotopoulos, são relatadas em suas nuances de expressão como a das mioclonias periorais com ausências e a da epilepsia idiopática generalizada com ausências "fantasma". Avanços significativos e relativamente recentes constam dos capítulos das epilepsias focais familiais e das crises e epilepsias reflexas. As epilepsias focais sintomáticas e provavelmente sintomáticas são apresentadas de acordo com o lobo comprometido.
Em todos os temas o leitor conta com excelentes ilustrações de relatos de casos, amostras de eletrencefalograma e neuroimagem. Os aspectos terapêuticos medicamentosos são sempre apresentados de modo muito objetivo e prático e os da cirurgia para epilepsia de modo bastante sucinto.
Pela sua forma clara, sintética, abrangente e atualizada em conceitos, este livro deverá, mesmo, ser um guia clínico de destaque, não somente para epileptologistas e neurologistas mas também para todos aqueles que lidam com pacientes com crises epilépticas.
A.H. Chapman; Simone Andrade Teixeira
THE MYTH OF PAIN. VALERIE GRAY HARDCASTLE. Um volume (14 x 22 cm) com 298 páginas. ISBN 0-262-582104. Cambridge, 2001: The Massachusetts Institute of Technology Press (Cambridge, Massachusetts, 02141 USA).
O livro trata de forma compreensiva de todos os aspectos da dor, destacando-se:
- O PPS (Pain Processing System), que processa a percepção da dor, dos nervos aferentes e cornus dorsal da medula espinhal até as áreas corticais do cérebro e o PID (Pain Inhibiting System), que desce dos centros corticais até os cornus dorsais e interrompe a transmissão e percepção da dor.
- As dificuldades de interrelacionar o sistema neurológico (como os neurônios, axônios, dendritos) com a mente (percepção, entendimento e localização) da pessoa que apresenta dor. Pesquisas nesse campo terão que incluir neurologistas, neurocientistas, psiquiatras, psicólogos, filósofos e até semanticistas.
- Descobertas recentes de que dores agudas e crônicas têm diferentes caminhos no sistema nervoso, como também representações diferentes no córtex cerebral. Assim o estudo da dor aponta para dois campos com suas próprias qualidades, características e caminhos.
- A autora considera todas as maneiras diferentes de controle da dor (ópio e derivados, analgésicos, cirurgias neurológicas, hipnose, bioffeed, dentre outras, concluindo que deixamos muito a desejar no tratamento da dor.
- Considera detalhadamente a situação especial do tratamento da dor em crianças pequenas. Foi-nos chocante ler que nos Estados Unidos são feitas cirurgias grandes, a exemplo de ligação de ductus arteriosus patente do coração, sem qualquer analgesia ou anestesia em crianças, sob a justificativa de que "crianças pequenas não sentem dor". Toda a evidência científica e clínica demonstra o oposto.
A autora apresenta argumentos convincentes de que a dualidade corpo/mente não existe. Um ser humano é uma entidade só e deve ser estudado e tratado assim. Defende, ainda, a tese de que dores puramente psíquicas (cujas origens estão exclusivamente nas áreas corticais cerebrais, isto é, na mente) não existem. Cada dor tem sua origem em tecidos que estão funcionado mal ou que foram agredidos de alguma maneira.
Muitos outros aspectos da dor são tratados nesse excelente e bem escrito livro. Recomendamos The Myth of Pain a todos os neurologistas, psiquiatras, psicólogos, enfermeiros e demais profissionais da saúde
Sugerimos o preparo de uma versão mais simplificada, para estudantes das diversas áreas da saúde.
Antonio Spina-França
DISTÚRBIOS DO SONO. RUBENS REIMÃO. Um volume (18 x 25 cm) em brochura, com 252 páginas. São Paulo, 2003: Associação Paulista de Medicina (www.apm.org.br).
Rubens Reimão, Livre-Docente de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e o condutor dos estudos sobre sono em nosso meio, sob a égide da Associação Paulista de Medicina (APM) e o apoio do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), neste compêndio reúne o que constituiu o conteúdo científico do XI Simpósio Brasileiro de Sono e V Congresso Paulista de Sono (APM, 21 e 22 de novembro de 2003). Gentilmente chamando de colaboradores, cada um dos cinqüenta e poucos apresentadores de temas, objetivamente ordenou em capítulos a matéria discutida nessa reunião.
A primeira parte contém os capítulos sobre sono normal e sobre polissonografia. A segunda, sobre sonolência excessiva. A terceira, de insônias e respectivos aspectos emocionais. A quarta, de parassônias. A quinta, de sonhos. A sexta, do ensino do sono. A sétima, dos temas livres e que aproximadamente obedece à mesma ordem dos temas anteriormente mencionados.
Duas partes chamam em especial a atenção. Uma, é aquela sobre "Sonhos", na qual destaco a contribuição de Terezinha Moreira Leite sobre o trabalho com os sonhos e suas relações no tempo, em que desenvolve conceitos que sua experiência permitiu reunir e, também, sintetizar. Outro, aquele sobre o ensino do sono na graduação e na pós-graduação, de José Mol e colaboradores; como produto deste, ensino médico como produto, de Marcos da Costa Kawasaki.
Este último encontra um interessante complemento no tema livre "avaliação do sono em professores universitários", de Nancy Julieta Inocente e Rubens Reimão. As observações reunidas neste estudo levam à conclusão de que "a prevalência de distúrbios do sono entre os professores universitários exige a implantação de programas preventivos".
Tal observação encerra mais um convite ao Professor Rubens Reimão, o de aprofundar o estudo desse tema entre os mal-dormidos e insones professores universitários. Dados sobre o que segue não constam do resumo desse estudo. Assim, é de supor que, na maioria das vezes, o principal desencadeante da condição é o pouco valor com que nossas autoridades vêm o papel social desempenhado pela categoria e, conseqüentemente, reservarem um mínimo de recursos para o salário de cada um deles, qual seja o grau de seu esforço e dedicação, qual seu grau universitário.
Antonio Spina-França
QUANDO A CABEÇA DÁ PROBLEMA SÓ OS MUTANTES SOBREVIVEM. PAULO ROGÉRIO M. DE BITTENCOURT. Um volume (20 x 25 cm) em brochura, com 226 páginas. Curitiba, 2003: Unidade de Neurologia Clínica (www.unineuro.com.br).
O autor, neurologista de proa e responsável pela Unidade de Neurologia Clínica do Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba, pesquisador de projeção internacional, aos seus muitos e notáveis escritos científicos reúne preciosos textos didáticos neste livro. Em seu preparo, contou com a colaboração de especialistas em áreas específicas da neurologia e das demais ciências da saúde. Com eles, preparou este texto, que reúne escritos de 1995 a 2002, todos revidados neste último ano, como salienta na Introdução.
A matéria abrange dez partes, cada uma com subtítulos. A primeira, "o cérebro e o sistema nervoso". São os temas dessa parte: onde ficam as várias partes, que tem e como é o córtex cerebral, para que serve o córtex cerebral, onde fica a memória, linguagem e mente, como funcionam as drogas lícitas e ilícitas. Este mesmo andamento norteia as partes seguintes do texto: problemas que parecem ou não ser da mente, inteligência e loucura e demência, problemas neurológicos comuns, distúrbios do sono, maneiras de encarar a doença e o fim da vida, problemas comuns em portadores de doenças neurológicas e em idosos, saúde no mundo e sua origem na pessoa, medicina brasileira neste início de século e, finalmente o trato do tema" só os mutantes sobrevivem". São os temas deste último: que é gerenciamento pessoal e de grupos pessoais, liderança empresarial: a empresa moderna e a "organização que aprende", a conduta de reuniões e entreveros sociais, relações humanas em uma pequena empresa, justiça versus derrocada, equipes e times, o que motivas as pessoas, a real humildade é a interna, a crise de credibilidade institucional e a falta de humildade, a humildade e o sucesso profissional, mudanças: a única constante no mundo moderno, a arrogância dos incompetentes e a lei de Murphy. Este contém a mensagem pessoal e otimista de Bittencourt: "no fim do século existe menos espaço para liberdades pessoais, pois as pessoas só conseguem funcionar em equipe. Isto implica em reconhecer suas próprias habilidades, assim como as dos outros. Os humildes, aqueles que que mais conseguem perceber suas limitações, são os que mais contribuem para a vida moderna, que é coletiva". E por aí continua a autor, encerrando suas considerações lembrando que, "como diz Dunning, essa idéia pode nos assombrar, pois podemos nós também estar sendo mais um dos arrogantes incompetentes". Idéia real, flórida de exemplos dentro da nossa neurologia contemporânea.
Este é um livro interessante. Feito para ajudar os que buscam conhecimentos básicos de neurologia, sejam eles leigos ou profissionais da saúde, acabam encontrando em suas páginas o sólido conhecimento da matéria do seu autor e de seus colaboradores, como o fruto de sua experiência no exercer a especialidade, vivê-la, e viver a vida como ela se apresenta a cada um de nós em nossas labutas - sempre buscando positivas lições, como aquelas que Bittencourt apresenta, cercadas da objetividade do que lhe traz a vida e o exercício continuado da neurologia.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
20 Jul 2004 -
Data do Fascículo
Jun 2004
