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Professor Paulo Pinto Pupo 1911 — 1970

IN MEMORIAM

Professor Paulo Pinto Pupo 1911 — 1970

Acidente vascular cardíaco agudo determinou a morte repentina do Prof. Paulo Pinto Pupo em 10 de agosto de 1970, ceifando a vida de um homem na plena pujança de sua atividade, no qual estavam depositadas muitas esperanças da Neurologia brasileira.

Nascido na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, aos 10 de maio de 1911, Paulo Pinto Pupo ingressou, em 1929, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, por onde se diplomou em 1935. Durante os primeiros anos do curso médico, antecipando-se à seriação curricular então adotada, trabalhou na 2.ª Enfermaria de Medicina, formando sua base clínica sob orientação do Prof. J. Ignacio Lobo. Em 1933, ainda quartanista mas procurando atender às questões de patologia cerebral que despertavam seu interesse, foi nomeado, mediante concurso de títulos, para o cargo de Estudante-Interno do Hospital de Juquerí, do Serviço de Assistência a Psicopatas do Estado de São Paulo. Durante os dois anos desse internato, legitimamente exercido porque residia no próprio local de trabalho, Paulo Pinto

Pupo dedicou-se ao estudo das afecções psiquiátricas e neurológicas formando, à custa de invulgar capacidade de trabalho e de grande tenacidade, as sólidas bases em que seriam assentadas suas diretrizes para a prática da Neurologia. A aprendizagem nos primeiros anos de profícuo trabalho no Hospital de Juquerí, sob a orientação do Prof. Fausto Guerner e do Prof. Anibal Silveira, fez com que Paulo Pinto Pupo, no último ano de seu curso médico, pudesse expandir seus conhecimentos na Cadeira de Neurologia ministrada pelo Prof. Enjolras Vampré e seus assistentes — Adherbal Tolosa, Paulino Longo e Oswaldo Lange — como se, na realidade, se tratasse de um curso de pós-graduação. Diplomado, continuou a trabalhar no Hospital dè Juquerí até 1944, exercendo o cargo de assistente do Laboratório de Neuropatologia, sob orientação do Dr. Ozório Cezar e do Dr. Walter Edgard Maffei.

Já em 1937, em virtude de seus conhecimentos e de seus méritos, foi convidado para exercer as funções de assistente do Prof. Fausto Guerner, então catedrático de Clínica Neurológica na Escola Paulista de Medicina. Em 1939, pelo falecimento do Prof. Fausto Guerner e passando essa cátedra para as mãos do Prof. Paulino Longo, Paulo Pinto Pupo foi nomeado chefe de clínica, cargo que exerceu até 1966, quando assumiu a cátedra pela aposentadoria de Paulino Longo, seu estimado mestre e seu grande amigo.

Em 1944 Paulo Pinto Pupo se incumbiu de estudar os problemas teóricos e técnicos da Eletrencefalografia Clínica, terminando por instalar, juntamente com Olavo Pazzanese, um Instituto de Eletrencefalografia que foi o primeiro a entrar em funcionamento no Brasil. Para atender aos reclamos dessa nova especialização viajou, em 1949, para o Canadá e para os Estados Unidos da América do Norte onde estagiou nos Serviços do Prof. H. Jasper (Montreal) e do Prof. B. K. Bagchi (Ann Arbor), tendo visitado os do Prof. F. Gibbs (Chicago) e do Prof. F. Klemme (St. Louis). A partir daí firmou-se a conceituação de Paulo Pinto Pupo como eletrencefalografista de reputada autoridade, cuja palavra era ouvida com acatamento por se basear em sólidos conhecimentos neuropatológicos e em notável discernimento elétro-clínico.

Aliando suas qualificações de neurologista de grande tino com as de consumado eletrencefalografista e excelente didata apaixonado pelas questões relativas ao ensino da Neurologia, Paulo Pinto Pupo foi o orientador de uma pleiade de especialistas que, graças às suas qualidades pessoais, cultivaram carinhosamente sua amizade, prestando-lhe múltiplas homenagens visando a retribuir, com manifestações afetivas, o muito que lhe deviam. Caberá a seus discípulos relatar com minúcias suas atividades científicas e didáticas, coletar e comentar sua extensa bibliografia documentada por 76 trabalhos publicados, referir os trabalhos e teses que orientou e sua atividade como examinador em bancas de concurso para doutoramento e docência, assim como sua atividade pioneira no campo específico da Eletrencefalografia e sua especial atenção para os problemas ligados às epilepsias.

As virtudes de Paulo Pinto Pupo como conceituado neurologista se projetaram pelo Brasil inteiro e extravasaram por quase todos os países do continente americano, onde sua palavra autorizada era sempre benquista e acatada. Até julho de 1970 tomara ele parte efetiva em 38 congressos, reuniões ou simpósios realizados no Brasil e no extrangeiro, tendo presidido vários desses certames. Sua atuação nos Congressos Pan-Americanos de Neurologia — o primeiro realizado em Lima (1963) e, o segundo, em San Juan (Porto Rico, 1967) — levaram os delegados das nações americanas, por decisão unânime, a designa-lo para presidir ao terceiro que será realizado em São Paulo, em outubro de 1971. Recebendo essa honrosa incumbência que foi transmitida pelo delegado brasileiro presente na reunião do Comitê dos Delegados Pan-Americanos, Paulo Pinto Pupo, que nada pleiteara para si, a acatou sem arroubos de satisfação ou de orgulho, mas como uma obrigação que deveria ser bem cumprida e, logo, dedicou-se à organização do certame mediante farta correspondência epistolar, tendo convocado três reuniões ro Comitê de Programação, realizadas, respectivamente, em São Paulo (abril, 1969), em New York (setembro, 1969) e em Porto Alegre (julho, 1970). Seu entusiasmo pela realização deste congresso e o elevado senso de responsabilidade que lhe era peculiar, levando-o a reservar para sí as tarefas mais difíceis, ocasionando tensões emocionais que sempre procurou disfarçar, talvez tenham contribuído para o desfecho fatal que atingiu a Neurologia paulista e que, em particular, enlutou a Academia Brasileira de Neurologia da qual Paulo Pinto Pupo foi o principal fundador, tendo sido eleito recentemente para ocupar o cargo de seu Presidente durante o biênio 1970-1972.

A presidência da Academia Brasileira de Neurologia e a presidência do III Congresso Pan-Americano de Neurologia seriam coroamentos indicados para a vida de um homem que sempre se dedicou ao progresso dessa especialidade. Todavia, o Destino não quiz que assim fosse, impondo que seus amigos e colegas tentem preencher a lacuna, esforçando-se para cumprir as tarefas e compromissos assumidos por Paulo Pinto Pupo perante a comunidade neurológica brasileira e internacional.

O. Lange

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1970
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