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Qualidade de vida de pessoas com estomias intestinais de eliminação

Resumo

Objetivos

Objetivou-se avaliar a qualidade de vida de pessoas com estomias intestinais de eliminação e verificar sua associação com características sociodemográficas e clínicas.

Métodos

Trata-se de estudo descritivo e transversal realizado com 96 pessoas cadastradas em um Programa de estomizados, utilizando o City of Hope - Quality of Life- Ostomy Questionnary.

Resultados

O escore médio de QV total deste estudo foi 6,2 ± 2,8. O maior escore médio foi encontrado no domínio Bem-estar espiritual 7,5 (±1,9) e o menor no domínio Bem-estar social 5,6 (±2,1). As características sociodemográficas (renda per capita, escolaridade, religião) e as características clínicas (permanência e adaptação à estomia, tempo de estomizado para sentir-se confortável, dificuldade para o autocuidado e limitação para realização de atividades diárias) associaram-se a qualidade de vida total e seus domínios (p <0,05).

Conclusão

As estomias intestinais de eliminação interferem na qualidade de vida, principalmente nos âmbitos físico e social.

Estomia; Qualidade de vida; Neoplasias colorretais; Autocuidado

Abstract

Objectives

To evaluate the quality of life of people with intestinal stomas and verify its association with sociodemographic and clinical characteristics.

Methods

A cross-sectional descriptive study was carried out with 96 people registered in an ostomy program, with the use of the City of Hope-Quality of Life-Ostomy Questionnaire.

Results

The mean score of total QoL in this study was 6.2± 2.8. The highest mean score was found in the spiritual well-being dimension 7.5 (±1.9) and the lowest in the social well-being dimension 5.6 (±2.1). Sociodemographic characteristics (per capita income, education level, religion) and clinical characteristics (length of use and adaptation to the stoma, length of time needed for ostomized people to feel comfortable, difficulty with self-care, and limitation to perform activities of daily living) were associated with total quality of life and its dimensions (p <0.05).

Conclusion

Intestinal stomas interfere with quality of life, especially in physical and social dimensions.

Ostomy; Quality of life; Colorectal neoplasms; Self care

Introdução

As estomias intestinais de eliminação são resultantes de intervenções cirúrgicas realizadas no intestino grosso (colostomia) e delgado (ileostomia) e consistem na exteriorização de um segmento intestinal, através da parede abdominal, criando uma abertura artificial para a saída de fezes e flatos.(11 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n°400 de 16 de novembro de 2009. Estabelecer Diretrizes Nacionais para a Atenção à Saúde das Pessoas Ostomizadas no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, e dá outras providências [Internet]. Diário Oficial da União. Brasília(DF); 2009 Nov 16 [citado 2016 Nov 01]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2009/prt0400_16_11_2009.html.
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) Em adultos, esse tipo de estomia tem como principais causas o câncer de cólon e reto, os traumas (ferimento por arma de fogo ou branca e acidente automobilísticos) e as doenças inflamatórias do intestino (retocolite ulcerativa e doença de Crohn).(22. Wound, Ostomy and Continence Nurses Society (WOCN). Management of the patient with a fecal ostomy: best practice guideline for clinicians. Mount Laurel (NJ): Wound, Ostomy, and Continence Nurses Society (WOCN); Jun 2010. (WOCN Clinical Pratice Guideline).)

No pós-operatório, as pessoas que foram estomizadas enfrentam mudanças na reconfiguração anatômica e no hábito diário de vida pois, a eliminação de fezes e flatos passa a ocorrer por um estoma e sem controle.(33. Kenderian S, Stephens EK, Jatoi A. Ostomies in rectal cancer patients: what is their psychosocial impact? Eur J Cancer Care. 2014; 23(3):328-32.)

Estas mudanças tornam a confecção da estomia intestinal de eliminação um processo traumático e agressivo que reduz significativamente a qualidade de vida (QV) da pessoa estomizada.(44. Kosovan VN. A quality of life evaluation in patients with a surgically formed large bowel stoma. Klin Khir. 2012; 9:9-11.

5. Mahjoubi B, Mirzaei R, Azizi R, Jafarinia M, Zahedi-Shoolami L. A cross-sectional survey of quality of life in colostomates: a report from Iran. Health Qual Life Outcomes. 2012; 10:136.
-66. Anaraki F, Vafaie M, Behboo R, Maghsoodi N, Esmaeilpour S, Safaee A. Quality of life outcomes in patients living with stoma. Indian J Palliat Care. 2012; 18(3):176-80.)

Para a Organização Mundial da Saúde, QV pode ser definida como a "percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações".(77. The WHOQOL GROUP. The World Health Organization Quality of Life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc Sci Med. 1995; 41(10):1403-9.)

No Brasil, estudos avaliaram a QV de pessoas estomizadas por meio de instrumentos genéricos, dentre eles o Whoqol-Bref.(88. Cesaretti IU, Santos VL, Vianna LA. [Quality of life of the colostomized person with or without use of methods of bowel control]. Rev Bras Enferm. 2010; 63(1):16-21. Portuguese.,99. Pereira AP, Cesarino CB, Martins MR, Pinto MH, Netinho JG. Associations among socio-demographic and clinical factors and the quality of life of ostomized patients. Rev Lat Am Enfermagem. 2012; 20(1):93-100.)No entanto, poucos estudos utilizaram o City of Hope - Quality of Life- Ostomy Questionnary (COH-QOL-OQ), instrumento específico para avaliação da QV das pessoas estomizadas.(66. Anaraki F, Vafaie M, Behboo R, Maghsoodi N, Esmaeilpour S, Safaee A. Quality of life outcomes in patients living with stoma. Indian J Palliat Care. 2012; 18(3):176-80.,1010. Gomboski G, Santos VL. Cultural adaptation and validation of the City of Hope Quality of Life Ostomy Questionnaire (COH-QOL-OQ) for Brazilians. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2011; 38(3S):S80-S81.

11. Santos VL, Augusto FS, Gomboski G. Health-related quality of life in persons with ostomies managed in an outpatient care setting. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2016; 43(2):158-64.
-1212. Anaraki F, Vafaie M, Behboo R, Esmaeilpour S, Maghsoodi N, Safaee A, et al. The City of Hope-Quality of Life-Ostomy Questionnaire: Persian translation and validation. Ann Med Health Sci Res. 2014; 4(4):634-7.)

Estudos desta natureza são necessários, pois permitirão a identificação de fatores sociodemográficos e clínicos que influenciam na QV e a comparação de resultados com outras pesquisas, permitindo o desenvolvimento de intervenções de Enfermagem e políticas públicas de saúde que melhorem o cuidado das pessoas estomizadas.

Frente ao exposto, este estudo teve como objetivo avaliar qualidade de vida de pessoas com estomias de eliminação intestinal e verificar sua associação com as características sociodemográficas e clínicas.

Métodos

Estudo descritivo e transversal realizado em um Centro ambulatorial da capital do Piauí, região nordeste do Brasil, referência no atendimento a pessoas estomizadas, no período de abril a julho de 2013, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (Protocolo nº. 12882613.1.0000.5214).

A população foi composta por todas as pessoas (n=635) cadastradas no Programa de estomizados do referido Centro, até junho de 2013. A amostra foi obtida por conveniência e constituída de 96 pessoas que atenderam os seguintes critérios de inclusão: ter idade igual ou superior a 18 anos no momento da coleta de dados, apresentar condições para participar do estudo, possuir exclusivamente estomias intestinais de eliminação realizadas há pelo menos um mês, residência fixa na capital do Piauí e aquiescer em participar do estudo.

A seleção dos participantes foi realizada por meio de levantamento dos cadastros das pessoas com estomias intestinais de eliminação registradas no Programa de estomizados do Centro ambulatorial e por busca ativa daquelas que compareciam no serviço ou eram representadas por seus familiares ou responsáveis para receber equipamento coletor. As pessoas com estomias intestinais de eliminação cujo primeiro contato não foi realizado no Centro ambulatorial foram contatadas por telefone, por meio de três tentativas em horários diferentes. Após a seleção, foi realizado agendamento de data e horário para entrevista dos participantes no referido Centro, de acordo com sua preferência e disponibilidade. No caso de condições que inviabilizassem a ida do participante ao Centro, por exemplo, idade avançada e problemas de locomoção, e após a solicitação e autorização dos participantes, a entrevista foi agendada e realizada no domicílio.

Para coleta de dados foram utilizados instrumentos para caracterização sociodemográfica e clínica com base em variáveis associadas na literatura(88. Cesaretti IU, Santos VL, Vianna LA. [Quality of life of the colostomized person with or without use of methods of bowel control]. Rev Bras Enferm. 2010; 63(1):16-21. Portuguese.,99. Pereira AP, Cesarino CB, Martins MR, Pinto MH, Netinho JG. Associations among socio-demographic and clinical factors and the quality of life of ostomized patients. Rev Lat Am Enfermagem. 2012; 20(1):93-100.,1313. Mahjoubi B, Goodarzi KK, Mohammad-Sadeghi H. Quality of life in stoma patients: appropriate and inappropriate stoma sites. World J Surg. 2010; 34(1):147-52.

14. Swan E. Colostomy, management and quality of life for the patient. Br J Nurs. 2011; 20(1):22, 24-8.
-1515. Attolini RC, Gallon CW. [Life quality and nutritional profile of colostomized colorectal cancer patients]. Rev Bras Colo-Proctol. 2010; 30(3):289-98. Portuguese.) e outro, adaptado e validado para língua portuguesa específico para avaliar QV de pessoas estomizadas COH-QOL-OQ Questionnaire.(1010. Gomboski G, Santos VL. Cultural adaptation and validation of the City of Hope Quality of Life Ostomy Questionnaire (COH-QOL-OQ) for Brazilians. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2011; 38(3S):S80-S81.)Este instrumento possui 43 itens, divididos em quatro subescalas: bem-estar físico (itens 1-11), psicológico (itens 12-24), social (itens 25-36) e espiritual (itens 37-43). Cada item foi respondido com o apoio de uma escala tipo Likert de 0-10, na qual 0 representava o pior resultado e 10 o melhor. Antes da elaboração do banco de dados os itens 1-12, 15, 18, 19, 22-30, 32-34, 37 foram invertidos. E as subescalas calculadas pela soma das pontuações em cada item e, em seguida dividindo a soma pelo número de itens dessa subescala. A QV total foi obtida pela soma da pontuação em todos os itens e dividindo a soma pelo número total de itens, ou seja, 43.(1616. City of Hope and Beckman Research Institute. Quality of Life Questionnaire for a Patient with an Ostomy. CA (USA): City of Hope National Medical Center; 2013. (City of Hope and Beckman Research Institute).)

Os dados foram analisados no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 18.0. As características sociodemográficas e clínicas das pessoas com estomias intestinais de eliminação foram analisadas por meio de estatísticas descritivas, frequência, média e desvio-padrão. A associação entre características sociodemográficas e clínicas e a qualidade de vida e seus domínios foi avaliada pelos testes paramétricos t de Student, ANOVA e correlação de Pearson, e, quando da violação dos pressupostos desses, seus equivalentes não-paramétricos testes Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e correlação de Spearman. Quando uma diferença significante foi detectada nos testes ANOVA ou Kruskal-Wallis realizou-se, respectivamente, os testes Post Hoc e Mann-Whitney com correção de Bonferrone. Para todas as análises realizadas adotou-se o nível de significância de α=0,05.

Resultados

A amostra do estudo tem como características mais importantes a baixa escolaridade, ser aproximadamente idosa, ter companheiro e ser católica (Tabela 1).

Tabela 1
Caracterização sociodemográfica das pessoas com estomias intestinais de eliminação (n=96)

Oitenta e uma pessoas (84,4%) tinham colostomia e as complicações mais frequentes após a confecção da estomia intestinal de eliminação foram o prolapso de alça intestinal 10 (10,4%) e a dermatite 27 (28,1%). O tempo médio de estomizado foi de 53,9 meses (desvio padrão de 60,6) e o tempo médio para sentir-se confortável com a estomia foi de 214,0 dias (desvio padrão de 315,0). Trinta e oito (39,6%) pessoas tiveram boa adaptação à estomia, 65 (67,7%) tiveram dificuldade para o autocuidado e 48 (50,0%) limitação para realizar atividades diárias.

O escore médio de QV total foi 6,2 (± 1,7). O maior escore médio foi encontrado no domínio Bem-estar espiritual 7,5 (± 1,9) e menor no domínio Bem-estar social 5,6 (± 2,1), enquanto que os domínios Bem-estar psicológico e Bem-estar físico tiveram escores médios de 6,2 (± 2,0) e 5,9 (± 1,9), respectivamente.

A Renda per capita foi a única variável que apresentou associação significativa, porém moderada, com todos os domínios de QV, inclusive QV total. Também, Escolaridade apresentou associação significativa com os domínios Bem-estar psicológico (p=0,045), Bem-estar Espiritual (p=0,005) e QV total (p=0,023), enquanto Religião associou-se com o domínio Bem-estar espiritual (p=0,026) (Tabela 2).

Tabela 2
Associação das características sociodemográficas das pessoas com estomias intestinais de eliminação com os domínios de qualidade de vida (n=96)

A variável Permanência da estomia apresentou associação significativa com os domínios Bem-estar físico (p=0,018), Bem-estar psicológico (p=0,009) e QV total (p=0,010). Adaptação à estomia associou-se com os domínios Bem-estar físico (p=0,031), Bem-estar psicológico (p=0,000), Bem-estar social (p=0,018) e QV total (p=0,001) e as pessoas que afirmaram ter tido boa adaptação diferiram estatisticamente das demais. O Tempo de estomizado apresentou associação significativa com o domínio Bem-estar psicológico (rs= 0,247, p=0,015) e QV total (rs= 0,228, p=0,025). Também, verificou-se associação significativa entre Tempo necessário para sentir-se confortável e os domínios Bem-estar físico (rs= -0,301, p=0,005), Bem-estar psicológico (rs= -0,261, p=0,016), Bem-estar social (rs= -0,265, p=0,015) e QV total (rs= -0,310, p=0,004). E, observou-se associação significativa entre Dificuldade para o autocuidado e os domínios Bem-estar físico (p=0,000), Bem-estar psicológico (p=0,000), Bem-estar social (p=0,002) e QV total (p=0,000). Ao analisar presença de Limitação para realização de atividades diárias, verificou-se associação significativa com os domínios Bem-estar físico (p=0,000), Bem-estar psicológico (p=0,004), Bem-estar social (p=0,000) e QV total (p=0,000) (Tabela 3).

Tabela 3
Associação das características clínicas das pessoas com estomias intestinais de eliminação com os domínios de qualidade de vida (n=96)

Discussão

Destaca-se como limitação do estudo a inexistência de um banco de cadastro atualizado dos estomizados do município de Teresina. No entanto, acredita-se que esta pesquisa possa estimular novos trabalhos e contribuir para melhoria da assistência dispensada ao estomizado, incluindo o desenvolvimento de programas de reabilitação e promoção da QV.

Esses dados reforçam a necessidade de acompanhamento multiprofissional e holístico desde a fase pré-operatória até o período de reabilitação voltado ao estomizado e sua família, com destaque para o papel da enfermagem no estabelecimento de um plano de cuidados abrangente e contínuo, que vise à reinserção social, forneça estratégias de enfrentamento e adaptação e encoraje o autocuidado, conforme as percepções de recuperação e bem-estar do estomizado.

O escore médio de QV total das pessoas com estomias intestinais de eliminação deste estudo foi 6,2 (± 2,8). Pesquisas realizadas no Irã e no Brasil com adultos que também utilizaram o COH-QOL-OQ Questionnaire para avaliar a QV de pessoas estomizadas encontraram escores médios semelhantes 7,48 (± 0,9) e 6,1 (±1,4), respectivamente, e, apesar da confecção da estomia, a QV total obtida nestes estudos foi considerada moderada e boa.(66. Anaraki F, Vafaie M, Behboo R, Maghsoodi N, Esmaeilpour S, Safaee A. Quality of life outcomes in patients living with stoma. Indian J Palliat Care. 2012; 18(3):176-80.,1111. Santos VL, Augusto FS, Gomboski G. Health-related quality of life in persons with ostomies managed in an outpatient care setting. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2016; 43(2):158-64.)

O domínio Bem-estar espiritual apresentou maior escore médio e o domínio Bem-estar social menor escore médio de QV. Este resultado é igual ao de outro estudo realizado no Iran com estomizados, no qual também foi detectado melhor e pior escore médio nos domínios Bem-estar espiritual e Bem-estar social, respectivamente.(66. Anaraki F, Vafaie M, Behboo R, Maghsoodi N, Esmaeilpour S, Safaee A. Quality of life outcomes in patients living with stoma. Indian J Palliat Care. 2012; 18(3):176-80.)

O Bem-estar espiritual tem relação direta com sentimento de paz interior, esperança e motivação para viver, que favorece a aceitação às mudanças impostas pela estomia acerca da nova condição de vida.(1717. Bulkley J, McMullen CK, Hornbrook MC, Grant M, Altschuler A, Wendel CS, et al. Spiritual well-being in long-term colorectal cancer survivors with ostomies. Psychooncology. 2013; 22(11):2513-21.,1818. Almeida SS, Rezende AM, Schall VT, Modena CM. [The senses of corporeality in ostimies câncer]. Psicol Estud. 2010; 15(4):761-9. Portuguese.)A religião é essencial na reestruturação da nova condição de vida, pois traz alívio, confiança e permite melhor adesão ao regime terapêutico.(1919. Sales CA, Violin MR, Waidman MA, Marcon SS, Silva MA. Emotions of people living with ostomies: existential comprehension. Rev Esc Enferm USP. 2010; 44(1): 221-7.

20. Brum CN, Sodré BS, Prevedello PV, Quinhones SW. [The living process for adult patients with permanent ostomies: a review of published texts]. Rev Pesq: Cuidado Fundament Online. 2010; 2(4):1253-63. Portuguese.

21. Martins AM, Almeida SS, Modena CM. [The being-in-the-world with cancer: the dasein ostomized peoples]. Rev SBPH. 2011; 14(1):74-91. Portuguese.

22. Fortes RC, Monteiro TM, Kimura CA. [Quality of life from oncological patients with definitive and temporary colostomy]. J Coloproctol (Rio J). 2012; 32(3):253-9. Portuguese.

23. Salomé GM, Almeida SA, Silveira MM. [Quality of life and self-esteem of patients with intestinal stoma]. J Coloproctol (Rio J). 2014; 34(4):231-9. Portuguese.

24. Liao C, Qin Y. Factors associated with stoma quality of life among stoma patients. Int J Nurs Sci. 2014; 1(2):196-201.

25. Hornbrook MC, Wendel CS, Coons SJ, Grant M, Herrinton LJ, Mohler MJ, et al. Complications among colorectal cancer survivors: SF-6D preference-weighted quality of life scores. Med Care. 2011; 49 (3):321-6.
-2626. Altuntas YE, Kement M, Gezen C, Eker HH, Aydin H, Sahin F, et al. The role of group education on quality of life in patients with a stoma. Eur J Cancer Care (Engl). 2012; 21(6):776-81.)Por outro lado, o isolamento social pode ocorrer por prejuízo da autoestima e preocupações relacionadas a privacidade para esvaziar o equipamento coletor até problemas com vazamento do efluente e odor de gazes.(66. Anaraki F, Vafaie M, Behboo R, Maghsoodi N, Esmaeilpour S, Safaee A. Quality of life outcomes in patients living with stoma. Indian J Palliat Care. 2012; 18(3):176-80.,2323. Salomé GM, Almeida SA, Silveira MM. [Quality of life and self-esteem of patients with intestinal stoma]. J Coloproctol (Rio J). 2014; 34(4):231-9. Portuguese.,2424. Liao C, Qin Y. Factors associated with stoma quality of life among stoma patients. Int J Nurs Sci. 2014; 1(2):196-201.)

A Renda per capita foi a única variável do grupo das características sociodemográficas que se associou ainda que de forma moderada, com todos os domínios de QV, inclusive QV total. Outros estudos apontam que a baixa renda pode atuar como fator negativo para o restabelecimento da QV, pois limita o acesso a assistência médica, autocuidado, habitação, alimentação, comprometendo a recuperação e o restabelecimento funcional e psicológico da pessoa estomizada.(99. Pereira AP, Cesarino CB, Martins MR, Pinto MH, Netinho JG. Associations among socio-demographic and clinical factors and the quality of life of ostomized patients. Rev Lat Am Enfermagem. 2012; 20(1):93-100.,2525. Hornbrook MC, Wendel CS, Coons SJ, Grant M, Herrinton LJ, Mohler MJ, et al. Complications among colorectal cancer survivors: SF-6D preference-weighted quality of life scores. Med Care. 2011; 49 (3):321-6.,2626. Altuntas YE, Kement M, Gezen C, Eker HH, Aydin H, Sahin F, et al. The role of group education on quality of life in patients with a stoma. Eur J Cancer Care (Engl). 2012; 21(6):776-81.)

No caso das características clínicas, a variável Permanência da estomia apresentou associação significativa com os domínios Bem-estar físico (p=0,018), Bem-estar psicológico (p=0,009) e QV total (p=0,010). Ter um estoma temporário propicia sentimento de ansiedade para o fechamento da estomia.(2727. Souza PC, Costa VR, Maruyama SA, Costa AL, Rodrigues AE, Navarro JP. [The repercussions of living with a temporary colostomy on the bodies: individual, social and political]. Rev Eletr Enf. 2011; 13(1):50-9. Portuguese.) Nesta perspectiva, estudo realizado na China constatou que pacientes com menor tempo de doença e permanência da estomia apresentavam menores níveis de aceitação da sua condição clínica, comprometendo a QV.(2828. Chao HL, Tsai TY, Livneh H, Lee HC, Hsieh PC. Patients with colorectal cancer: relationship between demographic and disease characteristics and acceptance of disability. J Adv Nurs. 2010; 66(10): 2278-86.)

A Adaptação à estomia associou-se com os domínios Bem-estar físico (p=0,031), Bem-estar psicológico (p=0,000), Bem-estar social (p=0,018) e QV total (p=0,001). Embora a principal dificuldade de adaptação da pessoa estomizada seja o ajuste à perda do controle sobre a eliminação de fezes e flatos, existem outras alterações quanto ao vestuário, sexualidade, perda de confiança, independência e dignidade, além de dificuldade para viajar devido à mudança de hábitos e alteração de privacidade.(1414. Swan E. Colostomy, management and quality of life for the patient. Br J Nurs. 2011; 20(1):22, 24-8.,2929. Kimura CA, Kamada I, Guilhem D, Monteiro PS. [Quality of life analysis in ostomized colorectal cancer patients]. J Coloproctol. (Rio J). 2013; 33(4):216-21. Portuguese.

30. Grant M, McMullen CK, Altschuler A, Mohler MJ, Hornbrook MC, Herrinton LJ, et al. Gender differences in quality of life among long-term colorectal cancer survivors with ostomies. Oncol Nurs Forum. 2011; 38(5): 587-96.
-3131. Perrin A. Quality of life after ileo-anal pouch formation: patient perceptions. Br J Nurs. 2012; 21(16):S11-S14.) A estomia associa-se ainda a problemas e limitações emocionais, especialmente ao isolamento e depressão, que interferem na espontaneidade de agir, impedindo um desempenho adequado nos âmbitos social e psicológico.(2525. Hornbrook MC, Wendel CS, Coons SJ, Grant M, Herrinton LJ, Mohler MJ, et al. Complications among colorectal cancer survivors: SF-6D preference-weighted quality of life scores. Med Care. 2011; 49 (3):321-6.,3030. Grant M, McMullen CK, Altschuler A, Mohler MJ, Hornbrook MC, Herrinton LJ, et al. Gender differences in quality of life among long-term colorectal cancer survivors with ostomies. Oncol Nurs Forum. 2011; 38(5): 587-96.)

O tempo necessário para sentir-se confortável com a estomia apresentou associação significativa com os domínios Bem-estar físico (rs= -0,301, p=0,005), Bem-estar psicológico (rs= -0,261, p=0,016), Bem-estar social (rs= -0,265, p=0,015) e QV total (rs= -0,310, p=0,004). Este tempo pode ser longo, pois as mudanças relacionadas à estomia podem perdurar por pelo menos cinco anos após a cirurgia, com ênfase para o comprometimento físico, social e financeiro nos primeiros seis meses.(2525. Hornbrook MC, Wendel CS, Coons SJ, Grant M, Herrinton LJ, Mohler MJ, et al. Complications among colorectal cancer survivors: SF-6D preference-weighted quality of life scores. Med Care. 2011; 49 (3):321-6.,3030. Grant M, McMullen CK, Altschuler A, Mohler MJ, Hornbrook MC, Herrinton LJ, et al. Gender differences in quality of life among long-term colorectal cancer survivors with ostomies. Oncol Nurs Forum. 2011; 38(5): 587-96.) O progresso para completa reabilitação ocorre quando a pessoa estomizada consegue gerenciar as mudanças relacionadas ao uso do equipamento coletor e aceitar a perda de continência fecal. Desta forma, a implementação de tecnologias oclusoras e de irrigação, por exemplo, para pessoas com colostomias descentes e sigmoide, pode oferecer ampla escolha de gestão do autocuidado, melhorando a imagem corporal, recuperando a continência por até 12 horas, proporcionando liberdade e atenuando o medo e o nervosismo desencadeado nas relações interpessoais.(1414. Swan E. Colostomy, management and quality of life for the patient. Br J Nurs. 2011; 20(1):22, 24-8.)

Dificuldade no autocuidado apresentou associação significativa entre e os domínios Bem-estar físico (p=0,000), Bem-estar psicológico (p=0,000), Bem-estar social (p=0,002) e QV total (p=0,000). Este resultado corrobora com o de outro estudo realizado nos Estados Unidos das Américas (EUA) com adultos que relata que a presença de complicações pós-operatórias, como fístulas, irritações de pele e protrusão da estomia podem determinar menor QV a longo prazo porque interferem no autocuidado.(2525. Hornbrook MC, Wendel CS, Coons SJ, Grant M, Herrinton LJ, Mohler MJ, et al. Complications among colorectal cancer survivors: SF-6D preference-weighted quality of life scores. Med Care. 2011; 49 (3):321-6.)

A Limitação para realização de atividades diárias apresentou associação significativa com os domínios Bem-estar físico (p=0,000), Bem-estar psicológico (p=0,004), Bem-estar social (p=0,000) e QV total (p=0,000). Destaca-se que o equipamento coletor acarreta restrições à vida cotidiana, principalmente limitações na sexualidade, vida social, atividades diárias, vestuário e alimentação. Mulheres adultas e idosas, por exemplo, relataram em estudo anterior realizado no Brasil que a estomia ocasionava restrições nas atividades diárias, principalmente em relação aos afazeres domésticos.(1818. Almeida SS, Rezende AM, Schall VT, Modena CM. [The senses of corporeality in ostimies câncer]. Psicol Estud. 2010; 15(4):761-9. Portuguese.)

Conclusão

Verificou-se que as estomias intestinais de eliminação interferem na QV, principalmente nos âmbitos físico e social. Observou-se também que a percepção dos estomizados sobre sua QV pode estar relacionada com um número reduzido de fatores sociodemográficos comparado a fatores clínicos. A melhora na QV tanto geral como física, psicológica, social e espiritual, devido a fatores sociodemográficos, está relacionada a maior renda; enquanto ter religião afeta positivamente a QV na sua dimensão apenas espiritual, escolarização mais elevada faz perceber melhor QV geral, psicológica e, também, espiritual. Fatores clínicos ligados a melhor adaptação, menor tempo para sentir-se confortável, sem limitações para realizar atividades e nem dificuldades para o autocuidado da estomia apresentaram impacto positivo na QV geral e em todos os domínios, exceto o espiritual. Enquanto os fatores clínicos relacionados ao maior tempo da estomia e seu caráter permanente também apresentaram impacto positivo na QV geral e no domínio psicológico e somente o segundo apresentou impacto positivo no domínio físico. Estes podem permitir, o desenvolvimento de políticas públicas de saúde para as pessoas estomizadas e intervenções de Enfermagem tais como, orientar o paciente no pré-operatório sobre a estomia que será confeccionada quanto ao segmento a ser exteriorizado, tempo de permanência, tipo de efluente, características normais, realizar demarcação, informar sobre alterações na eliminação de fezes e flatos, possíveis complicações e impactos na imagem corporal, vestuário, alimentação, sexualidade, relações interpessoais, atividades diárias e preparar para o autocuidado do estoma.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2017

Histórico

  • Recebido
    7 Nov 2016
  • Aceito
    6 Abr 2017
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