Open-access Associação entre sarcopenia e qualidade de vida relacionada à saúde em idosos comunitários

Relación entre sarcopenia y calidad de vida respecto a la salud de adultos mayores de una comunidad

Resumo

Objetivo  O objetivo deste estudo foi comparar a qualidade de vida entre idosos sarcopênicos e não sarcopênicos e verificar a associação entre sarcopenia e qualidade de vida em idosos residentes na comunidade.

Métodos  Estudo transversal conduzido com idosos residentes na comunidade (n = 378) de Macapá, Amapá, Brasil. A qualidade de vida foi avaliada por meio do Short Form (36) Health Survey. O algoritmo proposto pelo Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas (EWGSOP) foi usado para avaliar a sarcopenia. Foram realizadas análises descritivas, inferenciais e modelo de regressão linear.

Resultados  Os idosos sarcopênicos apresentaram escores de qualidade de vida significativamente mais baixos nos domínios função física, dor corporal, estado geral de saúde e função social. Após o ajuste, a sarcopenia associou-se inversamente ao funcionamento físico (β = -0,125; p = 0,010) e ao estado geral de saúde (β = -0,112; p = 0,028).

Conclusão  Os resultados deste estudo sugerem um provável declínio na qualidade de vida em idosos sarcopênicos, principalmente nos domínios funcionamento físico e estado geral de saúde.

Idoso; Qualidade de vida; Sarcopenia; Saúde do idoso

Resumen

Objetivo  El objetivo de este estudio fue comparar la calidad de vida entre adultos mayores con sarcopenia y sin sarcopenia y verificar la relación entre sarcopenia y calidad de vida en adultos mayores residentes de la comunidad.

Métodos  Estudio transversal llevado a cabo con adultos mayores residentes de la comunidad (n = 378) de Macapá, estado de Amapá, Brasil. La calidad de vida fue evaluada mediante el Short Form (36) Health Survey. El algoritmo propuesto por el Grupo Europeo de Trabajo sobre la Sarcopenia en Personas de Edad Avanzada (EWGSOP) fue utilizado para evaluar la sarcopenia. Se realizaron análisis descriptivos, inferenciales y modelo de regresión lineal.

Resultados  Los adultos mayores con sarcopenia presentaron una puntuación de calidad de vida significativamente más baja en los dominios función física, dolor corporal, estado general de salud y función social. Luego del ajuste, la sarcopenia se relacionó inversamente con el funcionamiento físico (β = -0,125; p = 0,010) y con el estado general de salud (β = -0,112; p = 0,028).

Conclusión  Los resultados de este estudio sugieren un probable deterioro en la calidad de vida de adultos mayores con sarcopenia, principalmente en los dominios funcionamiento físico y estado general de salud.

Anciano; Calidad de vida; Salud del anciano; Sarcopenia

Abstract

Objective  This study aimed to compare quality of life between sarcopenic and non-sarcopenic older adults and to verify the association of sarcopenia and quality of life in community-dwelling older adults.

Methods  This was a cross-sectional study conducted in community-dwelling older adults (n = 378) from Macapá, Amapá, Brazil. Quality of life was assessed using the Short Form (36) Health Survey. The algorithm proposed by the European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) was used to assess sarcopenia. Descriptive, inferential analyses and linear regression model were performed.

Results  Sarcopenic older adults presented significantly lower quality of life scores in the domains of physical functioning, bodily pain, general health status, and social functioning. After adjustment, sarcopenia was inversely associated with physical functioning (β = -0.125; p = 0.010) and general health status (β = -0.112; p = 0.028).

Conclusion  The results of this study suggest a probable decline in the quality of life in sarcopenic older adults, especially in the physical functioning and general health status domains.

Aged; Health of the elderly; Quality of life; Sarcopenia

Introdução

O envelhecimento é um processo caracterizado pelo acúmulo de danos moleculares e celulares ao longo da vida que, fundamentalmente, leva a uma diminuição progressiva das reservas fisiológicas, da massa muscular e da capacidade funcional.(1) Em última análise, esses processos associados ao envelhecimento resultam em um risco maior de muitas doenças e morte.(1) A perda de massa muscular é uma alteração especialmente grave associada ao envelhecimento.(2) Em adultos jovens, a massa muscular magra compreende até cerca de 50% do peso corporal total, mas diminui para aproximadamente 25% ao entrar na faixa etária de 75-80 anos.(3)A perda muscular relacionada à idade é uma espiral descendente que pode levar à diminuição da força e da funcionalidade muscular.(2,4)A perda simultânea de massa e força muscular que ocorre com o avanço da idade foi denominada sarcopenia.(2,4)

A sarcopenia é um fenômeno generalizado com uma etiologia complexa e multifatorial.(5)Os fatores mais provavelmente envolvidos são estado nutricional, atividade física, alterações hormonais, alterações nas citocinas pró-inflamatórias circulantes e hereditariedade genética.(5)Embora a sarcopenia tenha sido estudada há muito tempo (5)e numerosas ferramentas para avaliar a massa muscular e função estejam disponíveis atualmente,(6)os múltiplos mecanismos fisiopatológicos subjacentes à etiologia da sarcopenia não foram totalmente descritos. A detecção precoce da sarcopenia continua desafiadora, e várias definições foram propostas para facilitar a detecção e o diagnóstico.(2, 7, 8)

A prevalência de sarcopenia depende de sua definição e varia entre 5 e 13% em pessoas de 60 a 70 anos e 11 a 50% em pessoas com mais de 80 anos.(9) Além de sua alta prevalência em idosos, vários efeitos da sarcopenia são indicadores prognósticos na carga de saúde pública.(2)A sarcopenia está independentemente associada ao comprometimento funcional, deficiência física, quedas, fraturas, hospitalização, fragilidade, aumento dos gastos com saúde e prevê mortalidade por todas as causas entre idosos.(10) A prevalência e o impacto da sarcopenia no sistema de saúde são especialmente relevantes em vista do aumento da expectativa de vida global.(2)

Embora o envelhecimento da população global seja um fenômeno positivo, ele é acompanhado por um aumento significativo na prevalência de condições adversas, como a sarcopenia. Portanto, impõe grandes desafios à saúde pública.(11)Como a mortalidade é uma realidade iminente em idades mais avançadas, o foco dos cuidados de saúde não deve mais ser apenas prolongar a duração da vida, mas também melhorar a qualidade de vida.(12)A qualidade de vida em pessoas idosas inclui desafios relacionados à independência, interação social, saúde e capacidade de continuar levando uma vida plena.(13)A Organização Mundial da Saúde enfatiza que manter a qualidade de vida durante o envelhecimento é um objetivo fundamental tanto para os indivíduos quanto para os legisladores.(11)

A relação entre sarcopenia e qualidade de vida já foi estudada anteriormente.(14, 17)Embora alguns estudos tenham constatado que a sarcopenia está negativamente associada à qualidade de vida, principalmente nos domínios da saúde física,(14, 15) outros estudos não identificaram a mesma associação.(16,17) Além disso, uma revisão sistemática anterior(12)identificou apenas um estudo sobre a associação entre sarcopenia e qualidade de vida que considerou uma definição do consenso de sarcopenia.(18)Esta revisão sistemática destacou a necessidade de estudos de boa qualidade com grandes tamanhos de amostra usando uma definição de consenso de sarcopenia para esclarecer a associação entre os diferentes domínios da qualidade de vida e sarcopenia.(12)A relação entre sarcopenia e qualidade de vida tem sido uma preocupação em diferentes contextos, como em instituições de longa permanência,(19) em ambulatórios,(20) e na comunidade.(21)A compreensão completa do impacto sobre a qualidade de vida decorrente da sarcopenia ajudará a fornecer aos pesquisadores da área da saúde as evidências necessárias para apoiar futuros estudos de intervenção. Além disso, para profissionais de saúde, como médicos, enfermeiras e fisioterapeutas, uma melhor compreensão das condições que podem afetar a qualidade de vida dos idosos pode fornecer informações úteis para basear uma avaliação adequada desta população. Assim, este estudo teve como objetivo comparar a qualidade de vida de idosos sarcopênicos e não sarcopênicos e verificar a associação entre sarcopenia e qualidade de vida em idosos residentes na comunidade.

Métodos

Desenho e população do estudo

Este estudo transversal ocorreu na área urbana de Macapá em 2017, um município da região amazônica brasileira. O estudo foi aprovado (protocolo nº 1.738.671) pelo comitê local de ética em pesquisa em humanos. Outros resultados deste estudo foram relatados anteriormente.(22)

Para estimar o tamanho da amostra necessária, utilizou-se a informação disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente à população residente na zona urbana de Macapá em 2010.(23) Portanto, considerando uma população de 19.955 das pessoas com 60 anos ou mais residentes na zona urbana de Macapá,(23) assumindo 50% de prevalência de problemas de saúde nesta população, precisão de 5% e intervalo de confiança de 95%, 377 indivíduos foram considerados necessários para compor uma amostra representativa neste estudo. Os participantes foram recrutados aleatoriamente em um processo de amostragem por conglomerados em dois estágios. Primeiramente, foram considerados os setores censitários com informações também fornecidas pelo IBGE sobre os bairros e ruas, os quais foram sorteados para posterior identificação dos idosos nas residências. Os participantes foram cadastrados e avaliados em seus respectivos domicílios. Estudantes de graduação em fisioterapia devidamente treinados e acompanhados por supervisores de campo (pesquisadores e professores) realizaram as entrevistas presenciais.(24)

Foram incluídos indivíduos com 60 anos ou mais de idade que andavam [com ou sem dispositivos de auxílio à locomoção]. Foram excluídos os indivíduos não localizados após três tentativas, que se mudaram da cidade, hospitalizados, apresentaram sequelas neurológicas, não conseguiram responder às perguntas da entrevista ou realizar os testes ou apresentaram declínio cognitivo. O Mini-Exame do Estado Mental foi usado para examinar todos os possíveis participantes quanto ao declínio cognitivo. O mini Exame Mental foi traduzido e validado para uso no Brasil,(25)que ajusta o ponto de corte à escolaridade do paciente.

Qualidade de vida (variável dependente)

A versão de 1992 do Short Form (36) Health Survey, traduzida e validada para uso no Brasil(26), foi utilizada para avaliar a qualidade de vida. O Short Form-36 é composto por 36 itens divididos em oito domínios: funcionamento físico, limitações de função devido à saúde física (abreviado como “função física”), limitações de função devido a problemas emocionais (“função emocional”), dor corporal, geral estado de saúde, vitalidade (também conhecido como “energia/fadiga”), funcionamento social e saúde mental (ou “bem-estar emocional”). Os escores variam de 0 a 100 em cada componente, com escores mais altos representando melhor estado de saúde.(26)

Sarcopenia (variável independente)

A definição proposta pelo Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Idosos (EWGSOP) foi utilizada para avaliar a sarcopenia.(7)A massa muscular foi avaliada por meio da equação de massa muscular total proposta em estudo anterior(27) validado para uso em idosos brasileiros.(28)O índice de massa muscular foi calculado dividindo a massa muscular total de uma pessoa por sua altura. Massa muscular baixa foi definida como aquela dentro do percentil 20 inferior da amostra no índice de massa corporal,(29, 30) que correspondeu a valores abaixo de 9,61kg/m2 para homens e 6,92kg/m2 para mulheres. A avaliação da força muscular e do desempenho físico foi realizada por meio de métodos recomendados pelo EWGSOP.(7) Para a avaliação da força muscular, foi utilizado um dinamômetro manual hidráulico (modelo SH5001, SAEHAN®). A média de três medidas tomadas em intervalos de um minuto no teste de força de preensão manual foi usada para análise estatística. A baixa força muscular foi categorizada em valores abaixo de 30 kg/força [kg/f] para homens e abaixo de 20 kg/f para mulheres, e o desempenho físico foi avaliado com base no tempo para percorrer uma distância de quatro metros em um teste de velocidade da marcha.(7) O desempenho físico foi considerado prejudicado se o participante concluísse o teste a uma velocidade de caminhada confortável de 0,8 m/s ou mais lenta.(7)

Análise dos dados

A análise descritiva foi realizada por meio de frequências e porcentagens para variáveis categóricas; e médias e desvios-padrão para os contínuos. Para comparar participantes sarcopênicos e não sarcopênicos, um teste qui-quadrado foi usado para variáveis categóricas e um teste t de Student foi usado para variáveis contínuas. Para avaliar a associação entre os domínios da qualidade de vida e a sarcopenia, análises brutas e ajustadas foram realizadas por meio de um modelo de regressão linear. Os modelos foram ajustados para idade, sexo, escolaridade e número de doenças, sendo utilizados intervalos de confiança (IC) de 95% e nível de significância de 5%. Foram considerados os pré-requisitos mínimos de normalidade, linearidade e homocedasticidade dos resíduos, bem como a ausência de multicolinearidade. Todos os dados foram analisados por meio da versão 21.0 do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

Resultados

Trezentos e setenta e oito participantes constituíram a amostra final. Neste estudo, a maioria dos participantes (65,61%) era do sexo feminino. A prevalência de sarcopenia nos participantes incluídos foi de 12,7% (n = 48). Os participantes sarcopênicos eram mais velhos e apresentavam média de anos de estudo mais baixa do que os idosos não sarcopênicos (Tabela 1).

Tabela 1
Características de idosos residentes na comunidade com e sem sarcopenia e amostra total (n = 378)

Os idosos sarcopênicos apresentaram menores escores de qualidade de vida nos domínios funciomanento físico, dor corporal, estado geral de saúde e função social (p <0,05) (Tabela 2).

Tabela 2
Domínios de qualidade de vida em idosos residentes na comunidade com e sem sarcopenia (n = 378)

Após o ajuste, a sarcopenia associou-se inversamente ao funcionamento físico (β = -0,125; p = 0,010) e ao estado geral de saúde (β = -0,112; p = 0,028) (Tabela 3).

Tabela 3
Associação entre sarcopenia e qualidade de vida em idosos comunitários (n = 378)

Discussão

Este estudo identificou que idosos sarcopênicos apresentaram menores escores de qualidade de vida nos domínios função física, dor corporal, estado geral de saúde e função social. A sarcopenia foi inversamente associada com funcionamento físico, dor corporal, estado geral de saúde e funcionamento social. Após o ajuste para idade, sexo, escolaridade e número de doenças, a sarcopenia associou-se inversamente ao funcionamento físico e ao estado geral de saúde.

Em nossa amostra, 12,7% dos participantes tinham sarcopenia de acordo com a definição do EWGSOP.(7)Esse achado está de acordo com uma revisão sistemática anterior que estimou uma prevalência de sarcopenia de 16% no Brasil, com base em critérios de baixa massa muscular e função.(31)A prevalência de sarcopenia e suas características podem variar de acordo com o ambiente e o critério diagnóstico aplicado nas diferentes amostras de estudo. Até onde sabemos, apenas três estudos anteriores(15, 18, 32)usaram uma definição de consenso de sarcopenia para examinar a associação de sarcopenia e os componentes físicos e mentais da qualidade de vida em idosos. Esses estudos aplicaram a definição do EWGSOP(7)a idosos residentes na comunidade.

Em nossa amostra, os escores de funcionamento físico, dor corporal, estado geral de saúde e função social foram piores em idosos sarcopênicos do que em idosos não sarcopênicos, e esses escores foram inversamente associados à sarcopenia. No entanto, após o ajuste, apenas o funcionamento físico e os escores do estado geral de saúde foram inversamente associados à qualidade de vida, sugerindo que esses componentes podem ser críticos na qualidade de vida dos idosos. Mais especificamente, uma quantidade importante dos piores escores de qualidade de vida (24,8% na capacidade funcional e 18,1% no domínio saúde geral) foram relacionados à sarcopenia. Em consonância com nossos resultados, um estudo anterior identificou que, após o ajuste para características basais potenciais, pessoas sarcopênicas tinham pior funcionamento físico autorreferido do que seus pares não sarcopênicos.(15) Outro estudo descobriu que participantes sarcopênicos também tinham pior funcionamento físico e escores de estado geral de saúde do que seus pares não sarcopênicos(18), embora as análises não tenham sido ajustadas para variáveis de confusão.(18)

Em uma análise transversal, os autores do estudo perceberam que, após ajustes, a sarcopenia grave estava inversamente associada aos componentes físico e mental da qualidade de vida(32) embora os resultados das associações de domínios específicos da qualidade de vida não fossem relatado. A associação de sarcopenia grave com o componente mental da qualidade de vida neste estudo(32)sugere que esse componente pode piorar com a progressão da sarcopenia. No geral, esses achados sugerem que a sarcopenia está inversamente associada à saúde geral e ao funcionamento físico e pode afetar a saúde mental conforme a condição avança.

É importante ressaltar que dois estudos(16,17) não identificaram associações entre os componentes da sarcopenia e a qualidade de vida. No entanto, esses estudos tiveram tamanhos de amostra pequenos e não classificaram a sarcopenia com base em um consenso anterior. Juntos, esses resultados sugerem que o uso de uma definição de sarcopenia baseada em consenso operacional parece ser útil para classificar com precisão os idosos sarcopênicos com diferentes níveis de gravidade.

Curiosamente, em nosso estudo, os piores escores em idosos sarcopênicos foram aqueles relacionados ao domínio estado geral de saúde. O estado geral de saúde no Short Form-36 avalia a percepção dos participantes sobre seu próprio estado de saúde e suas crenças sobre a probabilidade de piorar.(33) Esta avaliação se correlaciona com os componentes físicos e mentais da qualidade de vida,(33) sugerindo que a sarcopenia tem um impacto global na qualidade de vida relacionada à saúde em idosos.

Em nossa amostra, os participantes sarcopênicos eram mais velhos e tinham menos anos de escolaridade do que os participantes não sarcopênicos. Esses resultados não são surpreendentes, uma vez que há uma conhecida perda de massa e força muscular durante o processo de envelhecimento(2)e idosos com baixa escolaridade apresentam maior risco de sarcopenia.(34) No entanto, pouco se sabe sobre a relação entre escolaridade e sarcopenia. Parece razoável que indivíduos com maior nível de escolaridade sejam mais propensos a aderir a hábitos de vida saudáveis que podem prevenir a perda de massa e força muscular. No entanto, mais estudos são necessários para esclarecer o papel da escolaridade na sarcopenia.

Algumas limitações do nosso estudo devem ser consideradas. Primeiro, seu desenho transversal limita a capacidade de estabelecer uma relação causal entre sarcopenia e redução da qualidade de vida. Em segundo lugar, a maioria dos participantes incluídos neste estudo era do sexo feminino e havia diferenças entre os participantes com e sem sarcopenia. Os participantes sarcopênicos eram mais velhos e apresentavam menor média de anos de estudo do que os idosos não sarcopênicos. Também não limitamos nossa amostra a indivíduos sem doenças. Para minimizar essas limitações, foram realizadas análises ajustadas para idade, sexo, escolaridade e número de doenças. Terceiro, a equação usada para calcular a massa muscular, a equação de Lee, não é o padrão ouro para avaliar a sarcopenia. No entanto, como essa equação oferece um cálculo estimado sem exigir equipamentos caros, é amplamente utilizada e de fácil aplicação. Finalmente, nossa ferramenta de avaliação de qualidade de vida não é específica para idosos, enquanto alguns outros países agora têm questionários de qualidade de vida mais específicos para idosos. No entanto, o questionário que usamos é particularmente útil em virtude de sua simplicidade e é a medida de qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes mais velhos,(35)também permitindo comparações entre pessoas em diferentes idades e a detecção de declínios na qualidade de vida em adultos mais velhos versus jovens.

Este estudo também tem vários pontos fortes. Primeiro, foi conduzido em uma amostra representativa de idosos bem caracterizados residentes na comunidade. Em segundo lugar, ratificou que o uso de uma definição de consenso padronizada de sarcopenia é de particular importância e uso prático. Em terceiro lugar, destaca a possível relevância de detectar a sarcopenia precocemente em adultos mais velhos para prevenir a progressão da sarcopenia e maior deterioração na qualidade de vida. Novos estudos que avaliem o efeito do diagnóstico precoce da sarcopenia na qualidade de vida são necessários. Por fim, mostrou que domínios específicos da qualidade de vida devem ser considerados na avaliação, prevenção e tratamento da sarcopenia em idosos. Devido às consequências da sarcopenia no funcionamento físico, saúde geral e, em última instância, na saúde mental, estudos adicionais devem considerar a importância de estratégias de rastreamento para identificar precocemente a sarcopenia em idosos e devem se concentrar em estratégias preventivas para seu manejo. Embora haja fortes evidências de que as pessoas mais velhas estão vivendo mais, determinar se os anos adicionais de idade são dominados por declínios rápidos na saúde física e mental e quais indivíduos correm o risco de experimentar limitações de capacidade é crucial para o desenvolvimento de políticas.(1)

Conclusão

Os idosos sarcopênicos apresentaram menores escores de qualidade de vida nos domínios função física, dor corporal, estado geral de saúde e função social. Após o ajuste para idade, sexo, escolaridade e número de doenças, a sarcopenia foi inversamente associada ao funcionamento físico e ao estado geral de saúde. Domínios específicos da qualidade de vida, como capacidade funcional e estado geral de saúde, devem ser considerados na avaliação, prevenção e tratamento da sarcopenia em idosos.

Agradecimentos

Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amapá (FAPEAP, número 250.203.029 / 2016).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    4 Ago 2020
  • Aceito
    8 Mar 2021
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