O surrealismo, como a arte do seu tempo, propõe uma nova estética, capaz de extrair o belo do absurdo e de instaurar o desvio para que daí surja, de fato, o real. Através da análise de algumas obras de David Lynch e dos livros Les champs magnétiques de Breton e Philippe Soupault e Poisson soluble, de Breton, irei mostrar a pertinência da designação surrealista para a obra do cineasta norte-americano. Lynch, como os surrealistas, constrói uma operação dialética entre o racional/irracional. Ao mesmo tempo em que opera no campo artístico em direção à irracionalidade absoluta, Lynch não nega a sua inserção na sociedade. Acredito que o realizador, como os surrealistas, tenha conseguido encontrar um equilíbrio entre as duas formas de se estar no mundo, racional/irracional, jogando com suas antíteses. O prazer do jogo surrealista consiste em ir até as profundezas do inconsciente e retornar com matéria suficiente para fazer uma obra de arte.
surrealismo; David Lynch; André Breton