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Apresentação

APRESENTAÇÃO

Neste primeiro número de 2005, iniciamos o oitavo ano da revista, o que representa uma efetiva garantia de nossa continuidade editorial. Fazer uma revista científica no Brasil, a partir de um projeto coletivo de pesquisadores tem representado mais do que um desafio, uma proposta baseada na inestimável cooperação entre tantos colegas de diversas universidades brasileiras, de pesquisadores de instituições científicas públicas e não governamentais. Assim sendo, gostaríamos de agradecer esta importante colaboração que se faz absolutamente necessária para manter a qualidade da nossa proposta editorial. Também queremos agradecer o importante apoio do CNPq e o suporte editorial e de distribuição da Editora Annablume e contar com o crescente apoio das instituições filiadas à ANPPAS como centros indutores de produção e disseminação da revista.

Gostaríamos também de lembrar a todos da realização do III Encontro da Associação Nacional de Pós

Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade ANPPAS), que ocorrerá em Brasília entre os dias 23, 24, 25 e 26 de maio de 2006. Para as palestras principais do evento estão previstas as presenças de Steven Yearley York University/ York/ Inglaterra), Michel Maffessoli (Sorbonne/Paris/França) e Roberto Guimarães (Nações Unidas/ Nova York/ Estados Unidos), além da realização de mesas redondas e atividades de 17 grupos de trabalho.

Neste número novamente demonstra-se o caráter interdisciplinar, um dos principais objetivos da revista, mas também o esforço continuado de publicar textos de origens muito diversas e com conteúdos que efetivamente contribuem para o debate contemporâneo em torno da temática ambiental.

O primeiro texto é do pesquisador inglês, Steven Yearley, professor do Departamento de Sociologia da York University, cuja contribuição no campo da reflexão sobre globalização e meio ambiente o tornaram uma referência na literatura da sociologia ambiental e do conhecimento. O texto aqui apresentado discute, a partir da ciência social ambiental, a definição de problemas ambientais e a validade de se diferenciar questões envolvendo poluição industrial e uso de recursos naturais, com base num estudo comparado internacional. O segundo texto elaborado por Aléxis Mercado e Karenia Cordova, professores pesquisadores do Cendes- Centro de Estudios del Desarrollo da Universidade Central da Venezuela, analisam como doze anos após a ECO -92 confronta-se a realidade de um mundo mais degradado social e ambientalmente, sendo que a abertura econômica colocou o imperativo da competitividade trazendo à tona uma dicotomia na relação indústria – ambiente. O artigo avalia como estagnou um processo de aprendizagem sócio-institucional que inclui mudanças políticas, científicas e tecnológicas, configurando uma situação na qual a relação ambiente - industria se caracterize mais pelas controvérsias do que pela busca de soluções.

O artigo de Alfio Brandenburg, professor da Universidade Federal do Paraná, tem por finalidade fazer um balanço dos estudos ambientais rurais sob a perspectiva das ciências sociais. Para isso, em primeiro lugar, realiza-se uma análise da trajetória dos movimentos sociais, identificando-se as principais questões ambientais emergentes na ótica dos atores do mundo rural. Num segundo momento, agrupam-se os temas privilegiados pelos pesquisadores para, em seguida, apontar as principais perspectivas analíticas em curso.

O quarto texto de autoria de Armando Gallo Yahn Filho. O trabalho analisa a tutela dos recursos hídricos amazônicos à luz do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA). Desenvolve-se uma análise jurídica do Tratado de Cooperação Amazônica, no que tange à utilização dos recursos hídricos trans-fronteiriços, levandose em conta o conceito de bacia de drenagem internacional. O objetivo é demonstrar que o Pacto Amazônico não implicou uma verdadeira cooperação, como entendida pelo Direito Internacional, e chamar a atenção para os problemas decorrentes da incompatibilidade entre a análise do Tratado como um regime internacional e sua análise jurídica.

O quinto texto de autoria de Antonio Almeida Jr. & Zilda Mattos, professores da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo, aborda o tema dos organismos geneticamente modificados e dos impactos provocados em dois universos – a literatura científica e a mídia brasileira. O artigo aponta algumas das formas de viés que a mídia apresenta em relação aos OGMs, e conclui que, embora os argumentos apresentados a favor dos OGMs possam ser facilmente rechaçados de um ponto de vista técnico, a transformação dos mesmos em uma realidade mercadológica depende, acima de tudo, de uma ordem social comandada pelo capital, hoje representado principalmente pelas grandes corporações e seus aliados, a começar pelo Estado.

O texto de autoria de quatro pesquisadores do IBGE, Paulo Gonzaga M. de Carvalho, Sonia Maria M. C. de Oliveira, Frederico Cavadas Barcellos e Jailson Mangueira Assis apresenta resultados de pesquisa sistematizados a partir das informações disponibilizadas pela Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE, analisando existência de Conselhos Municipais de Meio Ambiente, de Fundos Especiais de Meio Ambiente e de legislação sobre Áreas de Interesse Especial. Os resultados aqui apresentados demonstram que os instrumentos de gestão ambiental, apesar de terem crescido em números absolutos e proporcionais, ainda são pouco freqüentes na maioria dos municípios brasileiros.

O artigo de autoria de Cristina Adams, Rui Sérgio Murrieta & Rosely Alvim Sanchez, tem como objetivo a caracterização e comparação dos consumos alimentares domésticos de duas comunidades caboclas localizadas numa região de várzea sazonal (Ilha do Ituqui, Santarém-PA) no Baixo Amazonas (1995-97). Especial ênfase é dada ao papel da agricultura no consumo alimentar destas populações. Os resultados obtidos indicam níveis elevados de consumo protéico em relação ao calórico, pela população local, relativa instabilidade sazonal das fontes de energia e crescente dependência de itens alimentares industrializados. Apesar deste perfil, produtos localmente produzidos e obtidos, como a farinha de mandioca e o peixe, ainda representam grande parte da estrutura dietética destas populações. Somado a isto, um amplo leque de atividades de subsistência e de mercado, bem como a exploração de diferentes zonas ecológicas na obtenção de alimento, foram observados, desmistificando algumas das pressuposições dominantes até recentemente sobre a homogeneidade simplicidade das estratégias produtivas destas populações.

José Luiz de Andrade Franco e José Augusto Drummond, examinam o pensamento do botânico Frederico Carlos Hoehne (1882-1959) sobre a proteção da natureza. Argumenta-se que Hoehne foi um pioneiro no tema entre os cientistas brasileiros do século XX. Contribuiu para a emergência de uma consciência ambientalista no Brasil, atuando como cientista, escritor e dirigente de instituições científicas. A sua abordagem combinava a ciência com argumentos estéticos e de identidade nacional. Aponta-se ainda que o seu pensamento, em grande parte esquecido, merece ser recuperado e examinado com maior atenção. Além dos artigos, essa edição da revista traz também 3 resenhas de obras vinculadas à temática ambiental. Ambiente & Sociedade oferece, portanto, ao leitor uma variedade de textos que permitem confirmar o nosso compromisso em ampliar cada vez mais o universo de temas abordados, assim como das necessárias inter-relações entre o social, o institucional e o ambiental.

Até o próximo número e contamos com vocês, leitores, como nossos principais multiplicadores.

Os editores

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Nov 2005
  • Data do Fascículo
    Jan 2005
ANPPAS - Revista Ambiente e Sociedade Anppas / Revista Ambiente e Sociedade - São Paulo - SP - Brazil
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