Nos últimos anos, acompanhamos uma democratização no acesso à universidade pública no país, o que permitiu a entrada de um novo perfil de aluno a esse ambiente antes povoado, quase que exclusivamente, pelos filhos das elites. Apesar deste importante passo em direção à superação das desigualdades sociais, diferenciações internas entre perfis permaneceram, refletindo, dentro das instituições, as desigualdades vivenciadas externamente. Esse artigo analisa o papel do programa Ciência sem Fronteiras na inclusão social de alunos de graduação (ex-bolsistas) da Unicamp, a partir da aplicação de uma metodologia que permitiu traçar o perfil dos beneficiários do programa de maneira interseccional. Os resultados revelam que, embora o programa contemple mecanismos que poderiam favorecer a inclusão social, na Unicamp, o programa continuou beneficiando um perfil muito específico de aluno - homem, branco, oriundo de escola particular no ensino médio, não beneficiário do Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social e sem necessidades especiais. Este também era o perfil mais frequente entre os programas já existentes de mobilidade internacional da instituição. Tais resultados reforçam a ideia de que a superação das desigualdades sociais e marginalidade por esse novo perfil de alunos não termina com o acesso à universidade e que existem outros obstáculos a serem superados.
Palavras-chave: Inclusão social; Interseccionalidade; Mobilidade internacional