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Um estudo da mobilidade acadêmica internacional em cursos de graduação da Universidade Federal de São Carlos no âmbito dos programas AUGM, Bracol, Bramex e Acordos bilaterais de cooperação

A study of international academic mobility in undergraduate courses at Federal University of São Carlos within the framework of the programs AUGM, Bracol, Bramex and bilateral cooperation agreements

Resumos

O processo de internacionalização do ensino superior avançou muito nos últimos anos e passou a ser prioridade nas agendas institucionais, como forma de possibilitar o avanço científico/tecnológico, determinante para que as Universidades apareçam no contexto internacional. As atividades associadas à internacionalização vão muito além da mobilidade transfronteiriça de estudantes, pois engloba também o desenvolvimento curricular, a cooperação internacional, o desenvolvimento de pessoal, entre outros aspectos. Neste cenário, esta pesquisa teve o objetivo de avaliar a mobilidade acadêmica internacional em cursos de graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no âmbito dos programas Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu (AUGM), Programa de Mobilidade Acadêmica Brasil-Colômbia (BRACOL), Programa de Mobilidade Acadêmica Brasil-México (BRAMEX) e acordos bilaterais de cooperação, no período de 2016 a 2019. A presente pesquisa é descritiva e adotou a metodologia quantitativa de survey ou levantamento. A coleta de dados foi feita através de pesquisa documental e aplicação de questionário. A análise dos resultados foi feita por meio do Ranking Médio (RM) dos itens Likert dentro de cada categoria. Dentre os resultados, pode-se inferir que apesar de a mobilidade acadêmica internacional na UFSCar estar em expansão, é possível implementar ações de melhorias com o intuito de aumentar a mobilidade de estudantes incoming e outgoing, a partir dos pontos de fragilidade detectados por meio do questionário. O estudo também buscou oferecer subsídios para ações institucionais por meio dos indicadores apresentados. A limitação e sugestões para estudos futuros são apresentados nas considerações finais.

Palavras-chave:
internacionalização; ensino superior; mobilidade acadêmica internacional


The internationalization process of higher education has advanced a lot in recent years and has become a priority on institutional agendas, as a way of enabling scientific/technological advancement and crucial for Universities to appear in the international context. The activities associated with internationalization go far beyond the cross-border mobility of students, as it also encompasses curriculum development, international cooperation, staff development, among other aspects. In this scenario, this research aimed to assess international academic mobility in undergraduate courses at the Federal University of São Carlos, within the framework of the programs AUGM, Bracol, Bramex and bilateral cooperation agreements, from 2016 to 2019. The present research adopted the survey methodology and has a quantitative approach. Based on the objectives, it is descriptive. Data collection was carried out through documentary research and the application of a questionnaire. The analysis of the results was made through the Average Ranking (RM) of the Likert items within each category. Among the results of this study, it can be inferred that although the international academic mobility at UFSCar is expanding, from the weak spots detected through the questionnaire, it is possible to implement improvement actions to increase the number of academic mobility incoming and outgoing. It was also found that Latin America has developed its international academic mobility, notably through AUGM, however, it still needs to be improved, aiming to attract students from all areas of knowledge. The study also sought to offer subsidies for several institutional actions through the indicators presented. The limitations and suggestions for future studies are presented in the final considerations.

Key-words:
internationalization; higher education; international academic mobility


1 Introdução

A globalização, fenômeno que influenciou fortemente o processo de desenvolvimento da sociedade do conhecimento, vem impondo reformas aceleradas na educação superior, dentre elas a internacionalização das universidades, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão. De acordo com Knight (2004KNIGHT, Jane. Internationalization remodeled: Definition, approaches, and rationales. Journal of studies in international education. Califórnia, v. 8, n. 1, p. 5-31, 2004.), o termo internacionalização vem sendo usado cada vez mais para discutir a dimensão internacional da educação superior, porém há uma grande confusão sobre o que isso significa. A internacionalização pode significar uma série de atividades, como mobilidade acadêmica para alunos e professores, colaboração em pesquisa na forma de parcerias e projetos com atores de diferentes países, novos programas acadêmicos internacionais e iniciativas de pesquisa, bem como a inclusão de uma dimensão internacional, intercultural e global no currículo e no processo de ensino-aprendizagem.

Segundo Maringe e Foskett (2012MARINGE, Felix; FOSKETT, Nick (ed.). Globalization and internationalization in higher education: theoretical, strategic and management perspectives. London: A&C Black, 2012.), universidades de todo o mundo reconhecem cada vez mais os desafios da globalização e as pressões para a internacionalização. As principais universidades do mundo aspiram tornar-se instituições globais e liderar pesquisas de nível internacional, atraindo estudantes de diferentes partes do mundo, focados em questões científicas e sociais de importância global. Assim, além de a internacionalização ser um determinante para que as universidades apareçam nos rankings, ela promove a cooperação internacional para a melhoria da capacitação dos profissionais, a realização de projetos compartilhados de pesquisa, a participação no desenvolvimento industrial, econômico e social dos países e a melhoria da qualidade e da imagem universitária.

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), criada em 1968, foi a primeira instituição federal de ensino superior a se instalar na região central do estado de São Paulo e teve na sua gênese a intencionalidade de ser criadora, autônoma, multidisciplinar e com o compromisso de responder às demandas sociais (Universidade Federal de São Carlos, 2018). Iniciou efetivamente as suas atividades em 1970 na cidade de São Carlos. Atualmente possui quatro campi, sendo eles: São Carlos, Araras, Sorocaba e Lagoa do Sino. Em 2018 contava com uma população de 2.292 servidores, sendo 1.264 docentes de terceiro grau, 11 de ensino básico, técnico e tecnológico e 1.017 técnico-administrativos, que desenvolvem atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão. Com uma comunidade discente de aproximadamente 21.500 alunos em 2018, sendo 12.406 estudantes de graduação presencial, a UFSCar é destaque entre as universidades do Brasil e da América Latina, que figuram em rankings de instituições de ensino superior. Foi classificada na 12ª posição entre as melhores universidades do Brasil pelo Ranking Universitário Folha (RUF) em 2019 (FOLHA DE S.PAULO, 2019FOLHA DE S.PAULO . Ranking Universitário Folha (RUF) 2019. Disponível em Disponível em https://ruf.folha.uol.com.br/2019/ranking-de-universidades/principal/ . Acesso em: 01 jul. 2020.
https://ruf.folha.uol.com.br/2019/rankin...
). Já o Times Higher Education (THE, 2020TIMES HIGHER EDUCATION (THE). Latin America University Rankings 2020. 2020 Disponível em: Disponível em: https://www.timeshighereducation.com/world-university-rankings/2020/latin-america-university-rankings#!/page/0/length/25/sort_by/rank/sort_order/asc/cols/undefined . Acesso em 02 jul. 2020.
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), um dos principais rankings internacionais de universidades, colocou a UFSCar em 15º lugar entre 150 instituições de Ensino Superior da América Latina avaliadas, conforme divulgado em julho de 2020. Na UFSCar, a unidade responsável por gerenciar os programas de mobilidade acadêmica internacional no âmbito da graduação é a Secretaria Geral de Relações Internacionais (SRInter), criada em 2009, como objetivo de propor e desenvolver políticas de relações internacionais por meio da promoção, cooperação e intercâmbio científico e acadêmico entre a Universidade e instituições estrangeiras.

O presente artigo tem como objetivo avaliar a mobilidade acadêmica internacional em cursos de graduação da UFSCar no âmbito dos seguintes programas: Programa de Mobilidade Acadêmica Brasil-Colômbia (BRACOL), Programa de Mobilidade Acadêmica Brasil-México (BRAMEX) e acordos bilaterais de cooperação, no período de 2016 a 2019. Além desta introdução, este artigo é composto por mais sete seções que se estruturam como se segue: a seção 2 apresenta um breve histórico da internacionalização da educação superior, bem como as razões e estratégias para a internacionalização de instituições de ensino superior segundo a literatura a respeito do tema; a seção 3 discorre sobre a metodologia da pesquisa; a seção 4 apresenta alguns indicadores de mobilidade acadêmica internacional da UFSCar; a seção 4.1 apresenta e analisa as respostas para os dois grupos de estudantes que responderam ao questionário, quais sejam, estudantes incoming (estudantes de instituições estrangeiras recebidos pela UFSCar no âmbito dos programas analisados e dos acordos bilaterais de cooperação internacional) e outgoing (estudantes da UFSCar que fizeram estágios em instituições estrangeiras, no âmbito dos referidos programas e acordos). Finalmente, a seção 5 apresenta a síntese dos resultados obtidos, limitações da pesquisa e recomendações para trabalhos futuros.

2 A internacionalização do ensino superior

A internacionalização da ciência não é um processo novo e faz parte das raízes históricas das instituições de ensino superior. Segundo Stallivieri (2002STALLIVIERI, Luciane. O processo de internacionalização nas instituições de ensino superior. Educação Brasileira: Revista do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, Brasília, v. 24, n. 48, p. 35-57, 2002.), ao analisar a fundação das primeiras escolas europeias de ensino superior, desde a Idade Média as universidades apresentam um relativo caráter internacional. As "Universitas", forma como eram denominadas as escolas da Alta Idade Média no continente europeu, desde seus primórdios (séculos XI, XII e XIII), contavam com professores e estudantes de diferentes regiões e países, apresentando em sua constituição comunidades parcialmente internacionalizadas. Com o objetivo de obter novos conhecimentos e novas descobertas, o deslocamento dessas pessoas era uma prática comum. (STALLIVIERI, 2002STALLIVIERI, Luciane. O processo de internacionalização nas instituições de ensino superior. Educação Brasileira: Revista do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, Brasília, v. 24, n. 48, p. 35-57, 2002.). Os estudantes deslocavam-se da Europa Central para as universidades italianas (Pádua, Bolonha, Siena), e, em menor escala, para as francesas (Paris, Montpellier, Orleans) desenvolvendo seus estudos, visitando sucessivamente várias universidades e colando grau durante o seu retorno (CHARLE; VERGER, 1996CHARLE, Christophe; VERGER, Jacques. História das universidades. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996.).

De acordo com Altbach (1989ALTBACH, Philip G. The new internationalism: Foreign students and scholars. Studies in Higher Education, London, v. 14, n. 2, p. 125-136, 1989.), as instituições acadêmicas estão ligadas através das fronteiras internacionais por uma tradição histórica em comum e mais do que qualquer outra instituição, a universidade é, por natureza, internacional. Segundo Rudzki (1998RUDZKI, Romuald Edward John. The strategic management of internationalization: towards a model of theory and practice. 1998. Tese (Doutorado) - Newcastle University, Reino Unido, 1998.), a partir das décadas de 1960 e 1970, as ex-colônias britânicas expandiram seus sistemas de ensino superior, o que implicou a intensificação de programas, projetos e estratégias de internacionalização de suas instituições de ensino e pesquisa. O autor afirma que é crescente a percepção de que a adoção da internacionalização das instituições de ensino superior como política pública é necessária para maximizar o potencial das universidades e Estados Nacionais e para promover o crescimento econômico através do investimento em recursos humanos qualificados. Ainda segundo o mesmo autor, a década de 1980 presenciou o surgimento do Programa ERASMUS, acrônimo em inglês para European Region Action Scheme for the Mobility of University Students, um dos mais importantes programas de cooperação e mobilidade de estudantes e professores no âmbito do ensino superior, financiado pela União Européia. As atividades do programa têm como objetivo promover a excelência da educação superior e pesquisa dos países europeus e ao mesmo tempo reforçar os laços acadêmicos com países de todo o mundo. O Erasmus também foi a base para o início do Processo de Bolonha, assinado em 1999, que deu início a um processo de convergência do conteúdo dos estudos universitários de instituições integrantes da União Européia, tendo como um de seus objetivos a ampliação da mobilidade acadêmica. Juntos, Erasmus e o Processo de Bolonha se tornaram o modelo de cooperação e mobilidade intra-regional considerado o mais bem-sucedido da Europa. (DE WIT; HUNTER, 2015DE WIT, Hans; HUNTER, Fiona. Understanding internationalisation of higher education in the European context. Internationalisation of Higher Education, Westport, CT, p. 41-58, 2015.).

Desde então, o processo de internacionalização na educação superior vem crescendo significativamente em diferentes aspectos, tais como: a mobilidade de docentes e discentes; interculturalidade no currículo; programas e projetos de cooperação internacional, entre outros. Com isso, tornou-se indispensável à avaliação e mensuração destas instituições. Segundo Leal, Stallivieri e Moraes (2018LEAL, Fernanda Geremias; STALLIVIERI, Luciane; MORAES, Mário César Barreto. Indicadores de internacionalização: o que os Rankings Acadêmicos medem? Revista Internacional de Educação Superior, Campinas, v. 4, n.1, p. 52-73, 2018.), a importância da internacionalização da educação superior atualmente é refletida na criação de rankings acadêmicos globais e a utilização de indicadores de internacionalização usados para estas classificações, como forma de identificar as melhores instituições universitárias no âmbito nacional e internacional.

Para Laus e Morosini (2005LAUS, Sonia Pereira; MOROSINI, Marilia Costa. Internacionalización de la educación superior en Brasil. In: DE WIT, H. et al. Educación superior en América Latina. La dimensión internacional. Tradução ao castelhano de Jesús Villamizar Herrera. Bogotá: Banco Mundial em coedición con Mayol Ediciones, 2005. p. 113-151.), no Brasil, o processo de internacionalização do ensino superior teve origem no período do Brasil Colônia. Durante o período colonial (1500-1822), a formação acadêmica de jovens da elite brasileira era realizada na Europa, preferencialmente nas metrópoles coloniais, sendo as universidades da França, de Portugal e da Alemanha os principais destinos. Historicamente, tanto a educação quanto a internacionalização da educação superior no Brasil estão fortemente atreladas ao Estado (como instância definidora de políticas, responsável pelo financiamento e regulação) e à participação das universidades públicas e institutos de pesquisa por ele mantidos. Consequentemente, a concretização dos primeiros programas de cooperação internacional dependeu da criação das universidades e da agenda política dos governantes (LIMA; CONTEL, 2009LIMA, Manolita Correia; CONTEL, Fábio Betioli. Períodos e motivações da internacionalização da educação superior brasileira. In: COLÓQUIO DA IFBAE, 5., 2009, Genebra. 2009 Disponível em: Disponível em: http://www.ifbae.com/pdf/congresso/2009_B0095.pdf . Acesso em: 05 fev. 2020.
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).

No Brasil, a internacionalização do ensino superior adquiriu importantes proporções na década de 1970, por meio da atuação de instituições internacionais. A Fundação Rockefeller, o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), a Comissão Fullbright, a Education USA, entre outras agências internacionais, passaram a ofertar bolsas de estudo para estudantes brasileiros realizarem cursos de formação no exterior, além de incentivos à pesquisa e à cooperação científica entre universidades brasileiras e estrangeiras (MUELLER, 2013MUELLER, Cristiana Verônica. O processo de internacionalização do ensino superior: um estudo de caso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2013 Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.). Ainda segundo Mueller (2013), apesar das diversas ações para promover a internacionalização, o Brasil ainda ocupa uma posição de pouco destaque no contexto da educação superior internacional. As relações das universidades brasileiras com as instituições de ensino superior (IES) estrangeiras são assimétricas. O fluxo de intercâmbios acadêmicos e científicos é predominantemente unilateral, sendo reduzido o fluxo inverso.

Apesar de não se tratar de um fenômeno recente, o conceito de internacionalização do ensino superior é de difícil definição. Existe na literatura, uma gama variada de definições. Segundo Knight (2006KNIGHT, Jane. Higher education crossing borders: a guide to the implications of the general agreement on trade in services (GATS) for cross-border education. Commonwealth of Learning, Vancouver, 2006.), é um processo de integração de uma dimensão internacional, intercultural e global sobre os objetivos, ensino, aprendizagem, pesquisa e serviços de uma universidade ou de um sistema de ensino superior. Para Teichler (2004), o processo de internacionalização está ligado, atualmente, ao advento da globalização, à crescente atividade transfronteiriça das instituições de ensino, sendo pensado e discutido em termos de mobilidade física, cooperação acadêmica e transferência de conhecimento.

Assim, verifica-se que o processo de internacionalização de instituições de Ensino superior compreende um conjunto amplo de políticas, estratégias, ações e atores e os programas de mobilidade acadêmica constituem uma das principais ações para a efetivação e o fortalecimento desse processo. Dentre as principais razões para a internacionalização da Educação Superior, frequentemente citados na literatura, é possível identificar: competitividade econômica; segurança nacional; aumento da diversidade étnica e religiosa das comunidades locais; relação de paz entre as nações e aumento do empreendedorismo acadêmico (AIGNER et al., 1992AIGNER, Jean S. et al. Internationalizing the university Making It Work.. Springfiel: CBIS Federal, 1992.). Knight (2004KNIGHT, Jane. Internationalization remodeled: Definition, approaches, and rationales. Journal of studies in international education. Califórnia, v. 8, n. 1, p. 5-31, 2004.), também aborda diversas razões para a internacionalização no nível nacional e internacional. No nível nacional, a mesma autora cita o desenvolvimento de recursos humanos, alianças estratégicas, geração de renda, construção de nação, desenvolvimento social e cultural e no nível institucional, cita o aprimoramento dos padrões internacionais, geração de renda, desenvolvimento de estudantes e funcionários, alianças estratégicas e produção de conhecimento.

Teichler (2009TEICHLER, Ulrich. Internationalisation of higher education: European experiences. Asia Pacific education review, Local, v. 10, n. 1, p. 93-106, 2009.) diz que é esperado que a internacionalização sirva para a compreensão mútua, para o aprimoramento da qualidade, para uma vida cultural mais rica (em nível de experiência individual), para o aumento da qualidade acadêmica, da inovação tecnológica, e, em última instância, para o crescimento econômico e promoção do bem-estar social. Ainda segundo Teichler (2009), isto não significa que os elementos negativos não sejam visíveis: encargos e custos adicionais, riscos e esforços institucionais para criação de infraestrutura administrativa, são alguns desses elementos.

Segundo De Wit (2013DE WIT, Hans et al. An introduction to higher education internationalisation. Milan: Vita e Pensiero, 2013.), às estratégias de internacionalização são definidas pelo contexto específico de cada universidade e em como ela é incorporada nacionalmente, assim, as justificativas mencionadas não são mutuamente exclusivas, podendo possuir diferentes graus de importância de acordo com o país e região, bem como mudar ao longo do tempo. Stallivieri (2017STALLIVIERI, Luciane. Compreendendo a internacionalização da educação superior. Revista de Educação do COGEIME, São Paulo, v. 26, n.50, p. 15-36, 2017.), afirma que uma vez que um país pode contar com instituições de ensino superior internacionalizadas, certamente irá apontar para níveis mais altos de desenvolvimento, expansão de sua projeção intelectual, maior participação nos fóruns globais e melhoria da importância do papel dos pesquisadores no cenário global, contribuindo também para o desenvolvimento regional onde a instituição está localizada.

Um dos aspectos que reflete a importância da internacionalização da educação superior no contexto contemporâneo é a criação de rankings acadêmicos globais e a inclusão de indicadores de internacionalização nessas ferramentas. Ainda que caibam críticas quanto ao uso de tais rankings como ferramentas que promovem uma “hierarquização” das instituições universitárias. Para Leal, Stallivieri e Moraes (2018LEAL, Fernanda Geremias; STALLIVIERI, Luciane; MORAES, Mário César Barreto. Indicadores de internacionalização: o que os Rankings Acadêmicos medem? Revista Internacional de Educação Superior, Campinas, v. 4, n.1, p. 52-73, 2018.), os rankings cotejam um percentual reduzido de dimensões decorrentes dos processos institucionais de internacionalização, sendo avaliados apenas quantitativamente e reforçando o instrumentalismo econômico.

Para Knight (2012KNIGHT, Jane. Student mobility and internationalization: trends and tribulations. Research in Comparative and International Education. Journal of studies in international education. Califórnia, v. 7, n.10, p. 20-33, 2012.), dirigentes universitários podem entender que um resultado mensurável da internacionalização será a conquista de uma posição específica em um ou mais dos sistemas de classificação global. As estratégias de internacionalização das universidades, no entanto, deveriam estar mais alinhadas às escolhas estratégicas sobre o quê se deseja internacionalizar, porque e para quê. Mais alunos estrangeiros no campus não produzirão, necessariamente, um currículo acadêmico e uma cultura institucional mais internacionalizados. O mesmo pode ser dito, segundo a autora, em relação ao número de acordos de cooperação internacional, cabendo avaliar a qualidade dos projetos de investigação associados, os resultados concretos de mobilidade e produção científica alcançados e sua aderência à cultura e valores da instituição.

Os indicadores de internacionalização presentes nos rankings acadêmicos são relativos às parcerias internacionais para a pesquisa, às citações em artigos científicos internacionais e também à mobilidade acadêmica, os quais são mais facilmente quantificáveis e comparáveis. A ênfase em aspectos quantificáveis não significa, no entanto, que haja metodologias uniformes quanto à elaboração de indicadores de internacionalização do ensino superior.

No conjunto das recomendações de manuais e da literatura acadêmica, encontram-se: existência de cursos ou disciplinas em língua estrangeira, na graduação ou pós-graduação; literacia em língua inglesa do corpo docente e discente; políticas institucionais de capacitação em língua estrangeira; número de citações de pesquisadores de uma instituição em bases de periódicos internacionais como Web of Science e fator de impacto das revistas onde publicam; citações de pesquisadores nacionais em artigos de autores estrangeiros; proporção de docentes e discentes internacionais (de graduação, de pós-graduação) de uma instituição, região ou país, em relação aos “domésticos”; proporção do orçamento dedicado a programas e projetos de internacionalização; número de convênios/acordos de cooperação internacional; proporção do orçamento que provém de doadores internacionais (KNIGHT, 2012).

Dentre os indicadores de mobilidade acadêmica adotados como métricas de internacionalização estão as experiências de intercâmbio ou estágios no exterior de discentes e docentes. A mobilidade pode ser a expressão de diferentes experiências de internacionalização do ensino superior que vão desde estágios em cursos de graduação e pós-graduação, à colaboração internacional em pesquisa, aos contratos de pesquisa supranacionais, à participação em organizações internacionais de pesquisa, à coordenação e planejamento conjunto de atividades em ciência, tecnologia e inovação. Diante de sua relevância e das diferentes formas e impactos que a mobilidade acadêmica assume, planejá-la e implementá-la demanda a adoção de instrumentos de avaliação consistentes, que possam gerar séries temporais de indicadores e dados relativos à percepção dos atores envolvidos, sejam alunos, docentes ou dirigentes universitários. Nas seções seguintes, explicitamos o desenho metodológico do instrumento de avaliação de mobilidade internacional de estudantes de graduação aplicado na UFSCar, apresentamos e discutimos os resultados obtidos.

3 Metodologia

Essa pesquisa se caracteriza pela abordagem quantitativa e descritiva. A metodologia adotada para a coleta de dados primários foi o levantamento ou survey, com aplicação de questionário fechado a um conjunto de 175 estudantes de mobilidade outgoing e 115 estudantes de mobilidade incoming da Universidade Federal de São Carlos, no período de dezembro de 2019 a janeiro de 2020. Define-se por mobilidade outgoing os estudantes que vão para uma instituição do exterior para fazer um período de intercâmbio, mantendo-se vinculados à UFSCar e por mobilidade incoming os estudantes vindos de instituições do exterior para fazer um período de intercâmbio na UFSCar, mantendo-se vinculados às suas instituições de origem.

Para a caracterização dos programas AUGM, Bracol, Bramex e acordos bilaterais de cooperação, os dados foram coletados em fontes secundárias, como sites institucionais e documentos relativos aos acordos firmados com as instituições conveniadas (AUGM, 2020ASOCIACIÓN DE UNIVERSIDADES GRUPO MONTEVIDÉU (AUGM). Disponível em: Disponível em: http://grupomontevideo.org/sitio/ - Acesso em 01 jul 2020.
http://grupomontevideo.org/sitio/...
; UFSCar, 2020UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCar). Página da Secretaria Geral de Relações Internacionais (SRINTER). Disponível em: Disponível em: https://www.srinter.ufscar.br/pt-br/pagina-inicial . Acesso em 01 jul. de 2020.
https://www.srinter.ufscar.br/pt-br/pagi...
). Os questionários foram enviados por meio eletrônico, utilizando a ferramenta Google Forms. Para chegar a esses estudantes, foi utilizado um banco de dados construído a partir de informações disponíveis na SRInter da UFSCar (UFSCar, 2020). Os questionários foram enviados a cada 10 dias, por um período de 40 dias. No final dos 40 dias, 57% (n=85) dos questionários haviam sido respondidos pelos estudantes outgoing e 43% (n=63) dos questionários haviam sido respondidos pelos estudantes incoming. Não há consenso na literatura acerca de qual seria uma taxa aceitável de retorno em aplicações de questionário on-line, mas a maioria das publicações aponta para um percentual que varia de 10% a 30% dos potenciais respondentes, sendo assim, a taxa de resposta da presente pesquisa foi considerada satisfatória (GIL, 2002GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.).

Os dados coletados foram tabulados por meio das ferramentas do programa Microsoft Office Excel. O roteiro do questionário foi organizado em sete seções: a primeira correspondia às informações gerais do estudante; a segunda referia-se à avaliação dos estudantes sobre aspectos administrativos e tramitação dos processos de mobilidade; a terceira consistia em perguntas relativas à sua avaliação dos aspectos acadêmicos; a quarta seção apresenta questões sobre segurança no Brasil ou nos países estrangeiros, durante a permanência; a quinta tratava de questões sobre o aprendizado da língua; a sexta abarcava uma avaliação geral da experiência de mobilidade e a sétima e última seção continha um campo aberto para inserção livre de sugestões e comentários. A seção seguinte traz a contextualização dos programas de mobilidade internacional de estudantes de graduação e dos acordos de cooperação abordados na pesquisa e, na sequếncia, são apresentados e analisados os resultados obtidos através da aplicação do questionário aos estudantes.

4 Indicadores de mobilidade acadêmica internacional na UFSCar

Com a expansão internacional das instituições de ensino superior, tornou-se indispensável a avaliação e mensuração destas instituições. Davyt e Velho (2000DAVYT, A.; VELHO, L. A avaliação da ciência e a revisão por pares: passado e presente. Como será o futuro? História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 93-116, 2000.) afirmam que a avaliação vai além de uma característica cotidiana da ciência, fazendo parte de um processo de construção do conhecimento científico. Para os autores, a partir da avaliação é possível definir os rumos, tanto do conteúdo da ciência, como das instituições a elas vinculadas.

Indicadores de mensuração da internacionalização do ensino superior, além de constituírem uma métrica de avaliação, têm o potencial de orientar decisões, estratégias e políticas institucionais, desde que sejam coletados de forma periódica e padronizada, de forma a gerar séries temporais contínuas e confiáveis. Segundo Gao (2015GAO, Y. Toward a Set of Internationally Applicable Indicators for Measuring University Internationalization Performance. Journal of Studies in International Education, Califórrnia, v. 19, n. 2, p. 182-200, 2015.), as instituições têm feito pouco uso desses indicadores. Ainda segundo o autor, os indicadores não apenas cumprem o propósito de auto-avaliação, mas também de benchmarking, acreditação ou ambos.

Todos os semestres, a UFSCar envia dezenas de estudantes para o exterior e recebe dezenas de estudantes estrangeiros, tanto de graduação como de pós-graduação. O levantamento de dados sobre este processo, no período anteriormente referido na seção 3, resultou na construção dos indicadores que serão apresentados a seguir. É importante ressaltar que a presente pesquisa analisou somente os estudantes que fizeram mobilidade acadêmica internacional no âmbito da graduação, por meio dos programas específicos descritos a seguir, cujo processo de seleção é feito sob a coordenação da SRInter.

i) Programa ESCALA de Estudantes de Graduação da AUGM - Associação de Universidades Grupo Montevidéu, criado em agosto de 1991 (AUGM, 2020). Atualmente, esta associação abarca trinta e oito universidades, sendo quatorze universidades argentinas, quatorze brasileiras, quatro chilenas, três paraguaias, duas bolivianas e uma universidade uruguaia. O programa visa promover e fortalecer o processo de construção de um espaço acadêmico regional comum através da mobilidade dos estudantes na América Latina;

ii) Programa de Mobilidade Acadêmica Brasil-Colômbia (BRACOL), criado em 2011, promove o intercâmbio de estudantes entre as instituições associadas à Asociación Colombiana de Universidades (ASCUN), da Colômbia, e as instituições associadas ao Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras (GCUB, 2022GCUB - Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras. 2022 Disponível em: Disponível em: https://www.gcub.org.br/ . Acesso em: 19 maio 2022.
https://www.gcub.org.br/...
), do Brasil;

Programa de Mobilidade Acadêmica Brasil-México (BRAMEX), criado em 2011, promove o intercâmbio de estudantes entre as instituições associadas à Associação Nacional de Universidades e Instituições de Educação Superior da República Mexicana (ANUIES), do México, e as instituições associadas ao Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras (GCUB), do Brasil;

Acordos bilaterais de cooperação - além dos programas anteriormente referidos, a mobilidade de estudantes de graduação nas categorias incoming e outgoing também ocorre junto a instituições que possuem acordos de cooperação internacional com a UFSCar. De acordo com o relatório anual de atividades da Universidade Federal de São Carlos, em dezembro de 2018 a UFSCar contava com 216 acordos vigentes de cooperação acadêmica e científica internacional.

Para a elaboração dos indicadores da presente pesquisa, foram utilizados dados contidos em planilhas internas da SRInter (UFSCar, 2020), materiais impressos de circulação interna e externa da instituição, relatório anual de atividades da UFSCar 2018UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. Relatório anual de atividades 2018. São Carlos, 2018 e o questionário aplicado no survey.

A Figura 01 representa a amostra exata dos estudantes que receberam o questionário eletrônico, distribuídos por ano, totalizando 290 estudantes. Nela é possível observar o número de estudantes que participaram de mobilidade incoming e outgoing entre 2016 e 2019 por meio dos programas mencionados.

Figura 1
Estudantes Incoming x Outgoing por ano

Na Figura 1, é possível observar o crescente número de mobilidades entre 2018 e 2019. Isso se deve a algumas estratégias estabelecidas pela Secretaria Geral de Relações Internacionais junto às universidades parceiras, através de consultas de vagas e troca de informações, bem como um trabalho de promoção e divulgação das oportunidades de mobilidade junto aos estudantes. A Figura 1 também permite verificar que o número de estudantes em mobilidade incoming é menor que o número de estudantes em mobilidade outgoing, ou seja, a UFSCar ainda não atrai estudantes estrangeiros de graduação na mesma proporção em que envia. Dentre os possíveis motivos, elencamos o não oferecimento de disciplinas em inglês, a inexistência de alojamento específico para intercambistas e a pequena participação da instituição em feiras internacionais de educação superior e outros fóruns de divulgação correlatos.

A Figura 2 apresenta o número de estudantes da amostra em mobilidade incoming e outgoing por país. Verifica-se que o destino mais procurado pelos estudantes da UFSCar é a Argentina, ratificando os dados da UNESCO (2020ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). 2020Disponível em Disponível em http://uis.unesco.org/en/uis-student-flow . Acesso em 17 mar. 2020.
http://uis.unesco.org/en/uis-student-flo...
), onde a Argentina aparece como sendo o principal destino dos estudantes brasileiros. A Argentina também aparece como o país que mais envia estudantes para a UFSCar por meio dos programas analisados nesta pesquisa. Esse resultado pode ser atribuído especialmente pelo número de bolsas concedidas no âmbito da Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu (AUGM).

Figura 2
Mobilidade Incoming x Outgoing por país

Segundo França e Padilha (2015FRANÇA, Thais; PADILLA, Beatriz. Cooperação Sul-Sul, uma via alternativa? Um caso exploratório entre Brasil e Argentina. In: FORUM Sociológico, Série II. CESNOVA, 2015. p. 61-71.), entre alguns motivos que justificam a cooperação entre Brasil e Argentina elenca-se a proximidade geográfica, o fato de os dois países terem sido colônias de países da península ibérica (Portugal e Espanha) que partilhavam uma lógica de dominação semelhante e geraram economias fracas semiperiféricas. Ambos os países aplicaram políticas de substituição de exportações e viveram processos e anos de ditadura semelhantes, que resultaram numa configuração econômica, política e social relativamente similar, embora com algumas diferenças.

O segundo País que aparece como maior receptor de estudantes estrangeiros é Portugal. Dentre os possíveis fatores de atratividade para as mobilidades outgoing, temos: mesma língua de instrução; custo de vida do país relativamente inferior a outros países da União Européia e o alto grau de internacionalização das instituições portuguesas.

4.1 Análise das respostas dos questionários

Para analisar os itens Likert de 5 pontos foi utilizado o cálculo do Ranking Médio (RM) (GIL, 2002GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.). Neste modelo atribui-se um valor de 1 a 5 para cada resposta a partir da qual é calculada a média ponderada para cada item, baseando-se na frequência das respostas. Quanto mais próximo de 5 o RM estiver, maior será o grau de satisfação dos estudantes ou o grau de importância dos fatores apresentados e quanto mais próximo de 1, menor será o grau de satisfação dos estudantes ou o grau de importância dos fatores.

A idade dos estudantes em mobilidade incoming e outgoing, que responderam o questionário, varia entre 20 e 34 anos, sendo que 78% (n=115) dos estudantes, têm entre 21 e 26 anos. Dos 148 estudantes, 61% (n=91) são do sexo feminino e 39% (n=57) do sexo masculino. Quanto à modalidade da mobilidade, 49% dos estudantes (n=72) realizaram mobilidade pelo programa da AUGM, 43% (n=64) por acordo de cooperação, 6% (n=9) pelo programa Bracol e 2% (n=3) pelo programa Bramex.

4.1.1 Respostas dos estudantes outgoing

Dos 148 respondentes, 57% (n=85) são dos estudantes outgoing, sendo 62% (n=53) do sexo feminino e 38% (n=32) do sexo masculino. A Tabela 2 apresenta a classificação da qualidade das informações fornecidas pela SRInter aos estudantes outgoing e a Tabela 3 o nível de apoio recebido durante a mobilidade. A cada item foi atribuída uma escala qualitativa e outra quantitativa como segue: excelente (5), muito bom (4), bom (3), razoável (2) e péssimo (1).

Tabela 2
Qualidade das informações e nível de apoio recebido

Observa-se que a disponibilidade dos servidores foi o item que apresentou o melhor RM (4,06), enquanto o item relacionado aos procedimentos consulares foi o que apresentou o menor RM (3,11) e merece atenção para ações de melhoria por parte da instituição. A divulgação dos editais também obteve um RM relativamente baixo (3,45), implicando a necessidade de ações de revisão e melhoria.

Tabela 3
Nível de apoio recebido durante a mobilidade

O apoio recebido da universidade de destino (RM 4,00) e o apoio recebido da SRInter (RM 3,91), são muito próximos e foram bem avaliados, porém o apoio recebido da coordenação do curso revelou um RM menor (3,36), assinalando a necessidade de um trabalho de conscientização dos coordenadores de curso sobre a importância de auxiliar o estudante nesse significativo processo de mobilidade acadêmica. Quanto ao apoio recebido dos colegas de outras nacionalidades, a pesquisa revelou um RM positivo (3,89), revelando uma boa receptividade em relação aos estudantes brasileiros.

A Tabela 4 aborda a relevância dos fatores que levaram o estudante a realizar uma mobilidade acadêmica internacional e a tabela 5 revela o grau de importância de alguns fatores na escolha pela instituição de destino. Em ambas as tabelas as escalas qualitativas e quantitativas foram atribuídas da seguinte forma: extremamente relevante (5), muito relevante (4), relevante (3), pouco relevante e (2) irrelevante (1).

Tabela 4
Relevância dos fatores na decisão de realizar mobilidade acadêmica internacional

Na Tabela 4, nota-se que a motivação dos intercambistas da UFSCar parece se estabelecer em torno da ampliação das experiências pessoais e experiências acadêmicas internacionais. Contudo, alguns estudos indicam que o tipo de motivação para a mobilidade pode variar segundo o grupo focalizado. Otero (2008OTERO, Manuel Souto. The socio-economic background of Erasmus students: a trend towards wider inclusion? International review of education, Local, v. 54, n. 2, p. 135-154, 2008., p. 150) afirma que há uma prevalência de mobilidade como “consumo” entre grupos de nível socioeconômico mais elevados, vindos de países com renda alta, versus uma mobilidade como “investimento” que busca melhores oportunidades de emprego entre as pessoas menos abonadas, vindas de países de baixa renda. O fator de menor impacto para esses estudantes é preparar parte de uma pesquisa científica (RM 2,60). Esse resultado não surpreende, uma vez que a presente pesquisa foi realizada no âmbito da graduação. Cabe a hipótese, sujeita a confirmação em futuras investigações, de que este fator teria mais peso se o público investigado fossem estudantes de pós-graduação que tivessem passado por estágios de pesquisa no exterior ou estudantes estrangeiros de pós-graduação que tivessem realizado este estágio na UFSCar, dado o caráter simbiótico entre a pesquisa e obtenção de títulos de mestrado ou doutorado.

Tabela 5
grau de importância de alguns fatores na escolha pela instituição de destino

Observa-se que ter familiares no país de destino e a proximidade geográfica com o Brasil foram os itens que apresentaram os menores Rankings Médios (1,22 e 1,72) respectivamente, indicando que esses fatores não são relevantes para os estudantes na escolha pela instituição de destino. Os dados também apontam que os fatores mais relevantes são: idioma (RM= 3,76) e custo de vida (3,75). A tabela 6 analisa a adaptação do estudante no país de destino em relação a alguns fatores pré-estabelecidos, com escalas que variam entre excelente (5) e péssima (1).

Tabela 6
Adaptação no país de destino

O fator de maior impacto na adaptação do estudante é em relação aos materiais e métodos (por exemplo, relação professor-estudante, didática de ensino e avaliação de aprendizagem). Um dos possíveis motivos remete ao fato dos sistemas de ensino da Europa, América do Norte e América Latina serem distintos. A língua foi o item que apresentou o maior RM (4,29) e revelou não ser um agravante na adaptação do estudante ao país de destino. Deste modo, presume-se que a solicitação da proficiência nos editais é um fator importante e que contribui para que o estudante selecionado esteja preparado para fazer estágio em um país cujo idioma é diferente ao seu materno. Esse processo de imersão na língua e na cultura do “outro” possibilita aos estudantes a oportunidade de se perceberem como diferentes tanto na forma de se expressarem, como nas diferenças culturais e comportamentais, e isso fortalece ainda mais o processo de mobilidade acadêmica internacional.

Analisando os dados da planilha, foi possível identificar que dentre os países considerados como mais seguros estão: Alemanha, Irlanda, Espanha e Portugal. Dos 85 respondentes, 72% (n=61) indicaram ter estabelecido contatos que poderão auxiliá-los em projetos futuros, especialmente com professores, corroborando com o pensamento de diversos autores como Teichler (2004), que define a mobilidade como uma forma de transferência de conhecimento.

4.1.2 Respostas dos Estudantes Incoming

O questionário incoming obteve uma taxa de resposta de 43% (n=63), sendo 60% (n=38) são do sexo feminino e 40% (n=25) do sexo masculino. A tabela 7 apresenta a classificação da qualidade das informações fornecidas pela SRInter aos estudantes incoming e a tabela 8 o nível de apoio recebido pelo estudante durante a mobilidade. Tal como para os estudantes outgoing, as escalas utilizadas foram: excelente (5), muito bom (4), bom (3), regular (2) e ruim (1).

Tabela 7
Qualidade das informações fornecidas pela SRInter
Tabela 8
Nível de apoio recebido pelo estudante durante a mobilidade

Assim como em relação às respostas dos estudantes outgoing, observa-se na tabela 7 que o item que apresentou o menor RM e merece atenção está relacionado aos procedimentos consulares. Deste modo, além de treinamentos específicos, é necessário que a instituição planeje e realize a elaboração de um material (por exemplo, na forma de “guia prático”), tanto em inglês como espanhol, para enviar aos estudantes incoming, com o intuito de facilitar o entendimento desses procedimentos, dando agilidade ao processo.

Verifica-se na tabela 8 que o apoio recebido por parte dos professores, dos estudantes e da SRInter apresentaram um RM acima de 4. A coordenação do curso, entretanto, não apresentou um RM tão satisfatório e um trabalho de conscientização sobre a importância de apoiar o estudante estrangeiro seria bastante significativo. A tabela 9 atua sobre a relevância de alguns fatores para a realização de uma mobilidade acadêmica internacional e a tabela 10 revela o grau de importância de alguns fatores na decisão de realizar mobilidade no Brasil e na UFSCar. As escalas qualitativas e quantitativas foram atribuídas da seguinte forma: extremamente relevante (5), muito relevante (4), relevante (3), pouco relevante e (2) irrelevante (1).

Tabela 9
Relevância dos fatores para a realização da mobilidade

Dentre os fatores mais relevantes para a realização de uma mobilidade, a experiência acadêmica internacional apresentou um elevado RM (4,62), corroborando com autores que reconhecem que uma das principais razões para a internacionalização é preparar os estudantes para um mundo global (MARINGE; FOSKETT, 2012MARINGE, Felix; FOSKETT, Nick (ed.). Globalization and internationalization in higher education: theoretical, strategic and management perspectives. London: A&C Black, 2012.). Assim como na mobilidade outgoing, preparar parte de uma pesquisa científica está entre os fatores de menor importância na experiência de intercâmbio, segundo os estudantes consultados, possivelmente pelas mesmas razões - a pesquisa científica é dimensão estratégica para os estágios no exterior de estudantes de pós-graduação, mas não necessariamente para os alunos de graduação.

Tabela 10
Importância dos fatores na decisão de realizar mobilidade no Brasil e na UFSCar

Observa-se que o fator mais relevante para os estudantes no momento da escolha pelo Brasil e, mais especificamente, pela UFSCar, foi a existência de um convênio de cooperação entre as universidades. Sendo assim, é possível afirmar que o desenvolvimento de parcerias e convênios com instituições estrangeiras é um caminho para o aumento das mobilidades acadêmicas, facilitando a decisão do estudante, principalmente em relação a aspectos burocráticos (de tramitação de processos administrativos) ou financeiros relacionados ao programa. O fator menos relevante foi ter familiares no Brasil, seguido da proximidade geográfica do Brasil com o país de origem. É interessante observar que apesar da sua importância, a posição nos rankings universitários não figura como o fator preponderante na escolha do estudante pela instituição de destino, tendo apresentando um RM de 3,14, abaixo de fatores como custo de vida, prestígio da instituição, referência na área de conhecimento e o já citado convênio de cooperação pré-existente.

A tabela 11 qualifica o grau de adaptação do estudante no Brasil e na UFSCar. Todos os fatores da tabela 11 apresentaram um RM acima de 4, ou seja, os estudantes não apresentaram grandes dificuldades em relação à adaptação no Brasil e na UFSCar. O espaço físico foi o item melhor avaliado e assim como no questionário dos estudantes outgoing, o item que apresentou o menor RM foi em relação aos materiais e métodos.

Tabela 11
Adaptação no Brasil e na UFSCar

Dentre os aspectos que os estudantes consideraram mais importantes ao final da mobilidade, destacou-se: regressar ao país de origem com novas experiências de vida; ter feito novas amizades e ter conhecido novas culturas. A mobilidade acadêmica é uma oportunidade para os estudantes desenvolverem habilidades valiosas e expandirem seus horizontes (TEICHLER, 2009TEICHLER, Ulrich. Internationalisation of higher education: European experiences. Asia Pacific education review, Local, v. 10, n. 1, p. 93-106, 2009.), na qual os estudantes adquirem uma mentalidade mais internacional e estão mais abertos à diversidade cultural.

O aspecto de menor importância, segundo os estudantes, foi o desenvolvimento de novas habilidades profissionais. A interpretação deste resultado induz ao entendimento de que a abordagem do aprendizado que experimentaram na UFSCar está mais situada em contextos teóricos do que diretamente associados às práticas profissionais.

5 Considerações finais

A internacionalização das instituições de ensino superior é um tema cada vez mais recorrente no âmbito das discussões acadêmicas e a proposta de avaliar a mobilidade acadêmica internacional da UFSCar torna-se substancial, uma vez que as instituições buscam desenvolver ações de articulação e cooperação, fortalecendo os critérios de qualidade dos serviços prestados e implementado ações de melhorias.

Referimos na seção teórica deste estudo que as razões para a internacionalização permeiam nos âmbitos econômicos, acadêmicos, culturais e políticos e que embora a mobilidade acadêmica não seja o único elemento dos processos de internacionalização, é um dos mais relevantes. Ao analisar os dados sobre a mobilidade acadêmica internacional da UFSCar, coletados ao longo desta pesquisa, chegamos a algumas constatações.

A mobilidade acadêmica internacional na UFSCar está em expansão, sendo que entre 2016 e 2019 houve um crescimento de 46% nas mobilidades outgoing e 34% nas mobilidades incoming. O número de estudantes em mobilidades outgoing é superior ao número de estudantes em mobilidades incoming. Diante disso, entende-se que é preciso atuar fortemente nos programas de mobilidade incoming, fortalecendo os laços de parceria com as instituições estrangeiras com o intuito de atrair estudantes internacionais. Dentre as possibilidades de internacionalização, recomenda-se estabelecer ações institucionais que viabilizem a criação de disciplinas em inglês nos cursos de graduação, como já acontece em diversas universidades em todo mundo onde os países não possuem o inglês como língua oficial, alavancando assim a internacionalização em casa. A pesquisa também apontou que a América Latina tem desenvolvido sua mobilidade acadêmica internacional, especialmente através da AUGM (AUGM, 2020; UFSCar, 2020), porém, ainda é preciso ser aprimorada, objetivando atrair estudantes de todas as áreas do conhecimento.

O estudo demonstrou a importância de (1) qualificar as ações da instituição para aumentar o número de mobilidades incoming e outgoing; (2) atentar às debilidades destacadas melhorando a qualidade das informações fornecidas pela SRInter; (3) fortalecer o relacionamento do estudante x coordenação do curso para que estes atuem no sentido de dar mais qualidade à mobilidade e, por esta via, para a internacionalização da instituição; e (4) fomentar a participação dos estudantes nas mobilidades da América Latina.

Diante do exposto, este trabalho buscou oferecer subsídios para diversas ações institucionais, que a partir dos pontos de fragilidade, poderá definir planos de ação e metas de curto, médio e longo prazo para melhorar a qualidade das mobilidades, além de oferecer um instrumento de avaliação para melhoria contínua (questionário), que poderá ser aplicado anualmente a todos os estudantes incoming e outgoing.

A principal limitação desta pesquisa é que as conclusões são válidas para reflexão do processo de mobilidade acadêmica somente da UFSCar. A partir da mesma, abrem-se novas perspectivas para pesquisas futuras tais como: (1) analisar os impactos da mobilidade acadêmica internacional na vida profissional e pessoal dos estudantes em até cinco anos após o término da mobilidade; (2) caracterizar o perfil socioeconômico dos estudantes que participam de mobilidade acadêmica internacional no âmbito da graduação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    21 Jul 2020
  • Aceito
    03 Maio 2022
  • Revisado
    20 Maio 2022
Publicação da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade de Sorocaba (UNISO). Rodovia Raposo Tavares, km. 92,5, CEP 18023-000 Sorocaba - São Paulo, Fone: (55 15) 2101-7016 , Fax : (55 15) 2101-7112 - Sorocaba - SP - Brazil
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