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O Círculo de M. M. Bakhtin: sobre a fundamentação de um fenômeno

Resumos

O artigo recupera o contexto social, intelectual e político de formação do Círculo de Bakhtin, para defender a atuação de Pável Medviédev e a autoria original dos textos disputados. É resultado da conferência plenária proferida na XIV Conferência Internacional Bakhtiniana, realizada em Bertinoro, Itália, em 2011.

Círculo de Bakhtin; Medviédev; Diálogo


The article recuperates Bakhtin's Circle's social, intellectual and political context, on purpose to defend Pavel Medviédev's participation in it and the original authority of the disputed texts. É resultado da conferência plenária proferida na XIV Conferência Internacional Bakhtiniana, realizada em Bertinoro, Itália, em 2011.

Bakhtin's circle; Medviédev; Dialogue


ARTIGO

O Círculo de M. M. Bakhtin: sobre a fundamentação de um fenômeno

Iúri Pávlovitch MedviédevI; Dária Aleksándrovna MedviédevII

IFilólogo, historiador de cultura e crítico russo. Falecido recentemente, no dia 11 de outubro de 2013 (cf. Bakhtiniana, vol. 8, n.2 http://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/17376/12944), o autor havia autorizado a publicação e tradução deste texto pela Bakhtiniana.

IIAcademia de Ciências da Rússia – RAN, Moscou, Rússia; medvedev@dm8920.spb.edu

RESUMO

O artigo recupera o contexto social, intelectual e político de formação do Círculo de Bakhtin, para defender a atuação de Pável Medviédev e a autoria original dos textos disputados. É resultado da conferência plenária proferida na XIV Conferência Internacional Bakhtiniana, realizada em Bertinoro, Itália, em 2011.

Palavras-chave: Círculo de Bakhtin; Medviédev; Diálogo

O diálogo não possui impressão de uma,

mas de várias individualidades.

Mikhail Bakhtin

No limite a criação de palavra e a criação de vida

se fundem e se dissolvem uma na outra.

Pável Medviédev

Todos nós somos apenas uma reflexão

mútua dos espelhos.

Valentin Volochínov

O fenômeno do "Círculo" estava em perfeita sintonia com os problemas da conferência internacional dedicada à herança de Bakhtin no "grande tempo". Na obra e nas atividades de Bakhtin, o "Círculo" permaneceu na sombra por muito tempo, não estudado ou visto sob uma luz tendenciosa e, portanto, não compreendido cientificamente na Rússia.

A. D. Aleksándrov, ao falar de outro fenômeno que pertence, sem dúvida, ao "grande tempo", a mecânica quântica, chamou a atenção para o fato de que ela foi criada dentro da comunicação, quando Niels Bohr recebia os colegas para discussões e arguições (ALEKSÁNDROV, 1988, p.442). Este é mais um exemplo que confirma a eficiência do conceito de "coletivo pensante", introduzido na ciência pelo médico e biólogo Ludwik Fleck (1896-1981). Utilizamos essa noção várias vezes em apresentações e artigos sobre o "Círculo de Bakhtin" (cf. MEDVIÉDEV, Iu. P., MEDVIÉDEVA D. A./ Shepherd, 2011), uma vez que ela se aplica não somente à comunidade intelectual das ciências exatas, mas também à área das humanidades. Como exemplo disso, podemos nos lembrar da "inteligência coletiva" dos formalistas russos.

Ao rejeitar o passado soviético com seu coletivismo autoritário, as pessoas mais próximas a Bakhtin "jogaram fora a criança junto com água da bacia. "Em grande parte, essa é a razão da falta de confiança em relação ao trabalho coletivo do "Círculo" de Bakhtin, embora o próprio Bakhtin afirmasse: "Trabalhávamos em um contato criativo mais próximo"1 1 Cartas de M. M. Bakhtin. Literatúrnaia utchióba. Moscou, Livros 5-6, 1992. p.145. .

Passados dezenas de anos após o início dos estudos bakhtinianos, Serguéi Aviérintsev admitiu: "Apesar de tudo, e ainda assim, todas as nossas abordagens não captam alguma coisa, algo é deixado de fora das nossas discussões, isto é: o mistério da identidade de Bakhtin. Em certo sentido, ele compartilhou esse mistério com aqueles com quem se relacionou [...] pela solidariedade do destino; relação que estava acima de todas as barreiras de desentendimentos pessoais" (AVIÉRINTSEV, S. S. 1995, p.6). Infelizmente, os autores de abordagens russas, sem sentir nem reconhecer o contexto, "não captaram" o mais importante: as particularidades da visão de mundo bakhtiniana, transformando o pensamento filósofo polifônico único em um esquema habitual monológico. Apesar de inúmeras antologias, dissertações e artigos, e, para ser exato, justamente graças a eles, a intenção de construir uma enciclopédia de Bakhtin sem considerar a cocriação dos colaboradores mais próximos é, no mínimo, ingênua.

Durante toda a sua vida, a psicologia da obra de Bakhtin e o pensamento dialógico o guiava dentro das comunidades intelectuais: o pequeno círculo da juventude "Omphalos", o círculo de Niével e, finalmente, o "Círculo de Bakhtin" em Vítebsk e em Petrogrado, que já não era um círculo, mas sim o "Círculo", porque nesse caso a comunicação foi incorporada em escritos científicos e filosóficos que se tornaram monumentos da época2 2 Devido à necessidade de analisar as etapas de formação do "Círculo" e de sua obra, somos obrigados a recorrer a fatos e detalhes que já são conhecidos, parcialmente, a partir de nossos artigos anteriores. .

Só isso seria suficiente para entender Serguéi Aviérintsev que, já na época da preparação para publicação da coletânea em muitos volumes, sugeria dar-lhe o título "Bakhtin e seu círculo" (AVIÉRINTSEV, S. S. 1988, p.259). Ele estava se referindo às obras de Medviédev e Volóchinov, ou seja, ao "Círculo B. M. V.", segundo a definição posterior de Bénédicte Vauthier (2007, p. 9-43)3 3 Nota do Editor. Em 1995, portanto antes de Vauthier, Jean Peytard falou do "B. M. V.", em sua obra Mikhaïl Bakhtine. Dialogisme et analyse du discours, Paris: Bertrand-Lacoste, 1995. .

É necessário deter-se no "Círculo B. M. V." (Bakhtin - Medviédev - Volóchinov). As relações e a comunicação entre Bakhtin e os participantes do círculo de Niével já foram descritos mais de uma vez, assim como foram publicados os manuscritos dos arquivos dos seus participantes (N. Nikoláiev, V. Mákhlin), mas mesmo nesse caso houve uma substituição, voluntária ou não4 4 Esse período é conhecido por meio dos contatos dos seus participantes com o "filósofo de Marburg" M. I. Kagan. Ver sobre ele: PUL, B. Rol M. I. Kagana v stanovliénii filossófii M. M. Bakhtiná (ot Hermanna Kohena k Maksu Scheleru)) [O papel de M. I. Kagan na constituição da filosofia de M. M. Bakhtin (de Hermann Kohen a Max Scheler)]. In: Bakhtinski sbórnik. Edição 3. Moscou, 1994, p.162-181; "Nazad k Kagánu". Márburgskaia chkola v Niévele i filossófia M. M. Bakhtiná. ["De volta a Kagan". A escola de Marburg em Niével e a filosofia de M. M. Bakhtin]. Dialog. Karnaval. Khronotop, Vítebsk, N. 1, 1998, p.38-48. .

A comunidade de Niével, que existiu em plena composição por menos de um ano, é chamada com persistência de "escola filosófica de Niével". Isso apesar do fato de a "escola de Niével" não ter tido uma única concepção e ter sido formada pelos autores nomeados acima com base nas publicações posteriores.

O horizonte e a teoria da criação do "Círculo B. M. V." são representados não somente pelas obras dos seus participantes, mundialmente conhecidas, mas também podem ser parcialmente reconstruídos a partir dos trabalhos publicados, obras e textos, por assim dizer, "pré-bakhtinianos" de P. N. Medviédev. O arquivo pessoal de P. N. Medviédev, os manuscritos dos seus trabalhos não publicados e sua vasta correspondência foram confiscados e destruídos pelo NKVD5 5 Nota do Editor. NKVD, em português, Comissariado do povo para assuntos internos. Reduzida com violência, sua herança foi privada de informações que dariam ideia da personalidade dos seus colegas (M. Kagan, L. Pumpiánski e outros). É possível ver o quanto o arquivo de Medviédev foi valioso por meio, por exemplo, do restante da sua coleção filológica que está armazenada nas seções de manuscritos da Biblioteca Nacional Russa e Casa de Púchkin e que sempre atrai os estudiosos da obra de A. Blok, L. Gumilióv, B. Pasternak, O. Mandelchtam, F. Sologub, A. Biély, B. Rózanov, I. Ánnenski, N. Kliúev, K. Váguinov e outros representantes do "século de prata" da literatura russa, ao qual, em grande parte do seu caminho artístico, pertencia Pável Medviédev. Como prova disso, servem também os materiais da revista Zapiski Peredvijnogo Teatra [Notas de um teatro itinerante] com a qual Medviédev colaborou desde 1919, tendo sido diretor de 1922 até o seu fechamento pela censura em 1924.

Muitas das ideias de Bakhtin são, na verdade, réplicas que concordam, desenvolvem ou negam outras ideias-réplicas que soavam nas páginas de Zapíski Peredvijnogo Teatra naqueles anos em que "a busca das novas tarefas e da nova compreensão do objetivo da arte" era, nas palavras de E. Rádlov, "sinal dos tempos" (TIUPÁ, 1997, p.189-208).

Em julho de 1919, Medviédev convidou para lecionar na Universidade Popular (Proletária), organizada por ele, os professores de filosofia S. O. Gruzenberg e L. V. Pumpiánski, da Universidade de Petrogrado e de Niével, respectivamente, que logo se mudaram para Vítebsk. No outono de 1919, M. I. Kagan passou a lecionar na Universidade e, em outono de 1920, Bakhtin também se mudou para Vítebsk. Pouco depois, V. N. Volóchinov foi convidado para o subdepartamento de artes, dirigido por Medviédev, onde já trabalhava o jovem I. I. Sollertínski.

A confluência de interesses filosóficos e estéticos não podia deixar de aproximar essas pessoas. Bakhtin falou sobre isso para Duvákin: "A meu redor houve um círculo que hoje é chamado de "círculo de Bakhtin" [...] Nele costumam incluir antes de tudo Pumpiánski, Pável Nikoláievitch Medviédev, Volóchinov [...] E então, os três estavam em Vítebsk, onde na verdade foi inserida a base desse círculo que depois se instalou em Leningrado" (BAKHTIN; DUVAKIN, 2002, p.161)6 6 Nota do Editor. Em português existe uma edição: Mikhail Bakhtin em diálogo. Conversas de 1973 com Viktor Duvakin. Trad. Daniela M. Mondardo, a partir do italiano. São Carlos: Pedro & João, 2008. .

O círculo de correligionários, reunido por Medviédev em Vítebsk em 1919, logo se limitou a três participantes constantes, pois Kagan, Pumpiánski e Sollertínski deixaram a cidade em 1920. Até o outono de 1920, ocorreu uma estreita comunicação dialógica entre B., M. e V. O círculo foi formado de acordo com a atração mútua. Por exemplo, pode parecer estranho que o professor de filosofia S. O. Gruzenberg, que naquela época trabalhava nas mesmas instituições de ensino superior que Medviédev e Bakhtin e que se comunicava com Medviédev, não tenha entrado nesse círculo e que seu nome não seja mencionado por Bakhtin nenhuma vez. Já Medviédev considerava S. O. Gruzenberg um dos principais professores do Instituto das Ciências e Artes Humanas que, por iniciativa de todos eles, tinha que ser aberto em Vítebsk com base na Universidade Proletária.

Bakhtin queria discutir com M. Kagan7 7 Ver cartas de M. Bakhtin a M. Kagan em Dialog. Karnaval. Khronotop, Vítebsk, N. 1,1992, p.66-72. os trabalhos sobre a estética da criação verbal, que não foram debatidos em Niével, assim como os discutiu diretamente com Medviédev. Como testemunho disso servem as comunicações de Medviédev na imprensa (Iskússtvo, Jizn iskússtva), suas marcações no manuscrito do artigo de Bakhtin "O problema do conteúdo, do material e da forma na criação artística verbal" ("Probliéma soderjánia, materiala e formy v sloviésnom khudójestvennom tvórtchestve") e, é claro, o livro sobre Dostoiévski, escrito em Vítebsk e preparado para publicação junto com Medviédev, no período em que Bakhtin foi liberado da detenção por razão da doença, depois de assinar um documento em que se comprometia a não sair da cidade, encontrando-se ora no hospital ora em casa aguardando a sentença. Como prova disso, servem não apenas as memórias, mas também algumas prorrogações oficiais da edição que foram necessárias para a preparação da publicação do livro.

Em Vítebsk, houve a transição de Bakhtin da filosofia para a estética. Como foi revelado, ele postergou o trabalho "O sujeito da moralidade e o sujeito de direito" ("Subiekt nrávstvennosti i subiekt prava") para sempre, fato que provavelmente não podia perdoar a si mesmo, por se considerar, sobretudo, um filósofo. Não sem razão, na primeira reunião com os novos colegas, ele logo advertiu: "Sou um filósofo". Talvez, em seu subconsciente, Medviédev também tenha permanecido não perdoado, pois a transição da filosofia para a estética foi incentivada justamente por Medviédev. Estudando os problemas da teoria e da psicologia da criação literária, Medviédev buscava correligionários e colegas para desenvolver uma nova teoria da criação artística, que ele, defensor convencido e idealizador da ontologia de comunicação, via como sociológica. Medviédev foi eleito Presidente da Comissão Organizadora do Instituto de Ciências Humanas e Artes, que era para ser aberto em Vítebsk, preparava o programa do Instituto e selecionava os cientistas. A ideia do Instituto foi apoiada pelo Comissário do Povo Lunatchárski8 8 "Ordem N. 114 para o Departamento da Educação de 29 de junho de 1920. [...] O vice-diretor artístico P. N. Medviédev, de acordo com a chamada telefônica de Comissário do Povo Lunatchárski de 16 de junho, sob número 63428, é delegado para Petrogrado". (GAVO, f. 2268, op. 3, pasta 1, folha 91). . No entanto, por várias razões (inclusive financeiras), o Instituto em Vítebsk não foi aberto. O "coletivo pensante" surgido em Vítebsk, porém, gradualmente mudou-se para Petrogrado. O quanto Medviédev valorizava os seus correligionários de Vítebsk pode ser evidenciado por suas ações subsequentes. Depois de deixar Vítebsk em 1922, ele informa o jornal de Petrogrado (que depois se transformou em revista) Jizn iskússtva9 9 Teatrálno-literatúrnaia khrónika. [Crônica teatral-literária]. Jizn iskússtva, Petrogrado, N. 33 (856), 1922, 22-28 de agosto, p. 4. sobre a obra de S. O. Gruzenberg, sobre um "jovem cientista" M. M. Bakhtin, sobre um musicólogo V. N. Volóchinov, apoiando os seus colegas e fazendo propaganda de suas obras.

Quando Bakhtin retornou a Leningrado, havia deixado de existir Zapiski peredvijnogo teatra e não ocorreu o lançamento, anunciado na imprensa, da revista Osnóvy (Fundamentos) de Ivanov-Razúmnik, cujo conselho editorial Medviédev devia integrar, juntamente com Tomachévski, Dolínin, Tyniánov, Smirnóv e Zamiátin10 10 IRLI, f.79 (de Ivanov-Razúmnik), op.1, N.5 (livro de anotações "Volfila — Epokha"). . Porém, o tema do "Círculo" de Vítebsk continua a evoluir, com base em contatos de Medviédev com o Instituto de História da Arte (onde, em 1923, ele deu três palestras, e onde Bakhtin também proferiu palestras em 1924, por seu intermédio) e com o Instituto de Pesquisa de História Comparada das Literaturas e Línguas do Ocidente e do Oriente (ILIaZV), no qual Volóchinov se tornou estudante de pós-graduação com a ajuda de Desnítskii, conhecido de Medviédev. K. Váguinov, N. Kliúev e M. Tubiánski passaram a frequentar as reuniões do "Círculo", provavelmente por iniciativa de Medviédev, como evidenciam as publicações em Zapiski peredvijnogo teatra (antes da mudança de Bakhtin para Leningrado). Boris Zubákin, que tinha estado em visitas a Leningrado, dedicou a Medviédev seus poemas, publicados no número 43 da revista. Bakhtin, em uma conversa com V. Duvákin, contou sobre os versos de Váguinov, inimagináveis nos tempos soviéticos, que Medviédev publicou na revista (BAKHTIN; DUVAKIN, 2002, p.215).

Se Bakhtin tivesse textos que ele queria e estava pronto para publicar, Medviédev teria encontrado a oportunidade de publicá-los, como fez com os artigos de Volóchinov, Gruzenberg e os seus próprios, que saíram nos periódicos Iskússtvo, Zapiski peredvijnogo teatra, Rússki sovremiénnik.

Foi em Vítebsk que Bakhtin escreveu os seus tratados, assim como o livro sobre Dostoiévski. Medviédev, segundo os documentos armazenados no arquivo de Vítebsk, a partir de 1917, escreveu uma série de obras, incluindo As premissas metodológicas para a história da literatura (Metodologuítcheskie predpossýlki k istórii literatúry), Ensaios sobre a teoria e a psicologia da criação literária (Ótcherki teórii i psikhológuii khudójestvennogo tvórtchestva), Literatura russa do século XX (Rússkaia literatura XX viéka)11 11 Esses manuscritos foram estudados pela primeira vez por Ken Hirschkop (1999, p.146). , preparou para publicação o primeiro livro sobre o Blok (publicado em São Petersburgo em 1922 e reeditado em 1923). Ao mesmo tempo, foram publicados os artigos de Volóchinov sobre música que já carregam ecos de temas gerais científicos e filosóficos. Não sem razão, Medviédev reeditou o artigo de Volóchinov sobre Beethoven em Zapiski peredvijnogo teatra (N. 44), publicou um artigo de I. Grúzdev (N. 40-42) "Sobre os procedimentos de narrativa literária" ("O priiómakh khudójestvennogo povestvovánia") com sua teoria de máscaras, que foi apreciada e provavelmente usada por Bakhtin em sua concepção de autoria.

No questionário do Instituto Zúbovski, Medviédev mencionou o tamanho de cada um dos seus manuscritos12 12 Departamento dos manuscritos de IRLI, f.172, N. 550, folha 1. . À pergunta de por que esses livros não foram publicados, Medviédev respondeu que não os considerava "bem fundamentados e prontos para publicação". Talvez essas mesmas circunstâncias tenham detido Bakhtin, fato que confirma mais uma vez sua necessidade de diálogo intelectual e de discussão profissional de seus trabalhos. As monografias famosas ficaram prontas mais tarde, depois de serem pensadas e finalizadas no ambiente intelectual geral do "Círculo" e da comunidade científica do ILIaZV, onde lecionavam e palestravam o aluno de pós-graduação Volóchinov e o pesquisador externo de primeiro grau Medviédev.

Em 1928, o Conselho de ILIaZV encarregou Medviédev, juntamente com V. F. Chichmarióv, aluno do acadêmico A. N. Vesselóvski, de organizar e liderar a nova disciplina acadêmica do Instituto, bem como a respectiva seção da poética sociológica. Com o livro de Medviédev O método formal nos estudos literários, ILIaZV começou uma nova série de antologias e monografias: Questões metodológicas da língua e da literatura (Voprossy metodológuii iazyká i literatúry). Três edições dessa série foram lançadas antes do massacre da obra de Medviédev. O massacre interrompeu tanto o trabalho da nova seção, quanto a publicação da série de suas obras científicas, enquanto a poética sociológica tornou-se por muitos anos uma disciplina proibida. Já não se tratava da "metodologia particular" de Medviédev, Volóchinov ou Bakhtin, mas da metodologia de uma escola científica: a escola de poética sociológica do Instituto de História Comparada das Literaturas e Línguas do Ocidente e do Oriente, idealizado e organizado por Medviédev. Dos trabalhos na seção participaram imediatamente I. I. Ioffe, M. A. Iákovlev, Volóchinov e, logo depois, os outros membros do Instituto13 13 Arquivo RAN, filial em São Petersburgo, f.302, op. 1, ed. khr. 14, folha. 28. . Em 1929, Medviédev iniciou o tema coletivo de "Paleontologia e sociologia épica" (com a participação de L. Bogáievski, O. Freidenberg, V. Chichmarióv, N. Derjávin, I. Frank-Kameniétski)14 14 TSGALI São Petersburgo, f.302, op. 1, caso 270, folha 10. e – em coautoria com Chichmarióv – o tema coletivo "A sociologia dos gêneros"15 15 TSGALI São Petersburgo, f.302, op. 1, caso 270, folha 8. , assim como vários outros. Para Medviédev, o debate fundamental com os "formalistas" deu sentido à sua teoria por meio do confronto de pontos de vista. Não se tratava de mais um ataque polêmico, como já havia ocorrido no passado, mas do surgimento de uma nova visão científica do mundo ou, como ele dizia, da "teoria científica e sistemática do objeto da percepção artística" (MEDVIÉDEV, 1925, p.264-276). Em Bakhtin e Medviédev, a essência do conceito "compartilhado" é formulada de maneiras diferentes. A autonomia de pensamento dos participantes do "Círculo" foi confirmada no trabalho inovador de V. N. Zakhárov (2007, p.19-30).

Medviédev não se preocupava apenas com as suas próprias publicações, mas também com as dos seus correligionários. Só assim a nova tendência poderia desafiar a então dominante escola formal, bem como outros inúmeros adversários. Medviédev publicou na editora "Priboi" as famosas monografias dos seus colegas. O seu ensaio fundamental direcionado contra o formalismo "O salerizmo científico" ("Utchiónyi salierizm"), de outubro de 1924, deveria ser apoiado pelo artigo de Bakhtin "O problema de material, do conteúdo e da forma na criação literária" ("Probliema soderjánia, materiala i formy v sloviéssnom khudójestvennom tvórtchestve") de 1924, assim como o prefácio do editor, de autoria de Medviédev, ao livro de V. V. Vinográdov (1930, p.3-8)16 16 [MEDVIÉDEV, P .] Da editora (Ot izdátelstva). In: VINOGRÁDOV, 1930, p. 3-8. foi acompanhado pela resenha de Volóchinov (cf. VINOGRÁDOV, 1930, p. 233-234)17 17 VOLÓCHINOV, V. N.: <Resenha do livro> VINOGRÁDOV, 1930, p. 233-234. . O artigo de Bakhtin foi preparado para a quarta edição da revista Rússki sovremiénnik (lançado no final de 1924), mas, provavelmente, foi entregue tarde demais e, portanto, não entrou na quarta edição. A quinta edição nunca saiu, pois a revista foi fechada.

Inicialmente, Bakhtin ficou conhecido não tanto por seus escritos filosóficos (os tratados foram encontrados mais tarde), mas por alguns trabalhos sobre poética, o que resultou no desejo de atribuir a Bakhtin os trabalhos filológicos dos seus colegas. Permaneceu ofuscado o fato essencial de que, para a estética filosófica do "Círculo", foi de grande importância a "primeira filosofia" de Bakhtin, que se tornou conhecida mais tarde, graças ao tratado "A filosofia do ato" ("Filossófia postúpka"), escrito em Vítebsk. Também remete ao mesmo período a primeira das declarações conhecidas de Bakhtin sobre o seu círculo: "Uma voz pode cantar apenas em um ambiente acolhedor, em meio à possibilidade de apoio do coro, da não-solidão sonora por princípio" (2003, p.231). Mais tarde, Bakhtin desenvolveu e enriqueceu significativamente esse testemunho.

Medviédev entrou na história da cultura russa como o pioneiro do estudo científico da obra de Aleksandr Blok: ele foi seu primeiro editor e comentador; autor de um dos trabalhos mais conhecidos sobre a "história artística" ("Dramas e poemas de Al. Blok. Sobre a história de sua criação"/ "Dramy i poemy Al. Bloka. Iz istórii ikh sozdánia"); criador de um dos primeiros cursos de literatura nacional moderna para as instituições do ensino superior18 18 A publicação do m anual foi cancelada após a detenção de Medviédev, porém conservou-se a publicação do seu Metodítcheskaia razrabotka po kúrsu istórii rússkoi literatúry epókhi imperializma e proletárskoi revoliútsii [ Estudo metodológico para o curso da história da literatura russa da época imperialista e da revolução proletária]. Leningrado, 1933. ; crítico fundamental dos princípios da escola formal. A reputação literária e científica de Medviédev, que se formou no fim dos anos 1920, foi refletida por Erich Hollerbach, que chamou Medviédev de "destruidor do método formal" (1930, p.11-12). O livro de Hollerbach saiu no início de 1930, ou seja, antes da campanha oficial ideológica contra o formalismo. Medviédev foi uma das primeiras vítimas da campanha em curso contra o formalismo, tendo sido acusado de "kantismo, formalismo e outros tipos de obscurantismo mais negro" (ERMÍLOV, 1932, p.11). Hoje, essa situação já foi estudada pelos funcionários do IRLI (Casa de Púchkin), com base nos materiais armazenados nos arquivos do Instituto19 19 Literatúrnyie obiediniénia 1917-1932 v Rosii (probliémy izutchiénia). In: Iz istórii literatúrnykh obiediniénii Petrograda-Leningrada 1910-1930 godov. Issliédovania i materialy. [As formações literárias de 1917-1932 na Rússia (os problemas de estudo. In: Da história das formações literárias em Petrogrado-Leningrado em 1910-1930. Pesquisas e materiais]. Livros 1, 2. São Petersburgo, 2002, 2006. . A característica dada por Hollerbach reflete o lado mais marcante da personalidade de Medviédev naqueles anos, porém deixa na sombra a sua essência, que se revelou de modo tão diverso e claro durante o "Renascimento cultural de Vítebsk", no "conjunto das individualidades" do Teatro Itinerante e no círculo científico e filosófico de Bakhtin. A reputação de "antiformalista" explica a atitude dos adversários científicos em relação a Medviédev: eles estavam sob a impressão do "arrependimento" público de Chklóvski (trata-se do artigo "Monumento a um erro científico" ["Pámiatnik naútchnoi ochibke"], publicado no jornal Literatúrnaia gaziéta de 27 de janeiro de 1930). As memórias sobre Medviédev (Chklóvski, 1926, p.265-266)20 20 Ver também a resenha de Medviédev sobre a Teoria da prosa de Chklóvski. Zvezdá, São Petersburgo, N. 1, 1926, p.265—266. não o abandonaram nem em Moscou (na famosa conversa com V. V. Kójinov (1992, p. 117), nem em Perediélkino21 21 Chklóvki morou em Perediélkino em meados dos anos 1930. (conversas com Viatcheslav Vs. Ivánov), nem em Leningrado (com E. S. Dóbin22 22 DRÚSKIN, Liev. Spasiónnaia kniga [ O livro salvo] . São Petersburgo, 1993, p. 233 e outras. na Casa da arte em Komarovo), nem nas conversas com os autores estrangeiros (Catherine Clark23 23 CHKLÓVSKI, V. B. Entrevista a K. Clark em 25 de março de 1978. In: Clark K., Holquist M. Mikhail Bakhtin. Harvard: Harvard UP. 1984. ). A sua correspondência de 1929 com Iu. N. Tyniánov24 24 TYNIÁNOV, Iu. N. Carta para Chklóvki. Soglássie, Moscou, N. 30, 1995, p. 201. , que tentava de todo jeito consolar o amigo, desmente a versão posterior de que ele sempre soubesse que o livro de Medviédev teria sido escrito por Bakhtin.

Não sem o envolvimento vingativo de Chklóvski, o livro de Medviédev, meio esquecido em relação à proibição de mencionar os nomes e as obras dos "inimigos do povo",25 25 Por exemplo, o livro O método formal foi liberado do arquivo especial em 1987. foi atribuído por moscovitas radicais a Bakhtin, enquanto os empresários sem escrúpulos, agarrando uma versão rentável, inundaram o mercado editorial com as "máscaras" e "semimáscaras" de um autor clássico vendido como pão quente, o que deixou a sociedade completamente desorientada26 26 As reedições repetidas ilegítimas (apesar das objeções numerosas na imprensa) das obras de P. N. Medviédev e V. N. Volóchinov sob o nome de Bakhtin, foram feitas pela editora "Labirint" de Moscou (diretor I. Pechkov). . O resultado foi paradoxal, bem à moda de Chklóvski: o adversário científico foi humilhado e moralmente destruído, e as suas ideias, que certa vez deixaram o ex-formalista tão perturbado, foram entregues por inteiro a outro – que estava na moda e era grande, com quem não era vergonhoso entrar em "consenso" - no processo de sua própria evolução, é claro.

Bakhtin rejeitou a autoria imposta a ele. Ele sabia quem era o idealizador e organizador do seu círculo estético. De acordo com Randall Collins (2002, p.48-49), o organizador do "coletivo pensante" sempre é uma figura importante, mesmo quando o "líder intelectual" do coletivo seja outra pessoa. Collins demonstrou isso com o exemplo de Kant e Fichte.

As memórias dos alunos e colegas juniores de Medviédev - de I. I. Sollertínski, A. Krasnov-Levítin, E. I. Naúmova, A. V. Desnítskaia - juntamente com a boa avaliação da obra de Medviédev por seus contemporâneos – os acadêmicos Jirmúnski, Chichmariov, Sakúlin, Piksánov, Professor L. Grossman, Nikolai Kliúev, Boris Pasternak - e com as cartas de V. A. Desnítski, O. V. Tsekhnovitser, Viatcheslav Chichkov, Mikhail Zóschenko em defesa de Medviédev preso (cf. MEDVIÉDEV; MEDVIÉDEVA, 2003, p.216), assim como o testemunho de "prisão" de Nikolai Zabolotski, proporcionam uma ideia da personalidade criativa de Medviédev que, apesar de não ser exaustiva, é bastante sólida e coincide em todos os autores.

Em 1912, quando ainda estudava direito na Universidade, Medviédev sugeriu ao diretor da revista de Petrogrado Sovremiénnik três artigos: sobre Briússov, Blok e "Para uma filosofia da literatura russa" ("K filossófii rússkoi literatury")27 27 Biblioteca Russa Nacional. Seção dos manuscritos, f. 118, ed. khr. 1454. . Nesta proposta, assim como em artigos publicados anteriormente e que agora são parcialmente conhecidos28 28 As reedições de alguns dos primeiros trabalhos de Medviédev podem ser encontradas nas revistas Dialog. Karnaval. Khrinotop (2003. No 1—2 (39—40); Zvezdá (2006. No 7, p. 197—198); Voprossy literatury (2009. No 6); Zvezdá (2010. № 11); Coletânea O cronotopo e os arredores (Khronotop i okriéstnosti) (Ufá, 2011). , já se define o escopo das questões às quais Medviédev iria dedicar os seus estudos. Em Petersburgo, Kichiniov e Vítebsk, o jovem advogado começa a dar palestras sobre literatura, envia artigos da frente de guerra: "Sobre o estudo de Púchkin", sobre Berdiáev, "Sobre Gógol", "Sobre o diário de Liev Tolstói", "Andréi Biély"...

A erudição de Medviédev originava-se na Universidade, mas também foi adquirida durante o trabalho independente sobre um livro, para o qual ele sempre era capaz de encontrar tempo livre. Sobre esse fato testemunha um rascunho preservado de autoria de Medviédev, intitulado "Dos trabalhos de Tchudovski. A doutrina do verso" ("Iz rabot Tchúdovskogo. Utchiénie o stikhié")29 29 O resumo encontra-se no arquivo da família dos Medviédev. . As ideias de C. Tchudovski (1915; 1917), crítico talentoso da revista Apollon, chamaram a sua atenção:

A palavra de jeito nenhum é algo que "se escreve junto" e está no dicionário. A palavra não é determinada por um conjunto da impressão tipográfica, mas pela unidade do conceito na consciência. Então, torna-se claro que a grafia expressa pouco essa unidade de conceitos. Enquanto isso, a fala a exprime bem. A fala é perfeitamente adequada à consciência e, em geral, à alma.

A natureza desses rascunhos, aliada aos trabalhos posteriores de Medviédev, torna possível avaliar o seu contexto. Aqui foram esboçados muitos aspectos que serão desenvolvidos e fundamentados mais tarde. Trata-se da insatisfação com o estado dos estudos literários e da busca, resultante dessa frustração, por um método para estudar os fenômenos literários; da polêmica com a abordagem morfológica que surgiu na Rússia ainda na base do simbolismo (cf. Biély, 1910 e seus seguidores); da comparação entre a linguagem coloquial e a poética que se tornaria um problema para reflexões futuras; e da separação das propriedades da língua e da linguagem poética, em outras palavras, da estilística e da linguística.

Com base na obra de Liev Tolstói, Medviédev enriqueceu a sua compreensão da essência filosófica da "comunicação". Este conceito tornou-se decisivo para a sua epistemologia: no trabalho de 1912, "A filosofia da literatura russa", no artigo "Sobre o diário de Liev Tolstói" (2010 [1916]; 2004, p.188) e no livro "O método formal" (1928) que representa uma "introdução à poética sociológica".

A definição dada por Bakhtin a esse conceito: "A própria existência do homem (externa e interna) é a mais profunda comunicação. Ser significa comunicar-se" - veio à tona no manuscrito de 1961(1996, p.344).

Medviédev iniciou a sua crítica da "estética material" antes de encontrar Bakhtin e antes do surgimento de OPOIAZ. No programa de suas palestras de 1919-1920 já aparecem os "polos da palavra" e as categorias de "avaliação", assim como os "métodos do pensamento prosaico"; na descrição da ideologia do criador, ele já esboçou a filosofia do signo, sendo que isso ocorreu muito antes do aparecimento dos livros O método formal e Marxismo e filosofia da linguagem, tão essenciais para a futura semiótica; a essência ontológica da "comunicação" tornou-se fundamental para o seu pensamento muito antes de ele conhecer a filosofia de Bakhtin, assim como as obras ocidentais sobre a "teoria da comunicação"; em O método formal (assim como em O formalismo e os formalistas, publicado em 1934) foi desenvolvido o "panorama" da teoria da arte ocidental que lhe era contemporânea.

A voz científica de Medviédev poderia ser reconhecida com facilidade, se uma parcela significativa de sua obra não tivesse sido atribuída a Bakhtin30 30 A. B. Murátov, que durante muitos anos foi chefe do Departamento de Literatura Russa da Universidade Estatal de São Petersburgo, no artigo sobre a história do seu departamento "O estudo da literatura russa na Universidade de São Petersburgo –Petrogrado - Leningrado", escreve: "Nas últimas décadas, as ideias metodológicas de P. N. Medviédev foram discutidas ativamente nas obras dedicadas a Mikhail Bakhtin." e se os seus primeiros textos fossem reeditados e levados em consideração31 31 Segundo recomendações insistentes e até mesmo exigências feitas em uma série de conferências bakhtinianas internacionais. , como aconteceu com os textos dos arquivos e os documentos de seus colegas. Se isso fosse feito, pela lógica do "cooperativo dos intelectuais", Medviédev seria o pioneiro no estabelecimento dos critérios básicos de "conceito geral da linguagem e da obra discursiva". Porém, isso contradiz o "programa" autossuficiente pseudobakhtiniano (MAKHLIN, 2004, p.336). No entanto, neste caso concreto, não se trata tanto da primazia ou da influência de um em relação ao outro (o que é bastante natural e orgânico para qualquer comunidade pensante), mas sim sobre a orientação intelectual geral. Iu. M. Kagan, que acreditava que "seria mais correto falar [...] sobre um círculo de pessoas que filosofavam e compartilhavam os interesses espirituais" (KAGAN, 1992, p.60) teve toda a razão.

A poética sociológica de Medviédev não pretendia agradar a nova ordem política, embora esse aspecto estivesse sem dúvida presente e servisse como pretexto para a organização do Instituto de Ciências e Artes Humanas: um centro científico e educacional de estudo da teoria da arte. A poética sociológica, aprimorada por meio da análise das circunstâncias do caminho criativo de Liev Tolstói e Fiódor Dostoiévski (Medviédev ministrava o seminário sobre Dostoiévski no Instituto de Educação Popular em Vítebsk), tornou-se uma etapa fecunda dos estudos literários, a despeito da miséria da ideologia que predominava no país. É por isso que o livro de Medviédev é interessante e lido até hoje32 32 O tratado de P. N. Medviédev Poética sociológica. Volume 1. Temática, escrito após O método formal, não chegou até os dias de hoje por ter sido confiscado durante a detenção do autor, porém existe a informação que confirma a sua existência. . É por isso, também, que ele foi criticado por marxistas ortodoxos e o funcionamento e desenvolvimento da escola de poética sociológica foram interrompidos com violência. Medviédev foi colocado em primeiro lugar entre os formalistas, em segundo, entre os sociologistas vulgares e em terceiro entre os marxistas ortodoxos. Fadiéev, diretor da RAPP [The Russian Association of Proletarian Writers33 33 Nota do Editor. Associação Russa dos Escritores Proletários. , also known under its transliterated abbreviation RAPP (Russian: Российская ассоциация пролетарских ] declarou que ele – o único dos críticos de Leningrado – seria um "liquidador da literatura proletária" (FAVIÉEV, 1932, p.5). As acusações desse tipo podiam resultar não apenas na proibição de publicar-se, mas também na prisão. Apesar de tudo isso, os esforços e a obra de Medviédev não foram desperdiçados: eles influenciaram tanto diretamente as pesquisas no ILIaZV, na Academia dos Estudos da Arte (seminário para estudantes de pós-graduação) e na Universidade34 34 Memórias dos seus alunos sobre P. N. Medviédev: veja nota 24. , quanto de forma latente - por muitos anos seguintes - a literatura e a crítica35 35 Veja prefácio de E. Dóbin à coletânea das obras de P. N. Medviédev No laboratório do escritor (V laboratórii pissátelia), Leningrado, 1960, 1971; bem como a nota 28. .

Ainda em Vítebsk, as palestras sobre a história da literatura russa do século XIX (como mostram os programas publicados em "Notas da Universidade Proletária", "Zapiski Proletárskogo Universitieta") e do século XX (como fica claro a partir dos ciclos de palestras no Instituto da Educação Popular36 36 Zvezdá, São Petersburgo, N. 7, 2006. p. 197-198. ) foram organizadas por Medviédev de tal forma que a literatura era apresentada sob o prisma estético. Ele começou a ministrar, em 1920, seu curso "Teoria da criação artística", a convite do Conselho das Oficinas Estatais de Arte37 37 O arquivo estatal da região de Vítebsk, f. 204, op. 1, d. 49, folhas 107, 108. : naqueles tempos, as oficinas ainda eram dirigidas por Marc Chagall e Kazimir Maliévitch.

Já nesse período Medviédev baseava a sua teoria da criação artística, distanciando-se tanto das tendências metafísicas, quanto empíricas, em uma teoria científica (fundamentada, em especial, nas obras de Vesselóvski, Potebniá e dos fenomenologistas), analisando a arte como um fenômeno estético com uma orientação valorativa. Para Medviédev, a valência do "objeto estético" (o conceito já existente na teoria de Christiansen, 1911) pertence ao "artista-criador" e aos "contratantes da arte", portadores de "avaliação". O estético era permeado pelo social. Provavelmente, tratava-se de uma teoria da criação artística ainda inacabada, em construção, mas pronta para a decolagem. A atenção ao gênero e suas "estética e história" serviram como um guia confiável para a teoria do desenvolvimento histórico da literatura38 38 Medviédev escreveu: "Com mais frequência os meus pensamentos fazem eco com os de A. N. Vesselóvski..." no já mencionado questionário do Instituto Zúbovski. Nos comentários às Cadernos de anotações de Al. Blok (Zapisnýie kníjki Al. Blóka) (1930), Medviédev chama Vesselóvski de "fundador da 'poética histórica'" (p. 238), não é por acaso entra em contraste com o fim do artigo sobre Vesselóvski na "Enciclopédia Literária" (Volume 2. Moscou, 1929, p. 201). .

O futuro livro sobre o método formal não foi "encomendado" só pela época, mas já tinha sido em muito "encomendado" pela própria busca e intuição do autor. Não é por acaso que Bakhtin, como se tratasse de algo evidente, chamou Medviédev de "teórico literário" (Bakhtin, 2002, p.222)39 39 61 Cf. também: Vítebski listok. 1918. N.1036. Compare com: palestras de M. M. Bakhtin e M. I. Kagan no "Dia da arte" (Niével, 13 de setembro de 1919). , referindo-se a uma profissão específica e não a sua relação com a "teoria", comum em ambos os estudiosos.

A comunidade independente de interesses para os problemas da "filosofia moral" aparece no título da palestra de Medviédev "Turguênev como uma pessoa e um escritor", que foi dada em novembro de 191840 40 Cf. Vítebsk listok. 1918. N. 1036. Compare com: palestras de M. M. Bakhtin e M. I. Kagan no "Dia da arte" (Niével, 13 de setembro de 1919). . Para Medviédev, era importante a validade metodológica dessa comparação, essencial tanto no plano filosófico, quanto no da vida. Ele concede atenção especial a esse tema-problema em suas palestras sobre a teoria da criação artística ("O artista e o homem") e em outros textos.

Segundo Bakhtin, na base dos três livros – de Medviédev, de Volóchinov e dele mesmo sobre Dostoiévski - "estava o conceito geral da linguagem e da criação literária. [...] A presença de contato criativo e de colaboração não priva cada um desses livros da independência e da originalidade"41 41 Cartas de M. M. Bakhtin. Literatúrnaia utchióba, Moscou, N.5-6, 1992, p.145. 1992. N.11-12, p.176. . O conceito surgiu em Vítebsk, em conversas. Lá se manifestou com evidência aquele apoio dialógico que compartilhavam entre si os membros do "Círculo" e do qual, apesar da independência de raciocínio, todos eles precisavam. O parâmetro comum entre Medviédev e Bakhtin, que agora, como ambos já faleceram, aparece de forma muito clara, é a inovação, não em nome da novidade como tal, o que por vezes acontecia com alguns filólogos, mas como uma afiada "intenção de verdade": Bakhtin criava a "primeira filosofia," enquanto Medviédev buscava os caminhos da nova teoria da literatura. Ele também começou com os princípios básicos: a psicologia da arte, o estudo genético dos fenômenos artísticos (rascunhos de A. Blok), a história da literatura, bem como dos problemas da crítica literária, que ele, seguindo o pensamento de Apollon Grigóriev, também concebia como uma "rigorosa disciplina filosófica" (MEDVIÉDEV, 1916, p.2).

A obra de Volóchinov foi analisada nos trabalhos de D. Uinov e N. Vassíliev. É amplamente conhecido o livro fundamental de V. Alpátov Volóchinov, Bakhtin e a linguística. N. Vassíliev, pela primeira vez na Rússia, levantou (embora seguindo a delicada posição de S. Aviérintsev que visava não a imposição, mas a compreensão do problema) publicamente a questão da autoria dos textos atribuídos a Bakhtin (VASSÍLIEV, 1991). Em uma conferência recente, ele "apresentou novas evidências dos primeiros trabalhos científicos de V. Volóchinov. Esta é mais uma prova de que V. N. Volóchinov, assim como P. N. Medviédev, não eram "máscaras" de M. M. Bakhtin e de forma alguma eram amadores na ciência, desempenhando um papel importante na mediação entre a "ciência marxista" e M. Bakhtin, que se encontrava em uma posição marginalizada" (TULTCHÍNSKI, 2011). À monografia Marxismo e filosofia da linguagem e ao seu autor Volóchinov foi dedicado um trabalho detalhado recente do professor suíço Patrick Seriot (2010).

Também merece atenção o fato, desconhecido até pouco tempo atrás, da colaboração entre Volóchinov e Medviédev no trabalho sobre a crítica musical em 1925-1926. Pretendemos publicar em breve esse artigo, intitulado "A 'Lenda da cidade de Kítej' e a nossa crítica" ("Skazánie o grade Kíteje" i nacha krítika). Nesse trabalho, o contato dialógico entre Volóchinov e Medviédev resultou em coautoria. O artigo foi assinado pelos dois nomes. Também esperamos publicar os artigos de Medviédev de 1918, nos quais se encontram novamente invectivas contra o poder soviético e contra as perseguições judaicas42 42 Agradecemos ao pesquisador de Vítebsk V. Chichánov pela concessão dos textos. . Antes disso ele já havia se manifestado contra o antissemitismo em 191643 43 Sobre aquilo que arde eternamente como uma bofetada (O tom, tchto viétchno jjót kak pochiótchina). Bessarábskaia jizn, Moldóvia, N. 90, 1916, p.2. .

Por causa da destruição do arquivo de Medviédev, cuidadosamente preservado por ele, uma vez que durante toda a sua vida ele desenvolvia os temas e tarefas estabelecidos na juventude, é necessário examinar com muita atenção a sua criação Zapíski peredvijnogo teatra.

No outono de 1922, Medviédev, a convite de diretor, ator e poeta P. P. Gaidebúrov44 44 Sobre Gaidebúrov ver artigo de K. A. Kumpan e V. I. Tiupá no dicionário biográfico Os escritores russos. 1800-1917 (Rússkie pissáteli. 1800-1917), Moscou, 1989. Volume 1, p.513. e da atriz N. F. Skárskaia (irmã de Vera Komissarjévskaia), entrou na "Irmandade" do Teatro Itinerante, dirigido por eles, e tornou-se diretor do repertório e redator da revista Zapísski peredvijnógo teatra (Notas de um teatro itinerante). A aproximação de Medviédev com a trupe do teatro, um dos fenômenos mais genuínos da cultura de Petersburgo (como ele dizia, "o fenômeno único na cultura artística de nossos tempos"45 45 Zapíski Peredvijnógo teatra, São Petersburgo, N. 44, p.1. ), aconteceu em Vítebsk, onde o teatro esteve em 1919. Desde então, Medviédev passou a ser autor da coluna crítica "Diário Literário" no jornal.

"O Teatro Itinerante - lembrava, em 1973, Bakhtin – naquela época gozava de muita popularidade" (2002, p.190). O fenômeno do Teatro Itinerante representava uma espécie de vida paralela à "filosofia do ato" bakhtiniana. "Uma personalidade deve ser inteiramente responsável" (1986, p.3) - este postulado poderia ser tomado como uma epígrafe para a atividade criativa do seu coletivo artístico grande e sólido.

No Teatro Itinerante, Medviédev deu um curso sobre psicologia da arte, um ciclo de palestras sobre Dostoiévski e fez introduções aos espetáculos e às palestras. Pelos tópicos abordados (em particular, a discussão dos problemas da poética), pela composição do corpo dos autores do jornal46 46 Da revista participaram: I. Grúzdev, V. Jirmúnski, B. Kazánski, B. Tomachévski, E. Hollerbach, E. Stark, A. Piotrovski, V. Erlich, E. Rádlov, A. Gizetti, V. Volóchinov, D. Vygódski, N. Kliúev, entre outros. , pela natureza das bibliografias publicadas em cada edição, bem como pelas publicações de Medviédev, esse periódico assemelha-se a um departamento acadêmico de teoria e psicologia da arte (e não apenas teatral). "Isso revela um número considerável de possíveis conexões entre o trabalho científico de Bakhtin e esse fenômeno maravilhoso em muitos sentidos [...] que ainda está à espera de seu historiador (assim como, aliás, o próprio teatro, cujo nome deveria ficar ao lado dos teatros de Stanislávski e Meyerhold)", diz o professor V. Tiupá (1997), que defende "a volta à cultura dos interlocutores esquecidos de Bakhtin".

A ideia da "personalidade coletiva" sempre atraiu os "itinerantes". O filósofo A. Meyer, fundador da sociedade religiosa e filosófica "Ressurreição" (relacionada à prisão de Bakhtin que, tempos depois foi preso), interpretou-a de seguinte modo:

O problema da criação coletiva é a próxima tarefa imediata na edificação Divina. Não importa se o grupo, que esboça essa tarefa, tire-a do cristianismo. Esta inépcia é nociva, porém não desvaloriza por completo o próprio ato. Os socialistas murmuram sobre o materialismo, mas não vale a pena considerar isso. Não é disso que se trata. [...] O ideal existe. No entanto, ele desponta apenas em termos de desenvolvimento econômico e não vai além disso, pois a ideologia é pobre. É uma fraqueza, mas o caminho está traçado. [...] Nele, foi dita a palavra, embora ela seja fraca: a reunificação da ideia e de sua execução (cf. Medviédev , 1999, p.82-158).

"Agora nos encontramos no cruzamento da cultura russa [...] Esperamos por um verdadeiro Renascimento nacional"- escreveu Medviédev naqueles anos47 47 Zapíski Peredvijnógo teatra, São Petersburgo, N. 50, p. 3. .

Ao publicar em 1930 "Os cadernos de anotações de Al. Blok", Medviédev, já arriscando, manteve as anotações de Blok sobre Meyer que normalmente eram eliminadas ou substituídas por pontos suspensivos (Meyer foi preso em 11 de Dezembro de 1928 em razão do caso de "Ressurreição", condenado à morte e já preso em Solovkí naquele momento).

Como aspecto fundamental da estética de Zapíski peredvijnógo teatra, deve ser reconhecida a idéia de religiosidade da arte, apresentada por Viatcheslav Ivánov, que "como um pensador e como uma personalidade", segundo Bakhtin, "foi de importância colossal" (TIUPÁ, 1997).

Medviédev considerava Viatcheslav Ivánov como "arauto de uma nova era da arte religiosa e popular"48 48 Zapíski Peredvijnógo teatra, N. 21, p. 3. , "o maior dos nossos contemporâneos"49 49 Zapíski Peredvijnógo teatra, N. 42, p. 4. . No entanto, em sua opinião, os "itinerantes" vieram à "religiosidade" de modo bastante independente50 50 Zapíski Peredvijnógo teatra, N. 44, p. 1. .

Em seguida, Tiupá (1997) escreve:

É realmente uma consciência "nova" que se encontra fora da personalidade; não é uma consciência coletiva do "coro" em que se dissolve e desaparece a precisão da personalidade. Ela apenas assimilou o princípio coral da igualdade entre todas as consciências. Mas, ao mesmo tempo, ela assimilou o princípio da autodefinição de uma personalidade, conquistado pela consciência solitária na luta contra o autoritarismo.

Craig Brandist, há muito pesquisador dos arquivos científicos russos e atual diretor do The Bakhtin Centre, visa "analisar as ideias de Bakhtin justamente como uma contribuição significativa para o diálogo que ocorria dentro das instituições e escolas científicas e entre eles – em um determinado momento histórico". "A importância deste diálogo geral", para o pesquisador, é ainda "mais importante do que o valor do patrimônio de Bakhtin" (BRANDIST , 2006). Mas como uma coisa não existe sem a outra, o patrimônio bakhtiniano não pode existir sem a herança de Medviédev, que descobriu as origens da "teoria da comunicação" na obra de Liev Tolstói e o contexto de seu pensamento no legado de N. Mikháilovski, V. Solovióv, Ap. Grigóriev e, inclusive, em Blok, Príchvin e Mandelstam. No mencionado questionário do Instituto de Zúbovski, Medviédev escreveu em 1924: "Com mais frequência os meus pensamentos fazem eco com os de A. N. Vesselóvski, Osc. Walzel, G. Lanson, Ap. Grigóriev e V. Jirmúnski". A estes nomes devem ser adicionados muitos outros, encontrados em suas publicações e materiais: de B. Tchúdovski, G. Shpet G. Vinokur e até os formalistas, com as obras dos quais ele familiarizou os seus colegas de Vítebsk (Bakhtin, 2002, p.168)51 51 Bakhtin lembra que conheceu pela primeira vez os folhetos dos formalistas em Vítebsk (Conversas com V. D. Duvákin, p. 68). . Tampouco podemos esquecer o fato de que a herança filosófica e estética do "jovem cientista" Bakhtin tornou-se disponível graças a seu livro sobre Dostoiévski, publicado em 1929, e a sua vida foi salva devido aos contatos de Medviédev com A. N. Tolstói, M. Gorki e A. Lunatchárski52 52 "Anatoli Vassílievitch prometeu publicar a minha resenha sobre a sua [А. В. Луначарский] palestra na Casa de Púchkin na próxima edição da Krássnaia Nevá de Moscou, mas com algumas reduções (ela é bastante extensa e avalia detalhadamente a sua palestra) - de duas a uma páginas. Anatoli Vassílievitch o conhece e saúda."- dizia em uma carta a Medviédev de 09 de novembro de 1923 o poeta imagista Vladímir Ricciotti (IRLI. Divisão dos Manuscritos, f. I,op.24, N. 35). . Isso não diminui a importância da atuação posterior do ambiente bakhtiniano nos anos 1960, mas indica a hereditariedade dos esforços.

Em nossa palestra na XIII International Bakhtin Conference53 53 Iurii Medvedev, Daria Medvedeva (St Petersburg) and David Shepherd (University of Sheffield), The Polyphony of the Circle 13th International Mikhaïl Bakhtin Conference, July 28 –August 1, 2008, University of Western Ontario, London, Canada. , expusemos o fenômeno dialógico do "Círculo", mostrando o caráter psicológico, social e criativo de sua polifonia. Hoje, graças aos esforços de muitos pesquisadores, o "Círculo" deixou de ser um detalhe biográfico da vida de Bakhtin, mas um fenômeno cultural independente. "Não posso existir sem o outro, não posso me tornar eu mesmo sem o outro; eu devo me encontrar no outro ao encontrar o outro em mim (em uma reflexão e percepção mútua)" (BAKHTIN, 1996, p.344). Nesses e outros testemunhos pessoais de Bakhtin (no início e no final de sua obra) está enraizada o vértice superior da comunicação interpessoal, espiritual e intelectual: um fenômeno que Bakhtin compreendeu e fundamentou na filosofia do diálogo e da polifonia, na obra de Fiódor Dostoiévski e em sua teoria de autoria. Esse fenômeno intelectual obteve uma encarnação real, vital e criativa no "Círculo de Bakhtin"54 54 Mais uma declaração de que Bakhtin se misturava e fazia amizade com as "pessoas primitivas", compreensível na boca dos adversários científicos do "Círculo", levanta questões sobre a competência dos atuais "especialistas". Ver publicações de N. D. Tamártchenko na coleção Kronotop i okriéstnosti (2011, p.313) e na revista Voprossy literatury (N. 1, 2011). . Nele encontra-se o significado e o "segredo" do fenômeno.

Ao resumir os resultados da XIV XIII International Bakhtin Conference, realizada na Itália, em julho de 2011, o Professor G. L. Tulchínski focou o conteúdo filosófico e o significado das inúmeras apresentações. "Em primeiro lugar – segundo ele – isso se refere à ideia de dialogismo de formação de sentido, produzida por M. M. Bakhtin. [...] Como resultado, na conferência, manifestou-se com clareza a reavaliação das relações entre Bakhtin e o "seu círculo". Se até pouco tempo atrás Bakhtin atuava como uma espécie de herói cultural, que "fundou" ou "deu origem" a algo, e se a ele era atribuída a autoria de obras de Volóchinov e Medviédev, agora torna-se claro que o "círculo de Bakhtin", [...] como salientou A. Ponzio (Universidade de Bari, Itália), era uma comunidade informal de intelectuais que se comunicavam ativamente, discutiam questões e problemas comuns, liam textos uns dos outros e expressavam as suas opiniões sobre a leitura. De acordo com S. Padilha (Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil), um papel muito importante nesse círculo pertencia à comunicação cotidiana e informal. Cada um dos participantes dessa comunicação tinha sua própria voz e, com o passar do tempo, soa com mais clareza e peso. [...] Trata-se de um círculo de talentosos intelectuais russos, brilhantes personalidades criativas que não apenas tentavam sobreviver e trabalhar em condições de pressão e repressão rígidas, do ponto de vista ideológico, realizando a experiência do pensamento científico nacional e europeu, filosófico e religioso, mas também [...] as possibilidades de uma abordagem sociológica da consciência e da linguagem, exagerada pelo marxismo soviético"55 55 Ver nota 38. .

Se definir o "coletivo pensante" como uma comunidade de pessoas que trocam mutuamente ideias ou mantém uma interação intelectual, ele se transformará, a nossos olhos, em uma unidade de desenvolvimento de uma área de pensamento, de um nível de conhecimento e de cultura (FLECK, 1999, P. 64) 56 56 FLECK, Ludwik. O surgimento e o desenvolvimento do fato científico. Introdução à teoria do pensamento e do coletivo pensante (Vozniknoviénie i razvítie naútchnogo fakta. Vvediénie v teóriu stília mychliénia i myslítelnogo kollektiva). Moscou, 1999, p. 64. .

A "primeira filosofia" de Bakhtin, a "poética sociológica" de Medviédev e a "sociolinguística" de Volóchinov são os elos de uma única cadeia intelectual. Como dizia o grande pensador e líder da comunidade artística dos correligionários, do círculo B. M. V.:

Em qualquer ponto do diálogo existem massas enormes e ilimitadas de sentidos esquecidos, mas em determinados momentos do desenvolvimento do diálogo, em seu percurso, elas serão relembradas e voltarão à vida em uma forma atualizada (em um novo contexto). Não existe nada que seja absolutamente morto: cada sentido terá sua festa de revitalização (BAKHTIN, 1986, p. 393)57 57 O artigo já estava na redação quando soubemos de uma nova publicação dos cientistas suíços (Jean-Paul Bronckart et Cristian Bota. Bakhtine démasqué. Histoire d'un menteur, d'une escroquerie et d'un délire collectif. Droz, 2011). Ainda não lemos e nem analisamos esse livro, mas a primeira ideia dele pode ser obtida a partir da entrevista concedida pelos autores para uma revista universitária Campus (Bakhtine tombe le masque. In: Campus. N. 106. Université de Genève). "Ao examinar a obra de Bakhtin, Jean-Paul Bronckart ficou convencido de que... [...] os trabalhos assinados por Volóchinov diferiam drasticamente das outras obras de Bakhtin. Nós apenas decidimos comparar cuidadosamente esses textos, mas depois começamos uma verdadeira investigação, sendo que o artigo concebido originalmente se transformou em um livro de 600 páginas" - disse o co-autor Cristian Bota. "Estamos simplesmente pasmos com aquela facilidade com que os autores, que parecem ser sérios e competentes, assimilaram aquilo que quase chega a ser um "delírio interpretativo" - disse o professor Jean-Paul Bronckart. - Mas nós não inventamos nada. Todo o material utilizado neste livro estava disponível para os pesquisadores já há cerca de 15 anos. No entanto, isso não impediu que aqueles que construíram sua carreira sobre o nome de Bakhtin continuem a acreditar em suas próprias invenções e a ignorar de modo sistemático Medviédev e Volóchinov, cujos méritos hoje vale a pena reabilitar totalmente". Bakhtin desmascarado. História de um mentiroso, de uma fraude e de um delírio coletivo: esse é o título do livro. Esta é a contribuição dos veteranos dos estudos bakhtinianos na Rússia que propuseram aos pesquisadores independentes os resultados de seus "projetos" e "programas" que humilharam, em primeiro lugar, o próprio Bakhtin, como já havíamos advertido várias vezes com preocupação. Queremos responder agora mesmo aos autores do livro: é claro, as invenções de Bakhtin sobre a sua biografia e outras coisas podem ser consideradas uma "mentira", mas chamá-lo de mentiroso, sem levar em conta o contexto do país-tempo-biografia é impossível! Quero lembrar à Europa secular a diferença entre uma mentira e um "falso testemunho contra o seu próximo". Bakhtin compreendia essa diferença e a seguia. E ainda "Todo o material [...] estava disponível para pesquisadores já há cerca de 15 anos..." - este é realmente um fato (ver, por exemplo: Medviédev Iu. P. "Éramos muitos no barco ..." ("Nas bylo mnogo na tchelné...") In: Dialog. Karnaval. Khronotop, São Persburgo, N. 1, 1992, p. 89-108). Graças ao trabalho responsável de uma série de cientistas, nacionais e estrangeiros, cujas obras sempre citamos e cujos nomes são dignos de serem repetidos com respeito (ver nota 3), a ciência está voltando lentamente aos "seus eixos". Embora o prefácio editorial esteja repleto de autopropaganda, o livro Problemas da bakhtinologia (Probliémy bakhtinológuii) (São Petersburgo-Moscou, 2011), dedicado ao centésimo vigésimo (!) aniversário de Bakhtin (1895-1975), está tentando justificar o seu "caminho de volta" pseudo-científico. .

Referências

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Recebido em 18/09/2012

Aprovado em 12/03/2014

Traduzido por Ekaterina Vólkova Américo – katia-v@yamdex.ru

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  • 1
    Cartas de M. M. Bakhtin.
    Literatúrnaia utchióba. Moscou, Livros 5-6, 1992. p.145.
  • 2
    Devido à necessidade de analisar as etapas de formação do "Círculo" e de sua obra, somos obrigados a recorrer a fatos e detalhes que já são conhecidos, parcialmente, a partir de nossos artigos anteriores.
  • 3
    Nota do Editor. Em 1995, portanto antes de Vauthier, Jean Peytard falou do "B. M. V.", em sua obra
    Mikhaïl Bakhtine. Dialogisme et analyse du discours, Paris: Bertrand-Lacoste, 1995.
  • 4
    Esse período é conhecido por meio dos contatos dos seus participantes com o "filósofo de Marburg" M. I. Kagan. Ver sobre ele: PUL, B. Rol M. I. Kagana v stanovliénii filossófii M. M. Bakhtiná (ot Hermanna Kohena k Maksu Scheleru)) [O papel de M. I. Kagan na constituição da filosofia de M. M. Bakhtin (de Hermann Kohen a Max Scheler)]. In:
    Bakhtinski
    sbórnik. Edição 3. Moscou, 1994, p.162-181; "Nazad k Kagánu". Márburgskaia chkola v Niévele i filossófia M. M. Bakhtiná. ["De volta a Kagan". A escola de Marburg em Niével e a filosofia de M. M. Bakhtin].
    Dialog. Karnaval. Khronotop, Vítebsk, N. 1, 1998, p.38-48.
  • 5
    Nota do Editor. NKVD, em português, Comissariado do povo para assuntos internos.
  • 6
    Nota do Editor. Em português existe uma edição:
    Mikhail Bakhtin em diálogo. Conversas de 1973 com Viktor Duvakin. Trad. Daniela M. Mondardo, a partir do italiano. São Carlos: Pedro & João, 2008.
  • 7
    Ver cartas de M. Bakhtin a M. Kagan em
    Dialog. Karnaval. Khronotop, Vítebsk, N. 1,1992, p.66-72.
  • 8
    "Ordem N. 114 para o Departamento da Educação de 29 de junho de 1920. [...] O vice-diretor artístico P. N. Medviédev, de acordo com a chamada telefônica de Comissário do Povo Lunatchárski de 16 de junho, sob número 63428, é delegado para Petrogrado". (GAVO, f. 2268, op. 3, pasta 1, folha 91).
  • 9
    Teatrálno-literatúrnaia khrónika. [Crônica teatral-literária].
    Jizn
    iskússtva, Petrogrado, N. 33 (856), 1922, 22-28 de agosto, p. 4.
  • 10
    IRLI, f.79 (de Ivanov-Razúmnik), op.1, N.5 (livro de anotações "Volfila — Epokha").
  • 11
    Esses manuscritos foram estudados pela primeira vez por Ken Hirschkop (1999, p.146).
  • 12
    Departamento dos manuscritos de IRLI, f.172, N. 550, folha 1.
  • 13
    Arquivo RAN, filial em São Petersburgo, f.302, op. 1, ed. khr. 14, folha. 28.
  • 14
    TSGALI São Petersburgo, f.302, op. 1, caso 270, folha 10.
  • 15
    TSGALI São Petersburgo, f.302, op. 1, caso 270, folha 8.
  • 16
    [MEDVIÉDEV, P
    .] Da editora (Ot izdátelstva). In: VINOGRÁDOV, 1930, p. 3-8.
  • 17
    VOLÓCHINOV, V. N.: <Resenha do livro> VINOGRÁDOV, 1930, p. 233-234.
  • 18
    A publicação do m
    anual foi cancelada após a detenção de Medviédev, porém conservou-se a publicação do seu
    Metodítcheskaia razrabotka po kúrsu istórii rússkoi literatúry epókhi imperializma e proletárskoi revoliútsii [
    Estudo metodológico para o curso da história da literatura russa da época imperialista e da revolução proletária]. Leningrado, 1933.
  • 19
    Literatúrnyie obiediniénia 1917-1932 v Rosii (probliémy izutchiénia). In:
    Iz
    istórii
    literatúrnykh
    obiediniénii
    Petrograda-Leningrada 1910-1930 godov. Issliédovania
    i
    materialy. [As formações literárias de 1917-1932 na Rússia (os problemas de estudo. In:
    Da história das formações literárias em Petrogrado-Leningrado em 1910-1930. Pesquisas
    e
    materiais]. Livros 1, 2. São Petersburgo, 2002, 2006.
  • 20
    Ver também a resenha de Medviédev sobre a
    Teoria da prosa de Chklóvski.
    Zvezdá, São Petersburgo, N. 1, 1926, p.265—266.
  • 21
    Chklóvki morou em Perediélkino em meados dos anos 1930.
  • 22
    DRÚSKIN, Liev.
    Spasiónnaia
    kniga [
    O
    livro
    salvo]
    . São Petersburgo, 1993, p. 233 e outras.
  • 23
    CHKLÓVSKI, V. B. Entrevista a K. Clark em 25 de março de 1978. In: Clark K., Holquist M.
    Mikhail Bakhtin. Harvard: Harvard UP. 1984.
  • 24
    TYNIÁNOV, Iu. N. Carta para Chklóvki.
    Soglássie, Moscou, N. 30, 1995, p. 201.
  • 25
    Por exemplo, o livro
    O método formal foi liberado do arquivo especial em 1987.
  • 26
    As reedições repetidas ilegítimas (apesar das objeções numerosas na imprensa) das obras de P. N. Medviédev e V. N. Volóchinov sob o nome de Bakhtin, foram feitas pela editora "Labirint" de Moscou (diretor I. Pechkov).
  • 27
    Biblioteca Russa Nacional. Seção dos manuscritos, f. 118, ed. khr. 1454.
  • 28
    As reedições de alguns dos primeiros trabalhos de Medviédev podem ser encontradas nas revistas
    Dialog. Karnaval. Khrinotop (2003. No 1—2 (39—40);
    Zvezdá (2006. No 7, p. 197—198);
    Voprossy literatury (2009. No 6);
    Zvezdá (2010. № 11); Coletânea
    O cronotopo e os arredores (Khronotop i okriéstnosti) (Ufá, 2011).
  • 29
    O resumo encontra-se no arquivo da família dos Medviédev.
  • 30
    A. B. Murátov, que durante muitos anos foi chefe do Departamento de Literatura Russa da Universidade Estatal de São Petersburgo, no artigo sobre a história do seu departamento "O estudo da literatura russa na Universidade de São Petersburgo –Petrogrado - Leningrado", escreve: "Nas últimas décadas, as ideias metodológicas de P. N. Medviédev foram discutidas ativamente nas obras dedicadas a Mikhail Bakhtin."
  • 31
    Segundo recomendações insistentes e até mesmo exigências feitas em uma série de conferências bakhtinianas internacionais.
  • 32
    O tratado de P. N. Medviédev
    Poética sociológica. Volume 1. Temática, escrito após
    O método formal, não chegou até os dias de hoje por ter sido confiscado durante a detenção do autor, porém existe a informação que confirma a sua existência.
  • 33
    Nota do Editor. Associação Russa dos Escritores Proletários.
  • 34
    Memórias dos seus alunos sobre P. N. Medviédev: veja nota 24.
  • 35
    Veja prefácio de E. Dóbin à coletânea das obras de P. N. Medviédev
    No laboratório do escritor (V laboratórii pissátelia), Leningrado, 1960, 1971; bem como a nota 28.
  • 36
    Zvezdá, São Petersburgo, N. 7, 2006. p. 197-198.
  • 37
    O arquivo estatal da região de Vítebsk, f. 204, op. 1, d. 49, folhas 107, 108.
  • 38
    Medviédev escreveu: "Com mais frequência os meus pensamentos fazem eco com os de A. N. Vesselóvski..." no já mencionado questionário do Instituto Zúbovski. Nos comentários às
    Cadernos de anotações de Al. Blok (Zapisnýie kníjki Al. Blóka) (1930), Medviédev chama Vesselóvski de "fundador da 'poética histórica'" (p. 238), não é por acaso entra em contraste com o fim do artigo sobre Vesselóvski na "Enciclopédia Literária" (Volume 2. Moscou, 1929, p. 201).
  • 39
    61 Cf. também:
    Vítebski
    listok. 1918. N.1036. Compare com: palestras de M. M. Bakhtin e M. I. Kagan no "Dia da arte" (Niével, 13 de setembro de 1919).
  • 40
    Cf.
    Vítebsk
    listok. 1918. N. 1036. Compare com: palestras de M. M. Bakhtin e M. I. Kagan no "Dia da arte" (Niével, 13 de setembro de 1919).
  • 41
    Cartas de M. M. Bakhtin.
    Literatúrnaia utchióba, Moscou, N.5-6, 1992, p.145. 1992. N.11-12, p.176.
  • 42
    Agradecemos ao pesquisador de Vítebsk V. Chichánov pela concessão dos textos.
  • 43
    Sobre aquilo que arde eternamente como uma bofetada (O tom, tchto viétchno jjót kak pochiótchina).
    Bessarábskaia jizn, Moldóvia, N. 90, 1916, p.2.
  • 44
    Sobre Gaidebúrov ver artigo de K. A. Kumpan e V. I. Tiupá no dicionário biográfico
    Os escritores russos. 1800-1917 (Rússkie pissáteli. 1800-1917), Moscou, 1989. Volume 1, p.513.
  • 45
    Zapíski Peredvijnógo teatra, São Petersburgo, N. 44, p.1.
  • 46
    Da revista participaram: I. Grúzdev, V. Jirmúnski, B. Kazánski, B. Tomachévski, E. Hollerbach, E. Stark, A. Piotrovski, V. Erlich, E. Rádlov, A. Gizetti, V. Volóchinov, D. Vygódski, N. Kliúev, entre outros.
  • 47
    Zapíski Peredvijnógo teatra, São Petersburgo, N. 50, p. 3.
  • 48
    Zapíski Peredvijnógo teatra, N. 21, p. 3.
  • 49
    Zapíski Peredvijnógo teatra, N. 42, p. 4.
  • 50
    Zapíski Peredvijnógo teatra, N. 44, p. 1.
  • 51
    Bakhtin lembra que conheceu pela primeira vez os folhetos dos formalistas em Vítebsk (Conversas com V. D. Duvákin, p. 68).
  • 52
    "Anatoli Vassílievitch prometeu publicar a minha resenha sobre a sua [А. В. Луначарский] palestra na Casa de Púchkin na próxima edição da
    Krássnaia Nevá de Moscou, mas com algumas reduções (ela é bastante extensa e avalia detalhadamente a sua palestra) - de duas a uma páginas. Anatoli Vassílievitch o conhece e saúda."- dizia em uma carta a Medviédev de 09 de novembro de 1923 o poeta imagista Vladímir Ricciotti (IRLI. Divisão dos Manuscritos, f. I,op.24, N. 35).
  • 53
    Iurii Medvedev, Daria Medvedeva (St Petersburg) and David Shepherd (University of Sheffield), The Polyphony of the Circle
    13th International Mikhaïl Bakhtin Conference, July 28 –August 1, 2008, University of Western Ontario, London, Canada.
  • 54
    Mais uma declaração de que Bakhtin se misturava e fazia amizade com as "pessoas primitivas", compreensível na boca dos adversários científicos do "Círculo", levanta questões sobre a competência dos atuais "especialistas". Ver publicações de N. D. Tamártchenko na coleção
    Kronotop i okriéstnosti (2011, p.313) e na revista Voprossy literatury (N. 1, 2011).
  • 55
    Ver nota 38.
  • 56
    FLECK, Ludwik.
    O surgimento e o desenvolvimento do fato científico. Introdução à teoria do pensamento e do coletivo pensante
    (Vozniknoviénie i razvítie naútchnogo fakta. Vvediénie v teóriu stília mychliénia i myslítelnogo kollektiva). Moscou, 1999, p. 64.
  • 57
    O artigo já estava na redação quando soubemos de uma nova publicação dos cientistas suíços (Jean-Paul Bronckart et Cristian Bota.
    Bakhtine démasqué. Histoire d'un menteur, d'une escroquerie et d'un délire collectif. Droz, 2011). Ainda não lemos e nem analisamos esse livro, mas a primeira ideia dele pode ser obtida a partir da entrevista concedida pelos autores para uma revista universitária
    Campus (Bakhtine tombe le masque. In:
    Campus. N. 106. Université de Genève). "Ao examinar a obra de Bakhtin, Jean-Paul Bronckart ficou convencido de que... [...] os trabalhos assinados por Volóchinov diferiam drasticamente das outras obras de Bakhtin. Nós apenas decidimos comparar cuidadosamente esses textos, mas depois começamos uma verdadeira investigação, sendo que o artigo concebido originalmente se transformou em um livro de 600 páginas" - disse o co-autor Cristian Bota. "Estamos simplesmente pasmos com aquela facilidade com que os autores, que parecem ser sérios e competentes, assimilaram aquilo que quase chega a ser um "delírio interpretativo" - disse o professor Jean-Paul Bronckart. - Mas nós não inventamos nada. Todo o material utilizado neste livro estava disponível para os pesquisadores já há cerca de 15 anos. No entanto, isso não impediu que aqueles que construíram sua carreira sobre o nome de Bakhtin continuem a acreditar em suas próprias invenções e a ignorar de modo sistemático Medviédev e Volóchinov, cujos méritos hoje vale a pena reabilitar totalmente".
    Bakhtin desmascarado. História de um mentiroso, de uma fraude e de um delírio coletivo: esse é o título do livro. Esta é a contribuição dos veteranos dos estudos bakhtinianos na Rússia que propuseram aos pesquisadores independentes os resultados de seus "projetos" e "programas" que humilharam, em primeiro lugar, o próprio Bakhtin, como já havíamos advertido várias vezes com preocupação.
    Queremos responder agora mesmo aos autores do livro: é claro, as invenções de Bakhtin sobre a sua biografia e outras coisas podem ser consideradas uma "mentira", mas chamá-lo de mentiroso, sem levar em conta o contexto do país-tempo-biografia é impossível! Quero lembrar à Europa secular a diferença entre uma mentira e um "falso testemunho contra o seu próximo". Bakhtin compreendia essa diferença e a seguia. E ainda "Todo o material [...] estava disponível para pesquisadores já há cerca de 15 anos..." - este é realmente um fato (ver, por exemplo: Medviédev Iu. P. "Éramos muitos no barco ..." ("Nas bylo mnogo na tchelné...") In:
    Dialog. Karnaval. Khronotop, São Persburgo, N. 1, 1992, p. 89-108). Graças ao trabalho responsável de uma série de cientistas, nacionais e estrangeiros, cujas obras sempre citamos e cujos nomes são dignos de serem repetidos com respeito (ver nota 3), a ciência está voltando lentamente aos "seus eixos". Embora o prefácio editorial esteja repleto de autopropaganda, o livro
    Problemas da bakhtinologia (Probliémy bakhtinológuii) (São Petersburgo-Moscou, 2011), dedicado ao centésimo vigésimo (!) aniversário de Bakhtin (1895-1975), está tentando justificar o seu "caminho de volta" pseudo-científico.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Jul 2014
    • Data do Fascículo
      Jul 2014

    Histórico

    • Recebido
      18 Set 2012
    • Aceito
      12 Mar 2014
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