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No(s) (des/re)encontro(s) das vozes, a construção dialógica da polêmica em enunciados de temática político-religiosa

RESUMO

Nas obras de Bakhtin sobre o romance polifônico de Dostoiévski, há um conjunto de noções muito relevantes para a análise do funcionamento da palavra bivocal, concebida como um enunciado direcionado tanto para o seu objeto referencial como para o discurso de outrem acerca desse objeto, com todas as refrações das vozes que já o valoraram nas interações discursivas de que esse objeto já foi tema. Neste artigo, analiso as relações dialógicas que constroem o posicionamento axiológico do falante por meio da polêmica (aberta/velada) em postagens de Facebook com conteúdo temático constituído mediante o diálogo entre as esferas discursivas política e religiosa. Demonstro, com base nos estudos bakhtinianos, como o (des/re)encontro das vozes em um determinado enunciado demanda do sujeito contemporâneo um olhar atento aos movimentos sinuosos das formas de emergência, circulação e gerenciamento das vozes que constituem/constituíram certos discursos históricos na sociedade brasileira, com todos os procedimentos enunciativos de reelaboração e reacentuação envolvidos nesse processo.

PALAVRAS-CHAVE:
Relações dialógicas; Discurso bivocal; Polêmica aberta e velada; postagem de Facebook

ABSTRACT

In Bakhtin’s works on Dostoevsky’s polyphonic novel, there is a set of very relevant notions for the analysis of the functioning of the bivocal word, which is conceived as an utterance directed both toward its referential object and toward the discourse of others about that object. This object carries within it all the refractions of the voices that have already valued it in the discursive interactions of which it has been the theme. In this paper, I analyze the dialogic relationships that compose the speaker’s axiological positioning through the polemic (open/hidden) in Facebook posts with thematic content constituted through the dialogue between the political and religious spheres. Based on Bakhtinian studies, I demonstrate how the (mis/re)encounter of voices in a given utterance demands from the contemporary subject an attentive look at the sinuous movements of the forms of emergence, circulation and management of the voices that constitute/constituted certain historical discourses in Brazilian society, with all the enunciative procedures of reworking and re-accentuating involved in this process.

KEYWORDS:
Dialogic relations; Bivocal utterance; Open and hidden polemic; Facebook post

Considerações preliminares

A palavra não é um objeto, mas um meio constantemente ativo, constantemente mutável de comunicação dialógica. Ela nunca basta a uma consciência, a uma voz. Sua vida está na passagem de boca em boca, de um contexto para outro, de um grupo social para outro, de uma geração para outra. Nesse processo ela não perde o seu caminho nem pode libertar-se até o fim do poder daqueles contextos concretos que integrou (BAKHTIN, 2005, p.203BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.).

A experiência com a linguagem em contextos ordinários de uso, nas multifacetadas práticas de interação socioverbal de que participamos, parece exercer sobre nós uma sensação de automatismo tal que tem, por vezes, minado o exercício constante e contínuo da reflexão sobre os efeitos que ela tem sobre nossa forma de ser/estar no mundo. A ilusão de uma possível homogeneidade das formas de interagir com o outro e de marcar nossa posição axiológica/ideológica por meio da linguagem, muitas vezes, parece retirar de nós a percepção de que nosso (re/des)encontro com o outro e com seu discurso dá-se sob variadas formas que refletem – e refratam – nossas crenças, valores, ideias, comportamentos, gestos, atitudes etc.

Os conceitos bakhtinianos acerca da linguagem dizem muito mais da forma de agir do homem no mundo em sua mais natural e espontânea atividade, que é a comunicação socioverbal, do que propriamente constituem um aparato teórico-metodológico para refletir sobre a língua, o enunciado. Afinal, seja no domínio ético, estético ou cognitivo, temos com Bakhtin um tratado sobre a condição de ser falante, e este sempre em relação constitutivamente alteritária com o(s) outro(s).

Nesse sentido, a minha palavra vai ao/de encontro da/à palavra de outrem, nesse jogo ambivalente, refratada pelas intenções e propósitos comunicativos de meu projeto enunciativo em dada circunstância real e concreta de minha experiência, estabelecendo com a palavra alheia laços e elos os mais diversos possíveis, com efeitos discursivos igualmente diversificados.

A esfera discursiva midiática não é insensível a essas nuances. Nela, o(s) (des/re)encontro(s) das vozes que se cruzam produz(em) sentidos decorrentes das vontades que se desejam enunciar, marcadas por tons emotivo-volitivos que corroboram o posicionamento axiológico dos sujeitos partícipes das interações sociais. Um desses tons (emotivo-volitivos) é o do conflito/confronto manifestado no enunciado sob formas estilístico-composicionais bivocalizadas complexas e diversas, tais como a paródia, a estilização, a polêmica aberta/velada, entre muitas outras.

Pretendo, neste artigo, refletir sobre a construção dialógica da polêmica mediante análise do posicionamento axiológico do falante em postagens de Facebook com temática político-religiosa, observando as relações dialógicas que presidem o funcionamento discursivo desse enunciado na esfera de comunicação em que circula. Para isso, empreendo um gesto de leitura que contempla a observação dos modos como as consciências se (des/re)encontram nesse enunciado. Procuro demonstrar, com Bakhtin, de que meios se vale o enunciador para, sem álibi, marcar sua posição valorativa frente aos objetos de discurso de que trata, e como o faz a partir do embate/tensão com a palavra de um outro sobre o determinado objeto. Particularmente, procuro evidenciar como o (des/re)encontro das vozes, dos pontos de vista, das valorações em um determinado enunciado demanda do sujeito contemporâneo um gesto de leitura de mundo atento aos movimentos sinuosos das formas de emergência, circulação e orquestração das vozes que constituem/constituíram certos fatos e discursos históricos na sociedade brasileira (o que ficará mais claro na ilustração dos enunciados concretos selecionados), vozes essas que figuram como operadores de memória discursiva, com todos os procedimentos enunciativos de reelaboração e reacentuação envolvidos nesse processo.

Imbuído desse propósito, invoco conceitos fundamentais formulados principalmente nas obras de Bakhtin, que tratam das especificidades da poética dostoieviskiana, tais como voz, dialogismo, diálogo, relações dialógicas, palavra/discurso, romance do tipo monológico, romance de tipo polifônico, paródia, estilização, polêmica aberta e velada, etc. Evidentemente, esses conceitos estão relacionados ou, eu diria, algo muito maior os une, afinal, eles encontram abrigo numa grande matriz chamada bivocalidade. Entretanto, como recorte teórico-metodológico, pretendo refletir especificamente sobre a noção de polêmica (aberta/velada), numa tentativa de compreender como esse fenômeno concebido por Bakhtin na análise do discurso estético (mas não descolado da vida, afinal, no mundo da cultura as fronteiras entre arte-vida-cognição na unidade do ser são diluídas) também pode ser pensado em outras práticas discursivas de nossa contemporaneidade.

Nesse sentido, destaco três aspectos indispensáveis nesta reflexão, que não apenas se restringem aos conceitos como elaborados por Bakhtin, mas que nos permitem outras incursões pelas sendas dos estudos dialógicos do discurso: (1) o primeiro em relação à esfera da atividade humana, ajustando meu foco sobre o discurso midiático atravessado pelos discursos político e religioso – diferentemente do trabalho de Bakhtin, centrado sobre o discurso estético da obra/poética dostoievskiana; (2) o segundo diz respeito à forma como alguns conceitos são tão contemporâneos no sentido das motivações políticas, ideológicas que os ensejaram, oferecendo-se como chaves hermenêuticas para a compreensão de nossa realidade sócio-histórica, ressalvadas as devidas proporções dos acontecimentos no tempo e no espaço, evidentemente; (3) o terceiro enseja uma reflexão sobre as motivações éticas que subjazem o reportar-se ao discurso de um outro, a refração de uma consciência outra, sem sua autorização ou consentimento, o que extrapola, a meu ver, a dimensão da utilização de procedimentos estilístico-composicionais do processo de criação artística (o ético vivenciado pelo herói como elemento da obra de arte e o ético vivenciado pelo sujeito na vida real concreta), embora reconheça, evidentemente, a legitimidade desse empreendimento estético.

Adoto, aqui, o enfrentamento dialógico do enunciado como diretriz metodológica para leitura do dado que será utilizado para ilustrar nossa análise. Valho-me das formulações teórico-metodológicas de Bakhtin acerca do discurso de Dostoiévski, tais como se encontram, basicamente, em duas obras de referência sobre o tema, como forma de conduzir a discussão para a leitura das formas de relação entre o autor do enunciado e o próprio discurso. Para isso, recorro ao texto de Bakhtin de 19291 1 Trabalho, aqui, com a versão italiana publicada em 1997, com introdução, tradução e comentário de Margherita De Michiel e apresentação de Augusto Ponzio. Esse texto foi publicado pela Edizioni dal Sud, Bari, Itália. , intitulado Problemas da obra de Dostoiévski (doravante POD), bem como ao texto publicado em 19632 2 Trabalho, aqui, com a versão em português traduzida diretamente do russo por Paulo Bezerra, publicada em 2005 pela editora Forense Universitária. , com reformulações do texto de 1929, intitulado Problemas da poética de Dostoiévski (doravante PPD), dentre outros dele e também de Volóchinov ([1926] 2019)VOLOCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica. In: VOLOCHINOV, Valentin (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019 [1926].. Para a reflexão aqui proposta, é fundamental, em relação à obra de 1929, levar em consideração o fato de que, segundo Brait (2009, p.50; destaque meu)BRAIT, Beth. Bakhtin: dialogismo e polifonia. São Paulo: Contexto, 2009.,

A época de elaboração, publicação e recepção de Problemas da obra de Dostoiévski deve ser pensada como um longo e complexo período que envolve efervescência intelectual, artística e, ao mesmo tempo, posicionamentos políticos, intelectuais e religiosos sujeitos a duras penas: Bakhtin foi preso em 1928, exilado, teve a pena comutada em 1930, mas somente retorna do exílio em 1936; Voloshinov morre de tuberculose em 1936; Medvedev é executado em 1938.

Amparo-me, para isso, em algumas noções específicas abordadas por Bakhtin nessas obras, tais como relações dialógicas e discurso bivocal, dentre outras necessárias nessa articulação. Especificamente, tomo o conceito de polêmica aberta/velada – em relação com outros como paródia, estilização paródica etc. – para pensar o homem e(m) seu cronotopo, isto é, com quem esse sujeito contemporâneo, das redes sociais, contende/hostiliza; sobre o que contende/hostiliza. Tenho em vista aqui o contexto sócio-histórico brasileiro contemporâneo, que tem demandado do sujeito um olhar vigilante, desconfiado/duvidoso de discursos e práticas discursivas centrípetas, cuja finalidade é provocar movimentos axiológico-ideológicos das vozes que circulam em nosso espaço-tempo, num trajeto sinuoso que vai do silenciamento delas à deturpação total de seus sentidos historicamente consolidados. Tecidas essas considerações preliminares, passo à apresentação de alguns pressupostos teóricos.

1 Algumas notas sobre relações dialógicas

As relações dialógicas são extralinguísticas. Ao mesmo tempo, porém, não podem ser separadas do campo do discurso, ou seja, da língua enquanto fenômeno integral concreto. A linguagem só vive na comunicação dialógica daqueles que a usam. É precisamente essa comunicação dialógica que constitui o verdadeiro campo da vida da linguagem (BAKHTIN, 2005, p.183BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.).

Encontramos já nas formulações mais iniciais de Bakhtin (como em POD, de 1929) elementos programáticos para a postulação de uma visão sobre a língua que transcende em muito o escopo dos estudos linguísticos de seu tempo. Tanto em POD (1997 [1929]) como em sua edição revisada PPD (2005 [1963]), o autor desenvolve a tese do romance polifônico mediante análise de um modo particular de Dostoiévski de dispor e de conceber a dinâmica das vozes em seu processo criativo. Nesse sentido, afirma Bakhtin:

[...] temos em vista o discurso, ou seja, a língua em sua integridade concreta e viva e não a língua como objeto específico da linguística, obtido por meio de uma abstração absolutamente legítima e necessária de alguns aspectos da vida concreta do discurso (2005, p.181).

Essa ruptura com a forma de compreender a língua traz consequências muito mais complexas para a abordagem das formas de interação socioverbal. Isso porque não tomará a língua como objeto de estudo da linguística formulada nos moldes saussurianos, mas as relações dialógicas como objeto de uma disciplina cujos limites extrapolam os da linguística, ou seja, uma metalinguística, cujo objetivo seria dar conta dos aspectos da vida da linguagem que a linguística, ainda que de modo legítimo, não conseguiu ou não pretendeu.

Entretanto, é preciso considerar, conforme defende o próprio Bakhtin, que as relações dialógicas são de natureza extralinguística, isto é, elas remetem para algo exterior à língua, ao mesmo tempo, como se sabe, que não se desprendem dela enquanto fenômeno integral concreto. Evidentemente, elas não existem sem as relações lógicas e concreto-semânticas, mas não se limitam a estas. Não há nem pode haver relação dialógica nem entre os elementos e unidades da língua, como na morfologia ou na sintaxe, nem mesmo entre os textos, se os considerarmos em sua dimensão estritamente linguística. As relações dialógicas ocorrem apenas entre enunciados concretos relativamente integrais, tendo como requisito fundamental o fato de expressarem a posição axiológica de seus enunciadores, conforme ensina o próprio Bakhtin:

[...] o enfoque dialógico é possível a qualquer parte significante do enunciado, inclusive a uma palavra isolada, caso esta não seja interpretada como palavra impessoal da língua, mas como signo da posição semântica de um outro, como representante do enunciado de um outro, ou seja, se ouvirmos nela a voz do outro. Por isso, as relações dialógicas podem penetrar no âmago do enunciado, inclusive no íntimo de uma palavra isolada se nela se chocam dialogicamente duas vozes [...] (2005, p.184; destaque meu).

Ainda conforme Bakhtin (2005)BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005., as relações dialógicas se definem por algumas especificidades: (i) devem discutir entre si, ou seja, devem travar uma discussão acerca do objeto que abordam; (ii) devem expressar necessariamente a posição axiológica de duas (ou mais) consciências, de modo a demarcar o juízo de valor – de forma explícita ou não – que assumem; e (iii) devem ter autor, isto é, criador do enunciado, “[...] uma posição determinada diante da qual se pode reagir dialogicamente” (BAKHTIN, 2005, p.184BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.). Essas particularidades estão imbricadas e constituem o modo de se observar o funcionamento da linguagem em diferentes esferas da comunicação, e não apenas na esfera estética.

O arremate dessas considerações acerca das relações dialógicas aparece, em PPD, no capítulo cinco (O discurso em Dostoiévski), em que Bakhtin apresenta “algumas observações metodológicas prévias”, abrangendo vários fenômenos estudados por ele nessa seção sob o conceito de discurso bivocal, que, em linhas gerais, diz respeito ao fato de a palavra estar voltada, ao mesmo tempo, para o objeto do discurso enquanto palavra comum e para o discurso de um outro. Dentre as formas de discurso bivocal, destaco a polêmica (aberta/velada), sobre a qual passo a discorrer.

2 Na sinfonia das vozes, a polêmica nossa de cada dia

A maneira individual pela qual o homem constrói seu discurso é determinada consideravelmente pela sua capacidade inata de sentir a palavra do outro e os meios de reagir diante dela (BAKHTIN, 2005, p.197; destaque meuBAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.).

Em POD e em PPD, Bakhtin propõe uma classificação dos tipos de discurso em três grandes grupos, embora não a considere exaustiva, dada a complexidade dos modos de orientação centrada no discurso do outro. O primeiro e segundo grupos, quais sejam, o discurso referencial (direto e imediatamente orientado para o seu referente) e o discurso objetificado (discurso da pessoa representada), caracterizam-se como discursos monovocais, com predomínio da palavra do autor. Já o terceiro grupo compreende uma série de fenômenos que têm no discurso do outro seu modo de existência, isto é, todas as formas em que “[...] a palavra do outro tem duplo sentido, voltado para o objeto do discurso enquanto palavra comum e para um outro discurso, para o discurso de um outro” (BAKHTIN, 2005, p.185; destaque do autorBAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.). A noção de polêmica, aberta ou velada, aparece, nessas obras, ao lado de outros conceitos sobre os quais Bakhtin (2005)BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. se debruçou, tais como estilização, paródia, skaz e diálogo. Meu enfoque recairá sobre a polêmica por questões de recorte do objetivo traçado para esta reflexão.

Não basta assumir, com Bakhtin, que todo discurso é, por natureza, dialógico, mas é o caso de analisar as formas mediante as quais ocorrem as interações entre os enunciados no tecido social e, certamente, a polêmica constitui uma dessas formas que mobilizo para pensar, em meio a uma vigorosa tensão entre forças centrífugas e centrípetas da vida verbo-ideológica, o quanto é indispensável a atenção para o movimento das vozes nos/sob/sobre discursos.

Nesse sentido, a polêmica velada, por exemplo, diz respeito ao modo como, de forma não (tão) ostensiva, o autor do enunciado imprime um tom valorativo a um determinado objeto de discurso que já se encontra valorado por outra instância axiológica, um outro julgamento de valor acerca daquilo que se enuncia, revestido de outros acentos apreciativos. Há, nesse caso, um discurso em que se ouvem duas vozes, com matizes entonacionais valorativos diferentes. Na polêmica, duas consciências, dois centros de valores se (des)encontram, cada um(a) com sua visão de mundo acerca do tema sobre o qual enuncia. Bakhtin, ao tratar desse conceito, afirma:

[...] a polêmica velada está orientada para um objeto habitual, nomeando-o, representando-o, enunciando-o, e só indiretamente ataca o discurso do outro, entrando em conflito com ele como que no próprio objeto. Graças a isto, o discurso do outro começa a influenciar de dentro para fora o discurso do autor. É por isso que o discurso polêmico oculto é bivocal, embora neste caso seja especial a relação recíproca entre as duas vozes. A ideia do outro não entra “pessoalmente” no discurso, apenas se reflete neste, determinando-lhe o tom e significação. O discurso sente tensamente ao seu lado o discurso do outro falando do mesmo objeto [...] (2005, p.196; destaque meu).

Entendido dessa forma, o discurso autoral inscreve necessariamente o outro em sua [do autor] materialidade, convocando o interlocutor a um embate cujo reconhecimento e compreensão, por parte deste, são possíveis por meio do presumido, que pode ser, como ensina Volóchinov ([1926] 2019)VOLOCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica. In: VOLOCHINOV, Valentin (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019 [1926]., desde o presumido da família, da comunidade até o da nação. Em casos específicos como os retratados nos enunciados concretos em análise a seguir, que abordam a atual gestão política do Brasil, esse aspecto é importante porque o sujeito compartilha um contexto sócio-histórico pulverizado de discursos que se hostilizam, dada a polarização das posições axiológicas que compõem a arena enunciativa.

Essa forma como os enunciados se constituem e se organizam estilística e composicionalmente no corpo social é fundamental, do ponto de vista do leitor ou do ouvinte, para a concepção de um sujeito sem álibi em sua existência (cf. Bakhtin, 2010), um sujeito responsável por seu ato único e singular de responder ativamente às valorações que vão se impregnando nos fios discursivos dos enunciados que lê/vê/ouve. Sua função precípua, nesse sentido, é a de desvelar esses fios, compreendendo como duas consciências formulam seus juízos de valor acerca do mesmo objeto de que falam. É como se o discurso estivesse sempre olhando para seu outro, ou como diz Bachtin (1997, p.220)BACHTIN, M. M. Problemi dell”opera di Dostoevskij (1929). Introduzione, traduzione e commento di Margherita De Michiel. Presentazione di Augusto Ponzio. Bari: Edizioni dal Sud, 1997. [1929], um discurso com mirada em torno:

É como se no discurso estivesse encravada a réplica do outro, que, diga-se de passagem, inexiste de fato, mas cuja ação provoca uma brusca reestruturação acentual e sintática do discurso. A réplica do outro inexiste mas projeta sua sombra e deixa vestígios sobre o discurso, e essa sombra e esse vestígio são reais (1997, p.20; tradução livre)3 3 Na tradução italiana: “È come se nel discorso si incuneasse la replica altrui, che di fatto, è vero, manca, ma la cui azione produce uma netta ricostruzione dell”acento e della sintassi del discorso. La replica altrui non c’è, mas sul discorso giace la sua ombra, la sua traccia, e quest’ombra, questa traccia, sono reali”. .

A polêmica velada caracteriza-se, na concepção bakhtiniana, como um discurso de natureza conflituosa, em que se pode observar, tanto nos arranjos da composição e do estilo – das formas gramaticais mobilizadas, do léxico selecionado – quanto nos tons emotivo-volitivos e acentos apreciativos, a influência hostil que esse discurso provoca na consciência do sujeito que também fala do mesmo objeto. É como Bakhtin explica:

[...] na polêmica velada o discurso do outro é repelido e essa repelência não é menos relevante que o próprio objeto que se discute e determina o discurso do autor. Isso muda radicalmente a semântica da palavra: ao lado do sentido concreto surge um segundo sentido – a orientação centrada no discurso do outro. Não se pode entender de modo completo e essencial esse discurso, considerando apenas a sua significação concreta direta. O colorido polêmico do discurso manifesta-se em outros traços puramente linguísticos: na entonação e na construção sintática (2005, p.196).

Feitas essas considerações acerca do conceito de polêmica, proponho a leitura dos enunciados seguintes com o fito de demonstrar como essa noção, por um lado, reverbera, possivelmente, um (dentre outros possíveis) cronotopo vivenciado por Bakhtin – com todas as perplexidades de seu tempo, de sua conjuntura política e ideológica – e, por outro, como evoca, contemporaneamente, de forma imperativa, a necessidade de uma leitura atenta dos eventos históricos brasileiros, de modo a observar com nitidez as ambivalências e as movências dos posicionamentos axiológicos de uma época inscritos num mesmo enunciado acerca de um (mesmo) objeto de discurso.

3 Movimento das vozes em dois enunciados concretos verbo-visuais midiáticos: a polêmica em foco

Para refletir sobre o fenômeno da polêmica, analiso o movimento das vozes que se super/sobrepõem na materialidade verbo-visual midiática que é a postagem de Facebook com temática religiosa. Não pretendo aqui tecer uma discussão teórica acerca do gênero discursivo em análise, sendo suficiente o fato de que o considero a partir de uma perspectiva dialógico-discursiva. Nas duas postagens de Facebook que constituem o corpus4 4 Uso o termo “corpus”, bastante saturado no universo da pesquisa positivista, apenas para situar o conjunto de dados que analiso. Contudo, tenho consciência, a partir do aporte bakhtiniano, de que se trata de enunciados concretos – produzidos ou veiculados por sujeitos sociais e históricos, igualmente concretos – que difundem pontos de vista acerca de algum objeto de discurso. deste trabalho, há a presença predominante de uma materialidade estilística mais voltada à crítica, à provocação do dissenso, o que contribui para acentuar o caráter polêmico dos enunciados. Com base nessas considerações, apresento a análise da primeira postagem.

Figura 1
Postagem que retrata o tema da proposta do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de comemorar/celebrar o golpe civil-militar de 1964.

Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2003219339788576&set=p.2003219339788576&type=3&theater


O enunciado acima foi retirado da página do Pastor João Paulo Berlofa (é assim que ele se identifica) na rede social Facebook. É uma página que trata, predominantemente, de assuntos relacionados à religião, numa perspectiva marcada por uma conotação parodística/sarcástica/irônica. Como está registrado no perfil, é uma página direcionada “Para quem se sente INADEQUADO para o sistema religioso convencional”. Portanto, é comum o leitor-espectador encontrar postagens cujo conteúdo e tratamento aparecem com tons valorativos inclinados ao riso, ao humor, à irreverência.

Na materialidade do enunciado, observamos uma parte verbal, ocupando mais o canto esquerdo, com letras brancas, em caixa alta, em tamanho relativamente grande se considerarmos o conjunto do enunciado, em que está escrito o seguinte: “ou você comemora a morte e ressurreição do Cristo, ou comemora um estado violento e torturador. Os dois, não dá.” Na outra maior parte do enunciado, temos a imagem de um homem bastante machucado, ensanguentado, com pele dilacerada, amarrado a uma espécie de tronco de madeira por correntes e algemas de ferro, com semblante de sofrimento, numa referência direta ao cristianismo, na figura de Jesus Cristo.

Na polêmica velada, ouvimos os sussurros, os ecos, as reverberações de vozes outras que despertam na consciência do discurso autoral as mais diversas reações, concordantes ou dissonantes acerca de determinado objeto de discurso. Considerando as relações dialógicas que o enunciado mantém com outros na complexa cadeia da comunicação discursiva, podemos afirmar, com Bakhtin, que até mesmo uma única palavra é suficiente para desvelar os fios que tecem essa teia enunciativa. Afirma o autor:

As relações dialógicas são possíveis não apenas entre enunciações integrais (relativamente), mas o enfoque dialógico é possível a qualquer parte significante do enunciado, inclusive a uma palavra isolada, caso esta não seja interpretada como palavra impessoal da língua, mas como signo da posição semântica de um outro, como representante do enunciado de um outro, ou seja, se ouvimos nela a voz do outro (BAKHTIN, 2005, p.184; destaque nossoBAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.).

Essa citação é emblemática para a leitura das relações dialógicas – e, consequentemente, da polêmica – que se instauram neste enunciado verbo-visual. Evidentemente, isso ocorre no enunciado integral, considerando todo o hibridismo dele e não apenas uma parte da materialidade. Entretanto, já no início do enunciado verbal, constatamos, na própria estrutura sintática, o elemento desencadeador da polêmica, quando o autor utiliza, do ponto de visto estilístico-composicional, a construção do período composto por coordenação, com uso de conjunções coordenativas alternativas. Para o leitor que não compartilhe do presumido do enunciado, talvez não faça muito sentido a encruzilhada que o autor apresenta a seu interlocutor, mas o efeito dessa oferta de escolha de uma opção adquire maior clareza quando se considera o contexto político e, particularmente, o fato retratado.

Na semana de 25 a 31 de março de 2019, um tema controverso, que dominou os meios de comunicação e as redes sociais, foi a inciativa do governo federal de celebrar os 55 anos do regime militar vivenciado no Brasil no período de 1964 a 1985. O atual Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, orientou, por meio de uma ordem do dia, escrita e expedida pelo Ministério da Defesa, que quartéis celebrassem o evento de março de 1964, o que é inédito nos últimos 20 anos, desde que a pasta foi criada, em junho de 19995 5 Cf. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/03/ordem-para-celebrar-golpe-e-inedita-nos-ultimos-20-anos-e-incomoda-tambem-militares.shtml . A decisão do Presidente agradou a uma ala dos militares, que pretendia compor uma versão própria acerca do golpe militar, encarando-o como uma revolução em meio à Guerra Fria, mas também desagradou aos militares que viam aí uma possível divisão do país.

Como é do presumido da nação, uma parte da igreja cristã brasileira, em seus segmentos protestante (particularmente, os evangélicos pentecostais e neopentecostais) e católico, apoiou significativamente a eleição do hoje eleito Presidente Jair Bolsonaro, bem como aprova até então a agenda político-econômica (bem como outras pautas) do governo em seus mais diversos aspectos, conforme se pôde/pode constatar na grande mídia e nas redes sociais em geral. Nesse sentido, voltando à leitura do enunciado em análise, o autor coloca diante do leitor a impossibilidade ou a incompatibilidade de se celebrarem os dois acontecimentos, ambos concebidos como verdadeiros e históricos, isto é, tanto a morte e ressurreição de Cristo, objeto de fé do cristianismo, quanto a ditadura militar, que torturou pessoas durante seu período de existência. Um aspecto curioso e até cômico é que a impressão que se tem é de que uma parte desse segmento parece acreditar na morte e ressureição de Cristo, matéria de fé, portanto, mas não no fato de que tenha ocorrido na história do Brasil um regime de intervenção chamado “ditadura”; ou, pelo menos, esse grupo parece silenciar esse fato.

O autor do enunciado problematiza a postura de parte da igreja na aceitação e adesão à ideia de celebração de um momento da história do país considerado nefasto por uma série de acontecimentos que vão do impedimento da liberdade de expressão até torturas e assassinatos daqueles que se opunham ao regime. Por essa razão, o autor questiona, pela construção verbal formulada, e também pela imagem do Cristo sofrido, a postura dessa parte da igreja. Tem-se aí instalada a polêmica, um tipo de discurso em que, ainda segundo Bakhtin,

[...] o autor está orientado para o seu objeto, como qualquer outro discurso; neste caso, porém, qualquer afirmação sobre o objeto é construída de maneira que, além de resguardar seu próprio sentido objetivo, ela possa atacar polemicamente o discurso do outro sobre o mesmo assunto e a afirmação do outro sobre o mesmo objeto (2005, p.196; destaque meu).

A imagem de Cristo em seu sofrimento remete a signos linguísticos que orbitam no próprio enunciado, como é o caso da “tortura”, numa leitura de que a contradição estaria no fato de os cristãos apoiarem a celebração de um tipo de prática similar (tortura) à que levou Jesus à morte. O tom valorativo de crítica impregna o enunciado na medida em que o autor da postagem coloca em xeque a própria fé e corpo de doutrinas que a religião cristã professa, apontando uma incoerência ou contradição em sua postura de assumir a comemoração do golpe civil-militar brasileiro de 1964.

A relação crítica/tensa/conflituosa com esse discurso outro se dá em direção ao segmento social religioso, principalmente se considerarmos que a maior parte do enunciado é ocupada pela imagem de Cristo em seu martírio, isto é, reiterando as palavras de Bakhtin: “O discurso sente tensamente ao seu lado o discurso do outro falando do mesmo objeto [...]” (2005, p.196). E, nesse caso específico, o discurso do outro (religioso) falando sobre esse evento da história do país, certamente causa rejeição, indignação e outros possíveis tons emotivo-volitivos afins, conforme expressão do autor do enunciado. É como se nessas palavras o autor já antecipasse aqui sua repulsa ao discurso da igreja acerca desse objeto.

A polêmica velada pode ainda, a nosso ver, constituir uma forma de despistar o leitor menos atento acerca de determinados temas sociais/históricos. Pode-se, por meio dela, dizer o que numa determinada época é passível de qualquer possibilidade de interdição, censura ou algo semelhante, como forma de minimizar o possível enfrentamento direto com o discurso de outrem. Sobre isso, Bakhtin bem observa:

O discurso direto do autor não é possível em qualquer época, nem toda época possui estilo já que este pressupõe a existência de pontos de vista autorizados e apreciações ideológicas autorizadas e duradouras. [...] Onde não há uma forma adequada à expressão imediata das ideias do autor tem-se de recorrer à refração dessas ideias no discurso de um outro. Às vezes as próprias tarefas artísticas são tais que geralmente só podem ser realizadas por meio do discurso bivocal (2005, p.192; destaque meu).

Embora a asserção acima referencie o discurso estético literário, é possível estender essa reflexão a qualquer enunciado de outra esfera discursiva. No caso da postagem, por exemplo, o projeto enunciativo do autor concretiza-se sob a forma da polêmica já analisada aqui.

Passo, agora, à análise do segundo enunciado selecionado para composição do corpus deste trabalho.

Figura 2
Postagem que ret(f)rata o jejum nacional conclamado pelo Presidente Jair Bolsonaro para o dia 05 de abril de 2020.

Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2700524730058030&set=p.2700524730058030&type=3&theater. Acesso em: 19/05/2020


A postagem acima também foi veiculada pelo Pastor João Paulo Berlofa em sua rede social Facebook, no dia 04 de abril de 2020, um dia anterior ao evento propagado. O enunciado é constituído predominantemente de elementos verbais, distribuídos em três partes: na superior, há uma espécie de cabeçalho, elaborado numa arte de cor predominantemente azul, num dégradé que vai do azul claro ao roxo e no qual aparece a palavra “GARAGEM”GARAGEM Local Prayers. Disponível em https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem Acesso em 20-04-2019.
https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das...
, em letras maiúsculas, brancas, de forma discreta. Na parte central do enunciado, há um texto escrito em letras maiúsculas de cor azul, com os seguintes dizeres: “o jejum que Deus quer que você faça é comer e consumir menos todos os dias para ter mais o que dividir com os necessitados. Ficar sem comer apenas um dia não passa de um teatrinho”. Por fim, no canto inferior direito da figura, encontra-se a expressão “@GARAGEM_MOGI”GARAGEM Local Prayers. Disponível em https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem Acesso em 20-04-2019.
https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das...
, escrita com letras maiúsculas, em cor azul e em tamanho menor que as demais palavras da imagem.

O leitor não familiarizado com o conteúdo postado e nem com o perfil da página do Pastor Berlofa, possivelmente, não compreenderá o sentido da palavra garagem, que aparece por duas vezes na imagem. Entretanto, para a atribuição de sentidos ao enunciado veiculado, faz-se necessário entender que se trata do nome da igreja, de profissão de fé cristã, liderada pelo referido pastor. A igreja mantém uma página6 6 https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem na internet na qual divulga conteúdo referente às atividades desenvolvidas, quer eclesiásticas, quer sociais, todas fundamentadas na perspectiva teológica e ideologia política que a igreja assume defender, as quais se inscrevem num campo progressista de cosmovisão de mundo. Essa igreja, segundo informações disponíveis no próprio site, é um dos pilares de um tripé composto de “[...] três trabalhos diferentes, porém coligados e embasados em uma mesma raiz – o Evangelho do Cristo”7 7 https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem , quais sejam, A Garagem8 8 “A GARAGEM é a nossa igreja! Quando olhamos para nossa fé (de forma inadequada), sentimos a necessidade de vivermos essa experiência que Jesus chamou de IGREJA. Um espaço de comunhão, de acolhimento, de ajuda mútua, de reflexão e de aprendizagem. A GARAGEM é a nossa casa, ou seja, o lugar onde os inadequados se reúnem em nome de Jesus. Mas não pense que é uma igreja comum. A Garagem é uma igreja inadequada, que não segue os padrões tradicionais de liturgia, púlpito, pregação, louvor, hierarquia e essas coisas. Só vendo para entender”. (Disponível em: https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem. Acesso em: 22 de maio de 2020). , o Inadequados9 9 Já mencionado na análise do enunciado da figura 1, “O ‘INADEQUADOS’ é a nossa cosmovisão! Nossa teologia, nossa ideologia política, nossa forma de ver e compreender o mundo, nossa espiritualidade, nossa forma de lidar com as questões da nossa fé, tudo isso é inadequado. Ou seja, o "INADEQUADOS" é um movimento de crítica teológica, eclesiástica, social e política. É a nossa essência, nossa raiz, nossa alma. É o que embasa tudo o que fazemos”. (Disponível em: https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem. Acesso em: 22 de maio de 2020).⠀ e O Coletivo.10 10 “O COLETIVO é o nosso trabalho! Quando experimentamos essa proposta de Jesus chamada igreja, é impossível ficarmos apenas das portas para dentro. A igreja do Cristo extravasa as quatro paredes. Não existe Igreja que não atue de forma direta e relevante na sociedade. E para fazermos isso de forma efetiva, começamos o Coletivo Inadequados, um projeto de impacto social. Atuamos diretamente dentro de uma comunidade carente com mais de 70 mil pessoas, promovendo dignidade humana, fomentando arte e cultura, e cobrando as autoridades para cumprirem com suas responsabilidades em relação à comunidade”. Disponível em: https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem. Acesso em: 22 de maio de 2020).

Para o leitor entender o sentido do enunciado em análise, é preciso restabelecer os fios dialógicos que compõem esse tecido, uma vez que é da natureza do enunciado responder sempre a outro(s). Em se tratando do discurso polêmico, a palavra aparece bivocalizada, podendo-se ouvir vozes sub/sobrescritas,

Ora, todo discurso concreto (enunciado) encontra o objeto para o qual se volta sempre, por assim dizer, já difamado, contestado, avaliado, envolvido ou por uma fumaça que o obscurece ou, ao contrário, pela luz de discursos alheios já externados a seu respeito. Ele está envolvido e penetrado por opiniões comuns, pontos de vista, avaliações alheias, acentos. O discurso voltado para o seu objeto entra nesse meio dialogicamente agitado e tenso de discursos, avaliações e acentos alheios, entrelaça-se em suas complexas relações mútuas, funde-se com uns, afasta-se de outros, cruza-se com terceiros; e tudo isso pode formar com fundamento o discurso, ajustar-se em todas as suas camadas semânticas, tornar complexa sua expressão, influenciar toda a sua feição estilística (BAKHTIN, 2015, p.48BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: a estilística. Tradução, prefácio, notas e glossário de Paulo Bezerra; organização da edição russa de Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2015.).

Nesse caso, a alteridade constitutiva imediata a que ele se reporta, de forma polêmica, diz respeito a um jejum religioso nacional convocado pelo Presidente Jair Bolsonaro, com data marcada para o dia 05 de abril de 2020, com o objetivo de conduzir esse segmento religioso a um período de jejum e orações em prol da situação vivenciada no país com o surto da pandemia de coronavírus (Covid-19). O Presidente da República e variadas lideranças evangélicas de diferentes denominações do país aparecem em um vídeo11 11 O vídeo foi produzido pela TVGET, Canal de TV pertencente à Igreja Batista Getsêmani de Belo Horizonte, MG, instituição liderada pelo Pastor Jorge Linhares. O vídeo tem 04 minutos e 32 segundos de duração e foi amplamente veiculado em várias mídias digitais (ver, por exemplo a versão divulgada no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=MV7vR1ZX19Q). convocando a população religiosa a aderir à campanha.

A parte central do enunciado estabelece uma relação polêmica com a campanha já a partir da própria estruturação estilístico-composicional do primeiro período (o jejum que Deus quer que você faça é comer e consumir menos todos os dias para ter mais o que dividir com os necessitados – em itálico e maiúsculas no original). É possível notar, nesse fragmento, um tom emotivo-volitivo de contraposição à argumentação utilizada pelo vídeo da campanha para a realização de tal ato. O autor enuncia de um lugar que parece encerrar o outro (os organizadores e adeptos da convocação) numa grande contradição, num flagrante de grande hipocrisia, pois estaria promovendo um evento religioso que parece não encontrar fundamento no próprio horizonte socioideológico que abriga tal ideia. Em outras palavras, é como se o autor acusasse seu interlocutor de estar propondo algo incompatível com os próprios princípios que alicerçam a cosmovisão professada (o que poderia ser enunciado em termos de uma negação: o jejum que Deus quer que você faça não é o X, mas o Y).

Essa interpretação encontra respaldo se desvelarmos outro fio dialógico que sustenta as entrelinhas assumidas por seu enunciador, o que torna o efeito da polêmica velada ainda mais sutil, uma vez que

[...] a PV [polêmica velada] não encontra propriamente limites sintáticos precisos, mas, por meio da bivocalidade semântica contrastiva, congrega posicionamentos axiológicos díspares, caracterizados pela bivocalidade ou plurivocalidade discursivas. (VELOSO, 2011, p.31VELOSO, S. R. A. Polêmicas discursivas: refrações da palavra do outro na arena do Roda Viva. Bakhtiniana, São Paulo, v. 1, n.5, p.20-33, 1º semestre 2011.).

A afirmação do autor de que o verdadeiro jejum estaria no fato de o fiel consumir menos alimento para poder dividir com os necessitados poderia convergir para uma ideia de crítica social, ou seja, uma forma de chamar a atenção do segmento alvo da campanha para o fato de que, enquanto ele se priva de alimento por uma motivação religiosa (busca por uma intervenção sobrenatural para o fim da pandemia), milhares de pessoas não têm sequer o que comer. Todavia, adentrando o horizonte ideológico que circunscreve os entornos extraverbais da esfera que abriga este enunciado, é possível extrapolar essa possível leitura de crítica social. Nesse sentido, é necessário recorrer ao universo judaico-cristão para entender essa polêmica. Comecemos, então, por um texto sagrado da escritura judaico-cristã, a Bíblia Sagrada, particularmente no livro do profeta Isaías, capítulo 58 e versículos de 5 a 7:

5Por acaso é este o jejum que escolhi, o dia em que o homem se mortifique? Por acaso a esse inclinar de cabeça como um junco, a esse fazer a cama sobre pano de saco e cinza, acaso é a isso que chamas jejum e dia agradável a Iahweh? 6Por acaso não consiste nisto o jejum que escolhi: em romper os grilhões da iniquidade, em soltar as ataduras do jugo e pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar todo o jugo? 7Não consiste em repartir o teu pão com o faminto, em recolheres em tua casa os pobres desabrigados, em vestires aquele que vês nu e em não te esconderes daquele que é tua carne? (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002, p.1347).

O contexto do fragmento retrata, segundo a tradição bíblica judaico-cristã12 12 Cf. Bíblia de Jerusalém (2002). , a mensagem de Deus ao seu povo, por intermédio do profeta Isaías, acerca do pedido de resposta ao silêncio de Deus a despeito do jejum e da busca por Ele. Na narrativa, Deus repudia a contradição vivenciada pelo povo em querer se aproximar mais dele, porém vivendo de uma forma incoerente com os preceitos de Sua lei. Segundo o texto, Deus teria reprovado o comportamento do seu povo por, aparentemente, apresentar uma conduta piedosa, pautada pelos fundamentos da tradição da lei, mas, na prática, na essência, regida pela indiferença no relacionamento com o próximo, como era, por exemplo, o caso da exploração dos trabalhadores.

O conhecimento do conteúdo do texto bíblico permite-nos enxergar com maior nitidez o conflito que se estabelece entre os enunciados em questão: a postagem de A Garagem e o vídeo da campanha do jejum nacional. Isso acontece porque o autor do enunciado (postagem de Facebook) apanha seu outro numa possível contradição do emprego dos pressupostos teológicos da interpretação que este outro faz da escritura sagrada, ou seja, o jejum aprovado por Deus seria aquele que resultasse no bem-estar social e econômico do próximo e não, ao contrário, aquele cuja preocupação fosse a mera prática de um rito religioso (cf. verso 5). Desse modo, o autor da postagem denuncia, de forma não tão ostensiva, uma possível atitude hipócrita por parte daqueles que se propõem a elevar suas preces a uma divindade e a praticar o ritual do jejum sem, de fato, considerar as condições de existência/(sobre)vivência de seus semelhantes.

Saindo do contexto do Primeiro Testamento bíblico, há outras passagens bíblicas que corroboram a tese de que a prática do amor e da justiça ao próximo se sobrepõe aos ritos outrora estabelecidos por Deus a seu povo. Se buscarmos no Segundo Testamento, encontraremos na figura do próprio Cristo orientações acerca do jejum as quais se coadunam ao que foi apresentado pelo profeta Isaías, no texto já elucidado.

Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuardes, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (Mt. 6.16-18).

O texto acima compõe um enunciado bastante conhecido do contexto religioso cristão, o sermão do monte (ou da montanha), que consiste numa série de ensinamentos de Jesus acerca de variados temas, registrados pelo evangelista Mateus. Nesse fragmento do capítulo 6, em que se abordam questões pertinentes à prática da justiça, Jesus trata do jejum, uma prática piedosa que deveria ser feita de modo reservado, discreto, sem que fosse notado pelas pessoas; o contrário revelaria uma postura hipócrita em se querer mostrar uma religiosidade com motivações exibicionistas. A piedade judaica consistia em três tipos de atos de justiça: doação, oração e jejum. Nos ensinos do Cristo, esses atos só teriam seu devido valor se fossem praticados observando-se a devoção e a submissão a Deus, e não como forma de obter prestígio por parte de outras pessoas.

A polêmica se instaura aí a partir do momento em que o autor da postagem censura a intenção dos organizadores da campanha do jejum numa conjuntura de grave crise de saúde pública, com fortes consequências econômicas, sobretudo para os menos favorecidos. Nesse sentido, soaria dissonante a proposição de realização de uma prática ritualística por parte desse segmento, enquanto milhares de pessoas padecem da falta das condições básicas de vida, como o alimento. Essa crítica é corroborada pela parte final do enunciado da postagem (Ficar sem comer apenas um dia não passa de um teatrinho), em que o autor se utiliza de um tom emotivo-volitivo sarcástico materializado na palavra teatrinho (forma diminutiva de teatro), valorando de forma negativa os adeptos da campanha. Nesse sentido, estabelece-se aí uma relação entre teatrinho e hipocrisia, considerando-se que, assim como no teatro o sujeito interpreta uma personagem, ou seja, ele não é aquilo que vive no palco, na hipocrisia ocorre algo semelhante, isto é, o sujeito aparenta ser o que não é.

Passo, a seguir, para algumas considerações decorrentes das leituras desses enunciados.

Considerações finais

As reflexões tecidas neste breve espaço não dão conta de toda a complexidade e produtividade do fenômeno da polêmica, concebida aqui a partir de Bakhtin, como uma palavra bivocalizada em que se (des/re)encontram vozes cujos posicionamentos axiológicos divergem/se repelem, como bem mostrou Bakhtin em suas análises do discurso estético dostoievskiano.

Entretanto, meu intuito avança, conforme já anunciado na introdução, na medida em que aponto dois aspectos da produtividade deste conceito. O primeiro diz respeito à possibilidade de abordá-lo em enunciados de outras esferas discursivas, como a midiática (e essa em relação dialógica com as esferas religiosa e política), conforme a natureza do enunciado que mostrei, a postagem. E esse aspecto se aplica à leitura dos dois enunciados feita aqui neste trabalho. O segundo aponta, particularmente, para dois fatos muito recorrentes nos discursos dessas postagens, os quais passo a discorrer a seguir.

No caso do primeiro enunciado, destaco a forma como, nessa polêmica, algumas vozes refratam visões de mundo que, historicamente vivenciadas, trouxeram grandes infortúnios a nossa sociedade. Aqui, refiro-me especificamente ao fato real, concreto e até oficial da celebração de um momento histórico do Estado brasileiro em que milhares de vozes foram abafadas, cindidas, renegadas, usurpadas, enfim, temporária ou definitivamente, silenciadas! A polêmica instaurada no primeiro enunciado problematiza um tema muito caro à história política do Brasil, que se concretiza – e se atualiza, discursivamente – em uma materialidade híbrida que congrega uma dispersão aparentemente contida, ou ainda, adormecida (a memória de um capítulo triste de nossa história, isto é, o da tortura na ditadura militar de 1964, no Brasil), mas cujos lampejos parecem despertar uma vontade enunciativa de retorno a esse passado valorado de forma muito negativa.

No caso do segundo enunciado, o modo como seu autor descortina uma falsa religiosidade, uma moralidade cristã distanciada de seus possíveis reais e autênticos pressupostos, quais sejam, os do cuidar do próximo em suas necessidades essenciais de sobrevivência. Nesse sentido, ele polemiza com seu outro no terreno em que ambos se inscrevem (considerando tanto o objeto de discurso quanto o(s) discurso(s) sobre esse objeto), e em posições divergentes, evidentemente, por meio de uma leitura hermenêutica diferente da concepção de jejum. Mediante a polêmica, o autor da postagem delimita sua posição axiológica em relação ao evento, estabelecendo aí uma resistência a um discurso que, neste momento sócio-histórico, apresenta-se de forma hegemônica, motivado por forças centrípetas da comunicação socioideológica.

A polêmica velada, como uma das formas de manifestação do discurso bivocal, revela-se como um conceito muito propício na contemporaneidade para se pensar a forma (estilístico-composicional e axiológica) como os sujeitos demarcam seus posicionamentos valorativos, seus pontos de vista em suas interações sociais. Em um ambiente virtual extremamente inflamado por uma polarização político-religiosa, mediada pelas redes sociais, a exemplo do que demonstramos, vê-se cada vez mais a necessidade de se desenvolverem análises enunciativas capazes de descrever e interpretar o funcionamento discursivo dos enunciados que orbitam essa esfera da comunicação socioverbal.

Notes

  • 1
    Trabalho, aqui, com a versão italiana publicada em 1997, com introdução, tradução e comentário de Margherita De Michiel e apresentação de Augusto Ponzio. Esse texto foi publicado pela Edizioni dal Sud, Bari, Itália.
  • 2
    Trabalho, aqui, com a versão em português traduzida diretamente do russo por Paulo Bezerra, publicada em 2005 pela editora Forense Universitária.
  • 3
    Na tradução italiana: “È come se nel discorso si incuneasse la replica altrui, che di fatto, è vero, manca, ma la cui azione produce uma netta ricostruzione dell”acento e della sintassi del discorso. La replica altrui non c’è, mas sul discorso giace la sua ombra, la sua traccia, e quest’ombra, questa traccia, sono reali”.
  • 4
    Uso o termo “corpus”, bastante saturado no universo da pesquisa positivista, apenas para situar o conjunto de dados que analiso. Contudo, tenho consciência, a partir do aporte bakhtiniano, de que se trata de enunciados concretos – produzidos ou veiculados por sujeitos sociais e históricos, igualmente concretos – que difundem pontos de vista acerca de algum objeto de discurso.
  • 5
  • 6
  • 7
  • 8
    “A GARAGEM é a nossa igreja! Quando olhamos para nossa fé (de forma inadequada), sentimos a necessidade de vivermos essa experiência que Jesus chamou de IGREJA. Um espaço de comunhão, de acolhimento, de ajuda mútua, de reflexão e de aprendizagem. A GARAGEM é a nossa casa, ou seja, o lugar onde os inadequados se reúnem em nome de Jesus. Mas não pense que é uma igreja comum. A Garagem é uma igreja inadequada, que não segue os padrões tradicionais de liturgia, púlpito, pregação, louvor, hierarquia e essas coisas. Só vendo para entender”. (Disponível em: https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem. Acesso em: 22 de maio de 2020).
  • 9
    Já mencionado na análise do enunciado da figura 1, “O ‘INADEQUADOS’ é a nossa cosmovisão! Nossa teologia, nossa ideologia política, nossa forma de ver e compreender o mundo, nossa espiritualidade, nossa forma de lidar com as questões da nossa fé, tudo isso é inadequado. Ou seja, o "INADEQUADOS" é um movimento de crítica teológica, eclesiástica, social e política. É a nossa essência, nossa raiz, nossa alma. É o que embasa tudo o que fazemos”. (Disponível em: https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem. Acesso em: 22 de maio de 2020).⠀
  • 10
    “O COLETIVO é o nosso trabalho! Quando experimentamos essa proposta de Jesus chamada igreja, é impossível ficarmos apenas das portas para dentro. A igreja do Cristo extravasa as quatro paredes. Não existe Igreja que não atue de forma direta e relevante na sociedade. E para fazermos isso de forma efetiva, começamos o Coletivo Inadequados, um projeto de impacto social. Atuamos diretamente dentro de uma comunidade carente com mais de 70 mil pessoas, promovendo dignidade humana, fomentando arte e cultura, e cobrando as autoridades para cumprirem com suas responsabilidades em relação à comunidade”. Disponível em: https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem. Acesso em: 22 de maio de 2020).
  • 11
    O vídeo foi produzido pela TVGET, Canal de TV pertencente à Igreja Batista Getsêmani de Belo Horizonte, MG, instituição liderada pelo Pastor Jorge Linhares. O vídeo tem 04 minutos e 32 segundos de duração e foi amplamente veiculado em várias mídias digitais (ver, por exemplo a versão divulgada no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=MV7vR1ZX19Q).
  • 12
    Cf. Bíblia de Jerusalém (2002).

REFERÊNCIAS

  • BACHTIN, M. M. Problemi dell”opera di Dostoevskij (1929) Introduzione, traduzione e commento di Margherita De Michiel. Presentazione di Augusto Ponzio. Bari: Edizioni dal Sud, 1997. [1929]
  • BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
  • BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: a estilística. Tradução, prefácio, notas e glossário de Paulo Bezerra; organização da edição russa de Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2015.
  • BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: a estilística. Tradução, prefácio, notas e glossário de Paulo Bezerra; organização da edição russa de Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. São Paulo: Editora 34, 2015.
  • BRAIT, Beth. Bakhtin: dialogismo e polifonia. São Paulo: Contexto, 2009.
  • GARAGEM Local Prayers. Disponível em https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem Acesso em 20-04-2019
    » https://www.localprayers.com/BR/Mogi-das-Cruzes/645345232609738/Garagem
  • VALENTE, R. Ordem para celebrar golpe é inédita nos últimos 20 anos e incomoda também militares. Folha de S. Paulo, 20/03/2019. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/03/ordem-para-celebrar-golpe-e-inedita-nos-ultimos-20-anos-e-incomoda-tambem-militares.shtml Acesso em 20-04-2019.
    » https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/03/ordem-para-celebrar-golpe-e-inedita-nos-ultimos-20-anos-e-incomoda-tambem-militares.shtml
  • VELOSO, S. R. A. Polêmicas discursivas: refrações da palavra do outro na arena do Roda Viva Bakhtiniana, São Paulo, v. 1, n.5, p.20-33, 1º semestre 2011.
  • VOLOCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica. In: VOLOCHINOV, Valentin (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019 [1926].

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    25 Maio 2020
  • Aceito
    29 Mar 2021
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