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Gestão da Cadeia de Suprimentos Verde: uma Análise da Relação Fornecedor e Agroindústria de uma Empresa do Sul do Brasil

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo analisar a relação fornecedor e agroindústria no quesito práticas de gestão ambiental requeridas, na percepção dos gestores. Esses parceiros também são chamados de fornecedores ou empresas terceirizadas. Essa agroindústria exporta para aproximadamente cento e dez países. É uma das maiores empregadoras privadas do país e possui aproximadamente cento e catorze mil funcionários. O estudo foi desenvolvido em apenas uma unidade industrial, na qual há cento e cinquenta fornecedores cadastrados. Foram selecionados seis fornecedores que prestaram o maior número de serviços para a unidade pesquisada no último ano de trabalho. Trata-se de um estudo de caso, descritivo e cuja abordagem é qualitativa. Foi constatado que as principais práticas realizadas nas empresas avaliadas são em relação à gestão de resíduos sólidos. Apenas duas das empresas pesquisadas possuem a gestão padronizada e adequada dos resíduos gerados em seus processos. Da mesma forma, apenas uma empresa possui práticas positivas em relação ao recurso água. Portanto, este trabalho pode ser considerado um guia para aprimoramento das práticas adotadas pelas pequenas e médias empresas fornecedoras da Alfa. O papel da Alfa é essencial na indução da Green Supply Chain Management na cadeia de suprimentos como um todo.

Palavras-chave:
Green Supply Chain Management; Gestão ambiental; Agroindústria

ABSTRACT

This study aimed to analyze the supplier and agro industry relationship regarding the required environmental management practices in the perception of managers. These partners are also called suppliers or subcontractors. This agro industry exports to about a hundred and ten countries. It is one of the largest private employers in the country and has approximately one hundred and fourteen thousand employees. The study was conducted in only one plant. In this unit there are one hundred and fifty registered suppliers. Six suppliers were selected that provided the greatest number of services for the surveyed unit over the last year of work. It is a case study, descriptive and whose approach is qualitative. We found that the main practices carried out in the evaluated companies are in relation to solid waste management. Only two of the companies surveyed have a standardized management and adequate management of the waste generated in their processes. Similarly, only one company has positive practices in relation to water resources. Therefore, this work can be considered a guide for improving the practices adopted by small and medium-sized suppliers of Alpha. The role of alpha is essential for induction of Green Supply Chain Management in the supply chain as a whole.

Keywords:
Green supply chain management; Environmental management; Agribusiness

1 INTRODUÇÃO

Supply Chain Management (SCM) é uma estratégia que ajuda as organizações a se mover, armazenar, converter e entregar os produtos de forma eficaz e eficiente. É um conceito antigo concebido em 1975. Na década de 90, um novo conceito, denominado de Green Supply Chain Management (GSCM), foi criado e consiste no envolvimento da função de compras em atividades que incluem a redução, reciclagem, reutilização e substituição de materiais (NARASHIMAN; CARTER, 1998NARASIMHAN R.; CARTER, J. R. Environmental purchasing: benchmarking our German counterparts. International Journal of Purchasing and Materials Management, v. 34, n. 4, p. 28-38, 1998.). É um circuito fechado de alimentação em cadeia, com utilização mínima de recursos e é favorável ao meio ambiente (JAIN; SHARMA, 2014JAIN, V. K.; SHARMA, S. Drivers affecting the green supply chain management adaptation: a review. The IUP Journal of Operations Management, V. 13, N. 1, 2014.).

Jain e Sharma (2014)JAIN, V. K.; SHARMA, S. Drivers affecting the green supply chain management adaptation: a review. The IUP Journal of Operations Management, V. 13, N. 1, 2014. destacam que a GSCM é considerada uma parte principal da estratégia organizacional de empresas que querem tornar-se amigas do meio ambiente e socialmente responsáveis, para atender às demandas dos clientes e se ajustar as requisitos legais exigidos pelos governos. Destacam também que são 14 elementos que têm impacto significativo para a implantação do GSCM nas organizações, a saber: pressões dos clientes e da concorrência, regulamentos governamentais, sistema de gestão ambiental de certificação de fornecedor, colaboração ambiental de fornecedores, colaboração com o cliente, responsabilidade social e ética, benefícios para o negócio, pressão dos empregados, exportação e venda a clientes estrangeiros, competição, sustentabilidade de recursos, custos reduzidos, retorno sobre o investimento e fatores organizacionais: compromisso, consciência e experiência são elementos que auxiliam as organizações que precisam lidar com crises financeiras, falta de recursos, mudanças climáticas, impacto ambiental das operações, conscientização do cliente para produtos ecológicos. Outrossim, ao adotarem práticas de GSCM, as organizações podem ser capazes de comunicar de forma mais eficaz para o governo de que elas estão empenhadas em melhoria de seu desempenho ambiental.

Khidir e Zailani (2011)KHIDIR, T. A.; ZAILANI, S. H. M. Greening supply chain through supply chain initiatives towards environmental sustainability. 2011. Disponível em: <http://www.jgbm.org/page/30%20Suhaiza%20Zailani%20.pdf. Retrieved on March 27>.
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destacam que as pressões de regulação e dos clientes podem ser consideradas isomorfismo coercitivo, porque eles se concentram no uso de regras, leis e persuasão como base para o cumprimento. Já a responsabilidade social pode ser considerada isomorfismo normativo, porque se baseia nas expectativas da sociedade, a que as organizações deveriam atender adequadamente. Ter práticas aceitáveis ou benefícios comerciais pode ser considerado isomorfismo cultural-cognitivo porque é baseado no desejo racional de uma empresa em adotar iniciativas que comprovem ter valor técnico em outras organizações. Jain e Sharma (2014)JAIN, V. K.; SHARMA, S. Drivers affecting the green supply chain management adaptation: a review. The IUP Journal of Operations Management, V. 13, N. 1, 2014. salientam que devido à complexidade da GSCM, as organizações precisam mirar na direção certa, definir diretrizes, planejamento e estratégias para alcançar práticas de baixo custo e GSCM rentável.

Além disso, Green Supply Chain é uma estratégia que prima pelo mínimo de impacto ambiental. Engloba as melhores práticas para reduzir as emissões de carbono em toda a cadeia de suprimentos, de fornecimento do material, de concepção do produto, de fabricação, de distribuição, de entrega e finalmente a reciclagem no final do ciclo de vida. A SCM tradicional demanda das organizações otimização de métricas de custos, de gestão de estoques, de nível de serviço, entre outras. Uma cadeia de fornecimento verde inclui adicionalmente a métrica de emissões de carbono. Devido ao aquecimento global, alterações climáticas, emissões de gases de efeito estufa aumentam os custos de energia e recursos. E o crescimento e expansão internacional e a competitividade nos mercados corroboram para que cada vez mais as organizações optem por operações e atividades amigas do meio ambiente (JAIN; SHARMA, 2014JAIN, V. K.; SHARMA, S. Drivers affecting the green supply chain management adaptation: a review. The IUP Journal of Operations Management, V. 13, N. 1, 2014.).

Brito e Berardi (2010)BRITO, R. P.; BERARDI, P. C. Vantagem competitiva na gestão sustentável da cadeia de suprimentos: um metaestudo. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 50, n. 2, p. 155-169, 2010. destacam que a adoção de prática ambientais na cadeia de suprimentos é motivada pelas pressões institucionais, pressões por padrões mínimos de competitividade e pressões da cadeia de produção. Para que ocorra o desenvolvimento da Cadeia de Suprimentos Verde (GSCM) no Brasil, há 3 perspectivas importantes que servem de estímulo, a saber: a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a pressão do mercado internacional e a busca por certificação ambiental (ALVES; NASCIMENTO, 2014ALVES, A. P. F.; NASCIMENTO, L. P. M. Green supplychain: protagonista ou coadjuvante no Brasil? RAE, São Paulo, v. 54, n. 5, p. 510-520, set-out. 2014.).

Esse contexto de atendimento de requisitos legais, das expectativas dos clientes da consciência de que recursos naturais são finitos, estimula muitas organizações a repensarem os seus processos produtivos e a incorporarem práticas sustentáveis na sua cadeia de suprimentos. Seguindo esse raciocínio, este estudo teve a pretensão de analisar a relação fornecedor e agroindústria no quesito práticas de gestão ambiental requeridas, na percepção dos gestores. Os objetivos específicos consistem em descrever o perfil dos fornecedores pesquisados; identificar o nível de compreensão dos conceitos de sustentabilidade; verificar se há políticas ou metas relacionadas à sustentabilidade nas empresas pesquisadas; descrever os stakeholders importantes para as empresas pesquisadas; relatar as práticas de gestão ambiental que a Alfa possui incorporadas nos seus processos e a documentação exigida dos fornecedores de serviços contratados; analisar as práticas voltadas à sustentabilidade existentes, como são desenvolvidas e como podem ser aprimoradas; e propor ações de melhoria contínua a partir da identificação das práticas existentes nas empresas fornecedoras pesquisadas.

Portanto, a lacuna que tem motivado a realização deste estudo, está alicerçada no fato de que na perspectiva do GSCM o desenvolvimento sustentável é associado apenas à incorporação de melhorias nos quesitos ambientais, desconsiderando aspectos associados à dimensão social. Pagel e Wu (2009)PAGELL, M.; WU, Z. Building a more complete theory of sustainable supply chain management using case studies of 10 exemplars. Journal of Supply Chain Management, v. 45, n. 2, p. 37-56, 2009. destacam que há a necessidade de incorporar as 3 dimensões da sustentabilidade - econômica, social e ambiental na cadeia de suprimentos, para que se alcance um desempenho mais sustentável. Essa visão mais completa passa a ser denominada de Sustainable Supply Chain Management (SSCM), ou gestão da cadeia de suprimentos sustentável. O GSCM contribui para a melhoria do desempenho, demanda capacitação de toda a cadeia de suprimentos, além de acompanhamento periódico, medições, programas de melhoria e redução de custos, aspectos estes essenciais para organizações agroindustriais que possuem o propósito de exportar para muitos países e atender clientes exigentes, esclarecidos e com nível de conscientização elevado no que tange à preservação dos recursos naturais, direitos humanos e responsabilidade social e melhoria contínua.

O trabalho está estruturado da seguinte forma: fornece uma breve revisão de literatura relacionada à GSCM. A metodologia que descreve os sujeitos pesquisados e os critérios de seleção dos participantes da pesquisa. A apresentação e análise dos dados, que remete à transcrição de trechos das entrevistas que foram desenvolvidas. E finalmente a conclusão, que delimita um escopo para futuros estudos sobre o assunto.

2 REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura tem dois objetivos principais: o primeiro é apresentar aspectos que se coadunam com a temática gestão da cadeia de suprimentos verde. E o segundo é apresentar essa evolução dos estudos sobre Green Supply Chain Management (GSCM) para Sustainable Supply Chain Management (SSCM), o que ocorreu diante da percepção de que a GSCM apenas focava na dimensão ambiental e econômica e negligenciava aspectos de ordem social. Portanto, esta revisão de literatura aborda estudos teóricos, meta-análises e estudos teóricos-empíricos que evidenciam essa evolução da temática principal deste artigo, dando ênfase aos estudos sobre SSCM e o estágio em que se encontra implementado em diferentes organizações e contextos.

Jabbour e Santos (2011)JABBOUR, J. C.; SANTOS, F. C. A. Evolução da gestão ambiental na empresa: uma taxonomia integrada à gestão da produção e de recursos humanos. In: AMATO NETO, J. (Org.). Sustentabilidade & produção: teoria e prática para uma gestão sustentável. São Paulo: Atlas, 2011. salientam a existência de diferentes tipologias de gestão ambiental, que foram sistematizadas e permitiram a elaboração de uma taxonomia integrada e comum a todos os estágios evolutivos de gestão ambiental, a saber, especialização funcional, integração interna e integração externa.

Xue (2014)XUE, C. Diffusion behavior and analysis of the green manufacturing mode under the influence of government. Journal of Computers, v. 9, n. 1, jan. 2014. destaca que desde a década de 1990 os estudos no âmbito da produção têm se focado na introdução do conceito de manufatura verde na cadeia de suprimentos, a saber: a) no conceito e no processo de fabricação verde; b) nas tecnologias e processos de fabricação verdes; c) na pesquisa aplicada na fabricação verde; d) no sistema de avaliação da produção verde. As corporações passaram a considerar o ciclo de vida do produto e passaram a integrar em seus processos produtivos vários princípios e práticas de gestão tais como a produção mais limpa, os princípios Valdez, os sistemas de gestão ambiental, as diretrizes da norma técnica ISO 14.001 (MORALI; SEARCY, 2013MORALI, O.; SEARCY, C. A review of sustainable supply chain management practices in Canada. J Bus Ethics, n. 117, p. 635-658, 2013.). Além disso, Seiffert (2011)SEIFFERT, M. E. B. ISO 14.001: Sistemas de GestãoAmbiental:implantaçãoobjetiva e econômica. 4. ed., 2011. menciona também a logística reversa, a modificação no processo de produção, substituição/modificação no produto, a utilização de insumos e matérias-primas no processo, a implementação de melhorias de infraestrutura no processo, a abordagem preventiva para o controle de resíduos, a capacitação de pessoal (treinamento e sensibilização) para o controle ambiental, o monitoramento ambiental e o estabelecimento de indicadores de desempenho e a adoção de instrumentos de melhoria contínua.

Na cadeia de suprimentos, o conceito Green Supply Chain Management (GSCM) surge como novo enfoque à responsabilidade das empresas com o meio ambiente. As razões para o lento desenvolvimento do conceito no Brasil podem relacionar-se com características do mercado nacional, foco empresarial em aspectos internos, falta de legislação rígida e baixa pressão dos consumidores. Entretanto, especialistas em suprimentos salientam que há boas perspectivas para o futuro das discussões da temática no País, em virtude da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, de pressões do mercado internacional e da busca por certificação ambiental (ALVES; NASCIMENTO, 2014ALVES, A. P. F.; NASCIMENTO, L. P. M. Green supplychain: protagonista ou coadjuvante no Brasil? RAE, São Paulo, v. 54, n. 5, p. 510-520, set-out. 2014.).

Conforme Routroy (2009)ROUNTROY, S. Antecedents and drivers for green supply chain management implementation in manufacturing environment. Birla Institute of Technology & Science, Pilani, The Icfai University, 2009., o uso de certificações ISO na cadeia de suprimentos favorece a incorporação da filosofia verde. Outro aspecto que favorece a incorporação de temas relacionados à gestão ambiental na cadeia de suprimentos verde são as legislações rigorosas, principalmente de setores que ocasionam altos impactos ambientais em suas cadeias de produção. Por outro lado, na percepção de Rao e Holt (2005)RAO, P.; HOLT, D. Do green supply chains lead to competitiveness and economic performance? International Journal of Operations & Production Management, v. 25, n. 9, p. 898-916, 2005., Andrade e Paiva (2012)ANDRADE, M. C. F.; PAIVA, E. L. Green supply chain management na agroindústria canavieira: o caso Jalles Machado. BASE - Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos, v. 9, n. 1, p. 2-12, 2012. e Alves e Nascimento (2014)ALVES, A. P. F.; NASCIMENTO, L. P. M. Green supplychain: protagonista ou coadjuvante no Brasil? RAE, São Paulo, v. 54, n. 5, p. 510-520, set-out. 2014., são diversos os benefícios decorrentes da implantação da GSCM na cadeia de suprimentos, a saber: redução de custos, maior facilidade de entrada no mercado global, redução da extração de recursos naturais, da mão de obra e do consumo de energia, da substituição de materiais e matérias-primas, redução de resíduos, impacto na publicidade e na imagem e reputação da empresa perante a sociedade, a integração de fornecedores no processo de tomada de decisão, estratégias diferenciadas de compras, gera vantagem competitiva, melhoria de nível de satisfação do cliente, impacta na imagem da marca, desenvolvimento mais eficiente de novos produtos e melhoria no relacionamento com agentes reguladores.

Além disso, Bowen et al (2001)BOWEN, F. E. et al. Horses for courses: explaining the gap between the theory and practice of green supply. Greener Management International, p. 151-172, 2001. e Alves e Nascimento (2014)ALVES, A. P. F.; NASCIMENTO, L. P. M. Green supplychain: protagonista ou coadjuvante no Brasil? RAE, São Paulo, v. 54, n. 5, p. 510-520, set-out. 2014. destacam que o GSCM envolve atividades de redução de desperdícios, de reciclagem, de desenvolvimento de fornecedores, de análise de desempenho de compradores, de compartilhar competências e riscos, de adotar tecnologias mais limpas, de adequação as normas e legislações específicas do setor de atuação, de reutilização de materiais, de economia no consumo de água e energia, de utilização de insumos ecologicamente corretos, processos de produção mais enxutos e flexíveis e responsabilidades para todos os participantes da cadeia de suprimentos. O GSCM contribui para a melhoria do desempenho, demanda capacitação de toda a cadeia de suprimentos, além de acompanhamento periódico, medições, programas de melhoria e redução de custos.

Porém, na perspectiva do GSCM, o desenvolvimento sustentável é associado apenas à incorporação de melhorias nos quesitos ambientais, desconsiderando aspectos associados à dimensão social. Pagel e Wu (2009)PAGELL, M.; WU, Z. Building a more complete theory of sustainable supply chain management using case studies of 10 exemplars. Journal of Supply Chain Management, v. 45, n. 2, p. 37-56, 2009. destacam que há a necessidade de incorporar as 3 dimensões da sustentabilidade econômica, social e ambiental na cadeia de suprimentos para que se alcance um desempenho mais sustentável. Essa visão mais completa passa a ser denominada de Sustainable Supply Chain Management (SSCM), ou gestão da cadeia de suprimentos sustentável.

A SSCM consiste na gestão dos fluxos de informação, material e capital, da cooperação interempresas em uma cadeia de suprimentos com ênfase em aspectos econômicos, sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável. Nesse âmbito, o engajamento de todos os membros integrantes de uma cadeia de suprimentos é considerado uma das maiores e mais importantes ferramentas para a compreensão do conceito de sustentabilidade. Contribui para a promoção de melhorias no desempenho das partes e do todo. Cria vantagem competitiva e agrega valor nas operações e nas relações da cadeia. Exige a incorporação de controles internos, monitoramento, integração, conscientização, engajamento e comunicação transparente com o propósito de reduzir os problemas ambientais e sociais ao logo de toda a cadeia (WU et al, 2012WU, J.; DUNN, S.; FORMAN, H. A study on green supply chain management practices among large global corporations. Journal of Supply Chain and Operations Management, v. 10, n. 1, p. 182-194, 2012.).

A temática tem despertado interesse de pesquisadores em diferentes partes do mundo.

Morali e Searci (2013)MORALI, O.; SEARCY, C. A review of sustainable supply chain management practices in Canada. J Bus Ethics, n. 117, p. 635-658, 2013. investigaram em seu estudo em que medida os princípios sustentáveis corporativos são integrados na gestão da cadeia de suprimentos nas corporações. Foi efetuado um estudo de caso no Canadá. Os resultados revelam que há muitos desafios na integração da sustentabilidade na gestão da cadeia de suprimentos, que refletem a natureza interligada da economia ambiental, e as dimensões sociais da sustentabilidade, particularmente no que se refere à medição do desempenho dos fornecedores nas iniciativas de sustentabilidade.

Além disso, Morali e Searci (2013)MORALI, O.; SEARCY, C. A review of sustainable supply chain management practices in Canada. J Bus Ethics, n. 117, p. 635-658, 2013. salientam que a integração de princípios sociais e ambientais em uma empresa e nos seus fornecedores requer integração a montante ou a jusante com outras organizações na cadeia de abastecimento. Essa integração pode ser implementada em nível operacional ou estratégico e ajuda a gerar medidas de gestão de riscos e normas ambientais e sociais, a exemplo da ISO 14.001, para aspectos ambientais, e SA 8000, para fins sociais e de prestação de contas. O aspecto de gestão de riscos é vital para as empresas em uma economia global onde o aumento das demandas de integração ampliou a definição da cadeia de abastecimento. Isso ocorre porque a marca das empresas, sua imagem e competitividade no mercado podem ser dependentes de práticas de seus fornecedores, que desafiam os princípios da sustentabilidade.

Além disso, Seuring e Muller (2008b)______.; ______. Core issues in sustainable supply chain management: a delphi study. Business Strategy and the Environment, v. 17, n. 8, p. 455-466, 2008b. destacam que embora a investigação conceitual e de aspectos teóricos sobre SSCM tenha crescido nos últimos anos, a pesquisa sobre o que realmente está sendo feito pelas organizações ainda é escassa. Morali e Searci (2013)MORALI, O.; SEARCY, C. A review of sustainable supply chain management practices in Canada. J Bus Ethics, n. 117, p. 635-658, 2013. mencionam que há poucas pesquisas sobre estudos comparativos de casos de organizações que adotam a SSCM, examinando padrões de integração dos princípios da sustentabilidade em SCM entre organizações com relação ao ambiente institucional nos quais elas operam. A literatura sobre práticas SSCM nas organizações apresenta lacunas na análise da variedade de estruturas e processos formais adotados pelas corporações e do grau em que eles são implementados. Outrossim, a literatura que se compromete com o paradigma colaborativo para abordar questões de SSCM, especialmente no tocante de incentivo ao fornecedor, ainda é escassa. Portanto, há uma contínua necessidade de desenvolvimento de estudos de casos que investiguem em que medida os princípios da sustentabilidade são integrados às práticas de gestão da cadeia de suprimentos, especialmente no tocante à investigação de múltiplos critérios sobre SSCM, como governança, colaboração, incentivo ao fornecedor, a partir de uma perspectiva holística.

Zaabi, Dhaheri e Diabat (2013)ZAABI, S. A.; DHAHERI, N. A.; DIABAT, A. Analysis of interaction between the barriers for the implementation of sustainable supply chain management. Int J AdvManufTechnol, v. 68, p. 895-905, 2013. destacam que a SSCM torna-se uma abordagem integrada para reduzir a poluição ambiental, na responsabilidade social e nos ganhos econômicos. Os pesquisadores da área de SSCM focam nas pressões e aspectos que motivam a adoção de práticas sustentáveis na cadeia de suprimentos; as barreiras para adoção de SSCM em indústrias e a análise do desempenho. A sustentabilidade é motivada pela legislação, o interesse público e as oportunidades competitivas. É difícil para as indústrias erradicar todas as barreiras na fase inicial de adoção de conceitos sustentáveis em SCM tradicional.

Zaabi, Dhaheri e Diabat (2013)ZAABI, S. A.; DHAHERI, N. A.; DIABAT, A. Analysis of interaction between the barriers for the implementation of sustainable supply chain management. Int J AdvManufTechnol, v. 68, p. 895-905, 2013. desenvolveram a sua investigação nas principais indústrias de transformação em Tamilnadu, sul da Índia. Essa indústria produz numerosos tamanhos de parafusos, porcas, arruelas, etc., e atendem a mais de 16 empresas de automóveis, eletrônicos e de usinas de energia. As 13 barreiras a seguir são listadas:

  1. Muito alto custo para a eliminação de resíduos perigosos (B1)

  2. Custo de embalagens respeitadora do ambiente (B2)

  3. Falta de clareza sobre a sustentabilidade (B3)

  4. Custo de condições econômicas sustentabilidade e (B4)

  5. Falta de padrões de sustentabilidade e regulamentos apropriados (B5)

  6. O desalinhamento de curto prazo e de longo prazo estratégico metas (B6)

  7. Falta de medidas eficazes de avaliação sobre a sustentabilidade (B7)

  8. Falta de formação e educação sobre sustentabilidade (B8)

  9. Complexo em design para reduzir o consumo de recursos e energia (B9)

  10. instalação inadequada de adoções de práticas de logística reversa (B10)

  11. Falta de implementação de TI (B11)

  12. inadequada autorregulação industrial (B12)

  13. Falta de comprometimento da alta direção para iniciar a sustentabilidade

  14. esforços (B13) (CARBONI; MOATTI; VINZI, 2012).

Rao e Holt (2005)RAO, P.; HOLT, D. Do green supply chains lead to competitiveness and economic performance? International Journal of Operations & Production Management, v. 25, n. 9, p. 898-916, 2005. afirmam que as organizações que adotam o GSCM na Ásia são aquelas que possuem maior competitividade, preocupam-se com a melhoria da eficiência, da qualidade, da produtividade e da redução de custos. Em empresas asiáticas, algumas estão trabalhando juntamente com os fornecedores para reduzir as emissões, monitorar os fluxos de resíduos, configurar seus programas ambientais e, até mesmo, estender o apoio técnico para ajudá-los com a conversão de recursos naturais. Portanto, a incorporação de práticas de GSCM demanda das empresas melhoria da gestão ambiental, fornecimento de programas de treinamento e compartilhamento do sistema de gestão ambiental.

Testa e Iraldo (2010)TESTA, F.; IRALDO, F. Shadows and lights of GSCM (green supply chain management): determinants and effects of these practices based on a multi-national study. Journal of Cleaner Production, v. 18, p. 953-962, 2010. constataram em seu estudo desenvolvido em empresas industriais de sete países que os fatores determinantes da implantação da cadeia de suprimentos verde estão associados à existência de um sistema de gestão ambiental, à redução do impacto ambiental das operações, e a relação entre desempenho ambiental e financeiro ainda é inconclusiva e ambígua. Pagel e Wu (2009)PAGELL, M.; WU, Z. Building a more complete theory of sustainable supply chain management using case studies of 10 exemplars. Journal of Supply Chain Management, v. 45, n. 2, p. 37-56, 2009., por meio de um estudo qualitativo evidenciaram que a capacidade de inovação e uma gestão positivamente orientada para a sustentabilidade são necessárias para construir uma cadeia de suprimentos verde. Khidir e Zailani (2011)KHIDIR, T. A.; ZAILANI, S. H. M. Greening supply chain through supply chain initiatives towards environmental sustainability. 2011. Disponível em: <http://www.jgbm.org/page/30%20Suhaiza%20Zailani%20.pdf. Retrieved on March 27>.
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mostram que as empresas malaias respondem aos regulamentos e às pressões dos clientes que exigem a adoção de iniciativas da cadeia de suprimentos verdes, mas a decisão é baseada na avaliação dos benefícios obtidos pela empresa de adotar essas práticas. Portanto, os ganhos esperados de negócios têm maior impacto em iniciativas de GSCM, seguidos por regulamentos, pressões de clientes e responsabilidade social (JAIN; SHARMA, 2014JAIN, V. K.; SHARMA, S. Drivers affecting the green supply chain management adaptation: a review. The IUP Journal of Operations Management, V. 13, N. 1, 2014.).

Além disso, Jun et al (2010)JUN, M. et al. Greening supply chains in China: practical lessons from china based suppliers in achieving environmental performance.World Resources Institute, Working Paper, oct. 2010. destacam as seguintes metas ambientais de organizações que implementam a GSCM: reduzir o consumo de energia, água e recursos naturais; aumentar a utilização de fontes de energias limpas e renováveis; diminuir as emissões de produção de resíduos e poluição; melhorar o tratamento de sub-produtos

Barbieri et al (2014)BARBIERI, J. C. et al. Gestão verde da cadeia de suprimentos: análise da produção acadêmica brasileira. Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v. 14, n. 3, p. 1104-1128, jul./set. 2014. desenvolveram um estudo bibliométrico sobre GSCM e constataram que as temáticas inovação em sustentabilidade, Produção mais Limpa (P+L), Mecanismos de Desenvolvimento (MDL) e eficiência energética foram encontrados nos trabalhos produzidos sobre GSCM. Essa constatação diverge do modelo de Srivastava (2007)SRIVASTAVA, S. K. Green supply-chain management: a state-of-the-art literature review. International Journal of Management Reviews, v. 9, n. 1, p. 53-80, 2007. que classifica as práticas associadas ao GSCM a partir do contexto do problema, a saber: análise do ciclo de vida, ecodesign ou design ambiental, logística reversa e design de rede, operações verdes, gestão de resíduos, manufatura verde e remanufatura. No estudo desenvolvido no Brasil, foi constada a inexistências de estudos no contexto da GSCM sobre "planejamento e programação da produção, gestão de estoques, recuperação de produtos e materiais, reúso, reparo/reforma, desmontagem no âmbito da manufatura verde e remanufatura" (BARBIERI et al, 2014BARBIERI, J. C. et al. Gestão verde da cadeia de suprimentos: análise da produção acadêmica brasileira. Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v. 14, n. 3, p. 1104-1128, jul./set. 2014., p.20). No contexto da logística reversa há oportunidade de estudos sobre inspeção e separação e pré-processamento. Sobre gestão de resíduos há espaço para investigar a disposição final, a redução na fonte e a prevenção da poluição. E ainda na temática design verde e ecodesign. A ocupação dessas lacunas irá contribuir para a consolidação da área no Brasil e o reconhecimento no exterior.

Entretanto, Leal et al (2009)LEAL, C. C.; SHIBAO, F. Y.; MOORI, R. G. Principais autores sobre green supply chain no âmbito internacional. In: SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO (SEMEAD), 12., 2009, São Paulo (SP). Anais... São Paulo: FEA-USP, 2009. enfatizam que a incorporação dos princípios do GSCM em uma cadeia de produção demanda a inserção de questões econômicas, sociais e ambientais que devem permear todos os processos internos, os relacionamentos externos e englobar toda a cadeia de suprimentos.

Em síntese, o Quadro 1 apresenta as premissas preconizadas pelos autores descritos nesta fundamentação teórica.

Quadro 1
Quadro síntese da fundamentação teórica

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa refere-se a uma análise das práticas de gestão ambiental adotadas pelas empresas parceiras da Agroindústria Alfa, localizada no sul do Brasil, na percepção dos gestores. Esses parceiros também são chamados de fornecedores ou empresas terceirizadas. Essa agroindústria exporta para aproximadamente 110 países. É uma das maiores empregadoras privadas do país e possui aproximadamente 114 mil funcionários. O estudo foi desenvolvido em apenas uma unidade industrial na qual há 150 fornecedores cadastrados. Foram selecionados 6 fornecedores que prestaram o maior número de serviços para a unidade pesquisada no último ano de trabalho.

A Figura 1 apresenta os elos da cadeia de suprimentos que foram pesquisados.

Figura 1
Lócus de análise desta pesquisa

A Figura 1 evidencia que o lócus de coleta de dados e análise desta pesquisa se restringem aos elos do fornecedor e indústria.

A pesquisa foi realizada com base no tipo descritiva, pois foi aprofundado o estudo em busca de informações e dados necessários sobre as práticas sustentáveis no pilar ambiental nas empresas terceiras da empresa Alfa, na unidade industrial localizada no sul do Brasil.

Foram entrevistados os 6 gerentes das empresas escolhidas. Na empresa Alfa foram pesquisados profissionais da área de Suprimentos (negociador) e Recursos Humanos, totalizando 2 sujeitos entrevistados. O negociador da área de suprimentos foi escolhido devido ao seu conhecimento sobre a lista de fornecedores, negociação e conteúdo dos contratos com as empresas terceiras. O colaborador da área de Recursos Humanos, responsável pelas exigências e coleta da documentação obrigatória dos referidos terceirizados. Nas empresas terceirizadas, a escolha pelos gestores e empresários esteve associada ao fato de se tratarem de stakeholders importantes para identificar o nível de conhecimento sobre os assuntos pertinentes à sustentabilidade e gestão ambiental. Para as entrevistas foi utilizado gravador para registro das falas realizadas, além de anotações dos pontos principais declarados. A coleta de dados para este estudo foi realizada no período de março a maio de 2014, pesquisando os sujeitos descritos no Quadro 2.

Quadro 2
Níveis e áreas dos pesquisados

Tais sujeitos foram selecionados intencionalmente por serem sujeitos-chave da organização. Para o escopo definido para a realização deste estudo, entendeu-se não haver necessidade de pesquisar o diretor da unidade industrial, que possui uma visão mais estratégica do negócio. A intenção do estudo foi focar nos fornecedores em específico e nos departamentos que interagem diretamente com eles, conforme apresenta o Quadro 3.

Quadro 3
Linhas mestras dos instrumentos de coleta de dados adotados

De posse dos dados das entrevistas, eles foram transcritos na íntegra. Posteriormente, foi efetuada a leitura flutuante, como recomenda o autor Bardin (2011)BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3.ed. São Paulo: edições 70, 2011.. As etapas que foram seguidas consistem em: a) decomposição do material a ser analisado em partes; b) distribuição das partes em categorias; c) descrição do resultado da categorização; d) inferências dos resultados; e) interpretação dos resultados obtidos com o auxílio da fundamentação teórica adotada.

Foi adotada neste estudo a análise categorial ou temática, que é descrita por Bardin (2011)BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3.ed. São Paulo: edições 70, 2011. como o processo de análise do texto a partir de unidades categorizadas e agrupadas analogicamente em relação aos eixos temáticos.

4 COMPREENSÃO DOS ENTREVISTADOS SOBRE O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE

Os fornecedores pesquisados não são exclusivos da empresa Alpha. Entretanto foram selecionados por serem empresas que realizaram o maior número de transações no último ano com a empresa. Dos fornecedores questionados, 33,33% possuem ensino superior completo e 16,67% pós-graduação lato sensu. Os demais possuem ensino médio completo ou incompleto. A análise do tempo de empresa de cada colaborador pesquisado demonstra que a 79,40% possuem até 4 anos de trabalho na empresa. Apenas 7,40% dos colaboradores possuem mais de 10 anos nela. Essa análise demonstra que as equipes de trabalho são relativamente novas e renovadas. O tempo de empresa médio é 2,84, e o desvio padrão, de 3,15.

No que diz respeito às empresas participantes da pesquisa, percebe-se que das seis avaliadas, cinco delas possuem um número pequeno de funcionários, o que pode facilitar a implantação de ações e práticas ambientais devido à facilidade de reunir e conscientizar os colaboradores. Há um total de 88 colaboradores pertencentes ao quadro funcional das 6 empresas pesquisadas. Os serviços e produtos disponibilizados por cinco das terceiras da empresa pesquisada estão inseridos no segmento de fabricação, comércio e manutenção de máquinas e equipamentos, e uma empresa pesquisada oferece serviço de alimentação. Com relação ao tempo que a empresa fornece serviços para a Alpha, identifica-se que todas as pesquisadas já são fornecedoras há mais de 3 anos. O tempo médio de fornecimento é de 8,09 anos, e o desvio padrão, de 4,62. Com relação à parceria entre cliente e fornecedor, Martins e Alt (2006, p. 385) afirmam que "o importante é estabelecer um relacionamento permanente entre cliente e fornecedor, envolvendo não apenas compras eventuais ou programadas, mas o próprio desenvolvimento de produtos". Devido ao tempo de parceria, as empresas já devem conhecer as regras, normas e exigências da Alpha, assim como o seu processo produtivo.

O Quadro 4 descreve os relatos feitos pelos entrevistados acerca do nível de compreensão do conceito de sustentabilidade.

Quadro 4
Compreensão dos entrevistados sobre o conceito de sustentabilidade

Conforme registrado no quadro 4, verifica-se que existem entendimentos diferentes sobre a sustentabilidade. O gestor A não possui nenhum conhecimento sobre a sustentabilidade. Percebe-se que apenas o negociador da Alfa possui conhecimento completo sobre a sustentabilidade que contempla três pilares de sustentação: o ambiental, social e o econômico. O conceito de sustentabilidade também é entendido como algo que está associado aos recursos naturais e com a perenidade. Apenas dois entrevistados destacaram aspectos alusivos à dimensão social. O Quadro 5 destaca aspectos alusivos às politicas e metas de sustentabilidade.

Quadro 5
Existência de políticas ou metas relacionadas a sustentabilidade

Foram entrevistados o Assistente de Recursos Humanos, o Negociador, os Gestores das Empresas A, B, C, D, E e F - totalizando 8 entrevistados.

A definição de política e metas não é prática realizada pela maioria das empresas analisadas. A empresa C é a única empresa que possui uma política e metas relacionadas à sustentabilidade.

A política ambiental deve conter itens que forneçam uma estrutura abrangente para a definição e revisão dos objetivos e metas ambientais. A melhor forma de evidenciar essa condição é o desdobramento das afirmações contidas na política em objetivos e metas da empresa (SEIFFERT, 2011SEIFFERT, M. E. B. ISO 14.001: Sistemas de GestãoAmbiental:implantaçãoobjetiva e econômica. 4. ed., 2011.).

Cabe ressaltar que a elaboração de uma política e posterior definição de metas é garantia de que a empresa terá um suporte para a implantação adequada de um sistema de gestão ambiental e ações relacionadas ao âmbito social. O Quadro 6 destaca os stakeholders relevantes para a organização pesquisada.

Quadro 6
Stakeholders importantes para a sua empresa

Conforme pode ser observado nas falas dos entrevistados, há uma preocupação de criar uma sinergia ao longo da cadeia de produção. Esta, por sua vez, ocorre quando há cooperação entre os diferentes sujeitos que interagem com a organização pesquisada. Sobretudo, que estejam alinhados com a política da agroindústria Alfa, que adquire os insumos dos fornecedores pesquisados. O Quadro 7 destaca as práticas de gestão ambiental que a Alfa possui incorporadas.

Quadro 7
Práticas de gestão ambiental que a Alfa possui incorporadas nos seus processos

Na questão relacionada às práticas de gestão ambiental praticadas nos processos da empresa, os entrevistados responderam na sua maioria que a separação dos resíduos é a principal prática realizada.

A gestora da empresa C relatou que a redução de produtos químicos na limpeza das áreas também é uma prática que foi implantada na empresa, e o gestor da empresa E informou que, além da separação dos resíduos, existem práticas na reutilização da água na cabine de pintura, onde contribui para a redução de emissões de partículas na atmosfera através da captura da tinta no ar e transformação em resíduo sólido.

Por meio das informações repassadas pelos colaboradores entrevistados da agroindústria Alfa, existem muitas práticas a serem implantadas nos processos de seus fornecedores como a implantação dos requisitos da ISO 14.001 e a implantação de indicadores relacionados à gestão ambiental.

Com relação aos benefícios da certificação da ISO 14.001, Junior et al (2013, p. 41) descrevem no seu estudo que foi possível "evidenciar que as empresas certificadas pela norma NBR ISO 14.001 acentuam um conjunto maior dos fatores ambientais em sua gestão por meio de controles, ações e programas estruturados, demonstrando assim maior preocupação socioambiental". O Quadro 8 apresenta a documentação exigida dos fornecedores.

Quadro 8
Documentação exigida dos fornecedores de serviços contratados

Conforme informações relatadas pelos gestores das empresas terceiras da Alfa, no que diz respeito a outras práticas relacionadas à gestão ambiental, a maioria respondeu que a principal cobrança é a separação adequada dos resíduos quando da realização de serviços dentro das dependências da Alfa.

Sobre a importância da separação de resíduos nas empresas é possível identificar no estudo realizado por Alves e Nascimento (2014)ALVES, A. P. F.; NASCIMENTO, L. P. M. Green supplychain: protagonista ou coadjuvante no Brasil? RAE, São Paulo, v. 54, n. 5, p. 510-520, set-out. 2014. que especialistas estão visualizando boas perspectivas para o desenvolvimento de discussões no futuro sobre a gestão da cadeia de suprimentos verde, em razão da Política nacional dos resíduos sólidos, de pressões advindas do mercado externo e da busca pela certificação de sistema de gestão ambiental.

A análise supracitada demonstra a importância e cuidado que os gestores das empresas terceiras possuem ao realizar serviços e manutenções nas áreas da agroindústria Alfa. O Quadro 9 apresenta aspectos relacionados ao sistema de controle da documentação exigida dos fornecedores.

Quadro 9
Sistema de controle da documentação exigida dos fornecedores

Quando questionados sobre práticas ambientais que não possuem implantadas na sua empresa e que poderiam agregar bons resultados para o seu crescimento, os gestores consideraram a certificação da ISO 14.001, o programa 5S, a implantação do gerenciamento de aspectos e impactos ambientais e a implantação completa e efetiva da gestão de resíduos.

A gestora da empresa C respondeu que devido à exigência de seus clientes a sua empresa já possui todas as práticas ambientais necessárias para o seu segmento.

Sobre a norma ISO 14.001 Alves e Nascimento (2014, p. 517)ALVES, A. P. F.; NASCIMENTO, L. P. M. Green supplychain: protagonista ou coadjuvante no Brasil? RAE, São Paulo, v. 54, n. 5, p. 510-520, set-out. 2014. relatam que "é uma nor ma gerencial que visa evidenciar impactos ambientais prove nientes do processo de gerenciamento das atividades empre sariais e do ciclo de vida dos produtos/serviços".

Com relação ao programa 5S, Silva (1996)SILVA, J. M. O ambiente da qualidade na prática: 5S. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1996. conclui que no Brasil esse programa deveria ser difundido de forma ampla, com a aplicação dos seus sensos: utilização, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina para se implantar o ambiente da qualidade. Com a implantação desses sensos, objetiva-se a estimulação da educação e o desenvolvimento constante para a sobrevivência com dignidade. O Quadro 10 apresenta o tratamento adotado caso um fornecedor não cumpra com a entrega da documentação obrigatória.

Quadro 10
Tratamento adotado caso um fornecedor não cumprir com a entrega da documentação obrigatória

A percepção dos gestores das empresas terceiras com relação à importância do nível de conhecimento dos colaboradores na implantação de práticas ambientais demonstra que a maioria dos gestores acredita que o nível de conhecimento facilita a implantação de ações. Inclusive a gestora da empresa C menciona que poderá ter dificuldades na implantação de ações práticas devido ao nível de conhecimento dos colaboradores.

O gestor da empresa D acredita que o nível de conhecimento dos colaboradores não irá influenciar na implantação de ações práticas relacionadas ao meio ambiente.

Quadro11
Percepção dos gestores se os colaboradores aceitam a incorporação de novas práticas e rotinas

A maioria dos gestores das empresas terceiras da Alfa afirmam que os colaboradores das suas empresas aceitam a incorporação de novas práticas e rotinas, sendo um fator importante para o sucesso da implantação a forma de instigar e orientar os colaboradores nas novas práticas.

A gestora da empresa C relatou que os colaboradores não aceitam com tanta facilidade, sendo o treinamento muito importante na obtenção do sucesso das ações propostas.

De acordo com Campos (1994)CAMPOS, V. F. TQC: controle da qualidade total (no ensino japonês). Rio de Janeiro: RJ, 1994., a implementação de um cronograma para realização de ações do controle de qualidade total requer uma mudança de comportamento e como tal necessita de tempo, elevada educação e treinamento. O Quadro 12 descreve sobre a existência de treinamento sobre sustentabilidade para os funcionários.

Quadro 12
Existência de treinamento sobre sustentabilidade para os funcionários

De uma forma geral, os gestores das empresas avaliadas consideram os treinamentos relacionados ao programa 5S, segurança e destinação correta de resíduos como importantes para auxiliar na busca da sustentabilidade.

O gestor da empresa D respondeu que lhe falta conhecimento para preparar ou adquirir treinamentos adequados para seus colaboradores. Essa informação demonstra a importância desta pesquisa no sentido de disponibilizar o material adequado para o gestor incorporar nos processos da sua empresa.

"As organizações mapeiam as competências a serem desenvolvidas utilizando práticas, ferramentas que identifiquem as demandas na aprendizagem interna" (ANDRADE; RODRIGUES, 2008ANDRADE, R. J. F.; RODRIGUES, M. V. R. Educação corporativa: prática de treinamento na sociedade do conhecimento. In: CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO (CNEG), 4., 2008, Rio de Janeiro (RJ). Anais... Rio de Janeiro: Inovarse, 2008., p. 12).

Cabe ressaltar a importância de definir os treinamentos necessários para cada colaborador a fim de os objetivos serem atingidos em sua plenitude. Desse modo, o Quadro 13 apresenta o tipo de comportamento desejado para colaboradores do setor operacional.

Quadro 13
Tipo de comportamento desejado para colaboradores do setor operacional

Com relação ao comportamento desejado de um colaborar para o setor operacional, os gestores das empresas A e B mencionaram o conhecimento técnico como fator importante. A dedicação, comprometimento e proatividade foram as características consideradas mais importantes na análise do perfil de um colaborador do setor operacional.

A análise dos dados do quadro 10 demonstra que o conhecimento técnico alinhado ao interesse do colaborador em cooperar com os bons resultados da empresa são fatores importantes na definição de um candidato para o setor operacional das empresas terceiras da empresa Alfa. O Quadro 14 destaca as práticas consideradas importantes e qual prazo necessário para implementação.

Quadro 14
Práticas consideradas importantes e qual prazo necessário para implementação

Os gestores das empresas B e F consideram a implantação de um sistema de gestão ambiental como prática importante, e na percepção deles o prazo para implantação diverge, sendo que o gestor da empresa B mencionou 3 anos, e o da empresa F declarou um prazo de implantação de 90 dias.

Os gestores das empresas C e D definiram o Programa 5S como importante na questão ambiental, e a gestora da empresa C mencionou um prazo de implantação de aproximadamente 1 ano. O gestor da empresa D relatou que lhe falta conhecimento para definir um prazo para implantação do programa.

Com relação ao prazo de implantação de um sistema de qualidade, Mears (1993)MEARS, P. How to stop talking about, and Begin progress toward total quality management. Business Horizons, v. 36, n. 3, p. 66-68, 1993. define que a gestão por meio da qualidade total deve ser de forma permanente e de longo prazo, objetivando a satisfação do cliente com utilização de um processo de melhoria contínua dos seus produtos e serviços disponibilizados pela empresa.

É importante salientar que não existe um prazo definido para implantação de um programa ou sistema de qualidade. Sabe-se que deve ser de forma gradativa, sem pressa e sempre objetivando o resultado final planejado. Na sequência, o Quadro 15 apresenta as dificuldades que podem ser encontradas na implantação de práticas ambientais.

Quadro 15
Dificuldades que podem ser encontradas na implantação de práticas ambientais

Os dados expostos pelos gestores relacionados às dificuldades que podem ser encontradas na implantação de práticas ambientais demonstram que a questão econômica, a falta de conhecimento sobre os assuntos pertinentes aos programas e práticas ambientais e a falta de comprometimento e proatividade dos colaboradores podem prejudicar a implantação efetiva das ações planejadas para a melhoria ou implantação de uma gestão ambiental adequada para as empresas terceiras da Alfa.

No estudo realizado por Abdalla e Feichas (2005)ABDALA, J. J.; FEICHAS, S. A. Q. Modelo Hackefors para obtenção de certificado ambiental ISO - 14.001 em pequenas e médias empresas: uma discussão sobre sua aplicação em empresas brasileiras. Cadernos EBAPE.BR, edição temática, p. 1-14, 2005. sobre as maiores dificuldades na busca pela certificação do sistema de gestão ambiental são considerados o custo direto com o atendimento às auditorias, o custo indireto com o envolvimento dos colaboradores e os gastos para atendimento das conformidades ambientais.

Dessa forma, fica exposta a necessidade da elaboração de ações que esclareçam o funcionamento de um sistema de gestão ambiental, além da elaboração de conteúdos e procedimentos de fácil entendimento e com conteúdo motivacional que faça os colaboradores entenderem as ações propostas para a melhoria contínua da gestão ambiental da empresa e aderirem a elas.

Baseado nos dificultadores de implantação, na percepção dos pesquisados sobre práticas relevantes para a gestão ambiental e nos constructos teóricos abordados nesta dissertação, foi elaborado um plano de ação para as empresas pesquisadas. O Quadro 16 destaca as práticas que a empresa deve implantar que contribuem na questão social/ambiental.

Quadro 16
Práticas que a empresa deve implantar que contribuem na questão social/ambiental

Com relação às práticas ambientais e sociais que os gestores identificaram como importantes para compor um plano de ação para melhorar o seu desempenho, eles definiram a implantação de um sistema de gestão ambiental com base na ISO 14.001 e a gestão adequada dos resíduos dos processos da empresa.

De acordo com Cajazeira e Barbieri (2005)CAJAZEIRA, J. E. R.; BARBIERI, J. C. A nova versão da ISO 14.001: as influências presentes no primeiro ciclo revisional e as mudanças efetuadas. REAd - Revista Eletrônica de Administração, v. 11, n. 6, 2005., para algumas organizações a implantação de um SGA por meio da ISO 14.001 pode gerar um diferencial competitivo relevante, principalmente para as que participam do mercado externo.

A gestora da empresa C mencionou que além de ações para manutenção relacionadas à separação de resíduos e o programa 5S.

O gestor da empresa F acredita que ações para motivar e conscientizar os seus colaboradores devem ser incluídas em um plano de ação para melhorias ambientais e sociais. O Quadro 17 apresenta as práticas sociais e ambientais que os clientes estão cobrando.

Quadro17
Práticas sociais e ambientais mie os clientes estão cobrando

As práticas sociais e ambientais que os clientes estão exigindo das empresas terceiras da Alfa foram expostas pelos gestores, e com relação à questão social, os gestores das empresas B e D informaram que não há cobranças.

Na questão ambiental foram registradas por três gestores exigências com relação à manutenção da limpeza e organização das áreas no momento e após as manutenções realizadas. Reaproveitamento, utilização de materiais atóxicos e treinamentos sobre saúde e segurança foram mencionados pelo gestor da empresa F.

Com relação ao bom relacionamento entre os stakeholders, no seu estudo Gao e Zhang (2006)GAO, S. S.; ZHANG, J. J. Stakeholder engagement, social auditing and corporate sustainability. Business Process Management Journal, v. 12, n. 6, p. 722-740, 2006. descrevem que a existência de um processo de avaliação e elaboração de relatórios relacionados ao desempenho social e ambiental das organizações, e com o envolvimento das partes interessadas através do diálogo poderia ocorrer à construção de relações de confiança, com o compromisso de identificar e desenvolver a cooperação entre os parceiros e organizações.

É necessário os fornecedores atenderem de forma adequada às exigências sociais e ambientais solicitadas pelos seus clientes, sempre lembrando que a parceria deve satisfazer todas as partes.

A partir dos dados descritos, foi elaborada uma tipologia de estratégias ambientais adotadas pelos fornecedores, descrita no Quadro 18, já que ficou evidenciado que essa é a dimensão da sustentabilidade que tem recebido atenção mais acentuada pelos pesquisados. Ela seguiu a taxonomia elaborada pelos autores Jabbour e Santos (2011)JABBOUR, J. C.; SANTOS, F. C. A. Evolução da gestão ambiental na empresa: uma taxonomia integrada à gestão da produção e de recursos humanos. In: AMATO NETO, J. (Org.). Sustentabilidade & produção: teoria e prática para uma gestão sustentável. São Paulo: Atlas, 2011.:

Quadro 18
Tipologia de práticas de gestão ambiental adotadas pelos fornecedores

Pautado nesse mapeando efetuado, foram efetuadas algumas proposições para testes futuros por meio de pesquisas quantitativas:

Proposição 1: Quanto maior o nível de escolaridade dos fornecedores, maior o nível de comprometimento para transformar as operações em sustentáveis;

Proposição 2: Quanto maior o nível de internacionalização da agroindústria, maior o nível de comprometimento para incorporação de práticas e ferramentas sustentáveis;

Proposição 3: A integração externa das empresas estimula a incorporação de operações sustentáveis;

Proposição 4: A internacionalização da empresa aumenta o nível de preocupação para transformar a cadeia de suprimentos em uma rede sustentável

Proposição 5: A fidelização dos fornecedores contribui para que se tornem sustentáveis;

Proposição 6: Uma estratégia proativa dos fornecedores em relação à sustentabilidade é derivada de um desempenho econômico mensurável e derivado dessa estratégia;

Proposição 7: A mitigação e eliminação de impactos sociais ao longo da cadeia de suprimentos são efetuadas de forma reativa nas empresas agroindustriais;

Proposição 8: Investimentos em eco-inovação e eco-design impactam positivamente no desempenho econômico da empresa;

Proposição 9: Investimentos em eco-inovação e eco-design impactam positivamente na imagem e reputação da empresa agroindustrial.

Proposição 10: Operações sustentáveis impactam positivamente no desempenho econômico dos fornecedores e da empresa agroindustrial.

E ainda, foi efetuada uma proposição de melhorias pautadas no tripple bottom line da sustentabilidade e nas diretrizes preconizadas por Morali e Searci (2013)MORALI, O.; SEARCY, C. A review of sustainable supply chain management practices in Canada. J Bus Ethics, n. 117, p. 635-658, 2013.. A seguir, o Quadro 19 apresenta as ações de melhoria contínua para Alpha e os seus fornecedores.

Quadro 19
Ações de melhoria contínua para Alpha e os seus fornecedores

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa buscou analisar a relação fornecedor e agroindústria no quesito práticas de gestão ambiental requeridas, na percepção dos gestores. Foi constatado que as principais práticas realizadas nas empresas avaliadas são em relação à gestão de resíduos sólidos. Apenas duas das empresas pesquisadas possuem a gestão padronizada e adequada dos resíduos gerados em seus processos. Da mesma forma, apenas uma empresa possui práticas positivas em relação ao recurso água, o que evidencia um posicionamento predominantemente no estágio de especialização funcional.

Verificou-se que os funcionários realizam a separação dos resíduos, principalmente de óleos usados e retalhos de aço e metais. Cabe ressaltar a falta de estrutura como lixeiros adequados e a identificação de cada tipo de resíduo. Portanto, existem ainda poucas práticas realizadas pelas empresas prestadoras de serviço da Alfa. A falta de conhecimento teórico sobre as práticas ambientais por parte dos gestores das empresas terceiras podem refletir na busca de um bom desempenho ambiental das organizações.

Entretanto, Lee et al (2009)LEE, A. H. I. et al. A green supplier selection model for high-tech industry. Expert Systems with Applications, v. 36, n. 4, p. 7917-7927, 2009. enfatizam que a incorporação dos princípios do GSCM em uma cadeia de produção demanda a inserção de questões econômicas, sociais e ambientais que devem permear todos os processos internos, os relacionamentos externos e englobar toda a cadeia de suprimentos. Duber-Smith (2005)DUBER-SMITH, D. C. The green imperative. Soap, Perfumery, and Cosmetics, v. 78, n. 8, p. 24-26, 2005. afirmam que as motivações que incitam as organizações a adotarem o GSCM são alusivas à target marketing, sustentabilidade de recursos, redução de custos, aumento de eficiência, diferenciação de produtos, aumento da vantagem competitiva, pressões da cadeia de abastecimento, adaptação-regulação e redução de riscos, reputação da marca, retorno de investimento, moral dos funcionários e imperativo ético. Christmann e Taylor (2001)CHRISTMANN, P.; TAYLOR, G. Globalization and the environment: determinants of firm self-regulation in China. Journal of International Business Studies, v. 32, n. 3, p. 439-458, 2001. salientam que a exportação e a venda a clientes estrangeiros são dois principais elementos que contribuem para a melhoria do desempenho ambiental das empresas. As pressões dos consumidores também podem contribuir nesse sentido.

Portanto, entende-se que sempre há espaço para buscar a melhoria contínua das práticas organizacionais e da realização da gestão da cadeia de suprimentos. Uma empresa que procura rumar em direção à excelência está aberta às inovações, às novas tendências e às oportunidades de avaliação de suas práticas e proposição de novas ferramentas, modelos e sistemas que a tornem melhor. E a agroindústria Alpha tem um papel relevante para a mitigação de impactos sociais e ambientais e para criação e monitoramento de indicadores associados ao tripple bottom line. Pode inclusive adotar estratégias de implantação, acompanhamento e revisão, via equipes terceirizadas capacitadas e que realizam a auditoria dos processos.

As principais contribuições deste estudo estão diretamente relacionadas à disponibilização de informações a respeito das práticas ambientais realizadas pelas empresas parceiras da Alfa e principalmente as ações elaboradas com base nos resultados da pesquisa para a melhoria da gestão ambiental das empresas pesquisadas. Apesar de a pesquisa ter seguido uma perspectiva descritiva, no sentido de retratar o que se passa naqueles elos da cadeia de suprimentos no tocante à dimensão verde e à holística sustentabilidade, entende-se que há contribuições relevantes, principalmente, no tocante à internalização da variável ambiental para geração de valor e criação de um círculo virtuoso para a cadeia de suprimentos. Igualmente, no entendimento de que a definição de metas, prática e política de sustentabilidade não é mantida pela maioria das empresas analisadas, o que pode ser uma oportunidade de melhoria significativa para o contexto estudado. O papel da Alfa é essencial na indução da Green Supply Chain Management na cadeia de suprimentos como um todo e inclusive para mitigação de impactos sociais ao longo da cadeia de suprimentos.

As limitações deste estudo estão relacionadas ao número de empresas pesquisadas, podendo não refletir na sua totalidade a realidade sobre práticas ambientais das demais empresas prestadoras de serviço da Alfa S.A unidade do Sul do Brasil. Em contrapartida se sugestiona a realização de novas pesquisas no mesmo segmento e região abrangendo outras empresas prestadoras de serviço da Alfa para certificar ou até mesmo ampliar o número de ações para melhoria e adequação da gestão da cadeia de suprimentos verde.

A implementação de estratégias ambientais é uma necessidade para as empresas. É no processo produtivo e na execução das atividades na prestação de serviços que se geram os resíduos e as emissões atmosféricas, e é nesses locais que se encontram as maiores oportunidades de melhoria. A isenção de estratégias ambientais proativas não garante para a empresa a criação de vantagens competitivas que possam ser mantidas no longo prazo.

Recomenda-se para futuros estudos estender a análise para toda a cadeia de suprimentos, a saber: fábrica de ração e incubatórios, produtores integrados, unidades industriais, centros de distribuição, atacado, varejo e consumidor final. Uma análise sistêmica da cadeia agroindustrial é pré-requisito para que a organização pesquisada possa incorporar como argumento para a venda dos seus produtos a existência de uma cadeia de suprimentos verde. Ou melhor, a análise, à luz das dimensões econômica, social e ambiental contribuirá para a adoção de um sistema de gestão da cadeia de suprimentos sustentável. Decorrente dessa postura, poderá obter ganhos de mercado, vantagem competitiva, um desempenho superior nos indicadores econômicos e ambientais e a redução de desperdícios. Sobremaneira, impactará na satisfação dos clientes e colaboradores, que por sua vez irá interferir na reputação e imagem da empresa.

Outra possibilidade de estudo é replicar esta pesquisa para todos os fornecedores da Alfa, por meio de um survey, para a realização de um diagnóstico da realidade acerca das práticas sustentáveis de todos os agentes com os quais a agroindústria interage. E, ainda, estender o foco de análise para o nível de cooperação que é possível ser estabelecido entre os diferentes elos de uma cadeia de suprimentos para a incorporação de práticas sustentáveis. Posterior análise pode identificar as vantagens oriundas de uma postura de cooperação entre os elos da cadeia produtiva, no intuito de torná-la sustentável e seu impacto no desempenho econômico.

  • Nota do Editor: Esse artigo foi aceito por Bruno Felix.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2016

Histórico

  • Recebido
    22 Jan 2015
  • Revisado
    27 Mar 2015
  • Aceito
    28 Maio 2015
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