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Genitivo da tradução

Genitive of translation

Busca-se neste artigo um deslocamento teórico da tradução dos antropólogos para a tradução dos nativos, destacando neste trânsito diferenças menos nos pontos de partida ou de eventual chegada que nas modalidades de aproximação. O marco etnográfico desta escolha é configurado por imagens de pensamento dos Waiwai, em particular da comunidade de Jatapuzinho (RR), onde realizei minhas pesquisas de campo. Constelações culturais tais como a busca dos Waiwai pelos 'povos não-vistos' (enîhni komo), sua noção de 'alma-olho' (yewru yekatî) ou seus rituais em relação a diferentes animais e seus respectivos 'donos' ou 'donos-de-roupas' (ponoyosomo) constituem elaborações ou ensaios (sem deixar de lado as conotações reflexivas) sobre a tradução. Sua descrição motiva a introdução de conceitos como a 'ressonância', a 'redundância' e a 'repetição' (aquela que gera diferenças) e deixa entrever pautas culturais maiores como o 'rodeio' e a 'impropriedade'. A atenção às variações e oscilações do suposto original através de suas diferentes versões se conecta com posições da atual reflexão interdisciplinar sobre a tradução. Entre elas as idéias de Walter Benjamin em torno da sobrevivência do original através da tradução; os efeitos de transformação através da tradução apontados por Jacques Derrida; e a viabilidade, segundo Talal Asad, de traduções culturais que, avançando por outros registros, transbordam o discurso etnográfico clássico. Estas convergências induzem a questionar em que medida a concepção de tradução está ligada à concepção de relação e em que medida uma pode ser repensada a partir da outra.

Waiwai; Tradução; Relação; Repetição; Antropologias ameríndias


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