Evidências arqueopalinológicas de atividades e relações de populações pré-coloniais com o ambiente semiárido, Bahia, Brasil

Santos, José Orlando Bispo dos; Silva-Santana, Cristiana de Cerqueira; Magalhães-e-Silva, Francisco Hilder

doi:10.1590/2178-2547-BGOELDI-2023-0100

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ARTIGOS CIENTÍFICOS • Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum. 20 (3) • 2025 • https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2023-0100 linkcopiar

Evidências arqueopalinológicas de atividades e relações de populações pré-coloniais com o ambiente semiárido, Bahia, Brasil

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Este estudo teve como objetivo a identificação de palinomorfos de sedimentos do sítio arqueológico Gruta da Caixa d’Água, no município de Caetité, Bahia, para obtenção de informações sobre espécies vegetais representadas nos registros arqueológicos. Amostras de sedimento foram processadas de acordo com as técnicas recomendadas para grãos de pólen do Quaternário. Para duas amostras foram realizadas datações através do 14C, para uma foi revelada idade calibrada de 5.650-5.690 anos AP no nível 70-80 cm e outra de 520-540 anos AP no nível 20-30 cm. Foram identificados 44 tipos polínicos em sete das dez amostras analisadas e a maioria deles foi relacionada às famílias Convolvulaceae, Rubiaceae e Asteraceae. Foi registrada maior quantidade de grãos de pólen nas amostras de sedimento mais superficiais, sendo muito reduzidos ou ausentes nas basais. Os tipos polínicos foram relacionados a representantes atuais da flora local, com grande predomínio de plantas de hábito herbáceo-arbustivo, indicativas de vegetação secundária, resultante de possíveis interferências humanas pretéritas. Os resultados palinológicos associados aos vestígios arqueológicos do sítio contribuíram para ampliar a compreensão das relações de habitantes pré-coloniais em ambiente da Caatinga.

Palavras-chave
Caetité; Arqueopalinologia; Caverna

Lab. nº	Profundidade (cm)	Material datado	Idade convencional (anos AP)	δ¹³C	Idade calibrada 2σ mais	Idade calibrada 2σ menos (anos AP)
Beta 328326	20-30	Material carbonizado	510 ± 30	-22.9	510-550	520-540
Beta 328327	70-80	Material carbonizado	5.000 ± 30	-25.6	5.820-5.880	5.650-5.690

Nível das amostras (cm)	Quantidade e percentual (%) de palinomorfos com relação aos hábitos dos táxons atribuídos aos tipos polínicos			Total
Nível das amostras (cm)	Herbáceo/arbustivo	Arbóreo	Indeterminado	Total
0-10	22 (68,8%)	4 (12,5%)	6 (18,8%)	32
10-20	8 (66,7%)	1 (8,3%)	3 (25,0%)	12
20-30	1 (25,0%)	2 (50,0%)	1 (25,0%)	4
30-40	382 (99,0%)	1 (0,3%)	3 (0,8%)	386
40-50	7 (58,3%)	0 (0,0%)	5 (41,7%)	12
50-60	0 (0,0%)	0 (0,0%)	0 (0,0%)	0
60-70	2 (66,7%)	0 (0,0%)	1 (33,3%)	3
70-80	5 (71,4%)	0 (0,0%)	2 (28,6%)	7
80-90	0 (0,0%)	0 (0,0%)	0 (0,0%)	0
90-100	0 (0,0%)	0 (0,0%)	0 (0,0%)	0
Total	427 (93,6%)	8 (1,8%)	21 (4,6%)	456

Tipo polínico	Quantidade e percentagem de palinomorfos por níveis (cm)								Ecologia e distribuição das espécies relacionadas aos tipos polínicos	Fonte
Tipo polínico	0-10	10-20	20-30	30-40	40-50	60-70	70-80	Soma		Fonte
Asteraceae
1. Asteraceae 1	1 (3,1%)	0	0	39 (10,1%)	0	0	0	40	Lianas, ervas ou arbustos presente em áreas de vegetação aberta.	Marchant et al. (2002)
2. Asteraceae 2	1 (3,1%)	1 (8,3%)	0	0	0	0	0	2
3. Asteraceae 3	0	0	0	5 (1,3%)	0	0	0	5
Arecaceae
4. Syagrus 1	0	0	0	0	0	1 (33,3%)	0	1	Árvores ou arbustos distribuídos na América do Sul, em regiões de Mata, Cerrado e Caatinga.	Felfili et al. (2007)
5. Syagrus 2	1 (3,1%)	1 (8,3%)	2 (50%)	1 (0,3%)	0	0	0	5		Felfili et al. (2007)
Cactaceae
6. Pilosocereus	2 (6,3%)	0	0	0	0	0	0	2	Rupícolas ou terrestres. Vivem em Cerrado e Caatinga. Indicadoras de pressão antrópica.	Calvente et al. (2005)
Convolvulaceae
7. Evolvulus	0	0	0	259 (67,1%)	1 (8,3%)	0	0	260	Ervas ou arbustos presentes em áreas áridas. Indicadoras de ação antrópica.	Marchant et al. (2002)
8. Jacquemontia	0	0	0	1 (0,3%)	1 (8,3%)	0	0	2		Marchant et al. (2002)
Euphorbiaceae
9. Croton	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1	Ervas ou arbustos comuns em ambientes secos: Florestas Estacionais e Cerrado.	Marchant et al. (2002)
10. Maprounea	0	1 (8,3%)	0	0	0	0	0	1		Marchant et al. (2002)
Fabaceae
11. Aeschynomene	7 (21,9%)	0	0	1 (0,3%)	1 (8,3%)	0	1 (14,3%)	10	Erva comum em áreas perturbadas.	Marchant et al. (2002)
12. Anadenanthera	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1	Árvores amplamente distribuídas na Caatinga e no Cerrado.	Flora e Funga do Brasil (s.d.)
13. Copaifera	2 (6,3%)	0	0	0	0	0	0	2	Árvores amplamente distribuídas na Caatinga e no Cerrado.	Flora e Funga do Brasil (s.d.)
14. Zornia 1	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1	Ervas presentes no Cerrado.	Marchant et al. (2002)
15. Zornia 2	0	0	0	1 (0,3%)	0	0	0	1	Ervas presentes no Cerrado.	Marchant et al. (2002)
Malpighiaceae
16. Malpighiaceae	0	0	0	1 (0,3%)	1 (8,3%)	0	0	2	Ervas, lianas e árvores que predominam no Cerrado.	Marchant et al. (2002)
17. Byrsonima	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1	Ervas, lianas e árvores que predominam no Cerrado.	Marchant et al. (2002)
Malvaceae
18. Helicteres 1	2 (6,3%)	0	0	0	0	0	1 (14,3%)	3	Ervas ou arbustos comuns na Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal. Possuem potencial medicinal.	Cristóbal (2001)
19. Helicteres 2	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1		Lorenzi (2002)
20. Melochia/Walteria	1 (3,1%)	0	0	1 (0,3%)	0	0	0	2		Lorenzi (2002)
Nyctaginaceae
21. Nyctaginaceae 1	0	0	0	4 (1%)	0	0	0	4	Arbustos e árvores comuns em áreas secas. Presente na Floresta Atlântica e no Cerrado.	Marchant et al. (2002)
Poaceae
22. Poaceae	0	0	0	1 (0,3%)	0	0	0	1	Principalmente ervas que sobrevivem nas estações secas em Savanas e Cerrado.	Marchant et al. (2002)
Phyllanthaceae
23. Phyllanthus	0	0	0	0	2 (16,7%)	0	0	2	Ervas ou arbustos comuns em ambientes secos: Florestas Estacionais e Cerrado.	Marchant et al. (2002)
Rhamnaceae
24. Ziziphus	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	1 (14,3%)	2	Arbusto terrícola presente em Mata Atlântica e Floresta Estacional Semidecidual.	Lima (2000)
Sapindaceae
25. Serjania	0	0	1 (25%)	0	0	0	0	1	Lianas presentes em áreas de várzea, no Cerrado, em ambientes áridos.	Marchant et al. (2002)
Rubiaceae
26. Mitracarpus/Spermacoce	2 (6,3%)	3 (25%)	0	69 (17,9%)	1 (8,3%)	1 (33,3%)	2 (28,6%)	78	Ervas de vegetação aberta, onde há perturbação regular.	Marchant et al. (2002)
Gleicheniaceae
27. Gleichenia	0	3 (25%)	0	0	0	0	0	3	Pteridófitas de distribuição pantropical. Comum em áreas abertas.	Cassino e Meyer (2011)
Selaginellaceae
28. Selaginella	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1	Pteridófitas bem distribuída na América do Sul. Em locais sombreados ou pastagens. Comum no Cerrado.	Cassino e Meyer (2011)
Indeterminados
29. Indeterminado 1	3 (9,4%)	0	0	0	0	0	0	3	—	—
30. Indeterminado 2	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1	—	—
31. Indeterminado 3	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1	—	—
32. Indeterminado 4	1 (3,1%)	0	0	0	0	0	0	1	—	—
33. Indeterminado 5	0	1 (8,3%)	0	0	0	0	0	1	—	—
34. Indeterminado 6	0	1 (8,3%)	0	0	0	0	0	1	—	—
35. Indeterminado 7	0	1 (8,3%)	0	0	0	0	0	1	—	—
36. Indeterminado 8	0	0	0	1 (0,3%)	0	0	0	1	—	—
37. Indeterminado 9	0	0	0	1 (0,3%)	0	0	0	1	—	—
38. Indeterminado 10	0	0	0	1 (0,3%)	0	0	0	1	—	—
39. Indeterminado 11	0	0	0	0	1 (8,3%)	0	0	1	—	—
40. Indeterminado 12	0	0	0	0	3 (25%)	0	0	3	—	—
41. Indeterminado 13	0	0	1 (25%)	0	1 (8,3%)	0	0	2	—	—
42. Indeterminado 14	0	0	0	0	0	1 (33,3%)	0	1	—	—
43. Indeterminado 15	0	0	0	0	0	0	1 (14,3%)	1	—	—
44. Indeterminado 16	0	0	0	0	0	0	1 (14,3%)	1	—	—
Totais =	32	12	4	386	12	3	7	456	—	—

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