Resumo
Com uma população aproximada de dezenas de milhares de pessoas, os Omágua/Kambeba foram provavelmente o maior povo indígena amazônico no início e meados do século XVI, quando foram conhecidas as primeiras notícias sobre essa sociedade. A famosa terra do ‘grande senhor Aparia’, sua principal ‘província’, localizava-se no médio curso do rio Amazonas. Vestígios arqueológicos foram encontrados, os quais poderiam identificar as outras duas áreas de influência dos Omágua: o alto Napo e, especialmente, o centro da Aparia menor, do ‘senhor chamado Irimara’, no mesmo rio, na confluência com o Curaray. Entretanto, não se conhece até hoje nenhuma evidência consistente que permita localizar a capital ou o principal foco de expansão da cultura omágua/kambeba. Com base em evidências arqueológicas, mas sobretudo etno-históricas e etnográficas, incluindo as demandas atuais, este trabalho tenta validar a hipótese de que a capital ou a principal área de influência do ‘senhor principal’ Aparia ficava no que hoje é a cidade brasileira de São Paulo de Olivença e arredores.
Palavras-chave
Arqueologia amazônica; Etno-história; Kambeba; Omágua; Tupi-Guarani
Abstract
With an estimated population of tens of thousands of people, the Omagua/Kambeba were probably the largest Amazonian indigenous people in the early to mid-sixteenth century, when they were first recorded. The famous land of the ‘great lord Aparia,’ their main ‘province,’ was located in the central Amazon. Archaeological remains have been found from which it is possible to identify the other two zones of influence of the Omagua: the upper Napo and, especially, the center of the lesser Aparia, of the ‘lord called Irimara,’ in the same river, at the confluence with the Curaray. However, no conclusive evidence is known to date that can establish the location of the capital, or main focus of expansion, of the Omagua/Kambeba culture. Drawing on archaeological ethnohistorical, and ethnographic evidence, including contemporary claims, this paper seeks to validate the hypothesis that the capital or main area of influence of the ‘main lord’ Aparia was in what is now the Brazilian town of São Paulo de Olivença and its surroundings region.
Keywords
Amazonian archaeology; Ethnohistory; Kambeba; Omagua; Tupi-Guarani
. . . dizem que são pessoas muito ricas em ouro, que usam grandes placas penduradas nas orelhas e no nariz, e se a minha fala não me engana, pelo que eu li na história do tirano Lope de Aguirre, isso foi a Província dos Omáguas, em cuja descoberta esteve Pedro de Orsua, influenciado pelo Vice-rei do Peru, pelas tantas notícias que a fama publicou sobre suas obras
(Acuña, 1891 [1641], p. 125).
INTRODUÇÃO
De acordo com fontes etno-históricas, os Omágua/Kambeba foram provavelmente o maior povo indígena da Amazônia no início e em meados do século XVI. Supõe-se que chegassem a dezenas ou centenas de milhares de pessoas (Cabrero, 2020a). De língua Tupi-Guarani, surpreenderam os primeiros europeus por serem as pessoas mais ‘civilizadas’ encontradas, ‘bem envelhecidas’, segundo as crônicas. Fortes e bem proporcionados, eles estavam vestidos com cushmas1, portavam patenas, argolas no nariz e protetores de orelha de ouro, tinham escravos, suas armas características eram o propulsor de lanças e a macana (malho com consequências devastadoras), e, acima de tudo, tinham uma estrutura política liderada por um chefe com poder em várias cidades. Outros dados marcantes foram a tradição de modelar suas cabeças – daí o nome ‘kambeba’ (de canga peba, ‘cabeça chata’), como também eram comumente conhecidos na área de influência portuguesa – e a sua cerâmica polícroma de grande arte.
São citados indistintamente como comerciantes (“os fenícios da América”, segundo o jesuíta Lorenzo Hervás y Panduro; Métraux, 1963 [1948], p. 690) e como guerreiros expansionistas. Existiam três centros de influência. A Grande Aparia, ou ‘Grande Omágua’, no Amazonas/Solimões, seria a sua principal província. A pequena Aparia situava-se no médio curso do rio Napo, estando a sua capital na foz do Curaray (Cabrero, 2020a). E no alto Napo e afluentes havia o que poderia ser citado como uma “colônia perdida”, a ponta de lança do extremo oeste que evidenciaria o etos belicoso e expansionista desse grupo (Métraux, 1963 [1948]) como parte do tronco Tupi (Noelli, 2008; Moraes & Neves, 2012). Embora tenham sido encontrados vestígios arqueológicos a partir dos quais podem se identificar as áreas de influência dos Omágua no médio e alto Napo, não se conhece até o momento nenhuma evidência consistente que localize onde se encontrava a capital ou o foco da famosa Grande Aparia, a principal província omágua. Com base em evidências arqueológicas, mas sobretudo etno-históricas e etnográficas, este trabalho confirma a hipótese de que a capital onde residia o ‘grande Senhor Aparia’, ou sua área de maior influência, ficava no que hoje é a cidade brasileira de São Paulo de Olivença e arredores2.
Os dados provêm de dois trabalhos de campo. O primeiro foi realizado durante uma expedição científica, entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2014, saindo da cidade de Quito, no Equador, embarcando em Puerto Francisco de Orellana (‘El Coca’), a cidade petrolífera às margens do grande Napo, para descer o rio até o Amazonas e sua foz no Atlântico (Cabrero, 2017). No Equador, os Omágua ficaram conhecidos pela associação feita entre esse povo etno-histórico e a Fase do rio Napo, definida por Evans e Meggers (1968). Nos últimos tempos, os maiores conservadores e divulgadores dos vestígios arqueológicos da Fase Napo na Amazônia equatoriana têm sido os missionários capuchinhos navarros, em terras, hoje, da província de Orellana. Pela sua curiosidade e determinação, recolhem há décadas os vasos funerários que os atuais moradores encontram no trabalho da terra ou, simplesmente, pela ação do grande rio Napo, ‘o grande huaquero’, que todos os anos desvela nas margens lamacentas vestígios dos antigos habitantes destas terras. Este esforço de divulgação da Fase Napo e de sua associação com o povo etno-histórico omágua concretizou-se primeiramente no Museu do Centro de Investigaciones Culturales de la Amazonía Ecuatoriana (CICAME), na ilha de Pompeya, e depois no Museu Arqueológico e Centro Cultural de Orellana (MACCO), na cidade de El Coca, inaugurado em 20153.
Em 2013, sem muitos estudos sobre o tema e sem uma internet tão desenvolvida como hoje, não se conhecia, pela literatura acadêmica, se os supostos Omágua, a grande cultura amazônica, com suas emocionantes vicissitudes às margens da História, ainda poderiam existir no século XXI em algum lugar da Amazônia, onde as crônicas e alguns historiadores os localizaram provisoriamente, bem como alguns etnógrafos no início do século XX – ver, especialmente, Tessmann (1999 [1930]), bem como o missionário Espinosa (1935)4. Também não se tinha conhecimento da existência de vestígios arqueológicos dos Omágua históricos nesse mesmo rio, ou seja, aqueles encontrados pelos primeiros europeus que percorreram a zona, e com os quais se poderia associar melhor a cultura morta e a viva. Após intensa pesquisas, em janeiro de 2014, Arnaldo Huanaquiri, então com 84 anos, foi finalmente encontrado perto de Iquitos, no Peru, a quem chamei de “o último Omagua” (Cabrero, 2020b), em homenagem ao apelido que Tessmann (1999 [1930]) havia dado a um dos seus informantes em San Salvador de Omaguas, uma cidade que já desapareceu. Embora seja verdade que dois parentes de Arnaldo sabiam usar algumas palavras em omágua, ele foi o único que ‘pensou e sonhou’ em omágua. Ninguém mais na região poderia fazê-lo, pois o último amigo idoso com quem conversava animadamente nesta língua era doente e surdo.
Na expedição científica rio abaixo, visitei diversas comunidades e povoados, como Orán, Pebas (antiga missão jesuíta de São Ignácio de Pebas, formada por Caumaris, Cahuaris, Yaguas e Pebas) e Letícia; depois, continuei em direção a Manaus e ao Atlântico. Porém, entre Letícia e Manaus, passei por uma área muito importante, onde mais tarde suspeitei que poderia estar localizado o foco expansivo de ‘Aparia Grande’, a outra cidade de ‘Aparia, o Grande’ (Fernández de Oviedo y Valdez, 1992 [1547]; cf. Latorre, 1992, p. 146). Anos depois, em setembro de 2018, ao realizar um levantamento arqueológico de todo o rio Curaray até sua foz no médio rio Napo, encontrei uma concentração significativa de sítios. O mistério da ‘Aparia Menor’ tinha sido resolvido (Cabrero, 2020a). Contudo, continuou a questão sobre a Grande Aparia, pelo menos sobre a sua capital e área central de influência, bem como sobre a sua situação atual. Em setembro de 2022, realizei um segundo trabalho etnográfico e de prospecção arqueológica na área, especialmente em Letícia (Colômbia) e arredores, chegando a São Paulo de Olivença e Santo Antônio do Içá (Brasil), na foz do rio Iça/Putumayo, onde se presume que o território Omágua terminou em 1542.
Essa jornada de coleta de informações e construção de conhecimento, após quase dez anos da expedição científica de 2013-2014, é a base deste artigo, feita por meio de observações, entrevistas – sendo duas delas mais aprofundadas, uma com Eronilde de Souza Fermin Omágua e outra com um grupo de discussão formado por oito pessoas, entre aldeões e líderes da Organização dos Kambebas do Alto Solimões (OKAS), entre 17-19 setembro de 2022 –, documentação gráfica (foto e vídeo)5, bem como uma extensa e comparativa revisão bibliográfica, tanto de textos etno-históricos como de literatura arqueológica e etnográfica acadêmica. Novos sítios e achados arqueológicos ocasionais foram também georreferenciados. O trabalho começa citando as primeiras crônicas, para depois tornar visíveis os descendentes da mesma zona nuclear e, consequentemente, passar para a discussão e as conclusões.
OS ANCESTRAIS
Os Omágua entraram pela primeira vez na história ocidental moderna em 1541 e causaram deslumbramento apenas com sua presença. São os “senhores do rio [Amazonas]” (Acuña, 1891 [1641], p. 124), com uma população de dezenas de milhares de pessoas (Cabrero, 2020a) e uma pitada de complexidade social, com destaque para caciques poderosos. Eles também se diferenciam por suas cabeças alongadas, devido à modelagem craniana (Figura 1), além do uso de patenas, orelheiras, anéis nasais de ouro e túnicas de algodão pintadas brilhantemente, além de suas cerâmicas polícromas de acabamento excepcional. Da mesma forma, sua ética guerreira foi sublinhada desde a antiguidade (carregam grandes macanas, vaivéns e rodelas ou escudos feitos de folhas de palmeira), assim como o espírito expansionista e comercial (são os Tupi-Guarani mais setentrionais, chegando ao topo da selva, hoje Equador) e, supostamente, por serem canibais e coletar cabeças como se fossem troféus (Acuña, 1891 [1641], p. 119).
Imagem retratando uma pessoa omágua com modelagem craniana, extraída do livro da expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira à Amazônia (1783-1792).
As primeiras crônicas que temos da viagem pela Amazônia (Quadro 1), nas quais os Omágua são mencionados, incluem, em primeiro lugar, a do dominicano Gaspar de Carvajal (1958 [s.d.]). Ele acompanhou a expedição de Francisco de Orellana pelo rio Napo depois que, acompanhado de 57 homens (os ‘amazonautas’), deixou a maior parte da expedição de Gonzalo Pizarro em busca da Terra da Canela (‘os caneleiros’) para tentar achar comida (e encontrar El Dorado), continuando a viagem para a Amazônia e o Atlântico (1541-1542). Desta expedição, destacam-se ainda as cartas de Gonzalo Pizarro (datada de 1542 e publicada em , pp. 167-171) ao rei da Espanha e de Francisco de Orellana (datada de 1543 e publicada em Garcés, 1958; cf. Latorre, 1992) ao Conselho das Índias, além dos documentos do escriba oficial deste último, Francisco de Isásaga (datados de 1542; cf. Garcés, 1958).
Subsequentemente, estão as crônicas de Francisco Vázquez (1562) e Pedrarias de Almesto (2012 [1562]), bem como as de Custodio Hernández, Pedro de Munguía, Gonzalo de Zúñiga, Juan de Vargas Zapata (o qual afirma ser filho de Juan Pérez) e do capitão Altamirano, que narram a viagem e os acontecimentos da expedição dos ‘maranhões’ a El Dorado (1560-1561), liderada inicialmente por Pedro de Ursúa (nomeado ‘governador de Omágua e El Dorado’) e depois por Lope de Aguirre (em cuja rota pode ter sido descoberto o canal Casiquiare). Entre os textos escritos a partir de testemunhas, estão as obras de Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdez (1992 [1547]; Latorre, 1992, pp. 141-166) e a de Toribio de Ortiguera (1585?).
Em segundo lugar, há as crônicas produzidas até meados do século XVII: a do jesuíta Cristóbal de Acuña (1891 [1641]), com uma possível versão anterior incluindo um mapa onde a palavra ‘Maguas’ pode ser decifrada (Burgos Guevara, 2005), e depois a do franciscano Laureano de la Cruz (1942 [1651]), pioneiro no empreendimento missionário desenvolvido entre os Omágua do Amazonas. É preciso lembrar que na época havia mais rotas do que crônicas.
Além da descida de Quito e Napo pelos franciscanos Laureano de la Cruz e Juan de Quincoces, em 1647, vale a pena mencionar aqui a de Brieva e Toledo, em 1636-1637 (franciscanos que ‘redescobriram’ a Amazônia após setenta e cinco anos de ocultação por razões geoestratégicas); e a rota inversa, de Pedro Teixeira, em 1637-1639, guiada por Brieva, a qual alarmou a Coroa espanhola pela audácia dos portugueses, que chegaram a Quito por meio do Atlântico naquela que foi a primeira viagem rio acima (Acuña regressou com Pedro Teixeira rio abaixo em 1639, de onde escreveu a sua crônica).
No entanto, além dessas crônicas e viagens do “Imperador dos Rios” (Acosta, 1590, p. 95), deve-se mencionar que, anteriormente, houve incursões nas quais os Omágua podem ter sido avistados e citados (Cabrero, 2020a). No Quadro 2, trago os parágrafos mais representativos oriundos da presença dos primeiros cronistas (entre os séculos 16 e 17) na área de Omágua relativa ao rio Amazonas, ou seja, do “grande senhor Aparia” (Carvajal, 1958 [s.d.], p. 37).
Trechos mais representativos de escritos dos primeiros cronistas (entre os séculos 16 e 17), produzidos na área de Omágua relativa ao rio Amazonas.
As citações presentes no Quadro 2, de meados do século XVI a meados do século XVII, dão conta da população Omágua no rio Amazonas. Carvajal (1958 [s.d.]) fala de “senhorio” e “grande senhor Aparia” ou “Omaga”, “terra e senhorio de Omágua”. Cerca de vinte anos depois da primeira descida dos europeus pelo Amazonas, Vásquez (2007 [1562]) os detalha com exatidão: “bem envelhecidos”, “vestidos com camisas esculpidas; as casas são quadradas e grandes”, “chefe . . . o papa”. Nessa mesma segunda descida pelo grande rio, Almesto (2012 [1562]) fala da “Ilha do Papa” na foz do rio “por onde entrou Orellana” (rio Napo), no que parecem ser algumas primeiras populações que vão crescendo à medida que o rio Amazonas desce. O mesmo acontece quase um século depois com Acuña (1891 [1641]), citando claramente que: “começa a melhor e mais extensa Província de todas as deste grande Rio, que é a das Águas, comumente chamadas Omáguas”, e que mais tarde as cita em uma impressionante visão dos povoados da província às margens: “quase não se perde um de vista quando se descobre outro”. Menciona o rio Putumayo e possivelmente o Jutaí, mais abaixo. No mesmo século XVII, mais de dez anos depois, Cruz (1942 [1651]) cita, primeiramente, a ilha “Piramonta”, localizada antes do rio Putumayo, e depois menciona a primeira ilha habitada da província, rebatizando-a de “San Pedro de Alcántara”. Mais abaixo, encontram-se os “Índios Omáguas” em “Jutac” (Jutaí), embora as epidemias comecem a fazer-se sentir ou as suas consequências nas mudanças populacionais da zona se tornem mais evidentes. Como informação complementar, no final do século XVII, num cenário muito diferente, o missionário Samuel Fritz, o chamado “Apóstolo dos Omáguas” (García y Sanz, 1876, p. 416), nomeia uma série de cidades em ilhas habitadas pelos Omágua em locais semelhantes aos citados pelos primeiros cronistas (Figura 2).
Localização dos Omágua segundo a primeira viagem europeia (Orellana, em vermelho) e outras crônicas de interesse: Acuña (caixa verde); De la Cruz (rosa); Fritz (amarelo).
OS DESCENDENTES
Depois da etno-história, devemos nos concentrar na etnografia. Se falarmos dos Omágua e de sua influência na/no Amazônia/Solimões, deveremos, sem dúvida, diferenciar entre uma população parcialmente descendente deles, genética e culturalmente falando, e pessoas que hoje falam ou se identificam claramente como Omágua/Kambeba. Os primeiros podem ser encontrados extensivamente no rio Napo e em seus afluentes, por exemplo. O grupo populacional denominado Napo runa é uma mistura de vários povos ancestrais amazônicos, pelo menos desde as missões dos séculos XVII e XVIII, que no Equador pode chegar aproximadamente até Archidona. Esse grupo, que inclui todos os falantes Kichwafones do Napo peruano e equatoriano, pode ter sido influenciado pelos Omágua. Suas requintadas cerâmicas polícromas (tradição recentemente retomada pelos oleiros de hoje em Ahuano, por exemplo), sobrenomes como Papa e certos fenótipos poderiam estar relacionados com esse grupo tupi-guarani. Evidentemente, também encontramos mestiços autoidentificados em Iquitos, Pebas (Peru), Letícia (Colômbia) ou até em Manaus, ao longo da Amazônia, hoje no Brasil, para dar exemplos notáveis que teriam, por assim dizer, ‘sangue’ Omágua.
Por outro lado, embora por um tempo desaparecidos, ou “invisíveis” – para citar a palavra que Stocks (1981) usa para os Cocamillas –, os Omágua continuam a existir como um povo indígena autoidentificado como tal, com seus valores, suas instituições e suas práticas, como a própria linguagem. Neste caso, só encontramos pessoas abertamente omágua no Peru e no Brasil, sendo representadas no Peru por um pequeno grupo de pessoas que, na verdade, se identificam mais como ‘omaguinos’, ou seja, nativos de San Joaquin de Omaguas, naquele que foi o último local da missão católica, tantas vezes deslocado por Fritz no final do século XVII, e que hoje está localizado às margens do rio Amazonas, poucos quilômetros acima de Iquitos. Em 2014, sobrou apenas um omaguino que falava a língua (Cabrero, 2020b).
Tendo em mente as crônicas, não é de surpreender que o Brasil seja o lugar onde existe atualmente a maior população totalmente autoidentificada como Omágua/Kambeba. No alto Amazonas, essa população alcançaria 10.000 pessoas, distribuídas, entre outros locais, nos municípios de São Paulo de Olivença (área urbana e rural), de Tabatinga e Benjamin Constant (área urbana) e de Amatura (zona urbana e rural); também nos municípios de Santo Antônio do Içá (aldeia Três Corações de Jesus, no rio Itú), de Tonantins (área urbana) e de Jutaí (área urbana) (Fermin Omágua, 2020, p. 30).
No entanto, se levarmos em conta toda a população omágua do Solimões/Amazonas, de acordo com um censo interno de 2014, ela atingiria cerca de 10.000 famílias ou 30.000 pessoas em cerca de vinte comunidades, em Tefé, Coari, Manacapuru e outros lugares, incluindo a aldeia Tururukariuka (no rio Cuieiras), na aldeia Três Unidos e na cidade de Manaus (E. de S. Fermin Omágua, comunicação pessoal, 19 set. 2022). Além disso, deve-se levar em conta e enfatizar novamente que, além das pessoas e comunidades que se autoidentificam como Omágua/Kambeba, há também ancestralidade dessa cultura na extensa população mestiça-branca da Amazônia brasileira, hoje identificada como ‘caboclo’. Até mesmo a população local afirma que os povos indígenas isolados do alto Jandiatuba (que ‘levam o nome de flecheiros’) pertencem, por sua cultura, ao povo omágua (E. de S. Fermin Omágua, comunicação pessoal, 18 set. 2022).
Desde o início do século XXI, houve um importante movimento de revitalização cultural Omágua/Kambeba nesta área, a ponto de ter sido formada a Organização dos Kambebas do Alto Solimões (OKAS), com sede no bairro Santa Terezinha, o bairro clássico no território tradicional do povo Omágua. Segundo a sua atual presidenta, Eronilde (‘Eroca’) de Souza Fermin Omágua, general yaka yuaka tuxawa do povo Omágua/Kambeba, as comunidades ligadas ao OKAS, cada uma com o seu chefe ou líder local, são as seguintes: Santa Terezinha (2.000 famílias), São Raimundo do Universo (19), Alta Alegre (7), São Tomás (25), São Raimundo do Camatiã (10), Cawaruá (10), Monte Tabor (11), Pinã (Jandiatuba) (3), Bacaba (Jandiatuba) (2), Mata Cachorro (Jandiatuba) (2), Castanhal do Ajaratuba (8), Santa Rita do Well, comunidade mista (15 famílias), Tupy II (72), Tupy I (10) e São José do Passé (7 famílias) (Fermin Omágua, 2020, pp. 170-171). Atualmente, uma extensa área de território está em estudo de demarcação pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
O longo processo de revitalização cultural ‘etnoeducacional’, desde pelo menos a década de 806, deu um salto com a Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988), no município de São Paulo de Olivença, a partir de 2011. Foram, então, criadas 11 escolas Kambeba, reconhecidas pelo Ministério da Educação do Brasil sob os parâmetros da educação intercultural bilíngue, sendo oito rurais e uma urbana (E. de S. Fermin Omágua, comunicação pessoal, 18 set. 2022) (Figura 3). Embora haja dificuldade em manter a língua ou reintroduzi-la como veículo, o Omágua é ensinado como segunda língua, depois do português. De acordo com E. de S. Fermin Omágua:
A língua omágua é utilizada e fortalecida porque no passado passou tempos no silêncio, e nossos idosos já estavam falecendo. Então, a gente, por medo que nossa língua ficasse, vamos dizer, extinta, a gente começou a fazer um trabalho de elaborar cartilha, livros, e trabalhar isso dentro da escola, e também dentro do seio da família, incentivar para que eles não ficassem só aprendendo o português mas também a nossa língua que é a nossa identidade
(comunicação pessoal, 18 set. 2022).
Escola municipal indígena Kambeba do bairro Santa Terezinha (São Paulo de Olivença) como parte do antigo movimento ‘etnoeducacional’.
Em 2014, foi implementado o Programa de Saúde Intercultural do governo7. Além disso, continuam a ser salvaguardados valores (identificação de símbolos culturais na cerâmica, por exemplo), instituições como médicos tradicionais ou ‘pajés’ e parteiras, bem como gastronomia, artesanato e festividades que remetem ao universo cultural omágua. Algo curioso e que pode ser significativo é a instituição que continua existindo do ‘servo’, ou ‘escravo’, segundo os cronistas, que eram tratados com verdadeiro carinho, e cuja origem parece ter sido provocada por guerras e outras vicissitudes que os deixaram ‘órfãos’, sendo, então, adotados pelas famílias omágua, que lhes deram casa e lar em troca de serviços. Por fim, neste renascimento cultural, hoje também são utilizadas roupas de algodão com desenhos coloridos simbólicos para ocasiões especiais, havendo até mesmo casos extremos de tentativas de recuperação da tradição da modelagem craniana (Figura 4).
Moradores omágua do tradicional bairro Santa Terezinha. Ao centro, Eronilde (‘Eroca’) de Souza Fermin Omágua, atual presidenta da OKAS; José Jesus Seabra Braga à sua direita; Aldeney Pinheiro Rangel (com modelagem craniana) à sua esquerda; e a criança Christopher de Assis Fermin Balieiro, representando a nova geração.
O local onde a OKAS tem a sua sede não é coincidência. Onde hoje fica São Paulo de Olivença, na margem direita do Amazonas/Solimões, próximo às ilhas Tupinduba e Jandiatuba, ficava a antiga Tawau(y), ‘terra ou cidade das águas’, a grande vila. Além disso, segundo Fermin Omágua (2020), hoje muitos chamam essa região de ‘Tawaru’, com alguma variação fonética, que se estendeu até as proximidades das atuais comunidades omágua/kambeba Tupy I e Tupy II, rio acima, próximo à atual fronteira com a Colômbia. Além disso, Tawau(y) está localizada no ponto mais alto da região, com óbvia vantagem estratégica devido às vistas privilegiadas para o grande rio Solimões/Amazonas. De acordo com Núñez Jiménez (1989, p. 145 [tradução própria]):
Localizada na margem direita, 25 metros acima da superfície cheia do grande rio e 97 metros acima do nível do mar, segundo nossa medição barométrica feita na base de sua igreja católica, é a cidade mais alta às margens do Amazonas . . . Os diferentes planos altimétricos de São Paulo de Olivença, salvos por longas e íngremes escadas de concreto, conferem-lhe um aspecto pitoresco.
De acordo com as nossas estimativas, o Morro do Areal, onde fica o sítio arqueológico Akariwazau ou Apariazau, no bairro Santa Terezinha, indígena por excelência, é ainda maior: 106 metros acima do nível do mar. E é dele, mais do que da igreja, que o rio Solimões pode ser visto perfeitamente, sendo também o local onde há um acesso mais direto para as ilhas próximas (Figura 5). Quem já esteve lá, na cidade, no santuário, além, entende o que observa Núñez Jiménez (1989, p. 145), ao falar de “planos altimétricos”. Parece um país à parte, com pequenas e grandes elevações, com uma espécie de planaltos interiores por onde vem a brisa, mas onde o rio parece distante. Um país inteiro banhado em suas costas por um ‘mar’ chamado Amazonas.
Pôr do sol e luz de fundo no santuário de Apariazau, sítio arqueológico e santuário de Santa Terezinha. Trata-se do bairro omágua de São Paulo de Olivença, por excelência, e o lugar mais alto da região, às margens do grande Amazonas. Ao fundo, à esquerda, vê-se a igreja, na praça central da aldeia; abaixo, o campo de futebol.
Mas há também outra variável importante que se refere ao padrão habitual de assentamento nas costas amazônicas, onde a confluência dos rios é de grande importância, porque a pesca é abundante e por serem, em geral, locais estratégicos. Ao lado, fica o igarapé Ajaratuba e, a poucos quilômetros da cidade, fica a foz do rio Jandiatuba, aspecto importante porque por ele se entra no mais profundo da selva e de suas riquezas, além de ser um espaço de refúgio ante a possível chegada de ameaças à área da/o grande Amazônia/Solimões. Também é citado na tradição oral, pela sua história e simbolismo: sua nascente e foz representam duas cabeças de uma grande e boa guardiã do território Omágua/Kambeba, que, por sua vez, se assemelha a uma ilha gigante. Nos gráficos simbólicos, os três triângulos abertos na base, um acima do outro, representariam três clãs ou grandes populações governadas por um cacique, sendo que o maior deles representaria Tawau(y), a capital, a atual São Paulo de Olivença (E. de S. Fermin Omágua, comunicação pessoal, 18 set. 2022). Um gráfico semelhante, porém, mais extenso, é o quadrado formado por vinte triângulos sobrepostos com uma ponta ou cruzamento de linhas no centro, com o mesmo significado.
Não devemos deixar de salientar que, na rebelião contra os espanhóis liderados por Payoreva, os “alzados” Omágua reuniram-se em “San Pablo” em 1701 (nas palavras de Samuel Fritz, citado em Maroni, 1988 [1738], p. 349). Voltando ao alto relevo geográfico de São Paulo de Olivença, segundo os mais antigos, como Autino Rabelo Lucas, de 85 anos (Fermin Omágua, 2020, p. 22), os Omágua desta área eram conhecidos como u-awaçu (os ‘águas grandes’). Segundo Alcides Cassiano, de 86 anos (Fermin Omágua, 2020), nos tempos sombrios em que viviam escondidos ou transmutados para passar despercebidos e sobreviver, quando os Omágua atravessavam em canoas em frente àquele alto morro, a conversa era a seguinte: “– Boa tarde, meu irmão! Serão os habitantes daquele grupo, no alto do morro, ainda as grandes águas que viviam neste local? – Sim, eles ainda são iguais a nós, mas agora são pequenos” (Fermin Omágua, 2020, p. 22).
Outra evidência significativa, depois das fontes etno-históricas, das caraterísticas da população atual e do próprio lugar, são os vestígios arqueológicos. Embora apenas um sítio arqueológico (São Raimundo do Universo) tenha sido identificado no território indígena ancestral mapeado em 2014 pelos seus próprios habitantes (Figura 6), existem outros. Muitos deles estão na grande concentração de ilhas vizinhas de tamanho considerável, onde, diante da investida dos impérios ibéricos, os Omágua se concentraram antes de ‘desaparecer’8. Rio acima, em Santa Rita do Well e áreas mais próximas de Tabatinga e arredores, hoje território colombiano e peruano, não há a mesma concentração de sítios, tampouco rio abaixo. Em Santo Antonio do Içá, na foz do rio Içá/Putumayo, onde se pode imaginar que a capital do prefeito Aparia poderia ter sido localizada como um lugar estratégico, não se ouviu falar dos Omágua/Kambeba (de acordo com entrevista com o pároco e habitantes realizada em 2022), e hoje há apenas um sítio arqueológico nas proximidades: Três Corações de Jesus.
Mapeamento do território ancestral Omágua no município de São Paulo de Olivença segundo seus habitantes, incluindo o bairro tradicional de Santa Terezinha.
O material cultural encontrado e georreferenciado em São Paulo de Olivença e arredores pertence à Tradição Polícroma Amazônica (TPA), uma tradição amazônica que se estenderia por mais de 1.000 anos, aproximadamente, de 450 d.C. até o século XVIII (Belletti, 2016), no período colonial, e talvez até o início do século XIX (Rivas Panduro y Myers, 2005, p. 180), com influências até os dias atuais. Caracteriza-se pela pintura em vermelho e preto sobre barbotina branca, incluindo, entre as suas complexas técnicas decorativas, o exciso e a incisão. Outra caraterística clássica de diagnóstico é o enterramento em urnas. No levantamento de 2022, foi possível identificar e registrar um total de dez sítios ou achados arqueológicos pontuais pertencentes à TPA: Santa Terezinha (Apariazau), São Raimundo do Universo, Igreja São Paulo de Olivença, Comunidade São Joaquim, Cemitério São Miguel, Jacaparia, Refúgio, Sacaleu do Inferno, Castanhal do Ajaratuba e São Tomás. Até o momento, é a maior concentração de sítios arqueológicos pertencentes à TPA na área (Figura 7).
Sítios e achados arqueológicos da Tradição Polícroma Amazônica em São Paulo de Olivença e arredores.
Vale ressaltar a descoberta de material arqueológico durante as obras de recuperação da Igreja de São Paulo na praça central (Figura 8), bem como no cemitério próximo. No entanto, o sítio que mais informações forneceu até o momento foi o de Santa Terezinha, no Morro do Areal, um local espiritualmente significativo para a cultura omágua, pois é o cemitério ritual considerado sagrado (Apariazau) pela OKAS. O material cultural encontrado, polícromo, é muito semelhante à cerâmica da Fase Napo (Evans & Meggers, 1968), no afluente amazônico de mesmo nome (hoje, no Equador e Peru), fase tradicionalmente associada aos Omágua. Segundo Lathrap (2010 [1970], p. 191 [tradução própria]): “Foram povos portadores da sub-tradição Miracanguera que se deslocaram para o Alto Amazonas, difundindo os estilos Napo e Caimito e constituindo finalmente os históricos Omágua e Cocama”.
Dia nublado na Freguesia de São Paulo Apóstolo. Na fachada recentemente reabilitada, pode-se ler: “263 anos de evangelização de São Paulo de Olivença-AM (1759-2022)”.
Note-se que esse material-mestre, com desenhos serpentinos, incluindo linhas labirínticas, desenhos zoomórficos (serpentes, jacarés, águias) e trançados nas bordas dos vasos, é encontrado junto com outro material mais grosseiro, de fabricação corrugada, ou seja, sem desenhos no corpo, mas com impressões de unhas ou dedos nas bordas. Esse estilo de cerâmica é bem conhecido em toda a Amazônia e, embora não seja exclusivo, é comum nos períodos tardios. Ambos os estilos, o polícromo, mais elaborado, e o corrugado, grosseiro, misturados em Santa Terezinha, devem ter sido usados pelo mesmo povo ou cultura. Se a cerâmica polícroma está relacionada a atividades rituais, a cerâmica corrugada é eminentemente utilitária, de uso cotidiano.
Juntamente com o desenho da Fase Napo e o estilo ondulado, há uma terceira caraterística significativa do conjunto cerâmico de Apariazau (Figura 7): a abundância de ‘volantes’, isto é, uma peça que serve de contrapeso (neste caso, de barro cozido) para fazer girar o fuso como um pião e enrolar mais facilmente o fio de algodão usado na produção de têxteis, como o vestuário. Este fato é importante porque estaria relacionado a uma das marcas étnicas mais acentuadas dos Omágua históricos: as famosas cushmas, túnicas ou péplum ao estilo clássico romano, com desenhos multicoloridos nos homens, que tanto surpreenderam os espanhóis arcaicos, e com as pampanillas nas mulheres9, ao contrário de outras culturas da região, que andavam sem roupa, como os etno-históricos ‘Machífaro’ ou os Ticuna da selva, inimigos históricos dos Omágua.
DISCUSSÃO
Identificar o local onde se situava a capital ou o foco principal da famosa Grande Aparia, ‘Grande Omágua’, nas palavras dos jesuítas (cf. Maroni, 1988 [1738], pp. 306, 318), não é uma tarefa fácil, ainda que falemos de ‘entorno’. Em primeiro lugar porque as crônicas são equívocas por vários motivos: há confusão com os nomes (os nomes dos chefes se misturam com os das províncias); não há distância exata (as ‘léguas’ citadas são uma estimativa muito subjetiva)10; e não há sistematização nas observações (não viram tudo o que houve e nem tudo o que viram ocorreu – novamente a subjetividade, muitas vezes condicionada por interesses circunstanciais). Mas também são enganosos porque uma coisa é o território de Omágua visto no século XVI, e outra é ele visto da segunda metade do século XVII em diante, quando as epidemias e a colonização já tinham provocado efeitos na população local, quer com o avanço jesuíta espanhol, quer com a entrada dos portugueses vindos da região rio abaixo em busca de escravos (Cabrero, 2022)11. É necessário avançar por partes.
Segundo Grohs (1974, p. 24), no século XVI, Orellana encontrou a Grande Aparia cerca de 250 quilômetros a leste da foz do Napo, no Amazonas, e até um pouco além da foz do rio Putumayo. Nas proximidades da atual Letícia, estaria seu maior povoado, ‘Aparia, O Grande’, onde Orellana foi visitado por 26 caciques que o entretinham com comida – e dos quais não sabemos exatamente se dependiam de Aparia como grande cacique, pois, como a crônica de Carvajal (1958 [s.d.]) parece sugerir, eram “vassalos de Aparia”. Nessa localidade, os ‘amazonautas’ passaram 58 dias (de 26 de fevereiro a 24 de abril), e Orellana mandou construir o terceiro brigue: “Ele se esforçou tanto nessa obra do brigue que em trinta e cinco dias ele foi feito e metido à água calafetado com algodão e graxa de peixe, que todos os índios trouxeram porque o Capitão pediu” (Carvajal, 1958 [s.d.], p. 33 [tradução própria]).
Chaumeil e Fraysse-Chaumeil (1981, p. 82), seguindo Métraux (1963 [1948]), também apontam essa localização quando dizem que seu território se estendia desde um pouco abaixo da foz do Napo até o do Putumayo, e cuja cidade principal estaria entre Pebas e Letícia. No entanto, Myers (2004, pp. 227-228) salienta que a capital de Aparia (entendida como a Grande Aparia) poderia ser a atual cidade de Oran, e que a cidade de Carari mencionada na expedição de Ursúa estaria um pouco mais abaixo, próximo ao atual município de Cochiquinas.
Seguindo o cronista português Pereira de Berredo (1849 [1749], p. 316), citando a viagem de Pedro Teixeira, as populações Kambeba terminam trinta e oito léguas (aproximadamente 209 km) antes do rio Yutay (Jutaí), próximo à foz do Putumayo/Içá. Seriam 26 cidades, ao contrário das 13 da Pequena Aparia, também governadas por um chefe principal. Haveria entre 10.000 e 60.000 pessoas, respectivamente, segundo o “maranhão” Vázquez – e, mais tarde, segundo Ortiguera (1585?) –, também designados como Carari-Maricuri da ilha povoada pelos Cararíes (batizada como Isla de García Arce) na foz do Napo (Chaumeil & Fraysse-Chaumeil, 1981, p. 82). Por outro lado, San Román (1994, pp. 53, 54) assinala que, no século XVII, os Omágua ocuparam as ilhas situadas entre a foz do rio Napo e o Ampiyacu (ou seja, até a atual Pebas), e eles eram numerosos, segundo o religioso Cujía, cuja população aumentou para 15.000 em 1645 (contudo, em 1681, encontrou apenas 7.000 pessoas nas mesmas ilhas). Essa retirada e a localização exclusivamente nas ilhas devem-se ao fato de que, com uma população reduzida pelas epidemias, os povos omágua já não tinham possibilidade de se defender de seus inimigos, como os Ticuna.
Os Carari-Maricuri corresponderiam a duas províncias contíguas que, na verdade, são uma só, com as mesmas características dos Omágua: frota militar, roupas de algodão etc., ao contrário das subsequentes chefias Machifaro ou Machiparo que, embora também tenham uma grande população, andam nuas e não carregam nem ouro nem prata. Entre essas duas grandes nações, existe apenas uma terra de ninguém, uma buffer zone, certamente necessária como tampão entre dois grupos em conflito, segundo DeBoer (1981), ou um espaço que ocorreu após as primeiras epidemias, segundo Myers (1976, 1989), embora este mesmo autor, anos mais tarde, também lhes atribua fatores ambientais no sentido de serem inadequados para a agricultura (Myers, 2004, p. 237). Depois de combater os Machiparos, em meados de maio, os ‘amazonautas’ chegaram a um novo território supostamente pertencente aos Yurimaguas (Carvajal os chama de Omágua)12, até chegarem à foz do rio Negro em 3 de junho. Medina (1934, p. 181; cf. Métraux, 1963 [1948], p. 689) duvida de que a colônia depois do rio “Trinidad” (Juruá?) seja realmente Omágua, pois duas palavras que ele cita são guaranis.
Além dos missionários, viajantes dos séculos XVIII e XIX, como Osculati (2015 [1854], p. 231), citam São Paulo de Olivença e arredores como área omágua: “Essas ilhas antigamente eram habitadas pelos Omágua”. Da mesma forma, o povoado pode ser denominado ‘San Pablo de la Provincia de Omaguas’, conforme o nome de sua fundação como redução jesuíta, em 1759 (Figura 9). Marcoy (2001 [1869], p. 12) oferece uma imagem significativa de São Paulo de Olivença (Figura 10), onde sua elevação pode ser apreciada e, além de citar a drástica diminuição da população dos Omágua, ele fala de um marco cultural característico: “O último Omágua com cabeça de mitra morreu em São Paulo de Olivença há sessenta e oito anos”.
Em resumo, com base em fontes etno-históricas e históricas, a área que há mais tempo é território omágua no Amazonas está entre a foz do rio Napo e a foz do Putumayo e do Jutaí, mas especialmente entre o Javari e o último (Figura 11).
Estimativas do território omágua segundo diferentes autores (Chaumeil & Fraysse-Chaumeil, 1981; Crônicas [Carvajal, 1958, [s.d.]; Vázquez, 2007 [1562]; Acuña, 1891 [1641]; Cruz, 1942 [1651]]; Grohs, 1974; Latharp, 2010 [1970]; Maciel, 2003; Meggers, 1999 [1971]; Métraux, 1963 [1948]; Newson, 1996; Porro, 1996 [1981]; Wilson, 1999), incluindo provável concentração dos três territórios: Omáguas yeté (I), Aparia Menor (II) e Aparia Grande (III). Em relação a Grohs e Porro, há outros números porque o território de Omágua muda dependendo do período histórico.
No Brasil, desde os primórdios da ciência arqueológica, era evidente tanto a dispersão da cerâmica polícroma como a sua coincidência com grupos Tupi, o que levou Netto (1885) a sugerir a sua origem comum e a sua pertença amazônica. Posteriormente, a unidade taxonômica do grupo foi definida por Howard (1947, pp. 42, 82) como a “Polychrome Division of Amazonia”. Por sua vez, Steward (1963 [1948]) referiu-se a uma possível ligação de grupos da Alta Amazônia, como os Shipibo (língua Pano), os “Jíbaros” (sic.; língua isolada), e os Omágua e Cocama (Tupi-Guarani), com a cerâmica marajoara (supostamente parte da TPA) do Atlântico. Mais tarde, Evans e Meggers (1968) não só não elaboraram a complexidade que tal conexão representava, mas também provavelmente aumentaram a confusão.
Na década de 1980, identificando 1.240 sítios, Brochado e Lathrap (1982) e Brochado (1984, 1989) também associaram a tradição TPA ao tronco Tupi, bem como à posterior expansão Tupi-Guarani no âmbito da sub-tradição Miracanguera (hoje incluída na sub-tradição Guarita). Brochado (1989, p. 76) associa as fases Zebu, “Yanayacu” e Napo aos Omágua. E Myers (1988, p. 73 [tradução própria]) é da mesma opinião quando faz a correlação Miracanguera/Tupi-Guarani/Omágua-Cocama:
A dispersão da sub-tradição Miracanguera aponta para as migrações dos Tupi para o alto Amazonas: os Omáguas nos rios Amazonas e Napo, os Cocama no Ucayali e os Cocamilla no Huallaga. Dado o prestígio da cerâmica polícroma, houve muitas imitações, especialmente no período histórico.
Nos últimos anos, tem havido um interesse renovado em elucidar a origem e a dispersão da TPA. Certamente, num primeiro momento, postulou-se o modelo de correlação direta entre cultura material e língua, no sentido de que a expansão dessas cerâmicas estaria associada a migrações de populações falantes de línguas de tronco Tupi (Lathrap, 2010 [1970]; Brochado, 1984). Quando se constatou que não há datações antigas de TPA na Amazônia central, posteriormente, mas na mesma linha de explicar essa rápida expansão pelo ethos belicoso dos povos de tronco Tupi, propôs-se a origem da dispersão no alto Madeira (Moraes & Neves, 2012; F. Almeida, 2013).
Quanto à associação mais específica entre a Fase Napo e os Omágua, não devemos deixar de salientar que, depois de Lathrap, os missionários capuchinhos do norte da Amazônia equatoriana, com base em achados ocasionais dos habitantes, fizeram repetidamente associação entre Fase Napo-Omágua – por exemplo, Cabodevilla (1996). Nesse sentido, há uma peça excepcional (Figura 12) onde se pode apreciar a modelagem craniana característica desse grupo indígena.
Pequena urna funerária da Fase Napo (33 cm) encontrada no rio Aguarico (afluente do Napo) com representação da cabeça achatada e alongada (‘de mitra’) dos Omágua históricos.
Paralelamente a essas propostas, no entanto, há outras que tentam tornar o cenário ainda mais complexo (Côrrea, 2014; Belletti, 2015; Lopes, 2018; Rabelo, 2020; Freire Marinho, 2022). Além de detalhar a ocorrência de datações, o tipo de urnas funerárias e quantificar as caraterísticas dos sítios (uni e multicomponentes), encontrando duas datações iniciais de cerca de 450 d.C. no médio Amazonas/Solimões (Conjunto Vilas, Lago Tefé), Belletti (2016, p. 366) propõe não associar a cerâmica apenas a um grupo linguístico específico, chamando de TPA um “estilo tecnológico polícromo”. Belletti (2015, 2016), seguindo em parte o trabalho de Tamanaha (2012), aprofundou a análise da TPA, comparando a presença de certos tipos morfológicos em diferentes fases da TPA. Nesse sentido, a Fase Tefé (com apenas sete tipos morfológicos) não é a mesma que a Fase Guarita (com treze), por exemplo, que também apresenta uma pequena diferença no uso de antiplásticos, já que não se usa apenas o cariapé.
Agora, se observarmos as fases mais ocidentais, como a Fase Napo, a Fase Caimito e a Fase Zebu, podemos ver que as duas primeiras, tradicionalmente associadas aos Omágua e aos seus ‘primos-irmãos’, os Cocama (também Tupi-Guarani), possuem vários tipos morfológicos iguais (doze), e muito semelhantes ao último (treze), que fica no alto Amazonas, a meio caminho entre São Paulo de Olivença e o rio Napo. As datas das três fases também são semelhantes a montante do rio Amazonas (do século XI ao século XVI). Recentemente, Rabelo (2020) analisou material arqueológico em São José do Amparo, em Tonantins, Amazonas, a jusante da foz do rio Iça/Putumayo, e o associa à Fase Napo, que, por sua vez, se correlaciona com a cerâmica de São Joaquim – definida por Hilbert (2009) na década de 1960 –, que apresenta semelhança com a Fase Pirapitinga, se considerarmos o número de tipos morfológicos de Belletti (2015) (neste caso, dez).
Essas discussões não são aqui desprovidas de interesse, pois alertam para os perigos de associar acriticamente uma tradição cerâmica a um radical linguístico, tal como pode acontecer quando se associa qualquer fase de qualquer tradição a um grupo cultural específico13. Isso pode referir-se à proposta de “sistemas econômicos e políticos macrorregionais” (Vidal, 1999) da época do contato entre os rios Amazonas e Orinoco, também citados como “confederações multiétnicas” ou “chefias multiétnicas” (Gassón, 2006). No entanto, não fornecem uma solução conclusiva para o mistério que dá origem a este estudo.
Embora as evidências arqueológicas possam provavelmente ser consideradas as menos robustas, não deixam de ser notáveis, e estão também correlacionadas com estudos linguísticos, apesar de não haver espaço suficiente para a sua análise aqui de e já terem sido tratadas (Cabrero, 2014). Além disso, como já foi referido, a proposta apresentada baseia-se não só nessas evidências arqueológicas, mas também em evidências etno-históricas e etnográficas, integrando as caraterísticas geográficas como um todo indivisível. Talvez a caraterística mais marcante do estudo seja o fato de os habitantes omágua/kambeba da zona e os próprios membros da OKAS defenderem que São Paulo de Olivença seria aquilo a que os cronistas chamavam ‘Aparia Grande’ (E. de S. Fermin Omágua, comunicação pessoal, 18 set. 2022):
Primeiro porque aqui é o meio. Aqui é como que fosse o centro tanto de cima quanto de baixo. Aqui se concentra o núcleo, e também porque aqui era onde habitavam nossos antepassados e um dos líderes mais importantes era Aparia, como se fosse o pai de todos nós . . . Então, é por isso que aqui é o núcleo e por isso que aqui é o centro, e também aqui se deu origem ao nosso povo omágua; culturalmente falando, quando teve todo o ritual nosso de geração foi aqui . . . que foi a terra que ele escolheu para habitar, onde se concentrava a aldeia maior de todas as aldeias que tinha naquela época, e até o dia de hoje aqui se concentra a maior aldeia onde também eu habito . . . Aqui era o núcleo, a aldeia maior, e comandava as outras aldeias menores. Ele escolheu este lugar para morar, para fazer a aldeia central e o núcleo, por conta da montanha, que aqui é um morro muito alto, e também tinha uma estratégia de visão das embarcações dos inimigos. E também porque faz parte da nossa cultura enterrar todos os líderes importantes em colina alta para que eles ficassem mais próximos assim, vamos dizer, do nosso Deus Tururucarí.
Eles valorizam e defendem Apariazau, o ponto mais alto do Solimões na região, como um grande cemitério sagrado, ressaltando a importância estratégica e espiritual do rio Jandiatuba, que até hoje é uma área parcialmente desconhecida, habitada pelos últimos povos em isolamento e contato inicial na zona. Todas essas evidências reforçam a hipótese de São Paulo de Olivença ter sido a morada do ‘grande senhor Aparia’.
CONCLUSÕES
O subtítulo deste artigo, ao mencionar ‘à margem da História’, refere-se tanto à aparição estelar e perturbadora do indígena amazônico nas fontes etno-históricas e, consequentemente, na história escrita, quanto ao próprio indígena visto como estranho, à margem da chamada civilização, isto é, da Europa. Nessa margem escura, oculta, com um olhar urgente e desesperado, tudo pode ser difuso, podendo levar ao erro, inclusive os lugares onde outros, no caso, os Omágua/Kambeba, habitaram e ainda habitam. Vários pesquisadores tentaram localizar as áreas aproximadas onde eles viviam, os quais se organizaram em chefias ou em uma grande confederação amazônica, mas a localização exata da capital e núcleo expansivo desta cultura Tupi-Guarani tem se mantido indefinida até hoje. Aqui, procuramos definir o lugar onde se encontrava a capital da mítica Aparia Grande, foco maior de onde irradiava a cultura Omágua/Kambeba, uma das mais extensas da antiguidade amazônica, e com uma influência-chave, ao mesmo tempo deslumbrante e triste, no processo de colonização europeia. Longe da fantasia e da sua delirante associação com El Dorado, os achados arqueológicos, mas, sobretudo, as evidências etno-históricas, históricas e especialmente etnográficas, sugerem que a famosa capital onde residiu o ‘grande senhor Aparia’ dos cronistas é a antiga e efêmera missão jesuítica e atual cidade brasileira de São Paulo de Olivença e arredores.
AGRADECIMENTOS
A Carlina Flores Liscano, aos moradores de Santa Terezinha e aos membros da Organização dos Kambebas do Alto Solimões (OKAS), especialmente Eronilde (‘Eroca’) de Souza Fermin Omágua (Wakara kwema), José Jesus Seabra Braga, Aldeney Pinheiro Rangel, Arzemir Neves de Souza, Christopher de Assis Fermin Balieiro, bem como a Marcelo Gualberto Monteiro, pároco de São Paulo de Olivença (Brasil), a Eduardo Corrêa de Moura e ao Arquivo Geral das Índias, Sevilha (Espanha).
DADOS DA PESQUISA
Os dados não foram depositados em repositório.
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Cabrero, F. (2025). A terra do ‘grande senhor Aparia’ e seus descendentes: sobre os Omágua/Kambeba à margem da História. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 20(3), e20240047. doi: 10.1590/2178-2547-BGOELDI-2024-0047.
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PREPRINT
Não foi publicado em repositório.
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AVALIAÇÃO POR PARES
Avaliação duplo-cega, fechada.
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1
Túnicas de algodão com desenhos multicoloridos.
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2
Túnicas de algodão com desenhos multicoloridos.
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3
De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), São Paulo de Olivença tem uma população residente de 32.967 pessoas. De acordo com Radaelli (2018, p. 41), na sequência do censo anterior, de 2010, “47,7% . . . se declaram como indígenas, uma expressiva parcela da população. Assim, configura-se como o segundo município do país com maior população [indígena]. . .”.
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4
Para a utilização da cultura omágua como atração turística, ver Cabrero (2020b).
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5
Por exemplo, no verbete dos Omágua no atlas das comunidades nativas do Peru, onde não há dados de autoidentificação e é dada uma imagem de que naquele país eles estão em processo de dissolução étnica, lê-se: “É possível que esse grupo exista ou tenha existido no Brasil” (Chirif & Mora, 1977, pp. 165-166).
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6
Um excerto de uma dessas entrevistas, realizada a 18 de setembro de 2022 em São Paulo de Olivença, pode ser consultado em Antropologia Cultural (2025).
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7
Para o caso distinto dos Omágua a jusante do rio Solimões, de Tefé até Manaus, ver Jorna (1991) e Maciel (2003).
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8
Recentemente, com a chegada do SARS-CoV-2: “O nosso povo sofreu muito e foi muito discriminado porque para nós não tinha assim leito de hospital, a gente não tinha como comprar o remédio. Então, o que a gente usou só foram as plantas medicinais, e foi isso que salvou o nosso povo . . . Além de se defender da doença que estava ali presente, a gente tinha também que lutar e defender o território que estava sendo invadido . . . Muita coisa pra gente se preocupar, e aquilo foi afetando a saúde mental e muitas lideranças também faleceram, parentes e pessoas do nosso povo. Então, isso, para nós, foi uma coisa muito triste porque essas pessoas poderiam estar aqui hoje” (E. de S. Fermin Omágua, comunicação pessoal, 18 set. 2022).
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9
Para entender o declínio desta nação, ver Cabrero (2022).
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10
Saias tradicionais.
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11
Costumavam expressar a distância que uma pessoa caminhando a pé pode percorrer em uma hora, podendo ser estabelecida em cerca de 5,5 quilômetros.
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12
Recentemente, houve um interesse renovado em analisar conjuntamente registros etno-históricos e arqueológicos na Amazônia. Ver Lopes et al. (2024) para o caso do médio Solimões, Amazonas, partindo da história indígena de longa duração, em especial de seu último período associado às ocupações da TPA.
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13
Segundo o missionário Martín Corera (2019 [1959], p. 51, tradução própria): “Canals Frau, em sua obra ‘Pré-história da América’, omite valiosos relatos etnográficos ao tratar dos índios Yurimaguas. Ele fala deles como se formassem uma tribo indígena pertencente à linhagem Tupí. Não há dúvida de que são descendentes dos antigos Tupís; mas não é verdade que formem uma tribo específica, pois devem seu nome à fusão dos Yuris e dos Omáguas que, vindos do Brasil, grande parte deles emigrou pelo Alto Amazonas, e penetrando pelo Huallaga, estabeleceram-se na foz do Paranapura, onde fundaram a cidade de Yurimaguas, hoje capital da província do Alto Amazonas, no Peru. Os índios Omágua, que migraram em época anterior a esta fusão, encontram-se no território da Venezuela e da Colômbia, ao longo dos rios Orinoco e Yapurá”.
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14
Ver também F. Almeida et al. (2021).
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15
Túnicas de algodão com desenhos multicoloridos.
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16
De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), São Paulo de Olivença tem uma população residente de 32.967 pessoas. De acordo com Radaelli (2018, p. 41), na sequência do censo anterior, de 2010, “47,7% . . . se declaram como indígenas, uma expressiva parcela da população. Assim, configura-se como o segundo município do país com maior população [indígena]. . .”.
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Para a utilização da cultura omágua como atração turística, ver Cabrero (2020b).
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18
Por exemplo, no verbete dos Omágua no atlas das comunidades nativas do Peru, onde não há dados de autoidentificação e é dada uma imagem de que naquele país eles estão em processo de dissolução étnica, lê-se: “É possível que esse grupo exista ou tenha existido no Brasil” (Chirif & Mora, 1977, pp. 165-166).
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Um excerto de uma dessas entrevistas, realizada a 18 de setembro de 2022 em São Paulo de Olivença, pode ser consultado em Antropologia Cultural (2025).
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Para o caso distinto dos Omágua a jusante do rio Solimões, de Tefé até Manaus, ver Jorna (1991) e Maciel (2003).
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21
Recentemente, com a chegada do SARS-CoV-2: “O nosso povo sofreu muito e foi muito discriminado porque para nós não tinha assim leito de hospital, a gente não tinha como comprar o remédio. Então, o que a gente usou só foram as plantas medicinais, e foi isso que salvou o nosso povo . . . Além de se defender da doença que estava ali presente, a gente tinha também que lutar e defender o território que estava sendo invadido . . . Muita coisa pra gente se preocupar, e aquilo foi afetando a saúde mental e muitas lideranças também faleceram, parentes e pessoas do nosso povo. Então, isso, para nós, foi uma coisa muito triste porque essas pessoas poderiam estar aqui hoje” (E. de S. Fermin Omágua, comunicação pessoal, 18 set. 2022).
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Para entender o declínio desta nação, ver Cabrero (2022).
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Saias tradicionais.
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Costumavam expressar a distância que uma pessoa caminhando a pé pode percorrer em uma hora, podendo ser estabelecida em cerca de 5,5 quilômetros.
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Recentemente, houve um interesse renovado em analisar conjuntamente registros etno-históricos e arqueológicos na Amazônia. Ver Lopes et al. (2024) para o caso do médio Solimões, Amazonas, partindo da história indígena de longa duração, em especial de seu último período associado às ocupações da TPA.
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26
Segundo o missionário Martín Corera (2019 [1959], p. 51, tradução própria): “Canals Frau, em sua obra ‘Pré-história da América’, omite valiosos relatos etnográficos ao tratar dos índios Yurimaguas. Ele fala deles como se formassem uma tribo indígena pertencente à linhagem Tupí. Não há dúvida de que são descendentes dos antigos Tupís; mas não é verdade que formem uma tribo específica, pois devem seu nome à fusão dos Yuris e dos Omáguas que, vindos do Brasil, grande parte deles emigrou pelo Alto Amazonas, e penetrando pelo Huallaga, estabeleceram-se na foz do Paranapura, onde fundaram a cidade de Yurimaguas, hoje capital da província do Alto Amazonas, no Peru. Os índios Omágua, que migraram em época anterior a esta fusão, encontram-se no território da Venezuela e da Colômbia, ao longo dos rios Orinoco e Yapurá”.
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27
Ver também F. Almeida et al. (2021).
REFERÊNCIAS
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Almeida, A. W. B., & Acevedo Marin, R. E. (Coords.). (2014). Nova cartografia social da Amazônia: movimento Kambeba: a resistência ao longo do tempo - São Paulo de Olivença AM UEA Edições. http://novacartografiasocial.com.br/download/29-movimento-kambeba-a-resistencia-ao-longo-do-tempo-sao-paulo-de-olivenca-am/
» http://novacartografiasocial.com.br/download/29-movimento-kambeba-a-resistencia-ao-longo-do-tempo-sao-paulo-de-olivenca-am/ - Almeida, F. O. de. (2013). A Tradição Polícroma no alto rio Madeira [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo].
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Almeida, F. O. de, Lopes, R. A., & Stampanoni Bassi, F. (2021). The cosmopolitan misfits of mainstream Amazonia. In M. Bonomo, & S. Archils (Ed.), South American contributions to world archaeology (pp. 383-409). Springer Nature Switzerland. http://dx.doi.org/10.1007/978-3-030-73998-0_15
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Editado por
-
Responsabilidade editorial:
Cristiana Barreto
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
05 Dez 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
21 Jun 2024 -
Aceito
03 Jun 2025













Fonte: Ferreira (1974 [1800]).
Mapa: F. Cabrero e P. Sabando (2025).
Fonte: Cabrero (2022).
Fonte: Cabrero (2022).
Foto: C. Flores (2022).
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Fonte: Cabrero (2022).
Fonte:
Fonte: Marcoy (2001 [1869]).
Mapa: Cabrero e Unidad de Sistemas de Información Geográfica - Universidad Estatal Amazónica (USIG-UEA) (2016).
Foto: MACCO (2024).