Resumo
Este trabalho aborda um conjunto de alternâncias que caracterizam todas as línguas Tupi-Guarani (TG) conservadoras. Três processos são reconstruídos para o Proto-Tupi-Guarani (PTG): a lenição pré-vocálica das oclusivas, a síncope pré-consonantal das oclusivas e a metátese da oclusiva glotal. A lenição e a metátese são mais extensamente discutidas, já que a literatura prévia falhou ao não reconhecer certos problemas. Argumento que o PTG deve ser reconstruído com um processo de lenição que afeta toda a série *p, *t e *k de oclusivas, o que faz de línguas como o Tupi Antigo, em que *k não sofre lenição, inovadoras. A reconstrução tradicional de oclusivas lenes ou contínuas em posição final absoluta é questionada, interpretada como resultado de uma influência injustificada dos padrões atestados para o Tupi Antigo em parte da literatura. Quanto à metátese da glotal, embora concluamos que a sua reconstrução para o PTG de fato explica o comportamento errático da oclusiva glotal quanto à regra de síncope, ela também levanta um paradoxo quanto ao estatuto deste segmento no PTG. Algumas soluções são sugeridas, e rejeitam-se os argumentos de Schleicher’s (1998) em favor da reconstrução de ‘obstruentes’ pré-glotalizadas para um estágio pré-PTG.
Palavras-chave
Línguas Tupi-Guarani; Linguística histórica; Reconstrução comparativa; (Morfo)fonologia