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A Amazônia indígena de George Catlin: imagens e relatos de viagem desconhecidos

The native Amazonia of George Catlin: little known pictures and travel accounts

Resumos

Este artigo apresenta e discute, pela primeira vez com vistas à etnologia e à etno-história do Brasil, as narrativas de viagem e os trabalhos do pintor norte-americano George Catlin (1796-1872) na Amazônia, em 1852, e a contribuição de suas memórias e pinturas para o conhecimento de grupos indígenas da época. Catlin ficara famoso, nos Estados Unidos, pelas centenas de retratos e imagens de aldeias indígenas do seu país, mas as suas viagens e trabalhos na América do Sul nunca receberam a mesma atenção; nos estudos brasileiros sobre artistas e naturalistas viajantes do século XIX ele não é sequer mencionado. Além da tradução de trechos relevantes das suas memórias de viagem, algumas de suas muitas pinturas de índios e paisagens amazônicas são aqui reproduzidas.

George Catlin (1796-1872); índios da Amazônia; Iconografia; Artistas viajantes


First presentation and Brazilian ethnohistory focused discussion of the 1852 Amazonian travels and pictures of George Catlin (1796-1872), and of their contribution to the knowledge of several Brazilian Indian tribes. The fame of Catlin in the U. S. depended on his previous North American hundreds of paintings, with no consideration of his later South American pictures and memoirs here described. Furthermore, Catlin is not even mentioned in Brazilian studies of XIXth century traveler artists. The relevant passages of his memoirs are here translated and some of his many Amazonian scenes and Indians portraits are reproduced.

George Catlin (1796-1872); Amazonian Indians; Iconography; Traveler artists


MEMÓRIA

Antonio Porro

Universidade de São Paulo. São Paulo, São Paulo, Brasil (toniporro@uol.com.br)

RESUMO

Este artigo apresenta e discute, pela primeira vez com vistas à etnologia e à etno-história do Brasil, as narrativas de viagem e os trabalhos do pintor norte-americano George Catlin (1796-1872) na Amazônia, em 1852, e a contribuição de suas memórias e pinturas para o conhecimento de grupos indígenas da época. Catlin ficara famoso, nos Estados Unidos, pelas centenas de retratos e imagens de aldeias indígenas do seu país, mas as suas viagens e trabalhos na América do Sul nunca receberam a mesma atenção; nos estudos brasileiros sobre artistas e naturalistas viajantes do século XIX ele não é sequer mencionado. Além da tradução de trechos relevantes das suas memórias de viagem, algumas de suas muitas pinturas de índios e paisagens amazônicas são aqui reproduzidas.

Palavras-chave: George Catlin (1796-1872). índios da Amazônia. Iconografia. Artistas viajantes.

ABSTRACT

First presentation and Brazilian ethnohistory focused discussion of the 1852 Amazonian travels and pictures of George Catlin (1796-1872), and of their contribution to the knowledge of several Brazilian Indian tribes. The fame of Catlin in the U. S. depended on his previous North American hundreds of paintings, with no consideration of his later South American pictures and memoirs here described. Furthermore, Catlin is not even mentioned in Brazilian studies of XIXth century traveler artists. The relevant passages of his memoirs are here translated and some of his many Amazonian scenes and Indians portraits are reproduced.

Keywords: George Catlin (1796-1872). Amazonian Indians. Iconography. Traveler artists

INTRODUÇÃO

Em meados do século XIX, o pintor George Catlin (1796-1872) (Figura 1) ganhou fama e popularidade, nos Estados Unidos, pela maestria com que soube retratar, em cenas e cores vivas, representantes de inúmeras tribos indígenas do seu país em sua indumentária, afazeres e ambientes característicos. Numa das fases mais dramáticas da conquista do Oeste americano, Catlin, que gostava dos índios e tinha por eles sincera estima e compaixão, quis restituir-lhes, com suas imagens, mesmo ao preço de alguma idealização, a dignidade e o respeito que estavam começando a perder. Antes da difusão da fotografia, as centenas de pinturas em tela e tabuleiros de papelão da sua "Indian Collection" tornaram-se emblemáticas do indianismo romântico norte-americano e foram admiradas, em exposições itinerantes, nas cidades da costa Leste e, na Europa, em Londres, Paris e Bruxelas. A maior parte dessa coleção está guardada no United States National Museum, Smithsonian Institution, Washington. Vista durante muito tempo com ceticismo pela crítica e pelos meios acadêmicos norte-americanos, a obra de Catlin tem sido objeto, desde meados do século XX, de crescente interesse e de novos estudos.


Será, todavia, motivo de surpresa, para os interessados na história das expedições científicas e artísticas à América do Sul, saber que Catlin, em 1852-1853, também viajou muito pelo Brasil, principalmente na Amazônia, onde foi o primeiro não morador a descer o rio Trombetas desde as Guianas até o Amazonas; que durante mais de seis meses visitou inúmeras tribos do baixo e alto Amazonas e de seus afluentes, bem como, em viagens sucessivas, da Amazônia peruana, da bacia do Prata e da Patagônia, deixando uma centena de pinturas que retratam índios e paisagens daquelas regiões; e que anos mais tarde, em Londres, publicou dois livros de memórias daquelas viagens. Curiosamente, essa importante produção iconográfica e literária foi absolutamente ignorada por todos os compiladores e estudiosos da obra de artistas, exploradores e naturalistas viajantes do Brasil oitocentista11 Katherine E. Manthorne (1996) faz breve referência às memórias brasileiras de Catlin, limitando-se à sua percepção edênica da natureza tropical e sem abordar o histórico de viagem e a produção artística do autor. . Uma lacuna que hoje não se justifica, visto que os livros de Catlin foram reeditados em anos recentes e que suas pinturas sul-americanas, guardadas na National Gallery of Art, em Washington, são de livre acesso na internet (Catlin, 2010).

George Catlin, filho de um advogado da Pennsylvania, havia nascido em Wilkes-Barre, naquele estado, a 26 de julho de 1796. Seguiu a carreira do pai, formando-se em direito em 1818. Desde a infância, porém, manifestara interesse pela natureza e pelos índios da região, com quem tivera contatos amigáveis e marcantes. Poucos anos depois de formado, cedendo à vocação pela pintura, abandonou a carreira legal e se mudou para Filadélfia, onde em 1824 foi admitido na Academia de Belas Artes. Dois anos depois, já havia pintado o primeiro de uma série de retratos de índios no estado de Nova Iorque. Em 1830, mudou-se para o centro-oeste, além do Mississippi, onde esteve agregado à Superintendência de Assuntos Indígenas dos territórios ocidentais e iniciou a longa série de retratos de chefes, notáveis e pessoas comuns das tribos recentemente contactadas, trabalho que iria se estender até 1836. A partir de então, Catlin passou a se dedicar principalmente à exposição itinerante de suas pinturas, a "Indian Collection", nas principais cidades dos Estados Unidos. Em 1839, mudou-se para a Inglaterra, onde a exposição foi vista durante seis anos em Londres e outras cidades; em 1845, passou a ser exposta em Paris. Contando com o patrocínio da rainha Vitória e do rei Luis Felipe, obteve sempre grande sucesso de público, em parte devido à apresentação simultânea de índios norte-americanos executando danças típicas.

Em 1848, devido à revolução de Paris, Catlin retornou a Londres com sua exposição, mas não conseguiu repetir o sucesso dos primeiros anos. Em 1852, vítima de gestões financeiras desastradas, acabou falindo; a sua coleção passou às mãos de um empresário de Filadélfia, Joseph Harrison Jr., que a manteve (mal) armazenada num seu pavilhão industrial. Em 1871, Catlin regressou aos Estados Unidos; procurou inutilmente vender a sua coleção ao governo, mas só conseguiu promover algumas apresentações e mesmo assim com pouco sucesso. Faleceu em Jersey City, New Jersey, a 23 de dezembro de 1872. Em 1879, a viúva de Harrison doou a coleção Catlin ao governo, que a destinou à Smithsonian Institution (Donaldson, 1885; Ewers, 1956; Ross, 1997[1959]).

O CATLIN DESCONHECIDO

A partir de 1852, apesar de falido e com sua coleção penhorada, Catlin não ficara inativo. Deixando Londres, voltou a Paris, de onde a sua inesgotável curiosidade por povos e lugares exóticos o levaria ao que ele, modestamente, chama "uma das insólitas aventuras da minha vida": nada menos que longas viagens pela Amazônia, pela bacia do Prata e por outras partes da América do Sul, além de toda a costa oeste e noroeste da América do Norte, que ainda não conhecia. Ele as narrou em dois livros sem pretensões acadêmicas, que publicou em Londres na década de 1860: "Life amongst the Indians: a book for youth" (Catlin, 1861) e "Last rambles amongst the Indians of the Rocky Mountains and the Andes" (Catlin, 1868). Um seu texto introdutório ao "Catálogo" de 1871 da coleção também traz breves referências a essas viagens (Donaldson, 1885). Assinale-se, porém, que para decepção da posteridade, Catlin nunca se preocupou em registrar com precisão suas fontes, contatos, itinerários, lugares e datas. Fica-se, assim, sabendo que em 1852, intrigado por vagas notícias que um amigo, frequentador da biblioteca pública de Paris, havia lido num velho livro espanhol (que não identifica), decidiu ir à procura de uma suposta mina de ouro abandonada em algum lugar da serra de Tumucumaque, entre as Guianas e o Brasil.

Embarcou naquele ano para Cuba e de lá para Caracas, seguindo depois com outro vapor até a Guiana Britânica em companhia de um botânico alemão, certo Dr. Hentz. Em Georgetown, antes de começar a viagem rumo às montanhas do sul, visitou e pintou retratos de diversos índios da região e da vizinha Guiana Holandesa: Karib, Makuxí, Akaway, Warau e Arawak, tecendo considerações sobre suas semelhanças e diferenças em relação aos índios norte-americanos. Encontrou também um jovem inglês, J. Smyth, que, em busca de alguma ocupação, passou a integrar a pequena expedição. Alertado das dificuldades que, como estrangeiro, encontraria ao cruzar a fronteira da Guiana com o Brasil, Catlin conseguiu um passaporte o qual, sob falso nome, o fazia passar por cidadão britânico; não revela este nome, mas sabemos que o manteve durante todo o tempo passado na Amazônia (isto pode explicar a ausência de notícias a seu respeito na crônica paraense da época, mas não justifica o mesmo silêncio na historiografia dos viajantes, uma vez que em seus subsequentes livros de memórias Catlin não usou de pseudônimo). O seu plano era subir o Essequibo até as nascentes, no divisor de águas com a bacia amazônica, mas, aconselhado por Robert Schomburgk (1804-1865), o explorador alemão a serviço da Inglaterra que, com seu irmão Richard, percorrera por três vezes aquela região entre 1834 e 1844 (Schomburgk, 19221923), Catlin preferiu evitar a incerta e disputada fronteira na cabeceira do Essequibo e ir cruzá-la mais a leste, em região menos visada. O pequeno grupo deixou então o curso daquele rio antes das primeiras cataratas e seguiu marchando rumo sudeste por matas e campos. Passando por diversas aldeias Arawak e Karib (entre estas os Makuxí), atravessou a serra de Acaraí, à qual o autor se refere sempre como Tumucumaque ou 'do Cristal'. Naquelas elevações livres de floresta, Catlin, que também se interessava por geologia, observou demoradamente as formações rochosas em busca de indícios de ouro, mas nada encontrou. Ao atravessar as últimas serranias, cansado, esfomeado e desiludido quanto à miragem do ouro, mas recompensado pelas belas paisagens do alto Trombetas, ele confessa: "Comer, sobreviver e seguir adiante haviam-se tornado assuntos mais importantes do que o ouro... Com o tempo, a minha febre de ouro desapareceu e eu voltei a sentir a alegria da minha antiga vocação".

Na região dos formadores do Trombetas, os viajantes foram recebidos amistosamente em diversas aldeias Warikiana, Zurumata e de grupos Tupi não identificados, todos "bastante diferentes das raças Karib que vivem do outro lado das montanhas; são de um tipo mais alto e encorpado e de cor algo mais clara". No próprio alto Trombetas, conseguiram lugar numa grande canoa de quarenta a cinquenta pés de comprimento e cinco de largura, em que dois mestiços estavam carregando "couros e outras coisas para levá-las ao Pará", e seguiram com eles rio abaixo. Já no baixo curso, foram alcançados por uma multidão de uns duzentos índios, entre eles mulheres e crianças, que desciam apressadamente das aldeias amigas em que haviam pousado rio acima. Era a época da desova das tartarugas e eles corriam para se abastecer de carne e ovos, operação em que aceitaram a companhia dos viajantes. Dias depois, Catlin e seus companheiros chegavam ao rio Amazonas, em Óbidos; passaram por Santarém e em uma semana estavam em Belém do Pará.

Nos meses seguintes, fazendo de Belém a sua base de operações, Catlin deu início a uma série de viagens no intuito de retratar os índios das tribos amazônicas. Bem ao seu feitio, não se preocupa em informar a ordem, duração e cronologia dessas viagens; limita-se a dizer que "nas proximidades [de Belém] do Pará, nos rios Tocantins e Xingu, visitei uma dúzia ou mais de tribos"; a viagem ao Xingu teria durado cinco ou seis semanas. Em outra ocasião, aconselhado a visitar índios 'civilizados' de alguma missão religiosa, desistiu depois de duas semanas por tê-los achado pouco interessantes e tediosamente supersticiosos. Voltou a Belém e, novamente em companhia de J. Smyth, decidiu fazer uma viagem de maior fôlego. Com a naturalidade de quem foi excursionar pelos arredores da cidade, conta que subiu todo o Amazonas e o Marañon até Nauta, cidade peruana na foz do Ucaiale, onde "encontrei um português, dono de uma galeota, com quem combinei descermos o Amazonas até Óbidos... com direito a parar defronte a várias aldeias indígenas para fazer os meus esboços". Logo na primeira parada, descobriu que os índios não gostavam de posar, razão pela qual, daí por diante e nas viagens seguintes, ele passou a fazer esboços discretamente, sob o toldo da galeota, concluindo depois as pinturas durante a navegação. A viagem de Nauta a Óbidos, de 2.900 quilômetros, é a única cuja duração Catlin chegou a registrar: sessenta e nove dias, durante os quais "observei e fiz esboços em trinta diferentes tribos, onde havia muitos milhares dessas pessoas simples, ocupadas na pesca em suas canoas ou em grupos à beira do rio". Na verdade, pelas pinturas que fez e pelo que se sabe da população ribeirinha do Marañon-Amazonas na época, pode-se presumir que não se tratava de trinta "tribos", mas de povoados e provavelmente nem todos de índios.

Mais tarde, não temos a data, mas sabemos que foi seis meses depois de ter pela primeira vez descido o Trombetas e chegado ao Amazonas, Catlin repetiu a viagem de Belém a Nauta, mas agora a bordo do vapor Marajó em sua segunda ou terceira viagem rio acima. Dez dias depois estava em Nauta, tendo passado, embora sem nomeá-las, por "pelo menos uma centena de aldeias e agrupamentos indígenas nas ilhas e praias". Nesse ponto, e de certa forma retificando a sua afirmação do parágrafo anterior, ele manifesta um sadio ceticismo em relação às alegações da suposta "mais de uma centena de tribos às margens do Amazonas [desde Belem até Nauta]", observando que "bandos pertencentes à mesma grande família ou tribo têm sido indevidamente chamados tribos". Em Tabatinga, viu dois vapores sendo construídos por americanos que haviam trazido dos Estados Unidos toda a maquinaria. Desta vez, nada diz sobre a viagem de volta a Belém.

Tempos depois, não sabemos quando, Catlin conheceu em Belém um deputado ao parlamento, que identifica somente pela inicial L., proprietário de uma fazenda com quinze escravos e dez mil cabeças de gado situada numa grande ilha do Amazonas, entre Santarém e Manaus. O senhor L. também conhecia a tradição da mina de ouro perdida na serra de Acaraí; acalentava a ideia de ir procurá-la e se dispôs a financiar e acompanhar Catlin numa expedição por outro caminho, que dizia ser melhor. Catlin tinha um empregado negro, Cesar, um liberto vindo da Havana que já o acompanhara ao Xingu; o senhor L. levava dois escravos negros e dois índios ribeirinhos como guias e intérpretes. Por razões que não declara, mas que podemos imaginar, o deputado não queria ser reconhecido e disse que passaria a atender pelo nome de senhor Novelo. Não há como reconstituir o itinerário dessa viagem, porque Catlin não identifica o ponto de partida, a ilha do agora senhor N., nem o afluente da margem esquerda do Amazonas, uns trinta quilômetros abaixo da ilha, pelo qual enveredaram. Subiram esse rio "estreito e manso" e no terceiro dia chegaram ao fim do seu trecho que podia ser navegado pela "grande e pesada canoa" em que vinham. Desse ponto seguiram marchando pela mata fechada e ao final de cinco ou seis dias estavam em solo mais elevado e mata mais aberta. "No décimo primeiro dia desde a partida [não sabemos se desde a ilha ou da caminhada] já estávamos em campo aberto, com o sol brilhando, a fumaça de uma aldeia Zurumata e o azul das montanhas Acaraí à distância". Os Zurumata, conhecidos dos guias, os receberam amistosamente, apreciaram as pinturas de índios norte-americanos que Cesar levava às costas junto com tabuleiros em branco, protegidos por um encerado, mas não se deixaram retratar. Forneceram-lhe, porém, mantimentos, homens e mulas para levar a bagagem até o sopé das montanhas, uns 60 ou 80 quilômetros adiante. Atravessaram diversos rios, "entre eles o ramo ocidental do Trombetas [o Cafuini ou Poana]; (...) com mais dois dias de caminhada chegamos ao pé das montanhas; (...) a 'febre do ouro' estava nos atacando". Mas nesse ponto os índios quiseram regressar com as mulas, porque nas montanhas eles temiam os da tribo Waiwé (também grafada Waiwai na literatura). Durante muitos dias, os viajantes percorreram os penhascos e desfiladeiros à procura de sinais de ouro ou de aldeias Waiwé onde obter notícias deles. Ao final, com os mantimentos minguando, desistiram e voltaram à aldeia Zurumata, à canoa e ao rio Amazonas, "a uns setenta quilômetros do ponto onde o tínhamos deixado".

Esta foi a última viagem de Catlin na Amazônia brasileira. Depois de descansar duas semanas na fazenda do deputado, ele voltou a subir o Amazonas e o Maranon, de vapor, até Nauta. No caminho, visitou povoados Mura, Marauá, Mayoruna, Omagua, Cocama e Tukuna, além de muitos outros na Amazônia peruana. Subindo o Ucaiale, foi conhecer as tribos do pampa de Sacramento e de lá prosseguiu, pela difícil trilha dos Andes, até Lima. Em Callao, tomou um vapor que o levou ao Panamá, a San Diego e a San Francisco, na Califórnia. Nos dois anos seguintes, até 1855, percorreu em longas e proveitosas viagens toda a costa oeste, subindo pela Columbia Britânica até as ilhas Aleutas. Voltou pelo interior das Rochosas até o Colorado, o México e, do Yucatán, finalmente, embarcou para a França.

Em Berlim, foi visitar o já idoso Alexander von Humboldt (1769-1859), que conhecera anos antes e que lhe deu uma carta de apresentação para Aimé Bonpland (17731858), no Uruguai, pois Catlin tinha decidido conhecer a bacia do Prata, a Argentina e o Chile. No outono de 1855, tomou um vapor no Havre e, depois de uma escala no Rio de Janeiro, chegou a Buenos Aires, de onde, sempre de vapor, subiu o rio Paraná até o Chaco e voltou pelo rio Uruguai, conhecendo, entre outras, as tribos Payaguá, Lengua, Botocudo (do alto Uruguai) e Toba. Na Argentina central, esteve entre os Puelche e os Auca. Voltou a Buenos Aires, de onde, com um navio de linha, costeou a Patagônia e atravessou o Estreito de Magalhães, observando acampamentos de Patagões e Fueguinos. Continuou a navegação subindo o litoral Pacífico até chegar ao Panamá; atravessou o istmo e seguiu pelo litoral até Santa Marta, na Colômbia, e o lago de Maracaibo, na Venezuela, para examinar os efeitos do grande terremoto que havia abalado a região no começo daquele século. Incluiu essas observações geológicas no seu último livro, "The lifted and subsided rocks of America" (Catlin, 1870).

O NARRADOR E O ARTISTA

Ao contrário dos exploradores e artistas seus contemporâneos que percorreram a Amazônia (Schomburgk, Marcoy, Osculati, Castelnau, entre outros), Catlin não deixou verdadeiros diários de viagem. Os dois livros que publicou anos mais tarde, na década de 1860, são livros "para a juventude", de aventuras supostamente autênticas, embora sem a preocupação do rigor acadêmico ou mesmo de exposição sistemática. Ele demonstra desconhecer a cultura e a língua do país (mais de uma vez menciona o "espanhol" como o idioma falado no baixo Amazonas) e reconhece suas dificuldades com os nomes tribais. Também reconhece (na verdade, supõe) que "a descrição de longas viagens num pequeno livro deve necessariamente ser discursiva e desarticulada (...) e por isso eu me vi na penosa incumbência de convidar o leitor a 'imaginar' os episódios que a falta de espaço me impedia de narrar" (Catlin, 1868, capítulo 6). Para um juízo ainda mais severo e nada complacente dessas imprecisões e da própria honestidade intelectual de Catlin, veja-se Dippie (1990, p. 344):

A cronologia de Catlin para as suas andanças nos anos 1850 é vaga e repleta de inconsistências (...) [As datas,] para ele, eram uma questão de conveniência, algo a ser usado para despertar interesse, criar impressões e 'vender'.

Cada um dos livros contém, numa narrativa descontínua, diferentes episódios e impressões de viagem dos anos 1852 a 1857 pela América do Sul e do Norte. As viagens pela Amazônia brasileira ocupam somente um quinto das páginas dos dois livros; para a tradução que damos a seguir, foram selecionadas apenas as partes de interesse etnográfico e geográfico, deixando de lado os pequenos incidentes de viagem, as aventuras de caça e as longas e, de resto, interessantes digressões e impressões estéticas do artista. Devido à dificuldade, já assinalada, de se estabelecer a cronologia das viagens, a sequência dada aos episódios aqui traduzidos deve ser considerada como a aproximação possível ao roteiro das andanças amazônicas de Catlin, cujo itinerário, aliás, tal como reconstituído no mapa de Donaldson (1885), é absolutamente equivocado.

Muito embora, em sua narrativa, Catlin faça constantes referências à realização, durante a viagem, de suas pinturas, não há nelas qualquer identificação que permita associá-las a determinadas localidades ou momentos. Uma vez concluída em Maracaibo a sua terceira e última viagem à América do Sul, Catlin voltou à Europa, onde viveu, principalmente em Bruxelas, até 1870. Além de completar esboços de suas viagens de 1852-1857, dedicou-se a refazer, a partir de esboços e da memória, parte de sua primeira coleção, dos anos 1830, que lhe tinha sido penhorada. Em 1871, voltou aos Estados Unidos com esta segunda coleção, mais de 600 pinturas, mas, adoentado, veio a falecer no ano seguinte. Anos mais tarde, a coleção foi vendida por sua filha Elizabeth ao American Museum of Natural History, que, em 1965, a passou à National Gallery of Art.

Ao contrário das pinturas da sua primeira fase, divulgadas e arroladas em diversos catálogos desde o século XIX, as da segunda fase, incluindo todas as da América do Sul, permaneceram inéditas até 1959, quando Marvin C. Ross preparou uma reedição quase integral dos dois livros de Catlin, acompanhada de fotos em preto e branco de 151 pinturas da segunda fase, hoje conservadas na National Gallery of Art. Na sua edição, Ross criou legendas para todas as lâminas, comparando pacientemente o tema de cada pintura com os verbetes do catálogo da exposição de 1871 da "Indian Collection", não ilustrado, mas que remetia à numeração das pinturas, a qual, porém, com o tempo, havia-se perdido. Anos depois, o livro foi republicado sem alterações (Catlin, 1997). As legendas das pinturas amazônicas aqui reproduzidas com autorização da National Gallery of Art, foram extraídas das que Ross reconstituiu (Figuras 2 a 5). Quanto à pertinência dessas legendas, Ross adverte que "Catlin, como ele mesmo reconheceu, tinha muita dificuldade em conseguir os nomes dos índios da América do Sul e a sua identificação de algumas tribos pode não ser precisa e não corresponder à designação em uso hoje". Das 151 pranchas com paisagens e retratos de corpo inteiro de índios, dez correspondem à Venezuela e à Guiana, 35 à Amazônia brasileira, sete à Amazônia peruana, 22 ao pampa de Sacramento, 25 à bacia do Prata, Chaco e Patagônia e 52 a diferentes regiões dos Estados Unidos, Canadá e México.


Ao iniciar, em 1852, suas andanças pela América do Sul, Catlin percebeu que o clima quente e úmido e as condições geralmente adversas de viagem não eram adequadas para a pintura em tela que havia praticado nos Estados Unidos. Passou então a fazer suas pinturas em tabuleiros de um papelão especial de boa qualidade (Bristol board), leves, de secagem rápida e facilmente transportáveis; quase todos os da sua coleção medem 48 x 64 centímetros. Mas há outras e mais importantes diferenças entre o Catlin da primeira fase, nas tribos do Oeste americano, e o da segunda, na Amazônia. O primeiro, pelo caráter oficial da sua presença, pelo tempo à sua disposição e pela possibilidade de melhor comunicação, desenvolveu com proficiência duas especialidades: a de reproduzir com precisão, naturalidade e movimento a vida nas aldeias, as caçadas, as festas e os rituais, e a de fazer verdadeiros retratos de pessoas, seja em meio corpo, captando a fisionomia particular, seja em corpo inteiro, na verdade ocultando amiúde o corpo do personagem sob a riqueza e o colorido de mantos e cocares vistosos:

Catlin deu o melhor de si como pintor de retratos (...). Os seus retratos em busto ou meio corpo são o melhor do seu trabalho com os índios. Catlin nunca se satisfez em retratar índios genéricos ou idealizados (...). Ele tinha o gênio incomum de captar os traços de um rosto que definem a sua individualidade (...). Catlin não foi tão bem sucedido nos retratos de corpo inteiro. Ele nunca dominou a forma do corpo humano. As suas tentativas de resolver problemas de proporções em perspectiva o levaram às vezes a (... ) colocar cabeças bem proporcionadas, mas minúsculas sobre corpos gigantescos (Ewers, 1956, p. 495).

Já na sua fase sul-americana, sem poder contar com as condições favoráveis da primeira, Catlin não pôde desenvolver a contento nenhuma das duas modalidades de pintura que o haviam tornado famoso. Os índios não queriam ser retratados e ele teve que se limitar a traçar esboços à distância, sem poder captar-lhes a individualidade. A isto deve ser atribuída a semelhança, obviamente irreal, na fisionomia (aliás, mais caucasóide que ameríndia) de indivíduos que ele retratou em diferentes partes da Amazônia e mesmo da bacia do Prata. Na verdade, são quase manequins impessoais que ostentam adereços e armas de diferentes tribos. É um ponto fraco do pintor, mas que não irá depreciá-lo para o etnólogo, mais interessado nos enfeites, penachos, tangas, pinturas corporais, armas e utensílios reproduzidos (cujo valor documental, todavia, ainda deverá ser avaliado). É provável que a prudente distância que Catlin foi obrigado a manter dos seus objetos seja a razão de não haver, em suas pinturas, imagens de aldeias e da vida aldeã; em seu lugar, aparecem somente as barrancas do rio, o perfil de algumas cabanas e uma ou outra canoa.

Não cabe, no espaço desta comunicação, uma análise mais detida da iconografia de Catlin, bastando aqui ter dado a conhecer a existência e o conteúdo de imagens e relatos de viagem que haviam sido ignorados, nos estudos amazônicos, durante 150 anos.

GEORGE CATLIN: EXCERTOS DE "LIFE AMONGST THE INDIANS..." E "LAST RAMBLES..."22 Inseriram-se aqui subtítulos que não existem no original.

Ouro no Tumucumaque? ("Last Rambles...", capítulo 2)

Como narrei em outro livro ["Life amongst the Indians..."], eu estive durante oito anos viajando entre as tribos da América do Norte, ao leste das Montanhas Rochosas; cheguei a formar uma coleção de mais de 600 retratos de índios e de pinturas que ilustram seus modos de vida e organizei a sua Exposição em Nova Iorque, Paris e Londres.

Essa Exposição foi muito bem sucedida, me deu sucesso e também dinheiro; mas, assim como muitos homens imprudentes, eu fui levado a especulações desastradas e, como eles, sofri graves consequências.

Por essa época, contudo, o Senado dos Estados Unidos estava discutindo um projeto de lei para a compra da minha coleção pelo valor de $65.000 [a lei acabou não passando]. Entendi que nada mais poderia esperar do meu país pelos meus trabalhos e pela minha coleção. O desalento que se abateu sobre mim e o fracasso dos meus negócios em Londres impediram o meu regresso aos Estados Unidos (...). Eu estava perdido, mas a minha coleção estava salva para o meu país graças a um cavalheiro americano - um ato tão nobre e patriótico que não posso crer venha a ser esquecido pelo meu país.

Sem ter nada, então, com que me ocupar, sem outros recursos além das minhas mãos e do meu pincel, e, na melhor das hipóteses, com menos da metade de uma vida pela frente, os meus pensamentos, como tudo o que é humano e mortal, voltaram-se para a deusa Fortuna para saber se ainda haveria algo guardado para mim (...).

É nesse estado de espírito, portanto, que fui levado a uma das insólitas aventuras da minha vida pelas notícias que um amigo encontrara, na Biblioteca Imperial de Paris, lendo uma antiga obra espanhola que tratava de minas de ouro de trezentos anos atrás, nas montanhas Tumucumaque, ou do Cristal, no norte do Brasil. Conforme aquela tradição, depois de ter acumulado grandes riquezas, os mineiros espanhóis haviam sido atacados pelos índios e massacrados ou expulsos do país, deixando o ouro atrás de si33 Se a tradição tinha raízes históricas, é provável que elas estivessem mais a oeste, onde os espanhóis haviam ocupado as nascentes do rio Negro e do Orenoco. Por outro lado, ao final do século XVIII, a crença na maravilhosa cidade de Manoa, no lago dourado de Parima, a leste do alto rio Branco, ainda estava viva. João Daniel, que como poucos tinha notícias da região, escrevera: "Confirmam os índios dos rios que medeiam entre a fortaleza do Paru e a fortaleza de Pauxis, que nas suas cabeceiras há muito ouro" (apud Porro, 2006, p. 132). (...). A imaginação, naturalmente, me fez vislumbrar aquelas riquezas abandonadas, enterradas sob as paredes de suas casas de adobe (...).

Com tais pensamentos e expectativas, em 1852 eu parti para as Montanhas de Cristal, no Brasil. Embarquei para a Havana e de lá para Caracas, na Venezuela, para ver o assombroso Scila44 Scila, monstro marinho da mitologia grega. Ao que parece, uma metáfora para o terremoto que abalara a região no começo do século XIX. descrito pelo Barão de Humboldt. De Caracas segui para o rio Orenoco e para Demerara [Guiana], planejando subir o Essequibo até o sopé das Montanhas de Cristal. Em Demerara, amigos me alertaram sobre a suspeita com que a incerta fronteira da Guiana Britânica com o Brasil era vigiada e da consequente dificuldade, se não impossibilidade, de passar pelo posto fronteiriço das Grandes Corredeiras, no Essequibo. Consegui um passaporte britânico para o Brasil sob nome fictício, como reis e imperadores fazem às vezes, e planejei deixar o rio abaixo do Sabo, ou grande cachoeira55 Parece estar se referindo ao rio Cipó dos portugueses, principal formador encachoeirado do alto Essequibo. , e chegar às montanhas por uma trilha, com guia e escolta que procuraria nas aldeias Arowak [Arawak] ou Tarumá, pelas quais teria que passar.

Antes disso, eu encontrara Sir Robert Schomburgk, meu velho conhecido, de regresso da sua segunda expedição exploradora às cabeceiras do Essequibo. Ele me expusera as incertezas quanto a obter, dos guardas de fronteira, a permissão de passar as Grandes Corredeiras, bem como a grande dificuldade de subir o Essequibo pelas montanhas, devido às muitas corredeiras, que iriam demandar uma equipe mais numerosa. Ele aprovou o meu plano de seguir a rota do Leste e, sabendo do objetivo que eu tinha em mente, disse-me que há muito tempo ouvira falar na lenda das minas de ouro espanholas daquelas montanhas, e que se naquela ocasião não estivesse ocupado desempenhando uma missão especial de Sua Majestade a Rainha, terme-ia acompanhado na viagem.

Em Georgetown, uniu-se a mim um dinâmico jovem inglês de nome Smyth (...).

Trechos de uma carta de J. Smyth a um seu irmão em Berkshire, transcrita por Catlin em "Life amongst the Indians...", capítulo 15

Pará, Brasil, 1854.

Querido irmão,

(...) Cheguei a Georgetown, Demerara, há um ano e lamento dizer que não me pareceu ser o que se dizia dela. Perambulei por lá durante seis meses a troco de nada e não sabia mais o que fazer quando encontrei um velho conhecido de Londres, o Sr. Catlin, de quem lembrarás, pois fomos ver mais de uma vez a sua "Indian Collection" no Egyptian Hall (...). Reconheci aquele veterano, com sua paleta e seus pinceis à mão, pintando o retrato de um chefe índio (...). Estendi-lhe a mão e disse - 'Não me reconhecerá, senhor, fazem mais de seis anos que me viu', mas ele na mesma hora pronunciou o meu nome.

Estava com ele um doutor alemão [o botânico Hentz]; acabavam de chegar de Angostura, no Orenoco, com o nariz e o rosto queimados de Sol e quase da cor dos índios. No aposento havia uma grande mesa cheia de plantas e peles de animais e aves, e as paredes estavam cobertas de retratos de índios e paisagens. Soube que eles estavam de partida para uma viagem pelos montes Tumucumaque, até o vale do Amazonas, no Brasil, justamente o lugar onde eu mais teria gostado de ir. Propus-lhe que, se pagasse as minhas despesas e me suprisse de munição, pois eu tinha um rifle Minié de primeira qualidade, iria com ele, caçaria e o protegeria com risco da minha vida se fosse necessário. A minha oferta lhe pouparia a despesa de contratar alguém pior; ele concordou e fechamos o trato (...).

Tribos da Guiana ("Life amongst the Indians...", capítulo 17)

(...) Antes de deixar Demerara com a minha pequena equipe, fui visitar as tribos que vivem nos arredores: os Carribbees [Karib] e Macouchis [Makuxí], os Accoways [Akawai] e os Warrows [Warau] da Guiana Holandesa, nos arredores de Paramaribo e Nova Amsterdam, e os Arowaks [Arawak] no rio Corentine. E ao longo do nosso caminho, nas cabeceiras do Essequibo, os Tarumas [Tarumá] e Oyaways [Waiwé], os quais, assim com as tribos das planícies da Venezuela, não são, na verdade, senão nomes de diferentes bandos ou subdivisões da grande família Carribbee [Karib], que ocupa ao menos um quinto [das terras americanas] do hemisfério sul.

Esta numerosa tribo também ocupava, à época do descobrimento de Colombo, todas as pequenas Antilhas e desde então foi aniquilada ou, para fugir da escravidão a que os espanhóis a estavam submetendo, fugiu para a costa da América do Sul e Central, onde agora vive66 Ao contrário do que o autor supõe, os Karib haviam chegado às Antilhas a partir do continente sul-americano. .

Esta gente é, em geral, de estatura baixa, menor que a das raças da América do Norte, mas não inferior à de algumas que lá se encontram, e bastante parecida a elas em traços como a cor e os costumes, o que os caracteriza, sem dúvida, como membros da grande família nacional americana.

Já as tribos dessa região, muito parecidas entre si em aparência e costumes, também falam línguas muito semelhantes, o que indica constituírem um grupo familiar. A sua pele é de um tom ligeiramente mais escuro que a das raças norte-americanas e a sua indumentária é muito diferente, sendo esta última, certamente, resultado da diferença de clima. O dos trópicos permite pouca vestimenta e essas tribos vivem praticamente nuas; tanto homens como mulheres raramente usam algo mais do que sandálias e uma simples cobertura das partes íntimas; contudo, eles preservam um estrito senso de decência e decoro, pelo que essas pobres criaturas são merecedoras de crédito.

Todo dia eles esfregam seus corpos e membros nus com um óleo fino e límpido, e embora amiúde sejam tidos como sujos, na verdade são muito mais limpos e livres de afecções e vermes do que quaisquer pobres do mundo civilizado, onde por necessidade vivem cobertos de trapos que não são lavados todo dia (e amiúde nem toda semana, mês e às vezes ano).

Rumo ao Amazonas ("Last rambles...", capítulo 2)

(... ) Subimos o Essequibo e o deixamos abaixo da grande catarata, e depois de uma arriscada travessia de rios e pântanos alcançamos uma aldeia Arowak [Arawak]. Recebidos com grande amabilidade (...), conseguimos contratar cavalos e mulas e o serviço de um guia índio. Passamos por diversas aldeias indígenas ao longo de 500 a 700 quilômetros de extensão e chegamos ao sopé das montanhas. Aqui, com um guia e intérprete mestiço que conhecia o caminho, e uma mula para carregar a nossa bagagem, confiamos em nossas pernas para atravessar as montanhas até o vale do Amazonas. Com muito esforço e alguns apuros conseguimos chegar à confluência que dá origem ao rio Trombetas77 É a confluência dos rios Poana, a oeste, e Anamu, a leste. , que iríamos descer numa canoa dos índios até o Amazonas e de lá para Santarém e [Belém do] Pará (...).

Em lugar de encontrar no Tumucumaque (ou Acaraí), como eu imaginara, uma única cadeia montanhosa, acabamos nos vendo numa série de montanhas de rochas paleozóicas, de aparência desafiante e assustadora, pelo espaço de oitenta a cem quilômetros. No meio delas, a nossa mula desfaleceu e tivemos que deixá-la, bem como nossa bagagem, passando a depender das nossas armas para a subsistência. Comer, sobreviver e seguir adiante haviam se tornado assuntos mais importantes do que o ouro; no nosso estado exausto e periclitante, não éramos mais do que pobres caçadores de miragens (...). Com o tempo, a minha febre de ouro desapareceu e eu senti a alegria da minha antiga vocação, são e salvo no vale do Amazonas (...).

Rio Trombetas ("Life amongst the Indians...", capítulo 17)

Agora estamos no imenso e verde vale do Amazonas! Por onde começar? Os montes Acaraí, ou Tumucumaque, ou de Cristal, que deixamos atrás, formam o limite das Guianas Britânica e Holandesa com o Brasil; são realmente sublimes e não muito diferentes das Montanhas Rochosas da América do Norte em certos aspectos, mas muito diferentes em outros. As encostas dessas montanhas, com seus declives encantadores que caem sobre o vale sempre-verde, são (...) realmente grandiosas e magníficas (...).

Enxergamos linhas de um verde claro que correm entre fendas e ravinas e se estendem para o que parece ser um oceano, convertendo-se numa massa verde e compacta (...). A linha negra que vemos abaixo de nós, à esquerda, é a mata que margeia o rio Trombetas, para onde temos que ir (...). As trilhas dos índios e, por fim, o tênue fio de fumaça das suas longínquas cabanas nos diziam que estávamos de volta ao mundo dos vivos, embora nós mesmos mal pudéssemos contar entre eles. Fomos recebidos e tratados amavelmente por todas as tribos do Trombetas, rio que agora iríamos descer. Estes índios -War-kas [Warikiana, Arekuna?], Zurumatis [Zurumata], Zumas [?], Tupi e muitos outros - são bastante diferentes das raças Carribbee [Karib] que vivem do outro lado das montanhas. São de um tipo mais alto e encorpado e de cor algo mais clara. Pertencem à grande família dos Guarani, da qual se pode dizer que ocupa todo o leste e norte do Brasil; são, geralmente, chamados Tupi, mas não sei dizer por qual razão. Tupi é o nome somente de uma subdivisão dos Guarani, que fala a mesma língua com bem poucas variações e que é, sem dúvida, do mesmo tronco. É, porém, um assunto pouco relevante que todos eles sejam chamados Guarani ou Tupi, pois, como quer que seja, nunca houve nem haverá qualquer fronteira fixa entre eles88 Uma vez que, historicamente, não havia grupos de língua Tupi na bacia do Trombetas, a discussão é irrelevante e deve ser atribuída a um equívoco do autor, talvez devido à presença de falantes da língua geral. (...).

Estamos perto das cabeceiras do Trombetas, em seus belos campos verdejantes (...). A nossa pequena canoa vai deslizando dia após dia entre palmeiras, campos luminosos e pássaros gorjeantes. O rio adentra a mata profunda e sombreada e nós com ele (...).

Trechos de uma carta de J. Smyth, em "Life amongst the Indians...", capítulo 16

(... ) Atravessar essas imensas montanhas que se levantam em sucessivos chapadões, um após outro, abruptos e áridos, significou percorrermos pelo menos uma centena de milhas (...).

Lançamos, finalmente, o primeiro olhar no grande vale do Amazonas, ao sairmos de uma greta profunda que havíamos percorrido durante muitas milhas. E tivemos então, diante de nós, a vista mais bela que há no mundo: maravilhosas pradarias onduladas cobertas de relvas e flores silvestres e manadas de gado e cavalos selvagens pastando nelas (...).

Chegamos, por fim, ao rio Trombetas, onde encontramos algumas aldeias de índios bastante amigáveis. Encontramos também um par de mestiços e vários índios que estavam carregando uma canoa grande com couros e outras coisas para levá-los ao Pará, dando-nos a possibilidade de descer com eles. Esta canoa, de quarenta a cinquenta pés de comprimento e cinco de largura, era feita de um único tronco cavado e tinha as bordas elevadas em mais um pé e meio através de tábuas entretecidas com folhas de palmeira para manter a salvo da água uma carga muito pesada; podia levar facilmente quatro a cinco toneladas. Na cabeceira deste rio, estávamos justamente sob a linha do Equador, com o Sol a pino sobre nossas cabeças99 A junção do Poana com o Anamu, dando origem ao Trombetas, está na latitude 1° N. (...).

Depois de conseguirmos algum abastecimento, carregada a canoa e tendo o patrão feito um bom número de esboços, partimos rumo ao Amazonas, distante talvez umas trezentas milhas (...). Rio abaixo, tivemos um dia um grande sobressalto devido aos gritos e cantos de uns duzentos ou mais índios, homens, mulheres e crianças, que desciam o rio atrás de nós em grande velocidade. O grupo, como soubemos depois, era de uma das aldeias amistosas por onde tínhamos passado; estavam indo para uma praia famosa para a caça das tartarugas. Nos convidaram a ir com eles e acampamos juntos antes do amanhecer (...).

[Passada uma noite e um dia de caça e coleta de ovos], com uma provisão de três ou quatro tartarugas e muitos ovos, nos pusemos a caminho (...). Depois de chegar ao imenso Amazonas, em Óbidos, tivemos seis ou oito dias de viagem até Santarém1010 Deve haver um equívoco; seis ou oito dias pode ter sido o tempo de viagem de Óbidos a Belém. , na cabeceira das marés, uma localidade com talvez duzentas casas. De lá, seguimos até [Belém do] Pará, algumas centenas de milhas rio abaixo (...).

Tribos do Amazonas ("Life amongst the Indians...", capítulo 18)

[Belém do] Pará é uma grande e florescente cidade comercial de quarenta ou cinquenta mil moradores, na margem sul do grande estuário do Amazonas, a 160 quilômetros do mar. Há remanescentes de diversas tribos indígenas vivendo nos arredores da cidade, que trazem para o seu mercado peixe, mariscos e os frutos de cinquenta tipos de palmeiras, árvores e arbustos. Nas matas densas e ricas de palmeiras das ilhas e praias, entre a cidade e o oceano, voltamos a ver, como vimos na foz do Orenoco, os índios canoeiros vivendo em 'ninhos' construídos nas árvores. Essas construções, embora extremamente rústicas, são confortáveis para os seus moradores.

Nas proximidades [de Belém] do Pará, nos rios Tocantins e Xingu, visitei uma dúzia ou mais de tribos (...).

Do "Catálogo" (1871) de Catlin, apud Donaldson (1885)

[Eu havia sido] aconselhado a visitar as muitas missões católicas do Amazonas e seus afluentes, onde poderia fazer os meus retratos de índios e outros esboços nas margens daquele rio. Cheguei a visitar uma delas e fui recebido e tratado amavelmente. Fiquei cerca de duas semanas, mas devido à superstição [dos índios], não consegui nenhum modelo para retratar. Os índios civilizados daqueles estabelecimentos não me satisfaziam; eu não dispunha do tempo nem dos recursos necessários, e com a deplorável surdez que fazia de mim um hóspede incômodo entre estrangeiros, não aguentava ouvir as mil perguntas que me faziam em espanhol [sic] e na 'língua geral' (nenhuma das quais eu então compreendia) e que, apesar de formuladas gentilmente, me atormentavam. Portador de um passaporte inglês com nome inglês, eu não poderia ser conhecido naquele desconfiado país como George Catlin, tendo no bolso um nome diferente.

Com tal dilema, regressei ao Pará e procurei Smyth, que desde a Guiana Britânica havia atravessado comigo os montes Acaraí e que havia permanecido no Pará sem ter o que fazer. Embarquei com ele rumo à Barra [do rio Negro], Tabatinga e Nauta [no Peru]. Neste último sítio, encontrei um português, dono de uma galeota, com quem combinei descermos o Amazonas até Óbidos, numa distância de 1.600 quilômetros1111 Na realidade, 2.900 quilômetros. , com direito a parar defronte a várias aldeias indígenas para fazer meus esboços. O toldo da embarcação nos permitia, aos três, dormirmos confortavelmente e se tornava um bom atelier onde eu terminaria meus esboços ao seguirmos viagem. Zarpamos com a alvissareira perspectiva de poder observar, em seus ambientes e em situações naturais, dez mil índios e as magníficas praias do Amazonas.

O dono do barco, um comerciante do rio, tinha familiaridade com a localização da maioria das tribos do alto Amazonas e, embora não falasse os seus idiomas, tinha uma razoável competência para se comunicar com eles por meio de sinais. Com estas facilidades, eu confiava poder fazer meus esboços à medida que fôssemos descer o rio, ancorando o barco defronte às aldeias e acampamentos que viéssemos a encontrar.

No primeiro dia da viagem, ancoramos defronte a um pequeno povoado; o comerciante, que conhecia o chefe, o convidou a bordo com sua mulher e eu fiz a ele um retrato. Levado à aldeia, o retrato foi motivo de grande excitação do grupo; a mulher do chefe concordou em ser retratada na manhã seguinte, subindo a bordo com ele. Perguntei ao chefe o seu nome, para colocá-lo no verso do retrato, mas um médico-feiticeiro, que havia subido a bordo com eles, levantou violentas objeções alegando que se o chefe desse o seu nome para ser colocado no retrato ele se tornaria um homem sem nome, o que certamente lhe traria algum mal (...).

Face aos eventos daquele dia, eu previ dificuldades para o futuro (...); decidimos então que os meus esboços seriam feitos sem que eles o soubessem e sem provocar suspeitas (...). Dessa forma, durante os sessenta e nove dias da nossa viagem até Óbidos, consegui fazer aquilo que nunca teria conseguido de outra forma. Observei e fiz esboços em trinta diferentes tribos, onde havia muitos milhares dessas pessoas simples, ocupadas na pesca em suas canoas ou em grupos à beira do rio. No nosso pequeno barco, conduzido a meu critério, pudemos visitar enseadas e lagos inacessíveis aos vapores e admirar a incógnita grandeza daquelas solidões (...).

Os meus retratos e as cenas na América do Sul foram quase sempre feitos a bordo de barcos ou canoas, tanto no Amazonas como no Uruguai e no Ucaiale, ou ao ar livre, nos pampas ou llanos, como se pode ver em muitos deles (...). Esta gente tímida e supersticiosa nunca iria declarar o seu nome a estrangeiros de passagem nos barcos, e seriam doidos se o fizessem. E eu sempre tinha demasiados tipos e assuntos pela frente para me preocupar com seus nomes, e dos que foram recolhidos em terra pelos meus homens eu devo ter estropiado muitos (...).

"Life amongst the Indians", capítulo 18

[Mais tarde, em outra viagem pelo Amazonas], eu parti do Pará no vapor Marajó, na segunda ou terceira viagem que ele fazia, tendo sido o primeiro vapor a subir o rio. A bordo havia diversos cavalheiros portugueses do Rio de Janeiro e outros do Pará, com suas famílias, que teriam sido certamente uma agradável companhia de viajantes se eu tivesse falado a sua língua. No primeiro dia, percorremos a baía do Amazonas com suas centenas de ilhas. No segundo, chegamos a Santarém, ponto extremo da maré. Acima dela sentimos a correnteza e, pela primeira vez, percebemos que estávamos subindo um rio; também pela primeira vez, tivemos consciência da majestade e grandeza do seu fluxo. Alguns meses antes, num modesto barquinho, eu tinha sido arrastado à deriva desde a foz do Trombetas, ao longo de suas praias e barrancos, sem poder vê-lo nem compreendê-lo. Agora, do alto do convés do vapor e singrando a correnteza, podia olhar em todas as direções e ter uma noção da sua grandiosidade.

(... ) Ao passar, vemos centenas de canoas deslizando ao longo das margens em todas as direções, repletas de cabeças e ombros vermelhos, mas quando nos aproximamos elas se refugiam na vegetação ribeirinha e desaparecem. Às vezes, as suas aldeias despontam sobre as barrancas do rio e, às centenas, eles gritam e saúdam à nossa passagem.

(... ) Óbidos, na foz do Trombetas, é onde meu amigo Smyth e eu havíamos chegado pela primeira vez ao Amazonas. É uma pequena cidade espanhola [sic] de 1.500 ou 2.000 habitantes; o vapor havia ancorado junto à margem; alguns passageiros desceram e outros subiram a bordo. Os moradores estavam todos na ribanceira e entre eles havia diversos grupos de índios, todos nos observando com surpresa. Aqui havia assunto para o meu pincel e quando sentei no convés já havia escolhido alguns deles para retratar. Mas, eis que, com o vapor prestes a sair e eu a caminhar pelo convés, um súbito grito partiu das mulheres e dos homens que me olhavam e me estendiam as mãos. Pareceu-me que no meio da multidão havia alguns índios, homens e mulheres, que Smyth e eu havíamos acompanhado seis meses antes na caça às tartarugas e que agora tinham vindo de canoa em visita a Óbidos e que, tendo-me reconhecido, queriam me cumprimentar (...).

Dez dias depois de sairmos de Belém, chegamos a Nauta, tendo passado por quinze ou vinte povoados e missões espanholas [sic] e pelo menos uma centena de aldeias e agrupamentos indígenas nas ilhas e praias; pareciam ter tido notícia da nossa aproximação e se juntado para nos saudar. Faziam sinais levantando as mãos e gritando, mas não abriam fogo porque não tinham armas nem saberiam usá-las. Pelo grande número de índios reunidos nas margens, dir-se-ia que o país está apinhado de gente, mas por outro lado, nesta imensidão de matas e praias, não vimos sequer um macaco, um papagaio ou uma onça! Sem dúvida, os humanos estavam sendo atraídos à beira do rio pela curiosidade, enquanto os animais, assustados pelo bufar e assoprar do vapor, escondiam-se na mata à nossa passagem; mas, com certeza, o seu coro se levantaria logo atrás de nós.

Tem sido dito que há mais de uma centena de tribos, falantes de diferentes línguas, às margens do Amazonas, desde as suas nascentes ao pé dos Andes até a sua foz, e até esse momento nós devemos ter passado por algo como três quartas partes deles. Eu poderia citar uma centena de nomes tribais que já ouvi mencionar no vale do Amazonas, mas a relação não seria aqui de grande interesse: se fosse verdade que há uma centena de tribos ribeirinhas, do que eu duvido, teríamos facilmente quinhentos nomes diferentes para elas, e ainda assim estaríamos ignorando os seus verdadeiros nomes. Bandos pertencentes à mesma grande família ou tribo têm sido indevidamente chamados tribos, e tendo línguas muito distintas geram intermináveis confusões de classificação.

Há um sistema geral de ensino da civilização por parte das missões católicas em todas as partes da América do Sul, ao qual todas as tribos têm tido maior ou menor acesso e pelo qual elas receberam maior ou menor instrução no cristianismo, na agricultura e na língua espanhola ou portuguesa. A atuação tranquila e paternal dos veneráveis padres que dirigem essas missões visa atenuar a crueldade natural dos selvagens e em todas as regiões do país teve o efeito de aparar as arestas próprias de todas as sociedades desprovidas dos avanços da civilização (...).

Em Tabatinga, três mil quilômetros acima do Pará, dois vapores estavam sendo construídos por americanos, que haviam trazido dos Estados Unidos toda a maquinaria, pronta para ser instalada. Destinam-se a percorrer o Amazonas e dentro de alguns anos veremos, sem dúvida, uma frota destes e outros barcos neste sítio, que será o grande entreposto comercial do Brasil ocidental e do Peru e Equador orientais.

Nas vizinhanças de Nauta, há um grande número de tribos indígenas, entre elas os Zeberos [Xebero], os Urarinas, os Tambos, os Peebas [Peba], os Turantinis, os Conibos, os Sepibos [Shipibo], os Chetibos, os Sensis, os Remos, os Amahovacs [Amahuaca], os Antis, os Siriniris, os Tuirenes, os Huachipasis, os Pacapacuris e, pelo menos, mais uma dúzia de outros. Suas línguas são todas dialetos e seus traços físicos e cores atestam serem todos eles bandos ou divisões de uma grande família, sendo esta, talvez, a fusão de Andino-Peruanos e Guarani (...).

Sua aparência, pintura corporal e enfeites ("Last rambles...", capítulo 6)

(...) Além das formas singulares de ornamentação e de deformação já mencionadas, praticadas por índios Flatheads e Peruanos, há muitas outras, não menos curiosas, que eu testemunhei e das quais o público, em geral, ainda não está a par. E nenhuma delas é mais curiosa e extraordinária das que são praticadas por diversas tribos do alto Amazonas e de seus tributários, que Cesar e eu visitamos há alguns anos e das quais falei muito brevemente em páginas anteriores.

De todas as tribos do continente americano, as do Amazonas e de seus afluentes são as mais despidas, mais rústicas, menos ornamentadas, de aspecto menos aguerrido e menos hostil. O clima equatorial em que vivem, dispensando quase totalmente o uso de indumentária, e a sua vida de pescadores sempre metidos em canoas úmidas, incompatível com roupas de qualquer espécie, faz com que milhares desses indivíduos vivam praticamente em estado de nudez.

Por rústicas que muitas tribos da Amazônia sejam em comparação com outras raças americanas, ainda há, entre elas, tribos que fazem lembrar ao viajante os Winnebagos, os Menomini e outros índios canoeiros da América do Norte, e lhes são, de fato, muito semelhantes. No Amazonas e em seus tributários, desde a foz do rio Negro até Nauta, o que vem a ser somente a metade do seu curso, há mais de uma centena de tribos falantes de diferentes línguas ou dialetos; além da torpeza com que a natureza os fez, eles ainda têm sido reduzidos a caricaturas com pouco crédito para a Arte e estigmatizados como Canibais em termos pouco dignos de historiadores (...).

Como a maioria dos índios canoeiros, o seu modo de vida peculiar, sentados em suas úmidas canoas ou caminhando na água, lhes impede o uso de calçados ou botas e, ao contrário dos índios que cavalgam pelas pradarias ou vivem em solo pedregoso, eles andam geralmente descalços. O esforço de impelir suas canoas sem o uso dos membros inferiores os torna fisicamente desproporcionados - musculatura muito desenvolvida no peito e nos braços, com quadris esguios e pernas delgadas e frágeis.

Os cavaleiros das pradarias, por outro lado, sempre escarranchados no dorso de seus cavalos e usando os braços somente para empunhar as rédeas e seus arcos leves, desenvolvem uma falta de simetria igualmente notável: quadris muito desenvolvidos, expansão e curvatura das coxas e relativa delicadeza dos braços e peito. O pescador é imponente quando rema a bordo da sua canoa, mas ereto sobre seus pés descalços hesita, olha o chão que vai pisar e perde a dignidade e a elegência do homem de mocassins, que sem receio firma o passo e olha à sua frente.

(...) As muitas tribos do alto Amazonas, desde a foz do rio Negro até Nauta e nas praias do Ucaiale, às quais me referi como de índios canoeiros, merecem outras observações a respeito de seus curiosos pingentes e suas pinturas corporais, de efeitos talvez mais bizarros e grotescos que os de outras tribos que visitamos. Além da maneira habitual de se pintarem com vermelhão1212 "Vermelhão" é obtido com o urucu. e outras cores aplicadas com os dedos, diversas dessas tribos têm uma maneira de imprimir as cores em seus rostos e corpos de maneira original, algo como theorem painting. Numa folha de um certo tipo de palmeira, ou num pedaço de couro apergaminhado, são desenhados e recortados os mais curiosos e intrincados arabescos, depois aplicados às bochechas e à testa. Os corantes, misturados a óleo na palma das mãos do operador, são então aplicados por pressão sobre o rosto, transferindo-lhe os desenhos intrincados daquele gabarito.

Há tantos padrões diferentes impressos no peito, ombros, braços e pernas, que confundem o observador que não conhece a técnica empregada, surpeendendo-o com a elaboração e o efeito artístico de uma figura realizada de manhã e eliminada por um banho à noite, por não saber que ela foi feita em cinco minutos. Os gabaritos dos desenhos são elaborados com óleo e cola, são resistentes à água e podem ser usados mil vezes. Um mistério que surpreende o artista é que duas ou três cores são, às vezes, impressas juntas ou uma sobre outra, como numa impressão cromolitográfica, e as cores, esfregadas com os dedos, produzem, às vezes, efeitos que desafiam a capacidade do melhor artista para copiá-las. As faces maciças e arredondadas dessa gente e sua cor peculiar constituem o fundo ideal para esta arte curiosa, que, tenho certeza, não poderia ser reproduzida com o mesmo efeito sobre outros materiais.

Em muitas tribos, os pingentes que ornamentam as faces e as orelhas não são menos surpreendentes e, com certeza, são ainda mais inexplicáveis. Das tribos que visitei naquela região, as mais notáveis neste sentido são os Muras, nas duas margens do Amazonas, acima do rio Negro, os Iquitos, Omaguas, Ticunas, Yahuas [Yaguas], Marahuas, Orejones, Mayorunas, Conibos e Sepibos [Shipibo]. Todas essas tribos furam os lobos das orelhas e os alongam por meio de pesos que lhes permitem inserir pedaços grandes de madeira ou de outros materiais, exatamente como os Botocudos e Lenguas com quem estivemos. Neste processo de alongamento, os lobos, com pesos que podem chegar ou passar de meia libra [226 gramas], chegam a encostar nos ombros. Eu reproduzi, em dois dos retratos dessa gente, os principais e mais curiosos exemplos desse costume: um chefe Mura com orelhas curiosamente mutiladas e alongadas e seus ornamentos inseridos e com discos de prata presos ao queixo, às bochechas e às narinas, além de longos espinhos saindo do queixo e das bochechas.

Para prender esses estranhos enfeites, fazem incisões no rosto das crianças enfiando-lhes umas grandes contas, das quais saem finas tiras. A carne cresce ao redor das feridas cicatrizadas e as contas são retiradas. Devido à elasticidade da carne, os orifícios tornam-se quase invisíveis e, por ocasião de festas ou cerimoniais, inserem neles outras tiras que prendem ao rosto espinhos, discos de prata, penas e outros pingentes. Eles dançam, cantam e gritam com esses ornamentos presos a si, e se um deles chega a se deslocar basta um toque dos dedos para arrumá-lo. [Outro] retrato, (de um Orejone) é enfeitado de maneira ainda mais curiosa, com longas plumas atravessando a cartilagem do nariz, duas lascas de galhos de uma palmeira presas com tiras ao nariz, penas e contas suspensas da mesma forma ao lábio inferior e pedaços de madeira na cartilagem das orelhas (...).

Retratei um médico-feiticeiro da tribo Omagua que, em seu lábio perfurado, suspende alternadamente tiras de contas, conchas, belas plumas ou mesmo um bloco de sílex de uma libra ou mais de peso, preso na parte interna do lábio a uma conta grande; ele me assegurou que não dispensava o hábito de usá-lo pelo prazer que lhe dava, de vez em quando e sempre depois de comer, aspirar o ar fresco para as gengivas e através dos dentes. O hábito de pendurar tiras de contas e plumas no lábio inferior é praticado também pelas mulheres de muitas tribos, não só da Amazônia, mas de outras partes da América do Sul, entre elas na Venezuela, na Guiana, no Paraguai e nas montanhas do Peru. O retrato de uma jovem solteira Gooagive [Goajiro] da Venezuela ilustra esse costume entre as mulheres; os longos espinhos que se projetam de suas bochechas poderiam ser indicados também às jovens senhoras no consórcio da vida civilizada.

Novamente ao Trombetas (Carta de J. Smyth, em "Life amongst the Indians...", capítulo 16)

(...) O patrão [Catlin] ficou aqui [em Belém] algum tempo e há uns três meses partiu, em companhia de um deputado ao Parlamento brasileiro1313 Tratava-se do enigmático Sr. L., de quem Catlin fala no trecho seguinte. , num vapor que subia o Amazonas.

"Last rambles...", capítulo 2

[Tempos depois], na minha pensão [de Belém] do Pará, tive o prazer de conhecer o Senhor L., a quem contei a minha longa viagem e o objetivo que tinha ao cruzar as Montanhas de Cristal. Ele me disse que há muito tempo ouvira histórias dessas minas de ouro e do massacre de mineiros pelos índios, e que não duvidava desses fatos, nem de que grandes riquezas estariam ocultas junto às casas de adobe dos mineiros. Ele me contou que vivia numa ilha do Amazonas, algumas centenas de quilometros acima de Santarém (...). Ele estaria voltando para lá, de vapor, dentro de alguns dias, e se eu quisesse acompanhá-lo ele faria, com seus recursos, uma expedição em direção às montanhas, com rumo e destino diferentes [dos meus] e, dizia ele, com melhores chances de sucesso. Aceitei a sua oferta e em três dias estávamos prontos para partir (...).

Naquela ocasião, eu tinha um excelente empregado negro de 1,80 m de altura, de nome Cesar Bolla, que se libertara da servidão deixando seu patrão, o senhor Bolla, na Havana; ele me provara o seu valor durante uma viagem de cinco ou seis semanas que havíamos feito juntos entre os índios Xingu, no rio deste nome. Tendo o meu antigo companheiro de viagem, Smyth, decidido ficar em [Belém do] Pará, eu comprei dele o seu fuzil Minie e o deixei com Cesar, do que ele ficou muito orgulhoso. O senhor L. decidiu levar dois de seus negros e empregar dois índios mansos que viviam nas proximidades da sua residência, como guias e intérpretes, com o que o nosso grupo iria ter sete membros.

Esse hospitaleiro senhor tinha em sua ilha dez mil cabeças de gado e cavalos, e quinze negros. Antes de partirmos, ele me disse que como estávamos indo para um território tido como rico em minérios e guardado ciosamente pelo governo, estaríamos sujeitos a cair nas mãos de uma das três guarnições de soldados descalços, estacionados na Barra [do Rio Negro] e no sopé das montanhas, e que por isso ele iria passar a atender pelo nome de senhor Novelo, e não pelo de senhor L. (...). Ele falava português, espanhol e a 'língua geral' (o idioma do país); Cesar falava espanhol e inglês e os dois guias índios falavam o 'geral' e a língua das tribos onde iríamos ter; dessa forma, em termos de idiomas, não deveríamos ter problemas.

A rota proposta consistia em descer o Amazonas numa grande e pesada canoa por uns vinte e cinco ou trinta quilômetros, adentrar e subir um estreito e manso igarapé por trinta a cinquenta quilômetros, deixar então a canoa e atravessar a pé a grande mata sombria até chegarmos aos llanos (campos), onde alugaríamos, dos índios, mulas que nos levariam até as montanhas. (...) A bordo da nossa grande canoa, nos aventuramos numa viagem (...) através da grande e inexplorada solidão que se estende do Amazonas aos campos situados aos pés do Tumucumaque, ou Montanhas de Cristal (...). No terceiro dia, chegamos ao extremo navegável do igarapé (... ) e acampamos durante dois dias arrumando a bagagem e preparando-nos para a marcha pela floresta (...). Cesar levava sempre às costas, protegido por um encerado, o grande fardo dos meus painéis de papelão, parte deles com retratos de índios norte-americanos e parte ainda em branco, para futuros desenhos (...).

Continuando a nossa viagem e passados mais cinco ou seis dias, o solo da região começava a se elevar e a mata tornou-se mais aberta e desimpedida (...). No décimo primeiro dia desde a partida, já estávamos em campo aberto, com o Sol brilhando, a fumaça de uma aldeia Zurumati [Zurumata] e o azul das montanhas Acaraí (ou de Cristal) à distância. Os nossos índios logo encontraram seus conhecidos, lhes comunicaram as nossas intenções e nós fomos recebidos com boa vontade e hospitalidade. Cesar abriu logo a minha mala de desenhos e os foi mostrando com sua habitual preleção sobre os retratos de seus 'irmãos vermelhos' da América do Norte. Isto produziu grande excitação e divertimento, mas todos ficaram com medo quando se lhes propôs serem retratados e ninguém consentiu com a operação (...). Uma vez que as mulheres tinham-se mantido afastadas, perguntamos respeitosamente ao chefe se elas seriam autorizadas a ver os desenhos (...). No dia seguinte, por volta do meio dia, quinze ou vinte delas, principalmente jovens solteiras, se aproximaram. Embora normalmente elas usem uma espécie de avental de peles ou de casca de árvore que as cobre da cintura até os joelhos, naquela ocasião nenhuma delas tinha qualquer vestimenta; curiosamente (e em alguns casos de forma muito graciosa), tinham as belas pernas e os braços roliços pintados com vermelhão e outras cores brilhantes e ornamentados, assim como o tronco, com longas folhagens perfumadas, parte delas trançadas formando saiotes da cintura aos joelhos. Tranças dessas folhagens também lhes enfeitavam os tornozelos, os pulsos e o pescoço e tinham grinaldas sempre-verdes e floridas ao redor da cabeça e da cintura, enquanto seus cabelos pretos e brilhantes, normalmente presos em tranças, estavam soltos e caiam em belos cachos sobre seus ombros e seios nus (...).

Com uma dúzia ou duas de agulhas para as setas de suas zarabatanas e com outros pequenos presentes, conseguimos facilmente homens e mulas para nos levarem com a bagagem até o sopé das montanhas, numa distância de 65 a 80 quilômetros (...). Neste percurso, atravessamos diversos rios, entre eles o ramo ocidental do Trombetas1414 O rio Cafuini ou Poana.; se os índios nos informaram corretamente, estávamos a algo como 160 quilômetros da sua junção com o ramo oriental, onde eu o cruzara seis meses antes (...).

Com mais dois dias de caminhada, chegamos ao pé das montanhas, de onde a sua cor azul aparecia como cinza e verde (...). Sem instrumentos para determinar a latitude e a longitude, supusemos estar diretamente sob a linha do Equador e a algo como 320 quilômetros a nordeste da Barra, na foz do rio Negro. A 'febre do ouro' estava nos atacando. Os nossos contratados índios tomaram o caminho de volta com suas mulas e com as nossas redes e bagagens já desnecessárias, porque nas montanhas eles temiam os índios Woyaway [Waiwé] e nós não teríamos como utilizar as mulas para escalar os penhascos (...). Nos paredões escarpados, abriam-se brechas e entrando numa delas nos vimos num dos mais belos vales do mundo, coberto de luxuriante vegetação. O vale estava repleto de blocos de granito, gnaisse e quartzo (... ) caídos dos paredões ao redor e que, portanto, deveriam ser indicadores seguros da sua composição mineral. O senhor N. e eu lhes dedicamos diversos dias [procurando sinais de ouro], mas sem sucesso. Depois de alguns dias de descanso, partimos em busca do antigo caminho que antes eu havia encontrado e cruzado, e à procura dos Woyaway [Waiwé] ou de outros índios das montanhas com quem poderíamos ter notícias das antigas minas e ruínas de casas já referidas (...). Rumando para nordeste (...) e sem encontrar qualquer vestígio de aldeias indígenas, seguimos durante vários dias numa sucessão de ravinas, espigões e rios (...), provavelmente nas nascentes do Essequibo (...). Por fim, fracassada a expectativa de encontar jazidas auríferas e com os mantimentos minguando, vagamos famintos e extenuados durante mais alguns dias, buscando sem sucesso o antigo caminho ou qualquer trilha ou povoado indígena. Em poucos dias, chegamos finalmente à acolhedora aldeia dos Zurumati [Zurumata] e à nossa canoa; voltando-nos então para o vale, alcançamos novamente as margens do grande Amazonas, a uns setenta quilômetros do ponto onde o tínhamos deixado (...).

"Last rambles...", capítulo 3

(... ) Curados da 'febre do ouro' e passadas duas semanas de deliciosa convalescência na acolhedora fazenda do Sr. N., um vapor que subia o Amazonas nos apanhou, a Cesar e a mim, naquele lugar encantado e, mal nos dando tempo para um aperto de mãos, nos levou até a Barra, na foz do rio Negro, e de lá para Tabatinga e para Nauta [no Peru]. Depois de ter visitado as tribos da região, os Muras, Marahuas, Yahuas [Yagua], Orejones, Angosturos, Mayoroonas [Mayoruna], Iquitos, Omaguas, Ccocomos [Cocama], Ticunas, Connibos [Conibo], Sepibos [Shipibo], Chetibos e uma dúzia de outros -bos e -guas do Ucaiale e do alto Amazonas, percorremos, na companhia de alguns alegres e simpáticos viajantes, os rochedos, as neves, as ravinas e as pavorosas trilhas dos Andes pela rota do correio, até Lima (...).

Recebido: 05/07/2010

Aprovado: 28/10/2010

  • CATLIN, George. Coleção de pinturas da National Gallery of Art Reproduções a cores. 2010. Disponível em: <http://www.nga.gov/collection/index.shtm/Catlin,George/imagesonly>. Acesso em: 02 jun. 2010.
  • CATLIN, George. Episodes from "Life among the Indians" and "Last rambles". Edited and with an Introduction by Marvin C. Ross. Republicação sem alterações da edição original, Norman, University of Oklahoma Press, 1959. Mineola, NY: Dover, 1997.
  • CATLIN, George. The lifted and subsided rocks of America. Londres: Trubner, 1870.
  • CATLIN, George. Last rambles amongst the Indians of the Rocky Mountains and the Andes. Londres: Sampson, 1868.
  • CATLIN, George. Life amongst the Indians: a book for youth. Londres: Sampson, 1861.
  • DIPPIE, Brian W. Catlin and his contemporaries: the politics of patronage. Lincoln, NE: University of Nebraska Press, 1990.
  • DONALDSON, Thomas. The George Catlin Indian Gallery in the National Museum. Annual Report of the Board of Regents of the Smithsonian Institution, Washington, p. 265-939, jul. 1885.
  • EWERS, John C. George Catlin, painter of Indians and the West. Annual Report of the Board of Regents of the Smithsonian Institution for 1955, Washington, p. 483-505, 1956.
  • MANTHORNE, Katherine E. O imaginário brasileiro para o público norte-americano do século XIX. Revista USP, São Paulo, v. 30, p. 58-71, jun.-ago. 1996.
  • PORRO, Antonio. Um tesouro redescoberto: os capítulos inéditos da Amazônia de João Daniel. Revista do IEB, São Paulo, v. 43, p. 127-147, set. 2006.
  • ROSS, Marvin C. Editor's Introduction. In: CATLIN, George. Episodes from "Life among the Indians" and "Last rambles". Edited and with an Introduction by Marvin C. Ross. Republicação sem alterações da edição original, Norman, University of Oklahoma Press, 1959. Mineola, NY: Dover, 1997. p. V-X.
  • SCHOMBURGK, Richard. Travels in British Guiana. Translated and edited by Walter E. Roth. Georgetown: Daily Chronicle, 1922-1923. 2 v.
  • A Amazônia indígena de George Catlin: imagens e relatos de viagem desconhecidos

    The native Amazonia of George Catlin: little known pictures and travel accounts
  • 1
    Katherine E. Manthorne (1996) faz breve referência às memórias brasileiras de Catlin, limitando-se à sua percepção edênica da natureza tropical e sem abordar o histórico de viagem e a produção artística do autor.
  • 2
    Inseriram-se aqui subtítulos que não existem no original.
  • 3
    Se a tradição tinha raízes históricas, é provável que elas estivessem mais a oeste, onde os espanhóis haviam ocupado as nascentes do rio Negro e do Orenoco. Por outro lado, ao final do século XVIII, a crença na maravilhosa cidade de Manoa, no lago dourado de Parima, a leste do alto rio Branco, ainda estava viva. João Daniel, que como poucos tinha notícias da região, escrevera: "Confirmam os índios dos rios que medeiam entre a fortaleza do Paru e a fortaleza de Pauxis, que nas suas cabeceiras há muito ouro"
    (apud Porro, 2006, p. 132).
  • 4
    Scila, monstro marinho da mitologia grega. Ao que parece, uma metáfora para o terremoto que abalara a região no começo do século XIX.
  • 5
    Parece estar se referindo ao rio Cipó dos portugueses, principal formador encachoeirado do alto Essequibo.
  • 6
    Ao contrário do que o autor supõe, os Karib haviam chegado às Antilhas a partir do continente sul-americano.
  • 7
    É a confluência dos rios Poana, a oeste, e Anamu, a leste.
  • 8
    Uma vez que, historicamente, não havia grupos de língua Tupi na bacia do Trombetas, a discussão é irrelevante e deve ser atribuída a um equívoco do autor, talvez devido à presença de falantes da língua geral.
  • 9
    A junção do Poana com o Anamu, dando origem ao Trombetas, está na latitude 1° N.
  • 10
    Deve haver um equívoco; seis ou oito dias pode ter sido o tempo de viagem de Óbidos a Belém.
  • 11
    Na realidade, 2.900 quilômetros.
  • 12
    "Vermelhão" é obtido com o urucu.
  • 13
    Tratava-se do enigmático Sr. L., de quem Catlin fala no trecho seguinte.
  • 14
    O rio Cafuini ou Poana.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jan 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2010

    Histórico

    • Recebido
      05 Jul 2010
    • Aceito
      28 Out 2010
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