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A seca no sertão como fenômeno natural ou social: estabelecendo a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, 1909-1923

O artigo examina interpretações do problema das secas no sertão nordestino brasileiro durante a Primeira República. Compara as análises da seca como um fenômeno primeiramente natural ou climático - abraçadas pelos engenheiros civis trabalhando para a Inspetoria [Federal] de Obras Contra as Secas (IFOCS) - com análises que enfatizavam as condições sociais e políticas que fizeram da seca uma crise para os pobres sertanejos. Essa interpretação é evidente no relatório dos médicos Belisário Penna e Artur Neiva que descreve a expedição deles através do sertão, patrocinada pelo IFOCS no ano 1912. Essa comparação permite a consideração da interseção entre fatores naturais (geográficos, climáticos) e sociais (políticos, culturais) que produziam a crise periódica da região. A análise é informada pelo trabalho de cientistas sociais que destacam as múltiplas causas de desastres naturais em comunidades politicamente marginais. A fé dos técnicos na utilidade do seu conhecimento, independente do contexto social, coloca-se no centro da inabilidade do IFOCS em resgatar os sertanejos da fome, migração e pobreza. Em razão dos técnicos da inspetoria nunca terem tido a vontade política ou a força para enfrentar a organização social responsável pela calamidade periódica no sertão, a habilidade deles em aliviar o sofrimento humano precipitado pelas secas era severamente limitada.

Seca; Nordeste brasileiro; Desenvolvimento; Engenheiros; Saúde pública


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