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Efeito da salinidade sobre o metabolismo e a osmorregulação de estágios ontogenéticos selecionados de uma população amazônica do camarão Macrobrachium amazonicum (Decapoda, Palaemonidade)

Provavelmente como função da sua ampla distribuição geográfica, as diferentes populações do camarão Macrobrachium amazonicum podem apresentar distintos padrões fisiológicos, bioquímicos, reprodutivos, comportamentais e ecológicos. Essas diferenças são tão acentuadas que tem sido sugerido a existência de especiação alopátrica embora estudos iniciais indiquem que a variabilidade genética das populações ocorre ao nível intraespecífico. Dentre as respostas biológicas descritas para as populações de M. amazonicum, aquelas relacionadas à osmorregulação e metabolismo têm papel central por estarem relacionadas à ocupação dos diversos habitats. Nesse sentido, investigou-se a osmorregulação, por meio do papel dos aminoácidos livres no controle do volume celular e o metabolismo, por meio do consumo de oxigênio, em larvas (zoeas I, II, V e IX) e/ou pós-larvas de uma população de M. amazonicum oriunda da Amazônia e mantida em viveiros de aquicultura no estado de São Paulo. Os resultados adicionam informações a respeito da existência de respostas fisiológicas distintas entre as populações de M. amazonicum e sugerem que possíveis ajustes no metabolismo e no uso de aminoácidos livres como osmólitos da regulação do volume celular das larvas e pós-larvas dependem do surgimento de estruturas responsáveis pela osmorregulação da hemolinfa como, por exemplo, as brânquias. Nesse sentido, verificou-se que as zoeas I não alteram seu metabolismo em função da exposição à água doce ou salobra, mas reduzem a concentração intracelular de aminoácidos livres quando expostas à água doce, o que pode sugerir a inexistência ou um desempenho ineficiente das estruturas responsáveis pela regulação do volume e composição da hemolinfa. Por outro lado, nas zoeas II e V expostas à água doce ou salobra alterações no metabolismo não foram acompanhadas por mudanças na concentração dos aminoácidos livres. Assim é possível que à medida que estruturas responsáveis pela osmo e ionorregulação tornam-se funcionais, o papel dos aminoácidos livres se torne reduzido e o consumo de oxigênio elevado, provavelmente em função do maior gasto energético com o transporte ativo de sais através das membranas epiteliais. Os desafios osmóticos também parecem se alterar ao longo do desenvolvimento visto que em zoeas II o consumo de oxigênio é elevado em água salobra de 18 mas em zoeas V essa resposta ocorre em água doce. Após a metamorfose de M. amazonicum, os aminoácidos livres passam a ter papel importante como osmólitos intracelulares, pois se verificou um aumento de até 40% nas pós-larvas expostas à água salobra de 18. Os principais aminoácidos livres envolvidos na regulação do volume celular dos estágios ontogenéticos avaliados foram os não essenciais ácido glutâmico, glicina, alanina, arginina e prolina. Interessantemente, as larvas da população estuarina aqui estudada sobrevivem até o estágio de zoea V em água doce mas em algumas populações distantes do mar as zoeas morrem logo após a eclosão em água doce ou não chegam ao estágio de zoea III. Adicionalmente, visto que em condições favoráveis as larvas de camarões carídeos abreviam o seu desenvolvimento pode ser inferido que o meio de cultivo em que as larvas se desenvolveram no presente trabalho foi adequado, pois quase todas as zoeas VIII mantidas em água salobra sofreram diretamente a metamorfose para pós-larvas e não passaram pelo estágio de zoeas IX.

Macrobrachium ; osmorregulação; Crustacea; metabolismo; fisiologia


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