RESUMO
Este artigo delineia alguns aspectos da representação, pela mídia, do que Butler (2004Butler, J. (2014). Quadros de Guerra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira., 2014Butler, J. (2015). Relatar a si mesmo. Crítica da violência ética. São Paulo: Autêntica., 2016)Butler, J. (2016). Corpos em movimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. define como “vida precária”, forma de existência desprovida de direitos e condições básicas. O foco é a análise de imagens fotojornalísticas de duas operações policiais (2017 e 2018) na “cracolândia”, centro de São Paulo. A partir de um corpus de 109 imagens publicadas pelos portais de notícias UOL, G1 e R7, selecionamos oito fotografias para uma análise mais detida de elementos que tensionam a biopolítica do controle (Foucault, 1980), da impessoalidade e da desconsideração das vidas precárias, com as tentativas de sobrevivência (DidiHuberman, 2017) e resistência a partir das vulnerabilidades. Identificamos a presença de três dimensões principais de representação: (1) há padrões semelhantes derepresentação, apesar dos eventos estarem separados por seis meses; (2) a cobertura foca na vulnerabilidade dos retratados, mas também há sequências de resistência, sobretudo nas imagens da face e nas gestualidades; (3) imagens individuais de sofrimento, perda e luto encontram um contraponto em expressões de raiva e reação. Esses elementos são analisados à luz das reflexões que entrelaçam o fotojornalismo à ética da responsabilidade (Mondzain, 2009; Caron, 2007), pensando as possibilidades de aproximação e encontro com a alteridade.
Palavras-chave
Mídia; Alteridade; Política da Imagem; Enquadramento; Fotojornalismo