Resumo:
Estudos etnobiológicos são necessários para conhecer as relações entre pescadores e cetáceos. O objetivo deste trabalho foi descrever as interações entre cetáceos e pescadores artesanais e possíveis conflitos decorrentes destas. Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas de fevereiro a setembro de 2017 a 35 pescadores do município de Ilhéus, Brasil. Todos os pescadores relataram interações positivas e negativas com Megaptera novaeangliae, Tursiops truncatus e Sotalia guianensis e interações somente negativas com Balaenoptera acutorostrata (n=14) e Stenella frontalis (n=4). As interações positivas se referem a relações lúdicas e pesca colaborativa. Interações negativas (emalhe, emaranhamento, colisão) afetam os pescadores e os cetáceos. S. guianensis é a mais afetada por emalhes em redes de pesca e M. novaeangliae por emaranhamento e colisão com embarcações. Os resultados deste estudo destacam o valor de reunir comunidades científicas e pesqueiras para compreender os conflitos através da monitorização das interações, a fim de avaliar o impacto das atividades de pesca nas populações de cetáceos. Os pescadores possuem uma percepção positiva sobre os cetáceos, conhecem as áreas onde ocorrem os acidentes e gostariam de evita-os. Eles podem contribuir para as pesquisas sobre estes animais e a elaboração de planos de manejo adequados a realidade local. Isto aponta a necessidade da integração de conhecimentos científicos e locais para a conservação dos cetáceos e para a sustentabilidade das práticas da pesca.
Palavras-chave:
etnobiologia; mamíferos marinhos; emalhe; emaranhamento; colisão