Resumos
Usando como base de informações a monografia sobre o grupo publicada pelo projeto Flora Ficológica do Estado de São Paulo (Programa BIOTA), o acervo depositado no Herbário Científico do Estado de São Paulo "Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo" (SP), a Lista de Espécies da Flora do Brasil e artigos científicos, dissertações e teses (com descrições e ilustrações) temos: nove gêneros e 39 espécies de criptoficeas, sendo 16 espécies exclusivas para o Estado de São Paulo, todas registradas em ambientes de água doce. A carência de especialistas no Estado de São Paulo e no Brasil, além de problemas de estratégia amostral, necessidade de uso da microscopia eletrônica e ausência de estudos de biologia molecular, são fatores que devem ter subestimado o conhecimento taxonômico de Cryptophyceae no Estado.
Cryptophyceae; Cryptomonas; biodiversidade; Programa BIOTA/FAPESP
Based on the information provided by the monograph on the group published by the project Phycology Flora of São Paulo (BIOTA), the collection deposited in the Scientific Herbarium "Mary P. Eneyda Kauffmann Fidalgo " of the State of São Paulo, the List of Endangered Species of the Flora of Brazil and scientific papers, dissertations and theses (with descriptions and illustrations), there are nine genera and 39 species of cryptophytes, 16 of which are unique species to the State of São Paulo, all recorded in freshwater environments. The lack of specialists in the State of São Paulo and Brazil as well as problems in the sampling strategy, the necessary use of electronic microscopy and the absence of molecular biology studies are factors that must have underestimated the taxonomic knowledge of Cryptophyceae in the state.
Cryptophyceae; Cryptomonas; biodiversity; BIOTA/FAPESP Program
INVENTÁRIOS
Checklist das Cryptophyceae do estado de São Paulo, Brasil
Checklist of Cryptophyceae from São Paulo State, Brazil
Andréa TucciI, *; Carlos Eduardo de Mattos BicudoII; Mariângela MenezesIII; João Alexandre Saviolo OstiIV; Gisele AdameI
INúcleo de Pesquisa em Ficologia, Instituto de Botânica, Av. Miguel Stefano 3687, CEP 04301-902, São Paulo, SP, Brasil
IINúcleo de Pesquisa em Ecologia, Instituto de Botânica, Av. Miguel Stefano 3687, CEP 04301-902, São Paulo, SP, Brasil
IIILaboratório de Ficologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Quinta da Boa Vista, São Cristovão, CEP 20.940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
IVCentro de Aquicultura, Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho", Via de Acesso Profº Paulo Donato Castellane, S/N, CEP 14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil
RESUMO
Usando como base de informações a monografia sobre o grupo publicada pelo projeto Flora Ficológica do Estado de São Paulo (Programa BIOTA), o acervo depositado no Herbário Científico do Estado de São Paulo "Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo" (SP), a Lista de Espécies da Flora do Brasil e artigos científicos, dissertações e teses (com descrições e ilustrações) temos: nove gêneros e 39 espécies de criptoficeas, sendo 16 espécies exclusivas para o Estado de São Paulo, todas registradas em ambientes de água doce. A carência de especialistas no Estado de São Paulo e no Brasil, além de problemas de estratégia amostral, necessidade de uso da microscopia eletrônica e ausência de estudos de biologia molecular, são fatores que devem ter subestimado o conhecimento taxonômico de Cryptophyceae no Estado.
Número de espécies: No mundo: 120-150, no Brasil: 40, estimadas no Estado de São Paulo: 50
Palavras-chave: Cryptophyceae, Cryptomonas, biodiversidade, Programa BIOTA/FAPESP.
ABSTRACT
Based on the information provided by the monograph on the group published by the project Phycology Flora of São Paulo (BIOTA), the collection deposited in the Scientific Herbarium "Mary P. Eneyda Kauffmann Fidalgo " of the State of São Paulo, the List of Endangered Species of the Flora of Brazil and scientific papers, dissertations and theses (with descriptions and illustrations), there are nine genera and 39 species of cryptophytes, 16 of which are unique species to the State of São Paulo, all recorded in freshwater environments. The lack of specialists in the State of São Paulo and Brazil as well as problems in the sampling strategy, the necessary use of electronic microscopy and the absence of molecular biology studies are factors that must have underestimated the taxonomic knowledge of Cryptophyceae in the state.
Number of species: In the world: 120-150, in Brazil: 40, estimated in São Paulo State: 50
Keywords: Cryptophyceae, Cryptomonas, biodiversity, BIOTA/FAPESP Program.
Introdução
As Cryptophyceae constituem uma classe bem definida de algas que engloba organismos unicelulares biflagelados, mixotróficos e ativamente móveis na fase vegetativa, além de alguns poucos cocóides e de hábito dominantemente isolado como em Tetragonidium Pascher e Bjornbergiella C. Bicudo (Castro & Bicudo 2007).
Representantes dessa classe são facilmente reconhecidas pela forma assimétrica da célula, com nítida dorsiventralidade, ápice deslocado para o lado esquerdo e inserção dos flagelos deslocada para o lado direito. A face dorsal é convexa enquanto que a ventral é plana ou levemente côncava, além de um sulco longitudinal raso. Na face ventral e, mais especificamente, no pólo anterior da célula, próximo do sulco longitudinal, ocorre uma invaginação ou citofaringe revestida internamente por uma quantidade variável de ejectissômios de disposição linear (Castro & Bicudo 2007).
O envoltório celular é caracterizado por um periplasto rígido, de natureza protéica, que cobre externamente (componente externo do periplasto) e internamente (componente interno do periplasto) o plasmalema, sendo formado, em geral, por plaquetas retangulares ou poligonais. Os componentes externo e interno do periplasto podem ou não apresentar a mesma morfologia das plaquetas. Algumas vezes, as plaquetas estão ausentes ou presentes apenas em um dos componentes do periplasto. Escamas em roseta e material fibrilar podem ocorrer em adição às plaquetas externas, algumas vezes em substituição a elas (Hoef-Emden & Melkonian 2003).
Os ejectissômios são organelas "explosivas" situadas imediatamente abaixo do plasmalema, sendo mais desenvolvidos e facilmente observáveis na região da citofaringe e os menores distribuídos ao longo da periferia celular (Hoef-Emden & Melkonian 2003). Um vacúolo contrátil ocorre no pólo anterior da célula em representantes de água doce. Imediatamente adjacentes à citofaringe ocorrem, às vezes, um ou dois corpos de Maupas, que nada mais são do que estruturas de função ainda desconhecida, embora possivelmente envolvidas na remoção e digestão de membranas supérfluas (Castro & Bicudo 2007).
Os dois flagelos são desiguais em tamanho e estão inseridos no vestíbulo da citofaringe, deslocados para o lado direito da célula, emergindo subapicalmente acima e à direita da célula e à esquerda da citofaringe (quando se observa a célula em vista ventral). Essa inserção assimétrica dos flagelos confere uma rotação desequilibrada em torno do eixo longitudinal da célula durante o nado, com deslocamento típicamente ondulatório (Hoef-Emden 2007).
Nos representantes pigmentados ocorre um cloroplastídio inteiro ou bilobado e, às vezes, dois parietais. Em Cyanomonas e Pseudocryptomonas ocorrem vários cloroplastídios discóides parietais. Os cloroplastídios são oriundos de uma endosimbiose secundária com uma alga vermelha. Possuem quatro membranas além do núcleo vestigial da alga vermelha ou nucleomorfo localizado no espaço periplastidial, entre as duas membrasnas externas e as duas internas do cloroplastídio. Além das clorofilas a e c, os cloroplastídios apresentam as biliproteinas ficoeritrina e ficocianina, α-caroteno e carotenóides (aloxantina) como os principais pigmentos acessórios, o que lhes confere coloração variada desde azul a azul-esverdeada, avermelhada, castanho-avermelhada, verde-oliva, castanha até castanho-amarelada. As biliproteinas encontram-se preenchendo o lúmen dos tilacóides, estes últimos organizados no interior dos cloroplastídios, frequentemente aos pares, formando lamelas (Castro & Bicudo 2007).
Pirenóides podem ocorrer isolados, usualmente no centro do cloroplastídio, na face dorsal da célula, ou aos pares, situados nos lobos dos cloroplastídios. O amido constitui a principal substância de reserva acumulada no espaço periplastidial. Além de amido, existem gotículas de gordura no citoplasma (Castro & Bicudo 2007).
O nucleomorfo apresenta posição variada no espaço periplastidial como, por exemplo, em uma invaginação do pirenóide, anteriormente ao núcleo, em uma depressão no núcleo ou entre o núcleo e o pirenóide. Contando apenas com três cromossomos, o nucleomorfo representa uma importante organela na elucidação do processo de redução e compactação do genoma e na filogenia e evolução das Cryptophyceae (Archibald 2007).
Sabe-se, atualmente, que alguns gêneros da classe apresentam reprodução sexuada com histórico de vida dimórfico, com dois diferentes morfotipos. Exemplo: Cryptomonas, que alterna um morfotipo campilomorfo, inicialmente considerado como Campylomonas e um criptomorfo. Dados moleculares têm demonstrado que muitos gêneros estreitamente relacionados com distintas morfologias são, de fato, estádios haplóide e diplóide da mesma espécie e que, aparentemente, um ciclo de vida haplo-diplonte é uma aspecto do grupo como um todo (Hoef-Emden & Melkonian 2003, Hoef-Emden 2007).
Representantes de criptofíceas são amplamente distribuídos em ambientes tanto marinhos quanto de água doce, que vão desde os pólos até os trópicos e neles representados por aproximadamente o mesmo número de espécies (cerca de 100 em cada um). Nos hábitats pelágicos marinhos, as Cryptophyceae desempenham papel importante na produção primária (formas fotossintéticas) e podem, muitas vezes, formar extensas florações. Nos ambientes de água doce estas algas ocorrem, preferencialmente, em lagos oligotróficos, mas também ocorrem em pequenos corpos d'água e rios com altas concentrações de nutrientes, próximo a macrófitas submersas. Estão presentes praticamente ao longo de todo ano em baixas densidades, ainda que também possam formar florações (Menezes & Novarino 2003, Novarino 2003).
Embora as Cryptophyceae constituam uma classe de algas bem definida, o sistema de classificação do grupo ainda se encontra indefinido. A delimitação dos gêneros tem sido fundamentada no tipo de ficobiliproteina, na ultrastrutura do periplasto, no tipo de citofaringe e sulco, na localização do nucleomorfo, sendo estes três últimos caracteres definidos apenas por microscopia eletrônica (Novarino 2003). As espécies têm sido definidas, praticamente, com base em caracteres morfológicos visíveis sob microscopia ótica, tais como forma e dimensões celulares, número, localização e forma do cloroplastídio e presença, número e localização de pirenóides. A taxonomia do grupo está baseada, portanto, no conceito clássico de morfoespécie. A descoberta de reprodução sexuada e de um histórico de vida dimórfico em alguns gêneros indica a ocorrência de espécie biológica em Cryptophyceae (Hoef-Emden 2007). Entretanto, as árvores filogenéticas resultantes do sequenciamento genético de cepas de algumas espécies de Cryptomonas mostraram incongruências entre as morfoespécies e as espécies biológicas dentro dos táxons estudados. Cepas geneticamente idênticas ou muito semelhantes entre si mostraram formas celulares que correspondiam a diferentes espécies morfológicas, enquanto que cepas pertencentes a uma mesma morfoespécie foram geneticamente muito diversas, a ponto de representarem espécies biológicas (Hoef-Emden 2007). Os estudos realizados até hoje demonstram que algumas espécies têm seus caracteres morfológicos sustentados por sequenciamento genético, enquanto que outras só podem ser delimitadas por assinaturas moleculares.
O conhecimento das criptofíceas do Estado de São Paulo ainda é bastante incipiente e encontra-se distribuído em 28 publicações com enfoque diversificado, envolvendo estudos taxonômicos, ecológicos ou de hidrobiologia sanitária (Castro & Bicudo 2007).
O trabalho de Palmer (1960) constitui a primeira citação de ocorrência de representantes da classe no Estado de São Paulo, no qual o gênero Cryptomonas é apenas listado em meio a outros gêneros de algas de várias outras classes taxonômicas.
Com base em material coletado no hidrofitotério do Jardim Botânico de São Paulo, Bicudo & Bicudo (1967) só mencionam a presença de duas espécies de criptoficeas, Cryptomonas erosa Ehrenberg e Cryptomonas ovata Ehrenberg, em uma relação de 23 outras de algas pertencentes a seis classes, sem descrevê-las nem ilustrá-las.
Os trabalhos de cunho taxonômico com descrições, ilustrações e, pelo menos, algum comentário dos materiais identificados, estão a seguir. A partir de material oriundo do PEFI, Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, município e estado de São Paulo, Bicudo & Tell (1988) propuseram o gênero Pseudocryptomonas com duas espécies: P. americana e P. subcylindrica.
O trabalho de Castro et al. (1991) representa uma importante contribuição por ser o primeiro inventário florístico específico de representantes de Cryptophyceae feito para o Estado de São Paulo e, mais especificamente, para a Reserva Biológica do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga. Vinte e uma espécies de Chilomonas, Cryptomonas, Pseudocryptomonas, Rhodomonas e Cyathomonas foram identificadas. Constam nesse trabalho descrições e ilustrações, além da proposição de duas espécies novas de Protocryptomonas e uma de Cryptomonas. Cryptomonas foi o gênero que apresentou o maior número de espécies, 10, sendo C. erosa a que apresentou a maior distribuição geográfica no Parque, ocorrendo em seis locais distintos.
Castro & Bicudo (2007) constitui outro importante e o mais recente trabalho taxonômico, com ilustrações, descrições e comentários a partir de coletas realizadas em vários municípios do Estado. O trabalho é a publicação da tese de doutorado da primeira autora: Castro (1993).
Várias dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos incluem referência à ocorrência de espécies de Cryptophyceae no Estado de São Paulo, a maioria, contudo, de cunho ecológico. São 26 trabalhos, 17 dos quais elaborados a partir de material proveniente de três ambientes situados no PEFI, quais sejam: os lagos das Garças, das Ninféias e do IAG. A grande maioria dos últimos (Ramírez 1996, Nascimento-Moura 1996, Moura 1997, Sant'Anna et al. 1997, Lopes 1999, Vercellino 2001, Crossetti 2002, 2006, Barcelos 2003, Ferragut 2004, Fonseca 2005, Biesemeyer 2005, Fermino 2006) contém unicamente a referência à presença das espécies durante o estudo realizado. Há outros nessa mesma situação, que foram feitos com materiais da Represa de Guapiranga (Beyruth 1996), da Represa Billings (Carvalho 2003, Nishimura 2008), da Represa de Jurumirim (Nogueira 1996, Ferreira 2005, Henry et al. 2006, Granado et al. 2009), da Represa de Barra Bonita (Calijuri 1999) do Reservatório de Salto Grande em Americana (Tucci et al. 2004) e de 30 pesqueiros localizados na região metropolitana da cidade de São Paulo (Gentil 2007). Lopes (1999) resultou em uma publicação (Lopes et al. 2005) cujo conteúdo é o mesmo da parte competente da tese de doutorado; e Crossetti (2002) em duas publicações (Crossetti & Bicudo 2005a, 2005b) cujos conteúdos também são exatamente os mesmos da dissertação de mestrado.
Cabe ainda mencionar o trabalho de cunho ecológico específico para Cryptophyceae realizado por Bicudo et al. (2009), a partir de material do Lago das Ninféias, no PEFI. Os referidos autores registraram a presença de 10 espécies, das quais, quatro (C. brasiliensis, C. curvata, C. erosa e C. marssonii) apresentaram as maiores densidades populacionais.
Algumas poucas dissertações, teses e artigos apresentaram descrições sucintas (inclusive medidas) e/ou ilustrações dos materiais identificados, permitindo, assim, reidentificação dos materiais nelas incluídos. Neste sentido, Marinho (1994) apresentou breve descrição de Cryptomonas parapyrenoidifera Skuja, C. platyuris Skuja e C. pyrenoidifera Skuja coletadas do Açude do Jacaré, SP. Calijuri (1999) forneceu ilustrações de Cryptomonas pseudopyrenoidifera Skuja e C. tetrapyrenoidosa Skuja, mas, não é possível reidentificar a primeira espécie a partir da única figura apresentada e a ilustração da segunda não corresponde à da espécie com que foi identificada. Silva (1999) descreveu e ilustrou quatro espécies (Chroomonas acuta Utermöhl, Cryptomonas erosa Ehrenberg, C. marssonii Skuja e C. platyuris Skuja) a partir de material do Lago Monte Alegre em Ribeirão Preto. Tucci (2002) estudou material do Lago das Garças, PEFI, incluindo breve descrição (com medidas) e ilustração de Chilomonas paramecium Ehrenberg, Cryptomonas brasiliensis Castro, C. Bicudo & D. Bicudo., C. curvata Ehrenberg emend. Pennard, C. erosa Ehrenberg, C. marssonii Skuja, C. obovata Skuja, C. phaseolus Skuja, C. tenuis Pascher, C. tetrapyrenoidosa Skuja, Protocryptomonas ellipsoidea Skvortzov ex Castro et al., P. sygmoidea Skvortzov ex Castro et al., Rhodomonas lacustris Pascher & Ruttner e Cyathomonas truncata (Fresenius) Fisch. Descrições bem mais completas (incluindo medidas) e ilustrações das mesmas espécies apresentadas em Tucci (2002) constam em Tucci et al. (2006). Por fim, Ferragut et al. (2005) forneceram medidas, ilustrações e distribuição no PEFI de três gêneros, oito espécies e uma forma de taxonômica, a saber: Chroomonas nordstedtii Hansgirg var. nordstedtii f. minor Nygaard, Cryptomonas brasiliensis Castro et al., C. erosa Ehrenberg, C. obovata Skuja, C. phaseolus Skuja, C. platyuris Skuja, C. tenuis Pascher e Pseudocryptomonas cf. subcylindrica Bicudo & Tell.
Metodologia
A lista de espécies foi elaborada a partir de quatro fontes disponíveis, quais sejam: (1) a monografia sobre o grupo publicada pelo projeto "Flora ficológica do Estado de São Paulo (Castro & Bicudo 2007) dentro do Programa BIOTA, (2) informações sobre o material depositado no Herbário Científico do Estado de São Paulo "Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo" (SP), (3) informações disponíveis na Lista de Espécies da Flora do Brasil (Menezes & Bicudo 2010) e (4) artigos científicos, dissertações e teses que possuem descrições e ilustrações.
Resultados e Discussão
A lista das espécies, variedades e formas taxonômicas de Cryptophyceae do Estado de São Paulo resume nove gêneros e 39 espécies, todas registradas em ambientes de água doce, incluindo sistemas lóticos, semilênticos e lênticos e tanto material fitoplanctônico quanto perifítico.
A lista é a seguinte:
Chilomonas cryptomonadoides Skuja
C. insignis (Skuja) Javornický
C. oblonga Pascher f. minor (Czosnowski) Javornický
C. paramaecium Ehrenberg
Chroomonas coerulea (Geitler) Skuja
C. nordstedtii Hansgirg f. nordstedtii
C. nordstedtii Hansgirg f. minor Nygaard
Cryptochrysis commutata Pascher
C. minor Nygaard
C. pochmannii Huber-Pestalozzi
C. polychrysis Pascher
Cryptomonas brasiliensis Castro, C. Bicudo & D. Bicudo
C. claviformis C. Bicudo
C. curvata Ehrenberg emend. Penard
C. cylindrica Ehrenberg
C. erosa Ehrenberg
C. lobata Koršikov
C. marssonii Skuja
C. obovata Skuja
C. ovata Ehrenberg
C. ozolini Skuja
C. phaseolus Skuja
C. parapyrenoidifera Skuja
C. platyuris Skuja
C. pyrenoidifera Geitler
C. tenuis Pascher
C. tetrapyrenoidosa Skuja
Cyanomonas americana (Davis) Oltmans
Goniomonas brasiliensis C. Bicudo
G. truncata (Fresenius) Stein var. truncata [= Cyathomonas truncata Fresenius var. truncata]
Protocryptomonas acuta Castro, C. Bicudo & D. Bicudo
P. chilomonoides Skvortzov ex Castro, C. Bicudo & D. Bicudo
P. ellipsoidea Skvortzov ex C. Bicudo
P. sygmoidea Castro, C. Bicudo & D. Bicudo
Pseudocryptomonas americana C. Bicudo & Tell
P. parrae C. Bicudo & Tell
P. subcylindrica C. Bicudo & Tell
Rhodomonas lacustris Pascher & Ruttner
R. lacustris Pascher & Ruttner var. lacustris
Cryptomonas foi o gênero com maior número de espécies (Figura 1), também constatado por Menezes & Novarino (2003) em seu levantamento para o Brasil. Cryptomonas erosa foi a espécie com maior número de registros (46), seguida por C. marssonii (28) e C. obovata (25) (Tabela 1).
Do levantamento realizado, cabe destacar Goniomonas brasiliensis C. Bicudo descrita recentemente por Bicudo (Castro & Bicudo 2007) a partir de material proveniente dos municípios de Bragança Paulista (SP188324), Moji das Cruzes (SP188211) e São Carlos (SP188213). A combinação Goniomonas truncata (Fresenius) Stein var. truncata foi feita a partir de Cyathomonas truncata (Fresenius) Fisch var. truncata (SP365419), seu basiônimo, que foi citado na literatura paulista por Castro et al. (1991) e Tucci et al. (2006).
Comentários sobre a lista e riqueza do estado comparada com a de outras regiões
Dos 38 táxons identificados em Castro & Bicudo (2007), 17 foram ali citados pioneiramente para o Brasil e, simultaneamente, para o Estado de São Paulo. São eles: Chilomonas cryptomonadoides Skuja, C. insignis (Skuja) Javornický, Chroomonas coerulea (Geitler) Skuja, C. nordstedtii Hansgirg f. nordstedtii, C. nordstedtii Hansgirg f. minor Nygaard, Cryptochrysis commutata Pascher, C. minor Nygaard, C. pochmanni Huber-Pestalozzi, C. polychrysis Pascher, Cryptomonas claviformis C. Bicudo, C. cylindrica Ehrenberg, C. lobata Koršikov, C. ozolini Skuja, C. parapyrenoidifera Skuja, C. pyrenoidifera Geitler, Cyanomonas americana (Davis) Oltmanns e Goniomonas brasiliensis C. Bicudo.
Muitos táxons descritos de material de regiões de clima temperado como, por exemplo, Chroomonas acuta Utermöhl, Chroomonas nordstedtii Hansgirg, Cryptomonas platyuris Skuja, Cryptomonas pyrenoidifera Geitler e Cryptomonas tetrapyrenoidosa Skuja foram encontradas também no Brasil. Menezes & Novarino (2003) mencionaram que entre os 38 táxons registrados de águas tropicais brasileiras, 81% também são encontrados em regiões temperadas. Os mesmos autores também afirmaram que outras espécies tais como Cryptomonas brasiliensis descrita por Castro et al. (1991) e duas espécies de Pseudocryptomonas - P. americana e P. Subcylindrica - descritas por Bicudo & Tell (1988) a partir de material coletado no Estado de São Paulo, ainda não foram encontradas fora do Brasil, sugerindo que possam ser geograficamente restritos às águas tropicais do Brasil e, possivelmente, endêmicos em alguns ecossistemas específicos.
Menezes & Novarino (2003) comentaram que as espécies de grande porte como, por exemplo, Cryptomonas curvata Ehrenberg emend. Pennard, Cryptomonas marssonii Skuja (possivelmente aliada a Campylomonas reflexa (Skuja) Hill e Cryptomonas erosa Ehrenberg)têm sido relatados em ecossistemas aquáticos rasos eutróficos, tanto no Brasil como em regiões temperadas e, portanto, parecem ter uma distribuição cosmopolita. Esta associação pode ser comprovada pelos estudos ecológicos desenvolvidos em um dos ambientes do PEFI, o Lago das Garças, que é caracterizado por ser um sistema raso e eutrófico (Tucci et al. 2006).
Nenhum gênero de criptoficea foi registrado no litoral paulista, no levantamento realizado por Villac et al. (2008). Os autores reuniram informação de 100 anos de estudos e pesquisas sobre a composição taxonômica do fitoplâncton do litoral do Estado de São Paulo e inventariaram a biodiversidade fitoplanctônica da região. Dos 572 táxons listados, as diatomáceas foram predominantes (82%), seguidas por dinoflagelados (16%) e uma pequena contribuição de sílico-flagelados, cocolitoforídeos, ebriídeas e cianobactérias.
Principais Grupos de Pesquisa
São poucos os grupos de pesquisa no Brasil destinados à taxonomia de microalgas e esses se encontram distribuídos pelas regiões brasileiras sul e sudeste, com cinco e quatro grupos de pesquisas, respectivamente; regiões centro-oeste e nordeste com três grupos cada uma; e região norte com dois grupos de pesquisa. Apesar da existência desses grupos, a carência de especialistas em taxonomia de Cryptophyceae é quase absoluta. A única especialista nesse grupo de algas é a Drª Mariângela Menezes, que trabalha no Laboratório de Ficologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A distribuição das espécies para no Brasil (Menezes & Bicudo 2010) mostra que o Estado de São Paulo com seus três grupos de pesquisa é, sem dúvida, o que apresenta o maior número de ocorrências registradas, seguido pelo Estado do Rio de Janeiro com 13 táxons (Menezes & Bicudo 2010). Existe então, de fato, uma lacuna muito grande nos estudos de levantamento florístico para a maioria dos estados brasileiros.
Principais Acervos
O principal acervo de material de Cryptophyceae no estado está na coleção de algas preservada em líquido (solução aquosa de formalina a 4%) no Herbário Científico do Estado "Maria Eneyda P. Kauffman Fidalgo" (SP) do Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. São cerca de 29.000 números com representantes de algas, dos quais 339 correspondem a registros de Cryptophyceae (Figura 2), de amostras provenientes dos estados de São Paulo (95%), Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Amazonas.
Principais Avanços Relacionados ao Programa BIOTA/FAPESP
O inventário florístico e o mapeamento dos táxons de criptofíceas gerados a partir dos dados levantados evidenciam que ainda há lacunas no conhecimento e demandas quanto à biodiversidade desse grupo de algas no Estado de São Paulo.
A grande maioria dos registros com descrições e ilustrações de espécies está restrita aos ambientes aquáticos do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga e de localidades e municípios visitados por Castro (1993). Nada existe com relação à ocorrência de espécies marinhas.
As espécies mais bem distribuídas geograficamente foram: Cryptomonas erosa Ehrenberg, que ocorreu em 34 dos 85 municípios amostrados e C. marssonii Skuja, em 28. Os de distribuição mais restrita, isto é, que ocorrem em um único município foram os seguintes: Chilomonas cryptomonadoides Skuja, Cryptomonas polychrysis Pascher, Cryptomonas lobata Koršikov, C. tenuis Pascher e Pseudocryptomonas subcylindrica C. Bicudo & Tell.
Dos 85 municípios examinados, 18 não apresentaram qualquer representante de Cryptophyceae, isto é, em 72 das 340 unidades amostrais escrutinadas. O fato de não se ter encontrado representantes da classe nesses locais pode indicar que, provavelmente, as coletas foram efetuadas em épocas não ou pouco favoráveis ao seu desenvolvimento ou que, simplesmente, o acaso não favoreceu a coleta de representantes de Cryptophyceae.
Perspectivas de Pesquisa em Botânica para os Próximos 10 Anos
A dificuldade de cobrir maior extensão continental e, principalmente, a costeira está associada à carência de especialistas no Estado de São Paulo e no Brasil, fato que seguramente prejudica a realização de inventários desse grupo de algas. Além disso, problemas de estratégia amostral e a necessidade de uso da microscopia eletrônica e, mais recentemente, da biologia molecular, comprometem o aumento de informações e alguns grupos de algas tornam-se absolutamente subestimados (Menezes & Bicudo 2009).
Particularmente as espécies de criptofíceas são de difícil identificação devido às reduzidas dimensões e à fragilidade celular (deformam com facilidade) aspectos que, em conjunto, acarretam uma má preservação/manutenção de material em herbários, incluindo material tipo.
A segunda questão levantada por Menezes & Novarino (2003) ainda está por resolver e é, segundo os referidos autores, uma das maiores dificuldades a impedir o desenvolvimento do estudo da diversidade de criptoficeas no Brasil. A falta de infra-estrutura adequada no país faz com que seja muito difícil para os poucos taxonomistas especialistas brasileiros a adotação de métodos de investigação que sejam eficientes e consistentes. Este fato torna, por sua vez, muito difícil a obtenção de resultados significativos no contexto de uma moderna estrutura taxonomia e sistemática baseadas em microscopia eletrônica (para mais detalhes veja Javornický (2003), Novarino (2003)).
Há, portanto, uma necessidade urgente de formação de taxonomistas, bem como o investimento em novas metodologias de estudo.
Recebido em 01/05/2011
Versão Reformulada recebida em 22/07/2011
Publicado em 29/08/2011
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
02 Out 2012 -
Data do Fascículo
Dez 2011
Histórico
-
Revisado
22 Jul 2011 -
Recebido
01 Maio 2011 -
Aceito
29 Ago 2011