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Espécies novas de Chromatonotus Hebard, 1920 da região da Amazônia (Blattellidae, Blattellinae)

New species of Chromatonotus Hebard, 1920 from the Amazon region (Blattellidae, Blattellinae)

Resumos

Duas espécies novas de Chromatonotus Hebard, 1920 do estado de Mato Grosso, Brasil, são descritas: Chromatonotus chirostylatus sp. nov e Chromatonotus sinopensis sp. nov. Ilustrações sobre a forma e coloração, modificação tergal no abdome, placas genitais e peças da genitália do macho são apresentadas.

descrição; nova espécie; Blattaria; taxonomia; Amazônia


Two new species of Chromatonotus Hebard, 1920 from Mato Grosso State, Brazil, are described: Chromatonotus chirostylatus sp. nov and Chromatonotus sinopensis sp. nov. Illustrations of the shape and coloration, tergal modification in the abdome, genital plates and the male genitalia are presented.

description; new species; Blattaria; taxonomy; Amazon


ARTIGOS

Espécies novas de Chromatonotus Hebard, 1920 da região da Amazônia (Blattellidae, Blattellinae)

New species of Chromatonotus Hebard, 1920 from the Amazon region (Blattellidae, Blattellinae)

Sonia Maria Lopes1 1 Autor para correspondencia: Sonia Maria Lopes, e-mail: sonialf@acd.ufrj.br ; Andréa Khouri

Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, CEP 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

RESUMO

Duas espécies novas de Chromatonotus Hebard, 1920 do estado de Mato Grosso, Brasil, são descritas: Chromatonotus chirostylatus sp. nov e Chromatonotus sinopensis sp. nov. Ilustrações sobre a forma e coloração, modificação tergal no abdome, placas genitais e peças da genitália do macho são apresentadas.

Palavras-chave: descrição, nova espécie, Blattaria, taxonomia, Amazônia.

ABSTRACT

Two new species of Chromatonotus Hebard, 1920 from Mato Grosso State, Brazil, are described: Chromatonotus chirostylatus sp. nov and Chromatonotus sinopensis sp. nov. Illustrations of the shape and coloration, tergal modification in the abdome, genital plates and the male genitalia are presented.

Keywords: description, new species, Blattaria, taxonomy, Amazon.

Introdução

Chromatonotus foi descrito por Hebard (1920) que designou C. lamprus, coletado no Panamá, como espécie-tipo. O gênero apresenta, até o momento, onze espécies descritas que se distribuem desde a Guatemala até o Brasil na região amazônica brasileira. O gênero Chromatonotus caracteriza-se por apresentar tamanho pequeno, entre 9-15 mm e coloração castanha-amarelada. Na cabeça, o espaço interocular é amplo, pouco menor que o espaço entre as bases das antenas; ocelos são distintos e o vértice é pouco exposto. O pronoto tem a forma subtrapezoidal com as abas laterais arredondadas e defletidas. Em ambos os sexos as tégminas e asas membranosas são longas e ultrapassam o ápice dos cercos; essas com campo anal dobrado em leque e triângulo apical desenvolvido. As pernas são espinhosas. Na face ântero-ventral, no fêmur anterior, há de quatro a seis espinhos fortes, da base até a região mediana e uma série de pequenos espinhos até o ápice e três espinhos apicais robustos. Os pulvilos estão presentes em todos os artículos tarsais e as unhas são simétricas e simples com arólios presentes. No abdome há ausência de modificação tergal nos sétimo e oitavo segmentos (Hebard 1920).

Neste trabalho é apresentado um novo registro no Brasil para o gênero, no Estado do Mato Grosso, é assinalado mais um caráter morfológico para melhor identificação entre os demais gêneros e são descritas duas espécies novas de Chromatonotus: C. chirostylatus sp. nov. e C. sinopensis sp. nov.

Material e Métodos

O material foi coletado no município de Sinop, ao longo da BR-163, que atravessa uma série de paisagens características do estado de Mato Grosso. O estado do Mato Grosso pode ser subdividido em duas bacias hidrográficas (Prata e Amazônica) com diferentes biomas, no caso Cerrado, Mata Amazônica e Pantanal. Porém, todo o norte desse estado está no domínio amazônico. Desde 1953, o município de Sinop pertence à região denominada Amazônia Legal, juntamente com os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, e parte do Maranhão (a oeste do meridiano de 44° WGr.). Tal região perfaz aproximadamente 5.217.423 km2, o que corresponde a cerca de 60% do território brasileiro (AmbienteBrasil 2000-2008).

Em laboratório, a observação das placas genitais foi feita através da retirada da parte final do abdome, utilizando-se as técnicas tradicionais de dissecção, descritas em Lopes & Oliveira (2000). Após análise, as placas e peças genitais foram guardadas em microtubos contendo glicerina, acondicionados junto ao exemplar respectivo, técnica desenvolvida por Gurney et al. (1964). A terminologia da genitália e a classificação taxonômica foram baseadas nos conceitos propostos por Roth (2003). Para identificação precisa, o material foi comparado com os exemplares de Chromatonotus da coleção de Blattaria do Museu Nacional (MNRJ) e com as descrições em literatura. Os exemplares descritos neste trabalho encontram-se depositados na coleção do Departamento de Entomologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ).

Resultados

1. Chromatonotus chirostylatus sp. nov

Coloração geral: Castanha hialina e brilhante (Figura 1a); cabeça na base das antenas com pequenas manchas triangulares voltadas para a fronte (Figura 2a), primeiros e segundos artículos dos palpos maxilares castanho-claros, quarto e quinto com tomentosidade dourada; pronoto com uma faixa transversal castanho-escura na base com manchas delgadas e encurvadas, de mesma coloração em cada uma das regiões látero-apicais (Figura 2b).






Dimensões (mm): Holótipo ♂. Comprimento total 13; comprimento do pronoto 2; largura do pronoto 3,5; comprimento da tégmina 11; largura da tégmina 3.

Abdome: Primeiro tergito com dois conjuntos simétricos de cerdas próximos à região mediana. Placa supra-anal ciliada transversa, com bordo apical ciliado e levemente projetado com suave reentrância (Figura 2c). Cercos com 11 artículos. Placa subgenital assimétrica, ciliada no terço apical, alargada com invaginação acentuada médio-apicalmente onde se inserem os estilos, assimétricos, o esquerdo apicalmente em forma de uma mão e o direito simples e ciliado (Figura 2d). Genitália com esclerito mediano afilado (Figura 2g), falômero esquerdo em forma de gancho simples (Figura 2f); falômero direito em forma de "Y" invertido, com os braços desenvolvidos diferenciados e estrutura mediana laminar esclerotinizada (Figura 2e).

Material examinado: Holótipo ♂. Brasil, Mato Grosso, Sinop, BR-163, km 500-600, 350 m, 12° 31'S and 55° 27' W, Alvarenga & Roppa cols., IX/1974; Parátipo ♂, dados de coleta, data e coletor iguais ao Holótipo (MNRJ).

Etimologia: Do grego "cheiros", significando mão, devendo-se à configuração do estilo esquerdo em forma de uma mão.

Comentário: A espécie é similar a C. infuscatus (Brunner, 1906) pelo posicionamento dos estilos na região médio-apical da placa subgenital, no entanto, diferindo dessa e das demais espécies do gênero pela configuração da referida placa e das estruturas genitais.

2. Chromatonotus sinopensis sp. nov.

Coloração geral: Castanho-clara e brilhante (Figura 1b); cabeça com manchas entre as antenas, na base dos olhos, no clípeo e na lateral do labro (Figura 3a); disco central do pronoto com uma mancha castanho-escura semelhante a um "C" em cada lateral e uma faixa basal irregular de mesma coloração (Figura 3b); quarto e quinto artículos dos palpos maxilares tomentosos castanho-escuros.





Dimensões (mm): Holótipo ♂. Comprimento total 10; comprimento do pronoto 2,5; largura do pronoto 3; comprimento da tégmina 8,5; largura da tégmina 2.

Abdome: Primeiro tergito com dois conjuntos simétricos de cerdas, pouco visíveis, próximo à região mediana do segmento. Placa supra-anal modificada látero-apicalmente, fracamente transversa, margens livres, retas, arredondadas com emarginação mediana no bordo apical e leve reentrância mediana apical. Cercos curtos com cerca de oito a dez artículos ciliados e bem demarcados (Figura 3c). Placa subgenital levemente assimétrica ciliada na metade apical, estilos assimétricos e com uma proeminência entre eles, o direito um pouco mais visível que o esquerdo (Figura 3d). Genitália com esclerito mediano estiliforme e afilado apicalmente (Figura 3e). Falômero direito em forma de "Y" invertido com um dos braços afilado, desenvolvido e com espinhos apicais e o outro um pouco menor e alargado e estrutura mediana laminar (Figura 3f).

Material examinado: Holótipo ♂. Brasil, Mato Grosso, Sinop, BR-163, km 500-600, 350 m, 12° 31'S and 55° 27' W, Alvarenga & Roppa cols., IX/1974 (MNRJ).

Etimologia: O nome da espécie refere-se à localidade onde foi coletado o holótipo.

Comentário: A espécie é similar à C. lamprus Hebard, 1920 pela configuração da placa subgenital e dos estilos, diferindo dela e das demais espécies de Chromatonotus, pela configuração, no macho, das placas supra-anal, subgenital e estruturas genitais.

Discussão

As espécies de Chromatonotus assemelham-se externamente às de Ischnoptera Burmeister, 1838, contudo podem ser facilmente separadas pela ausência de modificação tergal, em forma de pente, nos sétimo e oitavo segmentos, caráter esse que é típico de Ischnoptera. A semelhança citada anteriormente levou Rocha e Silva Albuquerque & Lopes (1977) a sinonimizar C. petropolitanus Rocha e Silva Albuquerque, 1971 e C. inusitatus Rocha e Silva Albuquerque, 1971, ambas as espécies do estado do Rio de Janeiro, à I. inclusa Rocha e Silva Albuquerque, 1968 e I. inusitata, respectivamente, restringindo a distribuição do gênero, no Brasil, às regiões norte e nordeste.

É assinalado em Chromatonotus, pela primeira vez, o caráter da modificação tergal evidenciada, um conjunto de cerdas simétricas no primeiro segmento abdominal que pode estar pouco nítido. Tal modificação vem corroborar o estudo desses dois gêneros

Agradecimentos

À Faperj projeto E-26/171-281/2006, Rede de Insetos - Diversidade biológica da Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro pelo apoio técnico para digitalização.

Recebido em 20/11/07

Versão Reformulada recebida 22/05/08

Publicado em 13/06/08

  • AMBIENTEBRASIL S/S LTDA. 2000-2008. Desenvolvimento Sustentável na Amazônia Legal http://www.ambientebrasil.com.br/ composer.php3?base=./gestao/ index.html&conteudo=./ gestao/artigos/amazonia.html (acessado em 20/05/2008).
  • GURNEY, A.B., KRAMER, J. P. & STEYSKAL, G.C. 1964. Some techniques for the preparation, study and storage in microvials of insect genitalia. Ann. Entomol. Soc. Am. 57(2): 240-242.
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  • ROCHA E SILVA ALBUQUERQUE, I. & LOPES, S.M. 1977. Blattaria (Dictyoptera) do Alto da Mosela, Petrópolis, RJ. Rev. Bras. Biol. 37(3): 499-520.
  • ROTH, L. M. 2003. Systematics and phylogeny of cockroaches (Dictyoptera: Blattaria). Orient. Insects 37: 1-186.
  • 1
    Autor para correspondencia: Sonia Maria Lopes, e-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Ago 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2008

    Histórico

    • Aceito
      13 Jun 2008
    • Recebido
      20 Nov 2007
    • Revisado
      22 Maio 2008
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