Um levantamento ictiofaunístico em corpos d'água epígeos (superficiais) da área cárstica de Cordisburgo, Minas Gerais, realizado em maio de 2007, resultou no registro de 13 espécies, a maioria Characiformes; adicionalmente, três espécies não-troglomórficas e uma troglomórfica (com olhos e pigmentação reduzidos em comparação aos congêneres epígeos) de bagres foram encontradas em duas cavernas visitadas em diversas ocasiões, totalizando 17 espécies de peixes para a região. Todas as espécies nominais aqui registradas para Cordisburgo haviam sido reportadas anteriormente para a bacia do Rio das Velhas. Nenhuma das espécies amostradas nas localidades epígeas foi observada nas cavernas e vice-e-versa. As quatro espécies subterrâneas ocorrem ao longo de riachos subterrâneos, sendo observados indivíduos de diferentes faixas de tamanho/etárias. Isto, associado à ausência de diferenças morfológicas notáveis em relação a coespecíficos de localidades epígeas, indicam que Trichomycterus brasiliensis, Gymnotus cf. carapo e Pimelodella cf. vittata são troglófilos (espécies com indivíduos capazes de viver e completar o ciclo de vida tanto no ambiente superficial como no subterrâneo) na Gruta Morena; esta última pode estar no início de processo de diferenciação devido ao isolamento, pelo menos parcial, na caverna, conforme sugerido pela ligeira redução no tamanho dos olhos. Tal isolamento pode ser igualmente a causa do troglomorfismo incipiente, porém indubitável, dos bagres Rhamdiopsis da Gruta do Salitre, permitindo sua classificação como troglóbios (espécie exclusivamente subterrânea). A região de Cordisburgo há muito vem sendo sujeita a pressão antrópica significativa, representada principalmente pelo desmatamento para agricultura, pastagem e extração de madeira. Turismo é uma ameaça adicional para as populações cavernícolas, sendo urgentes medidas para sua proteção.
Minas Gerais; cavernas; troglóbios; troglófilos; peixes de água doce; biodiversidade
