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Melhoramento do cafeeiro: XIX - Pesquisas sôbre o café semperflorens

Coffee breeding: XIX - Researches on the semperflorens coffee

Resumos

O propósito do presente trabalho é relatar os resultados obtidos no estudo sobre as características de produção da variedade semperflorens que se distingue das demais variedades de C. arabica por apresentar um florescimento quase contínuo e, conseqüentemente, conter frutos em vários estados de desenvolvimento durante todo o ano. Visou a presente pesquisa determinar o possível interêsse econômico que esta variedade pudesse oferecer para a instalação de pequenas lavouras intensivas de café. Analisaram-se os dados obtidos da colheita individual de 486 cafeeiros existentes nas estações experimentais de Campinas, de Pindorama e de Ribeirão Preto, respectivamente nos períodos de 1940-1951, 1945-1950 e 1939-1941. Os resultados indicaram que as produções médias por planta em Campinas foram maiores do que as de Ribeirão Prêto, e pouco superiores às de Pindorama. Encontraram-se dois máximos de produção de frutos maduros, que ocorreram em torno dos meses de abril - comum às três localidades - e novembro, somente para Campinas e Ribeirão Preto, e dezembro a janeiro, em Pindorama. O café semperflorens mostrou-se menos produtivo do que o bourbon vermelho. Limites médios extremos de 188 a 271 dias encontraram-se para o período de amadurecimento dos frutos. Os máximos de amplitude observados se têm em conta de condições desfavoráveis ao desenvolvimento dos frutos. Evidenciou-se que os períodos mais curtos de maturação, de modo geral, se enquadraram na época normal de florescimento dos demais cafeeiros. Em observações sôbre a incidência da broca do café, em frutos maduros, em Campinas, constatou-se maior ataque nos meses de julho e agôsto, e menor em janeiro e fevereiro. Verificou-se grande surto da broca nos anos de 1947 e 1948. Relativamente às dimensões das sementes, esiudadas através da peneira média, pôde-se observar que elas são menores do que as das variedades typica e bourbon vermelho. Verificou-se, também, a tendência de crescimento dos valores da peneira média, a partir de janeiro, cujo máximo ocorreu em junho, declinando até dezembro. Tem-se que tal variabilidade mensal está ligada a épocas diferentes de desenvolvimento dos frutos. O pêso médio de 100 sementes não se mostrou muito variável, é da ordem de 10,52 gramas, exceto em 1941, em que se revelou menor e correspondeu à menor produção anual e aos valores mais reduzidos de peneira méida. Nos meses, os maiores valores se verificaram a partir de abri], com máximo em julho. Não se mostraram correlacionados os dados médios mensais do pêso de sementes e as produções médias mensais; obteve-se, entretanto, correlação positiva entre o pêso de sementes e os valores mensais de peneira média. As quantidades de sementes do tipo moca revelaram-se bem variáveis. Assinalaram-se, em seis anos de determinações, limites extremos de 3,5% e 23,0%. Nos meses, as porcentagens mais elevadas desse tipo de semente ocorreram em junho e julho, quando a produção é reduzida; os valores mínimos se situaram no período de outubro a dezembro. Dada a produtividade não elevada do café semperflorens, o cultivo em larga escala dêsae cafeeiro deixou de apresentar interesse econômico. Contudo, êsse mutante, pelo contínuo florescimento que exibe, poderá desempenhar um valor todo especial para as análises genéticas do café e, também, para as pesquisas fisiológicas.


The main feature of the semperflorens mutant of Coffea arabica is its ability to produce flowers during the whole year, whereas other commercial types of the same species have a definitive flowering period. In the S. Paulo plateau this occurs only at the beginning of the rainy season, August-October. The yield of several progenies of the semperflorens coffee, the period of fruit development, and the size and types of seeds produced were recorded for a few years in plantings made in three localities of the state of S. Paulo: Campinas (1940-1951), Ribeirão Prêto (1939-1941), and Pindorama (1945-1950). The average plant yield in Campinas was 3.140 kg of ripe fruits per year; in Pindorama, 2.740 kg; and in Ribeirão Prêto, 1.660 kg. A comparison of the semperflorens coffee with selected strains of Red Bourbon indicated that the anual yields of the former variety were lower in spite of its giving several crops a year. When harvests were made at monthly intervals to study yield distribution throughout the year, two peaks were recorded: (1) one around April for the three localities; (2) another in November for Campinas and Ribeirão Preto, and December-February for Pindorama (Tables 1, 4, and 6). The average number of days from flower anthesis to ripe fruit varied from 188 to 271 days. The shortest periods of fruit development were generally those for flowers opened from September to January and the longest for the February-June flowers (Table 9). An analysis of ripe fruits attacked by the berry borer (Stephanoderes hampei Ferr.) showed a high infestation during July-August and a low one in January-February. A heavy infestation occurred in 1947 and 1948 (Table 10). The semperflorens seed size was larger in June and smaller in December, at Campinas. The weight of 100 flat seeds showed little variation and averaged 10.52 g. In 1941 this value was lower than average (Table 12) corresponding to a low yield and small size of the beans. The average bean weight was higher from April to July than in the remaining months. No correlation was found between seed weight and average monthly yields, but there was a positive and significant correlation between seed weight and size. The semperflorens seed was smaller than comparable seed from typica and Red Bourbon. The amount of peaberry seed type found on semperflorens varied from 3.5 to 23.04 per cent (Table 13) with higher values in June and July when the yields were low; lower values were recorded for the harvest from October to December when the yields were high. Due to its continuous flowering, the semperflorens has been used in crosses with mutants of Coffea arabica which usually produce a low number of flowers. It has also been used as a graft partner for coffee mutants with scarce flowering. In spite of having some advantages as resistance to drought, the semperflorens selected strains are not being recommended for establishment of coffee plantations because of their low yielding ability. Hovewer, it is suggested that this coffee type should be maintained in all coffee collections for genetical and physiological research work.


Melhoramento do cafeeiro XIX — Pesquisas sôbre o café semperflorens* * O autor externa seus agradecimentos ao Eng. Agr. C. A. Krug, pela orientação dada ao tempo da execução deste projeto, e ao Eng. Agr. Alcides Carvalho, pelas valiosos sugestões apresentadas no preparo dos originais. Nas Estações Experimentais de Ribeirão Prêto e Pindorama o autor destaca a colaboração, respectivamente, dos Engs. Agrs. O. A. Mamprim e J. Aloisi Sobrinho, prestada ao projeto na Época de sua realização. Ao Sr. A. Haddad, pela participação nos cálculos, o autor sente-se também grato.

Coffee breeding. XIX — Researches on the semperflorens coffee

Célio S. Novaes Antunes

Engenheiro-agrônomo, Seção de Genética, Instituto Agronômico

RESUMO

O propósito do presente trabalho é relatar os resultados obtidos no estudo sobre as características de produção da variedade semperflorens que se distingue das demais variedades de C. arabica por apresentar um florescimento quase contínuo e, conseqüentemente, conter frutos em vários estados de desenvolvimento durante todo o ano. Visou a presente pesquisa determinar o possível interêsse econômico que esta variedade pudesse oferecer para a instalação de pequenas lavouras intensivas de café.

Analisaram-se os dados obtidos da colheita individual de 486 cafeeiros existentes nas estações experimentais de Campinas, de Pindorama e de Ribeirão Preto, respectivamente nos períodos de 1940-1951, 1945-1950 e 1939-1941. Os resultados indicaram que as produções médias por planta em Campinas foram maiores do que as de Ribeirão Prêto, e pouco superiores às de Pindorama. Encontraram-se dois máximos de produção de frutos maduros, que ocorreram em torno dos meses de abril — comum às três localidades — e novembro, somente para Campinas e Ribeirão Preto, e dezembro a janeiro, em Pindorama. O café semperflorens mostrou-se menos produtivo do que o bourbon vermelho.

Limites médios extremos de 188 a 271 dias encontraram-se para o período de amadurecimento dos frutos. Os máximos de amplitude observados se têm em conta de condições desfavoráveis ao desenvolvimento dos frutos. Evidenciou-se que os períodos mais curtos de maturação, de modo geral, se enquadraram na época normal de florescimento dos demais cafeeiros.

Em observações sôbre a incidência da broca do café, em frutos maduros, em Campinas, constatou-se maior ataque nos meses de julho e agôsto, e menor em janeiro e fevereiro. Verificou-se grande surto da broca nos anos de 1947 e 1948.

Relativamente às dimensões das sementes, esiudadas através da peneira média, pôde-se observar que elas são menores do que as das variedades typica e bourbon vermelho. Verificou-se, também, a tendência de crescimento dos valores da peneira média, a partir de janeiro, cujo máximo ocorreu em junho, declinando até dezembro. Tem-se que tal variabilidade mensal está ligada a épocas diferentes de desenvolvimento dos frutos.

O pêso médio de 100 sementes não se mostrou muito variável, é da ordem de 10,52 gramas, exceto em 1941, em que se revelou menor e correspondeu à menor produção anual e aos valores mais reduzidos de peneira méida. Nos meses, os maiores valores se verificaram a partir de abri], com máximo em julho. Não se mostraram correlacionados os dados médios mensais do pêso de sementes e as produções médias mensais; obteve-se, entretanto, correlação positiva entre o pêso de sementes e os valores mensais de peneira média.

As quantidades de sementes do tipo moca revelaram-se bem variáveis. Assinalaram-se, em seis anos de determinações, limites extremos de 3,5% e 23,0%. Nos meses, as porcentagens mais elevadas desse tipo de semente ocorreram em junho e julho, quando a produção é reduzida; os valores mínimos se situaram no período de outubro a dezembro.

Dada a produtividade não elevada do café semperflorens, o cultivo em larga escala dêsae cafeeiro deixou de apresentar interesse econômico. Contudo, êsse mutante, pelo contínuo florescimento que exibe, poderá desempenhar um valor todo especial para as análises genéticas do café e, também, para as pesquisas fisiológicas.

SUMMARY

The main feature of the semperflorens mutant of Coffea arabica is its ability to produce flowers during the whole year, whereas other commercial types of the same species have a definitive flowering period. In the S. Paulo plateau this occurs only at the beginning of the rainy season, August-October.

The yield of several progenies of the semperflorens coffee, the period of fruit development, and the size and types of seeds produced were recorded for a few years in plantings made in three localities of the state of S. Paulo: Campinas (1940-1951), Ribeirão Prêto (1939-1941), and Pindorama (1945-1950).

The average plant yield in Campinas was 3.140 kg of ripe fruits per year; in Pindorama, 2.740 kg; and in Ribeirão Prêto, 1.660 kg. A comparison of the semperflorens coffee with selected strains of Red Bourbon indicated that the anual yields of the former variety were lower in spite of its giving several crops a year. When harvests were made at monthly intervals to study yield distribution throughout the year, two peaks were recorded: (1) one around April for the three localities; (2) another in November for Campinas and Ribeirão Preto, and December-February for Pindorama (Tables 1, 4, and 6).

The average number of days from flower anthesis to ripe fruit varied from 188 to 271 days. The shortest periods of fruit development were generally those for flowers opened from September to January and the longest for the February-June flowers (Table 9).

An analysis of ripe fruits attacked by the berry borer (Stephanoderes hampei Ferr.) showed a high infestation during July-August and a low one in January-February. A heavy infestation occurred in 1947 and 1948 (Table 10).

The semperflorens seed size was larger in June and smaller in December, at Campinas. The weight of 100 flat seeds showed little variation and averaged 10.52 g. In 1941 this value was lower than average (Table 12) corresponding to a low yield and small size of the beans. The average bean weight was higher from April to July than in the remaining months. No correlation was found between seed weight and average monthly yields, but there was a positive and significant correlation between seed weight and size. The semperflorens seed was smaller than comparable seed from typica and Red Bourbon.

The amount of peaberry seed type found on semperflorens varied from 3.5 to 23.04 per cent (Table 13) with higher values in June and July when the yields were low; lower values were recorded for the harvest from October to December when the yields were high.

Due to its continuous flowering, the semperflorens has been used in crosses with mutants of Coffea arabica which usually produce a low number of flowers. It has also been used as a graft partner for coffee mutants with scarce flowering.

In spite of having some advantages as resistance to drought, the semperflorens selected strains are not being recommended for establishment of coffee plantations because of their low yielding ability. Hovewer, it is suggested that this coffee type should be maintained in all coffee collections for genetical and physiological research work.

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LITERATURA CITADA

Recebido para publicação era 30 de maio de 1960.

  • 1.  ANTUNES, H. (filho) & ALVES, S. Melhoramento do cafeeiro. XIV - Competição de variedades comerciais em Monte Alegre do Sul. Bragantia 19: [73]-89. 1960.
  • 2.  CARVALHO, A. Preliminary information on the genetics of Ethiopian coffees. Nature, London 183:906. 1959.
  • 3. ______ Taxonomia de Coffea arabica L. VI Caracteres morfológicos dos haplóides. Bragantia 12: [201 ] -212. 1952.
  • 4. ______& KRUG, C. A. Genética de Coffea. XV Hereditariedade dos característicos principais de Coffea arabica L. var. semperflorens K.M.C. Bragantia 12:[163]-170. 1952.
  • 5.  KRUG, C. A. O cálculo da peneira média na seleção do cafeeiro. Rev. Inst. Café, S. Paulo 15:123-127. 1940.
  • 6. ______ Coffea arabica L. var. semperflorens K.M.C. Rev. Inst. Café, S. Paulo 14:858-861. 1939.
  • 7. ______& CARVALHO, A. The Genetics of Coffea. Advanc. Genet. 4:127-158. 1951.
  • 8. ______, MENDES, J.E.T. & CARVALHO, A. Taxonomia de Coffea arabica L. Descrição das variedades e formas encontradas no Estado de S. Paulo. Campinas, Instituto agronômico, 1938. 57 p. (Bol. técn. n. 62)
  • 9. MENDES, J.E.T. Ensaio de variedades de cafeeiros. II. Bragantia 9:[81]-101. 1949.
  • 10.  MES, M. G. Estudos sôbre o florescimento de Coffea arabica. S. Paulo, IBEC Re-search Institute, 1957. 48 p. (Boi. n. 14)
  • 11.  TESTA, E. A broca do café. Bol. Suptda Serv. Café, S. Paulo 22:698-702. 1947.
  • *
    O autor externa seus agradecimentos ao Eng. Agr. C. A. Krug, pela orientação dada ao tempo da execução deste projeto, e ao Eng. Agr. Alcides Carvalho, pelas valiosos sugestões apresentadas no preparo dos originais. Nas Estações Experimentais de Ribeirão Prêto e Pindorama o autor destaca a colaboração, respectivamente, dos Engs. Agrs. O. A. Mamprim e J. Aloisi Sobrinho, prestada ao projeto na Época de sua realização. Ao Sr. A. Haddad, pela participação nos cálculos, o autor sente-se também grato.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Abr 2010
    • Data do Fascículo
      1960

    Histórico

    • Recebido
      30 Maio 1960
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