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Resposta de fêmeas de Encarsia formosa Gahan (Hymenoptera: Aphelinidae) aos odores do hospedeiro e da planta-hospedeira em olfatômetro de quatro vias

Response of female Encarsia formosa Gahan (Hymenoptera: Aphelinidae) to host and plant-host odors

Resumos

A crescente importância da mosca-branca Bemisia tabaci raça B (Hemiptera: Aleyrodidae) como praga agrícola tem incentivado a busca de inimigos naturais que possam ser utilizados em programas de controle biológico. Estudou-se a atração de fêmeas de Encarsia formosa (Hymenoptera: Aphelinidae) aos odores emanados pelo seu hospedeiro - a mosca-branca B. tabaci raça B - em plantas de tomate, em olfatômetro de quatro vias. O parasitóide não apresentou atração aos odores da planta de tomate nem ao complexo planta de tomate-ninfas de B. tabaci.

Bemisia tabaci; mosca-branca da folha prateada; parasitóide; comportamento


The increasing importance of the whitefly Bemisia tabaci race B (Hemiptera: Aleyrodidae) as one of the major agricultural pest of this century, has resulted in a search for natural enemies that can be used in biological control programs. The response of naive females of Encarsia formosa (Hymenoptera: Aphelinidae)to volatiles from its hostspecies: insect (B. tabacci race B) and plant (Lycopersicom esculentum Mill.) were tested using 4-nose olfactometre. Parasitoid was not attracted by neither or insect hostspecies volatile.

Bemisia tabaci; silverleafwhitefly; parasitoid; behaviour


FITOSSANIDADE

NOTA

Resposta de fêmeas de Encarsia formosa gahan (Hymenoptera: Aphelinidae) aos odores do hospedeiro e da planta-hospedeira em olfatômetro de quatro vias

Response of female Encarsia formosa gahan (Hymenoptera: Aphelinidae) to host and plant-host odors

Kátia Maria Medeiros de SiqueiraI; Angela Maria Isidro de FariasII

IDepartamento de Biologia Animal, Universidade Estadual da Bahia, DTCS, Campus III, Av. Edgard Castinet, s/n, Horto Florestal, 48900-000 Juazeiro (BA); Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), Jardim São Paulo, s/n, BR 407, km 08, 56314-520 Petrolina (PE). E-mail: katiauneb@bol.com.br

IIDepartamento de Zoologia, Centro de Ciências Biológicas - Universidade Federal de Pernambuco, Av. Moraes Rego s/n, Cidade Universitária, 50670-420 Recife (PE). E-mail: amif@npd.ufpe.br

RESUMO

A crescente importância da mosca-branca Bemisia tabaci raça B (Hemiptera: Aleyrodidae) como praga agrícola tem incentivado a busca de inimigos naturais que possam ser utilizados em programas de controle biológico. Estudou-se a atração de fêmeas de Encarsia formosa (Hymenoptera: Aphelinidae) aos odores emanados pelo seu hospedeiro – a mosca-branca B. tabaci raça B – em plantas de tomate, em olfatômetro de quatro vias. O parasitóide não apresentou atração aos odores da planta de tomate nem ao complexo planta de tomate-ninfas de B. tabaci.

Palavras chaves:Bemisia tabaci, mosca-branca da folha prateada, parasitóide, comportamento.

ABSTRACT

The increasing importance of the whitefly Bemisia tabaci race B (Hemiptera: Aleyrodidae) as one of the major agricultural pest of this century, has resulted in a search for natural enemies that can be used in biological control programs. The response of naive females of Encarsia formosa (Hymenoptera: Aphelinidae)to volatiles from its hostspecies: insect (B. tabacci race B) and plant (Lycopersicom esculentum Mill.) were tested using 4-nose olfactometre. Parasitoid was not attracted by neither or insect hostspecies volatile.

Key words:Bemisia tabaci, silverleafwhitefly,parasitoid,behaviour.

Introdução

Com a disseminação da mosca-branca Bemisia tabaci raça B em todo o mundo, a atenção dos pesquisadores se voltou para essa nova praga que tem provocado prejuízos importantes em diversas culturas (Bellows et al., 1994; Brown et al.,1995; Haji et al., 1997).

Várias espécies de parasitóides associadas a B. tabaci raça B já foram identificadas, destacando-se dois gêneros, Encarsia e Eretmocerus, pertencentes à família Aphelinidae, e o gênero Amitus, da família Platygasteridae(Polaszek, 1992). Dentre esses, Encarsia formosa tem despertado o interesse de pesquisadores que buscam alternativas para o controle dessa nova praga.

Os estudos sobre as interações parasitóides-hospedeiros são extremamente importantes uma vez que podem explicar o grau de eficiência dos parasitóides com relação a determinados hospedeiros (Lenteren et al., 1980; Roermund e Lenteren, 1995). Sinais importantes na localização do habitat do hospedeiro pelo parasitóide podem vir da planta, do hospedeiro, da relação planta-hospedeiro ou uma combinação desses fatores (Vinson, 1975). A influência dos odores nesse processo tem sido estudada por diversos autores (Farias e Hopper 1997; Heinz e Parrela, 1998). Dentro deste contexto, o objetivo do presente trabalho foi verificar a atração de E. formosa a estímulos provenientes da planta de tomate, Lycopersicon esculentum Mill. e ao complexo planta-hospedeiro utilizando-se olfatômetro de quatro vias do tipo Vet (Vet et al.,1983).

Material e Métodos

O parasitóide E. formosa foi obtido da colônia de criação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília (DF). As colônias foram mantidas em gaiolas teladas, com plantas de tomate cultivar IPA-6, infestadas com B. tabaci raça B. Essa cultivar de tomate industrial é uma das mais utilizadas no Nordeste brasileiro, apresentando resistência a Fusarium raça 1, Fusarium raça 2 e nematóide (Costa e Faria, 1995).

As ninfas parasitadas foram destacadas das folhas e individualizadas em cápsulas de gelatina, até a emergência, permanecendo sem contato prévio com odores do meio ambiente.Foram testadas 23 fêmeas inexperientes de E. formosa, com idade de 2 a 3 dias. Os testes foram realizados em sala-ambiente, a uma temperatura média de 26 ± 0,5 ºC e umidade relativa de 74 ± 0,5% .

Utilizou-se um olfatômetro de quatro vias, do tipo Vet (Vet et. al.,1983), o qual permite registrar as respostas dos insetos a diferentes odores, oferecidos simultaneamente. Realizou-se o teste com fumaça (NH4OH e HCL) para comparar a distribuição equilibrada do fluxo de ar nos quatro campos do olfatômetro. As fêmeas adultas de E. formosa foram expostas aos quatro campos de odores assim designados: campos 1 e 2: apenas ar filtrado; campo 3: folíolo de tomateiro, cultivar IPA-6, infestado com ninfas de B. tabaci raça B de diferentes ínstares; e campo 4: folíolo de tomateiro não infestado.

Os tratamentos (odores) foram posicionados ao acaso, em cada um dos braços do olfatômetro e as fêmeas, introduzidas individualmente na câmara central ou arena (Figura 1); nessa área do olfatômetro, os odores provenientes dos quatro campos se misturam e as fêmeas podem movimentar-se livremente. O fluxo de ar que atravessava cada campo de odor era controlado por quatro fluxômetros, registrando-se uma velocidade de 200 mL por minuto de ar, em cada via do olfatômetro.


Realizaram-se quatro repetições, cada uma com cinco fêmeas e uma quinta repetição, com três fêmeas. Após cada repetição, o olfatômetro era desmontado e limpo com etanol, sorteando-se em seguida a disposição dos odores. Observou-se o comportamento das fêmeas através de um monitor conectado a uma câmara de vídeo instalada sobre o olfatômetro, mostrando a arena em posição central (Figura 1). O registro das observações foi realizado através do software "The Observer" versão 2.0 (Noldus Information Tecnology, Wageningen, The Netherlands). Utilizou-se o teste c2 como critério na análise estatística.

Para registrar as respostas das fêmeas aos odores, utilizaram-se os mesmos critérios de Vet et al. (1983) em que a escolha inicial correspondia ao 1.º campo de odor visitado pela fêmea ao sair da arena e como escolha final o campo de odor onde a fêmea deixava a arena e se dirigia a um dos braços do olfatômetro (Figura 1). Registrou-se ainda o tempo gasto, pela fêmea na arena e em cada campo de odor visitado. Encerravam-se as observações no momento em que a fêmea fazia a escolha final, estipulando-se 15 minutos como o tempo máximo para cada observação.

Resultados e discussão

Das 23 fêmeas de E. formosa testadas, cinco permaneceram imóveis na arena durante os 15 minutos de observação. Pela figura 2, verificou-se que não houve diferença significativa nas freqüências observadas das fêmeas com relação às fontes de odores tanto na escolha inicial (c2 = 0,22; gl = 3; P = 0,63) quanto na escolha final (c2 = 1,66; gl = 3; P = 0,19).


Estudos com olfatômetro de quatro vias têm demonstrado que alguns parasitóides respondem positivamente aos odores emitidos pela planta ou pelo complexo planta-hospedeiro enquanto outros não, indicando a não-utilização de estímulos químicos por estes parasitóides. Farias e Hopper (1997), estudando Aphelinus asychis e Aphidius matricariae, observaram que fêmeas de A. asychis não demonstraram preferência aos odores emitidos pelo hospedeiro, Diuraphis noxia (Homoptera: Aphididae), pela planta de trigo e pelo complexo planta-hospedeiro. Heinz e Parrella (1998), estudando as respostas de parasitóides de B. argentifolii (= B. tabaci raça B) aos odores emitidos pela planta e pelo complexo planta-hospedeiro, observaram que, dentre quatro populações de Eretmocerus mundus testadas, três responderam positivamente.

No que se refere ao tempo gasto pelas fêmeas nos diferentes campos de odores, os resultados revelam que 60% do tempo total de observação foram passados no campo de odor com folhas de tomate infestadas com ninfas de B. tabaci raça B (Quadro 1). Esse resultado sugere que o parasitóide pode responder positivamente aos odores emitidos do complexo planta x hospedeiro, sendo necessária a realização de testes que envolvam a utilização de outras fontes associadas, ou seja, a mosca-branca adulta ou a planta como um todo, evitando-se folhas isoladas, como realizado neste trabalho.


Lenteren et al. (1996) afirmaram que E. formosa não distingue, à distância, plantas infestadas das não-infestadas e que, provavelmente, encontra as plantas infestadas através de vôos ao acaso. Entretanto, a conclusão da procura ao acaso não pode ser extrapolada para todas as populações de E. formosa. Respostas diferentes entre duas populações de E. mundus, as mesmas fontes de odores, foram observadas por Heinz e Parrela , 1998.

Quando o parasitóide emerge no próprio hábitat do hospedeiro, como é o caso de E. formosa, o contato com o seu mecônio ou restos do hospedeiro no qual se desenvolveu, pode fornecer alguns "fatores" que levam ao condicionamento, resultando na preferência por hospedeiros (Vinson, 1997). Gerk et al. (1995), utilizando um microolfatômetro, observaram que E. formosa, à distância de 10 a 15 cm da fonte de odores, não utiliza semioquímicos provenientes do complexo planta-hospedeiro em sua orientação; concluiram que, possivelmente, a orientação para o hospedeiro não envolve substâncias químicas, a não ser durante o contato. As fêmeas testadas neste experimento eram inexperientes, ou seja, não tiveram contato anterior nem com o hospedeiro, nem com a planta-hospedeira.

Lenteren et al. (1997) observaram diferenças comportamentais quanto ao número de encontros com o hospedeiro por unidade de tempo e quanto à aceitação do hospedeiro entre biótipos de E. formosa. Tais resultados comprovam que espécies e populações de parasitóides podem apresentar respostas variadas no processo de localização do hábitat do hospedeiro, o que indica a relevância de estudos dessa natureza.

Os resultados observados neste trabalho sugerem que as fêmeas de E. formosa não demonstram atração específica aos odores da planta de tomate, e do complexo planta-ninfas de Bemisia tabaci raça B.

COSTA, N.D.; FARIA, C.M.B. Cultivos da cebola e do tomate industrial. In: CURSO DE ATUALIZAÇÃO TÉCNICA PARA ENGENHEIROS AGRÔNOMOS DO BANCO DO BRASIL, Petrolina (PE) , 1995. 36p. (Não publicado)

Recebido para publicação em 27 de agosto de 2002 e aceito em 8 de outubro de 2003.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Abr 2004
  • Data do Fascículo
    2003

Histórico

  • Recebido
    27 Ago 2002
  • Aceito
    08 Out 2003
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