RESUMO
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS A migrânea crônica é definida por ataques em 15 ou mais dias por mês, com pelo menos oito deles apresentando características típicas de migrânea, sendo reconhecida como uma síndrome de sensibilização central marcada por alterações somatossensoriais e uma fisiopatologia que permanece não totalmente compreendida. Este estudo investiga a apresentação clínica dos aspectos somatossensoriais em indivíduos com migrânea crônica durante a fase interictal em comparação com indivíduos saudáveis.
MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal observacional conduzido em indivíduos com migrânea crônica e indivíduos saudáveis com idade entre 18 e 55 anos. Medidas: somação temporal (teste de somação temporal), modulação condicionada da dor (teste de modulação condicionada da dor), limiar de dor à pressão (algômetro), sensibilização central (Central Sensitization Inventory) e alodínia (lista de verificação de 12 itens de sintomas de alodínia).
RESULTADOS Foram incluídos neste estudo 32 indivíduos com migrânea crônica (GM) e 22 no grupo controle (GC). No teste de somação temporal, a amplificação da dor apresentou diferença significativa entre os grupos GM e GC em todos os segundos analisados. Os limiares de dor à pressão foram significativamente menores nos momentos das três medidas no GM em comparação ao GC no teste de modulação condicionada da dor. Os limiares de dor à pressão nos músculos da cabeça, pescoço e tibial anterior direito foram significativamente menores no GM em comparação ao GC. Os escores do Inventário de Sensibilização Central foram equivalentes à média de 56/100 pontos, representando um nível grave desses sintomas de sensibilização central nos participantes com migrânea crônica. Sintomas graves de alodínia estavam presentes em 52% dos participantes com migrânea crônica.
CONCLUSÃO Quando avaliados no período intericta, os indivíduos com migrânea crônica apresentaram alterações nos aspectos somatossensoriais relacionados à dor identificados por meio da amplificação da magnitude da resposta dolorosa, déficits nos mecanismos endógenos de inibição da dor, hiperalgesia mecânica profunda e alodínia.
Descritores:
Dor crônica; Medição da dor; Sensibilização do sistema nervoso central; Transtornos de cefaleia; Transtornos de migrânea
DESTAQUES
A migrânea crônica é caracterizada por uma amplificação da resposta à dor, déficits na inibição da dor endógena e hiperalgesia mecânica, com alta prevalência de sintomas de sensibilização central e alodínia
Ferramentas como os testes sensoriais quantitativos mapeiam o perfil somatossensorial, aprofundando a compreensão dos mecanismos subjacentes à dor e auxiliando na personalização das estratégias terapêuticas
A eficiência reduzida na modulação da dor condicionada, associada à alodínia cutânea, demonstra uma desregulação nos mecanismos de modulação da dor
ABSTRACT
BACKGROUND AND OBJECTIVES Chronic migraine is defined by attacks on 15 or more days per month, with at least eight of them presenting typical migraine characteristics, and is recognized as a central sensitization syndrome marked by somatosensory alterations and a pathophysiology that remains not fully understood. This study investigates the clinical presentation of somatosensory aspects in individuals with chronic migraine during the interictal phase compared to healthy individuals.
METHODS This is a cross-sectional observational study conducted in individuals with chronic migraine and healthy individuals aged between 18 and 55 years. Measures: temporal summation (temporal summation test), conditioned pain modulation (conditioned pain modulation test), pressure pain threshold (algometer), central sensitization (Central Sensitization Inventory) and allodynia (12-item checklist of allodynia symptoms).
RESULTS 32 migraine individuals (MG) and 22 from the health control group (CG) were included in this study. In the temporal sum test, pain amplification showed a significant difference between groups MG and CG in all seconds analyzed. Pressure pain thresholds were significantly lower in the moments of three measurements in the MG compared to the CG in the conditioned pain modulation test. Pressure pain thresholds in the head, neck and right tibialis anterior muscles were significantly lower in the MG compared to the CG. Central Sensitization Inventory scores were equivalent to an average of 56/100 points, representing a severe level of these central sensitization symptoms with chronic migraine. Severe symptoms of allodynia were present in 52% of participants with chronic migraine.
CONCLUSION When assessed in the interictal period, individuals with chronic migraine showed alterations in somatosensory aspects related to pain, identified by amplification of the magnitude of the pain response, deficits in endogenous pain inhibition mechanisms, profound mechanical hyperalgesia and allodynia.
Keywords:
Central nervous system sensitization; Chronic pain; Headache disorders; Migraine disorders; Pain measurement
HIGHLIGHTS
Chronic migraines are characterized by an amplification of the pain response, deficits in endogenous pain inhibition and mechanical hyperalgesia, with a high prevalence of symptoms of central sensitization and allodynia
Tools such as quantitative sensory tests map the somatosensory profile, deepening the understanding of the mechanisms underlying pain and aiding in the personalization of therapeutic strategies
Reduced efficiency in conditioned pain modulation, associated with cutaneous allodynia, demonstrates dysregulation in pain modulation mechanisms
INTRODUÇÃO
A cefaleia primária é um tipo de dor de cabeça cuja etiologia é desconhecida, é caracterizada por hipersensibilidade a estímulos e foi considerada a segunda principal causa de incapacidade em 2016 pelo Global Burden of Disease Study 1,2 . De acordo com a Classificação Internacional de Cefaleia, a migrânea consiste em uma condição crônica quando é recorrente em 15 dias por mês, dos quais pelo menos 8 dias apresentam características de migrânea, como dor de intensidade moderada a intensa, pulsátil, unilateral e fobia de cheiros, sons e luzes1 .
A apresentação clínica da migrânea é complexa e multifacetada, com quatro fases: premonitória, aura, cefaleia e pós-drômica, que podem ser lineares, sobrepostas ou cíclicas3 . Além disso, o período entre os ataques é conhecido como interictal, o qual está relacionado à ausência de sintomas de migrânea4 .
Apesar do crescimento exponencial de estudos sobre a migrânea nos últimos anos, sua fisiopatologia ainda não é totalmente compreendida, mas alguns mecanismos foram identificados como prováveis responsáveis pelo desenvolvimento e manejo das crises5 . Por muito tempo, alterações no sistema vascular justificaram a existência das crises, mas recentemente outras correntes passaram a considerar a migrânea como uma síndrome de sensibilização central, com o envolvimento e o comprometimento de vários sistemas corporais3,5 .
A partir da ativação e do envolvimento de diversas áreas cerebrais, seja desencadeando uma crise de migrânea, causando dor, ou mesmo na presença de sintomas associados que ocorrem durante a crise, dada a complexidade inerente aos casos de migrânea crônica, vale destacar os aspectos somatossensoriais envolvidos em sua fisiopatologia e no processo de cronificação: somação temporal, modulação da dor condicionada, limiar de dor à pressão, sintomas alodínicos e de sensibilização central3,5 .
No entanto, apesar dos amplos esforços de pesquisa, persistem controvérsias sobre as alterações nos parâmetros associados à percepção de estímulos nociceptivos e não nociceptivos ao longo das fases cíclicas da migrânea. Notavelmente, a literatura existente concentrou-se principalmente nos aspectos somatossensoriais durante as fases ictal e perictal, deixando lacunas na compreensão da fase interictal da migrânea crônica6 .
Estudos recentes contribuíram com percepções valiosas nessa área. Um estudo observacional explorou perfis de pacientes com migrânea episódica durante a fase ictal/perictal, revelando grupos distintos com base em variáveis clínicas e psicofísicas6 . Da mesma forma, outro estudo observacional investigou esses perfis durante a fase interictal, identificando padrões heterogêneos de sensibilidade à dor e comprometimento funcional entre pacientes com migrânea episódica e crônica7 . Além disso, outro estudo observacional examinou a intrincada relação entre as características clínicas e psicofísicas em diferentes fases do ciclo da migrânea episódica e crônica7 .
Apesar desse progresso, são necessárias mais investigações para elucidar os mecanismos subjacentes que conduzem essas variações observadas e suas implicações para estratégias personalizadas na tentativa de controlar a migrânea crônica. Portanto, o objetivo deste estudo foi investigar a apresentação clínica de aspectos somatossensoriais em indivíduos com migrânea crônica durante a fase interictal em comparação com indivíduos saudáveis.
MÉTODOS
Desenho do estudo
Este é um estudo epidemiológico, observacional, comparativo e transversal, no qual indivíduos com diagnóstico clínico de migrânea crônica foram considerados como população-alvo e comparados com indivíduos saudáveis. Este estudo considerou e atendeu aos requisitos do Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE)8 .
Este estudo incluiu indivíduos de ambos os sexos com idade entre 18 e 55 anos, com histórico de migrânea crônica diagnosticada por um neurologista qualificado de acordo com os critérios da Sociedade Internacional de Cefaleia1 .
Além disso, não foram incluídos neste estudo indivíduos com outros tipos de cefaleia secundária associada, histórico de traumatismo craniano e/ou cervical, doenças neurológicas, doenças psiquiátricas, incapacidade de compreender as instruções ou o consentimento para o estudo, doenças respiratórias graves e gravidez, e com comorbidades que apresentam sintomas de cefaleia, como pressão alta não controlada e fibromialgia.
O grupo controle consistiu de participantes com no máximo dois episódios de cefaleia no último ano que não atendiam aos critérios para migrânea ou qualquer outro tipo de cefaleia crônica. Os critérios de exclusão para o grupo de controle foram os mesmos usados para o grupo migrânea. Além disso, os indivíduos não apresentavam nenhum outro tipo de dor em outras regiões do corpo.
Procedimentos
O recrutamento dos participantes foi realizado por meio de redes sociais (site oficial da Universidade, páginas oficiais do laboratório no Instagram e no Facebook, bem como por indicação, de janeiro de 2019 a fevereiro de 2020.
As pessoas que atenderam aos critérios de inclusão e que não tinham um diagnóstico clínico foram encaminhadas a um neurologista com experiência em cefaleia. Após a consolidação do diagnóstico, os voluntários foram avaliados individualmente, assim como os indivíduos do grupo controle.
Dois pesquisadores passaram por treinamento e realizaram um estudo piloto para padronizar a avaliação usando os instrumentos estabelecidos para a metodologia de pesquisa. A avaliação foi realizada da seguinte forma:
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Grupo migrânea: foram realizados testes de soma temporal, teste de modulação da dor condicionada, limiar de dor à pressão, inventário de sensibilização central e lista de verificação de 12 itens de sintomas de alodinia.
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Grupo controle: a avaliação foi equivalente à realizada no grupo migrânea; no entanto, as seguintes variáveis não foram aplicadas: inventário de sensibilização central e a lista de verificação de 12 itens de sintomas de alodinia.
Vale ressaltar que, em todas as avaliações realizadas no grupo de pacientes com migrânea, eles estavam na fase interictal, sem cefaleia ou outros sintomas. O formulário de avaliação consistia em dados sociodemográficos, como idade, altura, peso, índice de massa corporal, idade de início das crises de migrânea, histórico da doença atual, histórico familiar, fármacos utilizados, doenças associadas e histórico social.
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Somatização temporal (ST): consiste em um teste sensorial quantitativo, que busca verificar o mecanismo de estimulação constante e repetitiva do nervo nociceptivo (wind-up) que resulta em uma resposta exacerbada no sistema nervoso central, com aumento da magnitude e da frequência dessa resposta9 . Para esse teste, foi usado um algômetro de pressão digital (Impac™, Paulínia, SP, Brasil; com uma área de 1 cm2) com uma pressão de 2,5 kg aplicada na superfície anterior do antebraço dominante do paciente, 7,5 cm proximalmente à dobra distal do pulso. Depois disso, essa pressão contínua foi aplicada por 30 segundos, com quatro medições relacionadas à intensidade da dor por meio de uma escala numérica de 11 pontos, no 1º segundo, 10º segundo, 20º segundo e 30º segundo10,11 . A pressão de 2,5 kg foi escolhida com base em protocolos específicos para avaliar a sensibilidade ao estímulo mecânico e a resposta à dor. Para garantir a adequação da pressão e evitar desconforto excessivo, o protocolo foi monitorado e ajustado conforme necessário. Os participantes foram instruídos sobre o procedimento e a escala de dor, e foram feitos ajustes para que a pressão não fosse suficiente para causar dor ou fosse desconfortável, sempre dentro dos limites éticos e de segurança12 .
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Modulação da dor condicionada (MDC): corresponde ao fenômeno pelo qual a percepção da dor em um local é inibida diante de um estímulo doloroso condicionado, com base no mecanismo de controle inibitório nocivo descendente ou “dor inibindo dor ”13 . O limiar inicial de dor por pressão (PPT) foi medido usando um algômetro de pressão digital (Impac™, Paulínia, SP, Brasil; com uma área de 1 cm2), posicionado na superfície anterior do antebraço dominante, 7,5 cm proximalmente à prega distal do punho. Em seguida, foi realizada uma compressão isquêmica no membro superior contralateral do indivíduo, usando um esfigmomanômetro (Mikatos™, Embu, SP, Brasil) posicionado com a borda inferior do dispositivo 3 cm proximal à fossa cubital e mantida uma pressão de 270 mmHg. Em seguida, o indivíduo foi questionado sobre a intensidade da dor a partir da escala numérica de 11 pontos, após relatar dor 4, uma nova medição da PPT foi realizada no antebraço dominante simultaneamente à compressão isquêmica. Então, cinco minutos após o término do procedimento, a PPT foi medida novamente.
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Limiar de dor por pressão (PPT): representa a sensibilidade inicial à dor relatada pelo paciente e pode ser medida com um algômetro de pressão mecânico ou eletrônico14 . Os limiares foram avaliados usando um algômetro de pressão digital previamente calibrado (Impac™, Paulínia, SP, Brasil; com uma área de 1 cm2). Os participantes foram instruídos a informar quando a sensação de pressão se tornava dolorosa. Com o paciente na posição supina, três medidas bilaterais foram avaliadas nos ventres musculares dos seguintes músculos (PPT primário): A - temporal (ventre muscular), B - frontal (2 cm acima do ponto médio do arco supraorbital), C - masseter (1 cm superior e 2 cm anterior ao ângulo mandibular), D - esternocleidomastoideo (SCOM) e E - músculo trapézio superior. O PPT secundário foi avaliado no músculo tibial anterior direito15,16 .
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Sensibilização central: descrita como um fenômeno que envolve hipersensibilidade no sistema nervoso central17 . O Inventário de Sensibilização Central (ISC) foi validado para o português em 2017; esse instrumento avalia a presença de sensibilização central em pacientes com dor crônica na prática clínica e em pesquisas científicas18 . É composto por duas partes, a primeira parte é composta por 25 itens que geram uma pontuação final de 0 a 100 pontos, enquanto a segunda parte está relacionada a diagnósticos já fechados, sendo que quanto maior a pontuação, mais provável o envolvimento de mecanismos compatíveis com o diagnóstico.
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Sintoma de alodinia: apresenta-se a partir de um estímulo que normalmente não causa dor, gerando uma sensação dolorosa; esse sintoma pode ser apontado como um fator preditivo de cronificação da migrânea. O Allodynia Symptom Checklist (ASC-12), com 12 itens, é um questionário rápido e de fácil aplicação, validado para a versão brasileira em indivíduos com migrânea19 . Esse instrumento avalia os sintomas de alodinia cutânea e os categoriza em níveis de gravidade. É composto por 12 perguntas e sua soma fornece uma pontuação de 0 a 24, sendo que cada pergunta é pontuada da seguinte forma: “essa situação não se aplica a mim”, ‘raramente’ ou ‘não, nunca’ = 0; ‘às vezes sim, às vezes não’ = 1; ‘na maioria das vezes’ = 2. Assim, a alodinia é classificada de acordo com a gravidade, sendo: sem alodinia (0-2 pontos); alodinia leve (3-5 pontos); alodinia moderada (6-8 pontos); alodinia grave (9 ou mais pontos).
Vieses
Para minimizar os vieses envolvidos nesse tipo de estudo, foram consideradas as seguintes precauções:
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Viés do observador/entrevistador: o mesmo observador avaliou todos os indivíduos incluídos no estudo usando ferramentas e questionários validados; no entanto, não houve cegamento em relação à exposição e ao resultado.
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Viés de recordação: os participantes foram cegados para a hipótese do estudo, além disso os casos e os controles foram igualmente incentivados a recordar eventos passados, e ambas as avaliações/entrevistas dos casos e controles foram realizadas na mesma sala e com o mesmo ambiente controlado.
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Viés de desempenho: em ambos os grupos o entrevistador/avaliador manteve a postura padrão durante as etapas do estudo.
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Viés de detecção: em ambos os grupos foram usados os mesmos instrumentos de avaliação e questionários, exceto os instrumentos e questionários específicos para a avaliação de indivíduos com migrânea crônica.
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Viés de confusão: para evitar esse tipo de viés, o projeto do estudo definiu os critérios de elegibilidade, o pareamento e a estratificação da amostra.
Tamanho da amostra
O tamanho da amostra foi determinado com base na média e no desvio padrão (DP) extraídos de um estudo que comparou os PPTs no músculo trapézio entre indivíduos com migrânea e participantes saudáveis20 . O software PEPI-for-Windows™ (WinPEPI) foi usado no domínio Sample Size (Tamanho da Amostra), comparando dois grupos (raio B:A=1), usando a média (DP), grupo migrânea DP (A)=2,5; indivíduos saudáveis DP (B)=2,8, da variável PPT, assumindo uma diferença clinicamente significativa de 20% no PPT. O domínio alfa foi de 5%, assumindo uma significância de 0,05, e o domínio beta foi de 80%. A amostra necessária foi de 56 indivíduos (28 no grupo A e 28 no grupo B), com uma precisão esperada de aproximadamente 95% de intervalo de confiança para a diferença média (D)= D - 1,405 a D + 1,405.
Aspectos éticos
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe, CAEE: 08310319.1.0000.5546, sob o parecer número 3.303.828.
Todos os sujeitos incluídos neste estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes da avaliação, em conformidade com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Análise estatística
Os dados coletados foram transferidos para planilhas de dados do Microsoft® Office Excel, 2018. O software usado para realizar as análises estatísticas foi o GraphPad Prism versão 6.0 (San Diego, CA, EUA). Os valores foram expressos como média, erro padrão da média e frequência. Todas as variáveis foram testadas quanto à normalidade usando o teste de Shapiro-Wilk. Os dados que seguiram uma distribuição normal foram analisados usando o teste t para medidas independentes, enquanto os dados não paramétricos foram comparados usando o teste de Mann-Whitney. As variáveis categóricas foram avaliadas com o teste Exato de Fisher e o teste do Qui-quadrado, de acordo com suas especificidades.
Para variáveis com várias medidas dentro do mesmo grupo em um período previamente estipulado (soma temporal e modulação da dor condicionada), o teste ANOVA também foi usado para medidas repetidas, seguido pelo post hoc de Bonferroni quando os dados eram paramétricos (modulação da dor condicionada; os estratos de dor foram dor leve e moderada) e Friedman seguido pelo post hoc de Tukey para os dados não paramétricos. Em todas as comparações, as diferenças estatisticamente significativas foram consideradas quando o valor de p na análise foi menor que 0,05 (p<0,05), indicando uma chance mínima de o evento ocorrer devido ao acaso.
RESULTADOS
Um total de 69 voluntários elegíveis foi recrutado por meio de triagem telefônica, dos quais trinta e cinco foram excluídos com base em critérios pré-estabelecidos. Isso resultou no recrutamento de 34 voluntários, mas dois não compareceram às avaliações. Consequentemente, 32 indivíduos com migrânea foram avaliados. Portanto, a amostra total deste estudo consistiu em 32 pacientes com migrânea (GM) e 32 voluntários de controle saudáveis (GC). As características sociodemográficas dos participantes de ambos os grupos estão descritas na Tabela 1.
Variáveis
No teste de somação temporal, a amplificação da dor mostrou diferença significativa entre o grupo migrânea em comparação com o grupo controle em todos os momentos analisados, estando em padrões normais no grupo controle e exacerbados no grupo migrânea. Foram encontrados os seguintes valores: no 1º segundo, GM 3,25±0,42 e GC 1,59±0,35, com p=0,009; no 12º segundo, GM 4,65±0,52 e GC 2,18±0,38, com p=0,002; no 20º segundo, GM 5,15±0,53 e GC 3,09±0,47, com p=0,009; e no 30º segundo GM 5,84±0,53 e GC 3,40 ±0,50, com p=0,003 (Figura 1).
Teste de somação temporal por meio da intensidade da dor em momentos sequenciais (1º segundo, 10º segundo, 20º segundo e 30º segundo) entre o grupo controle e o grupo migrânea. Dados expressos como média e erro padrão da média. *Diferente do grupo controle, teste de Mann-Whitney para amostras independentes (p<0,05). **Diferente do grupo controle, teste t para amostras independentes (p=0,009).
No teste de modulação da dor condicionada, os PPTs foram significativamente menores em todos os três momentos de medição no grupo migrânea em comparação com o grupo controle. Antes da compressão isquêmica os indivíduos do GM tinham 3,59±0,31 kgf, enquanto o GC tinha 5,91±0,51 kgf, com p= 0,003; durante a compressão isquêmica, o GM tinha 4,59±0,32 kgf e o GC 7,44±0,54 kgf, com p= 0,001; após cinco minutos de compressão isquêmica, o GM tinha 3,86±0,33 kgf) e o GC tinha 5,68±0,44 kgf, com p=0,001 (Figura 2).
Modulação da dor condicionada medida usando o limiar de dor por pressão (kgf) entre os grupos controle e migrânea. Dados expressos como média e erro padrão da média. *Teste de Mann-Whitney para amostras independentes, diferente do grupo controle assumindo o maior valor de p, nesse caso p=0,003.
Os limiares de dor à pressão nos músculos da cabeça, do pescoço e do músculo tibial anterior direito foram significativamente menores no grupo migrânea em comparação com o grupo controle (Figura 3).
Limiar de dor por pressão em kgf nos músculos da cabeça e do pescoço e no músculo tibial anterior entre o grupo controle e o grupo migrânea. ECOM = esternocleidomastoideo. Dados expressos como média e erro padrão da média. *Diferente do grupo controle para todos os músculos avaliados, teste de Mann-Whitney (p<0,05).
As pontuações encontradas por meio do Inventário de Sensibilização Central foram equivalentes a 56 pontos em uma pontuação de 0 a 100. A alodínia verificada pela lista de 12 itens de sintomas de alodínia foi aplicada somente a 25 pacientes de 32 pacientes com migrânea crônica e demonstrou que 52% tinham sintomas alodínicos graves, 24% sintomas alodínicos moderados, 4% sintomas alodínicos leves e somente 20% não tinham sintomas alodínicos.
DISCUSSÃO
Os principais achados deste estudo podem ser resumidos da seguinte forma: pessoas com migrânea crônica apresentaram amplificação da magnitude da resposta à dor, déficits nos mecanismos endógenos de inibição da dor e diminuição dos limiares de dor por pressão ou hiperalgesia mecânica em comparação com indivíduos de controle. Além disso, foi possível identificar níveis graves de sensibilização central e condições alodínicas graves em pessoas com migrânea crônica.
Os testes sensoriais quantitativos são usados para avaliar as funções somatossensoriais e ajudam a entender a neurofisiologia clínica da dor5,21 . Neste estudo, foram usados três testes sensoriais quantitativos, a saber, somação temporal, modulação da dor condicionada e limiares de dor por pressão, que contribuem para o mapeamento do perfil somatossensorial em pessoas com migrânea crônica na fase interictal e em indivíduos de controle.
Este estudo observou que pessoas com migrânea crônica apresentaram uma amplificação da resposta dolorosa a um estímulo repetitivo por meio do mecanismo de somação temporal da dor. Em concordância com estudos anteriores com estímulos experimentais e diários22 , que apresentaram resultados semelhantes, porém com protocolos diferentes, como o uso de filamentos de von Frey e a escala analógica visual da dor.
Pessoas com migrânea crônica exibiram um mecanismo de modulação da dor condicionada menos eficiente do que controles saudáveis nesta pesquisa. Esses achados sugerem a presença de desregulação dos mecanismos moduladores da dor. Nesse contexto, as vias inibitórias descendentes da dor podem estar deficientes nessas pessoas, levando ao aumento da percepção dolorosa com posterior processo de hiperativação das vias facilitadoras da dor, corroborando dados destacados em revisões anteriormente encontradas na literatura5,21,23 .
Além disso, os indivíduos com migrânea crônica apresentaram aumento da hiperalgesia mecânica em comparação aos indivíduos controle da amostra desta pesquisa. Comumente esta avaliação do limiar de dor mecânica tem sido realizada nos músculos da cabeça e pescoço, representando hiperalgesia primária e secundária e consequente processo de sensibilização periférica. Porém, poucos estudos, como o presente, avaliaram o limiar de dor à pressão em regiões distais à área principal de dor, representando hiperalgesia terciária, reafirmando a presença do processo de sensibilização central24 .
Neste estudo, as pessoas com migrânea obtiveram pontuação média acima de 40 pontos, indicando níveis moderados de gravidade para sintomas de sensibilização central25 . Até o momento, este estudo observou a necessidade de mais estudos que avaliem a presença de sensibilização central por meio do ISC em pacientes com sintomas de migrânea crônica, a fim de realizar compilações de resultados futuros em pesquisas científicas com alto rigor metodológico.
Este estudo constatou alta prevalência de sintomas alodínicos, principalmente em indivíduos com níveis de gravidade moderados a graves. Clinicamente, é importante reconhecer esse sintoma de alodinia cutânea, pois é um fator conhecido no processo de cronificação e pode influenciar na má resposta a algumas modalidades terapêuticas, como neuromodulação, estimulação elétrica e terapias manuais, devido ao contato na região26 .
Algumas limitações podem ser elencadas neste estudo, primeiro deve-se ter cuidado ao extrapolar esses dados para a população masculina, uma vez que essa população correspondeu à minoria da amostra. Da mesma forma, a migrânea está associada a alterações no ciclo hormonal feminino, e este estudo não registrou a fase do ciclo menstrual no momento da avaliação. Outro ponto a considerar é o próprio formato do estudo, pois impossibilita o estabelecimento de relação de causa e consequência entre os resultados encontrados devido ao caráter transversal deste estudo. Finalmente, embora dois avaliadores treinados tenham realizado avaliações, eles não cegaram o diagnóstico de migrânea crônica e os indivíduos controle.
Pontos fortes deste estudo incluem a população de pessoas com migrânea crônica bem estabelecida e fornecida por meio de diagnóstico clínico. Neste estudo, toda descrição e desenho seguiram as recomendações da ferramenta STROBE8 . Além disso, foi utilizada uma abordagem clínica neurofisiológica da dor por meio de testes sensoriais quantitativos descritos na literatura21 . Clinicamente, as respostas observadas na amostra deste estudo reforçam que pessoas com migrânea crônica apresentam alterações somatossensoriais mesmo na ausência de crises, implicando em sintomatologia central e periférica.
Os resultados deste estudo fornecem informações valiosas para os médicos no tratamento da migrânea crônica. A identificação de amplificação da resposta à dor, déficits na inibição endógena da dor e hiperalgesia mecânica destacam a necessidade de abordagens terapêuticas abrangentes. Os testes sensoriais quantitativos oferecem uma ferramenta útil para mapear o perfil somatossensorial, permitindo uma compreensão mais aprofundada da fisiologia clínica da dor. A observação de redução da eficiência na modulação condicionada da dor sugere possíveis desregulações nos mecanismos de modulação da dor, indicando vias terapêuticas específicas. A alta prevalência de sintomas de sensibilização central e alodinia destaca a necessidade de considerar esses aspectos na formulação de estratégias de tratamento. O reconhecimento da presença de alodinia cutânea é crucial para a seleção da terapia adequada, pois pode influenciar a resposta a modalidades terapêuticas específicas.
Estudos futuros podem considerar a presença de uma maior descrição das características relacionadas à migrânea, como intensidade, frequência, duração e sintomas associados. Além disso, este estudo poderá subsidiar futuros estudos de intervenção focados nos aspectos abordados.
CONCLUSÃO
Indivíduos com migrânea crônica apresentam aumento da magnitude da resposta à dor, déficits nos mecanismos endógenos de inibição da dor e diminuição dos limiares de dor por pressão quando comparados a indivíduos controle. Além disso, foi possível identificar níveis graves de sensibilização central e quadros alodínicos graves em pessoas com migrânea crônica.
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Fontes de fomento:
Os autores receberam os seguintes apoios financeiros para a pesquisa, autoria e/ou publicação deste artigo: Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC/SE); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Brasil (CAPES), Código Financeiro 001.
Referências
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Editado por
-
Editor associado responsável:
Renato Leonardo de Freitas https://orcid.org/0000-0003-1799-5326
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
12 Maio 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
02 Fev 2024 -
Aceito
02 Dez 2024






