Manejo e impactos da dor aguda pós-cesariana em uma maternidade de risco habitual: estudo transversal

Pereira, Milena Santos; Silva, Daniele Oliveira; Carvalho, Fábia Laís Dias; Teles, Juliana Santos; Santos, Guilherme Reis de Santana; Ribeiro, Caíque Jordan Nunes

doi:10.63231/2595-0118.20250013-pt

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ARTIGO ORIGINAL • Brazilian Journal of Pain 8 • 2025 • https://doi.org/10.63231/2595-0118.20250013-pt linkcopiar

Manejo e impactos da dor aguda pós-cesariana em uma maternidade de risco habitual: estudo transversal

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS O manejo da dor durante o trabalho de parto normal tem sido amplamente explorado, mas poucos estudos investigam a dor aguda pós-cesariana (DAPC). O objetivo deste estudo foi analisar o manejo e os impactos da DAPC entre puérperas em pós-operatório mediato.

MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal e analítico, que empregou aplicação de formulário e análise documental, realizado no período de março a julho de 2023 em uma maternidade filantrópica de risco habitual do Nordeste do Brasil, conveniada ao Sistema Único de Saúde, que incluiu puérperas em pós-operatório mediato de cesariana. Os desfechos do estudo foram a inadequação analgésica da DAPC e seus impactos no bem-estar e nas atividades das puérperas. Os testes Qui-quadrado, Exato de Fisher, MANOVA, ANOVA de Friedman, pós-teste de Bonferroni e a regressão de Poisson foram utilizados na análise dos dados.

RESULTADOS Foram incluídas 321 puérperas, dentre as quais 232 (72,3%) referiram DAPC. Tanto a prevalência de DAPC moderada à intensa quanto a de inadequação analgésica foram de 38% (n=122). A experiência dolorosa em partos prévios foi independentemente associada a uma prevalência 88% maior de inadequação analgésica da DAPC (IC 95%: 1,32-2,69; p=0,001), quando ajustada à idade das puérperas. A intensidade moderada à intensa da dor impactou atividades como se sentar/levantar-se, vestir-se, banhar-se, higiene íntima, deambulação, amamentação, o sono, o humor e a habilidade em apreciar a vida.

CONCLUSÃO A inadequação analgésica da DAPC esteve diretamente associada à experiência dolorosa prévia e impactou o bem-estar e atividades da vida diária das puérperas.

Descritores:
Cesariana; Dor pós-operatória; Enfermagem obstétrica; Manejo da dor

DESTAQUES

A inadequação analgésica da dor aguda pós-cesariana (DAPC) pode impactar a recuperação cirúrgica

A DAPC moderada à intensa impactou negativamente as atividades de vida diária das puérperas

A experiência de dor prévia foi associada à inadequação analgésica da DAPC

RESUMO GRÁFICO

Escores	Potência analgésica	Intensidade da dor
0	Ausência de fármaco analgésico	Sem dor (EVN = 0)
1	Analgésico simples ou anti-inflamatório não esteroide	Dor leve (EVN ≤ 4)
2	Opioide fraco (codeína, tramadol)	Dor moderada (5 ≤ EVN ≤ 7)
3	Opioide forte (morfina, meperidina)	Dor intensa (EVN ≥ 8)

Variáveis		Inadequação analgésica				Total (n=321)		RP (IC 95%)	Valor de p
		Sim [IMD < 0] (n=122)		Não [IMD ≥ 0] (n=199)		Total (n=321)
		n	%	n	%	n	%
Cidade de origem	Lagarto^[ref]	40	55,6	50	44,4	90	28,0	0,80 (0,60-1,07)	0,138
Cidade de origem	Outros	82	35,5	149	64,5	231	72,0	0,80 (0,60-1,07)	0,138
Idade	< 35 anos^[ref]	98	37,8	161	62,2	259	80,7	1,02 (0,72-1,45)	0,899
Idade	≥ 35 anos	24	38,7	38	61,3	62	19,3	1,02 (0,72-1,45)	0,899
Cor da pele	Branco^[ref]	19	50,0	19	50,0	38	11,8	1,37 (0,97-1,96)	0,105
Cor da pele	Não branco	103	36,4	180	63,6	283	88,2	1,37 (0,97-1,96)	0,105
Estado civil	Com companheiro^[ref]	96	37,8	158	62,2	254	79,1	0,97 (0,69-1,37)	0,879
Estado civil	Sem companheiro	26	38,8	41	61,2	67	20,9	0,97 (0,69-1,37)	0,879
Vínculo empregatício	Sim^[ref]	25	37,3	42	67,2	67	20,9	1,02 (0,72-1,45)	0,896
Vínculo empregatício	Não	97	38,2	157	61,8	254	79,1	1,02 (0,72-1,45)	0,896
Auxílio governamental	Sim^[ref]	71	37,8	117	62,2	188	58,6	1,01 (0,77-1,35)	0,916
Auxílio governamental	Não	51	38,3	82	61,7	133	41,4	1,01 (0,77-1,35)	0,916
Número de pessoas no domicílio	< 4 pessoas^[ref]	73	34,6	138	65,4	211	65,7	1,29 (0,97-1,70)	0,081
Número de pessoas no domicílio	≥ 4 pessoas	49	44,5	61	55,5	110	34,3	1,29 (0,97-1,70)	0,081
Zona de residência	Rural^[ref]	55	40,1	82	59,9	137	42,7	0,91 (0,69-1,20)	0,496
Zona de residência	Urbana	67	36,4	117	63,6	184	57,3	0,91 (0,69-1,20)	0,496
Tipo de habitação	Própria^[ref]	83	37,7	137	62,3	220	68,5	1,02 (0,76-1,38)	0,879
Tipo de habitação	Alugada	39	38,6	62	61,4	101	31,5	1,02 (0,76-1,38)	0,879
Escolaridade (anos de estudo)	<12 anos	49	34,8	92	65,2	141	43,9	0,86 (0,64-1,14)	0,288
Escolaridade (anos de estudo)	≥12 anos^[ref]	73	40,6	107	59,4	180	56,1	0,86 (0,64-1,14)	0,288
Acesso ao serviço de saúde	Dependente do SUS	96	39,5	147	60,5	243	75,7	1,18 (0,83-1,68)	0,328
Acesso ao serviço de saúde	Suplementar/privado^[ref]	26	33,3	52	66,7	78	24,3	1,18 (0,83-1,68)	0,328
Comorbidade	Sim	34	47,2	38	52,8	72	22,4	1,34 (0,99-1,80)	0,067
Comorbidade	Não^[ref]	88	35,3	161	64,7	249	77,6	1,34 (0,99-1,80)	0,067
Cirurgia abdominal anterior	Sim	4	28,6	10	71,4	14	4,4	0,74 (0,32-1,72)	0,457*
Cirurgia abdominal anterior	Não^[ref]	118	38,4	189	61,6	307	95,6	0,74 (0,32-1,72)	0,457*
Cirurgia ginecológica anterior	Sim	19	52,8	17	47,2	36	11,2	1,46 (1,03-2,06)	0,053
Cirurgia ginecológica anterior	Não^[ref]	103	36,1	182	63,9	285	88,8	1,46 (1,03-2,06)	0,053
Número de gestações	1	50	35,5	91	64,5	141	43,9	0,89 (0,67-1,18)	0,406
Número de gestações	≥ 2^[ref]	72	40,0	108	60,0	180	56,1	0,89 (0,67-1,18)	0,406
Número de partos	1	56	34,6	106	65,4	162	50,5	0,83 (0,63-1,10)	0,200
Número de partos	≥ 2^[ref]	66	41,5	93	58,5	159	49,5	0,83 (0,63-1,10)	0,200
Número de abortos	Nenhum^[ref]	98	37,5	163	62,5	261	81,3	1,07 (0,75-1,51)	0,724
Número de abortos	≥ 1	24	40,0	36	60,0	60	18,7	1,07 (0,75-1,51)	0,724
Cesariana prévia	Sim	41	39,0	64	61,0	105	32,7	1,18 (0,83-1,68)	0,351
Cesariana prévia	Não^[ref]	39	33,1	79	66,9	118	36,8	1,18 (0,83-1,68)	0,351
Parto instrumental prévio	Sim	10	58,8	7	41,2	17	5,3	1,70 (1,09-2,65)	0,048*
Parto instrumental prévio	Não^[ref]	63	34,6	119	65,4	182	56,7	1,70 (1,09-2,65)	0,048*
Dor em partos anteriores	Sim	33	51,6	31	48,4	64	19,9	1,71 (1,22-2,40)	0,003
Dor em partos anteriores	Não^[ref]	47	30,1	109	69,9	156	48,6	1,71 (1,22-2,40)	0,003
Gravidez planejada	Sim^[ref]	47	37,0	80	63,0	127	39,6	1,04 (0,78-1,39)	0,766
Gravidez planejada	Não	75	38,7	119	61,3	194	60,4	1,04 (0,78-1,39)	0,766
Quantidade de consultas pré-natal	< 7	14	28,6	35	71,4	49	15,3	0,72 (0,45-1,15)	0,139
Quantidade de consultas pré-natal	≥ 7^[ref]	108	39,7	164	60,3	272	84,7	0,72 (0,45-1,15)	0,139
Duração da cesariana (em minutos)	≤ 60^[ref^]	110	37,5	183	62,5	293	91,3	1,39 (0,90-2,15)	0,177*
Duração da cesariana (em minutos)	> 60	11	52,4	10	47,6	21	6,5	1,39 (0,90-2,15)	0,177*

Impactos da dor	Intensidade da dor (n=232) Mediana (Q1; Q3)			Valor de p
	Leve	Moderada	Intensa
	(n=110)	(n=75)	(n=47)
Atividade geral	3 (0; 5)	5 (1; 8)	4 (0; 9)	0,004
Humor	0 (0; 3)	1 (0; 5)	2 (0; 8)	0,016
Deambulação	3 (1; 5)	4 (2; 7)	6 (0; 8)	0,003
Relacionamento interpessoal	0 (0; 0,25)	0 (0; 1)	0 (0; 4)	0,108
Sono	1 (0; 5)	3 (0; 7)	5 (0; 8)	0,003
Habilidade de apreciar a vida	0 (0; 0)	0 (0; 2)	0 (0; 6)	<0,001
Sentar-se e levantar-se	4 (3; 6,25)	6 (4; 9)	8 (4; 10)	<0,001
Micção	0 (0; 3)	0 (0; 5)	0 (0; 6)	0,491
Evacuação	0 (0; 4)	0 (0; 5)	0 (0; 5)	0,827
Higiene íntima	0 (0; 2)	0 (0; 5)	1 (0; 7)	0,010
Banho	0 (0; 3)	1 (0; 5)	3 (0; 7)	0,008
Vestir-se	2 (0; 4)	4 (0; 7)	3 (0; 9)	0,003
Alimentar-se	0 (0; 0)	0 (0; 1)	0 (0; 1)	0,307
Amamentação	0 (0; 3)	0 (0; 4)	2 (0; 6)	0,045
Troca de fraldas	0 (0; 0)	0 (0; 1)	0 (0; 1)	0,050
Segurar o RN no colo	0 (0; 1,25)	0 (0; 4)	0 (0; 6)	0,031

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[1] EVN = escala verbal numérica.