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Manejo da dor durante a injeção intravítrea: revisão integrativa

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

A injeção intravítrea é um procedimento cirúrgico muito comum no tratamento de doenças como a retinopatia diabética, o edema macular diabético e a oclusão da veia da retina. Por ser um tratamento que gera dor e desconforto ao paciente, terapias que diminuam a dor procedimental são necessárias. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão integrativa sobre o manejo da dor durante a administração de injeção intravítrea.

CONTEÚDO:

Estudo realizado no mês de janeiro de 2021 em três bases de dados (Pubmed, Bireme e Scielo) com o uso dos descritores “injeções intravítreas”, “manejo da dor” e “analgesia”. Após a leitura e análise, 15 artigos foram selecionados. Os resultados evidenciaram diversos fatores associados ao manejo da dor durante a injeção intravítrea, como o uso de diferentes anestésicos, calibre da agulha, fármaco administrado, diferentes instrumentos cirúrgicos e uso da música.

CONCLUSÃO:

Os estudos demonstraram que a proparacaína, principalmente quando associada à lidocaína subconjuntival, o ranibizumabe e as técnicas alternativas de aplicação da injeção intravítrea são abordagens preferíveis no manejo da dor durante o procedimento.

Descritores:
Analgesia; Dor; Injeções intravítreas; Manejo da dor

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

Intravitreal injection is a very common surgical procedure in the treatment of diabetic retinopathy, diabetic macular edema, and retinal vein occlusion. Because it’s a treatment that causes pain and discomfort for the patient, therapies that reduce procedural pain are necessary. The aim of the study was to conduct an integrative review on pain management during administration of intravitreal injection.

CONTENTS:

The study was carried out in January 2021 in three databases (Pubmed, Bireme and Scielo) using the descriptors “intravitreal injections”, “pain management” and “analgesia”. After reading and analysis, 15 articles were selected. The results show several factors associated with pain management during intravitreal injection, such as the use of different anesthetics, needle gauge, injected medication, different surgical instruments and use of music.

CONCLUSION:

Studies have shown that proparacaine, especially when associated with subconjunctival lidocaine, ranibizumab and alternative techniques for intravitreal injection are preferable approaches to pain management during the procedure.

Keywords:
Analgesia; Intravitreal injections; Pain; Pain management

INTRODUÇÃO

A injeção intravítrea (IVI) é considerada um dos maiores avanços nas técnicas de tratamento das doenças da retina. Esse procedimento ocorre com a aplicação de fármacos antiangiogênicos ou esteroides no vítreo, extensão interna e posterior do olho11 Rodrigues EB, Maia M, Penha FM, Dib E, Bordon AF, Magalhães Júnior O, et al. Técnica para injeção intravítrea de drogas no tratamento de doenças vítreorretinianas. Arq Bras Oftalmol. 2008;71(6):902-7..

As IVI são eficazes em doenças como a retinopatia diabética, o edema macular diabético e a oclusão da veia da retina22 Shiroma HF, Takaschima AKK, Farah ME, Höfling-Lima AL, de Luca Canto G, Benedetti RH. Patient pain during intravitreal injections under topical anesthesia: a systematic review. Int J Retina Vitreous. 2017;3:23.. Apesar de sua eficácia, o tratamento proporciona também uma experiência desconfortável e dolorosa, que pode resultar em não adesão do paciente em casos de doenças que exigem tratamento contínuo, repercutindo negativamente sobre o desfecho intencionado.

Ainda que seja um procedimento minimamente invasivo, realizado com anestésicos tópicos, a dor e o desconforto são frequentes na experiência do paciente22 Shiroma HF, Takaschima AKK, Farah ME, Höfling-Lima AL, de Luca Canto G, Benedetti RH. Patient pain during intravitreal injections under topical anesthesia: a systematic review. Int J Retina Vitreous. 2017;3:23.. Isto posto, os profissionais têm buscado evidências científicas para subsidiar a prática e promover um adequado manejo da dor dos pacientes.

Uma vez que a dor é “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial”33 DeSantana JM, Perissinotti DMN, Oliveira Junior JO, Correia LMF, Oliveira CM, Fonseca RB. Tradução para a língua portuguesa da definição revisada de dor pela Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. BrJP. 2020;3(3):187-8., sensações desagradáveis como medo, insegurança e ansiedade estão frequentemente associadas ao fenômeno doloroso, sobretudo em procedimentos diagnóstico-terapêuticos nociceptivos33 DeSantana JM, Perissinotti DMN, Oliveira Junior JO, Correia LMF, Oliveira CM, Fonseca RB. Tradução para a língua portuguesa da definição revisada de dor pela Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. BrJP. 2020;3(3):187-8.,44 Segal O, Segal-Trivitz Y, Nemet AY, Cohen P, Geffen N, Mimouni M. Anxiety levels and perceived pain intensity during intravitreal injections. Acta Ophthalmol. 2016;94(2):203-4., a exemplo das IVI.

Ainda que existam estudos sobre a intensidade da dor causada pela IVI e seus fatores associados, a literatura disponível sobre o seu manejo ainda é escassa.

Diante do exposto o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão integrativa sobre o manejo da dor relacionada à IVI.

CONTEÚDO

Trata-se de uma revisão integrativa conduzida para responder às seguintes questões norteadoras: quais os fatores associados à dor relacionada à IVI? Quais os métodos farmacológicos e não farmacológicos utilizados em seu manejo?

Dessa forma, foram adotados os passos do referencial metodológico de Whittemore: identificação do problema, realização das buscas, avaliação dos dados, análise e apresentação dos resultados55 Whittemore R, Knafl K. The integrative review: Updated methodology. J Adv Nurs. 2005;52(5):546-53..

Durante o mês de janeiro de 2021, duas revisoras independentes realizaram buscas sistemáticas nas bases de dados Pubmed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scielo, utilizando os seguintes descritores controlados DeCS/MeSH em português, inglês e espanhol: injeções intravítreas (intravitreal injections, inyección intravítrea), manejo da dor (pain management, manejo del dolor) e analgesia, unidos pelos operadores booleanos AND e OR.

Foram incluídos estudos primários originais; publicados entre 2011 e 2021; com texto completo disponível nos idiomas inglês, português e espanhol; que investigassem a avaliação e o manejo da dor relacionada à IVI em pacientes adultos. Foram excluídos estudos que utilizaram modelo animal, revisões sistemáticas, integrativas, narrativas e de escopo, editoriais, cartas ao editor, comentários, relatos de experiência e pesquisas que envolvessem população pediátrica.

Inicialmente, os manuscritos em duplicidade foram computados apenas uma vez e, em seguida, foi realizada a triagem dos estudos com base nos seus títulos e resumos. Os estudos considerados relevantes foram lidos na íntegra e selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade. As discordâncias foram resolvidas por consenso ou por um terceiro revisor (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma de identificação e seleção de artigos

Após a etapa de seleção, as revisoras realizaram a extração dos dados dos artigos em planilha eletrônica padronizada e avaliaram o nível de evidência por meio da ferramenta da Oxford Center for Evidence-Based Medicine 2011 (OCEBM), a qual classifica os artigos em cinco níveis de evidência (1 a 5) de acordo com o tipo de questão de pesquisa e desenho do estudo. O nível de evidência pode ser diminuído de acordo com a qualidade do estudo, imprecisão, incompatibilidade entre o tipo de questão e desenho, inconsistência entre os estudos ou porque o tamanho absoluto do efeito é muito pequeno. Por outro lado, o nível pode ser elevado se for observado um grande ou muito grande tamanho de efeito66 CEBM. The Centre for Evidence-Based Medicine develops. OCEBM Levels of Evidence. 2011;287-95..

As características dos estudos incluídos na análise final estão apresentadas na tabela 1. Durante a síntese qualitativa dos dados, emergiram três categorias temáticas: fatores associados, manejo farmacológico e manejo não farmacológico da dor relacionada à IVI. Todos os estudos foram publicados entre 2014 e 2020, porém a maioria foi publicada nos últimos cinco anos (73,3%), provenientes de pesquisas realizadas no continente asiático (66,7%).

Tabela 1
Descrição dos estudos incluídos na revisão

Dos artigos selecionados para revisão, oito (53,3%) foram classificados como 1B (ensaio clínico randomizado - ECR), quatro (26,7%) como 3B (estudo de caso-controle) e três (20%) na categoria 2B (estudo de coorte ou ensaio clínico de menor qualidade), segundo os níveis de evidência da ferramenta da OCEBM.

Embora a maioria dos estudos sejam ECR, apenas dois recrutaram mais de 1.000 pacientes. Isso demonstra a necessidade de condução de ECR com tamanhos amostrais maiores e poder estatístico suficiente para recomendação de diferentes abordagens para o alívio da dor durante a IVI. Essa preocupação é ainda mais evidente nas investigações sobre o manejo não farmacológico, uma vez que apenas um ECR com pequena amostra foi encontrado.

Os principais resultados dos estudos incluídos nesta revisão estão apresentados na tabela 2.

Tabela 2
Resultados dos estudos avaliados

Fatores associados com a dor relacionada à injeção intravítrea

A despeito da sua relevância clínica, a dor ainda é negligenciada e subvalorizada, sobretudo a dor procedimental. Diversos procedimentos diagnóstico-terapêuticos são potencialmente dolorosos, porém poucos serviços dispõem de protocolos de analgesia. Os procedimentos oftalmológicos, como a IVI, geralmente são realizados apenas com o uso de colírios anestésicos locais.

Nessa revisão, foi possível identificar alguns fatores associados com a dor procedimental relacionada à IVI, dentre elas, o calibre da agulha. Há tendência em utilizar agulhas de menor calibre, por considerar que estas exigem menor força para sua utilização. Três ensaios clínicos compararam a intensidade da dor com o uso de agulhas de calibre 27 e 30-G. No entanto, não foram observadas diferenças significativas nos escores de dor 88 Güler M, Bilgin B, Çapkin M, Ali Simsek, Bilak S. Assessment of patient pain experience during intravitreal 27-gauge bevacizumab and 30-gauge ranibizumab injection. Korean J Ophthalmol. 2015;29(3):190-4.,99 Haas P, Falkner-Radler C, Wimpissinger B, Malina M, Binder S. Needle size in intravitreal injections - Pain evaluation of a randomized clinical trial. Acta Ophthalmol. 2016;94(2):198-202.,1111 Loureiro M, Matos R, Sepulveda P, Meira D. Intravitreal injections of bevacizumab: the impact of needle size in intraocular pressure and pain. J Curr Glaucoma Pract. 2017;11(2):38-41..

O local de aplicação da IVI também foi investigado, revelando menores escores de dor quando o procedimento foi realizado no quadrante súpero-nasal e maiores no quadrante súpero-temporal1414 Karimi S, Mosavi SA, Jadidi K, Nikkhah H, Kheiri B. Which quadrant is less painful for intravitreal injection? A prospective study. Eye (Lond). 2019;33(2):304-12.. Adicionalmente, este ensaio clínico demonstrou uma relação inversa entre concentração do anestésico e escore de dor. Logo, as IVI administradas nos locais de maior concentração resultaram em menor intensidade da dor.

Alguns dispositivos utilizados na técnica convencional de IVI causam desconforto ao paciente, dentre esses, o espéculo de metal que é considerado um dos mais dolorosos1010 Alattas K. Patients' tolerance of bimanual lid retraction versus a metal speculum for intravitreal injections. Clin Ophthalmol. 2016;10:1719-21.,1515 Khaqan HA, Imtiaz U, Malik IQ, Qureshi BZ, Rehman A. Customized disposable kit versus a conventional stainless steel instrument for an intravitreal injection: a comparison. J Pak Med Assoc. 2020;70(5):909-12.. Com o intuito de reduzir a dor causada por esse instrumento, três estudos observaram diferentes técnicas para a retração palpebral, como o uso de um kit descartável, método unimanual, bimanual e com o aplicador de ponta de algodão. Em todos os casos, a técnica experimental foi associada a menores escores de dor quando comparada à técnica convencional1010 Alattas K. Patients' tolerance of bimanual lid retraction versus a metal speculum for intravitreal injections. Clin Ophthalmol. 2016;10:1719-21.,1515 Khaqan HA, Imtiaz U, Malik IQ, Qureshi BZ, Rehman A. Customized disposable kit versus a conventional stainless steel instrument for an intravitreal injection: a comparison. J Pak Med Assoc. 2020;70(5):909-12.,1818 Raevis JJ, Karl MD, Parendo AM, Astafurov K, Dugue AG, Agemy AS, et al. Eyelid retraction discomfort with cotton-tipped applicator, unimanual and speculum intravitreal injection techniques: Eyelid retraction technique randomized comparison trial (Eyelid RETRACT). Indian J Ophthalmol. 2020;68(8):1593-5.

Existem ainda dispositivos como o InVitria (FCI Ophtalmics, Pembroke, MA, EUA), feitos de plástico reciclável e descartável, responsável por manter o olho aberto e fixá-lo no lugar, adicionando também efeito anestésico. Auxiliam na aplicação da IVI, promovendo maior segurança ao paciente e precisão ao cirurgião, bem como menor duração do procedimento. Este dispositivo quando comparado ao método convencional gerou resultados que beneficiam a sua utilização. Dois dos estudos concluíram que apesar da semelhança no escore de dor entre os dois métodos, o InVitria possui menor tempo de aplicação, contribuindo para o conforto do paciente1616 Soh YQ, Chiam NPY, Tsai ASH, Cheung GCM, Wong TY, Yeo IYS, et al. Intravitreal injection with a conjunctival injection device: a single-center experience. Transl Vis Sci Technol. 2020;9(8):28.,1717 Blyth M, Innes W, Mohsin-Shaikh N, Talks J. A comparison of conventional intravitreal injection method vs InVitria intravitreal injection method. Clin Ophthalmol. 2020;14:2507-13..

A associação entre dor e o tipo de substâncias anti-VEGF que atuam no fator de crescimento endotelial administrado foi avaliada em dois estudos. Foi constatado que a aplicação do ranibizumabe foi associada a um menor escore de dor e relato de boa experiência quando comparado ao aflibercepte e ao bevacizumabe88 Güler M, Bilgin B, Çapkin M, Ali Simsek, Bilak S. Assessment of patient pain experience during intravitreal 27-gauge bevacizumab and 30-gauge ranibizumab injection. Korean J Ophthalmol. 2015;29(3):190-4.,1313 Bilgin B, Bilak S. Assessment of patient pain experience during intravitreal ranibizumab and aflibercept injection. Middle East Afr J Ophthalmol. 2019;26(2):55-9.. Este, no entanto, ao ser comparado com o Ozurdex não evidenciou diferença significativa77 Moisseiev E, Regenbogen M, Rabinovitch T, Barak A, Loewenstein A, Goldstein M. Evaluation of pain during intravitreal Ozurdex injections vs intravitreal bevacizumab injections. Eye. 2014;28(8):980-5..

Embora repetidas administrações de IVI possam contribuir para a não adesão dos pacientes, um dos estudos revelou que a percepção da dor diminui ao longo do tratamento1414 Karimi S, Mosavi SA, Jadidi K, Nikkhah H, Kheiri B. Which quadrant is less painful for intravitreal injection? A prospective study. Eye (Lond). 2019;33(2):304-12.. Outros fatores como idade, sexo e doenças associadas à retinopatia foram investigados. Algumas pesquisas sugeriram que pacientes idosos são mais sensíveis à dor77 Moisseiev E, Regenbogen M, Rabinovitch T, Barak A, Loewenstein A, Goldstein M. Evaluation of pain during intravitreal Ozurdex injections vs intravitreal bevacizumab injections. Eye. 2014;28(8):980-5.,99 Haas P, Falkner-Radler C, Wimpissinger B, Malina M, Binder S. Needle size in intravitreal injections - Pain evaluation of a randomized clinical trial. Acta Ophthalmol. 2016;94(2):198-202., enquanto outros não encontraram associação significativa entre dor e idade1212 Shin SH, Park SP, Kim YK. Factors associated with pain following intravitreal injections. Korean J Ophthalmol. 2018;32(3):196-203.. Quanto ao sexo, as mulheres relataram intensidade de dor superior à dos homens88 Güler M, Bilgin B, Çapkin M, Ali Simsek, Bilak S. Assessment of patient pain experience during intravitreal 27-gauge bevacizumab and 30-gauge ranibizumab injection. Korean J Ophthalmol. 2015;29(3):190-4.,99 Haas P, Falkner-Radler C, Wimpissinger B, Malina M, Binder S. Needle size in intravitreal injections - Pain evaluation of a randomized clinical trial. Acta Ophthalmol. 2016;94(2):198-202.,1212 Shin SH, Park SP, Kim YK. Factors associated with pain following intravitreal injections. Korean J Ophthalmol. 2018;32(3):196-203.

13 Bilgin B, Bilak S. Assessment of patient pain experience during intravitreal ranibizumab and aflibercept injection. Middle East Afr J Ophthalmol. 2019;26(2):55-9.
-1414 Karimi S, Mosavi SA, Jadidi K, Nikkhah H, Kheiri B. Which quadrant is less painful for intravitreal injection? A prospective study. Eye (Lond). 2019;33(2):304-12.. A presença de comorbidades esteve associada a maiores escores de dor77 Moisseiev E, Regenbogen M, Rabinovitch T, Barak A, Loewenstein A, Goldstein M. Evaluation of pain during intravitreal Ozurdex injections vs intravitreal bevacizumab injections. Eye. 2014;28(8):980-5..

Manejo farmacológico da dor relacionada à injeção intravítrea

Apesar de serem amplamente utilizados na aplicação da IVI, não existe um consenso sobre qual anestésico local é mais eficaz para o alívio da dor durante o procedimento. Dentre os estudos selecionados, dois investigaram a eficácia analgésica da levobupivacaína, proparacaína e lidocaína1919 Örnek N, Apan A, Örnek K, Günay F. Anesthetic effectiveness of topical levobupivacaine 0.75% versus topical proparacaine 0.5% for intravitreal injections. Saudi J Anaesth. 2014;8(2):198-201.,2020 Andrade GC, Carvalho AC. Comparison of 3 different anesthetic approaches for intravitreal injections: a prospective randomized trial. Arq Bras Oftalmol. 2015;78(1):27-31..

A levobupivacaína, isômero da bupivacaína, é uma das substâncias mais utilizadas na prática clínica da IVI devido à sua menor neurotoxicidade. Embora seja eficaz, os pacientes do grupo experimental relataram escores de dor mais elevados, sendo a proparacaína a 0,5% o anestésico que apresentou melhor eficácia analgésica1919 Örnek N, Apan A, Örnek K, Günay F. Anesthetic effectiveness of topical levobupivacaine 0.75% versus topical proparacaine 0.5% for intravitreal injections. Saudi J Anaesth. 2014;8(2):198-201.. Essa eficácia aumenta quando a proparacaína é associada à lidocaína subconjuntival a 1%2020 Andrade GC, Carvalho AC. Comparison of 3 different anesthetic approaches for intravitreal injections: a prospective randomized trial. Arq Bras Oftalmol. 2015;78(1):27-31..

Manejo não farmacológico da dor relacionada à injeção intravítrea

As terapias não farmacológicas vêm ganhando mais espaço no processo de assistência à saúde, especialmente no Sistema Único de Saúde2222 Chan JC, Chan LP, Yeung CP, Tang W, O YM, Lam WC. Effect of music on patient experience during intravitreal injection. J Ophthalmol. 2020;2020:9120235., devido ao baixo custo, facilidade de utilização e baixa frequência de efeitos adversos. Além disso, o tratamento multimodal da dor é uma prática que permite a integração de diferentes abordagens.

No entanto, os estudos sobre esse tema ainda são escassos na área da oftalmologia. Nessa categoria apenas um estudo foi incluído, no qual 76 pacientes foram randomizados em dois grupos: grupo controle e música. Durante todo o procedimento uma mesma música foi executada para o grupo experimental, enquanto o grupo controle recebeu o tratamento da maneira convencional2121 Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC-SUS. Diário da República, 2ª série - n. 102 (27-05-2015). 2015. 13550-13553 p.. Embora não tenha havido uma diferença significativa entre os grupos, os pacientes do grupo experimental referiram que a experiência com música foi mais agradável e preferível.

CONCLUSÃO

Os resultados revelam que o manejo da dor relacionado à IVI ainda é subestimado. Quanto aos fatores associados, técnicas alternativas de aplicação da IVI geraram menos dor que a convencional. Ademais, constatou-se resultados inconclusivos ao analisar a associação entre a dor, sexo, idade e calibre da agulha. Em relação aos métodos farmacológicos, foi evidenciado que a injeção de ranibizumabe resultou em menor escore de dor quando comparada a outros anti-VEGF. A associação entre proparacaína a 0,5% e lidocaína subconjuntival a 1% foi mais eficaz que outros colírios anestésicos. Ainda são escassos estudos que investiguem o tratamento multimodal, sobretudo o manejo não farmacológico da dor durante a IVI. Apenas um estudo testou a eficácia analgésica da música durante a IVI, porém não houve resultados significativos. Dessa forma, enfatiza-se a necessidade de estudos adicionais de maior rigor metodológico, com amostras que confiram maior poder estatístico, a fim de conhecer os principais fatores associados à dor procedimental da IVI e testar novas estratégias para seu alívio.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Out 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021

Histórico

  • Recebido
    15 Mar 2021
  • Aceito
    06 Jul 2021
Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 937 Cj2 - Vila Mariana, CEP: 04014-012, São Paulo, SP - Brasil, Telefones: , (55) 11 5904-2881/3959 - São Paulo - SP - Brazil
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