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Osteoartrite de mãos e exercícios de fortalecimento muscular: uma atualização e revisão integrativa da literatura

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

A osteoartrite de mãos é uma doença altamente prevalente que pode levar à importante deformidade e incapacidade. A abordagem terapêutica no seu manuseio baseia-se em condutas farmacológicas e não farmacológicas; no entanto, nenhum desses tratamentos demonstrou redução da lesão articular e apresenta-se de maneira puramente sintomática. Contudo, profissionais especializados recomendam e utilizam amplamente o fortalecimento da musculatura das mãos em pacientes com osteoartrite de mãos, mas não há um consenso para tal conduta. O objetivo do estudo foi revisar os conceitos sobre a osteoartrite de mãos, bem como trazer as evidências atuais sobre o fortalecimento muscular como forma de tratamento não medicamentoso para esta doença.

CONTEÚDO:

O estudo foi realizado na base de dados "United States National Library of Medicine" (Pubmed). As palavras utilizadas foram: "hand osteoarthritis", "exercises", "physiotherapy and rehabilitation". Foram incluídos 5 artigos em inglês, publicados nos últimos 10 anos, cujo foco fosse exercícios de fortalecimento muscular para pacientes com osteoartrite de mãos.

CONCLUSÃO:

Não existe consenso, nem um protocolo de exercícios mais efetivos, embora os exercícios e a fisioterapia ainda sejam recomendados. Sugere-se a realização de estudos clínicos controlados e randomizados para melhorar a evidência sobre este assunto.

Descritores:
Fortalecimento muscular; Mãos; Osteoartrite

ABSTRACT

BACKGROUND AND OBJECTIVES:

Osteoarthritis of the hands is a highly prevalent disease that can lead to significant deformity and disability. The therapeutic approach in the management of osteoarthritis of the hands is based on pharmacological and non-pharmacological approaches. However, none of these treatments demonstrated a reduction of joint damage, and it presents itself in a purely symptomatic way. Yet, expert practitioners strongly recommend and use hand muscle strengthening in patients with hand osteoarthritis, but there is no consensus for such conduct. The objective of the study was to review the concepts about hand osteoarthritis as well as to bring the current evidence on muscle strengthening as a non-pharmacological treatment for this disease.

CONTENTS:

The study reviewed the United States National Library of Medicine database (Pubmed). The words used were: hand osteoarthritis, exercises, physiotherapy and rehabilitation. We included 5 articles in English, published in the last 10 years, focused on muscle strengthening exercises for osteoarthritis patients.

CONCLUSION:

There is no consensus, nor a more effective exercise protocol, although exercises and physiotherapy are still recommended. We suggest conducting randomized controlled clinical trials to improve the evidence on this subject.

Keywords:
Hands; Muscle strengthening; Osteoarthritis

INTRODUÇÃO

De acordo com o Colégio Americano de Reumatologia (ACR), a osteoartrite (OA) é definida como um grupo heterogêneo de condições, acarretando sinais e sintomas de origem articular, associados a defeitos da integridade articular e mudanças no osso subcondral11 Altman R, Alarcón G, Appelrouth D, Bloch D, Borenstein D, Brandt K, et al. The American College of Rheumatology criteria for the classification and reporting of osteoarthritis of the hand. Arthritis Rheum. 1990;33(11):1601-10.. Entre as doenças reumatológicas, a OA é a mais comum e frequentemente afeta as articulações das mãos22 Rogers MW, Wilder FV. Exercise and hand osteoarthritis symptomatology: a controlled crossover trial. J Hand Ther. 2009;22(1):10-20..

Caracterizada pela progressiva lesão articular associada à dor, degeneração do osso subcondral, cartilagem articular e estruturas adjacentes; a OA das mãos acomete principalmente as articulações interfalângicas proximais (IFP) e distais (IFD) e carpometacarpal (CMC)22 Rogers MW, Wilder FV. Exercise and hand osteoarthritis symptomatology: a controlled crossover trial. J Hand Ther. 2009;22(1):10-20.,33 Leung GJ, Rainsford KD, Kean WF. Osteoarthritis of the hand I: aetiology and pathogenesis, risk factors, investigation and diagnosis. J Pharm Pharmacol. 2014;66(3):339-46..

As alterações presentes na cartilagem articular e osso subcondral são resultantes da função deficiente de condrócitos na manutenção do equilíbrio necessário da matriz extracelular. No entanto, a causa da destruição da cartilagem ainda é desconhecida. Fatores químicos e mecânicos estão associados ao surgimento dessa condição44 Beasley J. Osteoarthritis and rheumatoid arthritis: conservative therapeutic management. J Hand Ther. 2012;25(2):163-72..

No desenvolvimento da OA de mãos estão relacionados alguns fatores de risco, como por exemplo: idade, sexo feminino, histórico familiar, traumas, fatores mecânicos laborativos e obesidade33 Leung GJ, Rainsford KD, Kean WF. Osteoarthritis of the hand I: aetiology and pathogenesis, risk factors, investigation and diagnosis. J Pharm Pharmacol. 2014;66(3):339-46.,55 Hart DJ, Spector TD. Definition and epidemiology of osteoarthritis of the hand: a review. Osteoarthrits Cartilage. 2000;8(Suppl A):S2-7.,66 Hodkinson B, Maheu E, Michon M, Carrat F, Berenbaum F. Assessment and determinants of aesthetic discomfort in hand osteoarthritis. Ann Rheum Dis. 2012;71(1):45-9.. Além disso, é uma doença altamente prevalente, afetando entre 55 e 70% da população adulta acima de 55 anos, variando entre 70 e 80% em indivíduos acima de 75 anos e cerca de 75% das mulheres entre a 6ª e 7ª década de vida66 Hodkinson B, Maheu E, Michon M, Carrat F, Berenbaum F. Assessment and determinants of aesthetic discomfort in hand osteoarthritis. Ann Rheum Dis. 2012;71(1):45-9.,77 Valdes AM, Lecturer S, Spector TD. The clinical relevance of genetic susceptibility to osteoarthritis. Best Prac Res Clin Rheum. 2010;24(1):3-14..

O acometimento das articulações IFP, IFD e CMC, pode ser caracterizado por vários graus de deformidades, redução da força muscular de pinça e preensão, redução da amplitude de movimento (ADM), da presença de dor e rigidez articular, gerando um quadro de diminuição da função nas atividades básicas da vida diária88 Boustedt C, Nordenskiöld U, Lundgren Nilsson A. Effects of a hand-joint protection programme with an addition of splinting and exercise: one year follow-up. Clin Rheumatol. 2009;28(7):793-9.,99 Ye L, Kalichman L, Spittle A, Dobson F, Bennell K. Effects of rehabilitative intervention on pain, function and physical impairments in people with hand osteoarthritis: a systematic review. Arthritis Res Ther. 2011;13(1):R28..

A classificação da OA de mãos é realizada através dos critérios de classificação do ACR, delineado para mãos sintomáticas, baseado no exame físico do paciente com dor nas mãos, fornecendo 92% de sensibilidade e 98% de especificidade. Essa classificação proposta baseia-se na dor das mãos ou rigidez articular na maioria dos dias do mês anterior, acompanhada de 3 ou 4 características apresentadas a seguir:

  • Alargamento articular em duas ou mais das 10 articulações selecionadas: segunda e terceira IFP e IFD ou CMC das mãos;

  • Alargamento articular de duas ou mais articulações IFD;

  • Menos de três articulações metacarpofalângicas edemaciadas;

  • Deformidade de duas ou mais das 10 articulações IFP, IFD e CMC.

As articulações selecionadas incluem bilateralmente as IFP, IFD do 2º e 3º dedos e CMC1.

A classificação da OA de mãos, segundo a Liga Europeia Contra o Reumatismo (EULAR), avalia os seguintes itens: fatores de risco associados, dor mecânica e rigidez articular, presença de nódulos de Heberden e Bouchard, com ou sem alargamento articular, diminuição da função da mão, associação de outras articulações envolvidas (joelhos e/ou quadril), avaliação de um diagnóstico diferencial e radiografia das mãos1010 Zhang W, Doherty M, Leeb BF, Alekseeva L, Arden NK, Bijlsma JW, et al. EULAR evidence-based recommendations for the diagnosis of hand osteoarthritis: report of a task force of ESCISIT. Ann Rheum Dis. 2009;68(1):8-17..

A abordagem terapêutica no manuseio da OA de mãos, baseia-se em condutas farmacológicas e não farmacológicas, no entanto, nenhum desses tratamentos demonstrou redução da lesão articular e apresenta-se de maneira puramente sintomática88 Boustedt C, Nordenskiöld U, Lundgren Nilsson A. Effects of a hand-joint protection programme with an addition of splinting and exercise: one year follow-up. Clin Rheumatol. 2009;28(7):793-9..

O tratamento farmacológico da OA das mãos, na maioria dos casos, é direcionado aos sintomas apresentados pelos pacientes, incluindo analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides (AINES), sulfato de glucosamina, infiltrações intra-articulares e cirurgia em casos de OA grave das mãos. Contudo, há escassez de fármacos modificadores da doença para OA das mãos e as medidas não farmacológicas são estratégias para o manuseio dessa condição88 Boustedt C, Nordenskiöld U, Lundgren Nilsson A. Effects of a hand-joint protection programme with an addition of splinting and exercise: one year follow-up. Clin Rheumatol. 2009;28(7):793-9.,1111 Kjeken I, Smedslund G, Moe RH, Slatkowsky-Christensen B, Uhlig T, Hagen KB. Systematic review of design and effects of splints and exercise programs in hand osteoarthritis. Arthritis Care Res. 2011;63(6)834-48.,1212 Østerås N, Hagen KB, Grotle M, Sand-Svartrud AL, Mowinckel P, Kjeken I. Limited effects of exercises in people with hand osteoarthritis: results from a randomized controlled trial. Osteoarthritis Cartilage. 2014;22(9):1224-33..

Em 2012, o ACR, publicou algumas recomendações para utilização de terapias farmacológicas e não farmacológicas para OA, incluindo o tratamento das mãos. Entretanto, essas orientações não apresentam um grau expressivo de suporte, sendo condicionadas à resposta do paciente. Essas recomendações1313 Hochberg MC, Altman RD, April KT, Benkhalti M, Guyatt G, McGowan J, et al. American College of Rheumatology 2012 recommendations for the use of nonpharmacologic and pharmacologic therapies in osteoarthritis of the hand, hip and knee. Arthritis Care Res. 2012;64(4):465-74. estão descritas na tabela 1.

Tabela 1
Recomendações para o tratamento da osteoartrite incluindo o acometimento das mãos

De acordo com Zhang et al.1414 Zhang W, Doherty M, Leeb BF, Alekseeva L, Arden NK, Bijlsma JW, et al. EULAR evidence-based recommendations for the management of hand osteoarthritis: report of a task force of the EULAR Standing Committee for international clinical studies including therapeutics (ESCISIT). Ann Reum Dis. 2007;66(3):377-88., o tratamento adequado da OA das mãos baseia-se na combinação de modalidades farmacológicas e não farmacológicas individualizadas, de acordo com a necessidade do paciente.

Dentre esse grupo de medidas, as orientações apresentadas são: educação do paciente, proteção articular, termoterapia local (parafina, compressas quentes, terapia por ultrassom), utilização de órteses, AINES e capsaína tópicos, paracetamol, AINES oral em doses baixas efetivas, fármacos sintomáticos de ação lenta para osteoartrite, injeções intra-articular com corticoides, especialmente para articulação CMC e cirurgia, para OA grave das mãos quando o tratamento conservador não apresenta sucesso. É importante ressaltar que a maiorias dessas evidências baseiam-se nas orientações de autoridades experientes no manuseio da OA das mãos1414 Zhang W, Doherty M, Leeb BF, Alekseeva L, Arden NK, Bijlsma JW, et al. EULAR evidence-based recommendations for the management of hand osteoarthritis: report of a task force of the EULAR Standing Committee for international clinical studies including therapeutics (ESCISIT). Ann Reum Dis. 2007;66(3):377-88..

Com relação às medidas de proteção articular destacam-se o incremento do fortalecimento das musculaturas extensora e flexora de punho, além dos músculos intrínsecos da mão. Porém, o melhor protocolo ainda é desconhecido, principalmente pelos diferentes métodos de avaliação de sua eficácia e da grande quantidade de exercícios selecionados44 Beasley J. Osteoarthritis and rheumatoid arthritis: conservative therapeutic management. J Hand Ther. 2012;25(2):163-72.,88 Boustedt C, Nordenskiöld U, Lundgren Nilsson A. Effects of a hand-joint protection programme with an addition of splinting and exercise: one year follow-up. Clin Rheumatol. 2009;28(7):793-9.,99 Ye L, Kalichman L, Spittle A, Dobson F, Bennell K. Effects of rehabilitative intervention on pain, function and physical impairments in people with hand osteoarthritis: a systematic review. Arthritis Res Ther. 2011;13(1):R28.,1111 Kjeken I, Smedslund G, Moe RH, Slatkowsky-Christensen B, Uhlig T, Hagen KB. Systematic review of design and effects of splints and exercise programs in hand osteoarthritis. Arthritis Care Res. 2011;63(6)834-48.,1212 Østerås N, Hagen KB, Grotle M, Sand-Svartrud AL, Mowinckel P, Kjeken I. Limited effects of exercises in people with hand osteoarthritis: results from a randomized controlled trial. Osteoarthritis Cartilage. 2014;22(9):1224-33..

Entre o grupo de medidas não farmacológicas, se faz necessário mencionar, ainda, a importância do padrão alimentar e do estado nutricional do indivíduo na prevenção e no tratamento da OA. A vantagem da terapia nutricional pode ser obtida por meio de uma dieta balanceada e adequada, com ênfase habitual em micronutrientes, ácidos graxos, flavonoides e fitoquímicos, que podem ser adquiridos por meio do consumo de frutas, legumes e verduras frescos, produtos lácteos desnatados, azeite de oliva e oleaginosas. O que poderá auxiliar na manutenção adequada do peso e trazer benefícios antioxidantes e anti-inflamatórios para o indivíduo, proporcionando a diminuição da incidência ou a progressão da lesão osteoarticular1515 Mazocco L, Chagas P. Terapia nutricional na reabilitação de doenças crônicas osteoarticulares em idosos. RBCEH, Passo Fundo. 2015;12(3):309-17.,1616 Green JA, Hirst-Jones KL, Davidson RK, Jupp O, Bao Y, MacGregor AJ, et al. The potential for dietary factors to prevent or treat osteoarthritis. Proc Nutr Soc. 2014;73(2):278-88..

O objetivo deste estudo foi atualizar os conceitos sobre a OA de mãos e revisar os estudos que utilizaram o fortalecimento dos músculos das mãos como forma de tratamento não farmacológico para essa doença.

CONTEÚDO

Trata-se de um estudo de revisão da literatura, realizado na base de dadosUnited States National Library of Medicine(Pubmed). Foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS):hands osteoarthritis, exercises, physiotherapy and rehabilitation e suas combinações.

Os critérios de inclusão determinantes para a seleção foram artigos na íntegra, disponíveis na internet e produções com publicação nos últimos 10 anos. Os critérios de exclusão foram estudos descritivos que não oferecessem informação precisa sobre a metodologia empregada e/ou resultados obtidos, assim como resumos de congressos, artigos incompletos ou pagos, e aqueles que não tinham os termos utilizados na busca como objeto principal de estudo.

Após a consulta à base de dados e o refinamento das buscas, foram identificados e excluídos estudos que apresentavam duplicidade. Posteriormente, foram lidos todos os resumos restantes. Além disso, nos casos em que a leitura do resumo era insuficiente para estabelecer se o artigo deveria ser incluído, considerando-se os critérios de inclusão definidos, o artigo foi lido na íntegra para determinar sua elegibilidade para posterior inclusão no estudo. A busca foi realizada entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017, resultando em 925 artigos, dos quais foram incluídos 5 deles, cuja temática se desenvolveu sobre exercícios de fortalecimento muscular para pacientes com OA de mãos.

RESULTADOS

Dos 925 artigos encontrados inicialmente na base de dados, 721 foram excluídos por não atenderem os critérios de inclusão.

Em seguida, dos 204 artigos elegíveis, 66 foram retirados por apresentarem duplicidade e 133 foram excluídos após o refinamento das buscas. Assim, fizeram parte desta revisão 5 artigos. Afigura 1 apresenta a síntese do processo de seleção dos artigos.

Figura 1
Fluxograma de identificação e seleção dos artigos

Os artigos selecionados foram publicados em 4 revistas conceituadas:Journal of Rehabilitation Medicine(1), Annals of the Rheumatic Diseases (1), Osteoarthritis and Cartilage(2) eThe Journal of Rheumatology(1).

Na tabela 2 estão apresentados os artigos de acordo com autores, objetivos, tipo de estudo e conclusões. Já na tabela 3 observa-se o tamanho da amostra, exercícios executados e os resultados.

Tabela 2
Objetivos e conclusões dos ensaios clínicos sobre osteoartrite de mãos e exercícios de fortalecimento muscular nos últimos 10 anos
Tabela 3
Tamanho da amostra, exercícios utilizados e resultados dos ensaios clínicos sobre osteoartrite de mãos e exercícios de fortalecimento muscular nos últimos 10 anos

DISCUSSÃO

A presente revisão se propôs atualizar os conceitos sobre a OA de mãos e analisar os estudos que utilizaram o fortalecimento dos músculos das mãos como forma de tratamento não farmacológico para essa doença. Esse compilado pode auxiliar o profissional de saúde na tomada de decisão quanto a melhor abordagem para o acompanhamento da OA e poderá ser utilizado em novas pesquisas para comparação dos resultados. Estudos abordando esse tema são escassos na literatura2121 Bennell KL, Dobson F, Hinman RS. Exercise in osteoarthritis: moving from prescription to adherence. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2014;28(1):93-117. e a quantidade limitada de trabalhos dificulta a discussão do assunto.

A OA de mãos é uma doença progressiva e irreversível, que acarreta aos indivíduos aumento da fadiga, diminuição da força muscular, da amplitude de movimento e da resistência, devido à dor e inflamação ocasionados pela doença77 Valdes AM, Lecturer S, Spector TD. The clinical relevance of genetic susceptibility to osteoarthritis. Best Prac Res Clin Rheum. 2010;24(1):3-14..

Stukstette et al.1717 Stukstette MJ, Dekker J, den Broeder AA, Westeneng JM, Bijlsma JW, van den Ende CH. No evidence for the effectiveness of a multidisciplinary group-based treatment program in patients with osteoarthritis of hands on short term; results of a randomized controlled trial. Osteoarthritis Cartilage. 2013;21(7):901-10. afirmam que estudos sobre OA das mãos frequentemente relacionaram a redução da amplitude de movimento e a força muscular de preensão palmar com as dificuldades apresentadas pelos pacientes avaliados. Ademais, comumente analisaram o automanuseio da doença, exercícios para amplitude de movimento, incremento de força muscular, educação e princípios ergonômicos.

Um trabalho incluiu 150 pacientes com OA das mãos e foram avaliados os efeitos do exercício associado a múltiplas intervenções comparado às orientações de proteção articular. Os pacientes do grupo controle, realizaram uma única sessão de orientação sobre OA e o grupo intervenção sessões de orientação sobre automanuseio, ergonomia, exercícios domiciliares para melhora da força e amplitude de movimento e a utilização de órteses. Após três meses de seguimento, os resultados foram insuficientes para confirmar a importância ou a relevância clínica do tratamento a curto prazo em programa multidisciplinar1717 Stukstette MJ, Dekker J, den Broeder AA, Westeneng JM, Bijlsma JW, van den Ende CH. No evidence for the effectiveness of a multidisciplinary group-based treatment program in patients with osteoarthritis of hands on short term; results of a randomized controlled trial. Osteoarthritis Cartilage. 2013;21(7):901-10..

Outros autores relataram o aumento da força de preensão palmar após uma intervenção com educação, exercícios variados associados à proteção articular88 Boustedt C, Nordenskiöld U, Lundgren Nilsson A. Effects of a hand-joint protection programme with an addition of splinting and exercise: one year follow-up. Clin Rheumatol. 2009;28(7):793-9.,2222 Rogers MW, Wilder FV. The effects of strength training among persons with hand osteoarthritis: a two-year follow-up study. J Hand Ther. 2007;20(3):244-9.. Revisões sistemáticas e meta-análises demonstraram o efeito benéfico dos exercícios terapêuticos na melhora da dor e da funcionalidade para OA de membros inferiores, em especial para joelhos. No entanto, a recomendação do exercício para OA de mãos ainda é baseada em guias de recomendações sobre a experiência clínica no tratamento da doença2121 Bennell KL, Dobson F, Hinman RS. Exercise in osteoarthritis: moving from prescription to adherence. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2014;28(1):93-117.,2323 Moe RH, Kjeken I, Uhlig T, Hagen KB. There is inadequate evidence to determine the effectiveness of nonpharmacological and nonsurgical interventions for hand osteoarthritis: an overview of high-quality systematic reviews. Phys Ther. 2009;89(12):1363-70.. Em 2009, uma pesquisa constatou que não há evidências com estudos de alta qualidade que valide o emprego de intervenções não farmacológicas e não cirúrgicas para OA de mão. Essas intervenções, apesar do pequeno tamanho do efeito, provocaram menos implicações adversas para o paciente2121 Bennell KL, Dobson F, Hinman RS. Exercise in osteoarthritis: moving from prescription to adherence. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2014;28(1):93-117..

Uma pesquisa atual mostrou que três distintos domínios funcionais latentes devem ser avaliados em idosos com OA de mãos: força, função de extremidade superior coordenada e processamento sensitivo-motor2424 Lawrence EL, Dayanidhi S, Fassola I, Requejo P, Leclercq C, Winstein CJ, et al. Outcome measures for hand function naturally reveal three latent domains in older adults: strength, coordinated upper extremity function, and sensorimotor processing. Front Aging Neurosci. 2015;7:108..

Kjeken et al.2525 Kjeken I, Grotle M, Hagen KB, Østerås N. Development of an evidence-based exercise programme for people with hand osteoarthritis. Scand J Occup Ther. 2015;22(2):103-16. descreveram um programa de tratamento por exercícios para mãos de pacientes com OA. O programa continha três exercícios para aumentar a força e a estabilidade do ombro, braço e os músculos do pulso e quatro exercícios para manter ou aumentar a amplitude de movimento, força de preensão e estabilidade articular nas articulações dos dedos. O programa iniciava com um período de aquecimento e alongamento e terminava com um exercício de dedo, seguindo as recomendações do Colégio Americano de Medicina Esportiva, sobre a intensidade do exercício, a frequência da sessão e a duração do período de exercício.

De acordo com Carreira, Jones e Natour1818 Carreira AC, Jones A, Natour J. Assessment of the effectiveness of a functional splint for osteoarthritis of the trapeziometacarpal joint of the dominant hand: a randomized controlled study. J Rehabil Med. 2010;42(5):469-74., os efeitos do exercício de fortalecimento muscular para OA de mãos, combinado com outras alternativas de tratamento não farmacológicos, como por exemplo utilização de órteses e técnicas de proteção articular, têm sua evidência embasada em uma literatura ainda com resultados duvidosos.

Uma revisão sistemática verificou os efeitos de terapias não cirúrgicas para OA de mãos. Foram avaliados 44 estudos e selecionados apenas quatro, devido à baixa qualidade metodológica e pluralidade nas intervenções (exercício para OA das mãos, incluindo Yoga, exercícios resistidos e os de terapia ocupacional). O desfecho da análise desses estudos demonstrou "alguma" evidência para exercícios de fortalecimento muscular, pois os métodos utilizados para randomização, cegamento e ocultação de alocação raramente foram descritos e uma meta-análise não pôde ser realizada, uma vez que a maioria dos tratamentos estudados não era semelhante para permitir o agrupamento dos dados2626 Mahendira D, Towheed TE. Systematic review of non-surgical therapies for osteoarthritis of the hand: an update. Osteoarthritis Cartilage. 2009;17(10):1263-8..

Na revisão sistemática de Valdes e Marik2727 Valdes K, Marik T. A systematic review of conservative interventions for osteoarthritis of the hand. J Hand Ther. 2010;23(4):334-50., de 204 artigos recuperados, datados entre 1986 e 2009, 21 estudos foram incluídos para análise completa e observou-se os efeitos do exercício para OA das mãos, obtendo um nível de evidência moderado para o aumento da força de preensão palmar, função, amplitude de movimento e redução do quadro álgico. No entanto, os estudos avaliados utilizaram múltiplas intervenções de tratamento, como por exemplo: exercício de força, amplitude de movimento, associados com orientações de proteção articular e aplicação de calor (termoterapia).

Em 2011, uma pesquisa através da revisão sistemática, avaliou a melhora da dor e função em indivíduos com OA de mãos. Nessa revisão foram incluídos 10 estudos que tinham um nível de evidência 2b ou superior, que comparavam uma intervenção de reabilitação com um grupo controle e avaliava pelo menos uma das seguintes medidas de resultado: dor, função de mão ou outras medidas de comprometimento das mãos. Além disso, a elegibilidade e a qualidade metodológica dos ensaios também foram avaliadas sistematicamente por dois revisores independentes usando a base de dados de evidências em fisioterapia (PEDro). Após a análise, os autores concluíram que em relação aos estudos que utilizaram o exercício como técnica de tratamento, não foram encontrados efeitos significativos nas modalidades aplicadas99 Ye L, Kalichman L, Spittle A, Dobson F, Bennell K. Effects of rehabilitative intervention on pain, function and physical impairments in people with hand osteoarthritis: a systematic review. Arthritis Res Ther. 2011;13(1):R28..

Østerås et al.1212 Østerås N, Hagen KB, Grotle M, Sand-Svartrud AL, Mowinckel P, Kjeken I. Limited effects of exercises in people with hand osteoarthritis: results from a randomized controlled trial. Osteoarthritis Cartilage. 2014;22(9):1224-33. concluíram que os efeitos do exercício para OA de mãos é limitado. Nesse estudo, foram recrutados 130 pacientes, divididos em grupo controle (sem intervenção) e grupo de exercícios. Os pacientes foram acompanhados durante três meses realizando a intervenção. Os exercícios realizados, não foram específicos para as mãos. No programa associado à terapia da mão foram incluídos exercícios para fortalecimento de bíceps braquial, flexores e extensores de ombro e exercícios de amplitude de movimento e força das mãos. No entanto, dentro do período da intervenção, ocorreram somente três sessões acompanhadas por um profissional, na primeira, terceira e oitava semana. As demais sessões de exercício foram realizadas em domicílio, sem supervisão.

Um recente estudo avaliou os efeitos do exercício combinado com orientações de proteção articular para tratamento da OA de mãos em quatro grupos: 1. Proteção articular, 2. Exercícios para mão, 3. Proteção articular combinada com exercício para as mãos, e 4. Sem intervenção. Foram realizadas sessões presenciais, mas teve como base a conduta domiciliar. Foram avaliadas a função, a dor, a força de pinça e preensão e a destreza desses indivíduos. Com desfecho em 12 semanas, os autores, não verificaram diferenças no aumento da força muscular, destreza e função desses pacientes1919 Dziedzic K, Nicholls E, Hill S, Hammond A, Handy J, Thomas E, et al. Self-management approaches for osteoarthritis in the hand: a 2x2 factorial randomised trial. Ann Rheum Dis. 2015;74(1):108-18..

Por conseguinte, ao analisar os presentes resultados, percebeu-se que apesar dos exercícios de fortalecimento muscular serem recomendados pelas guias de recomendações para o tratamento da OA de mãos, a fim de proporcionar melhora funcional de pacientes com a doença, poucas pesquisas ainda suportam essa afirmação.

Ademais, Oppong et al.2020 Oppong R, Jowett S, Nicholls E, Whitehurst DG, Hill S, Hammond A, et al. Joint protection and hand exercises for hand osteoarthritis: an economic evaluation comparing methods for the analysis of factorial trials. Rheumatology (Oxford). 2015;54(5):876-83. avaliaram o custo dos tratamentos para OA de mãos e mostraram que os exercícios de mão foram a opção mais rentável quando comparado a abordagens metodológicas alternativas. Conforme Kjeken et al.1111 Kjeken I, Smedslund G, Moe RH, Slatkowsky-Christensen B, Uhlig T, Hagen KB. Systematic review of design and effects of splints and exercise programs in hand osteoarthritis. Arthritis Care Res. 2011;63(6)834-48., a conclusão das evidências sobre a utilização do exercício no tratamento da OA das mãos ainda apresenta estudos com alto risco de viés, não possibilitando a realização de meta-análises, para a verificação dos efeitos do exercício na redução da dor, melhora da força e amplitude de movimento, uma vez que estudos demonstraram que não existe um consenso no delineamento de programas de exercícios para OA das mãos. Portanto, considerando a quantidade insuficiente de pesquisas abordando a OA de mãos2121 Bennell KL, Dobson F, Hinman RS. Exercise in osteoarthritis: moving from prescription to adherence. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2014;28(1):93-117., além disso, ponderando a prevalência e o impacto da doença para os indivíduos, há necessidade de mais estudos com o tema2323 Moe RH, Kjeken I, Uhlig T, Hagen KB. There is inadequate evidence to determine the effectiveness of nonpharmacological and nonsurgical interventions for hand osteoarthritis: an overview of high-quality systematic reviews. Phys Ther. 2009;89(12):1363-70..

CONCLUSÃO

Embora os exercícios de fortalecimento muscular sejam recomendados para a melhora funcional de pacientes com OA de mãos, poucos estudos suportam essa afirmação. Foram encontrados estudos com baixa qualidade metodológica, quantidade de protocolos distintos de exercícios e escassez de revisões sistemáticas com conclusões contundentes para o uso do exercício de fortalecimento muscular no tratamento da OA de mãos.

  • Fontes de fomento: Não há.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    16 Abr 2017
  • Aceito
    29 Jan 2018
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