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Síntese de Sistemas Estritamente Reais Positivos através do Critério de Routh-Hurwitz

SPR Systems Synthesis Through Routh-Hurwitz Criterion

Resumos

Dada uma planta Gol(s) linear e invariante no tempo com uma entrada e q saídas, sendo q > 1, é proposto um método, baseado no Critério de Estabilidade de Routh-Hurwitz, para a obtenção de uma matriz constante F ? Rq em série com a saída, de modo que o sistema FGol(s) seja de fase mínima. A partir desta solução, o sistema FGol(s) é representado em espaço de estados por {A,B,FC} e é obtida uma matriz constante de realimentação da saída Ko ? R¹, de modo que o sistema realimentado {A-BKoC,B,FC} seja Estritamente Real Positivo (ERP). O procedimento proposto fornece condições necessárias e suficientes para os dois problemas. Inicialmente, é analisado o caso geral, com q genérico. Em seguida, são estudados os casos particulares q = 2 e q = 3.

Sistemas ERP; Fase Mínima; Critério de Routh-Hurwitz; Realimentação da Saída


Given a linear time-invariant plant Gol(s) with one input and q outputs, where q > 1, a method based on the Routh-Hurwitz Stability Criterion is proposed to obtain a constant tandem matrix F ? Rq, such that FGol(s) is a minimum-phase system. From this solution, the system FGol(s) is represented in state space by {A,B,FC} and a constant output feedback matrix Ko ? R¹ is obtained such that the feedback system {A-BKoC,B,FC} is Strictly Positive Real (SPR). The proposed procedure offers necessary and sufficient conditions for both problems. Initially, the general case, with a generic q, is analyzed. Following, the particular cases q = 2 and q = 3 are studied.

SPR Systems; Minimum Phase; Routh-Hurwitz Criterion; Output Feedback


TEORIA DE CONTROLE

Síntese de Sistemas Estritamente Reais Positivos através do Critério de Routh-Hurwitz

SPR Systems Synthesis Through Routh-Hurwitz Criterion

Márcio Roberto CovacicI; Marcelo Carvalho Minhoto TeixeiraII; Edvaldo AssunçãoII; Rodrigo CardimII

IDepartamento de Engenharia Elétrica, Centro de Tecnologia e Urbanismo, Universidade Estadual de Londrina, UEL Caixa Postal 6001, 86051-970, Londrina - PR. marciocovacic@uel.br

IIDepartamento de Engenharia Elétrica, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, UNESP - Univ Estadual Paulista, Av. José Carlos Rossi 1370, 15385-000, Ilha Solteira - SP. marcelo@dee.feis.unesp.br, edvaldo@dee.feis.unesp.br, rcardim@dee.feis.unesp.br

RESUMO

Dada uma planta Gol(s) linear e invariante no tempo com uma entrada e q saídas, sendo q > 1, é proposto um método, baseado no Critério de Estabilidade de Routh-Hurwitz, para a obtenção de uma matriz constante F ∈ Rq em série com a saída, de modo que o sistema FGol(s) seja de fase mínima. A partir desta solução, o sistema FGol(s) é representado em espaço de estados por {A,B,FC} e é obtida uma matriz constante de realimentação da saída Ko ∈ R1, de modo que o sistema realimentado {A–BKoC,B,FC} seja Estritamente Real Positivo (ERP). O procedimento proposto fornece condições necessárias e suficientes para os dois problemas. Inicialmente, é analisado o caso geral, com q genérico. Em seguida, são estudados os casos particulares q = 2 e q = 3.

Palavras-chave: Sistemas ERP, Fase Mínima, Critério de Routh-Hurwitz, Realimentação da Saída.

ABSTRACT

Given a linear time-invariant plant Gol(s) with one input and q outputs, where q > 1, a method based on the Routh-Hurwitz Stability Criterion is proposed to obtain a constant tandem matrix F ∈ Rq, such that FGol(s) is a minimum-phase system. From this solution, the system FGol(s) is represented in state space by {A,B,FC} and a constant output feedback matrix Ko ∈ R1 is obtained such that the feedback system {A-BKoC,B,FC} is Strictly Positive Real (SPR). The proposed procedure offers necessary and sufficient conditions for both problems. Initially, the general case, with a generic q, is analyzed. Following, the particular cases q = 2 and q = 3 are studied.

Keywords: SPR Systems, Minimum Phase, Routh-Hurwitz Criterion, Output Feedback.

1 INTRODUÇÃO

A importância dos sistemas ERP na análise e projeto de sistemas de controle é comprovada pelos resultados obtidos a respeito da estabilidade destes sistemas, como a hiperestabilidade assintótica de Popov (Anderson, 1968). Estes resultados possuem uma ampla gama de aplicações, como no projeto de sistemas de controle adaptativos (Barkana et al., 2006; Hsu et al., 1994; Huang et al., 1999; Kaufman et al., 1994; Landau, 1979; Owens et al., 1987; Teixeira, 1989), em sistemas de controle com estrutura variável (Cardim et al., 2008; Cardim et al., 2009; Collado et al., 2007; Covacic, Teixeira, Assunção e Cardim, 2008; DeCarlo et al., 1988; Shu et al., 2008; Teixeira, 1990; Teixeira, 1993; Teixeira et al., 2000; Teixeira et al., 2002; Teixeira et al., 2006) e na estabilização de sistemas incertos com realimentação da saída (Cunha et al., 2003; Steinberg e Corless, 1985; Xiang et al., 2005).

Um problema relacionado com este método de projeto é a chamada síntese ERP: dada uma planta linear invariante no tempo, {A,B,C}, controlável e observável, com m variáveis de entrada e p variáveis de saída, o objetivo é obter uma matriz constante de realimentação da saída Ko e uma matriz constante F em série com a saída, de modo que o sistema controlado {A-BKoC,B,FC} seja ERP. A matriz F combina as saídas da planta, tornando o sistema compatível com a igualdade BTP = FC, que é uma das condições para um sistema ERP. Em (Teixeira, 1989; Teixeira, 1990), foi demonstrado que este problema é equivalente a um problema de estabilização com realimentação da saída. Para plantas com o mesmo número de variáveis de entrada e de saída, a condição necessária e suficiente para este problema é que todos os zeros de transmissão tenham parte real negativa e que det(CB) ≠ 0 (Kaufman et al., 1994; Owens et al., 1987; Teixeira, 1989).

Em (Boyd et al., 1994; Choi, 1997; Choi, 1998; Choi, 1999; Huang et al., 1999; Teixeira et al., 2000; Teixeira et al., 2002), foi estudada a solução deste problema usando Inequações Matriciais Lineares (LMIs). A vantagem deste método é que as LMIs, quando factíveis, podem ser resolvidas facilmente através de programas computacionais como Matlab (Gahinet et al., 1995) e LMISol (de Oliveira et al., 1997). Estes métodos permitem, também, outras especificações de projeto, como taxa de decaimento, restrições na entrada e na saída (Bernussou et al., 1999; Teixeira et al., 2000; Teixeira et al., 2002). Para o problema acima, com p > m, são conhecidas apenas condições suficientes (Teixeira et al., 2002).

Outra ferramenta útil para a análise da estabilidade de um sistema é o Critério de Routh-Hurwitz (Dorf e Bishop, 1998; Ogata, 1997). Uma das suas mais importantes aplicações é a determinação da faixa de valores de um parâmetro k tais que todas as raízes de um polinômio d(s,k) possuam parte real negativa. Outras aplicações para o Critério de Routh-Hurwitz estão disponíveis na literatura. Em (Blondel e Lundvall, 1995), o critério é utilizado para determinar se um sistema é estabilizável, isto é, se existe um controlador que torna o sistema estável. Em (Peña, 2004), são apresentados alguns testes para checar as condições de Routh-Hurwitz e a positividade total de uma matriz, transformando-a em uma matriz triangular superior. Em (Hwang e Yang, 1999), o Critério de Routh-Hurwitz é utilizado para testar a propriedade Hurwitz de um segmento de polinômios (1 - λ)po(s) + λp1(s), sendo que 0 < l < 1. Em (Bose, 1989; Yang e Hwang, 2002), o método é estendido para combinações convexas de polinômios complexos. Em (Barmish, 1984; Białas e Garloff, 1985; Guiver e Bose, 1983), é apresentado um método para a análise da estabilidade de polinômio, cujos coeficientes sofrem perturbações. Em (Hwang e Yang, 1999; Bandyopadhyay et al., 1994; Bandyopadhyay et al., 1997), o método é estendido para determinar modelos de intervalos de ordem reduzida para sistemas lineares em que cada coeficiente de n(s) e d(s) pertence a um intervalo. Em (Wei e Yedavalli, 1987), os coeficientes do polinômio característico dependem de um conjunto de parâmetros, com cada parâmetro pertencente a um intervalo. Existem outros métodos, por exemplo o teorema de Hermite-Biehler (Oliveira et al., 2003; Oliveira et al., 2009), que permitem a análise da estabilidade para plantas com ou sem atrasos de transporte.

Em (Teixeira et al., 2007), é apresentado um procedimento, baseado no Critério de Routh-Hurwitz (Dorf e Bishop, 1998; Ogata, 1997), para a determinação da faixa de valores de k (condições necessárias e suficientes) que tornam estável um sistema com uma entrada e uma saída (SISO) realimentado através de um controlador proporcional Gc(s) = k. O método reúne as raízes reais de todos os numeradores e denominadores da primeira coluna da tabela de Routh-Hurwitz e agrupa-os em ordem crescente, considerando os valores repetidos apenas uma vez. São obtidos, assim, os intervalos entre as raízes reais. Para obter a faixa de estabilidade, basta analisar um ponto de cada intervalo. A ideia foi estendida para o projeto de outros tipos de controladores, como o proporcional-integral-derivativo (PID) e é apresentado, também, em (Teixeira et al., 2007), um programa em Matlab que implementa este método, que está disponível na internet (http://www.dee.feis.unesp.br/docentes/marcelo/fxestab/english/index.html).

Em (Covacic, Teixeira e Assunção, 2008), é proposto um método baseado no Critério de Routh-Hurwitz para o estudo da estabilidade de sistemas incertos = (Ao + αΔA)x, através da determinação da faixa de valores de α que garantem a estabilidade assintótica do sistema. O método também é utilizado para a determinação da faixa de valores de k que garantem a estabilidade de sistemas de malha fechada = (A - BKC)x, com K = kI.

Neste trabalho, o Critério de Routh-Hurwitz é utilizado para a obtenção de uma matriz Fq, que combina as q saídas de uma planta {A,B,C} com uma entrada, de modo que todos os zeros de transmissão do sistema {A,B,FC} possuam parte real negativa. A partir deste sistema de fase mínima, é obtida, através de LMIs, uma matriz Ko que torna ERP o sistema {A-BKoC,B,FC}. Após a análise do caso geral, com q genérico, são estudados os casos particulares q = 2 e q = 3.

Na Seção 2, são apresentados os conceitos básicos sobre sistemas ERP. Na Seção 3, o Critério de Routh-Hurwitz é aplicado para a obtenção de um sistema de fase mínima. A partir deste sistema de fase mínima, pode ser obtido um sistema ERP, como é apresentado na Seção 4. A Seção 5 mostra dois exemplos de aplicação do método e a Seção 6 apresenta as conclusões finais.

2 SISTEMAS ERP

Considere a planta linear, invariante no tempo, controlável e observável dada por (1).

sendo xn o vetor das variáveis de estado, um a entrada de controle, ym a saída da planta, An×n a matriz característica, Bn×m a matriz de entrada e Cm×n a matriz de saída da planta.

O conceito de sistemas ERP é apresentado em (Anderson, 1968), assim como o Lema 1, que fornece a condição necessária e suficiente para que o sistema (1) seja ERP.

Lema 1(Anderson, 1968) A matriz de transferência do sistema (1), Gol(s) = C(sI-A)-1B, é ERP se e somente se existir uma matriz P = PT, tal que:

O Teorema 2 estabelece condições necessárias e suficientes para a existência de uma matriz K que torna ERP o sistema de malha fechada da Fig. 1, com entrada V(s) e saída Y(s).


Teorema 2 (Kaufman et al., 1994; Owens et al., 1987; Teixeira, 1989): Considere a Fig. 1. Então, existe uma matriz constante K, tal que o sistema da Fig. 1, com entrada V(s) e saída Y(s), dado pela matriz de transferência (I+Gol(s)K)-1Gol(s), seja ERP, se e somente se as seguintes condições forem satisfeitas:

(i)CB = (CB)T > 0;

(ii)todos os zeros de transmissão da planta {A,B,C} apresentam parte real negativa.

Como definido em (Chen, 1999), os zeros de transmissão de um sistema cujo número de saídas p é maior ou igual ao número de entradas m são os valores de s tais que:

Com base no Lema 1, foi proposto o seguinte problema:

Problema 1 Dada a planta {A,B,C} linear, invariante no tempo, controlável e observável, com p > m, posto(C) = p e posto(B) = posto(CB) = m, obtenha condições necessárias e/ou suficientes, usando LMIs, para a existência de matrizes constantes F e Kom×p, para que o sistema descrito na Fig. 2, dado pela matriz de transferência F(I+Gol(s)K)-1Gol(s), seja ERP.


Na Seção 3, é apresentado um método para a obtenção de um sistema de fase mínima através do Critério de Routh-Hurwitz, para plantas com uma entrada e q saídas, sendo q > 1. Na Seção , é descrita a obtenção de um sistema ERP a partir do sistema de fase mínima obtido.

3 OBTENÇÃO DE SISTEMAS DE FASE MÍNIMA ATRAVÉS DO CRITÉRIO DE ROUTH-HURWITZ

Considere uma planta Gol(s) = N(s)D(s)-1, controlável e observável, com uma entrada e q saídas, sendo D(s) = d(s) e N(s) = [ n1(s) n2(s) ... nq(s) ]T matrizes polinomiais, com:

sendo que n1(s),...,nq(s) e d(s) não possuem raízes comuns (neste caso, N(s) e D(s) são coprimas à direita (Chen, 1999)).

De acordo com o Teorema 2, existem matrizes F e Ko, sendo Ko = KF, tais que o sistema {A-BKoC,B,FC} é ERP se e somente se existir F tal que FCB = (FCB)T > 0 e {A,B,FC} for um sistema de fase mínima, isto é, os zeros de transmissão de {A,B,FC}, que são os zeros de FGol(s), apresentarem parte real negativa.

Seja F = [ f1f2 ... fq ] ∈q. Então, o produto FGol(s) é dado por:

sendo:

A condição FCB = (FCB)T > 0 ocorre somente quando o grau relativo de FGol(s) = FC(sI-A+BKoC)-1B é igual a 1 (Owens et al., 1987; Slotine e Li, 1991), isto é, grau(f1n1(s)+f2n2(s)+...+fqnq(s)) = grau(d(s))-1. Isto ocorre se e somente se:

Se n1(n-1) = n2(n-1) = ... = nq(n-1) = 0, o grau relativo do sistema é maior que 1, para qualquer Fq. Então, não existem matrizes F e Ko que tornam o sistema ERP.

Os zeros de transmissão da planta Gol(s) são os valores de s tais que N(s) = [ 0 0 ... 0 ]T. Sejam zp1, zp2,..., zpk os zeros de transmissão da planta. Então,

sendo

1(s),...,q(s) polinômios coprimos, isto é, sem raízes comuns. Os zeros de transmissão do sistema FGol(s) são as raízes de:

Então, os zeros de transmissão do sistema FGol(s) são as raízes de np(s) e as raízes de [f1

1(s)+f2
2(s)+...+fq
q(s)]. Logo, se np(s) possui pelo menos uma raiz com parte real não-negativa, não existe uma matriz Fq tal que o sistema FGol(s) seja de fase mínima.

Se f1≠ 0, então:

sendo fki = , para i = 2,...,q.

Se todas as raízes de np(s) apresentam parte real negativa, então os valores de fk tais que o sistema FGol(s) seja de fase mínima, se existirem, são tais que todas as raízes do polinômio:

apresentam parte real negativa. Os resultados propostos em (Teixeira et al., 2007) permitem o estudo da posição das raízes do polinômio FN(s).

3.1 Sistemas com Duas Saídas

Considere, agora, uma planta Gol(s) = N(s)D(s)-1 com uma entrada e duas saídas, sendo D(s) = d(s) e N(s) = [ n1(s) n2(s) ]T matrizes polinomiais coprimas à direita. Seja F = [ f1f2 ] ∈ 2. Considerando que f1≠ 0, então, de (3), os zeros de transmissão do sistema FGol(s) são as raízes de:

sendo fk = . A faixa de valores de fk tais que o sistema FGol(s) é de fase mínima, se existirem, pode ser determinada com exatidão através do Critério de Routh-Hurwitz, com o método descrito em (Teixeira et al., 2007). O Exemplo 1 ilustra este procedimento.

3.2 Sistemas com Três Saídas

Considere, agora, uma planta Gol(s) = N(s)D(s)-1 com uma entrada e três saídas, sendo N(s) e D(s) matrizes polinomiais coprimas à direita, D(s) = d(s)I e N(s) = [ n1(s) n2(s) n3(s) ]T. Seja F = [ f1f2f3 ] ∈3. Considerando que f1≠ 0, então, de (3), os zeros de transmissão do sistema FGol(s) são as raízes de:

sendo fk2 = e fk3 = . Novamente, utilizando-se o método proposto em (Teixeira et al., 2007), é possível determinar o lugar geométrico dos ganhos do controlador, no plano (fk2, fk3), que torna estável o sistema realimentado. Para alcançar este objetivo, pode-se escolher um intervalo de valores para fk3, no qual deseja-se analisar a estabilidade. Então, fixando-se um valor de fk3 neste intervalo, pode-se obter os valores de fk2 (condições necessárias e suficientes) para a estabilidade do sistema de malha fechada, para o ganho fk3 escolhido. Este procedimento pode ser repetido quantas vezes forem necessárias, para uma boa visualização da região de estabilidade. O Exemplo 2 ilustra este procedimento.

Observação 1 Note que, na Subseção 3.1, quando o número de saídas da planta é q = 2, o método permite a determinação rápida da faixa de valores do parâmetro fk que torna FGol(s) um sistema de fase mínima. Quando q = 3, foi visto, na Subseção 3.2, que é necessário fixar um parâmetro (fk3) para obter a faixa de valores do outro parâmetro (fk2) para que FGol(s) seja de fase mínima. No caso geral, com q saídas, existem q - 1 parâmetros e q - 2 parâmetros devem ser fixados em intervalos dados para a busca de valores de um parâmetro que soluciona o problema. Esta busca pode tornar-se computacionalmente lenta, à medida que q aumenta. Este fato motiva o estudo de métodos que evitem buscas em regiões nas quais não existem soluções. Por exemplo, a busca pode utilizar o fato bem conhecido sobre a necessidade de um polinômio Hurwitz apresentar todos os coeficientes com o mesmo sinal, para restringir a região de busca. Este é um tópico para pesquisas futuras.

4 OBTENÇÃO DE UM SISTEMA ERP A PARTIR DE UM SISTEMA DE FASE MÍNIMA

Na Seção 3, foi apresentado um método baseado no Critério de Routh-Hurwitz para determinar exatamente uma matriz Fq de modo que todas as raízes do polinômio FN(s), que correspondem aos zeros de transmissão do sistema FGol(s), sendo Gol(s) = N(s)D(s)-1, possuam parte real negativa.

Obtida a matriz F de modo que o sistema FGol(s) seja de fase mínima, o segundo passo é determinar uma matriz de realimentação da saída Ko que torna ERP o sistema {A-BKoC,B,FC}. A solução deste problema é garantida através do Teorema 3, obtido diretamente do Lema 1. A solução do problema através de LMIs permite a adição de outras especificações, como taxa de decaimento, restrições na entrada e na saída.

Teorema 3Considere F tal que o sistema {A,B,FC} seja de fase mínima. Então, uma solução para o Problema 1 é obtida através das seguintes LMIs, em termos de Ko e P = PT:

Prova: A prova deste teorema é obtida diretamente, utilizando-se o Lema 1, que foi apresentado em (Anderson, 1968). □

Observação 2 Quando as condições do Teorema 3 são factíveis, o software LMISol (de Oliveira et al., 1997) pode ser utilizado para a determinação de Ko, F e P = PT. A condição (6) é uma igualdade matricial linear e existem softwares, por exemplo, o LMI Control Toolbox do Matlab (Gahinet et al., 1995), que não permitem, diretamente, esta restrição.

5 EXEMPLOS

5.1 Exemplo 1

Considere a planta Gol(s), descrita por:

sendo:

De acordo com (Chen, 1999), uma representação da planta Gol(s) é dada por (1), sendo:

O objetivo deste exemplo é a determinação de matrizes Ko e F para que o sistema {A-BKoC,B,FC} torne-se ERP.

As raízes de n1(s) são -6 e 1 e as raízes de n2(s) são -6,1401 e 1,1401. Portanto, n1(s) e n2(s) não são polinômios Hurwitz. Então, é necessário encontrar uma matriz F = [ f1f2] = f1[ 1 fk ], sendo fk = f2/f1, tal que o sistema FGol(s) seja de fase mínima. Os zeros de transmissão do sistema FGol(s) são as raízes do polinômio:

De acordo com o Critério de Routh-Hurwitz, utilizando o método proposto em (Teixeira et al., 2007), o sistema FGol(s) é de fase mínima se e somente se:

Escolhendo-se fk = -0,9 e f1 = 1, tem-se F = [ 1 -0,9 ] e FN(s) = 0,1s2+0,5s+0,3. Os zeros de transmissão do sistema são z1 = -4,3028 e z2 = -0,6972. Logo, o sistema FGol(s) é de fase mínima.

Com a matriz F definida acima, as matrizes P e Ko foram obtidas através do Teorema 3. A solução obtida com o LMISol foi:

Os autovalores de P são λ1 = 5,8492, λ2 = 1,6196 e λ3 = 0,0229. Os zeros de transmissão do sistema {A-BKoC,B,FC} são z1 = -4,3028 e z2 = -0,6972 e os autovalores de (A-BKoC) são p1 = -0,9777+j0,4273, p2 = -0,9777-j0,4273 e p3 = -3,4032. Portanto, o sistema é ERP, como indica o diagrama de Nyquist da Fig. 3.


5.2 Exemplo 2

Considere, agora, um sistema mecânico descrito em (Ogata, 2003), página 761, e dado por (1), sendo:

A função de transferência do sistema de malha aberta é dada em (8), sendo:

O objetivo deste exemplo é a determinação de matrizes Ko e F para que o sistema {A-BKoC,B,FC} torne-se ERP.

As raízes de n1(s) são -0,15±j4,24, a raiz de n2(s) é -60 e as raízes de n3(s) são -0,15±j4,24 e 0. Portanto, como n1(s) e n2(s) não são polinômios de terceira ordem e n3(s) não é um polinômio Hurwitz, é necessário encontrar uma matriz F = [ f1f2f3 ] = f1[ 1 fk2fk3 ], sendo fk2 = f2/f1 e fk3 = f3/f1, tal que o sistema FGol(s) seja de fase mínima. Os zeros de transmissão do sistema FGol(s) são as raízes do polinômio:

A Fig. 4 mostra o lugar geométrico dos pares de valores de fk2 e fk3 tais que o sistema FGol(s) seja de fase mínima, de acordo com o Critério de Routh-Hurwitz, utilizando o método proposto em (Teixeira et al., 2007).


Escolhendo-se fk2 = 0, fk3 = 2 e f1 = 1, tem-se F = [ 1 0 2 ] e FN(s) = 2s3+1,6s2+36,3s+18. Os zeros de transmissão do sistema são z1 = -0,5 e z2 = = -0,15+j4,24. Logo, o sistema FGol(s) é de fase mínima.

Com a matriz F definida acima, as matrizes P e Ko foram obtidas através do Teorema 3. A solução obtida com o LMISol foi:

Os autovalores de P são λ1 = 32,0592, λ2 = 4,3310, λ3 = 1,8480 e λ4 = 0,6860. Os zeros de transmissão do sistema {A-BKoC,B,FC} são z1 = -0,5, z2 = -0,15+j4,24 e z3 = -0,15-j4,24 e os autovalores de (A-BKoC) são p1 = -0,7945+j4,4055, p2 = -0,7945-j4,4055, p3 = -1,8071+j0,8611 e p4 = -1,8071-j0,8611. Portanto, o sistema é ERP, como indica o diagrama de Nyquist da Fig. 5.


6 CONCLUSÕES

Foi proposto um novo método baseado no Critério de Routh-Hurwitz para a obtenção (condições necessárias e suficientes) de um sistema de fase mínima a partir de uma planta com uma variável de entrada e duas de saída e de uma matriz F2. O método foi inicialmente concebido para determinar todos os valores reais de fk tais que todos os zeros de transmissão do sistema FGol(s), sendo Gol(s) a matriz de transferência da planta (com uma entrada e duas saídas) e F = f1[ 1 fk ], possuam parte real negativa. A partir do sistema de fase mínima obtido, foi projetado um sistema ERP (foram apresentadas condições necessárias e suficientes) a partir de uma matriz de realimentação da saída Ko.

O problema foi analisado, também, para plantas com três ou mais variáveis de saída, sendo que o esforço computacional aumenta com o número de variáveis de saída. Os exemplos, para plantas com duas e três variáveis de saída, comprovam a eficiência do método.

Pelo conhecimento dos autores, a literatura especializada não apresenta condições necessárias e suficientes para este problema, baseadas somente em LMIs.

Os resultados apresentados podem ser diretamente aplicados no projeto de sistemas de controle com incertezas e/ou não-linearidades, utilizando-se controladores adaptativos e/ou com estrutura variável.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro da FAPESP e do CNPq.

Artigo submetido em 17/12/2008 (Id.: 00934)

Revisado em 29/04/2009, 14/10/2009, 04/03/2010

Aceito sob recomendação do Editor Associado Prof. Alexandre Bazanella

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jun 2010
  • Data do Fascículo
    Jun 2010

Histórico

  • Aceito
    04 Mar 2010
  • Revisado
    29 Abr 2009
  • Recebido
    17 Dez 2009
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