Resumo
O desenvolvimento de estratégias alimentares pode melhorar os índices produtivos e retorno financeiro dos sistemas de criação. O objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos do manejo de cocho e de intervalos de tempo para ajustes no fornecimento da dieta sobre a seletividade, desempenho, a quantidade de sobra e o rendimento econômico de cordeiros confinados. Foram utilizados 60 cordeiros meio-sangue White Dorper x Ile de France (27,89kg± 3,71kg) com aproximadamente 90 dias de idade (± X dias). Os animas foram distribuídos nos tratamentos em função do peso corporal, alocados em uma das vinte baias (5 baias/4 blocos/; 3 animais/baia). O delineamento experimental foi de blocos casualizados em arranjo fatorial 2 x 2, sendo os tratamentos compostos por manejos de cocho para sobra entre 5-10% e sobra entre 10-15e dois intervalos de tempo para realização dos ajustes no fornecimento da dieta, a cada 2 ou a cada 3 dias. O manejo de cocho para sobras entre 5-10% levou ao maior consumo de partículas menores que 4mm (50,73% e 49,37%, P=0,0022), menor desperdício de alimento (0,220 e 0,246 kg MS/dia, P<0,0001) e maior consumo de matéria seca (CMS), com 3,775 kg/dia (P=0,0440). O ajuste de fornecimento, quando realizado a cada 3 dias, apresentou maior oferta de alimento (3,966 kg e 3,863 kg MS/dia, P=0,0005) e maior consumo de matéria seca (CMS) pelos animais, tanto em kg/dia (3,775 kg/dia, P=0,0004), como em relação ao peso corporal (3,334% e 3,233% do PV, P=0,0150). O manejo com sobras de 5-10% e ajuste a cada 3 dias teve a maior receita (R$ 688,15) e o menor custo por quilo (R$ 2,57). Por tanto, o manejo de cocho para sobra entre 5-10% e o ajuste no fornecimento a cada 3 dias foi a estratégia mais viável.
Palavras-chave:
comportamento alimentar; confinamento; manejo alimentar; Ovis aries
Abstract
The development of feeding strategies can improve production indices and financial returns in livestock systems. This study evaluated the effects of bunk management and feeding adjustment intervals on selectivity, performance, feed refusals, and economic return of feedlot lambs. Sixty crossbred White Dorper x Ile de France lambs (27.89 kg ± 3.71 kg) at approximately 90 days of age (± X days) were assigned to treatments based on body weight, allocated to one of twenty pens (five pens, four blocks, and three animals per pen). The experiment consisted of a randomized block design with a 2 x 2 factorial arrangement and treatments consisting of bunk management for feed refusals of 5-10% and 10-15% and two feeding adjustment intervals every two or three days. Bunk management for feed refusals of 5-10% led to a higher intake of particles smaller than 4 mm (50.73% and 49.37%, P = 0.0022), lower feed waste (0.220 and 0.246 kg DM/day, P < 0.0001), and higher dry matter intake (DMI) (3.775 kg/day, P = 0.0440). Feeding adjustment performed every three days showed higher feed supply (3.966 kg and 3.863 kg DM/day, P = 0.0005) and higher DMI both in kg/day (3.775 kg/day, P = 0.0004) and body weight (3.334% and 3.233% of LW, P = 0.0150). Management with feed refusals of 5-10% and a feeding adjustment interval every three days presented the highest revenue (R$ 688.15) and the lowest cost per kilogram (R$ 2.57). Therefore, bunk management for feed refusals of 5-10% and feeding adjustment intervals every three days was the most viable strategy.
Keywords:
feeding behavior; feedlot; feeding management; Ovis aries.
1. Introdução
A ovinocultura possui abrangência mundial, sendo altamente tecnificada em alguns países e em outros, que possuem vastas regiões áridas e semiáridas, a atividade é uma das poucas fontes de renda e fontes de proteína animal para alimentação da população local (1). No Brasil, a ovinocultura tem recebido maior atenção dos pecuaristas, fato que ficou evidente no censo de 2018, que apontou que o rebanho nacional contava com aproximadamente 19 milhões de cabeças, resultado do crescimento de 12,86% nos últimos 6 anos (2). Entretanto, a produção de carne ovina no Brasil não atende em quantidade e qualidade o mercado consumidor, visto que o consumidor, principalmente dos grandes centros urbanos, exige cada vez mais carne de animais jovens e cortes de primeira qualidade (3).
A terminação de cordeiros em confinamento pode auxiliar no aumento da produtividade, redução na idade de abate e a produção de carcaças de qualidade, características muito desejadas pelos frigoríficos comerciais (4). Dessa forma, a implementação de manejo alimentar adequado e o conhecimento de seus impactos sobre o comportamento alimentar animal, a seletividade de alimentos e a ingestão de nutrientes são fundamentais para melhorar o desempenho animal (5). Outro fator que está diretamente ligado ao sucesso da terminação de cordeiros em confinamento são os custos envolvidos na atividade, a análise e interpretação desses dados poder ser empregada como uma importante ferramenta administrativa (6).
Nesse contexto, o estudo e entendimento do comportamento alimentar e a análise das variáveis econômicas podem auxiliar no aumento da produção e na rentabilidade da ovinocultura. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos de diferentes manejos de cocho e intervalos de tempo para ajustes no fornecimento da dieta sobre a seletividade, desempenho, e rendimento econômico na terminação de cordeiros confinados.
2. Material e métodos
Todos os procedimentos realizados neste experimento foram aprovados pela Comissão de Ética de Uso de Animais da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/UNESP (CEUA 0210/2018). O experimento foi conduzido no Setor de Forragicultura da Fazenda Experimental Lageado, pertencente à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ/UNESP), no município de Botucatu localizado no estado de São Paulo (22º51’01” S e 48º25’28” W, com altitude de 777 metros), durante os meses de setembro a dezembro de 2020.
Foram utilizados 60 cordeiros não castrados meio-sangue White Dorper x Ile de France, com peso médio de 22,64kg ± 3,71kg e aproximadamente 90 (± X dias) dias de idade. Antes do início do período experimental, todos os cordeiros foram identificados individualmente com brincos numerados para facilitar o monitoramento e registro dos dados. Após a identificação e o manejo sanitário, os animas foram alocados em baias coletivas medindo 2,00m×1,50m (3m2), dotadas de bebedouros e comedouros e distribuídos nos tratamentos em função do peso corporal, sendo alocados 03 animais por baia, totalizando 15 animais por tratamento. O delineamento experimental foi em blocos casualizados em esquema fatorial 2 x 2, sendo os tratamentos compostos por dois manejos de cocho com base na quantidade de sobra: 5-10% e 10-15% e dois intervalos de dias para ajuste no fornecimento da dieta: a cada 2 ou 3 dias. Para sobra abaixo dos intervalos estipulados o fornecimento da dieta era aumentado em 5%; para sobra dentro dos intervalos o fornecimento era mantido e para sobra acima dos intervalos o fornecimento era reduzido em 5%.
O período experimental teve duração de 70 dias, dos quais 14 dias foram destinados à adaptação. Na primeira semana, o consumo de dieta foi de 2,3% do peso vivo, enquanto na segunda semana foi de 2,7% do peso vivo. Após o período de adaptação, o consumo de matéria seca (CMS) foi fixado em 3% do peso vivo. A dieta experimental era composta de silagem de planta inteira de milho e concentrado. O milho utilizado para produção de silagem foi colhido quando as plantas apresentavam teor de matéria seca (MS) de 35% e ensilado em silo tipo “bag”. A relação concentrado:volumoso e composição do concentrado (Tabela 1) foi definida com base nas análises bromatológicas da silagem de milho e para ganho de peso vivo diário (GPD) estimado em 300,0 g (7).
A dieta dos cordeiros foi formulada utilizando o programa computacional Small Ruminant Nutrition System (SRNS) com base no Cornell Net Carbohydrate and Protein System (8) para ovinos e considerado os efeitos da utilização de ionóforo (Monensina Sódica).
A dieta foi fornecida três vezes ao dia, às 8:00h, às 12:00h e às 16:00h e as sobras eram recolhidas e pesadas diariamente. Semanalmente foram colhidas amostras da dieta e das sobras para avaliação da distribuição de tamanho de partículas com auxílio do Penn State Particle Separator (PSPS), determinação da fibra em detergente neutro fisicamente efetiva (FDNfe) e os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HEM), celulose (CEL) e lignina (LIG) segundo técnicas descritas por AOAC (9) e os teores de fibra em detergente neutro (FDN) e as correções para os teores de cinzas e PB conforme recomendações de Mertens (10).
Ao final do período de adaptação os cordeiros foram pesados em balança digital com gaiola de contenção e pesados novamente a cada 14 dias para monitoramento do ganho de peso e ajustes no fornecimento da dieta. O consumo diário (concentrado + silagem) foi calculado pela diferença entre o ofertado e a sobra. O consumo de massa seca (CMS) durante o período experimental foi estimado pela diferença entre o ofertado e as sobras multiplicado pelo teor de matéria seca da dieta. O consumo de massa seca em relação ao peso corporal (CMS, % do PC) foi estimado pela divisão do CMS pelo ganho de peso durante o período experimental multiplicado por 100. O ganho médio diário (GMD) dos cordeiros foi calculado pela diferença entre o peso do cordeiro no dia do abate e o peso no 1º dia do experimento, dividido por 70 dias.
No último dia do período experimental, os animais foram pesados e encaminhados para frigorífico comercial e abatidos conforme os métodos descritos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (11). As carcaças foram identificadas com lacres numerados no tendão do músculo gastrocnêmio. Após a evisceração, as carcaças foram pesadas (peso da carcaça quente, PCQ) e permaneceram em câmara fria a 4ºC por 24h para estabelecimento do rigor mortis e determinação do peso de carcaça fria (PCF). Também foram realizados os cálculos de rendimentos da carcaça quente (%RCQ) e fria (%RCF) e as perdas ao resfriamento (%PPR).
A análise econômica foi realizada tomando-se por base os custos fixos de medicamentos e mão de obra necessária (com base no salário-mínimo do ano de 2019 - R$ 954,00); e os custos variáveis: tratamento com anti-helmínticos, suplementação com concentrado (com base no consumo de matéria seca e o custo do quilo do suplemento) e silagem (com base no consumo de matéria seca e o custo do quilo de silagem). A partir disso, foi apresentado na análise econômica: o custo operacional (somatório dos custos fixos e variáveis) e o custo final (custo operacional + encargos financeiros). A partir do ganho de peso e do preço do quilo de peso vivo do cordeiro foram calculados a margem de contribuição (ganho em reais por cabeça), o custo do quilo do peso vivo produzido e o ponto de nivelamento (quanto se precisa produzir para pagar os custos). Todos os custos utilizados na simulação foram orçados de acordo com os preços encontrados no mercado do estado de São Paulo - SP.
Os dados foram analisados quanto à normalidade de distribuição, pelo teste de Shapiro- Wilk do PROC UNIVARIATE do SAS (12) e foram considerados normais quando W ≥ 0,90. Na análise dos dados dos cordeiros confinados, a baia foi considerada como unidade experimental para sobras, consumo de matéria seca, conversão alimentar, eficiência alimentar e para a análise econômica. Para as variáveis de peso inicial e final, ganho de peso, ganho médio diário, rendimento de carcaça quente e fria, o animal foi considerado como unidade experimental. Foi utilizado o PROC MIXED do SAS e o comando Satterthwaite para determinar os graus de liberdade do denominador para testes de efeito fixo. Todos os dados foram analisados com o modelo de coeficientes aleatórios, os manejos de cocho com base nas sobras (5-10% e 1015%) e os dois intervalos de tempo para ajuste no fornecimento (2 ou 3 dias) e suas interações foram considerados como efeitos fixos e, como afeitos aleatórios a unidade experimental (baias e animais). Os efeitos foram considerados significativos quando P ≤ 0,05.
3. Resultados
O manejo de cocho para sobras entre 5-10% resultou (P=0,0123) em menor consumo de partículas entre 19-8mm (28,27% e 33,52%) (Tabela 2). Os animais que tiveram o cocho manejado para sobras entre 10-15% e ajuste no fornecimento a cada 3 dias (P=0,0192) consumiram menos partículas entre 8-4mm (9,32%). As partículas com comprimento menor que 4mm foram mais consumidas (P=0,0022) pelos animais que tiveram o manejo do cocho para sobras entre 5-10% (50,73% e 49,37%). O teor de FDNfe foi maior (P=0,0093) para o manejo de cocho com sobras entre 5-10% (7,84% e 9,35%) e menor para manejo de cocho para sobras entre 10-15% (6,90% e 6,47%).
Distribuição de tamanho de partículas e teor de FDNfe das sobras de cordeiros confinados submetidos a dois manejos de choco e dois intervalos de dias para ajuste no fornecimento da dieta.
Os maiores teores de FDN (P=0,0345) e de FDA (P=0,0297) das sobras foram observados quando os cochos eram manejados para sobras entre 5-10%, sendo 33,17% e 33,30% para FDN; 17,51% e 18,23% para FDA (Tabela 3). O teor de CEL foi menor (P=0,0013) para manejo de cocho com sobras entre 10-15% e ajuste no fornecimento a cada 3 dias (10,18%).
Composição bromatológica das sobras de cordeiros confinados submetidos a dois manejos de choco e dois intervalos de dias para ajuste no fornecimento da dieta.
Não foram observadas diferenças entre os manejos de cocho e intervalos de dias para ajuste no fornecimento para peso inicial (PI), peso final (PF), ganho de peso (GP), ganho de peso médio diário (GMD), conversão alimentar (CA) e eficiência alimentar (EA) (Tabela 4).
Oferta e consumo de massa seca, assim como o desempenho de cordeiros confinados, submetidos a dois manejos de choco e a dois intervalos de dias para ajuste no fornecimento da dieta.
A oferta de MS foi maior quando o ajuste no fornecimento era realizado a cada 3 dias (P=0,0005), independente do manejo de cocho (3,96kg e 3,86kg MS/dia) (Tabela 4). As sobras foram menores (P<,0001) quando o manejo de cocho adotado foi o de sobras entre 5-10% (0,22 e 0,24kg MS/dia). O CMS diário foi maior para o manejo de cocho com sobras entre 5-10% (P=0,0440) e ajuste no fornecimento a cada 3 dias (P=0,0004), com 3,77kg, 3,45kg e 3,31kg, 3,77kg MS/dia, respectivamente (Tabela 4). O CMS em porcentagem do peso vivo (CMS, % PV) foi diferente entre os dias de ajuste de fornecimento da dieta (P=0,0150), onde a correção a cada 3 dias apresentou os maiores valores (3,33 e 3,23% do PV).
O CMS diário foi maior para o manejo de cocho com sobras entre 5-10% (P=0,0440) e ajuste no fornecimento a cada 3 dias (P=0,0004), com 3,77kg, 3,45kg e 3,31kg, 3,77kg MS/dia, respectivamente (Tabela 4). O CMS em porcentagem do peso vivo (CMS, % PV) foi diferente entre os dias de ajuste de fornecimento da dieta (P=0,0150), onde a correção a cada 3 dias apresentou os maiores valores (3,33 e 3,23% do PV). Não foram observadas diferenças entre os manejos de cocho e intervalos de dias para ajuste no fornecimento para peso inicial (PI), peso final (PF), ganho de peso (GP), ganho de peso médio diário (GMD), conversão alimentar (CA) e eficiência alimentar (EA) (Tabela 5). Também não foram observadas diferenças entre os manejos de cocho e intervalo de dias para ajuste no fornecimento para peso de carcaça fria (PCF), rendimento de carcaça quente (RCQ) e rendimento de carcaça fria (RCF) (Tabela 5).
Características de carcaça de cordeiros confinados submetidos a dois manejos de choco e dois intervalos de dias para ajuste no fornecimento da dieta
O manejo de cocho para sobras entre 5-10% e ajuste a cada 3 dias foi o que apresentou a maior receita (R$ 688,15), a maior margem de contribuição durante o período experimental (R$ 503,40) e mensal (R$ 221,76) e o menor custo do quilo produzido (R$ 2,57) (Tabela 6).
Análise das variáveis econômicas de confinamento de cordeiros submetidos a dois manejos de choco e dois intervalos de dias para ajuste no fornecimento da dieta.
4. Discussão
Os animais que receberam o manejo de cocho para que houvesse sobras entre 5-10% consumiram mais partículas com comprimento menor que 4mm (Tabela 2), demonstrando a predileção desses animais por partículas menores. Isso se deve ao hábito alimentar dos ovinos, que possuem a habilidade de consumir seletivamente os alimentos, podendo alterar seu comportamento alimentar conforme a oferta e disponibilidade de alimentos (13; 14). Segundo Miller-Cushon e DeVries (5), a quantidade fornecida e o tempo que o alimento fica disponível aos animais pode influenciar a forma como eles selecionam a dieta.
Outro fato que evidencia o maior consumo de partículas pelos animais que tiveram o cocho manejado para sobras entre 5-10% (Tabela 2), são os maiores valores de FDNfe, pois restaram no cocho apenas partículas maiores e com maior teor de fibras, uma vez que esse atributo está correlacionado as características físicas e ao conteúdo de fibras do alimento (15). No geral, os animais tendem a consumir seletivamente partículas finas, que são mais palatáveis e com melhor valor nutricional, e com o passar das horas após o fornecimento da dieta, o consumo seletivo de tende a reduzir o valor nutritivo da dieta remanescente no cocho (16; 17).
Os animais que foram submetidos ao manejo de cocho para sobras entre 10-15% e ajuste do fornecimento realizado a cada 3 dias consumiram maior proporção de partículas de 4-8mm de comprimento (Tabela 2). Existem alguns problemas associados a seleção dos componentes da dieta pelos animas, pois, a seleção de alimentos ou de alguns componentes da dieta podem resultar na ingestão desbalanceada de nutrientes, interferindo na eficiência alimentar, pela redução na ingestão de matéria seca e, consequentemente no desempenho animal, impactando negativamente o retorno financeiro (5).
Os maiores valores para os teores de FDN e FDA (Tabela 3) também foram encontrados no manejo de cocho para sobras entre 5-10%, que também está relacionado a preferência desses animais por partículas pequenas, resultando em sobras com partículas mais longas que normalmente possuem maior teor de FDN (17). De acordo com Miller-Cushon e DeVries (5), o comportamento dos animais em selecionarem os alimentos que compõem a dieta influencia a ingestão individual de nutrientes e reduz o valor nutritivo da ração que permanece no cocho. Por outro lado, o manejo de cocho para sobras entre 10-15% e ajuste de fornecimento a cada 3 dias apresentou o menor teor de CEL nas sobras (Tabela 3), devido ao maior consumo de partículas longas por esses animais, restando partículas menores e com melhor valor nutricional.
A quantidade de sobras foi menor e o consumo de matéria seca (CMS) foi maior para manejo de cocho com sobras entre 5-10% (Tabela 4), pois esse animas consumiram partículas menores, com maior digestibilidade e taxa de passagem. Segundo Della Rosa et al. (18), o manejo alimentar pode afetar o comportamento e o padrão alimentar dos animais e, a quantidade de alimento fornecido afeta a seletividade pelos animais. O experimento conduzido por Haselmann et al. (19), que avaliaram efeito de dietas com dois tamanhos de partículas (52mm e 7mm), resultou em aumento no CMS, ingestão de FDN e na digestibilidade aparente de nutrientes para as vacas que consumiram a dieta com menor tamanho de partículas. A ingestão de alimentos com tamanho de partícula reduzido aumenta o CMS devido ao aumento na taxa de passagem e na redução no tempo para o esvaziamento ruminal (20).
A oferta de massa seca (kg/dia) e o consumo de matéria seca (kg/dia e % PC) foram maiores quando o ajuste no fornecimento era realizado a cada 3 dias (Tabela 4), pois aparentemente os animais tem maior período para se adaptarem e amenizarem os impactos causados no rúmen pelo aumento do fornecimento de alimento. A ingestão de alimentos pelos ruminantes tem grande influência no equilíbrio ácido-básico do fluído ruminal e, quando há queda no pH ruminal, ocorre redução no consumo de alimento para diminuir a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) (21). Dessa forma, o manejo de ajuste no fornecimento da dieta deve promover sincronização entre a produção de AGCC, capacidade de absorção e neutralização para manutenção do ambiente ruminal estável (22).
O manejo de cocho para sobras entre 5-10% e ajuste a cada 3 dias resultaram em maiores valores para receita, margem de contribuição durante o período experimental, margem de contribuição mensal e menor para o custo do quilograma de peso vivo produzido (Tabela 6). Isso se deve principalmente ao menor desperdício de alimento desses animais (Tabela 4), resultando em maior retorno financeiro. Pacheco et al. (23), trabalhando com níveis crescentes de concentrado na dieta de novilhos terminados em confinamento constataram que os alimentos concentrados podem representar até 91,3% dos custos de alimentação em dietas contendo 80% de concentrado.
5. Conclusão
A combinação de manejo de cocho para sobras entre 5-10% e ajuste no fornecimento da dieta realizado a cada 3 dias foi a estratégia alimentar mais viável para terminação de cordeiros em confinamento.
Declaração de disponibilidade de dados
Os dados serão fornecidos mediante solicitação ao autor correspondente.
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Editado por
-
Editor:
Rondineli P. Barbero
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
19 Maio 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
24 Jan 2024 -
Aceito
30 Set 2024 -
Publicado
13 Fev 2025