Open-access Terapia ocupacional social e ação técnica junto à população em situação de rua: reconhecendo tecnologias sociais

Resumo

A terapia ocupacional social constitui-se como uma área de atuação e referencial teórico-metodológico para a terapia ocupacional brasileira. Após anos de experiência, a área desenvolveu e nomeou diferentes tecnologias sociais para o trabalho com populações vulnerabilizadas. Nesse sentido, questionou-se: quais tecnologias sociais são utilizadas pela terapia ocupacional social para o trabalho com a população em situação de rua? A pesquisa traçou como objetivo identificar e nomear tecnologias sociais utilizadas na ação técnica da terapia ocupacional social para o trabalho com a população em situação de rua. Realizou-se a pesquisa em três fases: 1) levantamento bibliográfico e entrevistas com os autores mais recorrentes nas produções; 2) leitura e análise de diários de campo desenvolvidos pela equipe de extensão universitária que atua junto à população em situação de rua; 3) conversas coletivas com a equipe de extensionistas. A análise resultou em duas categorias: O que constam nas referências sobre terapia ocupacional social e população em situação de rua? e Análise à luz do diálogo e do cotidiano prático: dimensões do trabalho da terapia ocupacional social. O estudo sistematizou o aporte dos referenciais teóricos e a postura profissional crítica como elementos que precedem a ação técnica; listou estratégias e dimensões da prática terapêutico-ocupacional social que auxiliam no desenvolvimento das tecnologias sociais; e, por fim, identificou tecnologias sociais utilizadas junto às pessoas em situação de rua. Concluiu-se que a temática das tecnologias sociais é de grande relevância para a terapia ocupacional social e que há demandas para novos estudos sobre ação técnica junto às populações vulnerabilizadas.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional Social; Tecnologia Social; População em Situação de Rua; Senso de Comunidade; Território Sociocultural

Abstract

Social occupational therapy constitutes itself as a field of practice and a theoretical-methodological framework for Brazilian occupational therapy. After years of experience, the area has developed and named different social technologies for working with vulnerable populations. In this sense, the question was posed: which social technologies are used by social occupational therapy to work with the homeless population? The research aimed to identify and name social technologies used in the technical action of social occupational therapy for working with the homeless population. The research was carried out in three phases: 1) bibliographic survey and interviews with the most recurrent authors in the productions; 2) reading and analysis of field diaries developed by the university extension team that works with the homeless population; 3) collective conversations with the extension team. The analysis resulted in two categories: What is found in the references on social occupational therapy and the homeless population? and Analysis in the light of dialogue and practical daily life: dimensions of the work of social occupational therapy. The study systematized the contribution of theoretical frameworks and the critical professional posture as elements that precede technical action; listed strategies and dimensions of social occupational-therapeutic practice that assist in the development of social technologies; and, finally, identified social technologies used with homeless people. It was concluded that the theme of social technologies is of great relevance to social occupational therapy and that there are demands for new studies on technical action with vulnerable populations.

Keywords:
Social Occupational Therapy; Culturally Appropriate Technology; III-Housed Persons; Sense of Community; Sociocultural Territory

Introdução

A terapia ocupacional social constitui-se como uma área de atuação e como um referencial teórico-metodológico para o campo da terapia ocupacional brasileira, isto é, trata-se de um referencial que pressupõe ações contextualizadas social, econômica, cultural e politicamente, desenvolvidas de forma crítica, voltadas aos públicos com dificuldades de acesso aos direitos sociais e/ou em situação de vulnerabilidade (Lopes & Malfitano, 2023) e delineadas por “um compromisso ético-político com a mudança de uma condição, situação ou com uma causa” (Galheigo, 2023, p. 53).

As primeiras discussões e reflexões a respeito da área social na terapia ocupacional brasileira aconteceram nos anos 1970, influenciadas pelos movimentos sociais da época e pela mudança de paradigma, na qual a profissão passou a ser convocada ao trabalho com grupos e populações em situação de vulnerabilidade social. Ademais, questionava-se também, à época, o predomínio do saber biomédico no campo e suas perspectivas reducionistas de lidar com problemáticas que rompiam com o binômio saúde-doença e geravam intervenções que institucionalizavam e disciplinavam questões de ordem social (Lopes & Malfitano, 2023).

Em 1998, foi criado o Projeto Metuia: um grupo interinstitucional de estudos, formação e ações pela cidadania de populações em processos de ruptura das redes sociais de suporte. A principal motivação da época foi recolocar o debate sobre o campo social para a terapia ocupacional, após um declínio da discussão no início dos anos 1990 em três importantes universidades brasileiras, tensionando a formação e a reflexão através de estudos e experiências práticas ofertadas em ações extensionistas (Galheigo, 2023). O projeto avançou e, na atualidade, intitula-se como Rede Metuia – Terapia Ocupacional Social, formada por pessoas, coletivos e instituições que realizam ações de ensino, pesquisa e extensão a partir do referencial teórico-metodológico da terapia ocupacional social junto a indivíduos, grupos e coletivos que vivenciam problemáticas sociais, econômicas e/ou culturais que geram barreiras para participação social e exercício de cidadania.

A ação da terapia ocupacional social, dessa forma, prevê um recorte metodológico específico, para o qual se voltam ações a públicos que têm a fragilidade socioeconômica como eixo central de sua demanda de atenção, tendo a conscientização/apropriação dos direitos e o fortalecimento das redes sociais de suporte como bases de sua atuação. Para tanto, é proposto um desenlace da mediação saúde-doença, a partir do extravasamento do campo da saúde e confronto com as realidades sociais. O trabalho nos territórios e em conjunto com as comunidades também é um pressuposto base da área (Barros et al., 2007).

A experiência acumulada dos diferentes núcleos da Rede Metuia produziu e tem produzido tecnologias sociais com intuito de instrumentalizar metodologicamente as ações em terapia ocupacional social, fomentando novas possibilidades de atuação e articulando ações de abrangência macro e microssocial (Lopes et al., 2014). Conforme Lopes et al. (2014, p. 591), tecnologias sociais são compreendidas como “produtos, técnicas ou metodologias replicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem alternativas para a transformação social”.

Em diálogo com as Ciências Sociais, a noção de tecnologias sociais adotada por Lopes et al. (2014) converge com o conceito de tecnologia social (TS) descrita por Almeida (2010, p. 11):

A concepção de TS vai além do enfoque no artefato e agarra-se no contexto e na realidade concreta dos sujeitos para transformar. É um posicionamento político, na medida em que é um situar-se no mundo das pessoas e de seu espaço, sua organização, de forma independente, autônoma e autogestionária. A TS é um instrumento pedagógico, pelo qual todos aprendem no construir das soluções.

Portanto, objetivando a construção de um conhecimento técnico, horizontal e coerente, a partir das diversas realidades sociais, Lopes et al. (2014) destacam e descrevem quatro tecnologias sociais: as Oficinas de Atividades, Dinâmicas e Projetos; os Acompanhamentos Singulares e Territoriais; a Articulação de Recursos no Campo Social; e a Dinamização da Rede de Atenção.

Pautadas na construção de vínculo com os sujeitos como ponto inicial para o processo de reflexão, aprendizado e construção conjunta de novas realidades, as Oficinas de Atividades, Dinâmicas e Projetos se colocam como uma forma de aproximação, utilizam-se das atividades não como fim, mas sim como meio, facilitando a criação de ambientes e momentos de trocas individuais e coletivas. Os Acompanhamentos Singulares e Territoriais constituem-se como estratégia de acompanhamento e articulação que parte da realidade micro e singular do sujeito e se volta à tessitura de redes de suporte social. Essa tecnologia se coloca como imersão do profissional não apenas no contexto de vida do sujeito, mas também nas diferentes esferas de seu cotidiano e rede relacional dentro do território (Lopes et al., 2014).

A Articulação de Recursos no Campo Social pode ser compreendida como uma tecnologia de tessitura entre as problemáticas e os possíveis mecanismos de mudança, podendo assim “manejar as práticas em diferentes níveis de atenção em torno de objetivos comuns e utilizar os recursos possíveis, compreendidos como dispositivos financeiros, materiais, relacionais, afetivos, sejam eles micro ou macrossociais, para compor as intervenções” (Lopes et al., 2014, p. 597). Por fim, a Dinamização da Rede de Atenção é uma tecnologia que busca mediar, otimizar e direcionar a troca informacional entre os serviços e seus níveis de atenção, objetivando elaborar e efetivar possíveis estratégias de enfrentamento; dedica-se também a engajar o indivíduo, grupo populacional e/ou sua comunidade dentro do seu próprio processo, visando construir autonomia para compreensão da estrutura, funcionamento e potencialidades de sua rede (Lopes et al., 2014).

Importante mencionar que as tecnologias sociais supracitadas não necessariamente seguem uma ordem ou se colocam como roteiro de procedimentos sequenciais da ação da terapeuta ocupacional social, a intervenção e o uso das tecnologias sociais dependerão do contexto, grupo, demandas e particularidades apresentadas, cabendo à profissional escolher aquelas que mais se adequam às necessidades identificadas (Lopes et al., 2014).

Ainda dentro do recorte metodológico da terapia ocupacional social, em estudo sobre atuação profissional com adolescentes e jovens na escola, Pan et al. (2022) descrevem dimensões transversais da intervenção terapêutica-ocupacional, são elas: Lidando com conflitos; Gestão de projetos; e Produção de cuidado.

A dimensão Lidando com conflitos sinaliza um saber técnico que, por lidar com questões de grupos e coletivos que vivenciam diariamente atravessamentos e barreiras em sua participação social e no exercício de sua cidadania no cotidiano, auxilia na compreensão e mediação de conflitos que possam surgir nas interlocuções com e entre o público acompanhado. A dimensão Gestão de projetos indica o potencial interventivo da terapeuta ocupacional no papel de fomentadora, assessora e gestora de projetos junto a esses grupos vulnerabilizados, sejam eles a partir de serviços e políticas públicas ou a partir da relação com a comunidade, com movimentos sociais e/ou com universidades, visando a construção de respostas às demandas dos diferentes parceiros. A outra dimensão descrita, Produção de cuidado, aponta para ações relacionadas à garantia de uma existência digna, de um cuidado democrático, seja ele de ordem micro ou macrossocial; busca superar o viés biomédico da compreensão de cuidado e questiona seu papel dentro da organização e funcionamento da sociedade, podendo assim escancarar e refletir junto a indivíduos, grupos ou coletivos os vários mecanismos de controle social (Pan et al., 2022).

De maneira similar, em estudo sobre ações territoriais-comunitárias na terapia ocupacional, Bianchi & Malfitano (2022) nomeiam cinco estratégias do trabalho territorial-comunitário que, embora não focalizem apenas na prática da terapia ocupacional social, articulam-se às proposições metodológicas e são muito utilizadas na área. São elas: a atuação implicada no coletivo e nas relações sociais; a tessitura de redes formais e informais; a construção de vínculos através do uso das atividades; a horizontalidade e disponibilidade nas relações; e as estratégias para lidar com a vulnerabilidade social nos âmbitos micro e macrossocial.

As estratégias dão base para atuação da terapeuta ocupacional social, pois, cada qual à sua maneira, contribuem para que a ação profissional tenha enfoque ao coletivo e traga uma perspectiva de atuação contrária ao reducionismo e ao viés biomédico, compreendendo a pluralidade dos modos de ser e estar. A estratégia para lidar com as vulnerabilidades sociais nos âmbitos micro e macrossocial traz reflexões acerca do contexto social do sistema de produção capitalista, excludente e marginalizador. As estratégias: atuação implicada no coletivo e nas relações sociais e tessituras de redes formais e informais apontam a indissociabilidade do sujeito com sua rede relacional e seu contexto, compreendendo também que muitas vezes o processo de construção e mudança pode ser tecido em conjunto. A estratégia construção de vínculos através do uso das atividades faz apontamento aos recursos terapêuticos utilizados pelas terapeutas ocupacionais em sua prática. Por fim, horizontalidade e disponibilidade nas relações aborda aspectos relativos à postura profissional técnica e empática, que se coloca em relação ao sujeito e não hierarquizado a ele (Bianchi & Malfitano, 2022).

População em situação de rua e a extensão universitária Dinâmicas do Território

A extensão universitária Dinâmicas do território: diferentes modos de ocupação e pertencimento ao espaço público na região do Largo do Mercado em Santos/SP tem como objetivo compreender as diversas relações, fluxos e modo de uso do território do entorno do campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). A partir da imersão nesse contexto e da construção de vínculos dos extensionistas com as pessoas e grupos de referência da região, busca-se também problematizar, junto com a comunidade, como se dá o uso do espaço, articulando os interesses de diferentes frentes, atores e ações.

A extensão assume os referenciais da terapia ocupacional social, da geografia crítica e da educação popular como recursos teórico-metodológicos para promover reflexões sobre diferentes modos de uso e circulação no território, levando em conta dimensões deste uso como trabalho, habitação, lazer, cultura e socialização. Atuante desde 2020, a extensão tem construído espaços de encontros, diálogos, trocas e fortalecimentos de laços sócio-comunitários. A atuação se divide em duas frentes, devido às necessidades específicas de cada nicho populacional acompanhado: i) oficinas de atividades para crianças moradoras dos cortiços, com foco no brincar na cidade e no acesso a serviços de cultura e lazer do território; ii) acompanhamentos singulares e territoriais com população em situação de rua, com vistas ao fortalecimento de redes sociais de suporte, a articulação intersetorial com equipamentos e profissionais da assistência social e da saúde para promoção de ações de cuidado e acesso aos direitos sociais. O presente estudo se dedicará à análise dessa segunda frente apresentada.

As ações da extensão Dinâmicas do Território junto à população em situação de rua concentram-se na identificação de demandas e construção conjunta de soluções junto às pessoas e grupos acompanhados. A equipe realiza idas semanais ao território, que possibilitam a construção e manutenção de vínculo com pessoas e grupos, gerando reconhecimento e familiarização da presença e das possibilidades de atuação da equipe.

Segundo Andrade et al. (2014), a história da população em situação de rua acompanha o desenrolar da constituição da sociedade brasileira. O ponto inicial foi ainda na época colonial, anterior à abolição da escravidão em 1888, na qual uma série de leis passaram a conceder liberdade à população escravizada, porém sem assegurar oportunidades de trabalho, alimentação e moradias dignas, mantendo-os à margem da nova organização social. Posteriormente, ao grupo de pessoas em situação de rua e violadas em seu direito à moradia, somaram-se alguns imigrantes europeus, que se mudaram para o Brasil em busca de novas oportunidades e acabaram sobressalentes dos empregos disponíveis no país. De modo geral, como característica marcante, desde seu início, a população em situação de rua constitui-se como um público em situação de exclusão dos mecanismos de produção de riqueza e manutenção da vida.

O municipio de Santos,SP, teve seu processo de urbanização iniciado na localidade do Largo do Mercado. A região, até o final do século XIX, foi marcada pelo glamour e status de riqueza, com grandes casarões luxuosos, nos quais residiam a elite comerciária da época. No entanto, a riqueza e o glamour aos poucos foram cedendo espaço à pobreza e ao abandono, com a migração das elites para a região da orla. As reformas urbanas e a crescente ocupação da orla da praia pela elite ocasionaram um processo de migração das regiões centrais, no qual os bairros mais antigos, como o Largo do Mercado, passaram a ser ocupados pelas pessoas em situação de rua (Maziviero, 2016).

Frente ao exposto, e inspirados pela provocação das autoras Bianchi & Malfitano (2022, p. 18) sobre a necessidade da “constante elaboração de reflexões teóricas e metodológicas que discutam e nomeiem as variadas estratégias utilizadas por terapeutas ocupacionais em seus cenários de práticas, estas que muitas vezes ficam subsumidas no processo de trabalho”, o estudo definiu a seguinte questão de pesquisa: quais tecnologias sociais são utilizadas pela terapia ocupacional social para o trabalho com a população em situação de rua?

Tendo em vista a importância de compreender e nomear a ação técnica nos diversos campos de atuação da terapia ocupacional social e de pluralizar reflexões e saberes sobre práticas já realizadas, a pesquisa traçou como objetivo identificar e nomear tecnologias sociais utilizadas na ação técnica da terapia ocupacional social para o trabalho com a população em situação de rua, tendo como um dos eixos de análise, as ações desenvolvidas pela extensão universitária Dinâmicas do território: diferentes modos de ocupação e pertencimento ao espaço público na região do Largo do Mercado em Santos/SP.

Procedimentos Metodológicos

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida em um período de dois anos. A pesquisa qualitativa pressupõe a realização de um estudo das relações, representações, percepções, opiniões, dentre outros produtos de interpretações feitas pelo modo que os seres humanos vivem, pensam e sentem, sendo capaz de captar aspectos subjetivos e conduzir a importantes resultados em relação ao processo em análise (Minayo, 2014). Para tanto, realizou-se a produção de dados em três fases subsequentes, quais sejam:

Fase 1: Apreensão das produções e práticas da terapia ocupacional social junto à população em situação de rua

A fase inicial da pesquisa teve como intuito uma aproximação das produções desenvolvidas pela terapia ocupacional social acerca da temática "população em situação de rua", com vista a facilitar a interpretação e o reconhecimento das tecnologias sociais utilizadas no campo.

Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico nos sítios eletrônicos dos principais periódicos de terapia ocupacional brasileiros, com base nas seguintes palavras-chave: terapia ocupacional social e população em situação de rua. Não houve limitação temporal na busca dos materiais, os quais deveriam atender somente os seguintes critérios de inclusão: (i) serem trabalhos elaborados por autores/as brasileiros/as; (ii) utilizarem referenciais teóricos e metodológicos da terapia ocupacional social e (iii) reportarem-se ao público da população em situação de rua.

Foram investigados de maneira sistematizada os seguintes periódicos: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional (CadBTO), Revista de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo (RTO) e Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional (REVISBRATO). Inicialmente, foram encontradas doze produções. Após a aplicação dos critérios de inclusão, o levantamento foi finalizado com seis artigos para apreciação.

Findada a busca e a leitura desses seis materiais, pretendeu-se reconhecer as discussões, experiências e práticas produzidas pela área da terapia ocupacional social para e com a população em situação de rua, além de reconhecer as tecnologias sociais utilizadas para desenvolvimento das ações práticas.

Ainda com esse objetivo e a partir do levantamento bibliográfico, foi realizada a segunda etapa dessa fase: o diálogo com terapeutas ocupacionais referências na área. Pretendia-se, inicialmente, conversar com os/as dois/duas autores/as mais recorrentes nas publicações encontradas, ou seja, aqueles/as que mais se debruçaram na investigação, experiência e divulgação de conhecimento dessa vertente de atuação na profissão. Porém, visto que, dos/as cinco autores/as identificados/as no levantamento, quatro deles/as haviam publicado um único artigo, utilizou-se como parâmetro para a escolha do/a segundo participante a análise do Currículo Lattes, em que se buscou identificar e quantificar outras publicações e participações em pesquisas que se assemelhavam à temática.

O convite para a participação nesta pesquisa foi enviado via e-mail. A obtenção dos endereços de e-mails dos/as participantes se deu através do próprio Currículo Lattes deles/as e do contato disponibilizado nos artigos selecionados. Obtivemos o aceite de dois/duas autores/as. Após a sinalização de aceite para a participação, foi enviado, também via e-mail, o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).

Os diálogos se deram através de entrevistas semiestruturadas, realizadas em ambiente virtual, tendo em vista a inviabilidade de realização em diferentes localidades do Brasil. Cada uma delas teve duração de aproximadamente 40 minutos, em que pretendeu-se buscar informações, relatos sobre experiências e dialogar a respeito das tecnologias sociais mais utilizadas para o desenvolvimento de ações junto à população em situação de rua. As entrevistas foram gravadas e transcritas em sua íntegra para análise posterior.

Fase 2: Reconhecimento das tecnologias sociais

A segunda fase consistiu no reconhecimento das tecnologias sociais utilizadas pela extensão Dinâmicas do território no trabalho junto à população em situação de rua.

Para tanto, optou-se pela realização da leitura dos diários de campo coletivos escritos pela equipe de extensionistas, correspondentes ao período de onze meses: de janeiro até dezembro de 2022. Esse material foi disponibilizado pela coordenadora do projeto e descreve a trajetória de ações da extensão durante o período de quase um ano. A escolha por esse período se deu a partir do fato de ter sido o ano com mais registros desde o começo do projeto, em 2020.

Teve-se como intenção identificar o uso das tecnologias sociais no escopo da ação cotidiana da extensão a partir das seguintes perguntas: Como foi feita a aproximação com a população em situação de rua? Quais estratégias são utilizadas para abertura de diálogo e acompanhamento singular? Como são desenvolvidas as articulações com profissionais e equipamentos da rede socioassistencial?. O objetivo foi apreender o cotidiano daquele território, da realidade social em questão, das experiências e das tecnologias utilizadas. A autorização para a realização dessa etapa se deu mediante a assinatura do termo de anuência por parte da coordenadora do projeto.

Para apreciação e análise das informações coletadas nas duas fases anteriores, foi utilizada a Análise de Conteúdo de acordo com a técnica da análise temática. Procurava-se núcleos de sentido a partir da presença e frequência dos assuntos (Minayo, 2014). O processo foi feito em três etapas: 1) Pré-análise: escolha dos documentos a serem utilizados e a retomada dos objetivos propostos pela pesquisa; 2) Exploração do Material: fase classificatória na qual buscou-se categorizar expressões ou palavras significativas provenientes do conteúdo coletado; 3) Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação: última etapa na qual buscou-se interpretar todas as classificações realizadas (Minayo, 2014).

Por fim, as informações foram analisadas à luz dos referenciais teóricos incorporados ao longo do processo de pesquisa, principalmente, na fase inicial Apreensão das produções e práticas da terapia ocupacional social, na qual se buscou a ampliação do arcabouço teórico a respeito da temática investigada.

Fase 3: Reconhecendo a teoria na prática

A terceira e última fase se dedicou a apresentar e dialogar com os participantes da extensão Dinâmicas do Território a respeito dos resultados das análises realizadas nas fases anteriores. Participaram desta etapa cerca de oito estudantes extensionistas e a coordenadora do projeto. Visando ampliar as perspectivas e pontos de vista da atual prática da terapia ocupacional social com a população em situação de rua, foram realizados dois encontros com a equipe no formato de conversas coletivas. Segundo Pereira & Lopes (2016), as conversas coletivas têm a intenção de criar oportunidades e espaços de diálogo para que os colaboradores da pesquisa possam expressar como percebem e significam a realidade vivida singularmente, trazendo à tona a problematização a partir da escuta de si e do outro.

Os encontros foram realizados em formato híbrido, isto é, presencial e virtualmente, contemplando, assim, participantes que não puderam comparecer presencialmente. O primeiro encontro teve como objetivo apresentar o processo de pesquisa e seus desdobramentos, com descrição dos dados encontrados no levantamento, entrevistas e leitura dos diários de campo. O segundo encontro debruçou-se sobre a leitura do documento provisório referente ao relatório de pesquisa, com vistas a um maior aprofundamento da discussão e fomento a novas observações. Durante as conversas, foi continuamente fomentada a participação ativa do grupo, com espaços para comentários e perguntas. As duas conversas coletivas foram gravadas em áudio para posterior análise. A análise desse material colaborou para a revisão e aprofundamento dos resultados da pesquisa.

Os/as colaboradores/as da pesquisa tiveram suas identidades preservadas e aceitaram participar da pesquisa mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Além disso, a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de São Paulo, CAAE n.64454822.1.0000.5505.

Resultados e Discussão

A análise das três fases de produção de dados resultou em duas categorias: O que constam nas referências sobre terapia ocupacional social e população em situação de rua?, com ênfase na discussão sobre os artigos selecionados no levantamento; e Análise à luz do diálogo e do cotidiano prático: dimensões do trabalho da terapia ocupacional social, na qual foram analisadas as entrevistas, diário de campo e conversa coletiva.

O que constam nas referências sobre terapia ocupacional social e população em situação de rua?

O primeiro artigo selecionado data da década de 2000 (Lopes et al., 2005) e é a única publicação sobre o tema naquele período. Os demais artigos, cinco produções, foram publicados na década de 2010, em anos subsequentes a partir de 2014, demonstrando um leve aumento nos estudos acerca da população em situação de rua no bojo da terapia ocupacional social.

Na Tabela 1 são apresentados dados referenciais e as tecnologias sociais identificadas em cada um deles:

Tabela 1
Categorização dos artigos selecionados.

A primeira produção selecionada apresenta um relato de experiência de estágio em terapia ocupacional social e se debruça sobre a discussão da necessidade de continuidade na formulação de um aporte teórico que embase as ações da profissional com o público da população em situação de rua. Aborda ainda o repertório prático de intervenção da profissional na aproximação e construção de vínculo a partir, por exemplo, da escrita das trajetórias de vida. Segundo Lopes et al. (2005), os/as estagiários/as fizeram uso de atividades como um meio facilitador para a aproximação das pessoas e para o conhecimento de suas necessidades.

O artigo publicado em 2014 traz à tona o encontro como um instrumento da intervenção, baseando-se em uma construção coletiva, dialógica e horizontal, na qual tanto a profissional quanto os usuários do serviço de assistência social retratado interagiam, trocavam e reelaboravam entre si reflexões sobre suas necessidades cotidianas e contextos de vida. O artigo aponta a possibilidade da construção de espaços compartilhados que viabilizem este processo dentro dos serviços de proteção social especial para a população em situação de rua (Silva et al., 2014).

A produção de Bezerra et al. (2015) deriva de um estudo realizado com usuários de um albergue da rede pública de assistência social da cidade de Maceió, AL. Os autores se debruçam a esmiuçar pontos-chave que acarretam na vida nas ruas, ilustrados em três temas: a fragilidade ou ruptura dos laços de pertencimento como determinantes do desabrigo, as nuances da vida nas ruas, e a superação do desabrigo como uma (im)possibilidade. A partir desses elementos, o texto qualifica possíveis ações da terapeuta ocupacional social, indicando as tecnologias sociais já existentes. Além disso, sinaliza a importância de ações no campo da geração de renda, da construção de projetos de cuidado e da escrita das histórias de vida. Aponta também para as possibilidades de intervenção da profissional da terapia ocupacional no cargo de gestora do serviço de acolhimento.

Galvani et al. (2016) discorrem sobre o uso da etnografia como ferramenta de pesquisa e sua importância na interlocução entre pesquisadores e público participante. A produção dá seguimento à construção de uma atuação ética, horizontal e interessada não só no momento da pesquisa, mas também na atuação geral da terapeuta ocupacional social junto à população em situação de rua. O artigo qualifica o contato inicial e a abordagem da profissional com o público, além de sinalizar a importância das articulações com os movimentos sociais.

O artigo de 2017 apresenta um relato de experiência de estágio, em que se aborda a implementação de um projeto de ambiência realizado em um Centro de Referência Especializado de Assistência Social – População em Situação de Rua (CREAS – POP) na cidade de São Carlos, SP. Aborda como questão central a revitalização e reforma do espaço de convivência do equipamento e reflete sobre como o vínculo e identificação do usuário para com o serviço influencia em seu sentimento de pertencimento, contribuindo para a continuidade do processo de atenção e acompanhamento (Silva et al., 2017).

A última produção, Silva et al. (2018), apresenta a experiência de um projeto de extensão que atua com população em situação de rua, usuária de um CREAS – POP, na cidade de São Carlos, SP. O artigo relata estratégias de atuação da terapeuta ocupacional e utiliza da arte e cultura como elemento disparador, reflexivo e emancipatório para contrapor a lógica de reprodução das vulnerabilidades vivenciadas por esse grupo. Utiliza a tecnologia social oficina de atividade e relata a importância da escrita das histórias de vida como elemento da ação da profissional.

Em síntese, com relação às tecnologias sociais, identificou-se a importância da fundamentação teórica para amparar as ações da terapeuta ocupacional social com a população em situação de rua. A tecnologia social que mais apareceu foi Oficina de Atividades, Dinâmicas e Projetos, sinalizando a importância de uma aposta na coletividade, no processo e na presença, entendendo que a construção conjunta de trocas e debates significativos, mediada pelo fazer, é facilitadora para uma melhor compreensão das próprias necessidades e da elaboração de possíveis estratégias de atuação e enfrentamento de realidades vulneráveis.

Outra questão que ficou em evidência foram as ações que se voltaram às trajetórias de vida dos indivíduos e à sua escrita. Mostrou-se muito potente a estratégia de reelaborar o passado para poder, além do ato simbólico e político de marcar sua presença no mundo, reconduzir planejamentos e desejos futuros. A construção de projetos de cuidado foi uma outra ação bastante relatada nos artigos. Por fim, o enfoque de algumas produções na aproximação inicial evidenciou que esse momento é fundamental para a construção de uma relação de confiança, sendo a etapa que possibilitará quaisquer outras ações. Aponta-se, ainda, a necessidade da continuidade da teorização a partir da prática com esse público, visto que existe um repertório ainda pouco descrito nas produções a respeito desta temática.

Análise à luz do diálogo e do cotidiano prático: dimensões do trabalho da terapia ocupacional social

A análise das entrevistas, diários de campo e das conversas coletivas apresentou núcleos de sentido sistematizados em três categorias: O que precede a ação técnica: referenciais teóricos e postura profissional; O que auxilia as tecnologias sociais: estratégias e dimensões; e A ação técnica a partir das tecnologias sociais.

O que precede as tecnologias sociais: referenciais teóricos e postura profissional

A análise evidenciou posicionamentos que compõem o trabalho em terapia ocupacional social, porém precedem a ação técnica em si, podendo ser lidos tal qual a noção de dimensão trabalhada por Pan et al. (2022), como técnicas subjacentes que perpassam e efetivam as tecnologias sociais:

Nesse sentido, falar da ação técnica em terapia ocupacional social requer compreender os mecanismos que constroem os lugares sociais desses sujeitos e a forma pela qual são assimilados, para, assim, suscitar possibilidades de movimentação no tecido social por meio da criação de estratégias para o acesso a direitos básicos, para a articulação de recursos e para a ampliação da vida ( Melo & Lopes, 2023 , p. 20).

Nessa perspectiva de compreender as singularidades e nuances da vida cotidiana do público acompanhado e poder adequar a ação técnica, identificou-se a importância dada à compreensão dos referenciais teórico-metodológicos que serviram de base para o surgimento da terapia ocupacional social. Foram apontados autores como Franco e Franca Basaglia, Antonio Gramsci, Robert Castel e Jacques Donzelot, que embasaram a formulação e construção teórica da terapia ocupacional social. Além da menção nas entrevistas e conversas coletivas, de autoras do campo, como Roseli Esquerdo Lopes, Denise Dias Barros e Sandra Galheigo, que trabalharam na constituição e consolidação da área, conceituando elementos fundamentais para construção de seu raciocínio reflexivo. A terapeuta ocupacional 1 aponta:

Tem um horizonte, uma perspectiva de participação social, de cidadania, de direitos e sobretudo de reconhecer saberes plurais, nesse sentido, uma das coisas que, acho que [em] todos os textos da Denise [Dias Barros] ela fala sobre redimensionar a técnica (Terapeuta ocupacional 1).

O aprofundamento teórico por parte da terapeuta ocupacional social se apresentou como suporte para um posicionamento profissional perante as desigualdades vividas pelas populações vulnerabilizadas, com uma perspectiva não apenas para os desfechos da organização social atual, mas também para suas dinâmicas e origens. Entendeu-se que esse momento de assimilação teórica, que precede a ação técnica, colocou-se como primordial para garantir não só uma perspectiva crítica da terapeuta ocupacional em relação às relações de causa e efeito determinantes destas condições, mas também deu respaldo à profissional para sustentar estratégias, dimensões, ferramentas e tecnologias sociais debatidas na área, para uma real efetivação do trabalho em terapia ocupacional social.

Sobre a atuação com a população em situação de rua, foram indicados conceitos como: vulnerabilidade social e desfiliação de Robert Castel; circuito, trajeto e mancha de José Guilherme Cantor Magnani; e educação popular de Paulo Freire.

O posicionamento crítico, que também precede a ação técnica, contribui para o entendimento por parte da terapeuta ocupacional de como a profissão se coloca e se reconhece perante à sociedade, como foi mencionado pelos/as entrevistados/as e identificado nos diários dos extensionistas.

Pensar a terapia ocupacional de uma maneira mais crítica, que assume esse compromisso ético/político com a transformação da sociedade, mas que também, se configura a partir das próprias mudanças dessa sociedade. (Terapeuta Ocupacional 2).

A assimilação teórica auxilia o profissional a não apenas compreender e embasar a atuação no seu início, mas também durante todo o processo de trabalho, contribuindo e orientando a ação técnica. Durante as conversas coletivas, os/as participantes sinalizaram a importância constante da reflexão sobre teoria e prática realizada nos momentos de supervisão. Segundo eles/as, as sucessivas discussões sobre o vivido facilitaram a análise e proposição de novas ações perante as demandas observadas no território.

Portanto, a dimensão O que precede a ação técnica não se restringe ao conjunto de ações, recursos ou intervenções, mas diz respeito a uma postura profissional frente às contradições sociais, ao processo reflexivo entre o vivido e a teoria, e aos referenciais teóricos da área.

O que auxilia as tecnologias sociais: estratégias e dimensões

Nesta categoria, foram agrupadas as ações voltadas à realização e manutenção das tecnologias sociais, isto é, são componentes da ação técnica utilizados na atuação profissional em diversos momentos da relação com o público, contexto e território. Para a análise, utilizou-se de dois direcionamentos utilizados para embasar a ação em terapia ocupacional social: as estratégias da ação territorial-comunitária (Bianchi & Malfitano, 2022) e as dimensões transversais da intervenção terapêutica-ocupacional (Pan et al., 2022).

A estratégia horizontalidade e disponibilidade nas relações (Bianchi & Malfitano, 2022) apareceu de maneira recorrente nos materiais analisados. Identificou-se correlação desta estratégia com a tecnologia social oficinas de atividades, dinâmicas e projetos, sendo referida nos momentos de atenção, escuta, cuidado e abertura para criação de vínculos.

A estratégia esteve presente nas entrevistas e relatos da extensão, sendo apresentada não apenas em momentos de aproximação e construção de vínculo, mas também como facilitadora para o início dos acompanhamentos singulares e territoriais.

Pensar que uma das tecnologias tem a ver com essa possibilidade do encontro, né, e que esse encontro requer abertura de ambos, diálogos de quem se encontra (...). O instrumento era a relação, era estar no cotidiano e escutar as demandas, esse era o instrumento. (Terapeuta ocupacional 1).

Eu penso que a escuta é, sim, uma ferramenta técnica, né? No sentido de que é a pessoa em situação de rua, eu diria, que tem mais a ensinar a gente, né? Porque é ela quem vivencia o cotidiano na rua. (...) Então eu acho que a escuta nesse momento entra como uma ferramenta de trabalho fundamental para a gente poder pensar as estratégias de intervenções que sejam coerentes com o desejo das pessoas e com aquilo que tem significado para elas, né? (...) E a escuta, ela tem que estar presente ali o tempo inteiro, nessa relação dialógica, que é uma base ali, né, de pensar a TO Social que a gente vai pensando nesse cuidado e essa atenção a partir daquilo que é significativo para o outro (Terapeuta ocupacional 2).

Na atuação da extensão Dinâmicas do Território, foi possível também identificar a horizontalidade e disponibilidade nas relações. As passagens foram demonstradas nos diários de campo em momentos de apreensão das falas a respeito das histórias de vida e das estratégias de enfrentamento aos atravessamentos do cotidiano nas ruas. O trecho a seguir relata o início e a abertura para um momento de escuta, que surgiu após uma sinalização feita por uma das pessoas já acompanhadas pelo projeto:

Conversando com a Marcelle1 , ela apontou para uma moça que estava sentada por perto e disse que era pra conversar com ela porque ela precisava de ajuda, a moça correspondeu e então eu fui lá. O nome dela é Marta, e já de início ela mencionou que o marido [Rogério] morreu e que ela está com dificuldade de encontrar abrigo. Ela chegou a chorar (...). Disse que, de alguma forma, [eu] tentaria auxiliar ela nisso e tentei acalmá-la, ela continuou desabafando e falava muito do marido (Diário de Campo).

A territorialização, ferramenta bastante conhecida no âmbito do Sistema Único de Saúde e do Sistema Único da Assistência Social, estrutura-se a partir da importância de um trabalho com a população em situação de rua que busque o reconhecimento do contexto determinado pelo território no qual a ação acontece. A ação se dá a partir da circulação no território, sendo possível compreender as complexidades e singularidades que atravessam o contexto, identificando também se há e quais são as políticas públicas disponíveis, as estratégias de enfrentamento e as potências do território. Desdobra-se também na utilização de tecnologias sociais como: Acompanhamentos singulares territoriais, Articulação de recursos no campo social e Dinamização da rede de atenção, podendo ser um meio facilitador para a criação e adequação de políticas públicas.

A terapeuta ocupacional 1 citou, durante sua passagem por um projeto no município de São Paulo, que a circulação no território é uma ferramenta muito potente para o trabalho com o público.

Fazer junto os circuitos, entender para onde é que as pessoas vão, o que que faz sentido, qual é a potência, olhar para rua não só como falta, como ausência de redes, por exemplo, né, como isolamento, mas o que que é que as pessoas conseguiram produzir, na rua, em termos de relação e de potência que a gente pode dialogar (Terapeuta ocupacional 1).

Nos diários de campo, foi possível identificar em várias passagens essa compreensão das complexidades e singularidades que atravessam o indivíduo/coletivo e o território, posto que os principais objetivos do projeto de extensão, no decorrer da aproximação com a população em situação de rua, foi a compreensão dos funcionamentos e fluxos dos serviços, das estratégias de enfrentamento às violências vividas nas ruas, das relações de poder presentes no território e do manejo da vida cotidiana das pessoas acompanhadas.

Notou-se que a ação territorial-comunitária e o uso de suas estratégias auxiliam a profissional a uma maior compreensão do contexto cotidiano desse público, que tem as ruas como seu principal espaço de convivência e circulação. Assim, a partir dessa imersão, a profissional pode acessar e articular possibilidades de superação perante os atravessamentos diários vividos pela população que é extremamente violentada e marginalizada na sociedade.

Foram identificadas também algumas dimensões transversais: lidando com conflitos e gestão de projetos (Pan et al., 2022). Nos diários de campo, identificou-se o lidar com conflitos em passagens nas quais o papel dos/as extensionistas, por exemplo, era o de mediar situações conflitantes entre os sujeitos acompanhados e pessoas que compunham suas redes sociais de suporte ou equipamentos públicos que os assistiam. Um registro marcante foi quando a equipe, a partir da demanda originada por um dos sujeitos acompanhados, mobilizou-se para efetivar o contato do mesmo com seu irmão, residente em outro estado. O homem havia perdido o contato com o irmão há anos em decorrência de conflitos entre eles. Os extensionistas buscaram inicialmente solicitar o número telefônico através dos equipamentos CREAS – POP e Unidade de Saúde da Família. Após o insucesso por essas vias, o grupo teceu conversas com várias pessoas para mediar a reconciliação, iniciando por aquelas próximas ao sujeito acompanhado, para encontrar um contato telefônico e traçar a comunicação efetiva entre os dois.

Pan et al. (2022) descrevem o importante papel da terapeuta ocupacional como fomentadora, assessora e gestora de projetos junto aos públicos vulnerabilizados. Como exemplo da dimensão Gestão de projetos, identificou-se não só o próprio projeto de extensão Dinâmicas do Território, mas também a atuação da terapeuta ocupacional 1 em dois projetos junto à população em situação de rua, sinalizando a relevância da terapia ocupacional nessa frente de atuação.

Para além das estratégias e dimensões já nomeadas, foram identificadas duas que auxiliaram a efetivação das tecnologias sociais com a população em situação de rua. Foram elas: Escrita das trajetórias de vida e Construindo horizontes possíveis.

A Escrita das trajetórias de vida, identificada no levantamento bibliográfico, esteve presente nos relatos da extensão, relacionada ao registro das histórias de vida dos sujeitos acompanhados. Um desses registros foi o próprio diário de campo elaborado pelos extensionistas. No documento, os/as extensionistas compartilhavam relatos sobre os encontros com os sujeitos acompanhados e anotavam cada nova informação coletada, facilitando a compreensão sobre suas histórias de vida e a continuidade de acompanhamentos singulares e territoriais.

Além disso, os momentos de escrita demonstraram ter um papel fundamental na construção do vínculo entre estudantes e pessoas em situação de rua. Em determinadas passagens, foram identificadas tentativas de escritas individuais com algumas pessoas acompanhadas pelo projeto. Nota-se que essa estratégia auxilia no processo de aproximação e vínculo entre sujeito acompanhado e terapeuta ocupacional e possui um potencial reflexivo e emancipatório, no qual o sujeito pode reelaborar suas vivências e dar vazão a novas questões.

Construindo horizontes possíveis foi citada também em todos os materiais analisados. A estratégia diz respeito à ação de questionar, auxiliar e construir, junto aos sujeitos, novos projetos de vida e a manutenção de seus cotidianos. Foi relacionada pela terapeuta ocupacional 1 à utilização da tecnologia social acompanhamentos singulares territoriais, podendo desenrolar também na utilização da dinamização da rede de atenção ou da articulação de recursos no campo social.

Os diários de campo transpareceram que o projeto já tinha um vínculo consolidado e possibilitou a construção e reflexão sobre os desejos, planos e horizontes possíveis para a mudança (ou não) da realidade, e para organização e manutenção da vida, fortalecendo os próprios acompanhamentos singulares e territoriais. Além disso, identificou-se que um dos papéis desenvolvidos pelos extensionistas era justamente refletir em conjunto, construir e acompanhar os projetos de vida com pessoas acompanhadas.

Começamos a conversar perguntando como eles passaram esses dias em que não conseguimos estar [juntos] e o porquê de terem mudado de lugar – porque ali é um lugar mais tranquilo e eles preferem. Perguntamos sobre os planos que o Josinaldo disse ter para esse ano na última conversa que tivemos, de comprar uma van para vender ovos/verduras/legumes e ir para São Vicente conseguir um quartinho. Ele disse que não havia desistido, mas que percebeu que as coisas estão muito caras, que quer primeiro um quartinho para depois vender as coisas em frente (Diário de Campo).

Tecnologias sociais junto à população em situação de rua

As oficinas de atividades, dinâmicas e projetos foram identificadas no levantamento bibliográfico e nas entrevistas. A terapeuta ocupacional 2 ressaltou que idealização das oficinas devem acontecer a partir da construção conjunta com o público, partindo de algo que faça sentido para o cotidiano dos sujeitos, ou seja, para estruturar-se uma oficina de atividade deve-se compreender as demandas e interesses emergentes, algo que pode ser feito através das ferramentas apresentadas anteriormente como a territorialização e o horizontalidade e disponibilidade nas relações.

Eu acho que a oficina tem uma potência que de ser um espaço que a gente consegue identificar as demandas coletivas, mas também individuais para pensar, é, respostas também a partir de outras tecnologias (...). Mas como tem oficina de atividade, ela também é um espaço para a gente… porque apesar de ser grupal, a gente consegue identificar demandas individuais, que aí podem se encaminhar para a necessidade de um atendimento… que é um acompanhamento singular territorial, enfim, de uma dinamização da rede para suprir uma necessidade de um indivíduo específico (Terapeuta ocupacional 2).

O acompanhamento singular e territorial, como já mencionado, foi a tecnologia social mais utilizada pelo projeto de extensão. Por meio da presença e constância dos/as extensionistas no território, o grupo construiu relações de vínculo e confiança com pessoas e grupos, efetivando a tessitura de redes sociais de suporte, auxiliando na articulação com serviços e elaboração de projetos de vida.

Ainda na análise das ações da extensão, foi possível identificar que muitos acompanhamentos territoriais aconteceram de maneira coletiva. Os/as extensionistas se vincularam a diferentes grupos que, buscando proteção e criando uma rede de suporte nas ruas, gerenciavam estratégias de sobrevivência, trabalho e moradia de forma conjunta. Assim, a partir da relação com esses grupos, os/as extensionistas trabalhavam questões individuais e coletivas na relação entre eles. Durante a realização da fase 3 da pesquisa, a equipe sinalizou que o objetivo da utilização desta tecnologia social foi o de fortalecer o cuidado coletivo e problematizar e refletir, coletivamente, sobre violação e acesso aos direitos sociais

Na entrevista, os/as terapeutas ocupacionais falaram sobre a importância desta tecnologia para a atuação com a população em situação de rua, uma vez que a partir dela é possível pensar em questões relacionadas à construção de horizontes possíveis, articulação de recursos no campo social e à dinamização da rede de atenção.

Acompanhamentos individuais também, a gente produzia muitos acompanhamentos individuais, às vezes na T.O Social, quem tá de fora fala “ah, vocês não dão atenção para as pessoas” (risos) “e as singularidades?”, a gente fazia muitos acompanhamentos individuais e eles eram muito diversos (Terapeuta ocupacional 1).

O acompanhamento singular territorial, né? É fundamental no trabalho com a população em situação de rua. Porque é através desse conhecimento, dos espaços de circulação, onde essas pessoas conseguem acessar recursos, alimentação, higiene, enfim, para o atendimento às suas necessidades básicas, a gente pensar como que o terapeuta ocupacional também pode ser um facilitador do acesso a esses bens e recursos, né, que acabam transformando a vida na rua um pouco menos difícil, digamos assim (Terapeuta ocupacional 2).

Com relação à tecnologia social dinamização da rede de atenção, foram identificados vários momentos em que a articulação da rede foi realizada pelos/as extensionistas. Um ponto identificado na análise dos diários foi o uso da dinamização da rede para mediações e tensionamentos ao acesso aos direitos sociais e a garantia dos direitos humanos, em episódios como: busca ativa pelos serviços, articulações e contatos diretos com serviços e profissionais da rede, discussões de caso e orientações a respeito do funcionamento dos serviços e políticas públicas voltadas à população em situação de rua, contribuindo para um melhor fluxo e efetivação das políticas públicas.

A extensionista tirou uma foto da sua perna, com autorização do mesmo, e tentou articular com os serviços de saúde. Enviou a imagem e conseguiu delinear os cuidados com a profissional da policlínica do porto. Ele foi levado para lá e conseguiu uma vaga na casa de acolhimento (Diário de campo).

Sobre o último recurso e tecnologia social descrito por Lopes et al. (2014), articulação de recursos no campo social, identificou-se, no que se refere às atuações da extensão, articulações que viabilizaram a participação de extensionistas e pessoas em situação de rua nas Conferências Municipais de Assistência Social, fomentando a participação e auxiliando na locomoção para a atividade.

A tecnologia social também apareceu na conversa com os/as entrevistados/as, em indicações acerca da articulação com movimentos sociais e no fortalecimento da população em situação de rua no seu processo de enfrentamento às violências.

Depois tinham as singularidades, as pessoas do movimento social, então quem estava criando o movimento da população em situação de rua tinha uma demanda de apoio para a criação do movimento. (...) A liderança da população de rua, a demanda era fortalecer as reuniões, ajudar, divulgar as reuniões, ajudar as pessoas a chegarem nas reuniões, então era poder ter essa abertura também… quais eram os projetos que estão em jogo ali e como é que a gente ali, nesse encontro, pode fortalecer esses projetos (Terapeuta ocupacional 1).

O potencial do profissional em articular essas estratégias, em articular, por exemplo, construção de grupos e articulação com movimentos sociais. (...) Identificar questões de ordem coletiva e pensar juntamente com as próprias pessoas em situação de rua, né, uma mobilização, uma articulação desse grupo, né, e aí entra essa dimensão do movimento social, pra buscar coletivamente soluções para aquela problemática que é coletiva (Terapeuta ocupacional 2).

Segundo Almeida (2010), tecnologias sociais são adequações e/ou reelaborações de tecnologias já desenvolvidas no universo acadêmico, a partir da discussão e validação de suas efetividades diretamente com o meio social, na correlação entre diferentes saberes já dispostos e operados na sociedade, e no refinamento de possíveis estratégias de atuação de acordo com os diversos campos de saber. Partindo disso, com o reconhecimento dos núcleos de sentido na análise dos materiais e entendimento de que as tecnologias sociais são um repertório teórico-prático para a atuação das terapeutas ocupacionais sociais, o estudo identificou uma ação técnica que pode ser considerada como tecnologia social: Gestão de políticas públicas.

A ação Gestão de políticas públicas parte do reconhecimento do papel de articulador assumido pela terapeuta ocupacional social no trabalho junto à população em situação de rua e as suas referidas políticas públicas. Segundo Cruz et al. (2014, p. 315), profissionais de terapia ocupacional possuem habilidades que são características essenciais para o trabalho na gestão, como “lidar com as atividades humanas e as relações que dela derivam; além do manejo com grupos, a valorização do trabalho em equipe”. Nas entrevistas, foi mencionada que a terapeuta ocupacional social pode auxiliar na interlocução entre população em situação de rua/movimentos e gestão, na escuta do público para formulação de políticas públicas e na relevância do campo para coordenação de equipamentos do Sistema Único de Assistência Social:

Têm uma coisa que eu esqueci de falar, que eu também acho que é fundamental, que entra um pouco na escuta também, que é o trabalho do terapeuta ocupacional junto à gestão das políticas públicas, (...) esse profissional que pode, né, estar ocupando cargos de gestão e formulação de políticas públicas, a partir da escuta que faz dessa população para pensar serviços e políticas mais coerentes com a realidade dessas pessoas. (...) Então tem várias questões aí de planejamento também, das políticas públicas; que organiza serviços e critérios inadequados para essa população, que para mim tem a ver com a falta de escuta sobre o movimento social da própria população em situação de rua, né? E o terapeuta ocupacional é o profissional que pode fazer essa ponte, né, entre as necessidades desse sujeito, escutar essas pessoas e fazer, né, a ponte com a formulação, planejamento, a discussão das políticas públicas para que elas atendam de uma maneira mais efetiva as singularidades, né, dessa população, então, acho que isso também é uma dimensão importante da prática profissional (Terapeuta ocupacional 2).

Além disso, destaca-se também as contribuições no desenvolvimento de projetos de extensão universitários e pesquisas científicas que, em decorrência da atuação com o público, corroboram para uma efetiva produção de conhecimento a partir da apreensão da realidade e do contexto de vida deste grupo, o que podem auxiliar na construção e elaboração de políticas públicas mais fundamentadas e assertivas.

Conclusão

A pesquisa identificou que a área da terapia ocupacional social tem se dedicado e desenvolvido tecnologias sociais adequadas ao acompanhamento de pessoas em situação de rua, embora ainda haja poucas produções acadêmicas específicas a respeito da temática e público estudado.

Diante da complexidade do trabalho no campo social com a população em situação de rua e visando facilitar a compreensão e a condução do raciocínio profissional, o estudo sistematizou o aporte dos referenciais teóricos e a postura profissional crítica como elementos que precedem a ação técnica; listou estratégias e dimensões da ação terapêutica ocupacional na área social que auxiliam no desenvolvimento das tecnologias sociais; e, por fim, identificou, dentre as tecnologias sociais já nomeadas pela área, aquelas utilizadas junto ao público da população em situação de rua, sendo elas: Acompanhamentos singulares e territoriais, Articulação de recursos no campo social, Dinamização da rede de atenção e Oficinas de atividades dinâmicas e projetos; e a ação reconhecida pelo estudo como Gestão de políticas públicas, que contribui com o repertório prático da profissão junto à população em situação de rua.

Por fim, a pesquisa colocou em foco o debate a respeito do trabalho da terapia ocupacional social junto à população em situação de rua, entendendo a necessidade de fortalecimento desta temática no campo. Cabe ressaltar, ainda, as possíveis lacunas e limitações do estudo, como o fato de o recorte do levantamento bibliográfico ter sido restrito às revistas de terapia ocupacional, não abrangendo bases de dados e periódicos interdisciplinares que também publicam produções do campo; a limitação do tempo na realização do estudo, a restrição dos métodos para produção de dados, entre outros.

Aponta-se que a temática das tecnologias sociais é de grande relevância para área da terapia ocupacional social e há espaços e demandas para novos estudos, como, por exemplo, o diálogo com profissionais que atuam diretamente nos serviços do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Portanto, entende-se que é necessária uma continuidade das elaborações teóricas desta temática a partir de outras possibilidades e perspectivas, visando superar as barreiras aqui encontradas.

  • 1
    Os nomes são fictícios visando a preservação da identidade e sigilo dos participantes da extensão Dinâmicas do Território.
  • Como citar:
    Souza, G. V. S., Vasters, G. P., & Bianchi, P. C. (2025). Terapia ocupacional social e ação técnica junto à população em situação de rua: reconhecendo tecnologias sociais. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 33, e3952. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO404939521
  • Fonte de Financiamento
    O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.

Referências

  • Almeida, A. S. (2010). A contribuição da extensão universitária para o desenvolvimento de tecnologias sociais. In Rede de Tecnologia Social – RTS (Org.), Tecnologia social e desenvolvimento sustentável: contribuições da RTS para a formulação de uma política de estado de ciência, tecnologia e inovação (pp. 9-15). Brasília: Secretaria Executiva da Rede de Tecnologia Social (RTS).
  • Andrade, L. P., Costa, S. L., & Marquetti, F. C. (2014). A rua tem um ímã, acho que é a liberdade: potência, sofrimento e estratégias de vida entre moradores de rua na cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo. Saúde e Sociedade, 23(4), 1248-1261. http://doi.org/10.1590/S0104-12902014000400011
    » http://doi.org/10.1590/S0104-12902014000400011
  • Barros, D. D., Lopes, R. E., & Galheigo, S. M. (2007). Novos espaços, novos sujeitos: a terapia ocupacional no trabalho territorial e comunitário. In A. Cavalcanti & C. Galvão (Orgs.), Terapia ocupacional: fundamentação & prática (pp. 354-363). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
  • Bezerra, W. C., Firmino, G. C. S., Javarrotti, E. S., Melo, J. V. M., Calheiros, P. F. F., & Silva, R. G. L. B. (2015). O cotidiano de pessoas em situação de rua: rupturas, sociabilidades, desejos e possibilidades de intervenção da terapia ocupacional. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 23(2), 335-346. http://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAO0541
    » http://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAO0541
  • Bianchi, P. C., & Malfitano, A. P. S. (2022). Atuação profissional de terapeutas ocupacionais em países latino-americanos: o que caracteriza uma ação territorial-comunitária? Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 30, e3053. http://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoao23163053
    » http://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoao23163053
  • Cruz, D. M. C., Souza, F., & Emmel, M. L. G. (2014). Formação do terapeuta ocupacional para a gestão. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(3), 309-316. http://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i3p309-316
    » http://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i3p309-316
  • Galheigo, S. M. (2023). Terapia ocupacional social: uma síntese histórica acerca da constituição de um campo de saber e de prática. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 53-73). São Carlos: EdUFSCar.
  • Galvani, D., Barros, D. D., Pastore, M. D. N., & Sato, M. T. (2016). Exercícios etnográficos como atividades em espaço público: terapia ocupacional social no fazer da arte, da cultura e da política. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 24(4), 859-868. http://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoARF1004
    » http://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoARF1004
  • Lopes, R. E., Malfitano, A. P. S., Silva, C. R., & Borba, P. L. O. (2014). Recursos e tecnologias em terapia ocupacional Social: ações com jovens pobres na cidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(3), 591-602. http://doi.org/10.4322/cto.2014.081
    » http://doi.org/10.4322/cto.2014.081
  • Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2023). Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos. São Carlos: EdUFSCar.
  • Lopes, R. E., Palma, A. M., & Reis, T. A. M. (2005). A experimentação teórico-prática do aluno de terapia ocupacional no campo social: uma vivência com a população em situação de rua. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(2), 54-61. http://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i2p54-61
    » http://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i2p54-61
  • Maziviero, M. C. (2016). Entre a recuperação patrimonial e a questão da moradia: projetos de renovação urbana para o centro de Santos. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, 8(2), 181-196. http://doi.org/10.1590/2175-3369.008.002.AO02
    » http://doi.org/10.1590/2175-3369.008.002.AO02
  • Melo, K. M. M., & Lopes, R. E. (2023). Modos de vida, experiências trans e enfrentamentos: considerações para a ação técnica em terapia ocupacional social. http://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoao246532252
    » http://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoao246532252
  • Minayo, M. C. S. (2014). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde São Paulo: Hucitec Editora.
  • Pan, L. C., Borba, P. L. O., & Lopes, R. E. (2022). Recursos e metodologias para o trabalho de terapeutas ocupacionais na e em relação com a escola pública. In R. E. Lopes & P. L. O. Borba (Orgs.), Terapia ocupacional, educação e juventudes: conhecendo práticas e reconhecendo saberes (pp. 97-126). São Carlos: EdUFSCar.
  • Pereira, B. P., & Lopes, R. E. (2016). Por que ir à escola? Os sentidos atribuídos pelos jovens do ensino médio. Educação e Realidade, 41(1), 193-216. http://doi.org/10.1590/2175-623655950
    » http://doi.org/10.1590/2175-623655950
  • Silva, M. R., Costa, S. L., & Kinoshita, R. T. (2014). A interação na construção do sujeito e da prática da terapia ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 25(2), 111-118. http://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p111-118
    » http://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p111-118
  • Silva, C. R., Pinho, R. J., Martins, M. S., & Ricci, T. E. (2017). Revitalização como valorização dos usuários e da equipe: experiência no centro POP. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional – REVISBRATO, 1(5), 681-692. http://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto9710
    » http://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto9710
  • Silva, C. R., Silvestrini, M. S., Von Poellnitz, J. C., Almeida Prado, A. C. S., & Leite Junior, J. D. (2018). Estratégias criativas e a população em situação de rua: terapia ocupacional, arte, cultura e deslocamentos sensíveis. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(2), 489-500. http://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoRE1128
    » http://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoRE1128

Editado por

  • Editora de seção
    Profa. Dra. Daniela Tavares Gontijo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    24 Set 2024
  • Revisado
    03 Out 2024
  • Aceito
    08 Maio 2025
Creative Common - by 4.0
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/), que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
location_on
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Terapia Ocupacional Rodovia Washington Luis, Km 235, Caixa Postal 676, CEP: , 13565-905, São Carlos, SP - Brasil, Tel.: 55-16-3361-8749 - São Carlos - SP - Brazil
E-mail: cadto@ufscar.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Reportar erro