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Ação e formação da terapia ocupacional social com os jovens na escola pública1 1 Este texto é parte do trabalho de doutorado “Entrelaçando pontos – de fora para dentro, de dentro para fora: ação e formação da terapia ocupacional social na escola pública”, desenvolvido junto ao Programa de Pós-graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos, o qual integrou a proposta temática de pesquisa “Educação, Inclusão Escolar e Terapia Ocupacional: Perspectivas e Produções de Terapeutas Ocupacionais em Relação à Escola”.

Resumo

Tomando o pioneirismo do METUIA/UFSCar no cenário brasileiro quanto a proposições terapêutico-ocupacionais para a escola pública e às demandas advindas da questão social, esta pesquisa buscou compreender o que foi produzido pelo grupo em termos de ação e formação em terapia ocupacional social em escolas públicas, com foco na juventude popular urbana, num período compreendido entre 1998 e 2017. Para tanto, foram realizadas entrevistas com 10 terapeutas ocupacionais que atuaram pelo METUIA/UFSCar, um encontro coletivo com essas profissionais para discutir a temática, a aplicação de questionários com ex-estudantes de graduação que passaram por estágio profissionalizante junto ao METUIA/UFSCar e entrevista individual com setes deles. As análises dos resultados indicam uma proposta de formação que, de um lado, vem sensibilizando terapeutas ocupacionais para o trabalho com a juventude pobre, apreendendo a centralidade da escola pública para ela e, de outro, produzindo ações que buscam a ressignificação da escola e do seu espaço, com produção de sentido e pertencimento, que possam contribuir para o desejo de permanência e/ou retorno aos estudos desses jovens. Pontua-se a incorporação de seus referenciais teóricos e metodológicos nas experiências de trabalho daqueles que passaram pelo grupo, terapeutas ocupacionais e alunos egressos, assim como a inspiração para produções semelhantes em outras universidades do país. Conclui-se pela relevância do que vem sendo feito pelo METUIA/UFSCar, especialmente naquilo que é a formação de terapeutas ocupacionais e práticas que se voltem para demandas relacionadas à desigualdade social, que ainda é uma marca da Educação Básica no Brasil.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional, Juventude, Educação; Educação Básica, Inclusão Educacional

Abstract

The METUIA/UFSCar stands out in the Brazilian scene as the pioneer in therapeutic and occupational propositions to public school and the demands arising from the social issue. This research aimed to understand what was produced by this group in terms of action and training in social occupational therapy in public schools, focusing on urban popular youth, in a period between 1998 and 2017. Interviews were conducted with 10 occupational therapists who worked at METUIA/UFSCar, a collective meeting with these professionals to discuss the topic, application of questionnaires with former undergraduate students who did a professional internship at METUIA/UFSCar, and an individual interview with seven of them. The analysis of the results indicates a training proposal that sensitizes occupational therapists to work with the poor youth, apprehending the centrality of the public school for them and, at the same time, produces actions that seek to resignify the school and its space, with production meaning and belonging, which can contribute to the desire for permanence and/or return to the studies of these young people. It is indicated also the incorporation of its theoretical and methodological frameworks in the working experiences of those who went through the group, occupational therapists, and former students, as well as inspiration for similar productions in other universities in the country. It concludes by the relevance of what is being done by METUIA/UFSCar, especially in what is the training of occupational therapists and practices that address demands related to social inequality, which is still a hallmark of Basic Education in Brazil.

Keywords:
Occupational Therapy, Youth, Education; Education, Elementary and Grade School, Educational Mainstreaming

Introdução

Na intersecção entre os campos da terapia ocupacional e da educação, o grupo METUIA/UFSCar tem sido apontado como pioneiro, no cenário brasileiro, na proposição de práticas terapêutico-ocupacionais em escolas públicas com as juventudes, voltadas para as demandas advindas da questão social, pela perspectiva da terapia ocupacional social (Calheiros et al., 2016Calheiros, D. S., Lourenço, G. F., & Cruz, D. M. C. (2016). A atuação da terapia ocupacional no contexto escolar: educação inclusiva e perspectiva social. In J. L. Cavalcante Neto & O. O. N. Silva. (Orgs.), Diversidade e Movimento: diálogos possíveis e necessários (pp. 205-234). Curitiba: Editora CRV.; Pereira, 2018Pereira, B. P. (2018). Terapia Ocupacional e Educação: as proposições de terapeutas ocupacionais na e para a Escola (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.) e da história e sociologia da educação (Lopes, 2013Lopes, R. E. (2013). No pó da estrada. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 21(1), 171-186. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.022.
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).

Criado em 1998, o Projeto Metuia foi idealizado com a proposta de formar terapeutas ocupacionais que promovessem uma atuação voltada para as demandas sociais e a garantia de direitos das populações com as quais trabalha, numa perspectiva da indissociabilidade entre a ação técnica, ética e política, tendo se constituído como um grupo interinstitucional2 2 Atualmente, sob a denominação de Rede Metuia – Terapia Ocupacional Social, estão em funcionamento seis núcleos nas seguintes instituições de ensino superior: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade de Brasília (UnB) e o que integra as Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). de estudos, formação e ações pela cidadania de populações em processos de ruptura das redes sociais de suporte (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I., & Lopes, R. E. (2002). Terapia Ocupacional Social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i3p95-103.
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), voltado para o desenvolvimento de projetos no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão em terapia ocupacional social e em sua interconexão com diferentes setores (Lopes & Malfitano, 2016Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2016). Traçados teórico-práticos e cenários contemporâneos: a experiência do METUIA/UFSCar em terapia ocupacional social. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 297-305). São Carlos: EdUFSCar.).

Em 2004, o núcleo até então composto pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foi desmembrado, estruturando-se o METUIA/UFSCar, permanecendo o Programa de Extensão METUIA – Terapia Ocupacional Social, existente desde 2001 junto à Pró-Reitoria de Extensão da UFSCar, e dando corpo ao Laboratório METUIA do Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCar. Com isso, por meio da composição de uma equipe de trabalho formada por docentes, terapeutas ocupacionais e estudantes de graduação e pós-graduação, tem início a priorização deste grupo no desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão, articulados ao ensino prático em terapia ocupacional social, com foco nas juventudes3 3 Utiliza-se o termo juventudes, no plural, pela compreensão de que não existe somente uma juventude, mas uma série de grupos que se diversificam de acordo com a sua classe social, raça, gênero, cultura etc. Longe de tentar fracionar a grupo que compõe a faixa etária da juventude, busca-se visibilizar as diferenças que marcam a vivência desses sujeitos (Abramovay & Castro, 2015). (Lopes & Malfitano, 2016Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2016). Traçados teórico-práticos e cenários contemporâneos: a experiência do METUIA/UFSCar em terapia ocupacional social. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 297-305). São Carlos: EdUFSCar.).

Tomando-se sobretudo a juventude popular urbana, em sua maioria pobre, a escola pública e as políticas educacionais são fundamentais por, de um lado, serem uma das principais e poucas políticas públicas garantidas e voltadas para esse grupo e, de outro, pela centralidade da educação formal na nossa organização social, principalmente pelo seu enraizamento no imaginário social ser um dos únicos meios legais para as classes populares alcançarem posições sociais menos desfavoráveis (Lopes & Malfitano, 2016Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2016). Traçados teórico-práticos e cenários contemporâneos: a experiência do METUIA/UFSCar em terapia ocupacional social. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 297-305). São Carlos: EdUFSCar.).

Desde então, no âmbito da pesquisa, foram – e continuam sendo – realizados diversos projetos que lidaram/lidam com problemas importantes vivenciados por essa camada da população brasileira, sendo alguns deles focalizados nas questões relativas à escola pública.

No que tange à formação, particularmente à prática, o METUIA/UFSCar tem proposto uma série de ações de extensão universitária, as quais também têm se constituído como campo para o ensino profissional, levando em consideração a escassez de experiências direcionadas para a construção de espaços de participação democrática e ampliação das redes de sociabilidade e possibilidades para a juventude pobre. Ganham notoriedade, pelo tempo que ocorrem, as intervenções centradas em um bairro da região periférica da cidade de São Carlos – SP, mais especificamente em dois de seus equipamentos sociais, um centro da juventude e uma escola pública (Lopes & Malfitano, 2016Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2016). Traçados teórico-práticos e cenários contemporâneos: a experiência do METUIA/UFSCar em terapia ocupacional social. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 297-305). São Carlos: EdUFSCar.).

Partindo do pressuposto de que o acúmulo de experiências ao longo desses anos fornece subsídios para elaborações teóricas e metodológicas na correlação “terapia ocupacional social, escola e juventude”, este estudo buscou apreender o que foi e tem sido produzido pelo METUIA/UFSCar em suas propostas de ensino, pesquisa e extensão na e sobre a escola pública, quais têm sido seus resultados e, igualmente, quais suas contribuições tanto para a terapia ocupacional como para a educação.

Caminhos Metodológicos

Buscou-se uma apreensão histórica das propostas de ação e formação da terapia ocupacional social desenvolvida pelo METUIA/UFSCar em escolas públicas, debruçando-se sobre suas experiências e analisando o que foi produzido e o que se pode apontar como resultado desse trabalho, desde o seu início, em 1998, até 2017. Para tanto, lançou-se mão de diferentes estratégias procedimentais para a consubstanciação de fontes e composição do campo de pesquisa: documentos, entrevistas individuais, aplicação de questionários e realização de um encontro coletivo com parte das participantes e colaboradoras, como adiante discriminado.

Inicialmente, realizou-se o levantamento, na Plataforma ProexWeb/UFSCar4 4 Uma plataforma on-line que registra e pela qual são gerenciadas as atividades de extensão universitária na UFSCar. , dos projetos de extensão universitária que implicaram ação terapêutico-ocupacional (Tabela 1) na e/ou em relação com a escola pública, seus respectivos relatórios e das profissionais que atuaram como terapeutas ocupacionais nesses projetos (Tabela 2), bem como, junto à secretaria da Coordenação do Curso de Graduação em Terapia Ocupacional da UFSCar, dos alunos que passaram por estágios profissionalizantes no METUIA/UFSCar.

Tabela 1
Projetos de extensão desenvolvidos pelo METUIA/UFSCar em relação com a educação e escola pública entre 1998 e 2017.
Tabela 2
Terapeutas ocupacionais que atuaram no METUIA/UFSCar, entre 2001 e 2017, em projeto(s) na e em relação à escola pública.

Durante o primeiro semestre de 2017, foram realizadas entrevistas em profundidade com cada uma dessas profissionais10 10 Com exceção de Lívia Celegati Pan, por sua implicação com a pesquisa. Não obstante, as experiências vivenciadas tanto profissionalmente quanto pela trajetória composta pela realização de estágio profissionalizante, extensão universitária e pesquisa junto ao METUIA/UFSCar foram consideradas, a fim de enriquecer o conjunto de dados e as discussões que se pretendeu fazer. , guiadas por um roteiro semiestruturado temático e pelo ritmo da conversa, sendo que eram pontuadas suas experiências profissionais junto ao METUIA/UFSCar relacionadas à escola pública, suas análises sobre as propostas do grupo e suas reflexões em torno das possibilidades de inserção profissional do terapeuta ocupacional em escolas públicas. Todas as entrevistas foram gravadas, transcritas e enviadas às colegas para conhecimento e possíveis correções e/ou acréscimos.

Posteriormente, foi realizado um encontro coletivo no âmbito do seminário “Propostas, Histórias, Construção e (Des)Encontros do METUIA/UFSCar na Escola Pública”, com o intuito de discutir o delineamento da terapia ocupacional social no setor da educação, a partir de narrativas e memórias dessas colaboradoras. Isto se deu em uma tarde de novembro de 2017, no Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCar, em um formato de grupo de discussão fechado e do qual participaram sete das onze terapeutas ocupacionais. Tal discussão se deu em seguida à apresentação de uma síntese e análise inicial dos dados advindos das entrevistas, acrescidos daqueles referentes ao levantamento da produção bibliográfica do METUIA/UFSCar em torno das temáticas terapia ocupacional e escola pública. Esse material foi debatido pelas terapeutas ocupacionais presentes, construindo-se consensos, a partir da análise prévia dos resultados trazidos, referentes aos seguintes eixos: propostas do METUIA/UFSCar para/com/na escola pública e com as juventudes; seus objetivos e especificidades; e resultados e possibilidades de inserção profissional de terapeutas ocupacionais junto às escolas públicas.

Paralelamente, foram enviados questionários11 11 Foram abordadas questões referentes à experiência de estágio profissionalizante junto ao METUIA/UFSCar, à avaliação em relação às propostas de ação e formação do METUIA/UFSCar, a possíveis contribuições para a formação, para o trabalho com as juventudes, para o pensar a escola pública enquanto espaço de atuação do terapeuta ocupacional e à atuação profissional desenvolvida no momento da colaboração com a pesquisa. on-line aos egressos de graduação em terapia ocupacional que realizam estágio profissionalizante junto ao METUIA/UFSCar, entre 200612 12 Primeiro ano de oferta desse tipo de estágio. e 2017, obtendo-se 42 retornos do universo de 89 egressos.

Após análise dos questionários respondidos, selecionaram-se sete desses ex-estudantes, sendo convidados aqueles que explicitaram no questionário o seu envolvimento, de acordo com suas atividades profissionais no momento da pesquisa, com escolas públicas e/ou com a subárea terapia ocupacional social, para, mais uma vez, colaborar com a pesquisa por meio da concessão de uma entrevista, que foram feitas entre o final de 2017 e início de 2019.

Estas entrevistas, como as anteriores, foram gravadas, transcritas e enviadas aos colaboradores, sendo que o Seminário foi registrado em audiovisual e igualmente transcrito; todos concordaram com a participação, assinando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, incluindo a sua identificação. Ainda, considerando-se a implicação das autoras com o objeto da pesquisa, cabe ressaltar o nosso embasamento nos referenciais etnográficos (Magnani, 2002Magnani, J. G. C. (2002). De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 17(49), 11-29. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69092002000200002.
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) para o exercício ético da transição entre o “dentro” e o “fora” da pesquisa para a coleta de dados e a produção das análises.

Por fim, os dados produzidos foram compilados, descritos e organizados em temáticas que emergiram desse conjunto, tomando-se a análise feita com base nos referenciais teóricos advindos dos fundamentos sócio-históricos da educação, em geral e no Brasil, da sociologia da educação e das juventudes e, também, da terapia ocupacional social. Esse processo levou à composição de categorias temáticas, a seguir apresentadas e discutidas, a saber: a centralidade da escola pública; objetivos e especificidades das propostas do METUIA/UFSCar na escola pública; sobre os resultados das ações; construções e perspectivas para a atuação de terapeutas ocupacionais em escolas públicas.

Resultados e Discussões

A centralidade da escola pública

As compreensões sobre a escola pública e o seu lugar nas propostas do METUIA/UFSCar compuseram as entrevistas com as terapeutas ocupacionais, emergindo entendimentos sobre a complexidade dessa instituição no Brasil e sua dupla dificuldade em corresponder aos anseios da sociedade, assim como, e principalmente, dos estudantes. Ao mesmo tempo, evidenciou-se também a centralidade desse equipamento na nossa estrutura social para aquilo que, de fato, possibilita e as contribuições da terapia ocupacional social para que todos tenham acesso a ele:

[...] o que eu acho que a gente tem como fio condutor, tem em comum, desde qualquer uma dessas experiências [do METUIA/UFSCar] é: qual é o significado da instituição escolar no cotidiano da vida destas crianças e adolescentes que permitirá uma maior inclusão e participação social destas pessoas? Se a escola for algo significativo, for algo que acrescente, algo que possibilite maior capital cultural para eles, a possibilidade de participação na vida social é outra, mesmo que isso seja apenas a alfabetização, mesmo que isso seja apenas a vivência de alguns anos na instituição escolar e o que se aprende com aquilo, mesmo que isso não signifique sucesso escolar no sentido da conclusão do ensino médio. Então eu acho que é esta questão que nos move, o significado da escola para inclusão social destas pessoas, a inserção na escola para essa participação social e esta inclusão passa [...] por aqueles que não estão na escola (Malfitano13 13 Optou-se por utilizar o sobrenome das colaboradoras quando em referência aos documentos produzidos na/pela pesquisa com a transcrição das entrevistas. Embora não sejam documentos de domínio público, estão disponíveis mediante contato com as pesquisadoras. , 2018, comunicação pessoal, p. 20-21).

O debate em torno do lugar da escola pública nas propostas do METUIA/UFSCar se tornou mais explícito durante o seminário “Propostas, Histórias, Construção e (Des)Encontros do METUIA/UFSCar na Escola Pública”, quando se discutiu sobre o início do desenvolvimento de ações pelo METUIA/UFSCar nesse tipo de instituição.

Durante esse encontro, um dos pontos de debate foi sobre o início de ações do METUIA/UFSCar junto às escolas públicas. A compreensão inicial entre as presentes demarcava o ano de 2005, quando do começo das atividades na cidade de São Carlos - SP. Entretanto, conforme se constatou com o levantamento dos projetos de extensão desenvolvidos e com parte das entrevistas, a escola foi desde seus primeiros tempos uma preocupação no Projeto Metuia. Foi assim no “Projeto Casarão – Centro de Cultura e Convivência da Celso Garcia”, em São Paulo - SP, realizado pelo núcleo USP/UFSCar e que formatou, em boa medida, as práticas terapêutico-ocupacionais sociais. E também no Projeto AFAGAI – abrigo e crianças/adolescentes em situação de rua” e no “Projeto In-Formar-Ação comunitária: escolas e PROGEN”, ambos realizados na cidade de Campinas – SP, em parceria com terapeutas ocupacionais desses serviços, formadas pelo METUIA/UFSCar, nos quais a escola pública igualmente foi objeto das intervenções, compreendida como um dos equipamentos sociais que compõem a rede de atenção à infância e juventude, embora não fosse um lócus específico de atuação, como passou a ser posteriormente.

Sobre isso, Roseli Esquerdo Lopes, coordenadora do METUIA/UFSCar, aponta que o recorte em torno da juventude pobre feito pelo grupo em 2005, trouxe a escola pública para o centro das ações; porém, também se enfatizou o quanto os serviços do setor da educação compunham a perspectiva de um trabalho comunitário e de fortalecimento das redes sociais de suporte desde o início das propostas interventivas do Projeto Metuia (Lopes, 2017, comunicação pessoal).

As redes sociais de suporte, conforme as formulações de Castel (1997Castel, R. (1997). As armadilhas da exclusão. In M. Belfiore-Wanderley, L. Bógus & M. C. Yaz-Beck (Orgs.), Desigualdade e a questão social (pp. 15-48). São Paulo: Educ., 2012Castel, R. (2012). As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes.), têm um importante papel na coesão social, sendo um dos eixos que, na análise do autor, em convergência com o eixo trabalho, configuram as zonas de inserção no tecido social: de integração, abarcando a situação de se ter um trabalho permanente com direitos garantidos e a existência de uma rede relacional sólida, que se pode mobilizar quando necessário; de desfiliação, no outro extremo, que conjuga ausência de trabalho e rede de relações; e, no intermédio, de vulnerabilidade social, decorrente da precariedade do trabalho e da fragilidade relacional.

Entende-se que o fortalecimento (ou a criação) dessas redes pode auxiliar no enfrentamento das situações de vulnerabilidade social e desfiliação. Além dos vínculos familiares, comunitários e coletivos, pode-se vislumbrar que os equipamentos sociais e seus profissionais, incluindo a escola pública, constituam-se como referências e suportes para os sujeitos.

Somado a isso, tem-se como outro objetivo da terapia ocupacional social a garantia dos direitos de cidadania (Lopes, 2016Lopes, R. E. (2016). Cidadania, direitos e terapia ocupacional social. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 29-48). São Carlos: EdUFSCar.), sendo a educação um dos direitos centrais para a cidadania, conforme colocado por Cury (2008)Cury, C. R. J. (2008). A educação básica como direito. Cadernos de Pesquisa, 38(134), 293-303.. Garanti-la deve ser uma das prioridades de profissionais que trabalhem com esse objetivo, em todos os seus níveis.

Também, durante o referido seminário, relembrou-se o início das atividades em escolas públicas em São Carlos, com os projetos “Oficina de Atividades e Projetos dos Meninos e Meninas Trabalhadores da UFSCar” e “Recriando Caminhos e Construindo Perspectivas: enfrentamento das violências urbanas entre adolescentes e jovens de grupos populares”, realizados entre 2005 e 2006, e a decorrente opção do grupo em focalizar suas ações na Escola Estadual “Dona Aracy Leite Pereira Lopes”.

Dentre outras possibilidades, essa escola, que havia sido parceria nos projetos referidos, foi identificada, conforme mencionado no encontro coletivo, como apresentando maiores demandas a serem trabalhadas, tendo em vista a sua localização em uma região periférica da cidade e estigmatizada por preconceitos, violência urbana e comércio ilegal. Frente às possibilidades da equipe para conseguir estar em um único espaço mais detidamente, essa escola e o seu território agregaram a maior parte das ações que se seguiram. As terapeutas ocupacionais rememoraram suas experiências nesta escola e as demandas colocadas pelos professores e pela equipe gestora de um trabalho que fosse voltado para os alunos mais “difíceis”, “bagunceiros” e/ou “com dificuldades de aprendizagem”.

A ampliação do acesso à escola pública, da forma precária como foi e tem sido feita em nosso país, sem o investimento necessário na sua qualificação e em outros setores da política social, trouxe demandas ligadas à desigualdade social, que a instituição tem demonstrado não ter sido preparada para lidar. Arroyo (2018)Arroyo, M. G. (2018). Outros sujeitos, outras pedagogias. Petrópolis: Editora Vozes. coloca que, em geral, as teorias pedagógicas foram pensadas para sujeitos para as quais até então se direcionam; na medida em que, nas palavras do autor, “Outros Sujeitos”, que não acessavam a escola passam a fazê-lo, trazem o questionamento das pedagogias utilizadas.

Esses Outros Sujeitos são aqueles que historicamente tiveram os seus direitos violados e o exercício da sua plena cidadania negado, ou seja, são os pobres. Tais sujeitos, ao acessarem a escola, carregam consigo suas identidades, valores, experiências sociais e culturais que, hegemonicamente, não apenas não são considerados pela pedagogia tradicional, mas são inferiorizados, vistos como sujeitos a serem civilizados e moralizados (Arroyo, 2018Arroyo, M. G. (2018). Outros sujeitos, outras pedagogias. Petrópolis: Editora Vozes.).

Uma atuação que se faça no sentido oposto, exige o reconhecimento desses Outros Sujeitos como sujeitos de direitos, com suas relações de valores, políticas, econômicas e culturais particulares, que trazem outras formas de pensar a educação, demandando Outras Pedagogias14 14 Um apontamento importante do autor é o fato de que esses Outros Sujeitos, em seus processos de luta pela ampliação dos seus direitos e de reconhecimento, engendraram e engendram a construção de Outras Pedagogias que deveriam ser valorizadas na docência. , que se voltem para a emancipação dos educandos (Arroyo, 2018Arroyo, M. G. (2018). Outros sujeitos, outras pedagogias. Petrópolis: Editora Vozes.).

Assim, tornam-se compreensíveis os pedidos da equipe escolar, para os quais, o METUIA/UFSCar, ao acolher essas demandas, de um lado, apresentou uma resposta técnica a um problema real e, de outro, possibilitou criação de vínculo com esta escola e o desenvolvimento de diversos projetos e ações, inclusive, ainda em curso, o que pode ser entendido como legitimação desse trabalho.

Sobre o desenho que se foi construindo, com a proposta de uma ação que fosse realizada dentro da instituição escolar, mas também fora dela, em articulação com outros equipamentos e serviços da rede de atenção a adolescentes e jovens daquele território, Patrícia avalia que:

[...] a gente estava ali pelos jovens [...] estar em diferentes espaços pra compor essa rede desses jovens, então acho que esse desenho também é muito assertivo no desenho da terapia ocupacional social [...] circulando na escola, no centro comunitário e no bairro [...]: articular ações na escola e no centro da juventude, de modo a ampliar e constituir rede de apoio para os jovens e em especial para os jovens que a gente acompanhava e estavam fora da escola ou tinham dificuldade em permanecer naquele espaço (Borba, 2017, comunicação pessoal, p. 12/13. Seminário).

Tais colocações e reflexões explicitam a proposta metodológica desenvolvida pelo METUIA/UFSCar para e em relação com a escola pública, naquilo que aqui vem sendo denominado como “de fora para dentro, de dentro para fora”, entrelaçando pontos da rede de atenção e cuidado de adolescentes e jovens pobres.

Durante a realização do seminário, pela dialogia do debate coletivo, pôde-se formular o consenso de que o foco e a prioridade do trabalho eram (e continuam sendo) os jovens, o que gerou a seguinte reflexão: seria, então, a escola apenas um contexto para a atuação do terapeuta ocupacional social?

Takeiti pontuou que, em certo sentido, sim, na medida em que estar na escola é uma estratégia para se alcançar os jovens (Takeiti, 2017, comunicação pessoal). Por outro lado, Lopes chama a atenção para a especificidade da instituição escolar e das suas formas de funcionamento que conformam a experiência dos jovens nesse espaço (Lopes, 2017, comunicação pessoal).

Analisa-se que ambos os pontos podem e devem ser considerados. A escola pública, dentro daquilo que foi e vem sendo empreendido pelo METUIA/UFSCar, pode ser considerada um contexto na medida em que, sendo este o local onde se concentra a maioria dos jovens brasileiros advindos das camadas populares e/ou pobres, realizar ações nessa instituição facilita o acesso a eles. Não obstante, pelas particularidades da instituição escolar, especialmente por sua contradição entre disciplinarização e produção de autonomia, ela se torna igualmente um lócus de atuação, ou seja, traz demandas específicas.

Conforme colocado por Dubet (2003)Dubet, F. (2003). A escola e a exclusão. Cadernos de Pesquisa, (119), 29-45., a escola não apenas sofre influências das estruturas excludentes da sociedade, mas também é, ela própria, agente de processos de exclusão para aqueles que não se adequam a seus ritmos e suas normas. Ao mesmo tempo, a centralidade da escola no imaginário social como o principal meio de mudança e ascensão social, sua relação fundamental com o desenvolvimento socioeconômico dos países, assim como um local de aprendizagem e preparação para a vida adulta, pode levar os jovens a buscar moldar seus comportamentos e seus desejos de acordo com as regras da instituição.

De modo ainda mais complexo no Brasil, há que se considerar a marca da desigualdade social que perdura em nosso histórico de não priorização, tal como necessária para superá-la, da Educação Básica, em termos de investimento, gestão e distribuição de recursos públicos, de modo a abarcar todos numa escola pública de qualidade, como ocorre em muitos outros países, inclusive da América do Sul, desde o final do Século XIX (Buffa, 2012Buffa, E. (2012). Estudos sobre a desigualdade escola no Brasil. In A. Ferreira Junior, C. R. M. Hayashi & J. C. Lombardi (Orgs.), A educação brasileira no século XX e as perspectivas para o século XXI (pp. 107-118). Campinas: Alínea.).

Outro ponto a ser ponderado acerca da conformação da vivência escolar é o seu lugar para sociabilidade das juventudes e na formação de suas identidades (Dayrell, 2007Dayrell, J. (2007). A escola faz juventudes: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação & Sociedade, 100(28), 1105-1128.). Ainda que a escola seja, em essência, um espaço coletivo, de relações grupais, o formato como suas atividades estão tradicionalmente estruturadas, com curtos espaços de tempo, não favorecem o fruir das relações, na medida em que não há incentivo para o encontro; ao contrário, a sua concretização é dificultada (Dayrell, 1996Dayrell, J. (1996). A escola como espaço sócio-cultural. In J. Dayrell (Org.), Múltiplos olhares sobre educação e cultura (pp. 4-11). Belo Horizonte: Editora UFMG.). Em contraposição e até mesmo em resistência, os jovens procuram a criação de outras formas de estarem nesse espaço que favoreçam a sociabilidade, imprimindo os seus próprios ritmos, com destaque para as “zoeiras”, muitas vezes já cultivada nos ambientes virtuais e fora da escola, mas que, em seus padrões disciplinares, não são consideradas no cotidiano escolar (Pereira, 2014Pereira, A. B. (2014). Funk ostentação em São Paulo: imaginação, consumo e novas tecnologias da informação e da comunicação. Revista de Estudos Culturais, 1-18.).

Em vista disso, avalia-se que as dinâmicas dessa organização institucional conformam demandas específicas que podem ser trabalhadas por terapeutas ocupacionais em parceria com gestores e professores, potencializando a criação de processos mais inclusivos, democráticos e participativos, de vivências significativas que auxiliem os jovens pobres em suas projeções de futuro e a ampliação por espaços de troca, sociabilidade e construção de suportes, inclusive para a própria equipe escolar.

Objetivos e especificidades das propostas do METUIA/UFSCar na escola pública

Os depoimentos das terapeutas ocupacionais apontam para diferentes tipos de objetivos das intervenções terapêutico-ocupacionais, desde mais específicos, que foram se moldando e se diversificando ao longo dos anos, conforme as propostas e demandas lidas pela equipe de trabalho e/ou trazidas pelas equipes escolares, o que foi delineando também os desenhos dos projetos de extensão, assim como objetivos mais gerais que orientavam tais propostas:

[...] trabalhava-se com os temas da aula, a professora de sociologia trazia temáticas e a equipe do METUIA [...] conseguia elaborar dinâmicas, sendo assim uma tentativa de um aprendizado diferenciado pra os alunos. Então a gente utilizava o conteúdo, mas de uma forma diferente [...] essa aproximação da linguagem do jovem com o conteúdo (Papini, 2017, comunicação pessoal, p.3.).

A escola achava que na oficina de teatro seria interessante, e era um aluno da escola que ia coordenar a oficina junto com a gente [...] tinha o objetivo [...] de participar dessas oficinas e ajudar [...] que elas acontecessem (Silva, 2017b, comunicação pessoal, p. 4.).

[...] o projeto tinha o objetivo de divulgar o ECA, e discutir, problematizar ele junto às crianças das escolas públicas [...] a gente fazia atividades com as crianças através de brincadeiras, dos recursos mais lúdicos pra que elas pudessem entender o ECA, a questão dos direitos, das garantias (Morais, 2017, comunicação pessoal, p. 4.).

Um dos objetivos gerais era estimular reflexões, assim como promover vivências que trouxessem os assuntos também para o nível do corpo, favorecendo a ampliação no que dizia respeito à criação de projetos de vida (Souza, 2017, comunicação pessoal, p. 3. ).

[...] esta reconstrução do sentido de ver voltar a estudar como uma perspectiva de futuro, um projeto de futuro, acho que esse é uma outra dimensão. Esta questão da rede, como a gente auxilia via o lugar que estamos, que não necessariamente é a escola, mas a instituição escolar no acolhimento de determinas demandas, na permanência [...] a criação de um espaço mais propício para o aprendizado [...] a discussão de direitos e cidadania [...] essa possibilidade de facilitar esse processo e criar um ambiente mais propício ou mais com sentido, com significado para o aprendizado (Malfitano, 2018, comunicação pessoal, p. 20. ).

Sobre os objetivos, gerais e específicos, das propostas do METUIA/UFSCar para a escola pública, durante a realização do seminário, quando se apresentou uma síntese dos depoimentos concedidos pelas terapeutas ocupacionais, houve consenso quanto ao fato de que todos aqueles que foram elencados comporem o rol de objetivos das ações, os quais seriam, em relação aos jovens: a garantia dos seus direitos, o fortalecimento daqueles jovens na direção da construção de vidas mais autônomas e com mais possibilidades de escolhas e participação, assim como a construção e articulação de redes sociais de suporte em torno deles. Especificamente em relação à escola pública, as profissionais apresentaram a compreensão de que as ações se voltam para a construção de um espaço mais inclusivo, dialógico e democrático na experiência cotidiana dos jovens, em uma atuação que se faz no trânsito simultâneo entre um cuidado15 15 Entende-se aqui como cuidado a oferta de apoio intenso para a manutenção da vida coletiva (Fine, 2005), com o propósito de tornar a sociedade mais democrática (Tronto, 2007). coletivo e individual.

Nesse sentido, as terapeutas ocupacionais também indicaram que as experiências do METUIA/UFSCar subsidiam um trabalho para a transformação e ressignificação do espaço escolar, elaborando formas mais democráticas de se construírem as relações, com espaços de trocas e socialização, criando estratégias para a promoção de um aprendizado dinâmico, de forma que os conteúdos se aproximem do universo juvenil, contribuindo no apoio junto a alunos e diferentes sujeitos da escola para a construção de propostas coletivas. Tais ações, na visão daquelas profissionais, contribuem para a criação do sentimento pelos jovens de pertencimento à instituição e para o fomento da participação dos jovens tanto no contexto escolar como fora dele, impactando positivamente a permanência escolar.

Os depoimentos e as discussões coletivas revelam, portanto, uma consonância dos discursos com as produções bibliográficas feitas pela equipe do METUIA/UFSCar e amplamente divulgada (Pan & Lopes, 2020Pan, L. & Lopes, R. E. (2020). Terapia ocupacional social na escola pública: uma análise da produção bibliográfica do METUIA/UFSCar. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(1), 207-226. https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1760.
https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1...
).

Quanto à especificidade do trabalho da terapia ocupacional social em escolas públicas desenvolvido pelo METUIA/UFSCar, houve conformidade na compreensão em relação à aplicação prática deste referencial teórico-metodológico, fazendo-se alusão ao que fundamentava o modo como eram pensadas e criadas as intervenções terapêutico-ocupacionais:

[...] essa criação do que fazer, em termo do recurso, essa criação e que nem é uma coisa tão diferente, da dinâmica ou de projetos, de projetos interdisciplinares, do teatro, de projetos mais coletivos dentro da escola e agregar pessoas, agregar parceiros para fazer essas ações, isso é bem, não sei se é nosso, não é nosso específico, mas eu acho que isso é bem forte na nossa formação, da terapia ocupacional social enquanto preocupação (Borba, 2017, comunicação pessoal, p. 14-15. ).

Esse e outros depoimentos nos remetem às colocações de Lopes & Malfitano (2016)Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2016). Traçados teórico-práticos e cenários contemporâneos: a experiência do METUIA/UFSCar em terapia ocupacional social. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Orgs.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 297-305). São Carlos: EdUFSCar. sobre os objetivos do METUIA/UFSCar em relação à produção de metodologias de intervenção para o trabalho com as juventudes, que possam ser incorporadas e apreendidas por profissionais, particularmente terapeutas ocupacionais, no trabalho com essa população, em diferentes espaços, inclusive em escolas, considerando suas especificidades.

Tem destaque a preocupação com as atividades elaboradas de forma que possibilitem a aproximação e vinculação com os sujeitos, identificação de demandas, criação de espaços de convivência e participação e, naquilo que são os embasamentos de Paulo Freire (Freire, 2011Freire, P. (2011). Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra.), produção de processos de conscientização (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I., & Lopes, R. E. (2002). Terapia Ocupacional Social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i3p95-103.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

A análise das entrevistas revelou também um consenso no entendimento em relação à especificidade de uma proposta de trabalho voltado para as demandas sociais, como exemplificado nos excertos a seguir:

[...] eu começo por comparação. Eu não estou lá para fazer inclusão. Se a gente pensar strictu sensu, inclusão do menino que tem alguma problemática específica dentro do contexto escolar, então eu olho para a dimensão do jovem, eu olho para as questões sociais (Takeiti, 2017, comunicação pessoal, p.9. ).

[...] especificamente com a terapia ocupacional social, eu acredito que tenha essa relação de poder pensar esse todos para além daqueles que têm questões específicas das deficiências, dos problemas, problemas que muitas vezes são invisíveis também dentro da escola [...] com as questões próprias da pobreza, das desigualdades e com todo esse cotidiano que vem junto com isso para dentro da escola, para dentro, para fora, que está nesse entorno, enfim (Silva, 2017a, comunicação pessoal, p.11. ).

Identificamos, portanto, uma convergência no que se refere a um trabalho que se desenvolve em uma perspectiva diferente da Educação Especial, na direção de que a demanda trabalhada se dá, especificamente, pela condição de vulnerabilidade social a que as pessoas estão submetidas e as implicações disso para a efetivação dos seus direitos de cidadania e sua participação social. Isso não significa que jovens com deficiência não sejam sujeitos-alvo das ações da terapia ocupacional social; ao contrário, nas escolas públicas, compõem o grupo em situação de vulnerabilidade social e, possivelmente, com limitação na participação social.

Os depoimentos e as colocações das terapeutas ocupacionais, indicam, ainda, uma discordância com o fato de que se produz ou não uma ação de inclusão. Estes apontamentos são pertinentes, tendo em vista que as produções bibliográficas do grupo não fazem uma referência direta à Educação Inclusiva, tampouco à Educação Especial (Pan & Lopes, 2020Pan, L. & Lopes, R. E. (2020). Terapia ocupacional social na escola pública: uma análise da produção bibliográfica do METUIA/UFSCar. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(1), 207-226. https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1760.
https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1...
). Porém, se nos pautarmos por uma compreensão de que a Educação Inclusiva é uma proposta que se volta para a construção de uma escola inclusiva para, de fato, todos (Bueno, 2014Bueno, J. G. S. (2014). Educação especial brasileira: questões conceituais e atualidade. São Paulo: EDUC.), deve-se pensar em como incluir todos que estão excluídos dela ou, como discutido por Buffa (2012)Buffa, E. (2012). Estudos sobre a desigualdade escola no Brasil. In A. Ferreira Junior, C. R. M. Hayashi & J. C. Lombardi (Orgs.), A educação brasileira no século XX e as perspectivas para o século XXI (pp. 107-118). Campinas: Alínea., aqueles que mesmo frequentando a instituição escolar são, de alguma forma, excluídos dos processos escolares, o que envolve alunos com deficiência, mas não apenas.

Se as ações do METUIA/UFSCar se voltam para o acesso e a permanência na escola pública de crianças e jovens que apresentam dificuldades por razões relacionadas à situação de vulnerabilidade social que vivenciam, isto é, voltadas para a exclusão desse público da e na escola, podemos considerar que tais ações se coadunam com a perspectiva da Educação Inclusiva, entendida no seu escopo como um todo, o que não é corrente na terapia ocupacional.

Uma discussão necessária é sobre a diferenciação entre Educação Especial e Educação Inclusiva, que, no Brasil, por vezes, têm sido colocadas como sinônimos (Mendes, 2010Mendes, E. G. (2010). Breve histórico da educação especial no Brasil. Revista Educación y Pedagogía, 57(22), 93-109.), também nas produções advindas da terapia ocupacional (Pereira, 2018Pereira, B. P. (2018). Terapia Ocupacional e Educação: as proposições de terapeutas ocupacionais na e para a Escola (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.). Não obstante, se há um alinhamento com a Educação Inclusiva, pela análise das produções textuais de relatos de experiência e dos desenhos dos projetos de extensão, podemos considerar ademais que as propostas do METUIA/UFSCar a extrapolam, uma vez que não se limitam à instituição escolar, como trazido por algumas terapeutas ocupacionais em suas entrevistas, como exemplificado: “Pensar em ações que atinjam os jovens e que eles tenham interesse de verdade, pra que as suas experiências saiam da escola também e possam ir para as famílias, possam ir pro território” (Morais, 2017, comunicação pessoal, p. 13).

É, dessa maneira, uma proposta de trabalho que busca a articulação entre o “dentro” e o “fora” da escola, entrelaçando pontos de apoio entre a instituição escolar e a comunidade e seu território e demais equipamentos sociais. Essa relação dentro-fora permite conhecer a realidade vivida pelos jovens em seus diferentes espaços de vida, dando subsídios para fomento e fortalecimento de suas redes sociais de suporte, seus projetos de futuro, bem como a criação de estratégias que os auxiliem a acessar e permanecer na escola.

Outro objetivo das ações do METUIA/UFSCar, pontuado pelas terapeutas ocupacionais, é a formação de profissionais capacitados para o trabalho com a juventude pobre e/ou de grupos populares, pautado pela questão social16 16 Toma-se como referência a compreensão de Castel (2012) sobre questão social, para quem essa pode ser definida como o resultado da contradição entre capital e trabalho. , e que compreendam a escola pública como uma instituição central para essa população, de forma geral e não apenas para aqueles com deficiências.

O reconhecimento dos jovens enquanto sujeitos de direitos, para os quais é necessária a formulação de políticas sociais específicas é fato recente no Brasil e, ainda que já se tenha conseguido alguns avanços, persiste o estigma negativo, particularmente com os jovens pobres, em razão dos índices de violência a eles relacionados (Abramovay & Castro, 2015Abramovay, M., & Castro, M. G. (2015). Ser jovem no Brasil hoje: políticas e perfis da juventude brasileira. Cadernos Adenauer, 15(1), 13-16.).

Pode-se apontar a importância das ações desenvolvidas pelo METUIA/UFSCar com a juventude popular urbana e a formação de profissionais sensibilizados para a atuação com esse público, sendo reconhecida pelos estudantes egressos, em seus depoimentos, a partir das vivências no estágio profissionalizante, como ilustrado a seguir:

Antes do estágio no METUIA, eu não tinha experimentado trabalhar com jovens. Sabia das possibilidades de trabalho da terapia ocupacional com idosos, crianças, mulheres, etc... mas não com jovens. O METUIA me possibilitou tornar-me muito mais sensível e preparada para trabalhar com essa população, mesmo que seja em um contexto além do trabalho na escola pública (Documentos da Pesquisa, colaboradora 3017 17 Os depoimentos identificados como colaborador/colaboradora são advindos do questionário on-line e puderam ser respondidos de forma anônima. . Questionário).

[...] o estágio pôde proporcionar técnicas de aproximação com os jovens e com suas realidades de vida, bem como a compreensão de questões que perpassam a questão social, seus processos de vulnerabilização, dentre outros aspectos (Documentos da Pesquisa, colaborador 4. Questionário).

Em resposta ao questionário on-line, no geral, os ex-alunos apontam a ampliação da leitura das possibilidades de atuação do terapeuta ocupacional em escolas públicas a partir de um embasamento que não se faz pelos referenciais da saúde e nem voltado para a inclusão escolar de crianças e adolescentes com deficiências, mas que evoca a participação social dentro e fora da escola. São ilustrativos os seguintes comentários:

O trabalho da terapia ocupacional nas escolas historicamente, como sabemos, foi construído pelo olhar para a deficiência: as dificuldades de acesso e mobilidade, adaptações para melhor desenvolvimento do aluno. Os estágios no Metuia permitiram entender um outro posicionamento (tão importante quanto) do terapeuta ocupacional enquanto facilitador de discussões e empoderamento dos jovens, de mediador entre os diferentes setores, de propor oficinas e atividades que causem transformação e aproximação com assuntos relevantes vistos na escola ou da atualidade, tanto com os jovens como profissionais da escola (Documentos da Pesquisa, colaboradora 11. Questionário).

[...] acredito que o trabalho da terapia ocupacional no campo da educação deva ser a de articulador social, em defesa dos direitos da cidadania, garantindo acesso, permanência e qualidade de ensino a todos (Documentos da Pesquisa, colaboradora 10. Questionário).

Um dos objetivos centrais do METUIA/UFSCar tem sido a formação de profissionais comprometidos ética e politicamente com as demandas com as quais lida, problematizando a responsabilidade do técnico ou, com base nas ideias de Basaglia (1986)Basaglia, F. (1986). O homem no pelourinho. Educação & Sociedade, 25(1), 73-95., do mandato social do técnico na sociedade.

Se a terapia ocupacional é uma profissão que se volta para a participação social de pessoas que, por diversos motivos, apresentam restrições para que ela se efetive, o compromisso ético e político desses profissionais deve se dar nesse sentido. Porém, uma participação social plena só se faz, de fato, com a garantia dos direitos sociais no âmbito da cidadania, de acordo com as formulações de Marshal (1967)Marshal, T. H. (1967). Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar., ou seja, só se pode falar em participação social em conjunto com a garantia dos deveres e direitos de uma cidadania plena.

Defende-se, portanto, que a formação em terapia ocupacional como um todo deve abarcar essa complexidade de saberes, uma vez que a luta pela garantia dos direitos e da participação social deve ser colocada para toda a área.

Além disso, uma proposta de formação de terapeutas ocupacionais “por dentro da escola”, em que o profissional em formação tenha a experiência da especificidade dessa instituição, das suas dinâmicas e dos ritmos, com o aprofundamento dos aportes teóricos adequados ao campo, podem contribuir para que este técnico tanto pense esta instituição como um local de trabalho e/ou de realizações de intervenção quanto para o desenvolvimento de uma prática mais contextualizada.

Sobre os resultados das ações

Assim como nos apontamentos anteriores em torno dos objetivos das ações do METUIA/UFSCar na/para/sobre a escola pública, os resultados são trazidos em diferentes sentidos, como elucidado nas entrevistas com as terapeutas ocupacionais:

[...] o que eu via muito de resultado era uma ressignificação do sentido, e até de sentido da vida, parece uma coisa muito filosófica, mas não é, muitos ali falavam sobre isso, o quanto aquele espaço tinha um significado pra eles, e o quanto até que isso permite rever outras coisas na vida. Buscar outras coisas, acreditar no potencial deles (Amador, 2017, comunicação pessoal, p. 6.).

Eu acho que do ponto de vista mais individual, a gente pode apontar que a gente consegue trabalhar com uma ideia de ampliação do acesso, do direito, para aqueles estudantes que estão lá [...] uma outra forma de você trabalhar com conscientização e [...] como você olha para a educação de uma forma a trazer a consciência, do seu lugar social, do próprio lugar social daquela escola, daquelas pessoas, do seu grupo [...]. É lógico que a gente gostaria de uma transformação social que fosse para todos, [...] mas também é um tocar individual, mesmo acreditando que a força é pelo coletivo, mas é isso, eu preciso de indivíduos potencializados para que esse coletivo aconteça, de fato produza outras coisas, então para mim aí é a nossa maior contribuição: um olhar, uma ação, uma reflexão que eu não sei se muita gente faz (Silva, 2017a, comunicação pessoal, p.13-14. ).

Durante o encontro coletivo e o debate a respeito do que se produz a partir das intervenções e do que se pode inferir de resultados, após a apresentação da síntese dos dados e das análises iniciais, as terapeutas ocupacionais concordaram sobre os impactos alcançados ficarem numa dimensão subjetiva e mais associados à vida dos jovens do que com a própria instituição, mas que influenciam na sua relação com a escola. Nessa direção, pontuaram que intervenções criam espaços de pertencimento, para os jovens se apropriarem dos seus direitos, pensarem, ampliarem e mudarem seus projetos de futuro, possibilitam processos de discussões, reflexões e conscientização, que contribuem para a produção de sentido na escola e para a educação.

Tais análises, embora não possam ser, até aqui, mensuradas, são indicativos do trabalho de terapeutas ocupacionais em relação com escolas públicas.

De acordo com a última Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, realizada em 2016, 24,8 milhões de jovens entre 14 e 29 anos não frequentavam a escola e/ou não haviam passado por todo o ciclo educacional, sendo as justificativas mais recorrentes estarem trabalhando ou em busca de um emprego, falta de interesse e necessidade de afazeres domésticos ou cuidado com terceiros (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2016Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. (2016). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio. Brasília: IBGE.), o que evidencia a importância de intervenções que se voltem para a ressignificação da escola e do seu espaço, bem como para o fomento do sentimento de pertencimento a ela, que podem resultar no desejo de permanência e/ou retorno aos estudos.

Em um país extremamente desigual, a conquista da conclusão dos ciclos da Educação Básica significa, ainda que não em uma relação direta, mas fundamental, a garantia dos direitos de cidadania, como também a possibilidade concreta de melhores condições de vida, tendo em vista que a conclusão do ensino médio é requisito mínimo para muitos postos de trabalho.

Os resultados aqui trazidos indicam a possibilidade de contribuição da terapia ocupacional social em torno da permanência de jovens pobres na Educação Básica, que segue requerendo investimentos, no âmbito da educação, para além do acesso (Ferreira Junior & Bittar, 2006); não obstante, há que se ressaltar também a necessidade de investimento na qualidade do ensino, que passa por melhores condições de trabalho para os professores e de infraestrutura (Ferreira Junior & Bittar, 2006).

Outro ponto indicado pelos depoimentos são os processos de reflexão e conscientização que contribuem para a ressignificação do lugar da escola no cotidiano dos jovens, mas, para além disso, podem proporcionar experiências de participação social, dentro e fora da escola, e de emancipação.

Posto isso, faz-se necessário o investimento em outras pesquisas que se debrucem mais detidamente no ponto de vista dos profissionais parceiros e dos jovens participantes sobre as práticas terapêutico-ocupacionais em escolas públicas pela perspectiva da terapia ocupacional social.

No que tange aos resultados para a formação profissional, com base nas respostas obtidas pelos questionários, a absoluta maioria dos alunos que passou por estágio junto ao METUIA/UFSCar reconhece a importância dessa experiência para a sua formação profissional de modo mais geral. Em seus comentários, eles apontam as contribuições do estágio no que se refere à ampliação do entendimento da profissão para além do setor da saúde e à compreensão do campo social e das demandas oriundas da questão social, assim como à reflexão sobre o papel do técnico, de responsabilização com a demanda com a qual lida e ao entendimento do terapeuta ocupacional também como um agente político, como exemplificado a seguir:

Me possibilitou trilhar um caminho com mais sentido em minha vida profissional, levando em consideração as dimensões técnica, ética e política do terapeuta ocupacional (Documentos da Pesquisa, colaboradora 10. Questionário).

Me ensinou a fazer uma leitura crítica e contextualizada da terapia ocupacional em qualquer outra área de conhecimento e atuação (Documentos da Pesquisa, colaborada 20. Questionário).

O METUIA me deu a oportunidade de descobrir melhor o que significa cidadania, direitos e de encontrar estratégias de combate à desigualdade social. Minha experiência no METUIA foi fundamental para minha formação (Documentos da Pesquisa, colaboradora 30. Questionário).

Além da formação dos estudantes, as terapeutas ocupacionais ressaltaram a importância de suas experiências junto ao METUIA/UFSCar, como também proporcionando aprendizados a elas próprias:

Antes o contato que eu tinha era em uma reunião com o professor, discussão de caso, agora viver a escola, sentir o cheiro da escola, o som da escola, é diferente, então pra mim foi um desafio muito grande, e ao mesmo tempo muito legal, porque eu acho que o METUIA ele tem uma coisa do trabalho coletivo, então, pra mim foi uma experiência única, de poder pensar com os alunos [...], em uma relação mais horizontal, porque eu também estava iniciando neste campo [...], acho que eu trouxe muito mais comigo do que pude levar, hoje eu vejo isso, o quanto eu aprendi ali naquele espaço (Amador, 2017, comunicação pessoal, p. 5. ).

Como indicam algumas produções (Calheiros et al., 2016Calheiros, D. S., Lourenço, G. F., & Cruz, D. M. C. (2016). A atuação da terapia ocupacional no contexto escolar: educação inclusiva e perspectiva social. In J. L. Cavalcante Neto & O. O. N. Silva. (Orgs.), Diversidade e Movimento: diálogos possíveis e necessários (pp. 205-234). Curitiba: Editora CRV.; Pereira, 2018Pereira, B. P. (2018). Terapia Ocupacional e Educação: as proposições de terapeutas ocupacionais na e para a Escola (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.), o METUIA/UFSCar tem sido pioneiro no empreendimento de ações em escolas públicas pela perspectiva da terapia ocupacional social. É assim esperado que as terapeutas ocupacionais que estiveram vinculadas no início dessas elaborações, e que não tiveram essa formação prévia específica, sintam essa experiência profissional também como um processo formativo.

Desse processo, apresenta-se, ainda como um resultado, a incorporação dos referenciais teórico e práticos apreendidos tanto pelas terapeutas ocupacionais quanto pelos ex-alunos de graduação, em suas práticas profissionais posteriores.

Ressalta-se aqueles que, inseridos na docência, criaram outros núcleos da Rede Metuia–Terapia Ocupacional Social em diferentes universidades públicas do país18 18 Dentre as terapeutas ocupacionais e ex-alunos de graduação que passaram pelo METUIA/UFSCar, Patrícia Borba criou, em 2012, o núcleo UNIFESP, composto, atualmente, também pelas docentes Débora Galvani, Gabriela Pereira Vasters e Pamela Cristina Bianchi. Gustavo Artur Monzeli e Giovanna Bardi, docentes da UFES, em conjunto com a também docente Maria Daniela Côrrea de Macedo, criaram em 2014 um núcleo nessa universidade. Beatriz Prado Pereira e Iara Falleiros Braga, docentes na UFPB, criaram em 2018, em parceria com o docente Waldez Cavalcante Bezerra, da UNCISAL, um núcleo que congrega essas duas instituições. Por fim, ainda que não haja um núcleo da Rede Metuia na UFRJ, duas docentes dessa universidade, Monica Villaça Gonçalves, egressa do METUIA/UFSCar, e Beatriz Takeiti, que atuou como terapeuta ocupacional pelo METUIA/UFSCar, trazem em seus depoimentos a referência das propostas do METUIA/UFSCar para a elaboração dos seus projetos. , com destaque para os que se propõem à implementação de propostas que correlacionam terapia ocupacional social, juventudes e escola pública.

Para esses profissionais, esta reverberação se apresenta nas três dimensões de trabalho que compõem a universidade pública: ensino, pesquisa e extensão. Especificamente em relação à juventude pobre ou de grupos populares e à escola pública, tem destaque a proposição de ações que, de certa forma, replicam as experiências vividas junto ao METUIA/UFSCar.

Tais dados são indicativos de que os alunos de graduação em terapia ocupacional dessas universidades estão tendo a oportunidade de formação em terapia ocupacional social e com experiências em escolas públicas e/ou com oportunidades de sensibilização para essa temática, para além daquilo que vem sendo desenvolvido pelo METUIA/UFSCar.

Para as profissionais que estão inseridas em serviços de assistência, esta repercussão em suas práticas se manifesta em diferentes níveis: no pensar a escola pública como um espaço para promoção de intervenções com jovens, nas juventudes como grupo populacional específico para o qual é necessário se pensar políticas públicas, nos recursos e metodologias próprias que o trabalho com as juventudes requer e o modo como no METUIA/UFSCar se estruturam as relações entre os integrantes da equipe e desses com os sujeitos para os quais se voltam as ações.

O conjunto de dados apresentados evidencia as contribuições do METUIA/UFSCar tanto ao nível teórico, quando os profissionais incorporam os referenciais produzidos e utilizados pelo grupo em suas práticas, de intervenções e de ensino, quanto ao nível técnico-operacional, na criação, elaboração e desenvolvimento de projetos de extensão universitária, práticas formativas e nos serviços assistenciais, especialmente na utilização dos recursos e metodologias apreendidos a partir de suas experiências no METUIA/UFSCar, comprovando-se a possibilidade de replicação de suas metodologias de trabalho, até aqui elaboradas e nomeadas (Lopes et al., 2014Lopes, R. E., Malfitano, A. P. S., Silva, C. R., & Borba, P. L. O. (2014). Recursos e tecnologias em terapia ocupacional social: ações com jovens pobres na cidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(3), 591-602. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.081.
http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.081...
).

Construções e perspectivas para a atuação de terapeutas ocupacionais em escolas públicas

Um dos pontos de debate sobre a ação e formação da terapia ocupacional social em escolas públicas é em torno das possibilidades de inserção profissional. A respeito disso, as terapeutas ocupacionais trazem múltiplas e diferentes visões, passando da atuação em escolas e com diferentes públicos, não apenas jovens, à prática em outros equipamentos sociais, em interrelação com a escola, como exemplificado nestes depoimentos:

Acredito que a terapia ocupacional tem que compor a escola pública, tem que compor a equipe escolar, tanto na educação infantil, como na educação do ensino fundamental e ensino médio, eu acho que a gente tem muito a contribuir. As ações da terapia ocupacional na escola, ainda é muito voltado pra área da saúde, para as dificuldades de aprendizagem e inclusão, mas existem outros tipos possíveis de intervenção, como no âmbito social [...]. É preciso integrar a escola com a comunidade, a escola tem que ser sem muros, e isso é uma preocupação da terapia ocupacional pra escola pública (Papini, 2017, comunicação pessoal, p. 6.).

eu acho que tem mil possibilidades [...] se você for um terapeuta ocupacional que você está na ONG e você vai fazer alguma parceria com a escola [...] se você for de uma UBS e aí vai fazer a parceria com a escola [...] vai depender também do repertório do terapeuta ocupacional, então do lugar institucional e do repertório que o terapeuta ocupacional tem (Borba, 2017, comunicação pessoal, p.14.).

São diferentes vislumbres para essa atuação profissional, desde a composição da equipe escolar à articulação com este equipamento social a partir de outro serviço ou setor. Sendo assim, é uma ampla discussão sobre as possibilidades de contribuição do terapeuta ocupacional em escolas públicas e, particularmente, sob a perspectiva da terapia ocupacional social, com vistas à incorporação desse profissional ao setor da educação e/ou à elaboração de projetos em parcerias com essas instituições. Vários de nós temos proposto esse debate às nossas organizações coletivas, tal como aconteceu no Grupo de Trabalho Terapia Ocupacional e Educação no V Seminário Nacional de Pesquisa em Terapia Ocupacional, ocorrido na UNIFESP, em 2018, com o intuito de construir lugares comuns para área em sua correlação com o setor da educação, dada a complexidade decorrente de diferentes perspectivas coexistentes.

Conclusões

Esta pesquisa buscou compreender as propostas de ações em terapia ocupacional desenvolvidas pelo METUIA/UFSCar na e em relação à escola pública e de formação de terapeutas ocupacionais para a atuação nessas instituições e/ou que as considerem, quando da prática voltada para as juventudes, problematizando as contribuições da área e dos seus profissionais para aquilo que são as demandas relacionadas à vulnerabilidade social. Tais proposições visam produzir, fundamentalmente, intervenções terapêutico-ocupacionais que lidem com os sujeitos, individual e coletivamente, na busca pela transformação e ressignificação do espaço escolar, com formas mais democráticas de se construírem as relações, com a criação de espaços de trocas, socialização e de estratégias para a promoção de um aprendizado com substância humana, dinâmico, procurando uma aproximação dos conteúdos escolares com o universo juvenil e o apoio junto aos alunos e aos diferentes sujeitos da escola para a construção de projetos comuns. Simultaneamente, produz-se um cuidado e/ou acolhimento individual, com vistas ao fortalecimento dos sujeitos para participarem de modo mais efetivo e comprometido nos espaços e grupos em que estão inseridos. Salienta-se que essa concepção de ação só é possível com um trabalho de articulação dos serviços e equipamentos sociais e com a tessitura das redes sociais de suporte.

Paripassu, fomenta-se a formação de profissionais que se sensibilizem com a juventude pobre enquanto um grupo que, no bojo da questão social, deve ser considerado em seus diversos marcadores na luta que é, ao mesmo tempo, por redistribuição e por reconhecimento (Fraser, 2006Fraser, N. (2006). Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça numa era “pós-socialista”. Cadernos de Campo, 15(14-15), 231-239. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v15i14-15p231-239.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-913...
), com a oferta de repertório teórico e metodológico para uma atuação que se volte para suas demandas. Esse é um resultado muito significativo que se reflete nos depoimentos dos egressos dos estágios profissionalizantes no METUIA/UFSCar e para as terapeutas ocupacionais que nele atuaram profissionalmente, sobretudo, em ambos os casos, para aqueles que se inseriram em universidade públicas como docentes e têm como foco, em suas propostas de ensino, pesquisa e extensão, principalmente, adolescentes e jovens.

As experiências construídas por esses profissionais em seus locais de trabalho, tendo como embasamento suas vivências anteriores no METUIA/UFSCar, denotam que o engendramento de práticas terapêutico-ocupacionais em escolas públicas, pela perspectiva da terapia ocupacional social, expandiu-se para além desse grupo, significando, possivelmente, a ampliação desta proposta de formação em outras instituições.

Conclui-se, portanto, que as contribuições do METUIA/UFSCar se fazem no sentido não apenas de pautar o debate das demandas sociais para a terapia ocupacional, mas, substancialmente, na formação de terapeutas ocupacionais, com a produção de aportes para a prática profissional, especialmente no que se refere ao trabalho com as juventudes, com a escola pública e na articulação entre diferentes serviços com o setor educação.

Por fim, ressaltamos a coexistência de diferentes perspectivas teórico-metodológicas que embasam o delineamento de propostas para a atuação de terapeutas ocupacionais junto ao setor educação. Agregar contribuições a esse debate tanto no âmbito acadêmico quanto profissional é parte dos objetivos do conjunto de trabalhos que temos desenvolvido e do qual este estudo é um dos seus resultados.

Agradecimentos

Agradecemos às terapeutas ocupacionais que atuaram pelo METUIA/UFSCar e aos ex-estudantes de graduação que passaram por estágio profissionalizante junto ao grupo e que, em muito, contribuíram com esta pesquisa.

  • 1
    Este texto é parte do trabalho de doutorado “Entrelaçando pontos – de fora para dentro, de dentro para fora: ação e formação da terapia ocupacional social na escola pública”, desenvolvido junto ao Programa de Pós-graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos, o qual integrou a proposta temática de pesquisa “Educação, Inclusão Escolar e Terapia Ocupacional: Perspectivas e Produções de Terapeutas Ocupacionais em Relação à Escola”.
  • 2
    Atualmente, sob a denominação de Rede Metuia – Terapia Ocupacional Social, estão em funcionamento seis núcleos nas seguintes instituições de ensino superior: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade de Brasília (UnB) e o que integra as Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL).
  • 3
    Utiliza-se o termo juventudes, no plural, pela compreensão de que não existe somente uma juventude, mas uma série de grupos que se diversificam de acordo com a sua classe social, raça, gênero, cultura etc. Longe de tentar fracionar a grupo que compõe a faixa etária da juventude, busca-se visibilizar as diferenças que marcam a vivência desses sujeitos (Abramovay & Castro, 2015Abramovay, M., & Castro, M. G. (2015). Ser jovem no Brasil hoje: políticas e perfis da juventude brasileira. Cadernos Adenauer, 15(1), 13-16.).
  • 4
    Uma plataforma on-line que registra e pela qual são gerenciadas as atividades de extensão universitária na UFSCar.
  • 5
    Associação Fraterna de Apoio Global ao Adolescente e à Infância.
  • 6
    Projeto Gente Nova.
  • 7
    Considerou-se aqui o período de vinculação referido à coordenação das ações desenvolvidas pelo METUIA/UFSCar em campo. Destaca-se que grande parte dessas terapeutas ocupacionais já tinha outras vinculações anteriores com o METUIA/UFSCar, tais como bolsistas em projetos de extensão, iniciações científicas, participação em grupos de estudos e pós-graduação.
  • 8
    O Programa de Extensão Universitária (PROEXT) foi criado em 2003, pelo Ministério da Educação, com o intuito de apoiar, através de financiamento, as instituições de ensino superior públicas para o desenvolvimento de projetos e programas de extensão universitária que contribuíssem para a implementação de políticas públicas, com foco na inclusão social (BRASIL, s/d). Uma das possibilidades de aplicação dos recursos PROEXT era a contratação de técnicos. O último edital lançado pelo MEC ocorreu em 2015 para desenvolvimento das propostas em 2016.
  • 9
    Patrícia Borba ficou vinculada às práticas do METUIA/UFSCar na condição de terapeuta ocupacional até 2010, mas refere um período de transição, em que continuou dando apoio e vinculada ao campo de intervenção até o final de 2011.
  • 10
    Com exceção de Lívia Celegati Pan, por sua implicação com a pesquisa. Não obstante, as experiências vivenciadas tanto profissionalmente quanto pela trajetória composta pela realização de estágio profissionalizante, extensão universitária e pesquisa junto ao METUIA/UFSCar foram consideradas, a fim de enriquecer o conjunto de dados e as discussões que se pretendeu fazer.
  • 11
    Foram abordadas questões referentes à experiência de estágio profissionalizante junto ao METUIA/UFSCar, à avaliação em relação às propostas de ação e formação do METUIA/UFSCar, a possíveis contribuições para a formação, para o trabalho com as juventudes, para o pensar a escola pública enquanto espaço de atuação do terapeuta ocupacional e à atuação profissional desenvolvida no momento da colaboração com a pesquisa.
  • 12
    Primeiro ano de oferta desse tipo de estágio.
  • 13
    Optou-se por utilizar o sobrenome das colaboradoras quando em referência aos documentos produzidos na/pela pesquisa com a transcrição das entrevistas. Embora não sejam documentos de domínio público, estão disponíveis mediante contato com as pesquisadoras.
  • 14
    Um apontamento importante do autor é o fato de que esses Outros Sujeitos, em seus processos de luta pela ampliação dos seus direitos e de reconhecimento, engendraram e engendram a construção de Outras Pedagogias que deveriam ser valorizadas na docência.
  • 15
    Entende-se aqui como cuidado a oferta de apoio intenso para a manutenção da vida coletiva (Fine, 2005), com o propósito de tornar a sociedade mais democrática (Tronto, 2007).
  • 16
    Toma-se como referência a compreensão de Castel (2012)Castel, R. (2012). As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes. sobre questão social, para quem essa pode ser definida como o resultado da contradição entre capital e trabalho.
  • 17
    Os depoimentos identificados como colaborador/colaboradora são advindos do questionário on-line e puderam ser respondidos de forma anônima.
  • 18
    Dentre as terapeutas ocupacionais e ex-alunos de graduação que passaram pelo METUIA/UFSCar, Patrícia Borba criou, em 2012, o núcleo UNIFESP, composto, atualmente, também pelas docentes Débora Galvani, Gabriela Pereira Vasters e Pamela Cristina Bianchi. Gustavo Artur Monzeli e Giovanna Bardi, docentes da UFES, em conjunto com a também docente Maria Daniela Côrrea de Macedo, criaram em 2014 um núcleo nessa universidade. Beatriz Prado Pereira e Iara Falleiros Braga, docentes na UFPB, criaram em 2018, em parceria com o docente Waldez Cavalcante Bezerra, da UNCISAL, um núcleo que congrega essas duas instituições. Por fim, ainda que não haja um núcleo da Rede Metuia na UFRJ, duas docentes dessa universidade, Monica Villaça Gonçalves, egressa do METUIA/UFSCar, e Beatriz Takeiti, que atuou como terapeuta ocupacional pelo METUIA/UFSCar, trazem em seus depoimentos a referência das propostas do METUIA/UFSCar para a elaboração dos seus projetos.
  • Fonte de Financiamento

    Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) – Processo Nº 434490/2018-0. Apoio: CNPq – Processo Nº 311017/2016-9 (Bolsa PQ - Produtividade em Pesquisa) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código de Financiamento 001.

Referências

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Editado por

Editora de seção

Profa. Dra. Daniela Tavares Gontijo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    13 Jul 2020
  • Revisado
    15 Jul 2021
  • Revisado
    01 Dez 2021
  • Aceito
    21 Jan 2021
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