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Intervenção não farmacológica no manejo de delirium: uma revisão bibliográfica integrativa

Resumo

Introdução

O delirium é um quadro clínico complexo caracterizado por uma expressão neuropsiquiátrica de doença orgânica, em que o indivíduo apresenta súbita alteração da capacidade cognitiva, possíveis flutuações do sono, consciência e atenção. O tratamento do delirium deve ser realizado por meio de uma abordagem multicomponente e interdisciplinar.

Objetivo

Conhecer as intervenções não farmacológicas para o manejo de delirium por equipe multiprofissional e aquelas conduzidas especificamente pelo terapeuta ocupacional.

Método

Revisão bibliográfica integrativa da literatura indexada nas bases Lilacs, Pubmed, Scopus e Web of Science e SciELO sem recorte temporal.

Resultados

As intervenções visavam o empoderamento e a participação de todos os agentes envolvidos no tratamento do paciente com delirium. Destacaram-se estratégias voltadas para: o aumento da autonomia e da independência do paciente; adequação das condições ambientais, de modo a promover segurança, conforto, familiaridade e orientação temporal-espacial; adaptação da rotina para favorecer o ciclo sono-vigília; estimulação física, cognitiva e sensorial; melhora do desempenho ocupacional e estímulo à realização de atividades significativas; prescrição de recursos de tecnologia assistiva e terapias complementares, quando indicado; avaliação e monitoramento constante do paciente; controle da dor, de sintomas emocionais e de condições clínicas que predispõem ao delirium; melhora da comunicação do paciente e sua vinculação com a equipe e com a rede de apoio; e educação em saúde.

Conclusão

As intervenções visam à integralidade do cuidado e devem, portanto, ser realizadas pelos diferentes profissionais que componham a equipe, destacando-se o papel que os terapeutas ocupacionais exercem no gerenciamento do delirium.

Palavras-chave:
Delírio; Administração dos Cuidados ao Paciente; Terapia Ocupacional

Abstract

Introduction

Delirium is a complex clinical condition characterized by a neuropsychiatric expression organic disease, in which the individual has a sudden change in cognitive capacity, possible fluctuations in sleep, awareness, and attention. The treatment of delirium must be carried out using a multicomponent and interdisciplinary approach.

Objective

Learning about non-pharmacological interventions for the management of delirium by a multidisciplinary team and those conducted specifically by the occupational therapist.

Method

Integrative bibliographic review on Lilacs, Pubmed, Scopus and Web of Science database and SciELO.

Results

The interventions aimed at the empowerment and participation of all agents involved in the treatment of patients with delirium. We highlight strategies focused on: increasing patient autonomy and independence; adequacy of environmental conditions, promote safety, comfort, familiarity, and temporal-spatial orientation; adaptation of the routine to favor the sleep-wake cycle; physical, cognitive, and sensory stimulation; improving occupational performance and encouraging significant activities; prescription of assistive technology resources and complementary therapies, when indicated; constant evaluation and monitoring of the patient; control of pain, emotional symptoms and clinical conditions that predispose to delirium; improved communication of the patient and his bonding with the team and the support network; and health education.

Conclusion

Interventions aim at integrality of care and therefore, must be carried out by the different professionals that compose the team, highlighting the role that occupational therapists play in the management of delirium.

Keywords:
Delirium; Patient Care Management; Occupational Therapy

Introdução

O delirium é uma manifestação neuropsiquiátrica de doença orgânica, correspondente a um quadro clínico multifatorial caracterizado por um declínio agudo da capacidade cognitiva, podendo apresentar episódios de instabilidade nos níveis de atenção e consciência, além de confusões e pensamentos desorganizados (Oh-Park et al., 2018Oh-Park, M., Chen, P., Romel-Nichols, V., Hreha, K., Boukrina, O., & Barrett, A. M. (2018). Delirium screening and management in inpatient rehabilitation facilities. American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation, 97(10), 754-762. http://dx.doi.org/10.1097/PHM.0000000000000962.
http://dx.doi.org/10.1097/PHM.0000000000...
).

A prevalência do delirium na população geral é de cerca de 1-2%, no entanto, aumenta severamente em pessoas idosas, podendo chegar a 87% em casos de hospitalização (American Psychiatric Association, 2014American Psychiatric Association – APA. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed.). Além de a idade avançada se constituir como uma importante condição de risco, tem-se a hospitalização como principal fator precipitante do delirium, devido à grande variação ambiental e de rotina imposta (van Velthuijsen et al., 2018van Velthuijsen, E. L., Zwakhalen, S., Mulder, W. J., Verhey, F., & Kempen, G. (2018). Detection and management of hyperactive and hypoactive delirium in older patients during hospitalization: a retrospective cohort study evaluating daily practice. International Journal of Geriatric Psychiatry, 33(11), 1521-1529. http://dx.doi.org/10.1002/gps.4690.
http://dx.doi.org/10.1002/gps.4690...
). Ainda, condutas adotadas no ambiente hospitalar podem aumentar o risco do desenvolvimento de quadros de delirium, por exemplo, o uso de aparelhos de ventilação mecânica, imobilização e medicamentos sedativos (Balas et al., 2014Balas, M. C., Vasilevskis, E. E., Olsen, K. M., Schmid, K. K., Shostrom, V., Cohen, M. Z., Peitz, G., Gannon, D. E., Sisson, J., Sullivan, J., Stothert, J. C., Lazure, J., Nuss, S. L., Jawa, R. S., Freihaut, F., Ely, E. W., & Burke, W. J. (2014). Effectiveness and safety of the awakening and breathing coordination, delirium monitoring/management, and early exercise/mobility bundle. Critical Care Medicine, 42(5), 1024-1036. http://dx.doi.org/10.1097/CCM.0000000000000129.
http://dx.doi.org/10.1097/CCM.0000000000...
).

O delirium pode ser classificado como hiperativo, hipoativo ou misto, de acordo com o nível de atividade psicomotora apresentado pelo paciente. O subtipo hiperativo é o mais frequentemente reconhecido e o hipoativo o mais comum em idosos (American Psychiatric Association, 2014American Psychiatric Association – APA. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed.). A flutuação dos sintomas que caracterizam o delirium pode dificultar, além de seu diagnóstico, o estabelecimento de uma comunicação entre paciente e equipe, implicando assim a necessidade de implementar estratégias não farmacológicas (Rosen et al., 2015Rosen, T., Connors, S., Clark, S., Halpern, A., Stern, M. E., DeWald, J., Lachs, M. S., & Flomenbaum, N. (2015). Assessment and management of delirium in older adults in the emergency department. Advanced Emergency Nursing Journal, 37(3), 183-E3. http://dx.doi.org/10.1097/TME.0000000000000066.
http://dx.doi.org/10.1097/TME.0000000000...
).

Estudos apontam o manejo não farmacológico como importante forma de prevenção de casos de delirium, por meio de medidas ambientais e de suporte. O uso de fármacos pode ser posteriormente adotado, se necessário, como parte de uma abordagem multicomponente (Robinson & Eiseman, 2008Robinson, T. N., & Eiseman, B. (2008). Postoperative delirium in theelderly: diagnosis and management. Clinical Interventions in Aging, 3(2), 351-355. http://dx.doi.org/10.2147/CIA.S2759.
http://dx.doi.org/10.2147/CIA.S2759...
; Hipp & Ely, 2012Hipp, D. M., & Ely, E. W. (2012). Pharmacological and nonpharmacological management of delirium in critically ill patients. Neurotherapeutics: the Journal of the American Society for Experimental NeuroTherapeutics, 9(1), 158-175. http://dx.doi.org/10.1007/s13311-011-0102-9.
http://dx.doi.org/10.1007/s13311-011-010...
).

Segundo Morandi et al. (2019)Morandi, A., Pozzi, C., Milisen, K., Hobbelen, H., Bottomley, J. M., Lanzoni, A., Tatzer, V. C., Carpena, M. G., Cherubini, A., Ranhoff, A., MacLullich, A. J., Teodorczuk, A., & Bellelli, G. (2019). An interdisciplinary statement scientific societies for the advancement of delirium care across Europe (EDA, EANS, EUGMS, COTEC, IPTOP/WCPT). BMC Geriatrics, 19(1), 253. http://dx.doi.org/10.1186/s12877-019-1264-2.
http://dx.doi.org/10.1186/s12877-019-126...
, o tratamento do delirium deve se basear em uma abordagem interdisciplinar e multidimensional, envolvendo diferentes profissionais de saúde. Compreende-se que intervenções de Terapia Ocupacional reduzem os impactos da patologia e permitem ações com foco na prevenção (Tobar et al., 2017Tobar, E., Alvarez, E., & Garrido, M. (2017). Cognitive stimulation and occupational therapy for delirium prevention. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 29(2), 48-252. http://dx.doi.org/10.5935/0103-507X.20170034.
http://dx.doi.org/10.5935/0103-507X.2017...
; Álvarez et al., 2017Álvarez, E., Garrido, M. A., Tobar, E. A., Prieto, S. A., Vergara, S. O., Briceño, C. D., & González, F. J. (2017). Occupational therapy for delirium management in elderly patients without mechanical ventilation in an intensive care unit: a pilot randomized clinical trial. Journal of Critical Care, 37, 85-90. http://dx.doi.org/10.1016/j.jcrc.2016.09.002.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jcrc.2016.09...
; Herling et al., 2018Herling, S. F., Greve, I. E., Vasilevskis, E. E., Egerod, I., Bekker Mortensen, C., Møller, A. M., Svenningsen, H., & Thomsen, T. (2018). Interventions for preventing intensive care unit delirium in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews, 11(11), http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD009783.pub2.
http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD009...
).

Uma busca assistemática na literatura sugeriu escassez de estudos que enfatizam as intervenções não farmacológicas para o manejo do delirium. Neste contexto, conduziu-se uma revisão bibliográfica integrativa que objetivou conhecer intervenções não farmacológicas para o manejo de delirium por equipe multiprofissional, e verificar a atuação do terapeuta ocupacional com esta população.

Metodologia

A presente pesquisa foi desenvolvida nos moldes de uma revisão bibliográfica integrativa. Esta é o tipo mais abrangente de revisão, pois permite a inclusão de estudos experimentais, não experimentais e ainda a combinação de dados da literatura empírica e teórica (Whittemore & Knafl, 2005Whittemore, R., & Knafl, K. (2005). The integrative review: updated methodology. Journal of Advanced Nursing, 52(5), 546-553. http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2648.2005.03621.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2648.20...
). O trabalho foi conduzido conforme as seguintes fases: elaboração da pergunta norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados; e apresentação da revisão integrativa (Souza et al., 2010Souza, M. T., Silva, M. D., & Carvalho, R. (2010). Integrative review: what is it? How to do it? Einstein, 8(1), 102-106. http://dx.doi.org/10.1590/s1679-45082010rw1134.
http://dx.doi.org/10.1590/s1679-45082010...
).

O estudo foi desenvolvido por duas estudantes de graduação, sendo uma voluntária inscrita no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da USP (PIBIC-USP) e uma bolsista pelo Programa Unificado de Bolsas de Estudos para Apoio à Permanência e Formação de Estudantes de Graduação (PUB-USP) da Universidade de São Paulo.

Para a seleção dos artigos deste estudo, foram definidos como critérios de inclusão: artigos originais, de revisão da literatura ou de relato de experiência; com revisão pelos pares; em português, inglês e espanhol; indexados nas bases Lilacs, Pubmed, Scopus e Web of Science e SciELO; que se relacionavam com estratégias de intervenções não farmacológicas da terapia ocupacional ou de equipe multiprofissional voltadas à prevenção ou manejo de delirium; e artigos que reuniam população com diferentes condições clínicas, desde que uma delas fosse o delirium. Visando maior abrangência na busca, não se realizou filtros por ano de publicação nas bases de dados. Foram excluídos artigos que abordavam somente estratégias farmacológicas voltadas ao delirium ou a outras condições de saúde correlatas; estudos de avaliação e validação de instrumentos; editoriais, cartas, resumos expandidos e resenhas de livros.

Os descritores utilizados foram delirium e manejo, respectivamente em inglês, delirium e management, combinados com o operador lógico booleano “AND”. Na busca. especificou-se a necessidade de que o termo estivesse presente no título do artigo. Tal estratégia teve como finalidade encontrar materiais que abordassem como tema central o manejo do delirium. Com o objetivo de garantir que se encontrassem os artigos que versavam sobre as intervenções conduzidas especificamente pelo terapeuta ocupacional no delirium, e reconhecer se estas eram realizadas ou não em conjunto com outros profissionais, buscou-se complementar os dados da primeira busca realizando uma segunda. Esta incluiu o descritor “terapia ocupacional”, utilizado em inglês, “occupational therapy” combinado com “delirium” e “management” a partir do operador lógico booleano “AND”. Foram reproduzidos os mesmos procedimentos da primeira busca, com exceção de que a segunda foi realizada por tópico.

Os resultados obtidos em cada base foram exportados para o gerenciador de dados Start, ferramenta de gerenciamento bibliográfico desenvolvida pelo Laboratório de Pesquisa em Engenharia de Software (LaPES), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Inicialmente, realizou-se a seleção dos estudos encontrados com a leitura dos títulos, seus respectivos resumos e palavras-chave, de modo independente e cego por dois revisores, segundo os critérios de inclusão e exclusão. Os estudos selecionados nesta primeira busca foram lidos na íntegra para definição quanto à sua inclusão ou exclusão. Um terceiro revisor foi consultado quando houve divergências na seleção de artigos entre os dois revisores.

Os dados dos estudos da amostra final foram extraídos e sistematizados em quadros, conforme o protocolo Start. O rigor dos estudos selecionados foi analisado segundo o nível de evidência, em conformidade com a definição de Stillwell et al. (2010)Stillwell, S. B., Fineout-Overholt, E., Melnyk, B. M., & Williamson, K. M. (2010). Evidence-based practice, step by step: searching for the evidence.The American journal of nursing, 110(5), 41–47. https://doi.org/10.1097/01.NAJ.0000372071.24134.7e.
https://doi.org/10.1097/01.NAJ.000037207...
.

Resultados

A Figura 1 apresenta o fluxograma do processo de seleção dos artigos.

Figura 1
Fluxograma do processo de seleção dos artigos. São Paulo – SP, 2020. Fonte: Elaborado pelas autoras, 2020.

As características gerais dos artigos selecionados foram dispostas na Tabela 1.

Tabela 1
Características gerais dos artigos incluídos na revisão. São Paulo – SP, 2020.

Conforme os dados sistematizados, os artigos abordavam o manejo do delirium em diferentes populações: idosos (n=8), pacientes com doenças críticas (n=6), cuidadores de pacientes terminais (n=1), pacientes com câncer (n=1), profissionais de saúde (n=1) e população não especificada (n=7).

No que tange ao local de realização destes estudos, identificou-se: UTI (n=10), hospitais (n=4), instalações de reabilitação (n=1), departamento de emergência (n=1) e local não especificado (n=5). Ainda, 3 estudos apontaram que as estratégias para manejo do delirium poderiam ser aplicadas em mais de um local, sendo: UTI, instalações de cuidados a longo-prazo, cuidados paliativos e na comunidade (Kalish et al., 2014Kalish, V. B., Gillham, J. E., & Unwin, B. K. (2014). Delirium in older persons: evaluation and management. American Family Physician, 90(3), 150-158.); UTI, instalações de reabilitação e lares de idosos (Pozzi et al., 2020Pozzi, C., Tatzer, V. C., Álvarez, E. A., Lanzoni, A., & Graff, M. J. L. (2020). The applicability and feasibility of occupational therapy in delirium care. European Geriatric Medicine, 11(2), 209-216. http://dx.doi.org/10.1007/s41999-020-00308-z.
http://dx.doi.org/10.1007/s41999-020-003...
); e em qualquer espaço de cuidado, incluindo a atenção no domicílio (Irwin et al., 2013Irwin, S. A., Pirrello, R. D., Hirst, J. M., Buckholz, G. T., & Ferris, F. D. (2013). Clarifying delirium management: practical, evidenced-based, expert recommendations for clinical practice. Journal of Palliative Medicine, 16(4), 423-435. http://dx.doi.org/10.1089/jpm.2012.0319.
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).

Em poucos estudos foram apontadas limitações, sendo que em 17% essas se referiam à coleta de dados, e em 4% correspondiam a não mensuração da eficácia do protocolo de intervenção aplicado. Em relação às sugestões para estudos futuros, 54% explicitaram a necessidade de mais pesquisas relacionadas ao tema, 4% indicaram que a participação do usuário e seus familiares na construção do tratamento também deve ser abordada. Acrescenta-se que 21% dos artigos não indicaram limitações ou sugestões para novos estudos.

Uma questão abordada nos estudos se referiu ao delirium do subtipo hipoativo, o qual não é frequentemente identificado nas avaliações disponíveis para o diagnóstico de delirium ou está associado a um início tardio do tratamento. Infere-se que isto ocorra, pois, frequentemente, os pacientes com esse subtipo de delirium apresentam comportamentos apáticos, letárgicos e passíveis de confusão em decorrência de quadros de depressão, demência ou relacionados à sedação (Oh-Park et al., 2018Oh-Park, M., Chen, P., Romel-Nichols, V., Hreha, K., Boukrina, O., & Barrett, A. M. (2018). Delirium screening and management in inpatient rehabilitation facilities. American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation, 97(10), 754-762. http://dx.doi.org/10.1097/PHM.0000000000000962.
http://dx.doi.org/10.1097/PHM.0000000000...
; Meagher, 2001Meagher, D. J. (2001). Delirium: optimising management. BMJ, 322(7279), 144-149. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.322.7279.144.
http://dx.doi.org/10.1136/bmj.322.7279.1...
; van Velthuijsen et al., 2018van Velthuijsen, E. L., Zwakhalen, S., Mulder, W. J., Verhey, F., & Kempen, G. (2018). Detection and management of hyperactive and hypoactive delirium in older patients during hospitalization: a retrospective cohort study evaluating daily practice. International Journal of Geriatric Psychiatry, 33(11), 1521-1529. http://dx.doi.org/10.1002/gps.4690.
http://dx.doi.org/10.1002/gps.4690...
; Hipp & Ely, 2012Hipp, D. M., & Ely, E. W. (2012). Pharmacological and nonpharmacological management of delirium in critically ill patients. Neurotherapeutics: the Journal of the American Society for Experimental NeuroTherapeutics, 9(1), 158-175. http://dx.doi.org/10.1007/s13311-011-0102-9.
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; Hughes et al., 2012Hughes, C. G., Brummel, N. E., Vasilevskis, E. E., Girard, T. D., & Pandharipande, P. P. (2012). Future directions of delirium research and management. Best Practice & Research Clinical Anaesthesiology, 26(3), 395-405. http://dx.doi.org/10.1016/j.bpa.2012.08.004.
http://dx.doi.org/10.1016/j.bpa.2012.08....
). Diferentemente, os pacientes com delirium hiperativo frequentemente apresentam sintomas visíveis, como a agitação motora, sendo mais facilmente diagnosticados (Hipp & Ely, 2012Hipp, D. M., & Ely, E. W. (2012). Pharmacological and nonpharmacological management of delirium in critically ill patients. Neurotherapeutics: the Journal of the American Society for Experimental NeuroTherapeutics, 9(1), 158-175. http://dx.doi.org/10.1007/s13311-011-0102-9.
http://dx.doi.org/10.1007/s13311-011-010...
).

A Tabela 2 mostra os profissionais que compuseram as intervenções descritas nos artigos.

Tabela 2
Profissionais que compuseram as intervenções. São Paulo – SP, 2020.

Os profissionais mais citados nos estudos foram enfermeiros (n=21) e médicos (n=17), sendo que, desses, 16 artigos referem ambos. Em relação ao terapeuta ocupacional, dentre os 11 artigos que mencionaram esse profissional, apenas 7 descreveram sua atuação. Identificou-se que esses estudos abordavam a atuação da terapia ocupacional em conjunto com a fisioterapia.

A Tabela 3 mostra as intervenções não farmacológicas realizadas pela equipe multiprofissional no manejo do delirium, organizadas em categorias.

Tabela 3
Categorização das intervenções não farmacológicas de prevenção e manejo de delirium. São Paulo – SP, 2020.

Como observado na Tabela 3, o manejo do delirium é realizado por meio de diferentes intervenções, as quais são direcionadas ao paciente, à sua rede de apoio, à vinculação destes com a equipe e ao ambiente. Além disso, foram identificadas estratégias consideradas complementares e programas estruturados multicomponentes.

Terapia ocupacional

As intervenções realizadas pelo terapeuta ocupacional, descritas nos artigos, de modo uniprofissional ou em conjunto com outros membros da equipe, foram organizadas e dispostas na Tabela 4.

Tabela 4
Categorização das intervenções não farmacológicas de prevenção e manejo de delirium realizadas por terapeutas ocupacionais. São Paulo – SP, 2020.

O cuidado oferecido pelos terapeutas ocupacionais se concentrou em estratégias individualizadas que enfatizavam o desempenho ocupacional, a melhora das capacidades físicas e cognitivas, o posicionamento adequado, a realização de atividades significativas, o aumento da autonomia, satisfação e bem-estar, o estímulo à participação da família, a promoção da educação em saúde para favorecer a interação com o paciente, o manejo de fatores comportamentais e ambientais e os possíveis disparadores de estresse no paciente.

Discussão

Este estudo permitiu evidenciar estratégias não farmacológicas para o manejo do delirium, incluindo aquelas realizadas pelo terapeuta ocupacional. Identificamos que 80% dos estudos da amostra foram classificados como de baixa evidência científica. Observou-se descrições pouco elaboradas das intervenções não farmacológicas e falta de informações sobre quais profissionais são responsáveis por sua implementação.

Diferentes populações são abordadas nos estudos encontrados, porém, nem todos os autores especificaram a amostra para além de pessoas com delirium. Entretanto, vale colocar que, em maior número, os idosos foram citados como população-alvo das intervenções. Tal fato se mostrou relevante, considerando que as singularidades dos idosos devem ser acolhidas durante a hospitalização (Hammerschmidt & Santana, 2020Hammerschmidt, K. S. A., & Santana, R. F. (2020). Saúde do idoso em tempos de pandemia COVID-19. Cogitare Enfermagem, 25(1), e72849. http://dx.doi.org/10.5380/ce.v25i0.72849.
http://dx.doi.org/10.5380/ce.v25i0.72849...
).

Vale também destacar que a rotina do usuário internado é estruturada por protocolos clínicos assistenciais que influenciam as relações entre pacientes, equipe e serviço. No caso de um paciente hospitalizado com delirium, tais protocolos implicam uma despersonalização e dificuldade de apropriação pelo paciente de seu processo de cuidado. Além disso, a própria condição de hospitalização provoca um distanciamento do cotidiano e dos ambientes com os quais o paciente se identifica (Imanishi & Silva, 2016Imanishi, H. A., & Silva, L. L. (2016). Despersonalização nos hospitais: o estádio do espelho como operador teórico. Revista da SBPH, 19(1), 41-56.). Os resultados dessa pesquisa demonstram a necessidade de se debruçar sobre as tecnologias relacionais que envolvem a interação com o paciente no espaço assistencial, bem como sobre modificações do ambiente e de protocolos rígidos que predispõem ao delirium ou a seu agravamento.

Além disso, os resultados favorecem a reflexão sobre o subdiagnóstico relacionado aos diferentes tipos existentes de delirium, fator esse que implica diretamente o prognóstico e o tratamento prestado. Compreende-se que, nos quadros de delirium, os usuários pouco comunicativos, apáticos ou que não solicitam frequentemente a equipe no decorrer do tratamento podem receber menor atenção dos profissionais, que, por vezes, consideram-se desencorajados ou esquecem de interagir com o paciente (Alasad & Ahmad, 2005Alasad, J., & Ahmad, M. (2005). Communication with critically ill patients. Journal of Advanced Nursing, 50(4), 356-362. http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2648.2005.03400.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2648.20...
). Alguns estudos apontam ainda que a relação com pacientes não comunicativos pode gerar sentimento de frustração em profissionais atuantes no hospital (Happ et al., 2011Happ, M. B., Garrett, K., Thomas, D. D., Tate, J., George, E., Houze, M., Radtke, J., & Sereika, S. (2011). Nurse-patient communication interactions in the intensive care unit. American Journal of Critical Care, 20(2), e28-e40. http://dx.doi.org/10.4037/ajcc2011433.
http://dx.doi.org/10.4037/ajcc2011433...
). Assim, é possível inferir que o pouco feedback trazido pelos pacientes com delirium hipoativo influencie na interação destes com a equipe. Tal aspecto, muito possivelmente, impacta negativamente na qualidade da assistência ofertada, o que mostra a relevância do investimento em abordagens não farmacológicas para esses pacientes.

Desse modo, conforme apontado pelos estudos encontrados, torna-se importante considerar a comunicação entre equipe e paciente como uma estratégia não-farmacológica que auxilia no manejo do delirium. Indica-se que esta deva ser efetuada de maneira clara e efetiva, envolvendo um diálogo entre o profissional de referência e os outros membros da equipe. A comunicação entre paciente e equipe é fator determinante na qualidade do cuidado, de modo que é fundamental que o profissional de saúde desenvolva habilidades para compreender os aspectos comunicacionais verbais e não verbais do paciente (Kourkouta & Papathanasiou, 2014Kourkouta, L., & Papathanasiou, I. V. (2014). Communication in nursing practice. Materia Socio-Medica, 26(1), 65-67. http://dx.doi.org/10.5455/msm.2014.26.65-67.
http://dx.doi.org/10.5455/msm.2014.26.65...
).

A comunicação, tanto verbal quanto não verbal, permite identificar os conteúdos explícitos e implícitos que o sujeito deseja emitir. Somado a ela, a escuta implicada também se constitui como uma ferramenta essencial na área da saúde, e influencia as relações intersubjetivas entre equipe, paciente e família (Campos et al., 2019Campos, V. F., Silva, J. M., & Silva, J. J. (2019). Comunicação em cuidados paliativos: equipe, paciente e família. Revista Bioética, 27(4), 711-718. http://dx.doi.org/10.1590/1983-80422019274354.
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). Essas ferramentas, desse modo, favorecem a compreensão dos desejos e sentimentos de cada indivíduo em seu processo de adoecimento.

Identificou-se também pelos resultados que o tratamento do delirium deve enfatizar o protagonismo do indivíduo e de seus cuidadores na construção do plano de cuidados. Segundo Pinheiro & Guanaes (2011)Pinheiro, R. L., & Guanaes, C. (2011). O conceito de rede social em saúde: pensando possibilidades para a prática na estratégia saúde da família. Nova Perspectiva Sistêmica, 20(40), 9-25., ter uma rede social de apoio é importante para reforçar sentimentos de bem-estar e ampliar o suporte para o enfrentamento de crises. Nessa perspectiva, o envolvimento do usuário e familiares favorece sua participação ativa e apropriação sobre seu cuidado, contrapondo-se à medicalização do sofrimento (Tesser & Dallegrave, 2020Tesser, C. D., & Dallegrave, D. (2020). Práticas integrativas e complementares e medicalização social: indefinições, riscos e potências na atenção primária à saúde. Cadernos de Saúde Pública, 36(9), e00231519. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00231519.
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00231...
).

A complexidade envolvida na condição do paciente com delirium exige uma equipe interdisciplinar com comunicação constante e ações coordenadas. Nessa perspectiva, a equipe tem potencial para elaborar um trabalho em saúde em consonância com o princípio da integralidade e que considere os campos dos conhecimentos técnico, social e cultural (Ramos & Ferreira, 2020Ramos, L. O., & Ferreira, R. A. (2020). Sobre uma práxis interdisciplinar: aproximações e proposições conceituais. Revista Brasileira de Estudos Pedagogicos, 101(257), 197-216. http://dx.doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.101i257.4353.
http://dx.doi.org/10.24109/2176-6681.rbe...
).

Contudo, notou-se nos resultados desta pesquisa que as intervenções referentes ao gerenciamento do delirium, principalmente no ambiente hospitalar, encontram-se mais centralizadas nos profissionais médicos e enfermeiros. Esses, respectivamente, são os principais atores na implementação de estratégias farmacológicas e não farmacológicas. Entretanto, apesar de em menor número, outros profissionais foram identificados nos artigos, o que mostra a necessidade de investimento no trabalho em equipe para manejo desta condição complexa. Também vale destacar, neste manejo, as práticas integrativas e complementares que estimulam a participação dos pacientes em seus tratamentos, por se tratar da união de conhecimentos populares e especializados (Tesser & Dallegrave, 2020Tesser, C. D., & Dallegrave, D. (2020). Práticas integrativas e complementares e medicalização social: indefinições, riscos e potências na atenção primária à saúde. Cadernos de Saúde Pública, 36(9), e00231519. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00231519.
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00231...
).

A composição de uma abordagem multicomponente é frequentemente incentivada pelos autores que discutem o manejo do delirium. A atuação do terapeuta ocupacional colabora com a implementação de intervenções não farmacológicas, visto que enfatiza a ampliação da autonomia e independência dos usuários, o envolvimento de seus clientes em atividades significativas, o empoderamento dos usuários e seus familiares, e o gerenciamento de sentimentos que trazem sofrimento.

A abordagem do terapeuta ocupacional centrada no cliente implica estratégias adequadas a cada indivíduo. Nesta perspectiva, esta requer uma compreensão que considere as habilidades físicas e cognitivas do sujeito; seus contextos social, cultural e relacional; seu modo de existir singular; suas experiências subjetivas; seus valores e conhecimentos (World Federation of Occupational Therapists, 2010World Federation of Occupational Therapists – WFOT. (2010). Public statement: client-centredness in occupational therapy. London: WFOT. Recuperado em 29 de julho de 2020, de https://www.wfot.org/resources/client-centredness-in-occupational-therapy
https://www.wfot.org/resources/client-ce...
). Esta complexidade demanda a construção de um plano de cuidado conjunto, contrapondo-se à centralização do conhecimento na figura do profissional, e que favoreça a corresponsabilização da pessoa em seu próprio processo saúde-doença (Agreli et al., 2016Agreli, H. F., Peduzzi, M., & Silva, M. C. (2016). Atenção centrada no paciente na prática interprofissional colaborativa. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, 20(59), 905-916. http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622015.0511.
http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622015....
).

Apesar da evidente relevância da terapia ocupacional no manejo do delirium, apenas 45% dos artigos selecionados abordavam a atuação deste profissional. Destes, 16% citaram brevemente a presença da profissão na equipe de tratamento, normalmente em conjunto com práticas fisioterapêuticas, e 29% explicitaram quais intervenções eram realizadas pelo terapeuta ocupacional. Portanto, ainda existem poucos estudos que reúnem as intervenções específicas da terapia ocupacional e que apontam detalhadamente como estas são realizadas. Embora em número reduzido, esses artigos demonstram a importância desse profissional no tratamento do delirium.

Entende-se que os terapeutas ocupacionais que atuam em contextos hospitalares compreendem a relevância de seu trabalho e são engajados no que fazem. Porém, frequentemente enfrentam dificuldades na valorização de suas práticas pela equipe, com pouco reconhecimento e legitimação, experimentando sentimentos de invisibilidade (Galheigo & Tessuto, 2010Galheigo, S. M., & Tessuto, L. A. A. (2010). Trajetórias, percepções e inquietações de terapeutas ocupacionais do Estado de São Paulo no âmbito das práticas da terapia ocupacional no hospital. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(1), 23-32. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i1p23-32.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

Mas, vale reiterar que o manejo do delirium deva abordar os aspectos biopsicossociais do indivíduo com base em uma equipe interdisciplinar, baseada na integralidade e humanização do cuidado. Segundo Pozzi et al. (2020)Pozzi, C., Tatzer, V. C., Álvarez, E. A., Lanzoni, A., & Graff, M. J. L. (2020). The applicability and feasibility of occupational therapy in delirium care. European Geriatric Medicine, 11(2), 209-216. http://dx.doi.org/10.1007/s41999-020-00308-z.
http://dx.doi.org/10.1007/s41999-020-003...
, estudos recentes mostraram a eficácia da implementação de programas multicomponentes e multidisciplinares de reabilitação, com ênfase na melhora das funções cognitivas de pacientes hospitalizados com delirium. Essas intervenções devem ser realizadas de forma individualizada e com o maior envolvimento do terapeuta ocupacional que, de acordo com evidências, resulta em menores índices de reinternação hospitalar (Pozzi et al., 2020Pozzi, C., Tatzer, V. C., Álvarez, E. A., Lanzoni, A., & Graff, M. J. L. (2020). The applicability and feasibility of occupational therapy in delirium care. European Geriatric Medicine, 11(2), 209-216. http://dx.doi.org/10.1007/s41999-020-00308-z.
http://dx.doi.org/10.1007/s41999-020-003...
).

Por fim, notou-se que a não especificação de quais profissionais realizam determinadas intervenções citadas nos estudos, por vezes, permite a interpretação de que podem ser executadas por quaisquer profissionais, acarretando desvalorização das profissões. Reconhece-se que é o terapeuta ocupacional o profissional cujo foco de ação reside na relação intrínseca entre o indivíduo, seu contexto ambiental, social e cultural, e o desempenho de atividades cotidianas significativas ao sujeito (Pozzi et al., 2020Pozzi, C., Tatzer, V. C., Álvarez, E. A., Lanzoni, A., & Graff, M. J. L. (2020). The applicability and feasibility of occupational therapy in delirium care. European Geriatric Medicine, 11(2), 209-216. http://dx.doi.org/10.1007/s41999-020-00308-z.
http://dx.doi.org/10.1007/s41999-020-003...
; Tobar et al., 2017Tobar, E., Alvarez, E., & Garrido, M. (2017). Cognitive stimulation and occupational therapy for delirium prevention. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 29(2), 48-252. http://dx.doi.org/10.5935/0103-507X.20170034.
http://dx.doi.org/10.5935/0103-507X.2017...
). Pode-se tomar como exemplo que os artigos colocam a relevância da disponibilização de dispositivos de orientação temporal e espacial no ambiente e de objetos de familiaridade do sujeito, mas não apontam para a necessidade de considerar a singularidade da pessoa nesta prescrição e o quanto estas estratégias podem interferir na relação da pessoa com o ambiente e com sua rede relacional.

Historicamente, a terapia ocupacional tem buscado assegurar seu papel nas equipes de cuidados hospitalares por ser um profissional que “[...] provoca e incomoda o cotidiano hospitalar evitando sua cristalização, dada sua visão ampliada da condição humana” (Galheigo & Tessuto, 2010Galheigo, S. M., & Tessuto, L. A. A. (2010). Trajetórias, percepções e inquietações de terapeutas ocupacionais do Estado de São Paulo no âmbito das práticas da terapia ocupacional no hospital. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 21(1), 23-32. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v21i1p23-32.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
, p. 30). Nessa perspectiva e coerentes com os resultados da presente pesquisa, parte das intervenções não farmacológicas que aparecem nos textos compõem o repertório de atuação da terapia ocupacional. Porém, observou-se que raramente esse profissional é mencionado como aquele que as executa, colocando-se como premente e indispensável a necessidade de que este seja referenciado para o desenvolvimento destas ações.

Considerações Finais

A interdisciplinaridade é requerida para o gerenciamento do delirium, e o terapeuta ocupacional é profissional indispensável na composição das equipes. Suas intervenções favorecem a melhora da autonomia, o aumento da independência no desempenho ocupacional, a promoção do bem-estar, o empoderamento do usuário e de sua rede informal no processo de cuidado. Sua atuação é centrada na singularidade do sujeito e em suas necessidades, considerando a intrínseca relação entre a pessoa, o contexto, o ambiente e a realização de atividades significativas. Assim, a terapia ocupacional contribui significativamente para o manejo não farmacológico da complexa condição denominada delirium.

Os resultados da pesquisa indicam que a literatura referente à atuação do terapeuta ocupacional no gerenciamento do delirium ainda é incipiente e limitada em relação aos dados práticos. Sugere-se, então, que estudos futuros possam se debruçar sobre suas práticas clínicas específicas, apresentando informações detalhadas sobre as estratégias não farmacológicas adotadas por esses profissionais para prevenção e manejo de delirium.

  • Como citar: Caetano, G. M., Niyama, B. T., Almeida, M. H. M., Batista, M. P. P., & Ratier, A. P. P. (2021). Intervenção não farmacológica no manejo de delirium: uma revisão bibliográfica integrativa. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2909. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR2198
  • Fonte de Financiamento

    Bolsa concedida pelo Programa Unificado de Bolsas de Estudos para Apoio à Permanência e Formação de Estudantes de Graduação (PUB-USP) da Universidade de São Paulo.

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Editado por

Editora de seção

Profa. Dra. Daniela Tavares Gontijo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    20 Nov 2020
  • Revisado
    12 Fev 2021
  • Revisado
    24 Mar 2021
  • Aceito
    25 Mar 2021
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