Open-access ENGAJAMENTO ONLINE E COMPARECIMENTO ELEITORAL DE JOVENS: o caso das eleições de 2022

ONLINE ENGAGEMENT AND YOUTH VOTER TURNOUT: the case for the 2022 elections

COMPROMISO ONLINE Y PARTICIPACIÓN ELECTORAL DE LOS JÓVENES: el caso de las elecciones de 2022

Resumos

Neste artigo foi analisado se o engajamento político online está relacionado a uma maior participação eleitoral entre os jovens. A tese dos ciclos de vida sustenta que os jovens apresentam menor engajamento no comparecimento eleitoral em comparação aos adultos, em função de sua menor experiência e recursos. A partir da análise dos dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2022, questiona-se essa crença, argumentando que o engajamento online, dentro do contexto juvenil, reduz os custos de participação e contribui para o aumento da atividade política offline, incluindo ações voltadas para os cidadãos. A partir de testes de regressão são analisadas duas hipóteses: a primeira é que os jovens votam mais quando estão engajados politicamente online, e a segunda é que o engajamento online diminui as diferenças na participação eleitoral entre jovens e adultos. Os resultados confirmam que o engajamento online desempenha um papel compensatório e nivelador na participação eleitoral dos jovens em comparação com os mais velhos.

PALAVRAS-CHAVE
Engajamento online; Voto; Eleições; Juventude


In this article, we examine whether online political engagement is related to higher voter turnout among young people. The life-cycle thesis holds that young people show lower engagement in voter turnout compared to adults due to their lower experience and resources. From the analysis of data from the 2022 Brazilian Electoral Study (ESEB), we question this belief, arguing that online engagement, within the youth context, reduces participation costs and contributes to increased offline political activity, including citizen-driven actions. Using regression tests, we analyze two hypotheses: the first is that youth vote more when they are politically engaged online, and the second is that online engagement decreases differences in electoral participation between youth and adults. The results confirm that online engagement plays a compensatory and leveling role in the electoral participation of young people compared to older people.

KEYWORDS
Online engagement; Voting; Elections; Youth


En este artículo se analizó si el compromiso político online está relacionado con una mayor participación electoral entre los jóvenes. La tesis de los ciclos de vida sostiene que los jóvenes muestran un menor compromiso con la participación electoral en comparación con los adultos, debido a su menor experiencia y recursos. A partir del análisis de los datos del Estudio Electoral Brasileño (ESEB) de 2022, se cuestiona esta creencia, argumentando que el compromiso online, en el contexto juvenil, reduce los costes de participación y contribuye al aumento de la actividad política offline, incluidas las acciones dirigidas a los ciudadanos. A partir de pruebas de regresión, se analizan dos hipótesis: la primera es que los jóvenes votan más cuando están comprometidos políticamente online, y la segunda es que el compromiso online reduce las diferencias en la participación electoral entre jóvenes y adultos. Los resultados confirman que el compromiso online desempeña un papel compensatorio y nivelador en la participación electoral de los jóvenes en comparación con los mayores.

PALABRAS CLAVE
Compromiso online; Voto; Elecciones; Juventud


INTRODUÇÃO

O engajamento político online está relacionado com maiores níveis de participação eleitoral entre os jovens? Procura-se responder a essa questão, considerando o contexto eleitoral de 2022 no Brasil. De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aproximadamente 1.144.481 jovens entre 16 e 18 anos adquiriram seu título de eleitor no ano de 2022 (Rocha, 2022). Grande parte desses registros resultou de uma campanha promovida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em parceria com influenciadores digitais, personalidades da mídia e instituições públicas e privadas, com o objetivo de despertar o interesse dos jovens pelo voto (Caldas, 2022). Essa iniciativa ocorreu em meio à circulação de informações falsas sobre a integridade das urnas e das pesquisas de intenção de voto.

O interesse pelo tema “engajamento político online e participação eleitoral dos jovens” não é infundado. Primeiramente, a década de 2010 registrou uma significativa porcentagem de jovens engajados online (Vissers; Stolle, 2014). Em segundo lugar, alguns estudos associaram o engajamento online a uma maior participação em protestos (Hansen; Ferreira, 2018) e filiação a partidos políticos (Barros; Martins, 2017; Ozge; Bingöl, 2021). E, por fim, existem pesquisas que analisam as mídias sociais como novos espaços de socialização política (Santos, 2011; Oliveira, 2016; Magnoni; Camargo; Miranda, 2017) ou de autossocialização (Anderson; McCabe, 2012). Portanto, o engajamento político online merece maior atenção das pesquisas que analisam a participação eleitoral, especialmente entre os jovens.

A literatura sobre democracia digital no Brasil avalia criticamente o papel das redes sociais dentro do sistema político atual, especialmente em razão das desigualdades digitais e à eficácia do engajamento político online (Gomes, 2005; Gomes, 2007). A separação entre a esfera civil (de autorização) e a esfera política (de tomada de decisões) também levanta questionamentos sobre como as ferramentas digitais podem unir essas esferas e aprimorar a governança democrática. Por sua vez, Braga (2007) e Almada et al. (2019) apontam, com as devidas reservas, para avanços significativos na transparência e acessibilidade das informações. Este artigo considera que a acessibilidade das informações políticas entre os jovens tenha um impacto positivo sobre o engajamento eleitoral.

Na maioria dos casos, observa-se entre jovens uma preferência por formas de ação mais descentralizadas, orientadas por causas e limitadas aos problemas que os afetam diretamente (Norris, 2004; Inglehart; Welzel, 2009; Okado; Ribeiro, 2015; Oliveira, 2016). Nesse contexto, as atividades voltadas para os cidadãos, como a participação eleitoral e filiação partidária, seriam menos atrativas para o público jovem. Diante dessa realidade, a questão se torna oportuna: o comparecimento eleitoral dos jovens aumenta quando eles estão mais politicamente engajados online?

Estudos recentes têm demonstrado que não há diferença na percepção da eficácia entre a participação política online e offline (Oser, 2022). Portanto, o engajamento online não é escolhido por ser mais eficiente, mas sim porque se configura como uma atividade associada ao contexto juvenil (Oser; Hooghe; Marien, 2013; Magnoni; Camargo; Miranda, 2017). Esta perspectiva está alinhada com uma literatura que defende que a participação em diferentes modalidades de ação política, como voto e filiação partidária, depende das condições existenciais que compõem cada fase da vida, como juventude, vida adulta e velhice (Nie; Verba; Kim, 1974; Stoker; Jennings, 1995; Visser; Krosnick, 1998; Highton; Wolfinger, 2001; Norris, 2004; Kinder, 2006; Erkulwater, 2012; Flanagan, 2013). Isso é atribuído a vários fatores, como experiência de vida, estabilidade econômica e social, interesse ou conhecimento político. A tese principal é de que o engajamento político tenderia a crescer na transição da juventude para a fase adulta e a reduzir na velhice.

Neste artigo, questiona-se a hipótese de que a condição juvenil esteja associada com menores índices de comparecimento eleitoral, quando comparado aos adultos. Propõe-se que o engajamento online, associado ao contexto juvenil, reduziria os custos de participação, contribuindo para o aumento da atividade política offline, inclusive aquelas orientadas para o cidadão (Cortés-Cediel; Gil; Cantador, 2018). Sendo assim, a primeira hipótese é que (H1) os jovens votam mais quando estão engajados politicamente online. Argumenta-se que o engajamento online tem um efeito compensatório na participação eleitoral, especialmente entre os jovens, ao reduzir os custos de participação. A segunda hipótese é de que (H2) o engajamento online reduz as diferenças na participação eleitoral entre jovens e adultos. Argumenta-se que o engajamento online tem um efeito nivelador na participação eleitoral entre jovens e adultos, porque esse repertório está mais associado a condição juvenil.

Utilizam-se dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) coletados após as eleições de 2022 e conduzido pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP). Através da técnica de análise multivariada, investiga-se se o engajamento online potencializa o comparecimento eleitoral juvenil e reduz as disparidades de participação eleitoral entre jovens e adultos. Neste estudo, se faz comparação dos jovens com outras faixas etárias, que são chamadas de jovens-adultos, adultos e velhos. Propõe-se duas formas de mensuração das faixas etárias: a idade como variável contínua e ciclos de vida como categoria sociológica. Utiliza-se, como critério para definir os níveis de engajamento online, a frequência do uso do WhatsApp, Telegram e o X (antigo Twitter). Os resultados indicam que o engajamento online está relacionado com índices mais elevados de comparecimento eleitoral entre jovens e que as diferenças nos indicadores de participação eleitoral entre jovens e adultos foram reduzidas entre os altamente engajados online.

Este artigo está dividido em quatro seções, além desta introdução. As duas primeiras seções abordam a discussão sobre ciclo de vida, engajamento online e participação eleitoral de jovens, e uma breve contextualização do período eleitoral de 2022 no Brasil. A terceira seção discorre sobre as características da amostra, a seleção das variáveis e as técnicas de análise empregadas. A quarta seção apresenta os resultados de pesquisa.

CICLO DE VIDA E PARTICIPAÇÃO ELEITORAL

O ciclo de vida, no contexto dos estudos sociais e políticos, se refere ao padrão de mudanças e desenvolvimento que ocorrem ao longo do tempo na vida das pessoas (Okado & Ribeiro, 2015; Smets, 2016). Essas mudanças podem abranger diferentes aspectos, como idade, status socioeconômico, experiências de vida e participação política. A perspectiva do ciclo de vida é crítica da noção de que as atitudes e valores tendem a se cristalizar nos primeiros anos de vida, e que essas atitudes e valores sofreriam poucas alterações ao longo do tempo. Ao contrário disso, propõe-se que mudanças substantivas no estilo de vida, como casamento, maternidade/paternidade e entrada no mercado de trabalho, poderiam redirecionar atitudes e comportamentos dos indivíduos (Caspi; Bem; Elder, 1989; Stoker; Jennings, 1995).

No campo dos estudos sobre participação política, a categoria do ciclo de vida é aplicada para compreender como a participação política de um indivíduo pode evoluir ao longo do tempo. O argumento clássico é de que existe uma relação curvilínea entre ciclo de vida e participação política (Nie; Verba; Kim, 1974; Knoke; Thompson, 1977; Erkulwater, 2012). Dessa forma, o engajamento em atividades voltadas para o cidadão, como voto e filiação partidária, tenderia a crescer na transição da juventude para a fase adulta e a reduzir na velhice. Isso é atribuído a vários fatores, como experiência de vida, estabilidade econômica e social, interesse ou conhecimento político. Portanto, o engajamento político tenderia a aumentar ou diminuir dependendo da etapa da vida.

Contudo, outra vertente defende que o pessimismo em relação à participação juvenil, quando comparados aos adultos, não estaria completamente correto (Quintelier, 2007; Boghossian; Minayo, 2009; Farthing, 2010). Por exemplo, em atividades orientadas por causas (Norris, 2004), como protestos, os jovens tenderiam a ser mais ativos em comparação aos mais velhos. Uma explicação para esse cenário se deve às transformações socioeconômicas e ao aumento do nível de instrução, que impactaram significativamente as coortes mais jovens, contribuindo para o surgimento de uma cidadania crítica em relação às instituições políticas tradicionais da democracia (Dalton, 2008). Sendo assim, as etapas do ciclo de vida ajudariam a explicar variações nas preferências por formas de engajamento político (Ribeiro, 2012; Okado; Ribeiro, 2015), sendo as modalidades não institucionalizadas as mais acessíveis aos jovens.

Embora não seja simples a operacionalização do conceito de ciclo de vida, seria incorreta a redução desse conceito à faixa etária. Isso se deve ao fato de que o ciclo de vida abrange circunstâncias existenciais, que orientam as preferências dos indivíduos. Por exemplo, a saída da casa dos pais (Knoke; Thomson, 1977), as relações matrimoniais (Stoker; Jennings, 1995), a maternidade/paternidade (Jennings, 1979), a entrada no mercado de trabalho e a busca por moradia para formar uma família (Smets, 2016) são fatores que deveriam ser considerados para classificação dos ciclos de vida. Se a idade fosse o único critério para determinar o ciclo de vida, bastaria delimitar a juventude com base na lei de cada país, que, no caso do Brasil, prevê que adultos são aqueles com dezoito anos completos.

Alguns estudos que investigam a relação entre juventude e participação política utilizam o critério da idade para realizar comparações entre grupos de faixas etárias (Castillo, 2008; Castro, 2008; Fuks, 2011; Ribeiro, 2012; Rodrigues; Menezes; Ferreira, 2018; Kitanova, 2020). Na seção de resultados serão apresentados gráficos que comparam dois cenários: um que utiliza apenas a idade e outro que utiliza os perfis por etapa do ciclo de vida. O que se pode adiantar é que esses dois cenários não apresentam a mesma tendência, seja em relação ao engajamento político online, seja em relação aos indicadores de participação eleitoral. Argumenta-se que o uso da variável idade, sem considerar outros fatores que possam estar associados às circunstâncias existenciais que afetam as preferências individuais, resulta em conclusões pouco informativas e até equivocadas em análises sobre participação política. Neste artigo são consideradas as etapas do ciclo de vida como critério para examinar a relação entre o engajamento online e o comparecimento eleitoral de jovens.

Vale ressaltar que estudos mais recentes têm identificado uma transição mais tardia do contexto juvenil para a fase adulta (Smets, 2016). Uma possível explicação para esse fenômeno é a escolha das pessoas em sair da casa dos pais em idade mais avançada, adiar a maternidade/paternidade e atrasar o ingresso no mercado de trabalho, priorizando, assim, os estudos. O mesmo padrão pode ser observado entre os indivíduos mais velhos, em função do aumento da idade mínima para aposentadoria e à maior expectativa de vida. Consequentemente, a definição de “juventude” tem sido ampliada para incluir faixas etárias mais avançadas. Esse argumento reforça a desconfiança em considerar a idade como o único critério para definir os grupos como jovens, adultos e idosos.

A literatura converge ao afirmar que existem diferenças entre jovens e adultos quando se considera a participação eleitoral (Quintelier, 2007), sendo os jovens menos engajados. Isso pode ser explicado, por exemplo, pelas restrições nas leis eleitorais, que estabelecem uma idade mínima para o voto, bem como pela disponibilidade de recursos pessoais, baixos incentivos e falta de educação cívica. No entanto, estudos recentes têm demonstrado que o engajamento online entre jovens está relacionado ao aumento dos indicadores de comparecimento eleitoral (Cediel; Cantador, 2018).

Uma das razões para isso é que a busca por informações políticas por meio de sites de notícias e redes sociais se configura como uma ação de baixo custo, ampliando o conhecimento sobre o contexto político-eleitoral. Desde a década de 1960, os estudos clássicos sobre comportamento eleitoral têm defendido que um maior fluxo de informações influencia a decisão de voto (Converse, 1960). Considerando que as gerações mais jovens estão mais envolvidas online (Vissers; Stolle, 2014; Magnoni; Camargo; Miranda, 2016), questiona-se se esse engajamento se traduz em um maior comparecimento eleitoral.

CONTEXTO ELEITORAL DE 2022 E A PARTICIPAÇÃO JUVENIL

O processo eleitoral de 2022 foi marcado por um aumento de 50% no número absoluto de jovens entre 16 e 17 anos de idade com título de eleitor, comparado a 2018 (Brasil de Fato, 2022). Em 2018, havia cerca de 1.400.617 eleitores jovens, enquanto em 2022 esse número subiu para aproximadamente 2.116.7811 (TSE, 2022), refletindo um crescimento significativo. Já em termos proporcionais, a participação dos jovens entre 16 e 17 anos no total de eleitores passou de 22% em 2018 para 35% em 2022 (Caseff, 2022). Nesta breve seção são listados alguns fatores contextuais que podem estar associados a esse aumento nas taxas eleitorais e na participação dos jovens brasileiros (Brasil de Fato, 2022).

Com um menor grau e intensidade, os acontecimentos que tornaram as eleições de 2018 atípicas persistiram em 2022 e influenciaram o maior comparecimento dos jovens. Destacam-se, em primeiro lugar, o ativismo digital referente ao combate das fake news. Entende-se as fake news como informações falsas disseminadas como notícias com propósitos políticos e fraudulentos para enganar ou manipular o público. Essas narrativas são criadas para influenciar opinião pública ou distorcer a verdade sobre um determinado evento político, candidato ou questões em saliência, neste caso, as eleições de 2018 e 2022 (Tandoc Jr, Wei Lim & Ling, 2018). Essa situação levou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a promover várias campanhas contra as fake news no último pleito2 (G1, 2022).

As fake news relacionadas à insegurança das urnas eletrônicas foram frequentes durante o processo eleitoral de 2022 (G1, 2022). Diante disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) demonstrou preocupação com a possibilidade de deslegitimação do processo eleitoral, o que poderia levar à contestação das eleições e gerar apatia eleitoral, especialmente, entre os jovens (TRE-PR). Neste contexto, deputados federais aliados a Jair Bolsonaro retomaram a discussão do Projeto de Lei nº 1175/2015, que propõe a implementação do voto impresso como uma suposta alternativa para dissipar as dúvidas em relação à integridade do processo eleitoral.

A suposta fraude das urnas eletrônicas foi um tema abordado na campanha de Bolsonaro (CNN, 2023). É importante destacar que um dos processos contra o ex-presidente, julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023, está relacionado a uma reunião ocorrida em 18 de julho de 2022. Nessa reunião, diplomatas de países com embaixadas no Brasil foram convocados e surgiram questionamentos sobre a segurança das urnas eletrônicas (PODER 360, 2022). Em paralelo, fake news relacionadas à insegurança das urnas eletrônicas foram disseminadas entre apoiadores de Bolsonaro por meio de plataformas como Telegram e WhatsApp.

A desconfiança em relação às pesquisas eleitorais foi outro tema de fake news que permeou o processo eleitoral (BBC, 2022). De acordo com aliados do governo de Bolsonaro, os institutos de pesquisa estavam cometendo erros em suas projeções além da margem de erro (Nexo, 2022). Nesse contexto, o deputado federal Ricardo Barros (PP/PR) propôs o projeto de Lei nº 2567/2022, que busca estabelecer normas para tipificar a conduta dos institutos de pesquisa e impor multas por erros de projeção. No entanto, a questão central era o fato de as pesquisas eleitorais serem usadas como referência pelos eleitores para decidirem seu voto. É importante ressaltar que, na eleição de 2022, os candidatos do Partido dos Trabalhadores e do Partido Liberal disputavam a preferência dos jovens eleitores. De acordo com dados de pesquisa, o candidato Jair Bolsonaro (PL) era mais rejeitado entre os jovens do que Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Aproximadamente, 67% dos jovens afirmaram que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro, enquanto 32% expressaram a mesma rejeição em relação a Lula (Datafolha, 2022).

A atuação Judiciária do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral é outro tema de destaque. A notoriedade de sua magistratura se deve, justamente, ao inquérito das fake news, que está sob sua responsabilidade desde 2019 e ganhou relevância durante o período eleitoral de 2022 (TSE, 2022). Os desdobramentos desse inquérito atingiram influenciadores digitais aliados de Jair Bolsonaro, como o YouTuber Alan dos Santos, e as milícias digitais, que desempenharam um papel na organização de grupos antidemocráticos tanto online quanto offline e na sua mobilização eleitoral nos anos de 2018 a 20223 (Agência Pública, 2023).

Além das campanhas contra fake news, vale ressaltar as iniciativas em favor do maior engajamento eleitoral, especialmente entre os mais jovens. Talvez, a mais relevante tenha sido a campanha ambientalista intitulada “O voto é seu, mas o futuro é nosso”, que ganhou visibilidade no Twitter por meio do compartilhamento de personalidades como Léo Di Caprio e Mark Ruffalo (OPOVO, 2022). Essa campanha convocava os jovens a registrarem seus títulos eleitorais antes do prazo limite, criticando as políticas ambientais do governo Bolsonaro. Destaca-se também o engajamento de influenciadores digitais brasileiros, personalidades da mídia e instituições públicas e privadas, com o objetivo de despertar o interesse dos jovens pelo voto (Congresso em Foco, 2022).

Argumenta-se que a maior mobilização dos jovens nas redes sociais durante as eleições de 2022 possa estar associada a insatisfação com a condução do governo Bolsonaro durante a pandemia em áreas consideradas sensíveis para esse público, tais como meio ambiente, ciência, educação e mercado de trabalho (Agência Brasil, 2020; SBPC, 2022). Vale ressaltar que os jovens de 18 a 24 anos foram um dos grupos mais afetados pelas sequelas da pandemia, em razão das dificuldades causadas pela interrupção das aulas e o desamparo pela falta de políticas públicas direcionadas ao setor. Esse grupo também foi afetado pelo desemprego em 2022, com uma taxa de 22, 2% (O Globo, 2023). Portanto, não seria surpreendente uma maior participação dos jovens nessas eleições, com um voto punitivo contra o governo.

Acredita-se que os fatores mencionados, como desconfiança nas urnas e nas pesquisas de intenção de voto, a presença de candidatos com alta rejeição, a precarização das condições de vida da juventude após a pandemia de Covid-19 e o aumento do uso das redes sociais para consulta de informações políticas, convergiram no processo eleitoral de 2022. Dado o contexto de maior sensibilização para questões políticas e a maior propensão dos jovens ao uso de internet e redes sociais, analisa-se neste artigo se o engajamento online está associado com maior comparecimento eleitoral em 2022 entre jovens. Na próxima seção se apresentará a base de dados, as variáveis e os procedimentos adotados neste artigo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Neste artigo são utilizados os dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) coletados após as eleições de 2022 e conduzido pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP). Nessa última edição, foram realizadas 2.001 entrevistas de forma presencial e domiciliar entre os dias 19 de novembro e 04 de dezembro de 2022. A amostra foi selecionada de maneira a ser representativa da população e das cinco regiões brasileiras: Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul.

Procura-se responder à seguinte questão: o engajamento online está relacionado a um aumento na participação eleitoral entre os jovens? Para isso, trabalha-se com a variável: o comparecimento eleitoral no primeiro das eleições de 2022. A pergunta correspondente no questionário foi: Q10P1a – “Você votou no primeiro turno desta eleição?”. Essa variável apresenta sete opções de resposta, mas se está interessados apenas na opção “Sim, votou”. Portanto, recodifica-se essa variável como “(1) Votou” e “(0) Não votou”.

A variável independente utilizada neste estudo se refere à frequência diária de busca por informações políticas na internet e em redes sociais, como Facebook, WhatsApp, Twitter ou Telegram. Essa variável é avaliada por meio da pergunta Q02f: “Você utilizou redes sociais, como Facebook, Twitter, WhatsApp ou Telegram, para acompanhar as notícias sobre partidos e candidatos?”. A pergunta é respondida em uma escala de sete pontos, variando de zero (representando “nenhum /zero dias”) a sete (representando “sete dias”). Operacionaliza-se essa variável em três faixas, na qual (0, 1 e 2) indicam baixo engajamento, (3, 4 e 5) representam engajamento médio e (6 e 7) indicam alto engajamento online.4 Reconhece-se que apenas o acompanhamento de notícias sobre partidos e candidatos como critério não parece suficiente para captar a complexidade do engajamento político. Contudo, interessa analisar a mediação do engajamento online sobre os ciclos de vida e o comparecimento eleitoral, de maneira que o acompanhamento de notícias pareceu suficiente.

Como mencionado na seção teórica, alguns autores defendem que o engajamento online tem um impacto positivo na participação política offline (Santos, 2012; Hansen; Ferreira, 2018; Özge; Bingöl, 2021). No entanto, essa participação não ocorre de maneira uniforme. Em primeiro lugar, há um viés de classe na participação política, especialmente quando são considerados fatores como renda e nível de escolaridade (Quintelier, 2007). Além disso, alguns estudos incluem gênero e cor da pele nas pesquisas sobre a relação entre internet e participação política (Jennings, 1979; Erkulwater, 2012). Sendo assim, decidiu-se incluir variáveis sociodemográficas, como sexo (D02), renda (D09_RENDAF), escolaridade (D03) e cor da pele (D12a), para identificar o perfil dos indivíduos engajados online.

Codificam-se as variáveis sociodemográficas da seguinte forma: a variável “sexo” foi definida como (1) para homem e (0) para mulher; a variável “renda” foi mantida conforme os dados do banco, representada em oito faixas de renda familiar; a variável “escolaridade” foi recodificada como (1) para Fundamental, (2) para Médio e (3) para Superior; a variável “cor” foi recodificada como (1) para branco e (0) para não branco. A categoria “branco” inclui aqueles que se autodeclaram como brancos ou amarelos.

Por fim, construiu-se a categoria “ciclo de vida” com base na proposta de (Okado; Ribeiro, 2015) que classifica a juventude, a fase adulta e a velhice usando marcadores sociais que representam mudanças existenciais ao longo da vida, como casamento e entrada no mercado de trabalho. Para isso, foram selecionadas três variáveis do banco de dados: D04 - “Qual é o seu estado civil? O(a) Sr.(a) é”; D06 - “Atualmente, qual é a sua situação profissional?”; e D01A_IDADE – “idade”.

Delimitam-se três faixas de idade: < 30 anos, entre 30 e 65 anos, e > 65 anos. A categorização para jovens e adultos é baseada nos argumentos levantados por Smets (2016) que defendem que as gerações mais jovens têm um atraso na transição para papéis adultos, devido a um amadurecimento mais tardio. O recorte para os idosos é baseado na idade mínima de aposentadoria no Brasil. Em relação ao estado civil, foram categorizados os solteiros como (1) e os demais estados civis como (0). Por fim, classificam-se aqueles que não trabalham e não estão procurando emprego como (1) e os demais como (0). A construção dos perfis do ciclo de vida envolve a análise das interseções entre essas variáveis, representando uma combinação específica de características demográficas.

Utilizam-se testes de regressão multinomial para determinar o perfil dos indivíduos engajados online e regressão logística para determinar sua relação com o comparecimento eleitoral. Analisa se (H1) os jovens votam mais quando estão engajados politicamente online e se (H2) o engajamento online reduz as diferenças na participação eleitoral entre jovens e adultos. Testa-se esse argumento com base nos dados mais recentes das eleições de 2022 no Brasil. A seguir são apresentados os resultados desta análise.

RESULTADOS

O primeiro teste realizado consistiu na construção do perfil sociodemográfico das pessoas que demonstram maior engajamento político online. Essa investigação inicial foi embasada em estudos anteriores conduzidos por Oser, Hooghe e Marien (2013), Vissers e Stolle (2014) e Magnoni, Camargo e Miranda (2016), os quais indicaram que jovens do sexo feminino possuem maior propensão a se engajar online em busca de informações políticas. Nesta etapa foram incluídos controles em modelos, tais como sexo, nível educacional, etnia e renda familiar, em consonância com as sugestões também mencionadas por Erkulwater (2012) e Kitanova (2020).

Com o objetivo de estabelecer uma comparação, foram utilizados dois modelos distintos: um considerando exclusivamente a variável “idade” e outro baseado nos perfis de “ciclo de vida” previamente desenvolvidos na seção de materiais e métodos. Essa abordagem permitiu obter uma visão mais clara das diferenças existentes entre as diferentes fases da vida nesse tipo de engajamento, bem como avaliar a eficácia do uso das variáveis “idade” e “ciclo de vida”. Essa estratégia se revelou necessária para examinar se, de fato, os jovens apresentam maior engajamento online em comparação aos indivíduos mais velhos.

Os resultados de uma regressão multinomial, levando em consideração apenas as variáveis, que demonstraram efeitos estatisticamente significativos, são apresentados no Gráfico 1.5 Esse gráfico reporta o perfil dos indivíduos com diferentes níveis de engajamento online.

Gráfico 1
Engajamento Online: Valores Preditos por Idade e Ciclo de Vida, segmentados pela Escolaridade

Com base nas tendências observadas em cada perfil, é possível resumir dois pontos relevantes. O primeiro diz respeito ao impacto dos níveis de escolaridade no engajamento online. Esses resultados sugerem que o acesso à educação pode desempenhar um papel importante na promoção de uma participação mais ativa em atividades online, como a busca por informações políticas. Em relação a essa questão, Verba, Schlozman e Brady (1995) argumentaram que a escolarização possui pelo menos três funções significativas: (1) ampliar o conhecimento político, o que facilita a avaliação de questões públicas e a tomada de decisões; (2) contribuir para o desenvolvimento de habilidades cognitivas necessárias para a formação de opiniões; e (3) melhorar o status socioeconômico, por meio do potencial de ascensão ocupacional e aumento da renda. Nesse contexto, se espera que a interação entre a escolarização e o engajamento online esteja relacionada a uma maior participação eleitoral, especialmente entre os indivíduos mais jovens.

As variáveis de sexo e cor da pele não demonstraram efeitos estatisticamente significativos em todos os modelos testados, o que suscita questionamentos sobre o papel dessas variáveis na determinação do engajamento online. Apesar de não apresentarem significância estatística, os coeficientes foram positivos, sugerindo que as mulheres tendem a ser mais engajadas online do que os homens, e que as pessoas brancas tendem a ser mais engajadas do que as não brancas. A mesma situação se aplica para ausência de significância estatística para a variável de renda: os modelos indicam que uma renda familiar mais alta está associada a um maior engajamento político online. Há várias razões pelas quais uma variável pode não ter demonstrado efeitos estatisticamente significativos, como o tamanho da amostra ou uma alta correlação com outras variáveis do modelo. Por meio de um teste de correlação, foi constatado que a renda possui uma correlação moderada com a escolaridade (r = 0, 4). Considerando esses fatores, os dados sugerem a existência de uma segmentação de classe entre os indivíduos mais engajados online, sendo caracterizados por serem mulheres brancas, com níveis educacionais mais elevados e renda mais alta.

O segundo ponto aborda as diferenças nos níveis de engajamento online entre jovens, adultos e idosos. Dependendo da variável utilizada, seja “idade” ou “ciclo de vida”, observa-se que ora os mais jovens, ora os jovens adultos se destacam. No entanto, a tendência linear negativa encontrada ao considerar somente a variável “idade” não se mantém quando se utiliza a variável “ciclo de vida”. Conforme discutido na seção teórica, o uso isolado da variável idade pode resultar em uma tendência enviesada, pois desconsidera outros fatores importantes que moldam as condições de vida. Nesse contexto, a inclusão da variável “ciclo de vida” ajuda a reduzir esse viés, ao considerar o status de relacionamento e a inserção no mercado de trabalho. Portanto, a regressão que utilizou o “ciclo de vida” como variável independente capturou uma tendência que não foi evidenciada no modelo que considerou apenas a “idade”. Essa variação sugere que diferentes estágios do ciclo de vida podem influenciar o comportamento online de maneira distinta, o que demanda uma análise mais aprofundada dos fatores que contribuem para essas tendências.

As desigualdades nos níveis de engajamento online extrapolam o âmbito de ações políticas específicas. Como destacado nos estudos conduzidos por Oser, Hooghe e Marien (2013), as disparidades socioeconômicas presentes no ativismo político presencial também se refletem no ambiente online. Assim, embora a internet seja uma plataforma aberta e acessível, o seu uso para buscar informações políticas parece estar limitado a determinados grupos, particularmente, aqueles com maior nível educacional.

Estudos recentes têm indicado que o engajamento online pode potencializar a participação política de diversas formas, incluindo conversas e compartilhamento de informações políticas (Santos, 2011), protestos de rua e outras formas de ação direta (Oliveira, 2016; Hansen; Ferreira, 2018) e filiação partidária (Özge; Bingöl, 2021). Além disso, pesquisas adicionais enfatizam que o engajamento online é especialmente eficaz para fins políticos entre os jovens (Vissers; Stolle, 2014). Com base nisso, a hipótese é de que o engajamento online compensaria a falta de recursos e experiências típicas dessa etapa da vida, aumentando os índices de comparecimento às eleições.

Realiza-se uma análise de regressão logística com a variável dependente “comparecimento eleitoral no primeiro turno”, considerando os níveis de engajamento online6, ciclo de vida e idade como variáveis independentes. Os controles utilizados foram o sexo, escolaridade e cor da pele. Ao examinar os resultados, foi possível constatar que os coeficientes relacionados ao sexo e cor da pele não demonstraram efeitos estatisticamente significativos em todos os modelos testados, conforme apresentado no Gráfico 1.

Por outro lado, a variável escolaridade manteve sua relevância, apresentando um efeito estatisticamente significativo no comparecimento eleitoral no primeiro turno. No Gráfico 2 são apresentados os resultados da regressão apenas com os coeficientes que apresentaram efeitos significativos em todos os modelos analisados.

Gráfico 2
Comparecimento Eleitoral no 1º turno das eleições de 2022: Valores Preditos por Idade e Ciclo de Vida, segmentados por Escolaridade e Níveis de Engajamento Online

As evidências coletadas indicam que a maior taxa de comparecimento eleitoral entre os jovens está associada com níveis mais elevados de engajamento online. Essa descoberta corrobora a primeira hipótese, a qual sugere que os jovens votam mais quando estão engajados politicamente online. No entanto, ao se considerar a variável que mede as diferenças entre jovens e adultos, seja a “idade” ou o “ciclo de vida”, são encontrados diferentes valores preditos em cada modelo. No caso da idade se observa um cenário em que o comparecimento eleitoral aumenta à medida que a idade avança. Por outro lado, ao se analisar o ciclo de vida, constata-se um efeito curvilíneo.

Ao serem comparados os dois modelos, constata-se que apenas o modelo que incorporou a variável “ciclo de vida” apresentou uma redução na diferença entre jovens adultos e adultos no perfil dos altamente engajados online. Essa redução aumenta à medida que o nível educacional também se eleva. Com base nessa análise, argumenta-se que o alto engajamento político online, combinado com a escolaridade, contribui para a redução das disparidades entre jovens e adultos no que diz respeito ao comparecimento eleitoral. Esse resultado corrobora a segunda hipótese, a qual postula que o engajamento online tem um efeito nivelador no comparecimento eleitoral entre jovens, adultos e idosos. Realiza-se o mesmo teste para o comparecimento eleitoral no segundo turno, e os resultados foram semelhantes aos observados no primeiro turno.

A tese dos ciclos de vida sustenta que os jovens apresentam menor engajamento no comparecimento eleitoral em comparação aos adultos, em função de sua menor experiência e recursos (Nie; Verba; Kim, 1974; Knoke; Thomson, 1977; Erkulwater, 2012). No entanto, os resultados que foram obtidos relativizam esse argumento por dois motivos. Primeiro, no caso do perfil juvenil, a tese dos ciclos de vida ainda se mantém válida, considerando que esse grupo possui menos recursos e experiência política e, em grande parte, está exercendo o direito ao voto pela primeira vez, que para muitos ainda é facultativo. No entanto, não se pode ignorar que, mesmo dentro desse grupo, existem diferenças nos valores preditos para o comparecimento eleitoral, dependendo do nível de engajamento online e escolaridade.

Em segundo lugar, os jovens adultos estão passando pela transição da fase juvenil para a fase adulta. Esse grupo se destacou nos testes, apresentando valores previstos muito próximos aos dos adultos, especialmente entre aqueles altamente engajados online e com maior nível educacional. Isso indica que a inserção no mercado de trabalho ou a mudança no status de relacionamento pode ter influenciado suas atitudes em relação à política (Caspi; Bem; Elder, 1989; Stoker; Jennings, 1995). Em resumo, verifica-se que o engajamento online desempenha um papel compensatório e minimamente nivelador na participação eleitoral dos jovens adultos em comparação aos adultos.

É importante reconhecer que os dados abrangem um período específico, reservado ao ano eleitoral de 2022 no Brasil. Portanto, este estudo contribui mais para a problematização do que para a formulação de teses alternativas à teoria do ciclo de vida e participação política. Contudo, os dados ganham relevância dentro do contexto polarizado do Brasil, em que o engajamento online, especialmente, por meio de influenciadores digitais, desempenhou um papel importante na formação de opiniões.

CONCLUSÃO

Neste artigo foi analisado se o engajamento político online está relacionado com maiores níveis de participação eleitoral entre os jovens. Os dados questionam a tese de que os jovens tendem a ter um menor comparecimento eleitoral em relação aos adultos. Argumenta-se que o engajamento online, associado ao contexto juvenil, reduziria os custos de participação, contribuindo para o aumento da atividade política offline, inclusive aquelas orientadas para o cidadão (Cortés-Cediel; Gil; Cantador, 2018).

Com isso, havia duas hipóteses centrais de trabalho: (H1) os jovens votam mais quando estão engajados politicamente online; (H2) o engajamento online reduz as diferenças na participação eleitoral entre jovens e adultos. Os resultados confirmam que o engajamento online desempenha um forte papel compensatório e minimamente nivelador na participação eleitoral dos jovens em comparação aos mais velhos.

Amparados por esses resultados, sugere-se cautela no uso da variável “idade” na comparação dos níveis de comparecimento eleitoral entre jovens e adultos. Como alternativa para estudos futuros, propõe-se o uso da variável “ciclos de vida”, pois esta capta as condições existenciais que compõem essas etapas, como juventude, vida adulta e velhice, de acordo com a literatura.

  • 1
    As porcentagens mencionadas (22% em 2018 e 35% em 2022) se referem somente aos jovens de 16 e 17 anos em relação ao total de eleitores jovens (e não ao eleitorado geral). Ou seja, elas indicam a proporção de jovens de 16 e 17 anos que participaram do processo eleitoral em comparação com o total de eleitores dessa faixa etária, não considerando o eleitorado em geral.
  • 2
    A definição de fake news apresentada por Tandoc Jr et al. (2018) é aplicável tanto às eleições de 2018 quanto às de 2022, em que informações falsas impactaram o processo eleitoral. Embora focada nesses contextos, essa definição pode ser estendida a outras situações envolvendo desinformação e manipulação pública.
  • 3
    As milícias digitais são grupos organizados, muitas vezes, com vinculação política, que utilizam as plataformas digitais para manipular a opinião pública, promover campanhas de desinformação, atacar opositores políticos e mobilizar eleitores. Esses grupos podem usar uma variedade de ferramentas, incluindo bots, perfis falsos e disseminação de fake news, para influenciar o processo eleitoral e criar um ambiente de polarização política. As milícias digitais têm sido associadas especialmente ao cenário político brasileiro, em que o uso dessas táticas se intensificou nas eleições recentes (Tufekci, 2017).
  • 4
    Para analisar a robustez dos resultados, também foram realizados testes com a variável de engajamento político em sua escala original (0 até 7) e como dicotômica, em que 1 representa sete dias de buscas por informações políticas e 0 representa até seis dias de buscas de informações políticas.
  • 5
    Simultaneamente, foram realizados testes utilizando outras duas formas de operacionalização da variável de engajamento político: uma utilizando a escala de 7 pontos e outra como variável binária. Todos os modelos foram comparados, e somente as variáveis que demonstraram efeitos significativos nos três modelos foram utilizadas.
  • 6
    No Gráfico 2 são apresentados os resultados da regressão utilizando a variável «engajamento online» categorizada em “baixo”, “médio” e “alto” engajamento. Para fins de comparação, também foi testada a mesma variável utilizando uma escala de sete pontos e como uma variável binária.

APÊNDICE METODOLÓGICO

Tabela 1 Modelo de Regressão Multinominal para o Engajamento online: Efeitos da Faixa Etária e Variáveis de Controle
Ref. Baixo engajamento online Médio engajamento online Alto engajamento online
Log-Odds (std. Error) Log-Odds (std. Error)
Intercepto -2, 24*** (0, 40) -1, 04*** (0, 27)
Sexo [homem] -0, 40* (0, 17) -0, 08 (0, 11)
Idade [contínua] -0, 01 (0, 01) -0, 02*** (0, 00)
Renda [escala 1 – 8] 0, 10 (0, 06) 0, 07 (0, 04)
Escolaridade [escala 1-10] 0, 23*** (0, 04) 0, 29*** (0, 03)
Cor [branco] -0, 03 (0, 17) 0, 21 (0, 11)
Observações 1788
R2 /R2 ajustado 0, 172 /0, 171
Tabela 2 Modelo de Regressão Multinominal para o Engajamento online: Efeitos do Ciclo de Vida e Variáveis de Controle
Ref. Baixo engajamento online Médio engajamento online Alto engajamento online
Log-Odds (std. Error) Log-Odds (std. Error)
Intercepto -2, 32*** (0, 55) -2, 39*** (0, 44)
Sexo [homem] -0, 41* (0, 17) -0, 08 (0, 11)
Ref. Jovem
Jovem adulto -0, 24 (0, 51) 0, 89* (0, 41)
Adulto -0, 32 (0, 49) 0, 31 (0, 40)
Velho -1, 48* (0, 64) 0, 14 (0, 44)
Renda [escala 1 – 8] 0, 10 (0, 06) 0, 06 (0, 04)
Escolaridade [escala 1-10] 0, 22*** (0, 04) 0, 32*** (0, 03)
Cor [branco] -0, 03 (0, 17) 0, 16 (0, 11)
Observações 1788
R2/R2 ajustado 0, 174/0, 174
Tabela 3 Modelo de Regressão Logística para o Comparecimento Eleitoral em 2022: Efeitos do Engajamento Online, Faixa Etária, Ciclo de Vida e Variáveis de Controle
Ref. Não Comparecimento eleitoral Comparecimento eleitoral
Log-Odds (std. Error) Log-Odds (std. Error)
Intercepto 0, 20 (0, 33) -0, 04 (0, 41)
Ref. Baixo engajamento online
Médio engajamento online 0, 15 (0, 22) 0, 11 (0, 23)
Alto engajamento online 0, 36* (0, 15) 0, 33* (0, 15)
Idade [contínua] 0, 01** (0, 00)
Ref. Jovem
Jovem adulto 0, 77* (0, 37)
Adulto 1, 28** (0, 36)
Velho 0, 74 (0, 41)
Sexo [homem] 0, 07 (0, 13) 0, 07 (0, 13)
Escolaridade [escala 1-10] 0, 15*** (0, 03) 0, 11*** (0, 03)
Cor [branco] -0, 04 (0, 13) 0, 01 (0, 13)
Observações 2000 2000
R2/R2 ajustado 0, 015 0, 021
  • Este estudo contou com apoio financeiro do CNPq, da Fundação Araucária e da FAPESP. Agradecemos a equipe de edição da revista e as contribuições dos pareceristas.

REFERÊNCIAS

  • Editor Chefe:
    Renato Francisquini Teixeira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    11 Jul 2023
  • Aceito
    30 Jan 2025
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