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Estratégia, Mudança Organizacional e Resiliência Organizacional

O artigo “Resiliência organizacional e inovação sustentável: um estudo sobre o modelo de gestão de pessoas de uma empresa brasileira de energia”, de Isabella Freitas Gouveia de Vasconcelos, Alvaro Bruno Cyrino, Lucas Martins D´Oliveira e Eric Proença Prallon, publicado no Cadernos EBAPE.BR, v. 13, nº 4, Out./Dez. 2015, iniciou o debate deste número especial do periódico Cadernos EBAPE.BR, dedicado ao tema resiliência organizacional.

Geralmente, o conceito de resiliência está ligado à resposta da organização a eventos disruptivos, por meio de adaptação positiva em um novo patamar de complexidade, superando a situação de ruptura e implementando a mudança com sucesso.

O conceito de inovação radical em tecnologia, produtos, serviços e formas organizacionais já traz em si a ideia de ruptura e adaptação do grupo organizacional em um novo patamar de complexidade após o redesenho das formas de trabalho, do modelo de negócios, dos produtos e/ou serviços e dos processos organizacionais e das formas de remuneração que normalmente acompanham as inovações radicais. Além disso, independente das inovações radicais que venham a criar, as organizações necessitam adaptar-se a situações de maior competitividade, em um meio ambiente de negócios que se torna cada vez mais competitivo por causa da ação das concorrentes - que também inovam sucessivamente. Crises políticas com impacto na economia ou mudanças na economia devido a outros fatores de ordem econômica e/ou social, mudanças na legislação por parte do governo ou na regulamentação por parte de organismos internacionais também podem provocar rupturas na organização, exigindo redesenho das formas de trabalho e/ou das tecnologias. Nesse panorama de maior competitividade e maior turbulência, que tende a ser o cenário de negócios futuros, o conceito de resiliência também passa a ser relevante tendo em vista a necessidade das organizações enfrentarem essas situações de ruptura com êxito, atingindo novos níveis de performance e estabilidade por meio da implantação de tecnologias e de interações mais complexas que advêm do redesenho das formas de trabalho e de interação, além das estruturas organizacionais, das formas de remuneração e das carreiras.

Temas como prospectiva estratégica (antecipação de cenários futuros, inclusive os de ruptura); novas formas organizacionais (organizações pós-burocráticas, adocracias); inovação sustentável e formas de interação mais substantivas nas organizações (de inspiração habermasiana, mais voltadas ao entendimento real das questões e que embasam a produção de conhecimento); e equilíbrio dinâmico (o atingimento de patamares de equilíbrio cada vez mais complexos - após vencer situações de ruptura) também surgem com maior frequência e estão relacionados à resiliência organizacional.

Atualmente, a maioria dos países do mundo vivencia situações de crise econômica e/ou social e o tema resiliência ganha importância, seja na administração de empresas, na administração pública ou no terceiro setor.

Superar as crises e criar uma sociedade mais justa, preservando-a para as gerações futuras, restabelecendo o equilíbrio climático do planeta e protegendo o meio ambiente, também constituíram alvos de debate no encontro que gerou o acordo de Paris, assinado por 175 países entre 30 de novembro 2014 e 11 de junho de 2015.

Esses esforços visam a evitar e superar rupturas sociais, econômicas e ambientais, para oferecer às gerações futuras esperança de uma sociedade mais justa e equilibrada. Nesse sentido, como veremos, o tema resiliência também é estudado na ecologia, nas ciências sociais e em história - trata-se de tema múltiplo que permeia diversas áreas do conhecimento.

Agradecemos a colaboração do aluno de graduação Erik Proença Prallon, que participou da elaboração do artigo de 2015 - referência para a publicação deste número especial do Cadernos EBAPE.BR.

O artigo inicial conceitua o tema foi escrito pela atual editora do periódico e coautores. O estudo foi aprovado pelo Editor-chefe anterior, prof. Fernando G. Tenório, que ofereceu a oportunidade para o desenvolvimento deste número temático. O mesmo ocorreu com o artigo do prof. Hélio Arthur Reis Irigaray, também editor do periódico.

Apresentaremos a seguir os artigos que compõem esta edição especial do Cadernos EBAPE.BR, que tratam o tema resiliência de forma direta ou indireta e retratam excelentes pesquisas sobre o assunto.

O artigo, Organizações pós-burocráticas e resiliência organizacional: a institucionalização de formas de comunicação mais substantivas nas relações de trabalho, de Isabella Francisca Freitas Gouveia de Vasconcelos, Alvaro Bruno Cyrino, Leonardo Araújo de Carvalho e Lucas Martins d´Oliveira, mostra que quanto mais resiliente é a organização, mais sua atividade é inovadora e baseada em trabalho substantivo, com comunicação que visa ao real entendimento das questões, como uma comunicação de inspiração habermasiana que busca produzir conhecimento factual. O modelo das organizações pós-burocráticas, relacionado ao conceito de resiliência, discute tais questões.

Resiliência organizacional: proposição de modelo integrado e agenda de pesquisa, de Helio Arthur Reis Irigaray, Kely Cesar Martins de Paiva e Cristina Chaves Goldschmidt, sintetiza questões conceituais a respeito da resiliência no mundo do trabalho e propõe um modelo integrado de análise.

Resiliência no trabalho: uma análise comparativa entre as teorias funcionalista e crítica, de Adriana de Azevedo Vieira e Carlyle Tadeu Falcão de Oliveira, apresenta uma pesquisa de cunho qualitativo, no qual foram analisados 59 trabalhos publicados no período de 1999 a 2014. Os resultados revelaram que o conceito de resiliência, na perspectiva funcionalista, continua dominante no discurso organizacional.

Competências para a sustentabilidade organizacional: uma revisão sistemática, de Edson Luis Kuzma, Sérgio Luis Dias Doliveira e Adriana Queiroz Silva, considerando a relevância das discussões que envolvem as competências societais e a sustentabilidade organizacional, analisa e explora a relação existente entre as competências organizacionais e a sustentabilidade, aplicada ao contexto empresarial.

O artigo Capacidades dinâmicas de um ponto de vista institucionalista, de José Bonfim Albuquerque Filho, Sergio Bulgacov e Márcia Ramos May, tem por objetivo elucidar os efeitos das respostas estratégica, técnica e institucional na perspectiva das capacidades dinâmicas, tendo em vista as mudanças ambientais no meio ambiente de negócios, com base em estudo de caso na mais antiga empresa jornalística no Brasil.

Valorização do tema “Responsabilidade Social” em Instituições de Ensino Superior? Análise de cursos de Administração no estado do Rio de Janeiro, de Luiz Antonio Jucá Serao, Mirian Albert Pires, Fátima Bayma de Oliveira, Anderson de Souza Sant’Anna, analisa o nível de valorização do tema responsabilidade social em cursos de administração de instituições de Ensino Superior do estado do Rio de Janeiro, a partir da percepção de coordenadores de cursos, alunos e entidades estudantis que promovem práticas sociais.

Resiliência organizacional e marketing social: uma avaliação de fundamentos e afinidades, de Daniel Kamlot, relaciona o conceito de resiliência organizacional ao de marketing social, buscando expor os pontos em comum entre essas áreas de estudo e identificando de que forma ambas se associam.

O artigo Fatores motivadores dos programas de gestão ambiental em hospitais: um estudo de caso múltiplo em quatro hospitais privados brasileiros, de Jan Kruger, Claudia Araújo e Guilherme Curi, investiga o que motiva os gestores de hospitais a buscar e adotar programas de responsabilidade ambiental e identificar as ações implementadas por eles. Um estudo de caso múltiplo foi conduzido em quatro hospitais brasileiros, localizados no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Aspectos críticos do teletrabalho em uma companhia multinacional, de Igor Leal Aderaldo, Carlos Victor Leal Aderaldo e Afonso Carneiro Lima, mostra que as empresas são constantemente forçadas a se adaptar, revisando suas políticas, seus processos e suas práticas e rotinas de trabalho. Dentre as diversas práticas de trabalho, o teletrabalho é um tema polêmico em administração e merece estudos mais aprofundados.

E o artigo Tipos de divulgação da informação financeira e não financeira de responsabilidade social empresarial, de Maria José da Silva Faria, tem por objetivo elencar diferentes formas de divulgação de informação de responsabilidade social pelas empresas e analisá-las.

Boa leitura!

Isabella Francisca Freitas Gouveia de Vasconcelos
Editora

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Set 2017
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