Acessibilidade / Reportar erro

Pirataria intelectual nas práticas de pesquisa em Administração

Piratería intelectual en prácticas de investigación en administración

Resumo

O objetivo deste artigo é apresentar o conceito de pirataria intelectual e suas consequências de caráter ético-legal e formativo no campo acadêmico da Administração. Trata-se de um ensaio sobre uma prática identificada pelos autores, mas pouco discutida no meio acadêmico. A pirataria intelectual é uma modalidade sutil de plágio que normalmente não é identificada por softwares. Consiste na prática de copiar uma sistematização teórica ou ideia produzida por outra pessoa, sem citá-la. Tal prática torna-se evidente não pela cópia de palavras ou frases, mas pelo emprego de um conjunto de autores, até mesmo citações, utilizados em outro trabalho, sob a aparência de que as escolhas e a sistematização teórica são originais. Nossa contribuição está em oferecer um conceito que seja capaz de definir uma prática de plágio que ainda não está presente na literatura sobre o tema em questão. Concluímos que a pirataria intelectual não se trata apenas de um problema ético-legal, mas é também reflexo de deficiências na formação de pesquisadores em relação a aspectos como autoria, originalidade, teorização e teoria no fazer científico.

Palavras-chave:
Pirataria intelectual; Plágio; Má conduta acadêmica; Práticas questionáveis de pesquisa; Formação de pesquisadores

Resumen

Este artículo tiene como objetivo presentar el concepto de Piratería Intelectual y sus consecuencias ético-jurídicas y formativas en el campo académico de la Administración. Este es un ensayo sobre una práctica identificada por los autores, pero poco discutida en la academia. La piratería intelectual es una forma sutil de plagio generalmente no identificada por softwares. Es la práctica de copiar una sistematización teórica o idea producida por otra persona sin citarla. Dicha práctica se hace evidente no al copiar palabras o frases sino al utilizar un conjunto de autores (incluso citas) utilizados en otro trabajo, como si las elecciones y la sistematización teórica fueran originales. Nuestra contribución es ofrecer un concepto capaz de definir una práctica de plagio que aún no está presente en la literatura sobre el tema en cuestión. Concluimos que la Piratería Intelectual no es sólo un problema ético-jurídico, sino también un reflejo de las deficiencias en la formación de los investigadores en aspectos como la autoría, la originalidad, la teorización y la teoría en la práctica científica.

Palabras clave:
Piratería intelectual; Plagio; Mala conducta académica; Prácticas de investigación cuestionables; Formación de investigadores

Abstract

This essay presents the concept of Intellectual Piracy and its ethical-legal and formative consequences in the academic field of Administration. This is an essay on a practice identified by the authors but little discussed in academia. Intellectual piracy is a subtle form of plagiarism usually not identified by software. It is the practice of copying a theoretical systematization or idea produced by another person without citing it. This practice becomes evident not by copying words or phrases but by using a set of authors (even citations) used in another work as if the choices and theoretical systematization were original. Our contribution is to offer a concept capable of defining a practice of plagiarism that is not yet present in the literature on the subject in question. We conclude that intellectual piracy is an ethical-legal problem and a reflection of deficiencies in training researchers concerning aspects such as authorship, originality, theorization, and theory in scientific practice.

Keywords:
Intellectual piracy; Plagiarism; Academic misconduct; Questionable research practices; Training of researchers

INTRODUÇÃO

Integridade e má conduta acadêmica estão sempre presentes nos debates do campo científico (Bettaieb et al., 2022Bettaieb, D. M., Alawad, A. A., & Malek, R. B. (2022). Visual plagiarism in interior design: is it easy to recognise?International Journal for Educational Integrity,18(7), 1-20. https://doi.org/10.1007/s40979-022-00101-4
https://doi.org/10.1007/s40979-022-00101...
; Caldwell, 2010Caldwell, C. (2010). A Ten-Step Model for Academic Integrity: A Positive Approach for Business Schools. Journal of Business Ethics, 92(1), 1-13. https://doi.org/10.1007/s10551-009-0144-7
https://doi.org/10.1007/s10551-009-0144-...
; Fanelli et al., 2015Fanelli, D., Costas, R., & Larviere, V. (2015). Misconduct policies, academic culture and career stage, not gender or pressure to publish, affect scientific integrity. PLoS ONE, 10(6), e0127556. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0127556
https://doi.org/10.1371/journal.pone.012...
; Fraser et al., 2018Fraser, H., Parker, T., Nakagawa, S., Barnett, A., & Fidler, F. (2018). Questionable research practices in ecology and evolution. PLoS ONE, 13, e0200303.; Harley et al., 2014Harley, B., Faems, D., & Corbett, A. (2014). A Few Bad Apples or the Tip of an Iceberg? Academic Misconduct in Publishing. Journal of Management Inquiry, 51(8), 1361-1363.; Patel, 2022Patel, J. (2022). Guest article: Research misconduct. Committee on Publication Ethics - COPE. Recuperado dehttps://publicationethics.org/news/research-misconduct-great-unknown Acesso em 9 de abril de 2022.
https://publicationethics.org/news/resea...
). Pesquisas falsificadas por meio de fabricação de dados e distorção dos resultados, publicação de artigos com mesma base de dados de outro estudo, autoria falsa e múltiplas formas de plágio compõem o amplo espectro do que pode ser considerado prática questionável de pesquisa ou de má conduta (Harley et al., 2014Harley, B., Faems, D., & Corbett, A. (2014). A Few Bad Apples or the Tip of an Iceberg? Academic Misconduct in Publishing. Journal of Management Inquiry, 51(8), 1361-1363.; Krokoscz, 2015Krokoscz, M. (2015). Outras palavras sobre autoria e plágio. Atlas: Barueri.; Tourish & Craig, 2020Tourish, D., & Craig, R. (2020). Research Misconduct in Business and Management Studies: Causes, Consequences, and Possible Remedies. Journal of Management Inquiry, 29(2), 174-187.). Apesar dos antigos e extensos debates sobre práticas questionáveis de pesquisa e má conduta acadêmica (Caldwell, 2010Caldwell, C. (2010). A Ten-Step Model for Academic Integrity: A Positive Approach for Business Schools. Journal of Business Ethics, 92(1), 1-13. https://doi.org/10.1007/s10551-009-0144-7
https://doi.org/10.1007/s10551-009-0144-...
), o tema continua merecendo reflexões e criando oportunidades para novas perspectivas.

Neste texto, nosso foco está na prática do plágio, que pode ser entendido, de maneira geral, como o ato de copiar as ideias ou palavras de outra pessoa e apresentá-las como próprias, sem dar crédito à fonte original (Berlinck, 2011Berlinck, R. G. S.(2011). The academic plagiarism and its punishments - a review. Revista Brasileira de Farmacognosia, 21(3), 365-372. https://doi.org/10.1590/S0102-695X2011005000099
https://doi.org/10.1590/S0102-695X201100...
; Krokoscz, 2015Krokoscz, M. (2015). Outras palavras sobre autoria e plágio. Atlas: Barueri.; Bettaieb et al., 2022Bettaieb, D. M., Alawad, A. A., & Malek, R. B. (2022). Visual plagiarism in interior design: is it easy to recognise?International Journal for Educational Integrity,18(7), 1-20. https://doi.org/10.1007/s40979-022-00101-4
https://doi.org/10.1007/s40979-022-00101...
). O plágio é uma prática deletéria, especialmente no contexto acadêmico, no qual os pesquisadores buscam fazer progredir o conhecimento apropriando-se de obras de outros colegas (Lewis et al., 2011Lewis, B. R., Duchac, J. E., & Beets, S. D. (2011). An Academic Publisher’s Response to Plagiarism. Journal of Business Ethics, 102, 489-506.). Essa prática, no entanto, também alcança outras esferas da vida social. Por exemplo, os discursos anticiência colocam em xeque o conhecimento científico e a própria vida em sociedade em movimentos como o antivacina. Isso ocorre porque a prática do plágio acaba por servir como elemento justificador para o descrédito da ciência (Fernandes et al., 2022Fernandes, C. M., Oliveira, L. A., & Chaves, F. R. (2022). A negação da ciência na retórica populista antissistema. Revista Mosaico - Revista de História, 15(1), 100-112. https://doi.org/10.18224/mos.v15i1.8975
https://doi.org/10.18224/mos.v15i1.8975...
; Fonseca et.al., 2023Fonseca, C., Pettitt J., Woollard, A., Rutherford, A., Bickmore, W., Ferguson-Smith, A. … Hurst, L. D. (2023). People with more extreme attitudes towards science have self-confidence in their understanding of science, even if this is not justified. PLoS Biol, 21(1), e3001915. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.3001915
https://doi.org/10.1371/journal.pbio.300...
).

O plágio de que tratamos aqui tem caráter sutil e costuma passar sem ser notado por pesquisadores, editores e revisores, uma vez que não é facilmente identificado em programas detectores de plágio. Trata-se do que Irigaray (2020Irigaray, H. A. R. (2020). Plágio e pirataria na academia: entre Mizner e o Código Penal Brasileiro. Cad. Ebape, 18(3), 1-6.) denominou de pirataria intelectual, que envolve plagiar elementos sutis relacionados tanto à sequência lógica quanto ao encadeamento do raciocínio do autor, sem citá-lo.

É possível notar que a pirataria intelectual não consiste em um plágio grotesco, mas refinado. Diferente do que muitos acadêmicos costumam argumentar, não se trata de um plágio cometido por estudantes ou exclusivo destes. Plágios refinados são usualmente cometidos ou liderados por pesquisadores sêniores (Honig & Bedi, 2012Honig, B., & Bedi, A. (2012). The Fox in the Hen House: A Critical Examination of Plagiarism Among Members of the Academy of Management. Academy of Management Learning & Education, 11(1), 101-123.). As justificativas para o plágio em geral, incluindo a pirataria intelectual, são diversas e abrangem fatores que vão desde aspectos individuais de caráter, até elementos relacionados a aspectos culturais e institucionais, como a falta de rigor, desatenção, o desconhecimento acerca da citação adequada, a extrema pressão que os pesquisadores enfrentam para publicar artigos de alta qualidade visando promoções acadêmicas ou financiamento de pesquisa, bem como a falta de temor em relação às possíveis consequências (Mehregan, 2021Mehregan, M. (2021). How to Deal with Academic Plagiarism More Effectively. Publishing Research Quaterly, 37, 53-54. https://doi.org/10.1007/s12109-021-09786-w
https://doi.org/10.1007/s12109-021-09786...
).

Diante de algumas pistas apresentadas por Irigaray (2020Irigaray, H. A. R. (2020). Plágio e pirataria na academia: entre Mizner e o Código Penal Brasileiro. Cad. Ebape, 18(3), 1-6.), em seu editorial, sobre essa modalidade de plágio, objetivamos apresentar uma conceituação de pirataria intelectual, bem como suas implicações para o meio acadêmico. A motivação para a escrita do presente texto está em lançar luz a uma prática de plágio corriqueira entre acadêmicos. Ressalta-se que muitos deles não se atentam para o fato de que tal prática é uma forma de plágio e má conduta de pesquisa. Soma-se a isso a demonstração de que a pirataria intelectual também aponta, em alguma medida, uma lacuna na educação de pesquisadores que frequentemente recebem um treinamento caracterizado mais pela conquista de resultados acadêmicos e menos por uma reflexão sobre as práticas de pesquisas que envolvem tal conquista.

Nossa experiência como pesquisadores fez emergir a percepção de um aumento da incidência de trabalhos (artigos, dissertações e teses) que utilizam estruturas teóricas e conceituais apresentadas anteriormente por outros acadêmicos. Observamos incorporação de trechos textuais e adoção de organização de ideias da mesma forma como utilizada originalmente por um dado autor, sem menção a este, que já havia sistematizado tal conjunto de conceitos e ideias. Um dos autores deste artigo já identificou pirataria intelectual dos seus trabalhos durante revisões por pares para eventos e periódicos e, até mesmo, em uma tese de doutorado, quando foi convidado para participar da qualificação - ocasião em que identificou o plágio. Posteriormente não recebeu convite para a defesa final do trabalho, que ainda apresentava o plágio.

O debate sobre pirataria intelectual é importante porque reforça que são imprescindíveis os créditos não somente aos conceitos ou ideias mais evidentes de um autor, mas também aos esforços de estruturação intelectual de um corpo teórico de conhecimento sobre determinado assunto. Tais construções teóricas demandam muito conhecimento e reflexão. Elas servem de base para que iniciantes em um determinado campo teórico sejam capazes de compreendê-lo e, consequentemente, desenvolver suas pesquisas de maneira consistente. Além disso, a pirataria intelectual pode ser utilizada como justificativa (possivelmente não a única) para uma queixa recorrente de pesquisadores brasileiros da área de Administração - ela se refere à prática pouco frequente de citação entre eles. No caso da pirataria intelectual, os pesquisadores baseiam suas obras no texto de um autor brasileiro, mas citam apenas os textos utilizados por esse autor, sem menção ao(s) texto(s) original(is) da pesquisa.

Nossa contribuição central está em oferecer um conceito que seja capaz de definir uma prática de plágio que ainda não está presente na literatura, demandando reflexão, debate e ações para combatê-la, devido às consequências nefastas que provoca no meio acadêmico.

Neste ensaio, inicialmente buscamos compreender o que significam práticas questionáveis de pesquisa e má conduta acadêmica, a fim de apontar o plágio como oriundo desses debates. Evidenciamos também o que encontramos na literatura sobre esses temas (especialmente em periódicos de Administração). Na sequência, buscamos aprofundar a noção de pirataria intelectual, suas características e implicações para o meio acadêmico. Ao final, formulamos algumas reflexões sobre o tema, buscando oferecer alguns caminhos práticos para mitigar esse problema.

PRÁTICAS QUESTIONÁVEIS DE PESQUISA E MÁ CONDUTA ACADÊMICA

Práticas questionáveis de pesquisa não significam, necessariamente, má conduta acadêmica (Kaiser et al., 2022Kaiser, M., Drivdal, L., Hjellbrekke, J. et al. (2022). Questionable Research Practices and Misconduct Among Norwegian Researchers. Sci Eng Ethics 28(2), 1-31. https://doi.org/10.1007/s11948-021-00351-4
https://doi.org/10.1007/s11948-021-00351...
). Essas práticas têm mais relação com ações não intencionais dos autores, enquanto a má conduta acadêmica é resultado de ações intencionais (Vrieze, 2021Vrieze, J. (2021). Large survey finds questionable research practices are common. Science, 373, 265-265. https://doi.org/10.1126/science.373.6552.265
https://doi.org/10.1126/science.373.6552...
), ainda que haja autores que prefiram não fazer essa distinção (Bouter, 2023Bouter, L. (2023). Research misconduct and questionable research practices form a continuum. Accountability in Research: Ethics, Integrity and Policy. https://doi.org/10.1080/08989621.2023.2185141
https://doi.org/10.1080/08989621.2023.21...
).

Uma prática questionável de pesquisa, por exemplo, é a iniciativa de convidar coautores para submissão de textos a periódicos e eventos científicos apenas em virtude de uma participação mínima na elaboração do estudo (às vezes, constituindo mera sugestão teórica ou metodológica), ainda que o principal autor considere essa participação fundamental na versão final do material. No contexto acadêmico brasileiro, essa prática costuma ocorrer após a defesa de dissertações e teses. Tal situação se dá em razão dos comentários e sugestões feitos durante a defesa. Como consequência, alguns orientadores e estudantes de mestrado e doutorado acabam por convidar membros da banca para participarem como coautores em artigos oriundos dos trabalhos de dissertação e tese. Casos assim enquadram-se no debate sobre autoria científica (Domingues, 2013Domingues, E. (2013). Autoria em tempos de “produtivismo acadêmico”. Psicologia em Estudo, 18(2), 195-198. https://www.scielo.br/j/pe/a/K5z5wWHp6wFNGkGsxz8rb6q/
https://www.scielo.br/j/pe/a/K5z5wWHp6wF...
; Krokoscz, 2015Krokoscz, M. (2015). Outras palavras sobre autoria e plágio. Atlas: Barueri.; Rossoni, 2018Rossoni, L. (2018). Editorial: Produtivismo e Coautoria Cerimonial. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa - RECADM, 17(2), i-viii.; Fleming, 2021Fleming, N. (2021). The authorship rows that sour scientific collaborations. Nature, 594, 459-462. https://www.nature.com/articles/d41586-021-01574-y
https://www.nature.com/articles/d41586-0...
) e, eventualmente, em casos considerados como prática questionável de pesquisa. Entretanto, cabe ressaltar que nem todos os convites para coautoria em situações como esta configuram prática questionável de pesquisa. Participar de uma banca de mestrado ou doutorado colaborando efetivamente na escrita do texto e na organização das ideais torna evidente a questão da autoria.

Em relação à má conduta acadêmica, referimo-nos a toda ação que põe em risco o que autores como Devine e Chin (2018Devine, C. A., & Chin, E. D. (2018). Integrity in nursing students: A concept analysis. Nurse Education Today, 60, 133-138. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.10.005
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.10.0...
) e Summers et al. (2021Summers, A., Wadsworth, D., Bratby, K., Hobbs, E., & Wood, D. (2021). The Experiences of Healthcare Students Who Have Been Accused of Breaching Academic Integrity: A Study Protocol. International Journal of Qualitative Methods, 20, 1-6.) chamam de integridade acadêmica. Ela consiste em um comportamento ético, baseado em ações honestas e confiáveis durante atividades de pesquisa e de educação. Em editorial publicado no Journal of Management Studies, Harley et al. (2014Harley, B., Faems, D., & Corbett, A. (2014). A Few Bad Apples or the Tip of an Iceberg? Academic Misconduct in Publishing. Journal of Management Inquiry, 51(8), 1361-1363.) criticam práticas de manipulação de dados ou distorção de resultados de pesquisa com o objetivo de “apagar” dados “sem significância” ou que venham a comprometer a apresentação dos resultados. Os autores não apenas condenam atividades dessa natureza, como também listam ações que fazem parte da estratégia do periódico para dirimir tais práticas. O periódico, além de assegurar textos de qualidade que contribuam para a disseminação do conhecimento, deve estipular mecanismos editoriais que identifiquem risco à integridade acadêmica.

Diferentes autores usam termos variados para a indicação de ações que se enquadram tanto em prática questionável de pesquisa quanto em má conduta acadêmica: fraude, trapaça, contrato de trapaça, suborno, fabricação, ghost writing, práticas desonestas, intertextualidade transgressora, falsificação, distorção, autoplágio, plágio, dentre outros termos (Drach & Slobodianiuk, 2020Drach, I., & Slobodianiuk, O. (2020). Building a Culture of Academic Integrity in the Student Environment Case of Vinnytsia National Technical University (Ukraine). Creative Education, 11, 1442-1461. https://doi.org/10.4236/ce.2020.118105
https://doi.org/10.4236/ce.2020.118105...
; Foltýnek & Králíková, 2018Foltýnek, T., & Králíková, V. (2018). Analysis of the contract cheating market in Czechia. International Journal for Educational Integrity, 14(1), 1-15. https://doi.org/10.1007/s40979-018-0027-8
https://doi.org/10.1007/s40979-018-0027-...
; Tindall et al., 2021Tindall, I. K., Fu, K.W., Tremayne, K., & Curtis, G. J. (2021). Can negative emotions increase students’ plagiarism and cheating?International Journal for Educational Integrity,17(25), 1-16.; Vaccino-Salvadore & Hall Buck, 2021Vaccino-Salvadore, S., & Hall Buck, R. (2021). Moving from plagiarism police to integrity coaches: assisting novice students in understanding the relationship between research and ownership.International Journal for Educational Integrity,17(20), 1-18.). Aspecto que merece registro também são os trabalhos que tratam da questão relacionada a estudantes. Os resultados apontam que percentuais elevados de discentes admitem ter participado de alguma prática questionável ou desonesta em relação às atividades acadêmicas (Birks et al., 2018Birks, M., Smithson, J., Antney, J., Zhao, L., & Burkot, C.(2018). Exploring the paradox: A cross-sectional study of academic dishonesty among Australian nursing students. Nurse Education Today, 65, 96-101. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2018.02.040
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2018.02.0...
; McCabe et al., 2017McCabe, D. L., Butterfield, K., & Trevino, L. (2017). Cheating in college. Maryland, EUA: John Hopkins University Press.; Oliveira et al., 2014Oliveira, T. M. V., Aguiar, F. H., Queiroz, J. P., & Barrichello, A. (2014). Cola, plágio e outras práticas acadêmicas desonestas: um estudo quantitativo-descritivo sobre o comportamento de alunos de graduação e pós-graduação da área de negócios.Revista de Administração Mackenzie, 15(1), 73-97.; Summers et al. 2021Summers, A., Wadsworth, D., Bratby, K., Hobbs, E., & Wood, D. (2021). The Experiences of Healthcare Students Who Have Been Accused of Breaching Academic Integrity: A Study Protocol. International Journal of Qualitative Methods, 20, 1-6.).

Conforme apontado por autores de diferentes áreas, o plágio deve ser considerado um fenômeno complexo (Jereb et al., 2018Jereb E., Urh, M., Jerebic, J., & Šprajc, P. (2018). Gender differences and the awareness of plagiarism in higher education. Social Psychology of Education, 21(2), 409-426.; Tran et al., 2022Tran, M. N., Hogg, L., & Marshall, S. (2022). Understanding postgraduate students’ perceptions of plagiarism: a case study of Vietnamese and local students in New Zealand.International Journal for Educational Integrity,18, 3.). Sua explicação não se dá de maneira reducionista, uma vez que diversos fatores influenciam o indivíduo a adotar tal comportamento. McCabe et al. (2001McCabe, D. L., Trevino, L., & Butterfield, K. (2001). Cheating in Academic Institutions: A Decade of Research. Ethics & Behavior,11(3), 219-232.) listam a pressão acadêmica, os prazos insuficientes, as práticas semelhantes feitas pelos pares e a possibilidade mínima de punição.

Para Foltýnek e Králíková (2018Foltýnek, T., & Králíková, V. (2018). Analysis of the contract cheating market in Czechia. International Journal for Educational Integrity, 14(1), 1-15. https://doi.org/10.1007/s40979-018-0027-8
https://doi.org/10.1007/s40979-018-0027-...
), o plágio ocorre quando alguém utiliza determinada fonte, independentemente da maneira como foi obtida (repositórios digitais, materiais impressos etc.), sem dar crédito à sua autoria ou adequado reconhecimento. Trata-se de crescente problema acadêmico-pedagógico global (Birks et al., 2020Birks, M., Mills, J., Allen, S., & Tee, S. (2020). Managing the mutations: academic misconduct in Australia, New Zealand and the UK. International Journal for Educational Integrity, 16(6), 1-15. https://doi.org/10.1007/s40979-020-00055-5
https://doi.org/10.1007/s40979-020-00055...
). Zejno (2018Zejno, B. (2018). Plagiarism in academic writing among students of higher learning institutions in Malaysia: An Islamic perspective. Journal of Education and Social Sciences, 9(3), 1-4. https://www.jesoc.com/wp-content/uploads/2018/04/KC9.3_2.pdf
https://www.jesoc.com/wp-content/uploads...
) destaca que, nesse cenário, o conhecimento passa a ser (também) considerado commodity.

O plágio acontece de forma intencional, motivado por vantagens pessoais, economia de tempo, ou acidentalmente, quando o autor não tem consciência de que está infringindo normas (Gullyfer & Tyson, 2010Gullyfer, J., & Tyson, G. A. (2010). Exploring university students’ perceptions of plagiarism: a focus group study. Studies in Higher Education, 35(4), 463-481.; Sousa-Silva, 2014Sousa-Silva, R. (2014). Investigating academic plagiarism: a forensic linguistics approach to plagiarism detection. International Journal for Educational Integrity, 10(1), 31-41.; Tran et al., 2022Tran, M. N., Hogg, L., & Marshall, S. (2022). Understanding postgraduate students’ perceptions of plagiarism: a case study of Vietnamese and local students in New Zealand.International Journal for Educational Integrity,18, 3.). Entretanto, como alertam Tran et al. (2022), no âmbito da pós-graduação, supõe-se que o nível de formação e a trajetória acadêmica proporcionem à pessoa habilidades suficientes para conduzir sua carreira acadêmica de forma íntegra, seja ao expor suas ideias, seja ao relacioná-las com textos e propostas de outros autores. Esse pressuposto, no entanto, não encontra correspondência nas práticas de pesquisa e escrita científicas. Há, até mesmo, pesquisadores que julgam o plágio apenas um erro, o que é um fato preocupante, visto que possibilita a perpetuação dessa visão na relação mentor-aprendiz, gerando impactos diretos na educação de futuros pesquisadores (Vasconcelos et al., 2022Vasconcelos, S. M. R., Masuda, H., Sorenson, M., Prosdocimi, F., Palácios, M., Watanabe, E., Pinto, J. C., Silva, J. R. L. e, Vieyra, A., Pinto, A., Mena-Chalco, J., Sant’Ana, M., & Roig, M. (2022). Perceptions of plagiarism among PhDs across the sciences, engineering, humanities, and arts: Results from a national survey in Brazil. Accountability in Research: Ethics, Integrity and Policy, 11, 1-32. https://doi.org/10.1080/08989621.2021.2018306
https://doi.org/10.1080/08989621.2021.20...
).

Há variadas formas de ocorrência do plágio no ambiente acadêmico. Ele se manifesta na apropriação ipsis litteris de trechos do material publicado, ou em paráfrases de ideias, argumentos ou estrutura teórica de um texto original. A detecção do plágio refinado torna-se mais difícil, uma vez que nem mesmo os softwares detectores de plágio são capazes de identificar a apropriação indevida (Krokoscz, 2022Krokoscz, M. (2022). Eficiência de softwares nacionais e internacionais na detecção de similaridade e de plágio em manuscrito. Em Questão, 28(4), 123123.). Isso decorre do fato de que as palavras e os termos utilizados no texto plagiador são diferentes das que constam do original. No entanto, não somente a ideia, como também o argumento com base em determinado campo conceitual são os mesmos.

Recentemente, os avanços nas tecnologias de Inteligência Artificial (IA) ampliaram as possibilidades de refinamento de plágio. Os chatbots são as tecnologias desenvolvidas pela IA que impactam diretamente a prática da pesquisa e escrita científica. Essas tecnologias são modelos de grande linguagem (large language model [LLM]), um sistema que aprende autonomamente por intermédio de dados e pode produzir textos sofisticados, aparentemente inteligentes, após o treinamento por meio de um extenso conjunto de dados de texto (van Dis et al., 2023van Dis, E. A. M., Bollen, J., Zuidema, W., van Rooij, R., & Bockting, C. L. (2023). ChatGPT: five priorities for research. Nature, 614, 224-226. https://doi.org/10.1038/d41586-023-00288-7
https://doi.org/10.1038/d41586-023-00288...
). Na utilização de IA para a escrita acadêmica por meio de chatbots, requer atenção a maneira como os textos são produzidos. Os chatbots coletam dados disponíveis na internet, não fornecem as fontes utilizadas - algo semelhante à pirataria intelectual “analógica” -, suas informações, geralmente, são imprecisas, desatualizadas ou, até mesmo, errôneas (Elali & Rachid, 2023Elali, F. R., & Rachid, L. N. (2023). AI-generated research paper fabrication and plagiarism in the scientific community. Patterns, 4(3), 100706. https://doi.org/10.1016/j.patter.2023.100706.
https://doi.org/10.1016/j.patter.2023.10...
). Ou seja, no que diz respeito à escrita científica, a lógica de funcionamento dos chatbots, até o momento, é preocupante. Cabe, no entanto, ressaltar que essas ferramentas parecem promissoras em relação a outras atividades de pesquisa, como a realização de revisões de literatura (Salvagno et al., 2023Salvagno, M., Taccone, F. S., & Gerli, A. G. Can artificial intelligence help for scientific writing?Critical Care, 2023 27(75). https://doi.org/10.1186/s13054-023-04380-2
https://doi.org/10.1186/s13054-023-04380...
).

A PIRATARIA INTELECTUAL

A pirataria intelectual consiste em cópia da organização teórica produzida por alguém, envolvendo algum tipo de revisão conceitual ou de literatura. Portanto, não se trata da cópia de uma sequência de palavras, mas, sim, da organização de um pensamento sobre um corpo teórico. De acordo com Irigaray (2020Irigaray, H. A. R. (2020). Plágio e pirataria na academia: entre Mizner e o Código Penal Brasileiro. Cad. Ebape, 18(3), 1-6.):

[U]m pirata intelectual é astuto o suficiente para produzir um texto aparentemente genuíno; ou seja, não há paráfrases, as citações são bem feitas, o índice de similaridade de seu trabalho é baixo. Então, onde estaria o crime? Ele se apropria do que há de mais relevante em um estudo: a ideia, a sequência lógica, o encadeamento do raciocínio. Aí há a verdadeira violação dos direitos autorais (Irigaray, 2020Irigaray, H. A. R. (2020). Plágio e pirataria na academia: entre Mizner e o Código Penal Brasileiro. Cad. Ebape, 18(3), 1-6., p. 3).

Frequentemente a compreensão de algum autor, teoria ou campo teórico é complexa. Isso exige que muitos pesquisadores desenvolvam uma organização e/ou sistematização própria para oferecer um encadeamento de um raciocínio que seja capaz de otimizar ou facilitar a compreensão de algum autor, alguma teoria ou mesmo um campo teórico. Ou seja, a sistematização do pesquisador sobre um corpo científico é fruto de uma produção intelectual original, ainda que o tema tratado, eventualmente, não o seja. Na prática, a sistematização representa escolhas e construções intelectuais do pesquisador que representam uma forma de pensamento. Na pirataria intelectual, o pirata - plagiador - não copia as palavras, mas a sistematização desenvolvida por outra pessoa, sem fazer menção ao trabalho original.

A pirataria intelectual manifesta-se, muitas vezes, de maneira sutil. Costuma ser percebida pelo criador da obra ou por indivíduos bem versados no trabalho deste. Em contrapartida, sistemas criados para identificar similaridade entre trabalhos acadêmicos podem não ser eficazes. Na pirataria intelectual, observa-se frequentemente a semelhança nos seguintes aspectos: a) escolha de fontes de citação; b) citações diretas e/ou indiretas; c) conceitos escolhidos para o desenvolvimento do trabalho; d) ordem da apresentação de ideias e/ou conceitos. É importante destacar que esses elementos, que serão aprofundados a seguir, surgiram de maneira indutiva ao longo de nossa experiência com a pirataria intelectual. Portanto, não se trata de uma categorização que se pretende universal ou definitiva, mas uma proposição que visa colaborar na conceituação e identificação da pirataria intelectual.

A semelhança na escolha de fontes de citação parece ser o caso mais frequente de pirataria intelectual. O trabalho plagiado costuma ter uma semelhança significativa no conjunto de autores mencionados no trabalho original. Em um primeiro momento, é possível imaginar que se trata de mera coincidência ou que determinado campo de pesquisa tenha um número limitado de autores citáveis. Entretanto, em uma leitura mais minuciosa do trabalho do plagiador, é possível notar que a coincidência se trata de uma cópia das escolhas do autor original. Observa-se que o plagiador não conduziu o trabalho de escolha dos autores citados, nem os organizou de forma lógica no texto.

Outro aspecto derivado do primeiro são citações diretas e/ou indiretas, no texto do plagiador, semelhantes àquelas do texto original. Com exceção de algumas passagens clássicas de algum autor reconhecido em determinado campo de pesquisa, não existe coincidência no caso de citações diretas e indiretas no mesmo padrão do texto original, às vezes, até na mesma ordem. Um olhar mais atento ao texto plagiado evidencia que, apesar das citações de autores clássicos ou famosos, a organização do texto está amparada em quem sistematizou aquele conjunto de autores e ideias, e não nos autores citados. Dependendo do nível do plágio, é possível notar que o plagiador não leu, ou não entendeu, os textos citados pelo autor original, de modo a deixar ainda mais evidente que se trata de uma leitura e/ou compreensão particular do texto e/ou autor plagiado. Em resumo, o plagiador cita textos sobre os quais pouco ou nada conhece e reproduz a organização e interpretação do autor e/ou texto plagiado, inclusive com vieses e inconsistências presentes no original.

Conceitos escolhidos para o desenvolvimento do trabalho podem ser cópia de outro trabalho, com vistas a apresentar uma linha de raciocínio e sustentação de uma tese. Quando um plagiador elege o mesmo conjunto de conceitos sem fazer citação a quem apresentou aquela organização inicialmente, ignora que a sistematização realizada é originária de uma construção intelectual própria. Mesmo que os conceitos utilizados não sejam originais e façam parte do repertório de outros pesquisadores, a maneira como eles são elaborados e apresentados partem de uma construção que envolve escolhas com base em uma proposta de trabalho intelectual.

Como desdobramento do ponto anterior, temos a cópia da ordem da apresentação de ideias e/ou conceitos. Ou seja, além de selecionar os mesmos conceitos do trabalho plagiado, frequentemente o plagiador utiliza uma ordem semelhante de apresentação e “articulação” dos conceitos. Reiterando, mesmo que os conceitos não sejam novos, sempre que alguém sistematiza um conjunto de conceitos em um trabalho científico está apresentando, no mínimo, um encadeamento de raciocínio que levou muito tempo para ser construído. Trata-se de um processo de autoria (Costa et al., 2017Costa, F. J., Sousa, S. C. T., & Muzzio, H. (2017). Uma Reflexão sobre Autoria Acadêmica.Teoria e Prática em Administração, 7(1), 1-25. https://doi.org/10.21714/2238-104X2017v7i1-32534
https://doi.org/10.21714/2238-104X2017v7...
; Krokoscz, 2015Krokoscz, M. (2015). Outras palavras sobre autoria e plágio. Atlas: Barueri.; Rossoni, 2018Rossoni, L. (2018). Editorial: Produtivismo e Coautoria Cerimonial. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa - RECADM, 17(2), i-viii.; Volpato, 2016Volpato, G. (2016). Autoria Científica: Por Que Tanta Polêmica?Revista de Gestão e Secretariado, 7(2), 213-228. https://doi.org/10.7769/gesec.v7i2.597
https://doi.org/10.7769/gesec.v7i2.597...
) que deve ser reconhecido (citado) e não ignorado.

MOTIVADORES DA PIRATARIA INTELECTUAL

Além de apresentar o que constitui a pirataria intelectual, pensamos ser importante oferecer alguma reflexão sobre as razões que levam à ocorrência de tal fenômeno. Certamente, uma primeira ideia é relacionar a pirataria intelectual às pressões por publicação no meio acadêmico e observar o quanto a carreira do pesquisador está atrelada a esse quesito (Lewis et al., 2011Lewis, B. R., Duchac, J. E., & Beets, S. D. (2011). An Academic Publisher’s Response to Plagiarism. Journal of Business Ethics, 102, 489-506.; Magnin et al., 2020Magnin, L. S. L. T., Faria, J. H., Penteado, R. C., & Takahashi, A. R. W. (2020). Produtivismo na Pós-Graduação em Administração: Posicionamentos dos Pesquisadores Brasileiros, Estratégias de Produção e Desafios Enfrentados.REAd. Revista Eletrônica de Administração, 26(2), 265-299.; Mendes-da-Silva & Leal, 2021Mendes-da-Silva, W., & Leal, C. C. (2021). Salami Science na Era do Open Data: Déjà lu e Accountability na Pesquisa em Gestão e Negócios.Revista de Administração Contemporânea, 25(1), 1-12.; Pfleegor et al., 2019Pfleegor, A. G., Katz, M., & Bowers, M. T. (2019). Publish, Perish, or Salami Slice? Authorship Ethics in an Emerging Field. Journal of Business Ethics, 156, 189-208.; Severiano et al., 2021Severiano Junior, E., Cunha, D. O., Zouain, D. M., & Gonçalves, C. P. (2021). Produtivismo Acadêmico e suas Consequências para a Produção Científica na Área de Administração.Revista Eletrônica de Administração, 27(2), 343-374.; Silva, 2019Silva, A. B. (2019). Produtivismo Acadêmico Multinível: Mercadoria Performativa na Pós-graduação em Administração.Revista de Administração de Empresas, 59(5), 341-352.). Entretanto, a noção de publish or perish não é suficiente para explicar isoladamente a pirataria intelectual. Vamos focar em outros elementos que costumam estar pouco presentes na literatura da Educação em Administração ou da Ética em Administração e que estão associados à pirataria intelectual. Assim, temos: a) a complexidade do pensamento científico, b) compreensão de textos em outros idiomas, c) inexistência de uma pedagogia da escrita acadêmica, e d) o papel dos orientadores no processo de escrita acadêmica. Cada um desses elementos surgiu em nossa reflexão sobre outros fatores que explicariam a pirataria intelectual.

A complexidade do pensamento científico é um elemento pouco considerado entre acadêmicos diante de um contexto de publish or perish. A produção de um texto científico não é algo trivial e demanda um conjunto de conhecimentos e habilidades que se desenvolvem ao longo do tempo. A capacidade do autor de compreender os estudos já produzidos no meio acadêmico representa um primeiro passo para conseguir escrever um texto científico consistente. Ou seja, além de ler os textos, é preciso assimilar os conteúdos. Naturalmente, isso não é tarefa simples, uma vez que boa parte dos textos científicos são herméticos e demandam um nível de abstração elevado. A falta de compreensão de alguns textos, especialmente os clássicos, faz com que muitos acadêmicos lancem mão de críticos e comentadores para compreender o pensamento de alguém ou mesmo o significado de algum conceito. Essa falta de compreensão dos originais leva inúmeros autores a escreverem sobre um autor ou conceito específicos sem base no original, mas sim em outro autor e/ou texto que apresenta uma explicação “simplificada” ou mesmo personalizada do original. Essa situação pode levar à pirataria intelectual pela falta de capacidade de compreensão de textos originais. Cabe acrescentar que, de alguma maneira, plataformas como ChatGPT, Bard e Baidu aumentam as chances de pirataria intelectual. Essas ferramentas fazem varreduras na internet para construir textos sem apresentar as fontes (Elali & Rachid, 2023Elali, F. R., & Rachid, L. N. (2023). AI-generated research paper fabrication and plagiarism in the scientific community. Patterns, 4(3), 100706. https://doi.org/10.1016/j.patter.2023.100706.
https://doi.org/10.1016/j.patter.2023.10...
; Salvagno et al., 2023Salvagno, M., Taccone, F. S., & Gerli, A. G. Can artificial intelligence help for scientific writing?Critical Care, 2023 27(75). https://doi.org/10.1186/s13054-023-04380-2
https://doi.org/10.1186/s13054-023-04380...
; van Dis et al., 2023van Dis, E. A. M., Bollen, J., Zuidema, W., van Rooij, R., & Bockting, C. L. (2023). ChatGPT: five priorities for research. Nature, 614, 224-226. https://doi.org/10.1038/d41586-023-00288-7
https://doi.org/10.1038/d41586-023-00288...
). A preocupação com plágio é um dos principais pontos de debate na utilização de IA (Elali & Rachid, 2023Elali, F. R., & Rachid, L. N. (2023). AI-generated research paper fabrication and plagiarism in the scientific community. Patterns, 4(3), 100706. https://doi.org/10.1016/j.patter.2023.100706.
https://doi.org/10.1016/j.patter.2023.10...
; Salvagno et al., 2023Salvagno, M., Taccone, F. S., & Gerli, A. G. Can artificial intelligence help for scientific writing?Critical Care, 2023 27(75). https://doi.org/10.1186/s13054-023-04380-2
https://doi.org/10.1186/s13054-023-04380...
; van Dis et al., 2023van Dis, E. A. M., Bollen, J., Zuidema, W., van Rooij, R., & Bockting, C. L. (2023). ChatGPT: five priorities for research. Nature, 614, 224-226. https://doi.org/10.1038/d41586-023-00288-7
https://doi.org/10.1038/d41586-023-00288...
).

Outro aspecto bem comum entre pesquisadores é a dificuldade de compreensão de textos em outros idiomas. Como resultado, o caminho mais fácil para compreender determinado assunto seria a leitura de textos no idioma do pesquisador com conteúdo explicativo sobre os textos originais (em outro idioma). Nesse caso, o problema concernente a pirataria intelectual está no fato de esses pesquisadores não assumirem que não leram o original (ou que não o compreenderam bem) e não citarem o texto que os ajudou na compreensão de determinado assunto. Agem como se tivessem lido o original diretamente, sem a ajuda de algum crítico ou comentador. Além de limitar o acesso e compreensão de determinado autor ou ideia, isso resulta na reprodução da sistematização feita por outros sobre o autor ou ideia como se fosse a representação do original.

A falta de uma pedagogia da escrita acadêmica no processo de formação de pesquisadores também contribui para a pirataria intelectual, uma vez que a maioria das pessoas acabam por aprender a escrever um texto científico por mimetismo e heurística. Nesse modelo de aprendizagem, pouco ou nada é apresentado para que os estudantes possam entender a importância do conhecimento original, reconhecer um pensamento original e, mais importante, construir um pensamento original (Bispo, 2022Bispo, M. S. (2022). Em defesa da teoria e da contribuição teórica original em Administração.Revista de Administração Contemporânea, 26(6), 1-7. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.por
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
). Mais do que abordar um tema novo ou interessante, é preciso desenvolver um pensamento original sobre esse tema. A falta de preocupação pedagógica quanto a isso leva à cópia de sistematizações teóricas construídas por outros estudiosos. Aqui, novamente, as plataformas de IA, quando mal utilizadas, podem levar pessoas à criação de textos carentes de originalidade e com elementos de pirataria intelectual.

O papel dos orientadores no processo de escrita acadêmica também é fundamental para futuros pesquisadores no desenvolvimento de seus trabalhos. Os orientadores exercem dupla função: a primeira diz respeito ao desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades da escrita acadêmica em si, o que envolve atenção especial para o processo de construção de um trabalho original, de modo a facilitar o caminho para um diálogo em um determinado campo acadêmico (Bruno, 2019Bruno, A. R. (2019). Processos de investigação: trilhas e ideias sobre ser orientando/a e ser orientador/a. Educação em Foco, 24(1), 23-40. https://doi.org/10.34019/2447-5246.2019.v23.26027
https://doi.org/10.34019/2447-5246.2019....
; Falaster et al., 2017Falaster, C., Ferreira, M. P., & Gouvea, D. M. R. de G. (2017). O efeito da publicação científica do orientador na publicação dos seus orientados. Revista de Administração Contemporânea, 21(4), 458-480. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2017160118
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2017...
; Viana & Veiga, 2010Viana, C. M. Q. Q. & Veiga, I. P. A. (2010). O diálogo acadêmico entre orientadores e orientandos. Educação, 33(3), 222-226. https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/8079
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs...
). A segunda função, geralmente negligenciada (Honig & Bedi, 2012Honig, B., & Bedi, A. (2012). The Fox in the Hen House: A Critical Examination of Plagiarism Among Members of the Academy of Management. Academy of Management Learning & Education, 11(1), 101-123.), consiste em guiar os futuros pesquisadores dentro de padrões éticos, tanto na pesquisa quanto na escrita científica. Os orientadores devem atuar como o primeiro filtro da pirataria intelectual, identificando o problema durante o processo de formação e ajudando a superá-lo. Muitos orientadores costumam não ler atentamente os trabalhos de seus orientandos (Paulino, 2023Paulino, B. B. (2023). A Prática de Orientação de Mestrandos e Doutorandos em Administração no Brasil [Dissertação de mestrado - não publicada], Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil.), nem os artigos nos quais constam seus nomes e podem conter pirataria intelectual. Certa vez, quando um dos autores deste ensaio encontrou pirataria intelectual em uma tese de doutorado, o orientador, quando comunicado, minimizou o problema e sugeriu como “solução” a retirada do texto “” do banco de teses da instituição. Ou seja, além de não ter tomado nenhuma providência rigorosa a respeito do problema, sugeriu como solução “escondê-lo” por meio da retirada da tese do repositório institucional. Posturas como esta reforçam o problema da pirataria intelectual e do plágio, como um todo (Berlinck, 2011Berlinck, R. G. S.(2011). The academic plagiarism and its punishments - a review. Revista Brasileira de Farmacognosia, 21(3), 365-372. https://doi.org/10.1590/S0102-695X2011005000099
https://doi.org/10.1590/S0102-695X201100...
; Honig & Bedi, 2012Honig, B., & Bedi, A. (2012). The Fox in the Hen House: A Critical Examination of Plagiarism Among Members of the Academy of Management. Academy of Management Learning & Education, 11(1), 101-123.).

UM EFEITO COLATERAL DA PIRATARIA INTELECTUAL NA ÁREA DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL

A prática da não citação entre acadêmicos brasileiros pode ser considerada um efeito colateral da pirataria intelectual no contexto brasileiro da área de Administração. Nesta área, assim como em boa parte da ciência global, predominam publicações em língua inglesa. Da mesma forma, a maioria dos autores utilizados na construção de trabalhos acadêmicos trabalha em universidades do Norte global (com predominância dos países anglo-saxões) e os artigos mais citados são de revistas com corpo editorial com as mesmas características. É difícil encontrar trabalhos científicos em Administração nos quais a construção teórica é predominantemente de autores brasileiros ou do Sul global (Alcadipani et al., 2012Alcadipani, R., Khan, F. R., Gantman, E., & Nkomo, S. (2012). Southern voices in management and organization knowledge.Organization,19(2), 131-143. https://doi.org/10.1177/1350508411431910
https://doi.org/10.1177/1350508411431910...
).

Entendemos que esse contexto é fértil para a pirataria intelectual. As características e fatores motivadores mencionados nos tópicos anteriores nos ajudam a entender, em parte, esse fenômeno. Isso porque a supervalorização da produção do Norte global (Barros & Alcadipani, 2022Barros, A., & Alcadipani, R. (2022). Decolonizing journals in management and organizations? Epistemological colonial encounters and the double translation. Management Learning, 54(4), 576-586. https://doi.org/10.1177/13505076221083204
https://doi.org/10.1177/1350507622108320...
), somada às dificuldades da complexidade do texto científico e às barreiras do idioma, leva diversos pesquisadores brasileiros a textos de concidadãos reconhecidos como conhecedores de determinado autor, abordagem ou teoria, visando compreender o fenômeno que estão estudando. Entretanto, o mesmo reconhecimento não está presente nas citações destes textos. Isso leva inevitavelmente à pirataria intelectual, uma vez que os textos dos autores do Norte global são citados pelos plagiadores brasileiros na mesma sistematização teórica criada pelo autor concidadão considerado referência. Certamente esse aspecto não deve representar o único motivo pelo qual os brasileiros não são usualmente citados, mas é relevante dentro da pirataria intelectual.

CONCLUSÃO

Nesta parte final do texto, vale apresentar algumas reflexões para além daquelas já muito debatidas sobre plágio, que versam sobre os problemas legais, de originalidade e de reputação (Gullyfer & Tyson, 2010Gullyfer, J., & Tyson, G. A. (2010). Exploring university students’ perceptions of plagiarism: a focus group study. Studies in Higher Education, 35(4), 463-481.; Sousa-Silva, 2014Sousa-Silva, R. (2014). Investigating academic plagiarism: a forensic linguistics approach to plagiarism detection. International Journal for Educational Integrity, 10(1), 31-41.; Tran et al., 2022Tran, M. N., Hogg, L., & Marshall, S. (2022). Understanding postgraduate students’ perceptions of plagiarism: a case study of Vietnamese and local students in New Zealand.International Journal for Educational Integrity,18, 3.). Entendemos que a pirataria intelectual envolve também outros aspectos, que recebem pouca atenção nos debates acadêmicos. Por exemplo, a responsabilidade dos orientadores na formação de futuros acadêmicos (Bruno, 2019Bruno, A. R. (2019). Processos de investigação: trilhas e ideias sobre ser orientando/a e ser orientador/a. Educação em Foco, 24(1), 23-40. https://doi.org/10.34019/2447-5246.2019.v23.26027
https://doi.org/10.34019/2447-5246.2019....
; Falaster et al., 2017Falaster, C., Ferreira, M. P., & Gouvea, D. M. R. de G. (2017). O efeito da publicação científica do orientador na publicação dos seus orientados. Revista de Administração Contemporânea, 21(4), 458-480. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2017160118
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2017...
; Viana & Veiga, 2010Viana, C. M. Q. Q. & Veiga, I. P. A. (2010). O diálogo acadêmico entre orientadores e orientandos. Educação, 33(3), 222-226. https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/8079
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs...
; Paulino, 2023Paulino, B. B. (2023). A Prática de Orientação de Mestrandos e Doutorandos em Administração no Brasil [Dissertação de mestrado - não publicada], Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil.), a deficiência no reconhecimento da sistematização teórica como processo autoral, a necessidade do desenvolvimento de pedagogias que promovam o protagonismo autoral e o desenvolvimento de novas teorizações e teorias. Nesse conjunto, deve-se incluir também a necessidade do reconhecimento e da valorização da produção nacional como meio de fortalecimento em vez de subordinação à produção internacional e eurocêntrica (Alcadipani et al., 2012Alcadipani, R., Khan, F. R., Gantman, E., & Nkomo, S. (2012). Southern voices in management and organization knowledge.Organization,19(2), 131-143. https://doi.org/10.1177/1350508411431910
https://doi.org/10.1177/1350508411431910...
; Barros & Alcadipani, 2022Barros, A., & Alcadipani, R. (2022). Decolonizing journals in management and organizations? Epistemological colonial encounters and the double translation. Management Learning, 54(4), 576-586. https://doi.org/10.1177/13505076221083204
https://doi.org/10.1177/1350507622108320...
).

A pirataria intelectual, portanto, mais do que um problema ético-legal, representa também uma deficiência de formação acadêmico-científica. Ela expõe as fragilidades de um sistema de formação stricto sensu orientado para a tecnicidade e para a operacionalização de teorias, de métodos e - mais lamentável ainda - de ideias com vistas ao alcance de metas orientadas para o produtivismo acadêmico. Na prática, isso pode ser representado pelo diploma, pelo título, pelo artigo ou pelas bolsas de produtividade em pesquisa, como fins últimos da pesquisa científica e da construção intelectual.

Entendemos que a mitigação da pirataria intelectual deve acontecer em dois sentidos. O primeiro sentido demanda aumento das denúncias quando o problema for identificado. Tais denúncias devem ser apuradas e punidas com rigor por orientadores (primeiro filtro), revistas científicas e associações acadêmicas. Canais de denúncias e protocolos para encaminhamento de denúncias são fundamentais para que a pirataria intelectual não fique impune. O segundo sentido passa pela necessidade de maior reflexão sobre o papel da pós-graduação, qual seja: assumir a função de formar pesquisadores, entendendo-a como anterior à realização de pesquisas (Bispo, 2020Bispo, M. S. (2020). Contradições da pós-graduação em Administração brasileira. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 19(2), 169-180. https://doi.org/10.21529/RECADM.2020007
https://doi.org/10.21529/RECADM.2020007...
). Tal papel exige o desenvolvimento de pedagogias que possibilitem o desenvolvimento do pensamento crítico e, especialmente, a capacidade de construção autoral (original) por meio de sistematizações teóricas, teorizações e teorias.

Os dois caminhos, denúncia e formação acadêmica, uma vez combinados, podem contribuir para a superação dessa prática, que se apresenta como desonesta em alguns casos, e, em outros, como limitação de formação acadêmica.

Em parte, a desonestidade e a má formação acadêmica também provocam, como efeito colateral, a não citação de trabalhos entre brasileiros. Pela perspectiva da desonestidade, a não citação entre brasileiros reflete a intenção de demarcar um terreno inexistente, negligenciando os trabalhos nacionais já publicados devido à supervalorização da produção no Norte global. Soma-se a isso a utilização de trabalhos brasileiros como instrumento de compreensão de determinado autor, teoria ou método, bem como a criação de um texto como se o seu escritor tivesse lido e compreendido os originais sem ter passado pelo autor ou trabalho brasileiro. Pela perspectiva da má formação, os jovens pesquisadores, em razão da falta de orientação sobre autoria e originalidade, acabam por copiar uma sistematização teórica e apresentá-la como elaboração própria.

A pirataria intelectual é uma prática que traz à tona problemas presentes no cotidiano da academia, pouco discutidos e sem o devido tratamento legal e formativo, de modo que o problema possa ser superado. Com o advento dos chatbots (ChatGPT, Bard, Baidu), novas reflexões sobre a pirataria intelectual e ações para mitigá-la serão necessárias.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos revisores e aos colegas que participaram do debate da versão inicial deste artigo apresentado no XLVI EnANPAD de 2022, assim como os revisores e os editores que conduziram o processo editorial do artigo nos Cadernos EBAPE.BR. Todos esses olhares nos ajudaram significativamente no aprimoramento de nossa ideia inicial.

REFERÊNCIAS

  • Alcadipani, R., Khan, F. R., Gantman, E., & Nkomo, S. (2012). Southern voices in management and organization knowledge.Organization,19(2), 131-143. https://doi.org/10.1177/1350508411431910
    » https://doi.org/10.1177/1350508411431910
  • Barros, A., & Alcadipani, R. (2022). Decolonizing journals in management and organizations? Epistemological colonial encounters and the double translation. Management Learning, 54(4), 576-586. https://doi.org/10.1177/13505076221083204
    » https://doi.org/10.1177/13505076221083204
  • Berlinck, R. G. S.(2011). The academic plagiarism and its punishments - a review. Revista Brasileira de Farmacognosia, 21(3), 365-372. https://doi.org/10.1590/S0102-695X2011005000099
    » https://doi.org/10.1590/S0102-695X2011005000099
  • Bettaieb, D. M., Alawad, A. A., & Malek, R. B. (2022). Visual plagiarism in interior design: is it easy to recognise?International Journal for Educational Integrity,18(7), 1-20. https://doi.org/10.1007/s40979-022-00101-4
    » https://doi.org/10.1007/s40979-022-00101-4
  • Birks, M., Mills, J., Allen, S., & Tee, S. (2020). Managing the mutations: academic misconduct in Australia, New Zealand and the UK. International Journal for Educational Integrity, 16(6), 1-15. https://doi.org/10.1007/s40979-020-00055-5
    » https://doi.org/10.1007/s40979-020-00055-5
  • Birks, M., Smithson, J., Antney, J., Zhao, L., & Burkot, C.(2018). Exploring the paradox: A cross-sectional study of academic dishonesty among Australian nursing students. Nurse Education Today, 65, 96-101. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2018.02.040
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2018.02.040
  • Bispo, M. S. (2020). Contradições da pós-graduação em Administração brasileira. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 19(2), 169-180. https://doi.org/10.21529/RECADM.2020007
    » https://doi.org/10.21529/RECADM.2020007
  • Bispo, M. S. (2022). Em defesa da teoria e da contribuição teórica original em Administração.Revista de Administração Contemporânea, 26(6), 1-7. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.por
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.por
  • Bouter, L. (2023). Research misconduct and questionable research practices form a continuum. Accountability in Research: Ethics, Integrity and Policy https://doi.org/10.1080/08989621.2023.2185141
    » https://doi.org/10.1080/08989621.2023.2185141
  • Bruno, A. R. (2019). Processos de investigação: trilhas e ideias sobre ser orientando/a e ser orientador/a. Educação em Foco, 24(1), 23-40. https://doi.org/10.34019/2447-5246.2019.v23.26027
    » https://doi.org/10.34019/2447-5246.2019.v23.26027
  • Caldwell, C. (2010). A Ten-Step Model for Academic Integrity: A Positive Approach for Business Schools. Journal of Business Ethics, 92(1), 1-13. https://doi.org/10.1007/s10551-009-0144-7
    » https://doi.org/10.1007/s10551-009-0144-7
  • Costa, F. J., Sousa, S. C. T., & Muzzio, H. (2017). Uma Reflexão sobre Autoria Acadêmica.Teoria e Prática em Administração, 7(1), 1-25. https://doi.org/10.21714/2238-104X2017v7i1-32534
    » https://doi.org/10.21714/2238-104X2017v7i1-32534
  • Devine, C. A., & Chin, E. D. (2018). Integrity in nursing students: A concept analysis. Nurse Education Today, 60, 133-138. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.10.005
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.10.005
  • Domingues, E. (2013). Autoria em tempos de “produtivismo acadêmico”. Psicologia em Estudo, 18(2), 195-198. https://www.scielo.br/j/pe/a/K5z5wWHp6wFNGkGsxz8rb6q/
    » https://www.scielo.br/j/pe/a/K5z5wWHp6wFNGkGsxz8rb6q/
  • Drach, I., & Slobodianiuk, O. (2020). Building a Culture of Academic Integrity in the Student Environment Case of Vinnytsia National Technical University (Ukraine). Creative Education, 11, 1442-1461. https://doi.org/10.4236/ce.2020.118105
    » https://doi.org/10.4236/ce.2020.118105
  • Elali, F. R., & Rachid, L. N. (2023). AI-generated research paper fabrication and plagiarism in the scientific community. Patterns, 4(3), 100706. https://doi.org/10.1016/j.patter.2023.100706.
    » https://doi.org/10.1016/j.patter.2023.100706
  • Falaster, C., Ferreira, M. P., & Gouvea, D. M. R. de G. (2017). O efeito da publicação científica do orientador na publicação dos seus orientados. Revista de Administração Contemporânea, 21(4), 458-480. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2017160118
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2017160118
  • Fanelli, D., Costas, R., & Larviere, V. (2015). Misconduct policies, academic culture and career stage, not gender or pressure to publish, affect scientific integrity. PLoS ONE, 10(6), e0127556. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0127556
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0127556
  • Fernandes, C. M., Oliveira, L. A., & Chaves, F. R. (2022). A negação da ciência na retórica populista antissistema. Revista Mosaico - Revista de História, 15(1), 100-112. https://doi.org/10.18224/mos.v15i1.8975
    » https://doi.org/10.18224/mos.v15i1.8975
  • Fleming, N. (2021). The authorship rows that sour scientific collaborations. Nature, 594, 459-462. https://www.nature.com/articles/d41586-021-01574-y
    » https://www.nature.com/articles/d41586-021-01574-y
  • Foltýnek, T., & Králíková, V. (2018). Analysis of the contract cheating market in Czechia. International Journal for Educational Integrity, 14(1), 1-15. https://doi.org/10.1007/s40979-018-0027-8
    » https://doi.org/10.1007/s40979-018-0027-8
  • Fonseca, C., Pettitt J., Woollard, A., Rutherford, A., Bickmore, W., Ferguson-Smith, A. … Hurst, L. D. (2023). People with more extreme attitudes towards science have self-confidence in their understanding of science, even if this is not justified. PLoS Biol, 21(1), e3001915. https://doi.org/10.1371/journal.pbio.3001915
    » https://doi.org/10.1371/journal.pbio.3001915
  • Fraser, H., Parker, T., Nakagawa, S., Barnett, A., & Fidler, F. (2018). Questionable research practices in ecology and evolution. PLoS ONE, 13, e0200303.
  • Gullyfer, J., & Tyson, G. A. (2010). Exploring university students’ perceptions of plagiarism: a focus group study. Studies in Higher Education, 35(4), 463-481.
  • Harley, B., Faems, D., & Corbett, A. (2014). A Few Bad Apples or the Tip of an Iceberg? Academic Misconduct in Publishing. Journal of Management Inquiry, 51(8), 1361-1363.
  • Honig, B., & Bedi, A. (2012). The Fox in the Hen House: A Critical Examination of Plagiarism Among Members of the Academy of Management. Academy of Management Learning & Education, 11(1), 101-123.
  • Irigaray, H. A. R. (2020). Plágio e pirataria na academia: entre Mizner e o Código Penal Brasileiro. Cad. Ebape, 18(3), 1-6.
  • Jereb E., Urh, M., Jerebic, J., & Šprajc, P. (2018). Gender differences and the awareness of plagiarism in higher education. Social Psychology of Education, 21(2), 409-426.
  • Kaiser, M., Drivdal, L., Hjellbrekke, J. et al (2022). Questionable Research Practices and Misconduct Among Norwegian Researchers. Sci Eng Ethics 28(2), 1-31. https://doi.org/10.1007/s11948-021-00351-4
    » https://doi.org/10.1007/s11948-021-00351-4
  • Krokoscz, M. (2015). Outras palavras sobre autoria e plágio. Atlas: Barueri.
  • Krokoscz, M. (2022). Eficiência de softwares nacionais e internacionais na detecção de similaridade e de plágio em manuscrito. Em Questão, 28(4), 123123.
  • Lewis, B. R., Duchac, J. E., & Beets, S. D. (2011). An Academic Publisher’s Response to Plagiarism. Journal of Business Ethics, 102, 489-506.
  • Magnin, L. S. L. T., Faria, J. H., Penteado, R. C., & Takahashi, A. R. W. (2020). Produtivismo na Pós-Graduação em Administração: Posicionamentos dos Pesquisadores Brasileiros, Estratégias de Produção e Desafios Enfrentados.REAd. Revista Eletrônica de Administração, 26(2), 265-299.
  • McCabe, D. L., Butterfield, K., & Trevino, L. (2017). Cheating in college Maryland, EUA: John Hopkins University Press.
  • McCabe, D. L., Trevino, L., & Butterfield, K. (2001). Cheating in Academic Institutions: A Decade of Research. Ethics & Behavior,11(3), 219-232.
  • Mehregan, M. (2021). How to Deal with Academic Plagiarism More Effectively. Publishing Research Quaterly, 37, 53-54. https://doi.org/10.1007/s12109-021-09786-w
    » https://doi.org/10.1007/s12109-021-09786-w
  • Mendes-da-Silva, W., & Leal, C. C. (2021). Salami Science na Era do Open Data: Déjà lu e Accountability na Pesquisa em Gestão e Negócios.Revista de Administração Contemporânea, 25(1), 1-12.
  • Oliveira, T. M. V., Aguiar, F. H., Queiroz, J. P., & Barrichello, A. (2014). Cola, plágio e outras práticas acadêmicas desonestas: um estudo quantitativo-descritivo sobre o comportamento de alunos de graduação e pós-graduação da área de negócios.Revista de Administração Mackenzie, 15(1), 73-97.
  • Patel, J. (2022). Guest article: Research misconduct. Committee on Publication Ethics - COPE Recuperado dehttps://publicationethics.org/news/research-misconduct-great-unknown Acesso em 9 de abril de 2022
    » https://publicationethics.org/news/research-misconduct-great-unknown Acesso em 9 de abril de 2022
  • Paulino, B. B. (2023). A Prática de Orientação de Mestrandos e Doutorandos em Administração no Brasil [Dissertação de mestrado - não publicada], Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil.
  • Pfleegor, A. G., Katz, M., & Bowers, M. T. (2019). Publish, Perish, or Salami Slice? Authorship Ethics in an Emerging Field. Journal of Business Ethics, 156, 189-208.
  • Rossoni, L. (2018). Editorial: Produtivismo e Coautoria Cerimonial. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa - RECADM, 17(2), i-viii.
  • Salvagno, M., Taccone, F. S., & Gerli, A. G. Can artificial intelligence help for scientific writing?Critical Care, 2023 27(75). https://doi.org/10.1186/s13054-023-04380-2
    » https://doi.org/10.1186/s13054-023-04380-2
  • Severiano Junior, E., Cunha, D. O., Zouain, D. M., & Gonçalves, C. P. (2021). Produtivismo Acadêmico e suas Consequências para a Produção Científica na Área de Administração.Revista Eletrônica de Administração, 27(2), 343-374.
  • Silva, A. B. (2019). Produtivismo Acadêmico Multinível: Mercadoria Performativa na Pós-graduação em Administração.Revista de Administração de Empresas, 59(5), 341-352.
  • Sousa-Silva, R. (2014). Investigating academic plagiarism: a forensic linguistics approach to plagiarism detection. International Journal for Educational Integrity, 10(1), 31-41.
  • Summers, A., Wadsworth, D., Bratby, K., Hobbs, E., & Wood, D. (2021). The Experiences of Healthcare Students Who Have Been Accused of Breaching Academic Integrity: A Study Protocol. International Journal of Qualitative Methods, 20, 1-6.
  • Tindall, I. K., Fu, K.W., Tremayne, K., & Curtis, G. J. (2021). Can negative emotions increase students’ plagiarism and cheating?International Journal for Educational Integrity,17(25), 1-16.
  • Tourish, D., & Craig, R. (2020). Research Misconduct in Business and Management Studies: Causes, Consequences, and Possible Remedies. Journal of Management Inquiry, 29(2), 174-187.
  • Tran, M. N., Hogg, L., & Marshall, S. (2022). Understanding postgraduate students’ perceptions of plagiarism: a case study of Vietnamese and local students in New Zealand.International Journal for Educational Integrity,18, 3.
  • Vaccino-Salvadore, S., & Hall Buck, R. (2021). Moving from plagiarism police to integrity coaches: assisting novice students in understanding the relationship between research and ownership.International Journal for Educational Integrity,17(20), 1-18.
  • van Dis, E. A. M., Bollen, J., Zuidema, W., van Rooij, R., & Bockting, C. L. (2023). ChatGPT: five priorities for research. Nature, 614, 224-226. https://doi.org/10.1038/d41586-023-00288-7
    » https://doi.org/10.1038/d41586-023-00288-7
  • Vasconcelos, S. M. R., Masuda, H., Sorenson, M., Prosdocimi, F., Palácios, M., Watanabe, E., Pinto, J. C., Silva, J. R. L. e, Vieyra, A., Pinto, A., Mena-Chalco, J., Sant’Ana, M., & Roig, M. (2022). Perceptions of plagiarism among PhDs across the sciences, engineering, humanities, and arts: Results from a national survey in Brazil. Accountability in Research: Ethics, Integrity and Policy, 11, 1-32. https://doi.org/10.1080/08989621.2021.2018306
    » https://doi.org/10.1080/08989621.2021.2018306
  • Viana, C. M. Q. Q. & Veiga, I. P. A. (2010). O diálogo acadêmico entre orientadores e orientandos. Educação, 33(3), 222-226. https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/8079
    » https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/8079
  • Volpato, G. (2016). Autoria Científica: Por Que Tanta Polêmica?Revista de Gestão e Secretariado, 7(2), 213-228. https://doi.org/10.7769/gesec.v7i2.597
    » https://doi.org/10.7769/gesec.v7i2.597
  • Vrieze, J. (2021). Large survey finds questionable research practices are common. Science, 373, 265-265. https://doi.org/10.1126/science.373.6552.265
    » https://doi.org/10.1126/science.373.6552.265
  • Zejno, B. (2018). Plagiarism in academic writing among students of higher learning institutions in Malaysia: An Islamic perspective. Journal of Education and Social Sciences, 9(3), 1-4. https://www.jesoc.com/wp-content/uploads/2018/04/KC9.3_2.pdf
    » https://www.jesoc.com/wp-content/uploads/2018/04/KC9.3_2.pdf
  • DISPONIBILIDADE DE DADOS

    Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

PARECERISTAS

  • 6
    Regina Celi Machado Pires (Universidade do Estado da Bahia, Salvador / BA - Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5538-035X
  • 7
    Três revisores não autorizaram a divulgação de suas identidades.

RELATÓRIO DE REVISÃO POR PARES

Editado por

Hélio Arthur Reis Irigaray (Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro / RJ - Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9580-7859
Fabricio Stocker (Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro / RJ - Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6340-9127

Disponibilidade de dados

Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    06 Mar 2023
  • Aceito
    11 Set 2023
Fundação Getulio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas Rua Jornalista Orlando Dantas, 30 - sala 107, 22231-010 Rio de Janeiro/RJ Brasil, Tel.: (21) 3083-2731 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernosebape@fgv.br