Open-access Fatores associados à coinfecção tuberculose e vírus da imunodeficiência humana em públicos em situação de vulnerabilidade

RESUMO

Objetivo:  identificar os fatores associados à coinfecção por Tuberculose e HIV em pessoas em situação de rua e privadas de liberdade em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

Método:  estudo transversal, analítico, com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação/Tuberculose de Belo Horizonte, 2015 a 2022. Realizou-se a descrição de dados sociodemográficos e clínicos de pessoas em situação de rua e privadas de liberdade. Para a análise dos fatores associados, utilizou-se a Regressão de Poisson.

Resultados:  o uso de drogas foi fator de risco à coinfecção na população de rua. Ter acima de 50 anos contribuiu em 61% para a diminuição da coinfecção nessa população. O estudo não evidenciou os fatores associados à coinfecção nas pessoas privadas de liberdade.

Conclusão:  o estudo identificou os fatores que aumentam a vulnerabilidade de pessoas em situação de rua, contribuindo, assim, para orientar o cuidado a esse público, jovem e em uso de drogas.

DESCRITORES:
Tuberculose; Vírus da Imunodeficiência Humana; Prisioneiros; Pessoas em Situação de Rua; Vulnerabilidade.

HIGHLIGHTS

Viver nas ruas está associado à coinfecção TB/HIV.

Maiores de 50 anos possuem fator de proteção para TB/HIV.

Usar drogas foi fator de risco para coinfecção TB/HIV.

ABSTRACT

Objective:  To identify factors associated with tuberculosis and HIV co-coinfection in homeless people and those deprived of their liberty in Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil.

Method:  a cross-sectional, analytical study using data from the Notifiable Diseases/Tuberculosis Information System of Belo Horizonte, 2015 to 2022. The sociodemographic and clinical data of homeless people and people deprived of their liberty were described. Poisson regression was used to analyze the associated factors.

Results:  Drug use was a risk factor for coinfection in the street population. Being over 50 contributed 61% to this population’s reduced coinfection. The study did not show factors associated with coinfection in people deprived of liberty.

Conclusion:  The study identified the factors that increase the vulnerability of homeless people, thus helping to guide care for this young, drug-using population.

DESCRIPTORS:
Tuberculosis; Human Immunodeficiency Virus; Prisoners; Homeless; Vulnerability.

HIGHLIGHTS

Living on the streets is associated with TB/HIV co-infection.

People over 50 have a protective factor for TB/HIV.

Drug use was a risk factor for TB/HIV coinfection.

RESUMEN

Objetivo:  Identificar los factores asociados a la coinfección por tuberculosis y VIH en personas sin hogar y privadas de libertad en Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

Método:  Estudio transversal, analítico, con datos del Sistema de Información de Enfermedades de Declaración Obligatoria/Tuberculosis de Belo Horizonte, 2015 a 2022. Se describieron datos sociodemográficos y clínicos de personas sin hogar y personas privadas de libertad. Se utilizó regresión de Poisson para analizar los factores asociados.

Resultados:  El consumo de drogas fue un factor de riesgo de coinfección en la población de la calle. Tener más de 50 años contribuyó en un 61% a reducir la coinfección en esta población. El estudio no reveló factores asociados a la coinfección en personas privadas de libertad.

Conclusión:  El estudio identificó los factores que aumentan la vulnerabilidad de las personas sin hogar, ayudando así a orientar la atención a esta población joven y consumidora de drogas.

DESCRIPTORES:
Tuberculosis; Virus de la Inmunodeficiencia Humana; Prisioneros; Personas con Mala Vivienda; Vulnerabilidad.

HIGHLIGHTS

Vivir en la calle está asociado a la coinfección TB/VIH.

Las personas mayores de 50 años tienen un factor de protección frente a la TB/VIH.

El consumo de drogas es un factor de riesgo de coinfección TB/VIH.

INTRODUÇÃO

A Tuberculose (TB) é uma doença infecciosa e transmissível, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, considerada ainda como um relevante problema de saúde pública1, destacando-se como a principal causa de óbito entre as doenças infecciosas2. Estima-se que, em 2020, a TB tenha acometido cerca de 9,9 milhões de pessoas no mundo, sendo responsável por 1,3 milhão de óbitos3. O agravo ocupa a nona causa de morte global e acomete, sobretudo, pessoas infectadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Representa a principal causa de morte entre as pessoas vivendo com HIV (PVHIV), uma vez que esses indivíduos apresentam 28 vezes mais chance de desenvolver a forma ativa da TB em relação à população geral2,4-5.

No Brasil, em 2021, foram notificados 68.271 casos novos de TB, o que equivale a uma incidência de 32 casos por 100 mil habitantes3. Em Minas Gerais, foram notificados 3.365 novos casos da doença em 20206. A região metropolitana de Belo Horizonte (MG) concentra, aproximadamente, um terço dos casos do Estado6.

A infecção pela TB é influenciada por fatores sociais e biológicos7. Os fatores sociais estão diretamente relacionados aos Determinantes Sociais da Saúde (DSS) que desencadeiam ou favorecem as condições que aumentam o risco de adoecimento por TB7. Por outro lado, os fatores biológicos estão relacionados aos agravos que levam à redução da resposta imunológica como observado em pacientes infectados pelo HIV, o que caracteriza a coinfecção TB/HIV.

A TB é mais frequente em populações vulnerabilizadas, como Pessoas em Situação de Rua (PSR) e Pessoas Privadas de Liberdade (PPL). As PSR possuem 56 vezes mais chance de adoecimento por TB, já as PPL possuem 28 vezes mais chance do que a população geral1. O agravamento das condições sociais e econômicas resultam em degradação das condições de vida, aumentando a vulnerabilidade desses indivíduos e, consequentemente, o risco de coinfecção TB/HIV8.

Públicos vulnerabilizados portadores de coinfecção TB/HIV, estão expostos às condições de vida dificultadoras do acesso à saúde, o que impacta no diagnóstico e na adesão ao tratamento7. Entende-se que a análise desses dados é relevante para a implementação de políticas públicas para essas populações, além de serem norteadoras para as ações de estudantes e profissionais da saúde que irão atuar diretamente com o público-alvo. Ao considerar a relevância da coinfecção de TB/HIV e de suas repercussões sociais e econômicas, o este estudo objetiva identificar fatores associados à coinfecção por TB e HIV em PSR e PPL em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, analítico e de abordagem quantitativa. O cenário do estudo é o município de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, que possui uma população estimada de 2.530.701 habitantes9. De acordo com o Boletim da Vigilância em Saúde de 2019, foram notificados 530 casos novos de TB no município, no ano de 2017, o que corresponde a 15% dos casos totais do estado de Minas Gerais. A incidência para todas as formas da doença foi de 21,0/100 mil habitantes e de 16,9/100 mil habitantes. Em 2018, houve um aumento de 0,4% para todas as formas, entretanto, aproximadamente 40% menor que a incidência no Brasil. Houve também uma redução de 0,6% para os casos bacilíferos.

A população do estudo é composta de 5.153 casos de TB notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), no período de 2015 a 2022. Foram considerados apenas os casos confirmados de TB pulmonar nas PSR e nas PPL. Por critério de exclusão, foram removidos os casos em menores de 18 anos e as inconsistências, como o fato do campo de preenchimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que é um agravo associado obrigatoriamente marcado como “sim” no caso de HIV positivo. Também foram excluídos os casos duplicados, pessoas que estavam marcadas como PPL e PSR. Perguntas sem respostas foram consideradas missings na análise.

Os dados analisados são secundários e foram disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, por meio das fichas de notificação do SINAN. Os dados da ficha de notificação considerados variáveis do estudo, foram os dados sociodemográficos e clínicos. Os dados sociodemográficos foram: sexo (masculino e feminino); idade 18 a 29 anos, 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e acima de 50 anos; raça/cor (branca e não branca-pardo, negro, amarelo e indígena); escolaridade menos de nove anos de estudo e acima de nove anos de estudo; e beneficiário do governo (sim ou não), considerado apenas para a PSR. Foram consideradas variáveis clínicas: alcoolismo, tabagismo, doença mental, o uso de drogas ilícitas e se possuía outro agravo. A coinfecção TB/HIV foi considerada como a variável dependente do estudo.

Foi realizada uma análise descritiva do perfil sociodemográfico e clínico dos casos de TB em maiores de 18 anos, classificados como PSR ou PPL. Os dados foram exportados eletronicamente para as planilhas Microsoft Office Excel®. O perfil sociodemográfico e clínico dos casos foi calculado por meio de frequência absoluta e relativa (percentual) dessas variáveis.

Para a realização da análise, os dados foram submetidos ao software Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 23.0. Foi realizado o teste qui-quadrado com as variáveis dicotômicas e o teste de razão de verossimilhança para as variáveis politômicas. Além disso, foi realizada a análise dos resíduos padronizados ajustados, para as variáveis em que foi realizado o teste da razão de verossimilhança, indicando quais categorias específicas das variáveis são estatisticamente significativas por apresentar um valor que se desvia do valor esperado. A significância é considerada quando o resíduo ajustado é >1,96 OU <-1,9610. Após a análise bivariada foi realizado a Regressão de Poisson Robusta, com as variáveis sociodemográficas e clínicas que obtiveram valor de p<0,2. Foi considerada com uma diferença estatisticamente significante quando a variável apresentou valor de p<0,0511. Destaca-se que somente na PSR observou-se variáveis com p<0,2. Nas PPL não foi realizado Regressão de Poisson Robusta devido à baixa prevalência (13%).

Os aspectos éticos da pesquisa estão de acordo com a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a qual dispõe de normas para as pesquisas envolvendo seres humanos. Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) 16114619.6.0000.5149 e parecer 3.508.404.

RESULTADOS

Foram registrados em Belo Horizonte, de 2015 a 2022, 5.153 casos de TB na forma pulmonar. Destes, 106 são PLL e 14 foram marcados como positivos para HIV. Já na PSR o total de casos foi 535 e 128 possuem coinfecção TB/HIV. A coinfecção TB/HIV em PLL foi predominante na faixa etária entre 30 e 39 anos (26,7%), no sexo masculino (11,8%), entre os autodeclarados negros (13,4%) e, que faziam uso de tabaco (17,4%), segundo mostra a tabela 1.

Tabela 1
Perfil sociodemográfico e clínico dos casos de TB com e sem HIV nas PLL em Belo Horizonte, 2015 a 2022. Belo Horizonte, MG, Brasil, 2023

Nas PSR, a coinfecção TB/HIV foi prevalente na faixa etária de 30 a 39 anos (32,1%), no do sexo feminino (35,4%), nas pessoas com menos de nove anos de estudo (22,6%), sem auxílio do governo (23,4%) e autodeclarava o uso de tabaco (25,3%), drogas (30,6%) e álcool (25,7%), como mostra a tabela 2.

Tabela 2
Perfil sociodemográfico e clínico dos casos de TB com e sem HIV nas PSR em Belo Horizonte, 2015 a 2022. Belo Horizonte, MG, Brasil, 2023

A análise dos fatores associados à coinfecção TB/HIV nas PLL, neste estudo, não apresentou associações significativas com as variáveis sociodemográficas e clínicas consideradas. Realizou-se a regressão de Poisson com uma variância robusta para identificar as características associadas à prevalência de coinfecção TB/HIV na PSR. Esta regressão foi utilizada uma vez que o desfecho se encontra frequente na amostra estudada (23,9%; n=128). Por meio da análise multivariada das variáveis sociodemográficas, as idades acima de 50 anos demonstraram ser um fator de proteção em 61% (IC 95%:0,1659 - 0,919) para a diminuição de coinfecção TB/HIV. A escolaridade e o sexo não se mostraram estatisticamente associadas à coinfecção (p>0,05) neste modelo (Tabela 3).

Tabela 3
Características sociodemográficas associadas à prevalência da coinfecção TB/HIV nas PSR de Belo Horizonte, 2015 a 2022. Belo Horizonte, MG, Brasil, 2023

Na análise multivariada das variáveis clínicas, observou-se que o uso de drogas ilícitas eleva em 2,55 vezes (IC 95%: 1,537 - 4,235) a prevalência de coinfecção. Já o uso de tabaco, alcoolismo e diabetes não se mostraram estatisticamente associados à coinfecção (p>0,05) neste modelo, como apresentado na tabela 4.

Tabela 4
Características clínicas associadas à prevalência da coinfecção TB/HIV nas PSR de Belo Horizonte, 2015 a 2022. Belo Horizonte, MG, Brasil, 2023

DISCUSSÃO

No período de análise foram registrados 106 casos de TB entre as PPL, desses, somente 14 foram registrados como coinfecção TB/HIV. O uso de drogas, por sua vez, representou um fator associado à coinfecção TB/HIV nas PSR, com razão de prevalência 2,55 vezes maior entre os usuários de drogas, quando comparados a não usuários. O fator idade, referente às pessoas acima de 50 anos, apresentou-se como um fator de proteção para a coinfecção, contribuindo em 61% para a diminuição dos casos, em comparação aos mais jovens.

Ao considerar as dificuldades de acesso aos serviços de saúde e de assistência social por públicos vulnerabilizados, bem como, a presença, a relevância e o impacto da TB nesses grupos, o que repercute no diagnóstico e, especialmente, na adesão ao tratamento. Este estudo evidencia a necessidade de orientação dos cuidados aos jovens, usuários de drogas que estão em situação de rua.

A pesquisa foi realizada com 20 indivíduos, incluindo PSR e egressas do sistema prisional, conduzida na cidade de Porto Alegre (RS), constatou que as pessoas coinfectadas com TB/HIV apresentavam características consideradas determinantes para o processo de adoecimento por TB associada ao HIV, destacando-se a procedência de camadas populacionais desfavorecidas, marcadas pela pobreza e pela violação de direitos fundamentais para alcançar uma condição humana digna12. Dados que corroboram com a luta histórica contra a TB, incluída entre o rol de doenças negligenciadas, na qual 95% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda2.

A literatura aponta que o potencial de transmissibilidade da TB é aumentado em coletividades, como sistemas prisionais13. Devido aos fatores como a alta prevalência de infecção pelo HIV entre os indivíduos encarcerados, superlotação, má nutrição, condições insalubres, detenção prolongada sem ventilação adequada e acesso limitado aos cuidados de saúde7. As PPL vivenciam situações de vulnerabilidade social, quando submetidas aos riscos relacionados à falta de cobertura social, educacional e não acesso aos serviços e às ações de saúde14. Portanto, esses determinantes sociais impactam na qualidade de vida e saúde desses indivíduos e levam à ocorrência de doenças infecciosas, como a TB e o HIV, causando o adoecimento ou a morte14.

Neste estudo, as PPL apresentaram como características sociodemográficas a idade entre 18 e 29 anos, sexo masculino, raça não branca e baixa escolaridade. E, como característica clínica, se destacou o uso de tabaco pela maioria. Ainda que as variáveis analisadas não tenham sido consideradas associadas à coinfecção TB/HIV nas PPL, reconhece-se que a amostra reduzida pode ter contribuído para esse achado e sugere-se a atenção ao público, uma vez que a maior vulnerabilidade de PLL à TB e à própria coinfecção TB/HIV é reconhecida na literatura como um problema no âmbito da saúde pública14.

As características sociodemográficas prevalentes nas PSR, neste estudo, foram idade entre 40 e 49 anos, sexo masculino, raça/cor não branca, baixa escolaridade e não recebimento de auxílio do governo. Já as clínicas foram: alcoolismo, uso de drogas ilícitas e uso do tabaco. Destas, a idade, abaixo de 50 anos, e o uso de drogas se mostraram estatisticamente associados à prevalência de coinfecção nesta população.

A literatura relata que o perfil dos acometidos pela TB e HIV são indivíduos mais jovens, sendo isso, um determinante importante que condiciona ao maior risco de permanecer em aglomerações e maior exposição sexual sem a utilização adequada de medidas preventivas2. Neste estudo, as PSR com idade acima de 50 anos apresentaram fator de proteção para a coinfecção TB/HIV.

O uso de drogas pelas PSR pode estar relacionado à necessidade de permanência nos diferentes espaços de convivência do público e ao enfrentamento da situação12. Uma revisão sistemática que teve por objetivo compilar os fatores da vulnerabilidade associadas à TB e coinfecção TB/HIV nas PSR identificaram-se o uso de drogas ilícitas, álcool e tabaco como fatores que imprimem a vulnerabilidade, estando relacionado ao estigma do vício, o desejo da fuga da realidade e melhoria do bem-estar geral, contribuindo também, para a interrupção do tratamento da TB 2,15.

Nesse contexto, o uso de substâncias psicoativas pode apresentar significados singulares na vida desses indivíduos, por proporcionar alívio das tensões das ruas, acalentar o frio, diminuir a fome, minimizar angústias e tristezas e, também, para a regulação física, como dormir e ter relações sexuais16. Outros estudos também apontaram que o uso de álcool e outras drogas pelas PSR se torna uma válvula de escape ou escudo contra as condições difíceis da rua17.

A necessidade do uso das drogas deve ser analisada no contexto biológico, psicossocial e sociocultural que o indivíduo está vivendo, especialmente para os públicos vulnerabilizados, como as PSR, pois, os efeitos das drogas são também associados a esses contextos. Entender os mecanismos sociais e as experiências vividas que estão em torno do uso de drogas por essa população auxilia na compreensão de como foi a construção do papel vital das drogas na vida dessas pessoas, e, também auxilia a encontrar meios de solucionar ou prevenir os fatores de risco para o consumo ou reduzir os danos causados por essa invisibilidade e exclusão17.

O uso das substâncias tem um potencial de agravar mais ainda a condição das PSR, devido a precariedade e a exclusão social a que estão submetidos, tornando-se, em alguns casos, uma população marginalizada e invisível.

Destaca-se que tanto as PPL quanto as PSR possuem características como baixa renda, baixa escolaridade e raça/cor preta ou parda, além de vivenciarem a exclusão social e as dificuldades de acesso aos direitos que determinam seus processos de adoecimento, de vida e de morte. Essas condições, consideradas determinantes sociais em saúde, condicionam esse público ao maior risco de adoecimento, visto que os fatores sociais, econômicos, políticos, ambientais e culturais influenciam na transmissão e na prevalência da coinfecção TB-HIV18.

O estudo foi realizado a partir de dados secundários que apresentam incompletude significantes que limitaram o estudo. Além disso, trata-se de um estudo transversal que retratou e analisou um período específico. Reconhece-se, também, que a amostra reduzida das PLL pode ter influenciado na ausência de achados significativamente estatísticos associados à coinfecção, neste estudo.

CONCLUSÃO

Este estudo possibilitou identificar os fatores associados à coinfecção TB/HIV em PSR e PLL notificadas em Belo Horizonte (MG) no período de 2015 a 2022. Na análise das PPL não foi identificada uma associação entre as variáveis estudadas e a coinfecção, possivelmente pelo pequeno número da amostra. Apesar de não ter sido identificado

associações, ressalta-se a vulnerabilidade desse público e a necessidade de atenção na assistência. Recomenda-se que haja novos estudos para essa população com uma outra análise, ou seja, que leve em consideração as limitações apresentadas neste estudo.

O estudo contribui para a promoção da visibilidade a grupos vulnerabilizados, identificando fatores que aumentam as chances de adoecimento por TB e HIV. Tal aspecto, permite redirecionar o cuidado de profissionais para jovens, usuários de drogas e em situação de rua. Ao mesmo tempo, sugere a formação de profissionais capacitados para o cuidado sensível aos grupos vulnerabilizados e políticas públicas abrangentes e inclusivas a esta questão.

  • COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO:
    Silva VLC, de Souza TR, de Oliveira BCV, de Araújo KP, Arcêncio RA, de Freitas GL. Fatores associados à coinfecção tuberculose e vírus da imunodeficiência humana em públicos em situação de vulnerabilidade. Cogitare Enferm [Internet]. 2025 [cited “insert year, month and day”];30:e93144. Available from: https://doi.org/10.1590/ce.v30i0.93144

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi realizado com apoio da bolsa Cód.001, PROBIC/FAPEMIG.

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  • Editora associada:
    Dra. Luciana de Alcantara Nogueira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Abr 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    20 Out 2023
  • Aceito
    05 Fev 2025
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