RESUMO
Objetivo: Traduzir e adaptar transculturalmente a Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale Form B para o português brasileiro e avaliar sua validade de conteúdo e consistência interna.
Método: Estudo metodológico, desenvolvido no formato on-line nos anos 2021 e 2022 com participação de especialistas na temática “morte” e tradutores juramentados do Brasil. Envolveu as etapas: tradução; síntese; retrotradução; revisão por comitê de especialistas; pré-teste e versão final.
Resultados: Após tradução, verificou-se consistência interna por meio do coeficiente de confiabilidade alfa de Cronbach, o qual totalizou 0,81. O índice de validade de conteúdo geral foi de 88,27, superior ao valor mínimo necessário para sua aceitabilidade.
Conclusão: A versão brasileira da Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale Form B Scale, apresentou métrica suficiente para ser aplicada no Brasil. A utilização da escala contribuirá com o aumento da visibilidade do tema da morte e da assistência ao paciente moribundo.
DESCRITORES:
Estudo de Validação; Tradução; Morte; Avaliação em Saúde; Pessoal de Saúde.
HIGHLIGHTS
FATCOD-B traduzida, validada e adaptada para português brasileiro.
Preparação de médicos e enfermeiros diante da finitude humana.
Coeficiente alfa de Cronbach de 0,81; consistência interna alta.
Índice de validade de conteúdo superior ao mínimo recomendado.
ABSTRACT
Objective: To translate and cross-culturally adapt the Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale - Form B into Brazilian Portuguese and to assess its content validity and internal consistency.
Method: A methodological study developed in online format during 2021 and 2022 with participation of experts in the topic of “death” and sworn translators from Brazil. It involved the following stages: Translation; Synthesis; Back-translation; Review by an experts’ committee; Pre-test; and Final version.
Results: After the translation process, internal consistency was verified using Cronbach’s alpha reliability coefficient, which reached 0.81. The overall Content Validity Index was 88.27, higher than the minimum required for acceptability.
Conclusion: The Brazilian version of the Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale - Form B Scale presented sufficient metrics to be applied in Brazil. Use of the scale will contribute to increasing visibility regarding the issue of death and assistance to dying patients.
DESCRIPTORS:
Validation Study; Translation; Death; Health Assessment; Health Personnel.
HIGHLIGHTS
FATCOD-B was translated, validated and adapted to Brazilian Portuguese.
Physicians’ and nurses’ preparedness in the face of human finitude.
Cronbach’s alpha coefficient of 0.81; high internal consistency.
Content Validity Index higher than the recommended minimum.
RESUMEN
Objetivo: Traducir y adaptar transculturalmente la Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale - Form B al portugués brasileño y evaluar su validez de contenido y consistencia interna.
Método: Estudio metodológico, desarrollado en formato online durante 2021 y 2022 con la participación de especialistas en el tema de la “muerte” y traductores públicos de Brasil. Implicó las siguientes etapas: traducción; síntesis; retrotraducción; revisión por comité de expertos; prueba piloto y versión final.
Resultados: Luego de la traducción, se verificó la consistencia interna mediante el coeficiente de confiabilidad alfa de Cronbach, cuyo resultado fue de 0,81. El índice de validez de contenido general fue de 88,27, superior al valor mínimo requerido para su aceptabilidad.
Conclusión: La versión brasileña de la escala Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale - Form B presentó métricas suficientes para ser aplicada en Brasil. El uso de la escala contribuirá a aumentar la visibilidad de la cuestión de la muerte y la asistencia a los pacientes moribundos.
DESCRIPTORES:
Estudio de Validación; Traducción; Muerte; Evaluación de salud; Personal de salud.
HIGHLIGHTS
Escala FATCOD-B traducida, validada y adaptada al portugués brasileño.
Preparación de médicos y enfermeros ante la finitud humana.
Coeficiente alfa de Cronbach de 0,81; alta consistencia interna.
Índice de validez de contenido superior al mínimo recomendado.
INTRODUÇÃO
A abordagem sobre a morte é um tabu, considerando-se que falar sobre o tema infere perceber a própria finitude. Todavia, a morte está inserida no cotidiano dos profissionais de saúde, sendo fundamental discutir-se sobre seu processo e preparar-se para lidar com suas nuances1.
O cenário mundial aponta que os cursos da área da saúde precisam ampliar a quantidade de disciplinas que ensinem sobre a morte, o luto e a comunicação de notícias difíceis. Por meio da expansão das informações nessas temáticas, o profissional da saúde obterá conhecimentos que ultrapassam o saber técnico-científico2.
No Brasil, o ensino na área de saúde é voltado para a cura de doenças. A evolução tecnológica, incorporada à assistência, juntamente com o avanço científico, favoreceram o “ideal” do profissional da saúde de lutar contra a morte3, vista como fracasso dos profissionais de saúde, gerando angústia, frustração e impotência4. Para o historiador Philippe Ariès, a adequada formação na terminalidade proporciona momentos felizes e dignos nesta última etapa da vida5.
A morte pode gerar ansiedade e trauma para aqueles que a vivenciam. O cuidado aos portadores de doenças terminais e a vivência da sua morte são geradores de depressão e burnout em enfermeiros6. O contato frequente do profissional de saúde com esses pacientes e seus familiares, somado ao déficit de preparo para lidar com esse público, provoca redução na qualidade dos cuidados prestados7.
Poucas ferramentas foram desenvolvidas para avaliação de profissionais médicos e enfermeiros em relação aos cuidados de pacientes portadores de doenças terminais. A Frommelt Attitude Toward Care Of the Dying Scale Form B (FATCOD-B scale) é utilizada para avaliar o conforto/desconforto de profissionais de saúde no cuidado de pacientes portadores de doenças terminais e é aplicada para testar a efetividade de programas de treinamento de fim de vida8.
A FATCOD-B scale foi desenvolvida pela enfermeira Katherine Helen Murray Frommelt em 1989. É utilizada para avaliar as atitudes de enfermeiros, e outros profissionais de saúde, quanto ao cuidado de pacientes portadores de doenças terminais e suas famílias. É composta por 30 itens do tipo Likert com opções de respostas: “Strongly Disagree, Disagree, Uncertain, Agree e Strongly Agree”. Os itens 1, 2, 4, 16, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 27 e 30 são assertivas positivas (varia de 1 para “Strongly Disagree” a 5 para “Strongly Agree”), as demais são negativas (varia de 1 para “Strongly Agree” a 5 para “Strongly Disagree”). Assim, a pontuação total varia de 30 a 150, sendo que os escores mais altos refletem atitudes mais positivas9-11.
A FATCOD-B scale originalmente está escrita em inglês e, para ser utilizada no Brasil, é necessária a tradução, adaptação e validação transcultural a nível nacional e, neste estudo, realizaram-se esses processos12.
O objetivo deste estudo foi traduzir e adaptar transculturalmente a Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale Form B para o português brasileiro e avaliar sua validade de conteúdo e a consistência interna.
MÉTODO
Trata-se de estudo metodológico para validação semântica e adaptação cultural da FATCOD-B scale, conduzido nos anos de 2021 e 2022. Os estudos metodológicos focam no desenvolvimento, na validação e na avaliação de ferramentas ou estratégias metodológicas13.
Estabeleceram-se critérios de inclusão para os participantes do estudo. Tradutor 1 (TRAD 1): idade igual ou superior a 18 anos; ser profissional da área da saúde e apresentar conhecimento sobre o construto avaliado; ter o idioma português brasileiro como língua materna e ser fluente no idioma inglês. Tradutor (TRAD 2): idade igual ou superior a 18 anos; ser profissional de área distinta da saúde (tradutor ingênuo); não ter conhecimento sobre o construto avaliado, de modo a refletir a linguagem não acadêmica; ter o idioma português brasileiro como língua materna e ser fluente no idioma inglês. Para os retrotradutores 1 e 2 (RET 1 e RET 2) definiu-se como critério de inclusão ter idade igual ou superior a 18 anos; idioma inglês como língua materna e ser fluente no idioma português brasileiro.
Estruturou-se o estudo nas seguintes etapas: tradução (I), síntese (II), retrotradução (III), revisão por comitê de especialistas (IV), pré-teste (V) e versão final (VI)14-15.
Iniciou-se a coleta de dados com a tradução da FATCOD-B scale realizada pelos tradutores, que geraram as versões traduzidas T1 e T2. Na síntese, os TRAD 1 e 2 formularam a versão T 1-2, conforme as etapas descritas a seguir.
Dois tradutores atuaram na etapa I. Ambos trabalharam de forma independente e traduziram a escala para o português do Brasil. A tradução do TRAD 1 foi denominada T1, enquanto a tradução do TRAD 2 foi denominada T2. O processo de tradução ocorreu exclusivamente de forma on-line havendo comunicação entre os tradutores e autores através de e-mail e telefones celulares.
Na etapa II, os tradutores realizaram reunião on-line, tendo os pesquisadores como observadores. Discutiram-se as 30 questões da FATCOD-B scale e, após consenso, formularam a versão síntese denominada T1-2.
Na etapa III, houve a participação de retrotradutores norte-americanos (RET 1 e RET 2). Ambos receberam a versão T1-2 e formularam, individualmente, as versões retrotraduzidas para o inglês denominadas RT1 (formulada por RET 1) e RT2 (formulada por RET 2).
Na etapa IV, revisão por comitê de especialistas, participaram um profissional de enfermagem, pesquisador da temática da morte, um profissional de enfermagem com expertise na tradução e validação transcultural de escalas, um médico com especialidade em cuidados paliativos, TRAD 1, TRAD 2, RET 1, RET 2, um profissional formado em letras português-inglês, tradutor 3 (TRAD 3) substituto do TRAD 2 (não pôde continuar sua participação por problemas pessoais). Os participantes receberam a versão original da FATCOD-B scale, T1, T2, T1-2, RT1 e RT2, além dos relatórios da T1, T2, T1-2, RT1 e RT2, nos quais houve explanações acerca dos processos de tradução, retrotradução e síntese, bem como justificativa da escolha dos vocabulários presentes nas etapas mencionadas previamente.
Após análise de todos os documentos, os membros do comitê de especialistas formularam uma versão da FATCOD-B scale que foi aplicada na etapa V.
Na etapa V, participaram 75 médicos e 12 enfermeiros associados à Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Os participantes receberam um convite do mailing da SBGG que continha o link do Google forms com o questionário sociodemográfico e o da FATCOD-B scale para serem respondidos.
Para o tamanho da amostra, o referencial de Beaton et al. (2000) sugere entre 30 e 40 participantes. Neste estudo, optou-se pelo uso de um método de amostragem probabilística, obtendo-se o número de 75 médicos e 12 enfermeiros na etapa do pré-teste. A amostragem estratificada foi utilizada, visto que a população de interesse se subdividiu em grupos. Segundo Manzato e Santos (2012), quando a amostragem não leva em consideração a existência desses subgrupos podem-se produzir resultados que estejam influenciados pelo desbalanceamento da amostra16.
O questionário sociodemográfico foi ajustado a partir do criado por Frommelt, composto pelas variáveis sexo, idade, religião, profissão, questões sobre educação prévia sobre o morrer e a morte, experiência prévia no cuidado de pessoas com doenças terminais, experiência prévia com a perda e experiência presente quanto à morte de um ente querido. Os ajustes realizados ocorreram para que o questionário fosse mais adequado à realidade brasileira. No Brasil, existem diversas denominações religiosas. Assim sendo, optou-se por acrescentar “espírita”, “afro-brasileira”, “agnóstica” e “ateu”. Houve, também, modificações na formação profissional, já que no Brasil não há High School Equivalency ou High School Diploma, por exemplo. Optou-se por manter “residência”, “mestrado” e “doutorado” no questionamento de outras formações.
Na etapa VI, foi finalizada a versão brasileira da FATCOD-B scale (FATCOD-B-B) (APÊNDICE) pelos pesquisadores após a verificação da validação e consistência interna.
Os contatos com os participantes foram realizados por meio de e-mail e três reuniões on-line com participação da pesquisadora principal como observadora. A primeira ocorreu entre o TRAD 1 e 2, sendo discutidos os 30 itens traduzidos da FATCOD-B scale, chegando-se a um consenso sobre a versão síntese. Na segunda, entre os membros do comitê, avaliaram-se as equivalências semântica, idiomática, cultural e conceitual. Na terceira reunião, a versão pré-teste da escala foi aprovada pelo comitê.
Para a análise de dados, organizaram-se as respostas dos participantes do pré-teste no Software Microsoft® Excel. Foram avaliadas as características dos participantes com técnicas de estatística descritiva, sendo calculadas as respostas considerando a frequência, os percentuais e os intervalos de confiança para proporção.
Para cada questão da FATCOD-B scale, foram calculados os índices de validade de conteúdo (IVC) com a finalidade de averiguar se o conteúdo do instrumento foi um bom reflexo do construto17. Quanto à consistência interna, utilizou-se o alfa de Cronbach, que fornece esta medida em um único teste18.
Calcularam-se as médias de concordância e os desvios-padrões presentes em todas as questões da FATCOD-B scale e apresentadas as métricas gerais para as questões. As análises foram realizadas utilizando-se a linguagem de programação R.4.1.2 e R.4.2.2, com auxílio de profissional estatístico.
Para a realização da tradução, validação e adaptação transcultural da FATCOD-B scale para a língua portuguesa do Brasil foi obtida a autorização da autora da escala. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná, sob o parecer número 5.339.069.
RESULTADOS
Observa-se na Tabela 1 que 57,4% dos participantes têm até 45 anos de idade, 66,7% são mulheres, 55,2% católicos e 73,6% apontam a crença religiosa como geradora de alguma influência na atitude sobre a morte.
Distribuição das características sociodemográficas de médicos e enfermeiros associados à Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, participantes do pré-teste. Curitiba, PR, Brasil, 2024
Dos respondentes, 31% participaram de algum curso sobre o morrer e a morte, 96,6% cuidaram de pacientes portadores de doenças terminais e seus familiares e 33,3% tiveram experiência prévia com perda envolvendo seus próprios familiares. A perda de uma pessoa que não era da família foi vivenciada por 39,1%, destacando-se que 83,9% não estavam lidando com perda no momento da pesquisa e 6,9% estavam vivenciando a morte de um ente querido.
Na Tabela 2 verifica-se o coeficiente de confiabilidade alfa de Cronbach mínimo que, considerando todos os itens, totalizou 0,81. Igualmente, observam-se as médias de concordância entre os avaliadores, calculadas por meio do índice de validade de conteúdo e os desvios-padrões de todas as questões da FATCOD-B scale. Os dois itens com médias de concordância mais elevadas foram as questões “os cuidados devem ser estendidos à família da pessoa em fase final de vida” (4,71) e “as famílias precisam de suporte emocional para aceitar as mudanças de comportamento da pessoa em fase final de vida” (4,67). O IVC geral da pesquisa foi de 88,27, sendo esse índice de validade de conteúdo superior ao valor mínimo necessário para sua aceitabilidade.
Índice de Validade de Conteúdo; Coeficiente alfa de Cronbach; Média e Desvio- Padrão de concordância para as questões da Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale Form B. Curitiba, PR, Brasil, 2024
Na Tabela 3 aponta-se a soma das médias da FATCOD-B que foi de 121 pontos, com desvio-padrão de 0,68 pontos.
Métrica geral das questões da Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale Form B. Curitiba, PR, Brasil, 2024
DISCUSSÃO
Foram realizadas as traduções da escala original do idioma de origem para o idioma-alvo. Ambas apresentaram conteúdo semelhante, apesar de pequenas variações na escolha do vocabulário e estruturação das frases referentes a cada tradutor.
Na etapa de síntese as versões traduzidas foram comparadas e as divergências foram ajustadas. Os tradutores discutiram as opções mais adequadas para cada item traduzido, a fim de formular uma versão síntese única, conforme preconizado por autores da área19.
De acordo com recomendações metodológicas, as versões retrotraduzidas, foram semelhantes entre si, apesar de variações no vocabulário e estruturação das frases. Ademais, comparou-se a versão original da escala às traduções resultantes no intuito de se certificar que as versões traduzidas fossem adequadas20.
Ao longo das análises, todas as questões da FATCOD-B foram verificadas quanto às equivalências semânticas, idiomáticas, culturais e conceituais e sugestões de melhorias foram realizadas. Algumas palavras e/ou frases geraram maior discussão. Na questão “Addiction to pain relieving medication should not be a concern when dealing with a dying person” traduzida para “O vício em medicamentos para dor não deve ser um motivo de preocupação ao lidar com pessoas em fase final de vida”. Questionou-se a palavra “addiction” inúmeras vezes. De acordo com as diretrizes de validação de conteúdo, os especialistas escolheram “vício” em detrimento à “adição” após observarem que a palavra “vício” é entendida por uma criança de 12 anos17.
Com a versão pré-teste avaliou-se a compreensão e a aceitabilidade da escala. Essa versão foi considerada adequada por contemplar população oriunda de diversas localidades do país, refletindo a existência de múltiplos aspectos culturais, profissionais e relativos à formação acadêmica dos entrevistados, em concordância com outros estudos de tradução e adaptação transcultural de escalas21-22.
Verificou-se a consistência interna do pré-teste por meio do coeficiente alfa de Cronbach e, considerando todos os itens da escala, o valor obtido evidenciou a qualidade e confiança no resultado das questões da escala13,18,23. Do mesmo modo, o índice de validade de conteúdo, obteve valor geral superior ao mínimo recomendado para sua aceitabilidade17.
Os profissionais com idade ≤ 45 anos, apresentaram opiniões mais formadas sobre o fato de amenizar o assunto da morte diante de um paciente terminal e quanto a sentir vontade de fugir no momento da morte do paciente. Esses resultados são discordantes de estudo que aplicou a FATCOD-B em enfermeiros chilenos, o qual mostrou que quanto maior a idade mais positivas são as atitudes dos profissionais frente a pacientes terminais24.
A religião mostrou-se como um dos fatores associados às atitudes de médicos e enfermeiros a respeito da morte. Dependendo da questão da escala, há modificações de resposta comparando-se o grupo de cristãos, não cristãos e sem religião, enquanto em outros questionamentos a religião não interferiu no resultado. Destaca-se que a religião pode afetar a tomada de decisão nos cuidados de fim de vida25.
Médicos e enfermeiros associados à SBGG tiveram atitudes positivas diante da morte e do morrer, tendo em vista que o escore da FATCOD-B-B foi de 121 ± 0,68. Esse escore foi maior que o obtido em estudo conduzido na Itália (115,20 ± 7,86)26, e menor que o escore de estudo realizado na Suécia (125,5 ± 8,2)27.
No presente estudo a experiência da perda promoveu mudanças nas atitudes de médicos e enfermeiros diante de seus pacientes terminais, divergindo de estudo conduzido na Itália, Espanha e Inglaterra, no qual as respostas da FATCOD-B scale não foram influenciadas pelo luto pessoal28.
A importância desta pesquisa vai além de traduzir, adaptar e validar a FATCOD-B scale para o português do Brasil, já que a escala pode auxiliar os profissionais de saúde a lidarem com situações de terminalidade. A escala poderá ser aplicada para identificar profissionais com maior aptidão para o trabalho com a terminalidade e avaliar as atitudes profissionais antes e depois de treinamentos sobre fim de vida.
A FATCOD-B-B será útil na estruturação de disciplinas sobre a temática do morrer e da morte. O preparo profissional pode reduzir a síndrome de burnout, a ansiedade e a depressão dos profissionais que lidam com o fim de vida. Dessa forma, a sociedade se beneficia com a melhor qualificação profissional, e o consequente tratamento mais habilitado.
Alguns inconvenientes ocorreram ao longo desta pesquisa, como as dificuldades para encontrar retrotradutores que participassem da etapa de comitê de especialistas e profissionais de saúde que tivessem em seus Currículos Lattes a proficiência em inglês. Houve limitada participação de médicos e enfermeiros na etapa do pré-teste, on-line, com a consequente perda numérica de participantes.
CONCLUSÃO
A partir da metodologia e resultados apresentados, pode-se concluir que a FATCOD-B scale foi traduzida, validada e adaptada transculturalmente para o português brasileiro, além de apresentar alta validade de conteúdo e consistência interna.
Mudanças na qualidade de ensino sobre a morte e o morrer devem ser incentivadas. Para isso, é necessário que sejam realizados planejamentos estratégicos e treinamentos dos profissionais de saúde. A utilização da FATCOD-B-B é recomendada na formação continuada a respeito dessas temáticas, nos serviços de saúde.
A utilização da FATCOD-B-B promoverá o aumento da visibilidade do tema da morte e da assistência ao paciente moribundo; auxiliará os profissionais da saúde a entenderem seus sentimentos e as dificuldades relacionadas a esses atendimentos e contribuirá para a melhoria na qualidade do atendimento a esses pacientes.
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Artigo extraído da dissertação do mestrado: “Tradução, validação e adaptação transcultural da Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale Form B para o português brasileiro”, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil, 2023.
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COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO:
dos Santos TF, Lenardt MH, Pintarelli VL, Rodrigues JAM, Cechinel C. Tradução e validação da Frommelt Attitude Toward Care of the Dying Scale Form B. Cogitare Enferm [Internet]. Ano [cited “insert year, month and day”];30:e95387. Available from: https://doi.org/10.1590/ce.v30i0.95387
AGRADECIMENTOS
O presente estudo foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
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Editora associada:
Dra. Juliana Balbinot Reis Girondi
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
25 Abr 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
04 Maio 2024 -
Aceito
06 Jan 2025


