RESUMO
A Amazônia tem ocupado papel central no debate sobre desenvolvimento sustentável, especialmente pela ameaça à sua biodiversidade por meio das atuais transformações demográficas, econômicas e culturais. É urgente ampliar a discussão sobre alternativas que possibilitem conciliar o desenvolvimento econômico com preservação ambiental e sustentabilidade social. O objetivo deste artigo é apresentar uma reflexão sobre os desafios e oportunidades para criação de negócios de forma a manter a riqueza da floresta para quem vive dela e nela. Para isso, por meio de revisão de literatura, é apresentada uma análise do desenvolvimento dos negócios na Amazônia, tanto do ponto de vista conceitual quanto do histórico, aprofundando no conceito de cadeias de valor integradas à sustentabilidade, que tem sido um modo de estruturação produtiva e para inter-relações entre os atores naquela região. Elas são ilustradas, no texto, pela cadeia do açaí, um dos produtos mais relevantes da sociobiodiversidade regional. No artigo, ressalta-se também o conceito contemporâneo de “bioeconomia” e o questionamento sobre quem realmente se beneficia dessa abordagem. Além disso, são levantadas considerações sobre como fortalecer arranjos interorganizacionais e cadeias de valor sustentáveis e, sintetizando o debate, deixamos questões ainda não resolvidas sobre os negócios na e da floresta.
Palavras-chave:
sociobioeconomia; cadeia do açaí; global value chain; global production network; sociobiodiversidade regional.
ABSTRACT
The Amazon has played a central role in debates on sustainable development, particularly due to the threats to its biodiversity posed by ongoing demographic, economic, and cultural transformations. It is urgent to broaden the discussion on alternatives that reconcile economic development with environmental protection and social sustainability. This article reflects on the challenges and opportunities involved in creating businesses that help protect the wealth of the forest for those who live in and depend on it. It offers a literature review and analyzes business development in the Amazon from both conceptual and historical perspectives, with a focus on the notion of value chains integrated with sustainability. This framework has guided the structuring of production and the interrelations among actors in the region. These dynamics are illustrated through the example of the açaí value chain, one of the most significant products of regional sociobiodiversity. The article also examines the contemporary concept of “bioeconomy” and raises the critical question of who truly benefits from this approach. Furthermore, it discusses how to strengthen inter-organizational arrangements and sustainable value chains. In conclusion, this research highlights unresolved issues related to doing business in and from the forest.
Keywords:
sociobioeconomy; açaí; value chain; global value chain; global production network; regional sociobiodiversity.
RESUMEN
La Amazonia ha pasado a ocupar un lugar central en el debate sobre el desarrollo sostenible, especialmente debido a la amenaza a su biodiversidad que representan las actuales transformaciones demográficas, económicas y culturales. Urge ampliar la discusión sobre alternativas que permitan conciliar el desarrollo económico con la preservación ambiental y la sostenibilidad social. El objetivo de este artículo es presentar una reflexión sobre los retos y oportunidades de creación de negocios para mantener la riqueza de la selva para quienes viven en y de ella. Para ello, por medio de una revisión bibliográfica, se presenta un análisis del desarrollo empresarial en la Amazonia, tanto desde el punto de vista conceptual como histórico, profundizando en el concepto de cadenas de valor integradas con la sostenibilidad, que ha sido una forma de estructurar la producción y las interrelaciones entre los actores de la región. Estas se ilustran en el texto mediante la cadena del asaí (Euterpe oleracea), uno de los productos más importantes de la sociobiodiversidad regional. En el artículo también se destacan el concepto contemporáneo de “bioeconomía” y el cuestionamiento sobre quién se beneficia realmente de este enfoque. Además, se plantean consideraciones sobre cómo fortalecer los arreglos interorganizacionales y las cadenas de valor sostenibles y, sintetizando el debate, se dejan cuestiones aún no resueltas sobre los negocios en y de la selva.
Palabras clave:
sociobioeconomía; cadena del asaí; global value chain; global production network; sociobiodiversidad regional.
INTRODUÇÃO
A Amazônia tem sido um dos espaços mais frequentemente mencionados no debate global sobre desenvolvimento sustentável, pois representa um território dinâmico cujas transformações demográficas, econômicas e culturais demandam grande esforço de reflexão por parte das ciências sociais (Becker, 2004, 2010). Entre diversos contrastes socioambientais, a rica e única biodiversidade (Homma et al., 2020) tem sido ofertada a diversas formas de exploração econômica do bioma. Bertha Becker (1997) já constatava que a Amazônia assumia distintas dimensões e implicações políticas para diferentes atores sociais. São várias Amazônias, uma vez que não é uma região homogênea. Dizia Becker (2010) que a ideia da Amazônia como um território isolado, de difícil acesso, e de natureza intransponível, é pura ficção. Para uma região como as Amazônias, o desafio ecológico tem assumido dupla conotação: a de sobrevivência da humanidade e a de valorização do capital (Becker, 2004, 2005). Sob a percepção global, está a preocupação com o desmatamento e seus efeitos sobre o clima, tais como o aquecimento global ou a perda da biodiversidade. Por outro lado, o potencial existente na Amazônia continua sendo oferecido como ingrediente para incentivar o desenvolvimento territorial, uma vez que o significado histórico recente da região se confronta com a utilização mais sustentável de suas potencialidades. De fato, os produtos da sociobiodiversidade, de maneira especial os amazônicos, possuem enorme potencial de utilização pelos setores alimentício, farmacêutico e cosmético, principalmente em função da grande diversidade de ingredientes disponíveis para gerar inovação para esses setores.
Ante a infinita biodiversidade amazônica, o corolário é imediato e inegável: “(...) utilizar insumos abundantes em sistemas extrativistas e agroflorestais e transformá-los em algo de valor, através da bioindústria de transformação” (Nobre & Nobre, 2019, p. 19). Nessa perspectiva, a literatura tem evidenciado diversas alternativas de desenvolvimento (Becker & Lena 2002; Garrett et al., 2024), que perpassam pela gestão social de recursos naturais (Vasconcellos et al., 2018), negócios de impacto social tendo a floresta como centralidade (Abramovay, 2020; Comini, 2022) e modelos de bioeconomia (Nobre & Nobre, 2019; Marcovitch & Val, 2024). Esse último é um dos temas mais polêmicos da listagem de soluções para a região.
Seria uma estratégia de “terceira via Amazônica” sob a qual seria utilizado todo o “(...) conhecimento propiciado pelas ciências, pela tecnologia e pela inovação e planejamento estratégico para o florescimento de uma bioeconomia baseada na ideia de uma floresta em pé com os rios fluindo, valorização da biodiversidade e do trabalho sustentável das comunidades locais” (Nobre & Nobre 2019, p. 11). O ponto nodal é que a lógica desenvolvimentista permanece, ainda que submersa em conteúdos e conceitos complexos e aperfeiçoados, como desenvolvimento sustentável, carbono neutro, redução de gases de efeito estufa, entre outros (Melo, 2024).
Paradoxalmente, o bioma amazônico continua sendo fonte de disputa para mineração de ouro e tantos outros minérios; até as minas de petróleo que estão abaixo da grande floresta amazônica representam imensos desafios socioambientais A política de mineração para a Amazônia, semelhante à de qualquer outra região brasileira, é baseada num sistema capitalista de apropriação dos “bens comuns” (terras e águas), que, mesmo pagando taxas e royalties, visa o lucro (Melo, 2024).
Desse modo, a complexidade e a biodiversidade da Amazônia com suas dimensões geográficas, sociais e produtivas constitui um território confrontado por uma intrincada rede de conflitos fundiários e inúmeros desafios socioambientais (Melo, 2024). Nesse campo conturbado, em meio às múltiplas territorializações sobrepostas, para além dos conflitos, também tem chamado atenção um crescente interesse em negócios na/da Floresta.
Os negócios da floresta, neste contexto, são formados principalmente por empreendimentos comunitários (como associações e cooperativas), que conforme Comini (2022, p. 11) “[...] visam solucionar problemas socioambientais com eficiência e sustentabilidade financeira por meio de mecanismos de mercado”. Ao mapear os empreendimentos socioambientais na Amazônia, a autora constatou a existência de uma ampla e diversificada gama de organizações, com diferentes portes, inseridas (ou não) em cadeias de valor, pertencentes (ou não) a arranjos produtivos locais, que estão ocupando espaços para incrementar as relações econômicas e a participação nas relações sociais e políticas. Acredita-se que, no bioma Amazônico, sempre existiram práticas de gestão social e/ou de base popular como alternativas bioeconômicas de desenvolvimento (Vasconcellos et al., 2018) atreladas a esses negócios comunitários da/na floresta. Ainda, as cadeias, há muito, têm sido utilizadas naquela região para estruturação produtiva e interrelacional dos atores envolvidos.
No entanto, ainda não existem formas abrangentes, concretas e estratégicas para fazer negócios articulados de forma a manter a riqueza da floresta para quem vive dela/nela. Sob tal contexto, não deve surpreender que proliferam inúmeras recomendações e argumentos que, mesmo à luz de evidências empíricas, não são realistas, nem mesmo factíveis no curto prazo. Muitas vezes são visões e até mitos, os mais diversos, em acordo com interpretações e ideologias de seus proponentes. Os caminhos possíveis são propostos, mas, como qualquer almejado processo de “desenvolvimento”, são também incertos e, em geral, pressupõem tempo de concretização de médio a longo prazo. Homma et al. (2020) consideram tais propostas surpreendentemente românticas, idealistas e, por isso, futuristas. Estão distantes temporalmente de concretização, à luz das condições realmente existentes na Amazônia, que se tornam absolutamente utópicas.
Isso porque um desafio decorre dos impactos imediatos para quem vive no território, “porque a floresta é território” (Becker 2010, p. 20). Nesse contexto, emergem questões relevantes para a reflexão. Por que uma natureza tão exuberante tem sido incapaz de se traduzir em bem-estar para a população local ou enraizar um processo mais sustentado de desenvolvimento? Como gerar riquezas para a região e sua população? Quais são os caminhos para estimular formas de exploração econômica dos recursos disponíveis no bioma Amazônico que, de fato, produzam riqueza e, ainda mais, possam se constituir em riqueza inclusiva?
Discutir o desenvolvimento territorial sustentável no contexto do bioma Amazônico traz inúmeras contradições e abordagens que instigam outro conjunto de questões: Como fortalecer os arranjos interorganizacionais, com cooperação entre governos, organizações não governamentais, empresas e comunidades? O que tem sido feito para fomentar iniciativas de bioeconomia? E o que fazer para pensar em sustentabilidade e cadeia de valor: seria pensar negócios da/na floresta que atendem nichos de mercado? ou seriam negócios que podem ensinar novos padrões de produção e consumo? Ou ainda, novos modelos de gestão como os negócios comunitários com governança partilhada? São algumas das muitas perguntas que vêm motivando diversos estudiosos, governos e instituições e, como resultado, prospera atualmente uma longa lista de propostas, recomendações e supostos caminhos que poderiam promover o desenvolvimento econômico, social e mais sustentável da Amazônia (Nobre & Nobre, 2019; Abramovay, 2022; Homma et al., 2020).
Este artigo apresenta uma reflexão sobre oportunidades para criação de negócios nos territórios da Amazônia, trazendo um debate sobre cadeias de valor em duas dimensões: uma genérica e outra, mais desafiadora, em negócios na, da e para a floresta amazônica. Para isso, o artigo se divide em seis seções, além desta introdução, sendo as duas primeiras direcionadas ao aprofundamento sobre desenvolvimento e negócios na Amazônia, tanto numa perspectiva conceitual (seção 2) quanto histórica (seção 3). Essa temática é então direcionada para cadeias de valor, cujos conceitos integrados à sustentabilidade são apresentados na seção 4 e ilustrados na cadeia produtiva do açaí (seção 5), uma das mais relevantes e atuais cadeias da sociobiodiversidade amazônica. Na sequência, a seção 6 mostra uma análise crítica dos principais desafios e oportunidades para a cadeia de valor dos negócios na/da floresta amazônica. Finalmente, a seção 7 sintetiza o debate aqui empreendido com um conjunto de questões sobre negócios na/da Floresta que permanecem em aberto.
NEGÓCIOS NA (DA) FLORESTA AMAZÔNICA: DO QUE ESTAMOS FALANDO?
‘Negócios da floresta’ é uma nomenclatura utilizada para agrupar empreendimentos criados por comunidades de povos tradicionais (Comini, 2022), tais como quilombolas, seringueiros, castanheiros, ribeirinhos e grupos indígenas, os habitantes originários da floresta (Becker & Lena, 2002). São empreendimentos que visam sobretudo o aproveitamento melhorado de recursos florestais não madeireiros e da pesca (Becker & Lena, 2002). Neste artigo, busca-se compreender esses empreendimentos de uma forma mais ampla do que as organizações capitalistas de propriedade privada com a premissa de maximização de lucro, uma vez que “privatizar floresta é privatizar território” (Becker 2010, p. 20). Então, os desafios do negócio na (ou da) floresta amazônica não são triviais; para povos da floresta amazônica há uma relação indissociável entre criação de mundo e humanidade e isso precisa ser estritamente respeitado, respirado e responsável.
Por outro ângulo, o negócio da/na floresta precisa ter a ideia dos povos locais no centro, provendo respostas e soluções para sua inclusão produtiva. Pensar sobre bens comuns como a terra, a floresta, os rios, os recursos da natureza requerem pensar linguagens, crenças, criador e criatura de uma outra dimensão, que não está presente na nossa rotina de mundo contemporâneo, de mundo ocidental eurocêntrico, que pode ser muito distante das crenças e valores dos povos amazônicos. Para ampliar o escopo do entendimento dos negócios da/na floresta amazônica, é preciso compreender a visão de mundo dos muitos povos amazônicos. Por exemplo, o povo Baniwa se autodeclara “somos Amazônia”, o Paiter Surui se autodenomina “gente de verdade ou povo verdadeiro”, o povo Kichwa da Amazônia equatoriana afirma que a floresta é a Madre Selva, Madre Terra ou a Madre Natureza, ou seja, considera a floresta como fonte de conhecimento e ensinamentos para a vida. É nesse ponto que se compreende a oportunidade de atores envolvidos nas cadeias de valor reaprenderem com os negócios da/na floresta amazônica. Afinal, os povos amazônicos podem ser o elo para a reaproximação, a reconexão com a natureza que, em algum momento, a imersão na modernidade fez com que a humanidade desaprendesse. Os Mundurukus afirmam que tudo da floresta é sagrado e tem espírito. Essa inter-relação entre natureza e humano é também a base para argumentação de que, na Amazônia, “a biodiversidade não é simplesmente um produto da natureza, mas [...] da ação das sociedades e culturas humanas [...], uma construção cultural e social [...] objetos de conhecimento, de domesticação e uso, [...] das sociedades tradicionais”, portanto só faz sentido chamarmos o que vemos ali de sociobiodiversidade (Diegues, et al., 1999, p. 3). É com essa sutileza de pensamento, que gestores públicos, formuladores de política pública, empreendedores, financiadores ou quaisquer dos atores que estejam relacionados aos negócios da/na floresta podem reaprender, ampliando seu entendimento a partir da cultura dos povos amazônicos
Perante esses povos, refletir sobre sustentabilidade e cadeias de valor numa perspectiva de inclusão produtiva precisaria estar bastante emaranhado à visão da floresta amazônica como fonte de vida. Adotar tal visão traz grande desafio para as políticas públicas direcionadas aos povos que vivem da/na floresta. Afinal, o modo de vida dos povos amazônicos, que são baseados em valores, significados de mundo e interação simbólica com seu território, diferem substantivamente daquele condicionado pela razão instrumental (conforme concepção de Guerreiro-Ramos, 1989) de lucro a qualquer custo e pela superexploração da natureza como recurso econômico.
Portanto, discutir negócios na/da floresta amazônica não nos exime de pensar todas as complexidades que envolvem o território amazônico. Isso porque esse território não é apenas um lugar sagrado de biodiversidade ou um santuário ecológico, que seja alheio à vida de pessoas que vivem naquele bioma, é também um espaço social multicultural. Ampliar a reflexão nesse sentido é relevante já que muitas vezes, o olhar de fora, o olhar externo para a riqueza do bioma acaba invisibilizando o modo de viver das populações locais.
É necessário trazer uma visão humanizada para a discussão de sustentabilidade e cadeia de negócios na/da Amazônia, vinculando a vida cotidiana de quem ali vive. A economia, a sociedade e o ecossistema precisam estar numa relação de interdependência, na qual a economia é apenas uma função das atividades realizadas em sociedade. Assim, o centro da discussão sobre sustentabilidade, cadeias e negócios na Amazônia precisa passar por outra perspectiva, na qual negócios vistos como lucro a qualquer custo, cujos benefícios são bastante individualistas, deslocam-se para o coletivo, para o bem comum. Algo que seja muito mais comprometido com a tão almejada moralidade pública, em que as questões da ação pública precisam ser reguladas pelas ações coletivas. Nesse contexto, é bastante oportuna a discussão sobre os negócios da/na floresta amazônica aqui apresentada.
Para apoiar uma reflexão nesse sentido, buscou-se discutir criticamente possibilidades de negócios na Amazônia a partir de uma abordagem histórica do tema e de conceitos relacionados à sustentabilidade em cadeias de valor, concretizados numa cadeia específica do bioma Amazônico, a do açaí (ou seja, negócios a partir Da Floresta). Nessa perspectiva, a partir deste ponto do texto, mencionamos “na” ou “da” Floresta de forma indistinta e intercambiável.
Evidências da Amazônia brasileira: uma abordagem histórica
Desde os tempos coloniais, a Amazônia brasileira ocupa a posição de um único lócus privilegiado para a exploração de todos os tipos de matérias-primas - de pessoas a produtos naturais - e para o acúmulo de riquezas (Loureiro, 2009). A criação de reservas extrativistas, uma iniciativa que se expandiu ao longo do tempo, sobretudo, depois do assassinato de Chico Mendes (1944-1988), tem sido uma das mais aplaudidas no contexto da preservação dos recursos florestais. Destaca-se, no entanto, que a economia extrativista é um ciclo no qual se tem a fase da expansão, depois a estabilização e finalmente o declínio. Soma-se a essa realidade a falta de infraestrutura para as áreas rurais de ocupação tradicional, oriunda da forma oficial de desenvolvimento da Amazônia, a qual privilegiou os grandes empreendimentos exportadores e não desenvolveu estruturas de apoio à base produtiva comunitária e familiar (Abramovay, 2022; Loureiro, 2009).
De fato, a modernização na região limitou-se aos setores, espaços ou áreas ocupadas pelo capital empresarial e não se espalhou para os setores menos privilegiados da sociedade, nem melhorou a exploração do trabalho humano em muitos grupos sociais, que continuaram a ser tão explorados física e economicamente quanto nas fases iniciais do capitalismo, tanto no interior quanto nas cidades. Tratou-se de um modelo disfarçado de modernização ao contrário (Loureiro, 2009), que mascara suas formas de trabalho precário na base da cadeia de valor e sua exploração predatória em indicadores (ilusórios) de crescimento econômico. Essa posição exclui continuamente as comunidades tradicionais. Abramovay (2022) relembra que há diferença entre o aparato institucional relacionado ao trânsito de commodities e produtos da mineração, quando comparado aos produtos oriundos da sociobiodiversidade, à economia florestal e às práticas agropecuárias regenerativas, assim como àquelas que favoreçam soluções baseadas na natureza. Portanto,
[...] não se trata de desenvolver estratégias para beneficiamento de grandes empreendedores na construção civil, mas alternativas coerentes com as características do meio para resolver problemas recorrentes de transporte, acesso à saúde, educação e demais serviços e direitos, conservação ambiental e manutenção da floresta em pé e dos recursos hídricos. (Bittencourt, Potiguar, Santos, 2024, p. 39).
Hoje, a região Amazônica converteu-se numa fronteira de commodities para o mercado global. De fato, o processo de integração da Amazônia em cadeias globais produziu diversos efeitos negativos para os povos amazônicos, uma vez que, nos seus vários níveis de relação, há uma concentração de poder em oligopólios (Barrientos; Gereffi, Rossi, 2011; Marcovitch & Val, 2024). Na verdade, desde meados dos anos 1990, o processo de globalização da Amazônia já estava claramente definido, revelado por sua intensa inserção em cadeias de produção global (Loureiro, 2009; 2012; Homma et al., 2020), especialmente liderado pelos grãos e pela mineração, mas não somente por eles. Nas últimas décadas, ficou claro que as diversas experiências de desenvolvimento propostas para a Amazônia falharam em sua missão de desenvolver a região, elas foram:
[...] excludentes, comprometem ou destroem a rica multiculturalidade da Amazônia, levam à homogeneização cada vez maior das sociedades, dissolvendo num todo comum as particularidades e especificidades dos grupos sociais; são concentradores de renda, geram poucos empregos, espalham miséria em torno dos grandes empreendimentos onde se implantam e provocam enormes danos ambientais (Loureiro, 2012, p. 528-529).
Os recursos extrativos, quer sejam da flora ou da fauna, encontram-se dispersos na natureza, o que implica uma baixa produtividade da terra e da mão de obra (Homma et al., 2020). Respeitar essa peculiaridade da Amazônia impacta na conservação e no desenvolvimento da região. Becker (2004, 2010) ressalta a polarização existente na Amazonia entre a perspectiva conservacionista (endógena) e desenvolvimentista (exógena), que está presente nos projetos para a região, refletindo interesses econômicos e políticos diversos. A endógena priorizou ações e políticas ambientais e valorizou as populações locais, enquanto a exógena favoreceu a infraestrutura voltada ao desenvolvimento tecnoindustrial. Assim, os períodos da ocupação da floresta amazônica brasileira podem ser caracterizados em três linhas de intervenção estratégica conforme Tabela 1.
Para Becker (2013), é possível desenvolver sem destruir a natureza, contemplando igualmente a articulação do território com as populações regionais. Becker (2004, p. 14) já preconizava que era “urgente um novo padrão de desenvolvimento regional, capaz de melhorar as condições de vida das populações da Amazônia e superar as ameaças à sua sustentabilidade”. É preciso apostar em novas formas de organização da produção, inventar e desenvolver outras iniciativas alternativas (Loureiro (2012). Elas são “alternativas porque são norteadas por paradigmas mais solidários e distributivos e porque têm suas bases fincadas em formas próprias e mesmo inovadoras de organização da produção” além de serem “socialmente mais integradoras que as convencionais e mais harmonizadas com a natureza” (Loureiro, 2012, p. 529).
No entanto, ainda é preciso encontrar o caminho em que as atividades econômicas sejam adequadas aos imperativos ambientais e atendam a população que vive na região. Essa questão é mais relevante à medida em que a sociedade amazônica, como o restante do país, é profundamente desigual, com a maioria da população apresentando padrões de pobreza entre os mais baixos do Brasil - usualmente, a maior parte de seus municípios ostentam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito baixos, sendo que os piores do Brasil ficam em estados da Amazônia Legal (IBGE, 2024). Trata-se de uma população que não pode esperar por longos processos de maturação econômica e tecnológica como as propostas que “[...] sugerem ser a Amazônia a região ideal para experimentalismos ainda abstratos do tipo indústria 4.0 + bioeconomia” (Homma et al., 2020, p. 11).
Na verdade, as atuais condições sociotécnicas e políticas ameaçam a integridade do bioma amazônico. O desmatamento, a exploração madeireira e os incêndios florestais associados aos eventos do El Niño, cada vez mais frequentes e intensos, poderão aumentar significativamente as emissões de carbono oriundas de mudanças no uso do solo (Gatti et al., 2023). Muitos cientistas (Leite-Filho et al., 2019, Lovejoy & Nobre, 2019) temem que eventos extremos como esses estejam contribuindo para levar a maior floresta tropical do mundo a um ponto de não retorno (quando o bioma não for mais capaz de gerar as chuvas que o mantêm e que levaria a um processo de savanização da floresta). Para ultrapassar estes bloqueios, são necessárias transformações estruturais que se afastem das economias convencionais e se orientem para as “sociobioeconomias”, conforme destacaram Garrett et al. (2024). No entanto, falta clareza a respeito do conceito de bioeconomia, um termo amplo com diferentes significados e que pode se adequar a diferentes agendas científicas, políticas e mercadológicas (Ferreira et al., 2024). Bioeconomia hoje pode incluir muitas coisas, desde as monoculturas como soja e dendê (palma), até a extração e agregação de valor a produtos não madeireiros. Os modelos econômicos que envolvem a bioeconomia são conhecidos como sociobioeconomias ou Sistemas Baseados em Ecossistemas (SBE) ou economia baseada na sociobiodiversidade (EBS). Um modelo SBE pode incluir turismo ecológico, bem como a produção diversificada e a transformação inovadora de frutos, nozes, óleos, medicamentos, peixe e outros produtos derivados da sociobiodiversidade.
Para Garrett et al. (2024), o modelo SBE está focado em usar e restaurar os ecossistemas amazônicos de forma sustentável e apoiar comunidades tradicionais da região. Utilizando uma perspectiva de transições de sustentabilidade, Garrett et al. (2024) defendem mudanças políticas multiescalares para sustentar, melhorar e expandir as iniciativas de SBE. Sob um modelo SBE, os subsídios governamentais seriam redirecionados para melhorias nas infraestruturas, nas cadeias de valor e nas organizações sociais. Outras mudanças políticas que poderiam apoiar um modelo SBE incluem o fim dos subsídios ao agronegócio, redirecionamento do financiamento para atividades de conservação e restauração, apoio a negócios comunitários, uma maior representação das comunidades marginalizadas no planejamento territorial, ao reforço das ligações rurais-urbanas e intersetoriais, à colaboração internacional e ainda, garantia de processos participativos para garantir benefícios inclusivos e de longo prazo (Garrett et al., 2024).
Entretanto, a sugestão de materialização de uma “economia do conhecimento da natureza” (Abramovay, 2020), na opinião de Homma et al. (2020, p.11), ainda é muito vaga, quase utópica, cujo roteiro sugere “um tempo futuro longínquo, de improvável ocorrência”. Embora seja importante considerar essas limitações, Garrett et al. (2024) ressaltaram que as políticas para as EBS também precisam usar definições claras, processos participativos e uma abordagem multibioma para evitar resultados perversos, uma vez que alguma transformação para a um modelo bioeconômico já venha ocorrendo há décadas. No bioma amazônico, muitas espécies extrativas já foram ou estão sendo domesticados, como o cacaueiro, seringueira, urucuzeiro, guaranazeiro, cupuaçuzeiro, açaizeiro, etc. O contexto é de um ambiente rico em biodiversidade, o que potencializa inúmeras possibilidades de exploração econômica, mas cuja existência exige integração e convivência das múltiplas espécies num território. Pelo fato de o termo bioeconomia ser ambíguo, pouco claro e ainda recente, dependendo de sua abordagem, pode também causar impactos negativos ao ambiente, especialmente quando são explorados em larga escala. Um exemplo é a cadeia de produção do fruto do açaí, o produto da bioeconomia mais proeminente da Amazônia e com crescimento acelerado da produção (Lopes et al., 2019). Para mapear as potencialidades e dificuldades dos negócios da/na Floresta Amazônica, utilizamos esse exemplo da produção de açaí a partir de conceitos de sustentabilidade e cadeia de valor (vide seções seguintes).
Sustentabilidade e cadeia de valor: alguns apontamentos
A discussão sobre negócios da floresta na Amazônia traz uma reflexão sobre a sociedade contemporânea e moderna e também abre a possibilidade de reencontro com saberes locais daqueles povos que sempre fizeram do seu cotidiano a conservação e a estruturação ambiental na região. Isso porque sabe-se que a Amazônia é um ecossistema construído com intervenção humana direta pelo uso antropogênico da terra (Levis et al., 2017) por meio da domesticação de espécies (Flores et al., 2024), especialmente úteis aos seres humanos (Coelho et al, 2021). Assim, essa discussão é muito profícua no que se refere ao pensar a sustentabilidade num amplo espectro, já que a polissemia desse termo dificulta abordá-lo pelos conceitos de cadeia de valor. No entanto, há décadas, essas cadeias têm sido um modo de estruturação dos negócios naquela região e uma forma para organizar as inter-relações entre os diversos atores ali presentes. Elas são compostas pelas atividades requeridas para a produção de um produto, envolvendo etapas desde a concepção dele até sua disponibilização final (Kaplinsky, 2004).
Para pensar a integração dos atores na Amazônia sob a perspectiva de cadeias, é importante considerar os avanços nessa área de conhecimento. Basicamente, dois conceitos são amplamente utilizados global value chain (GVC) que praticamente é substituto de global commodity chains (GCC) (Gereffi, et al., 2005); e global production network (GPN) (Henderson et al., 2002). Ambos os conceitos se referem à organização para produção de produtos ou serviços, mas existem duas diferenças (Coe et al., 2008): (i) GCCs/GVCs são estruturas lineares, enquanto GPNs incorporam uma configuração de rede; e (ii) GCCs/GVCs concentram-se na governança das transações entre empresas e as GPNs incorporam outros atores relevantes interrelacionados. GPNs são, portanto, caracterizadas pela contestação e pela colaboração entre múltiplos intervenientes, incluindo empresas, agências estatais e internacionais, organizações não governamentais (ONG) e associações trabalhistas e industriais, cada uma com os seus próprios interesses e agendas (Levy, 2008). Não se trata apenas de incorporar uma variedade maior de atores na GPN do que na GVC, mas é também estabelecer uma forma mais ampla de governança (Coe & Yeung, 2019).
Outro aspecto relevante a ser considerado, independentemente da governança da cadeia - se mais centrada nas firmas líderes globais comandando as interrelações (GVC) ou focada no papel das empresas líderes e das suas redes incluindo atores não empresariais (GPN), é o fato de que em ambas, GVC e GPN, o papel do Estado tem sido reconhecido como indispensável, em especial numa perspectiva atual de neonacionalismo e desglobalização (Horner, 2017). No entanto, mesmo com vários estudos focados na relevância do Estado, a maior parte da atenção acadêmica permanece voltada para o papel das empresas (Teixeira, 2024). Isso quase duas décadas após Levy (2008) ter proposto que os estudos de GPN deveriam ser mais focados no aspecto político do que no econômico, especialmente para promover a construção de novas formas organizacionais que minimizem as assimetrias de poder e as desigualdades amplamente encontradas em cadeias produtivas. Nesse contexto, o efeito de desequilíbrio provocado pelo modelo de economia moderna, global e super industrializada traz consequências também para a própria cadeia de valor dos negócios da floresta, considerando desde a extração da matéria-prima, a elaboração dos produtos, além do seu uso, consumo e descarte.
Desse modo, um primeiro avanço para discussão de sustentabilidade em cadeia de valor seria refletir sobre como estamos extraindo e processando os recursos naturais tanto do ponto de vista ambiental quanto social. No caso de cadeias que envolvem o bioma amazônico, cabe analisá-las pelas abordagens GVC e GPN, realizado neste artigo a partir da abordagem histórica da região e da cadeia do açaí. No entanto, embora essa análise seja necessária, ela é insuficiente ante a enorme complexidade de aspectos da sociobiodiversidade amazônica, o que torna inevitável que prosperem também infindáveis debates e polêmicas sobre as principais facetas que determinariam a sua essencialidade e o estado atual e o futuro da região. Então, como pensar negócios sustentáveis, ou seja negócios da/na floresta que conservem os recursos naturais do bioma local, mas também preservem a vida dos povos que vivem ali? Um ponto fundamental é considerar que esses são aspectos indissociáveis nessa reflexão.
Cadeia de negócios na/da floresta: o exemplo da cadeia do açaí
A exploração do açaí é interessante para ilustrar uma cadeia de valor na região, já que ele, dentre os mais explorados produtos florestais na Amazônia, é aquele com maior potencial de mercado e que apresentou o crescimento mais rápido (Lopes et al., 2019). Além disso, o açaí é amplamente encontrado e uma das árvores hiperdominantes da região, ou seja, compõe o grupo de 1,4% do total das árvores que, juntas, representam metade de todas as árvores na Amazônia (chamadas hiperdominantes) (Steege, et al., 2013). Além disso, sua relevância na cultura local é grande, sendo usado majoritariamente para alimento e remédio (Lay et al., 2021). A apresentação dessa cadeia neste artigo é simplificada e, quando possível, generalizada, para que os conceitos desse modelo de organização produtiva sejam mais bem discutidos num caso emblemático do bioma Amazônico.
A cadeia do açaí, especialmente em seus primeiros elos (representados mais à esquerda na Figura 1), apresenta diversas características típicas de economias agroextrativistas da Amazônia com inserção recente em práticas de mercado, contudo, com abrangência internacional (Bittencourt, Potiguar & Santos, 2024): alto grau de dependência do trabalho familiar, informalidade nas relações de trabalho e nas transações comerciais, produção artesanal, pouco uso de tecnologia, falta de padronização de processos e medidas, alto nível de incertezas (baixo volume de informações), inexistência de suporte de crédito e assistência técnica sistemáticos, baixa densidade de instituições representativas e/ou interlocutoras do setor e vulnerabilidades legais e normativas, especialmente relacionadas à segurança do trabalho.
Os primeiros elos da cadeia de valor do açaí (produção e extração) não são integrados aos últimos (beneficiamento, comércio e consumo) (Dudley, 2018), assim como ocorre em outras cadeias produtivas globais (Gereffi et al., 2005). Percebe-se que a conexão entre a etapa agrícola (relacionada à produção do fruto por extrativismo ou por cultivo, feita, por exemplo, nas comunidades extrativistas ribeirinhas) e o mercado consumidor é acessado por uma sequência de atravessadores, aqueles negociantes intermediários entre o produtor e outros operadores (como fábricas e batedores). Os atravessadores têm importante papel na economia do açaí, visto que conectam o produtor ao mercado, exercendo funções de transporte e comercialização (Silva et al., 2013). No entanto, muitas vezes não praticam comércio justo, além de contribuírem para a manutenção da informalidade nos processos de compra e venda. O açaí é, assim, conduzido para o elo de processamento (beneficiamento e indústria), que permite o comércio do fruto ao consumidor (local, nacional ou global) realizado via distribuidores, compostos por varejistas e tradings internacionais, incluindo empresas de capital nacional ou estrangeiro. Na etapa de beneficiamento e/ou industrialização, o fruto é transformado em purê ou creme (polpa adicionada de ingredientes como açúcar ou frutas), polpa natural ou em pó (desidratada pelo processo de liofilização). Os atores envolvidos incluem os batedores familiares (preparam a polpa e atendem o mercado local), a agroindústria (inclusive de cooperativas de extrativistas, que podem processar frutos e sementes) e as mais variadas indústrias (como alimentícia, suplementos, cosméticos, fármacos), que agregam valor ao produto (Bittencourt, Potiguar & Santos, 2024; Brondizio, 2020). Nessa etapa final de indústria e comércio, grandes empresas atuam em segmentos variados (Silveira et al., 2023).
É importante observar que, na base dessa cadeia estão os produtores localizados na Amazônia, o seu elo mais frágil, especialmente o extrativista, que vivencia negociações informais não regidas por qualquer contrato (Bittencourt et al., 2024). A intermediação entre a base da cadeia e o consumidor é realizada pelos outros elos, que são majoritariamente empresas. Dessa forma, sua estrutura de governança se assemelha à das GVC, em que o papel econômico se sobressai, acentuando as assimetrias de poder e as desigualdades entre os atores (Levy, 2008).
Assim como em outras cadeias (GPN ou GVC), a do açaí incorpora uma série de camadas de relacionamentos que são largamente dominadas por empresas que ocupam uma posição oligopolística em relação a uma base global de fornecedores fragmentada. O poder comercial dos compradores predomina e eles colhem as recompensas da estrutura da cadeia, deixando os produtores ajustarem-se à concorrência de preços. Os riscos e custos dessas operações descem ao longo da cadeia, dos produtores aos trabalhadores e frequentemente aos trabalhadores informais, contratados ou ocasionais, que são ainda mais frágeis (Barrientos, 2008), personificado na cadeia do açaí pelo papel dos peconheiros, os trabalhadores coletores do fruto (Dudley, 2018).
Adicionalmente, para o consumidor final, há uma invisibilidade dos problemas da base da cadeia, que leva os elos mais fortes (beneficiamento e comércio) a não assumirem responsabilidade pelo que ocorre ao longo do fornecimento (Bittencourt et al., 2024). Os compradores internacionais geralmente exigem rastreio de origem, mas isso nem sempre pode ser satisfeito em sua completude, possibilitando o desmatamento e a exploração de mão de obra (Mascarenhas, Gonçalves-Dias & Baptista, 2015; Melo, 2024), uma vez que há ausência de atores locais para regulação e controle. A busca por certificações de produção sustentável recai também sobre os extrativistas (Silveira et al., 2023) apesar do seu impacto limitado para transformações efetivas, evidenciando a falta de agentes capazes de apoiar a reorganização produtiva necessária frente ao aumento sem precedentes de escala desse fruto nativo. Como exceção a esse modelo, vale destacar casos de organização comunitária extrativista para protocolos de produção sustentável, vide o Bailique em Marajó (Agostini & Ramos, 2019), que despontam como alternativas organizacionais envolvendo as populações locais na governança e reduzindo elos produtivos da cadeia. Ademais, a formação de uma cadeia produtiva de grandes proporções, como o Açaí, gera mudanças sociais e ambientais expressivas seja nas regiões de produção tradicional extrativista em várzeas, ou naquelas onde se expandem atualmente as áreas de produção em monocultivo (Abramovay et al., 2021).
Portanto, existem práticas de impacto negativo ambiental e social que são pouco monitoradas num modelo de cadeia com controle majoritário realizado pelas empresas. É necessária a presença ativa do estado e também que uma gama de outros atores se envolvam na rede produtiva para um equilíbrio de poder (Levy, 2008). Na cadeia atual do açaí (Figura 1), observamos, nos diversos estágios, a atuação pontual de diferentes organizações governamentais (de caráter técnico como Emater e Embrapa ou financeiro como do Banco do Brasil), organizações da sociedade civil (como ONGs e institutos) e organismos multilaterais (ONU e embaixadas de diferentes países). Apesar da existência dessas instituições, para se aproximar do modelo de GPN é preciso uma rede com multiatores governando ativamente a cadeia produtiva (Coe, Dicken & Hess, 2008).
A multiplicidade de atores tem sido destacada como necessária para resolução de grandes desafios envolvendo integração de propósitos econômicos, ambientais e sociais (Vurro et al., 2024), o que é exatamente o problema central ao se pensar negócios na Amazônia, incluindo a cadeia do açaí. Em termos ambientais, as transformações introduzidas pela difusão da produção do açaí têm sido detectadas como problemáticas até mesmo quando o padrão e os agentes da produção permanecem mais próximos ao perfil das comunidades extrativas. É o caso dos processos que vêm sendo denominados “açaização” da paisagem já que o aumento da demanda e os preços atrativos do produto têm levado famílias camponesas e ribeirinhas à rápida ampliação do número de touceiras por área, movimento que promove a homogeneização da paisagem e a supressão acelerada de outras espécies (Freitas et al., 2021). Outro impacto ambiental negativo imediato é observado com a expansão de manejo em áreas de várzeas, que aumenta a movimentação de transporte fluvial de frutos, com sérias consequências para a flora e a fauna locais; ou com o potencial de contaminação das águas ribeirinhas por herbicidas utilizados nas palmeiras, que são espalhados pelas inundações periódicas comuns nessas áreas (Homma et al., 2006). Alternativamente, houve melhorias de condições para o manejo e plantio de açaí em áreas de terra firme, o que potencializa a monocultura, localmente chamadas de açaizais (Brondizio, 2004), com possibilidade de grandes impactos na biodiversidade da região (Freitas et al., 2021).
Socialmente, os impactos negativos da cadeia do açaí também emergem, desde a exploração do trabalho em condições análogas à escravidão (Soeiro & Koury, 2020), até ameaças à segurança alimentar da população local. Isso porque o açaí, um importante alimento local, tem enfrentado aumento de preços advindo do aquecimento do mercado (IPAM, 2018), levando alguns grupos sociais amazônicos a substituir a dieta tradicional baseada em recursos locais, pelo consumo de industrializados nutricionalmente inferiores (Schor et al., 2021). Ao mesmo tempo, enquanto se eleva a dependência das famílias que se especializam nos cultivos do açaí, cresce a vulnerabilidade delas, dadas as ameaças potenciais da cultura do fruto diante dos efeitos das mudanças climáticas na região (Tregidgo et al., 2020).
Portanto, o crescimento do mercado de açaí a partir dos anos 1990 e sua organização em cadeia de valor trouxeram potencial de desenvolvimento econômico para os atores envolvidos, mas também potencializaram pressões ambientais e sociais, iniciando um ciclo com consequências já observadas anteriormente nas estratégias de intervenção na Amazônia. Ou seja, se o modelo de cadeias produtivas fosse suficiente para estruturação de negócios na Amazônia, não estaríamos aqui refletindo sobre o tema porque, a essa altura, teríamos evidência suficiente para ser replicada em diferentes segmentos, setores ou espécies da sociobiodiversidade. No entanto, é evidente que um caminho para essa reflexão é pensar a adequação do conceito de cadeias (GVC e GPN) para a região, assim como vem sendo feito para outros países em desenvolvimento dotados de riqueza em recursos naturais, mas com desempenho econômico ruim (Coe & Yueng, 2019). Entretanto, também na Amazônia, os modelos de cadeias, embora bastante disseminados, não são a única solução possível para a estrutura de produção e de negócios. Na seção seguinte, aprofundaremos essas reflexões.
Desafios e oportunidades na cadeia de valor dos negócios da floresta amazônica
Pensar negócios da e na Amazônia pressupõe considerar uma série de condicionantes. São inúmeros desafios interligados para gerar valor compartilhado ao longo das cadeias e dos negócios. Para pensar esse valor compartilhado, é preciso reconectar o sucesso do negócio ao progresso social, não dá para separar essas dimensões. E isso certamente traz a necessidade de uma engrenagem com melhores conexões para aprender fazendo, buscando resultados que vão além da eficiência, efetividade e oportunidade econômica.
Dentre as diversas necessidades, o que parece ser algo amplamente aceito é ampliar o conhecimento sobre o envolvimento de distintos atores num território em disputa, e para isso, é necessário incorporar uma reflexão crítica de valorização de múltiplas culturas e práticas. Evidentemente, pensar novos modelos de negócios não necessariamente será por meio de cadeias, mas, propomos aqui, que construí-los pode começar com o avanço dessa literatura. Isso porque partimos de modelos inter-organizacionais (GVC e GPN), que são historicamente realidade para vários setores na Amazônia, desde, por exemplo, a borracha, passando por cadeias como a de grãos e, mais recentemente, dos produtos da bioeconomia, como pescado, óleos, cacau, castanha e açaí, por exemplo (IDESAM, 2024).
O necessário avanço da literatura de GVC e GPN é central para pensar as cadeias produtivas na Amazônia e uma clara oportunidade de contribuição acadêmica. Entram como temas centrais (Coe & Yeung, 2019): rever a participação dos atores envolvidos na governança e o papel do estado, subverter a lógica político-econômica das cadeias, e os impactos delas em resultados de desenvolvimento regional. Esses podem ser pontos para uma reflexão aprofundada nas atuais cadeias existentes, incluindo a de açaí, mas eles não são suficientes. Também é importante considerar a redefinição da produtividade ao longo das cadeias de valor quando se pensa em negócios em pequena escala com os enormes desafios logísticos e as complexidades sociais e ambientais a serem consideradas naquele território.
No que se refere ao envolvimento dos múltiplos atores, observamos, na cadeia do açaí discutida neste artigo, uma governança dominada principalmente por firmas multinacionais e a clara evidência de que a base da cadeia, especialmente composta pelos extrativistas, é o elo mais fragilizado e que menos se beneficia. No entanto, é importante considerar que a transição para modelos de negócios socialmente inclusivos depende do alinhamento de interesses entre os atores envolvidos (Winkler, 2020). Segundo o trabalho de Londres et al. (2023) sobre iniciativas locais na Amazônia, aquelas envolvendo múltiplas e diversas partes interessadas (estatais e não estatais) ajudam a reunir capitais distintos (naturais, sociais, econômicos, de conhecimento, técnicos) necessários para resolver problemas complexos e, portanto, levam a resultados socioambientais melhores. Na verdade, a conexão entre atores estatais e empresariais tem sido apontada como relevante para estudos futuros (Manning, 2022) e o Estado deve ser visto “como um agente ativo nas GPN, em vez de relegá-lo a fazer parte do contexto institucional de segundo plano” (Coe & Yueng, 2019, p. 782). Redefinir o papel do estado como ator significativo das redes produtivas pode ser importante, mas não necessariamente leva a externalidades positivas e, definitivamente, não é a panaceia para os problemas da região.
O poder em cadeias produtivas, que tem sido protagonizado por agentes econômicos (especialmente firmas), é um tema apontado como relevante há tempos (Levy, 2008) e se mantém atual, com a perspectiva de proporcionar avanços com potencial para mudar as influências geopolíticas (Coe & Yeung, 2019). Um exemplo é a incorporação da abordagem pós-colonial aos conceitos de GVC e GPN, colocando “em primeiro plano, entendimentos de economias do Sul Global”, ou seja, contestando a supremacia do modelo eurocêntrico (Hughes et al., 2015, p. 254). Manning (2022) destaca que estudos dessa natureza são necessários para compreender fatores relevantes para o desenvolvimento de cadeias que ainda permanecem obscuros. Por exemplo, o autor afirma ser oportuno explicar porque atores em países emergentes escolhem atender demandas de cadeias globais em detrimento de negócios locais, evidentemente deslocando poder e governança para grandes players mundiais. Ou seja, é importante entender como são enraizadas, na sociedade, essas decisões, muitas vezes orientadas pela própria política pública, que valorizam o que é externo em vez do que é local e/ou tradicional. Portanto, há oportunidade para contribuições teóricas e práticas em cadeias de valor que possibilitem desenvolvimento de modelos de organizações locais e minimizem assimetrias de poder entre os atores, sendo assim, mais adequados para a realidade dos negócios na Amazônia.
Outro fator primordial é considerar a centralidade dos povos tradicionais na busca por modelos adequados de produção. Considerá-los atores centrais desse processo é fundamental por dois motivos, primeiro porque eles atuam como cultivadores das espécies que lá existem há milênios (Clement, et al., 2021) e isso pressupõe acúmulo de relevante conhecimento tradicional. Segundo porque, assim como outros povos que mantiveram conhecimento tradicional diretamente ligado à natureza, as populações locais incluem práticas e conceitos essenciais para compreender, usar e gerenciar a Amazônia, de forma que possam responder rapidamente às mudanças climáticas em curso (Flores et al., 2024). Afirmamos isso porque, embora poucos, há estudos que mostram que o envolvimento de povos tradicionais em iniciativas para conservação ambiental produziu benefícios significativos para a preservação do meio ambiente e da biodiversidade (Garnett et al., 2018, Becker, 2013).
Ainda, é preciso considerar o tipo de produto a ser explorado no negócio. Numa transição da “economia de destruição da natureza” para a “economia do conhecimento da natureza” (Abramovay, 2020), o Produto Florestal Não Madeireiro (Non Timber Forest Product - NTFP) tem potencial de geração de renda local sem destruição da floresta. No entanto, ele apresenta inúmeras restrições e, sem programas de desenvolvimento coordenados pela ação pública, a exploração dos NTFP não consegue substituir outras economias, como a pecuária (Lopes et al., 2019). Dentre as restrições a serem consideradas para utilização dos NTFP para o trabalho agroextrativista estão a criação de valor de mercado e aspectos ligados à cadeia de valor (Meinhold & Darr, 2019), como existência de mais ou menos intermediários (cadeia longa ou curta) (Sousa et al., 2018).
O tema de reposicionamentos na cadeia produtiva para geração de valor, geralmente caminhando a jusante em direção ao mercado consumidor, tem sido um caminho defendido como possível alternativa para negócios na Amazônia (Nobre & Nobre, 2019). Por exemplo, tem aumentado a construção de plantas de manuseio de castanhas, cacau, e até de usinas de extração de óleos e manteigas vegetais a partir de espécies amazônicas (chamadas bioindústrias) em comunidades extrativistas para fornecimento para cadeias de cosméticos e farmacêuticas (Vidal et al., 2021). A perspectiva de garantir inclusão social e preservação ambiental por meio de bioindústrias locais e diversificadas parece de fato ser uma alternativa interessante como “terceira via para a Amazônia” (Nobre & Nobre, 2019), no entanto, é necessário aprofundamento na compreensão dos impactos negativos que podem estar aliados a essa iniciativa. Um deles é a descaracterização do perfil do trabalho realizado pelas comunidades, que passa de agroextrativista para industrial com a instalação das usinas, ou seja, há uma mudança cultural imposta às comunidades que não é facilmente incorporada e deve ser avaliada com o envolvimento delas. Ademais, a valorização dessas indústrias na floresta pode intensificar ainda mais o preconceito contra o trabalho agroextrativista e as práticas diretamente ligadas à natureza, consequentemente, distanciando ainda mais as novas gerações da cultura e prática tradicional.
Outro ponto relevante a ser considerado é a necessidade de gestão de portfólios de NTFP que considerem a sazonalidade das espécies para promover meios de subsistência multifuncionais, o que é relevante para manter trabalho e renda ao longo do ano, evitando que a população se engaje em outras atividades de maior impacto ambiental, como na criação de gado (Carvalho-Ribeiro et al., 2018), ou que seja cooptada para atividades ilícitas. Adicionalmente, é importante considerar as ameaças ao futuro do extrativismo advindas das mudanças climáticas (Evangelista-Vale et al., 2021). Superadas essas dificuldades, não basta ser um NTFP, é preciso que se resguardem os princípios de uma produção que contemple atividades da sociobioeconomia, portanto, com o uso sustentável de bens comuns (Ostrom, 1990) como florestas e rios, comprometida com a conservação da diversidade cultural e biológica, para promover valor econômico (Garrett et al., 2023) para quem vive da e na floresta.
Considerando o exposto, o negócio na floresta amazônica só pode ser pensado de forma cooperativa e coletiva, numa lógica que é muito diversa da lógica e dos modelos econômicos que estamos construindo desde a revolução industrial. No entanto, evidentemente, quaisquer que sejam as atividades econômicas com o envolvimento central dos povos locais, é necessária a participação orquestrada de uma série de atores para que ela ocorra. É preciso pensar em arranjos e clusters setoriais que constituam uma rede de apoio às localidades onde os pequenos empreendimentos da/na floresta operam. Há necessidade de capacitações, de apoio técnico, de articulação com financiadores e com mercado. Muitas vezes, pequenas mudanças como implantação de tecnologias sociais e novos modelos de negócios alteram todo o arranjo produtivo, agindo como meio entre os produtores da floresta e empresas da cidade. Exemplos não faltam na Amazônia, como em reservas extrativistas (Villas-Bôas, et al. 2018) ou por protocolos comunitários (Agostini e Ramos, 2020). Assim, como resposta a um paradoxo de desenvolvimento, pode ser válida a criação de redes ou arranjos locais, de forma a integrar o extrativista, o caboclo, o ribeirinho a partir de entrepostos para comercialização.
Contudo, a formação dos arranjos está associada às trajetórias históricas de construção de identidades e de formação de vínculos territoriais, a partir de uma base social, cultural, política e econômica comum. Se há tanta dificuldade para pequenos negócios nos empreendimentos do sul e sudeste do país, imagina o desafio para cadeias produtivas localizadas no interior da floresta amazônica. De fato, os formatos organizacionais tendem a se desenvolver, sobretudo, em ambientes produtivos propícios a interação, cooperação, complementaridade e ajuda mútua.
O ator estatal tem uma enorme força para orquestrar um arranjo interfederativo e com destaque para a coordenação das prefeituras locais para uma inclusão efetiva da população envolvida. Entretanto, para a construção dessas estruturas produtivas, é preciso considerar questões fundamentais: como chegar em todos os elos da floresta amazônica desde a coleta de um produto? Em que pontos os beneficiamentos podem ser implantados para agregar valores que permaneçam no território? Como possibilitar processos de beneficiamento que não choquem com cultura e práticas tradicionais? Como repensar toda cadeia produtiva na floresta amazônica, desde pontos remotos de coleta de frutos? Como responsabilizar todos os atores locais, regionais, internacionais numa outra lógica produtiva? Como fazer desses arranjos locais uma possibilidade de transição para outro modo de vida, algo que possa ser institucionalizado em políticas públicas?
Inúmeras jornadas de “mentorias” e articulação de “negócios de impacto” estão agora adentrando o território amazônico. É uma oportunidade, mas ao mesmo tempo, precisamos mesmo é estar atentos a todas as delicadezas e sutilezas presentes na vida cotidiana de quem vive na floresta. Clement et al. (2013), nesse sentido, destacam a necessidade dos estudos se aprofundarem no conhecimento sobre o processo de transformação territorial contemporâneo na Amazônia e que a formulação de políticas públicas seja projetada para escalas geográficas adequadas aos processos sociais territorializados nas “várias Amazônias” e com envolvimento dos povos locais. Lida-se, aqui, com questões muito sensíveis e às vezes de significados difíceis de serem decodificados por quem vive fora do território.
Nas últimas décadas, tem-se vivenciado uma ampla experimentação de práticas produtivas mais sustentáveis que associam resultados econômicos com a preservação dos recursos naturais, com mecanismos pelos quais os beneficiários dos serviços em questão transferem pagamentos aos provedores, no sentido de compensá-los pelos custos associados à restrição de uso dos recursos naturais (Petheram & Campbell, 2010). Por exemplo, a ideia de valoração de serviços ambientais que assegure a permanência dos recursos hídricos para garantir o abastecimento de água e seu pagamento aos proprietários da terra já ocorre em alguns países desenvolvidos e há casos exitosos no Brasil, inclusive (Hecken & Bastiaensen, 2010). Nesse sentido, “Repartição de benefícios” para conservação e uso sustentável da biodiversidade também é instrumento relevante a ser, de fato, implantado para repartição “justa e equitativa dos benefícios derivados da exploração econômica de produto acabado ou material reprodutivo oriundo de acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado, para conservação e uso sustentável da biodiversidade”, como prevê a Lei N.13.123/2015.
Entretanto, incorporar mecanismos da sustentabilidade numa cadeia de negócio não é trivial porque muitas vezes não são todos os elos dessa cadeia que se esverdeiam ou que transformaram suas práticas com o mesmo entendimento do termo (Gonçalves-Dias, Labegalini & Csilag, 2012). Numa mesma cadeia produtiva encontram-se práticas muito sujas de alguns membros, convivendo com práticas muito valorosas e virtuosas de outros. Como fazer para que todos se envolvam numa transformação mais potente e verdadeira ao longo de todos os elos da cadeia de valor? Assim, essa perspectiva de cadeia de valor sustentável, que tenta mudar suas práticas enquanto ainda está imersa em práticas destrutivas da natureza, sempre será um desafio e, certamente, um desafio maior para negócios na floresta amazônica.
Então, é desafiador trabalhar nesse contexto, seja como pesquisadores, acadêmicos, gestores de organizações públicas ou privadas, muitas vezes, muito bem intencionadas e outras vezes num espectro de tonalidades de esverdeamento das práticas que também se misturam. Nessa perspectiva, há vários pensadores (Abramovay, 2022; Garrett et al., 2024; Marcovitch & Val, 2024; Homma et al., 2020; Becker, 2005, 2013) que tentam compreender modelos econômicos e políticos (e também de gestão), que não sejam regidos pelo benefício individual do lucro e da acumulação, mas que promovam relações sociais que buscam o bem comum. Essa busca no campo da gestão compõe um amplo conjunto de epistemologias alternativas ao modelo eurocentrista, portanto, de-colonizador, que “pode possibilitar que saberes sejam desvelados, especialmente em áreas funcionais, que continuam em estado de latência e subalternidade em relação às áreas de estudos organizacionais e estudos críticos de gestão” (Abdalla & Faria, 2017, p. 926).
Esse pensamento disruptivo para buscar soluções para os grandes desafios da Amazônia é fundamental porque devemos considerar a existência de saberes tradicionais locais inclusive para gestão/administração. Especialmente considerando que nesse campo predomina uma lógica instrumental focada principalmente em aspectos técnicos formais de eficiência, eficácia e efetividade. Afirmamos isso baseadas na existência de experiências reais que ainda não foram colonizadas por completo pelo modelo hegemônico de produção (Santos & Cunha, 2022) e que podem ser usadas para ampliar nossa compreensão na busca de soluções para negócios da floresta na Amazônia. O Brasil e a América Latina contam com várias iniciativas que nos podem servir de modelo, inclusive envolvendo comunidades tradicionais e a realidade da Amazônia (Santos & Cunha, 2022). Então, aprender com as experiências locais têm enorme valor material e simbólico.
À GUISA DE CONCLUSÕES
Pensar uma sociedade sustentável, aquela que permite uma relação equilibrada com a natureza, tem sido almejado. No entanto, até hoje o nosso modelo de desenvolvimento é totalmente antagônico a essa ideia de sustentabilidade. Estamos há quase um século tentando mudar o curso da nossa trajetória, mas ainda o desequilíbrio da relação sociedade-natureza é evidente. Frente a tantos desafios, temos uma ideia equivocada de uma floresta que precisa ser derrubada para dar lugar ao desenvolvimento econômico. Apesar de negarmos no discurso, na prática é o que ainda estamos fazendo, continuamos discutindo o petróleo na foz do Tapajós e a mineração em vários pontos da Amazônia; isso deveria estar fora do nosso cardápio, mas ainda ameaça ser um trampolim para a continuidade da destruição do nosso bioma da Amazônia.
A utilização dos recursos naturais que permita que a Terra se recupere e se regenere de forma natural é algo que está cada vez mais distante, pois estamos ultrapassando os limites planetários, os limites naturais de regeneração da terra a ponto de chegarmos em meados do século 21 numa crise sistêmica bastante evidente.
Por outro lado, a referência à promessa da “bioeconomia” destinada a “salvar a Amazônia” se tornou obrigatória em todas as manifestações, ainda que a sua definição (prática, objetiva) nunca seja apresentada. O fato espelha a natureza ainda relativamente obscura do que seria com precisão (conceitualmente) a bioeconomia e suas possibilidades, quando transformada em processos produtivos. Em consequência, relacionar tal expectativa a uma situação espacial e social tão complexa é desafio que, atualmente, parece ser ainda incontornável. A própria transparência da circulação de recursos, que vão do fundo Amazônia ou tantos financiadores, faz parte desse olhar da política pública para o território. É preciso, pois, que a discussão sobre bioeconomia agregue estratégias de combate a iniciativas que aumentem vulnerabilidades e desigualdades sociais, dentre elas, aquelas provocadas pelas cadeias de valor, a exemplo da cadeia produtiva do açaí, brevemente mostrada neste artigo.
É nesse contexto que se torna relevante refletir sobre negócios na floresta amazônica, pois também nos ajuda a pensar em outros padrões de produção e consumo, nos apresenta a possibilidade de aprender com aqueles que há milênios preservam e mantêm a relação de equilíbrio com a natureza, considerando a complexa teia do ecossistema que nos cerca. É claro que, pensar a sustentabilidade num contexto muito complexo e em crise exige uma visão sistêmica, uma perspectiva multidimensional, e transdisciplinar. Essa não é uma tarefa fácil, especialmente quando olharmos para a fragmentação do conhecimento, das pesquisas e também do ensino tanto de graduação quanto de pós-graduação. Essa separação e fragmentação das disciplinas é incapaz de captar a complexidade da floresta amazônica no contexto de desenvolvimento atual. E nessa complexidade apoiamo-nos na ideia do professor Edgar Morin de como trazer esse conhecimento e essa epistemologia para o front, para pensar a sociobiodiversidade, a ecologia e o meio ambiente como parte de um conjunto de questões complexas. Por fim, os seguintes questionamentos permanecem: Qual é o papel dos povos tradicionais no desenvolvimento local? Qual é a importância do nosso encontro com esses outros saberes? Negócios na/da floresta: negócio para quem, negócio para que?
São questões que vão nos desafiar nessa reflexão de pensar negócios que sejam compatíveis com a floresta, que tragam conservação, recuperação de área degradada, inclusão produtiva, capacitação e fortalecimento do modo de vida no bioma amazônico. Hoje a Amazônia já é um caldeirão de possibilidades de inovação em produtos e processos. Que as políticas públicas, assim como seus programas, realmente deixem benefícios efetivos para os povos amazônicos, aqueles que vivem a floresta!
-
Artigo convidado. Editores convidados: Raoni Fernandes Azerêdo, Mário Vasconcellos Sobrinho, Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos, Mariluce Paes de Souza, Zilma Borges de Souza
DISPONIBILIDADE DE DADOS
Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
REFERÊNCIAS
-
Abdalla, M. M., & Faria, A. (2017). Em defesa da opção decolonial em administração/gestão. Cadernos Ebape. br, 15(4), 914-929. https://doi.org/10.1590/1679-395155249
» https://doi.org/10.1590/1679-395155249 - Abramovay, R. (2020). Amazônia - Por uma economia do conhecimento da natureza. São Paulo, Elefante.
-
Abramovay, R.; Ferreira, J. Costa, F. A. et al. (2021). The New Bioeconomy in the Amazon: Opportunities and Challenges for a Healthy Standing Forest and Flowing Rivers. In C. Nobre et al. (eds.). Amazon Assessment Report 2021, New York, United Nations Sustainable Development Solutions Network. https://doi.org/10.55161/UGHK1968
» https://doi.org/10.55161/UGHK1968 - Abramovay, R. (2022). Infraestrutura para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia São Paulo, Elefante.
-
Agostini, R., & Ramos, R. P. (2020). O Protocolo Comunitário do Bailique: cuidando da floresta e reduzindo desigualdades estruturais. Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) das Nações Unidas. https://archivo.cepal.org/pdfs/bigpushambiental/Caso83-OProtocoloComunitariodoBailique.pdf
» https://archivo.cepal.org/pdfs/bigpushambiental/Caso83-OProtocoloComunitariodoBailique.pdf -
Alves, G., & Ramos, R. P. (2019). Açai berry: Brazil’s super fruit. Poverty Reduction Through Non-Timber Forest Products: Personal Stories, 37-43. https://doi.org/10.1007/978-3-319-75580-9_4
» https://doi.org/10.1007/978-3-319-75580-9_4 -
Barrientos, S. (2008). Contract Labour: The ‘Achilles Heel’ of Corporate Codes in Commercial Value Chains. Development and Change, 39(6), 977-990. https://doi.org/10.1111/j.1467-7660.2008.00524.x
» https://doi.org/10.1111/j.1467-7660.2008.00524.x -
Barrientos, S., Gereffi, G., & Rossi, A. (2011). Economic and social upgrading in global production networks: A new paradigm for a changing world. International Labour Review, 150(3-4), 319-340. https://doi.org/10.1111/j.1564-913X.2011.00119.x
» https://doi.org/10.1111/j.1564-913X.2011.00119.x - Becker, B. K. (1997). Novos rumos da política regional: por um desenvolvimento sustentável da fronteira amazônica. In B. K. Becker & M. Miranda A Geografia Política do Desenvolvimento Sustentável Rio de Janeiro, UFRJ, 421-443.
-
Becker, B. K. (2004). A Amazônia e a política ambiental brasileira. Geographia. Revista de Pós-Graduação em Geografia da UFF, 6(11), 07-20. https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2004.v6i11.a13465
» https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2004.v6i11.a13465 -
Becker, B. K. (2005). Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados, 19(53), 71-86. https://doi.org/10.1590/S0103-40142005000100005
» https://doi.org/10.1590/S0103-40142005000100005 -
Becker, B. K. (2010). Novas territorialidades na Amazônia: desafio às políticas públicas. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. Hum, 5(1), 17-23. https://doi.org/10.1590/S1981-81222010000100003
» https://doi.org/10.1590/S1981-81222010000100003 - Becker, B, K. (2013). A Urbe Amazônida Rio de Janeiro, Garamond. p. 86.
- Becker, B. K. Lena, P. (2002). Pequenos empreendimentos alternativos na Amazônia. Políticas para promoção de Sistema Produtivos Locais MPME. UFRJ.
- Bittencourt, F.; Potiguar, M.; Fernandes, T. (2024). Cadeia de Valor do Açaí: Articulação e Acesso aos Benefícios. In J. Marcovitch; A. Val Bioeconomia para quem? bases para um desenvolvimento sustentável na Amazônia. Universidade de São Paulo. Escola de Comunicações e Artes, 21-61.
-
Brondizio, E. S. (2004). From staple to fashion food: shifting cycles and shifting opportunities in the development of the açaí palm fruit economy in the Amazon estuary. In Working forests in the Neotropics: conservation through sustainable management? 339-365. Columbia University Press. https://doi.org/10.7312/zari12906-021
» https://doi.org/10.7312/zari12906-021 -
Brondizio, E.S. (2020). The Global Acai: a chronicle of possibilities and predicaments of an Amazonian superfood. In E. McDonell & R. Wilk (Eds.). Critical Approaches to Superfoods London: Bloomsbury Academic Publishing; 149-168. https://doi.org/10.5040/9781350123908.ch-009
» https://doi.org/10.5040/9781350123908.ch-009 -
Carvalho-Ribeiro, S. M., Soares Filho, B., Leles Costa, W., Bachi, L., Ribeiro de Oliveira, A., Bilotta, P., ... Cioce Sampaio, C. (2018). Can multifunctional livelihoods including recreational ecosystem services (RES) and non-timber forest products (NTFP) maintain biodiverse forests in the Brazilian Amazon? Ecosystem Services, 31, 517-526. https://doi.org/10.1016/j.ecoser.2018.03.016
» https://doi.org/10.1016/j.ecoser.2018.03.016 -
Clement, C. R. et al. (2021). Disentangling domestication from food production systems in the neotropics. Quaternary, 4(4). https://doi.org/10.3390/quat4010004
» https://doi.org/10.3390/quat4010004 - Clement, C.; Lins, J. ; Junqueira, A.; Jakovac, A.; Cabral, T.; Levis, C., Alves-Pereira, A.; Vieira, I.C.G . (2013). Uma Revolução Beckeriana para a biodiversidade brasileira. Jornal da Ciência, Rio de Janeiro.
-
Coe, N. M., & Yeung, H. W. C. (2019). Global production networks: mapping recent conceptual developments. Journal of economic geography, 19(4), 775-801. https://doi.org/10.1093/jeg/lbz018
» https://doi.org/10.1093/jeg/lbz018 -
Coe, N. M., Dicken, P., & Hess, M. (2008). Global production networks: realizing the potential. Journal of economic geography, 8(3), 271-295. https://doi.org/10.1093/jeg/lbn002
» https://doi.org/10.1093/jeg/lbn002 -
Coelho, D. B., Zirlis, C., de Toledo, G. C., Tosi, N. V., & Fonseca, R. N. (2017). Cadeia Global de Valor Açaí. ESPM. Relatórios Cadeias Globais de Valor - Vol 2. https://ri.espm.br/wp-content/uploads/2018/08/Setor-do-A%C3%A7a%C3%AD.pdf
» https://ri.espm.br/wp-content/uploads/2018/08/Setor-do-A%C3%A7a%C3%AD.pdf -
Coelho, S. D., Levis, C., Baccaro, F. B., Figueiredo, F. O., Pinassi Antunes, A., Ter Steege, H., ... & Schietti, J. (2021). Eighty-four per cent of all Amazonian arboreal plant individuals are useful to humans. PLoS One, 16(10), e0257875. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0257875
» https://doi.org/10.1371/journal.pone.0257875 -
Comini, G. M. (2022). Rumos para economia da floresta. Qual o alcance do empreendedorismo social? GV Executivo, 21(4). https://doi.org/10.12660/gvexec.v21n4.2022.88529
» https://doi.org/10.12660/gvexec.v21n4.2022.88529 - Diegues, A. C., Arruda, R. S., Silva, V. C. D., Figols, F. A., & Andrade, D. (1999). Biodiversidade e comunidades tradicionais no Brasil. São Paulo: NUPAUB-USP.
- Dudley, D. S. (2018). A Invisibilidade Social do Peçonheiro: O Processo de Trabalho do Coletador de Açaí na Região da Vila de São Miguel do Pracuúba-pa, Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018 (Tese de doutorado em Engenharia de Produção).
-
Evangelista-Vale, J. C., Weihs, M., José-Silva, L., Arruda, R., Sander, N. L., Gomides, S. C., ... & Eisenlohr, P. V. (2021). Climate change may affect the future of extractivism in the Brazilian Amazon. Biological Conservation, 257, 109093. https://doi.org/10.1016/j.biocon.2021.109093
» https://doi.org/10.1016/j.biocon.2021.109093 -
Ferreira, J.; Coudel, E; Abramovay, R.; Barlow, J.; Garrett, R.; Lees, A. C.; Piketty, M.G.; Porro, R. Vieira, I.; Withey, K. (2024). A lack of clarity on the bioeconomy concept might be harmful for Amazonian ecosystems and its people. Ecological Economics, 224, 108299. https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2024.108299
» https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2024.108299 -
Flores, B. M., Montoya, E., Sakschewski, B., Nascimento, N., Staal, A., Betts, R. A., ... & Hirota, M. (2024). Critical transitions in the Amazon forest system. Nature, 626(7999), 555-564. https://doi.org/10.1038/s41586-023-06970-0
» https://doi.org/10.1038/s41586-023-06970-0 -
Freitas, M. A., Magalhães, J. L., Carmona, C. P., Arroyo-Rodríguez, V., Vieira, I. C., & Tabarelli, M. (2021). Intensification of açaí palm management largely impoverishes tree assemblages in the Amazon estuarine forest. Biological Conservation, 261, 109251. https://doi.org/10.1016/j.biocon.2021.109251
» https://doi.org/10.1016/j.biocon.2021.109251 -
Freitas, M. A. et al. (2015). Floristic Impoverishment of Amazonian Floodplain Forests Managed for Açaí Fruit Production”, Forest Ecology and Management, 351, 20-27. https://doi.org/10.1016/j.foreco.2015.05.008
» https://doi.org/10.1016/j.foreco.2015.05.008 -
Garnett, S. T., Burgess, N. D., Fa, J. E., Fernández-Llamazares, Á., Molnár, Z., Robinson, C. J., ... & Leiper, I. (2018). A spatial overview of the global importance of Indigenous lands for conservation. Nature Sustainability, 1(7), 369-374. https://doi.org/10.1038/s41893-018-0100-6
» https://doi.org/10.1038/s41893-018-0100-6 -
Garrett, R., Abramovay, R.; Ferreira, J. et al. (2023). Apoiando sociobioeconomias de saudáveis florestas em pé e rios fluindo na Amazônia Science Panel for the Amazon. The Amazon we want. https://doi.org/10.55161/EXNQ1509
» https://doi.org/10.55161/EXNQ1509 -
Garrett, R., Ferreira, J., Abramovay, R. ... & Varese, M. (2024). Transformative changes are needed to support socio-bioeconomies for people and ecosystems in the Amazon. Nat Ecol Evol., 8(10),1815-1825. https://doi.org/10.1038/s41559-024-02467-9
» https://doi.org/10.1038/s41559-024-02467-9 -
Gatti, L.V., Cunha, C.L., Marani, L. et al. (2023). Increased Amazon carbon emissions mainly from decline in law enforcement. Nature, 621, 318-323. https://doi.org/10.1038/s41586-023-06390-0
» https://doi.org/10.1038/s41586-023-06390-0 - Gereffi, G. & Korzeniewicz, M. (eds). (1994). Commodity Chains and Global Capitalism Westport: Praeger.
-
Gereffi, G., Humphrey, J. & Sturgeon, T. (2005). The governance of global value chains. Review of International Political Economy, 12, 78-104. https://doi.org/10.1080/09692290500049805
» https://doi.org/10.1080/09692290500049805 -
Gonçalves-Dias, S. L.F.; Labegalini, L.; Csillag, J. M. (2012). Sustentabilidade e cadeia de suprimentos: uma perspectiva comparada de publicações nacionais e internacionais. Produção, 22, 517-533. https://doi.org/10.1590/S0103-65132012005000034
» https://doi.org/10.1590/S0103-65132012005000034 - Guerreiro-Ramos, A. (1989). A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas.
-
Hecken, G.V. & Bastiaensen, J. (2010). Payments for ecosystem services: justified or not? A political view. Environmental Science & Policy, 13(8), 785-792. https://doi.org/10.1016/j.envsci.2010.09.006
» https://doi.org/10.1016/j.envsci.2010.09.006 -
Henderson, J., Dicken, P., Hess, M., Coe, N. & Yeung, H. W.-C. (2002) Global production networks and the analysis of economic development. Review of International Political Economy, 9, 4436-4464. https://doi.org/10.1080/09692290210150842
» https://doi.org/10.1080/09692290210150842 -
Homma, A. K. O., Menezes, A. J. E. A., Santana, C. A. M., & Navarro, Z. (2020). O desenvolvimento mais sustentável da região amazônica: Entre (muitas) controvérsias e o caminho possível. Revista do Desenvolvimento Regional, 17(4), 1-27. https://doi.org/10.26767/1804
» https://doi.org/10.26767/1804 - Homma, A. K. O., Nogueira, O. L., de Menezes, A. J. E. A., de Carvalho, J. E. U., Nicoli, C. M. L., & de Matos, G. B. (2006). Açaí: novos desafios e tendências. Amazônia: Ciência & Desenvolvimento, 1(2), 7-23.
-
Horner, R. (2017). Beyond facilitator? State roles in global value chains and global production networks. Geography Compass, 11(2), e12307. https://doi.org/10.1111/gec3.12307
» https://doi.org/10.1111/gec3.12307 -
Hughes, A., McEwan, C., & Bek, D. (2015). Postcolonial perspectives on global production networks: insights from Flower Valley in South Africa. Environment and planning A, 47(2), 249-266. https://doi.org/10.1068/a130083p
» https://doi.org/10.1068/a130083p -
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE). (2024). Cidades e estados do Brasil https://cidades.ib(ge.gov.br/)
» https://cidades.ib(ge.gov.br/ -
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. (IDESAM). 2024. Caminhos para o fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade amazônica https://idesam.org/publicacoes/estudo-melhores-praticas-nos-elos-das-cadeias-produtivas-da-castanha-do-brasil-e-do-cacau/
» https://idesam.org/publicacoes/estudo-melhores-praticas-nos-elos-das-cadeias-produtivas-da-castanha-do-brasil-e-do-cacau/ -
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) (2018). Desafios para a sustentabilidade na cadeia do açaí - Subsídios para a Iniciativa Açaí Sustentável. https://institutoterroa.org/wp-content/uploads/2020/11/Desafios-para-a-Sustentabilidade-na-Cadeia-do-Acai.pdf
» https://institutoterroa.org/wp-content/uploads/2020/11/Desafios-para-a-Sustentabilidade-na-Cadeia-do-Acai.pdf - Kaplinsky, R. (2004). Spreading the gains from globalization: what can be learned from value-chain analysis? Problems of economic transition, 47(2), 74-115.
-
Lay, C. Z. E., da Cruz, J., Blair-Matos, C., Luzeiro, J. A. A., & Matos, J. C. S. (2021). Traditional Knowledge of açaí (Euterpe precatoria Mart.-Arecaceae) usage in the Sustainable Development Reserve-RDS Piagaçu Purus-Amazonas-Brazil. International Journal of Environment, Agriculture and Biotechnology, 6, 1. https://doi.org/10.22161/ijeab.61.17
» https://doi.org/10.22161/ijeab.61.17 -
Leite-Filho, A. T., Sousa Pontes, V. Y. & Costa, M. H. (2019). Effects of deforestation on the onset of the rainy season and the duration of dry spells in southern Amazonia. J. Geophys. Res. Atmospheres, 124, 5268-5281. https://doi.org/10.1029/2018JD029537
» https://doi.org/10.1029/2018JD029537 - Levis, C., Costa, F. R., Bongers, F., Peña-Claros, M., Clement, C. R., Junqueira, A. B., ... & Sandoval, E. V. (2017). Persistent effects of pre-Columbian plant domestication on Amazonian forest composition. Science, 355(6328), 925-931.
-
Levy, D. L. (2008). Political contestation in global production networks. Academy of management review, 33(4), 943-963. https://doi.org/10.5465/amr.2008.34422006
» https://doi.org/10.5465/amr.2008.34422006 -
Londres, M., Salk, C., Andersson, K. P., Tengö, M., Brondizio, E. S., Lopes, G. R., ... & Tourne, D. C. (2023). Place-based solutions for global social-ecological dilemmas: An analysis of locally grounded, diversified, and cross-scalar initiatives in the Amazon. Global Environmental Change, 82, 102718. https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2023.102718
» https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2023.102718 -
Lopes, E., Soares-Filho, B., Souza, F., Rajão, R., Merry, F., & Ribeiro, S. C. (2019). Mapping the socio-ecology of Non Timber Forest Products (NTFP) extraction in the Brazilian Amazon: The case of açaí (Euterpe precatoria Mart) in Acre. Landscape and Urban Planning, 188, 110-117. https://doi.org/10.1016/j.landurbplan.2018.08.025
» https://doi.org/10.1016/j.landurbplan.2018.08.025 - Loureiro, V. R. (2009). A Amazônia no século XXI: novas formas de desenvolvimento. São Paulo, Ed. Empório do Livro.
-
Loureiro, V. R. (2012). A Amazônia no Século 21: Novas Formas de Desenvolvimento. Revista Direito Gv, 8(2), 527-552. https://doi.org/10.1590/S1808-24322012000200006
» https://doi.org/10.1590/S1808-24322012000200006 -
Lovejoy, T. E., Nobre, C. Amazon tipping point: Last chance for action. Sci. Adv. 5, eaba2949 (2019). https://doi.org/10.1126/sciadv.aba2949
» https://doi.org/10.1126/sciadv.aba2949 -
Manning, S. (2022). From mainstream to niche: How value regimes shift in emerging economy upgrading. Research Policy, 51(6), 104532. https://doi.org/10.1016/j.respol.2022.104532
» https://doi.org/10.1016/j.respol.2022.104532 -
Marcovitch, J. & Val, A. (2024) Bioeconomia para quem? bases para um desenvolvimento sustentável na Amazônia. Universidade de São Paulo. Escola de Comunicações e Artes, https://doi.org/10.11606/9786589321453
» https://doi.org/10.11606/9786589321453 -
Mascarenhas, A. O., Gonçalves-Dias, S. L., & Baptista, R. M. (2015). Elementos para Discussão da Escravidão Contemporânea como Prática de Gestão. Revista de Administração de Empresas, 55(2), 175-187. Https://Doi.Org/10.1590/S0034-759020150207
» Https://Doi.Org/10.1590/S0034-759020150207 -
Meinhold, K., & Darr, D. (2019). The processing of non-timber forest products through small and medium enterprises-a review of enabling and constraining factors. Forests, 10(11), 1026. https://doi.org/10.3390/f10111026
» https://doi.org/10.3390/f10111026 -
Melo, H, N.M.C. (2024) Dos cercamentos contemporâneos à necropolítica dos territórios: análise da política fundiária brasileira. São Paulo: Editora Dialética, 220p. https://doi.org/10.48021/978-65-270-3779-8
» https://doi.org/10.48021/978-65-270-3779-8 - Nobre, I. & Nobre, C. A. (2019). Projeto ‘Amazônia 4.0’: Definindo uma Terceira Via para a Amazônia. Futuribles, 2, 7-20.
-
Nobre, C. A. (2019). To save Brazil’s rainforest, boost its Science. Nature, 574(7779), 455. https://doi.org/10.1038/d41586-019-03169-0
» https://doi.org/10.1038/d41586-019-03169-0 -
Ostrom, E. (1990). Governing the commons: The evolution of institutions for collective action. Cambridge university press. https://doi.org/10.1017/CBO9780511807763
» https://doi.org/10.1017/CBO9780511807763 -
Petheram, L. & Campbell, B.M. (2010). Listening to locals on payments for environmental services. Journal of Environmental Management, 91(5), 1139-1149. https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2010.01.002
» https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2010.01.002 - Santos, B.S. & Cunha, T. (2022). Economias de bem viver - contra o desperdício das experiências Col. Epistemologias do Sul. Leya.
-
Sousa, F. F., Vieira-da-Silva, C., & Barros, F. B. (2018). The (in)visible market of miriti (Mauritia flexuosa Lf) fruits, the “winter acai”, in Amazonian riverine communities of Abaetetuba, Northern Brazil. Global Ecology and Conservation, 14, e00393. https://doi.org/10.1016/j.gecco.2018.e00393
» https://doi.org/10.1016/j.gecco.2018.e00393 -
Schor, T.; Ronchail, J.; Pinheiro, H.P.; Franco, T. G.; Carneiro, M. P.: Cidade, F. C. & Santana, G. C. (2021). Cadernos de Campo: Saba - Relação entre a Variabilidade Hidrológica e a Segurança Alimentar na Bacia Amazônica: Uma Análise da Fronteira Brasil-Peru, Confins. Revue Franco-Bré-silienne de Géographie/ Revista Franco-Brasilera de Geografia, 51 https://doi.org/10.4000/confins.39018
» https://doi.org/10.4000/confins.39018 -
Silva, A. A., Santos, M. K. V., Gama, J. R. V., Noce, R., & Leão, S.. (2013). Potencial do extrativismo da castanha-do-pará na geração de renda em comunidades da mesorregião baixo Amazonas, Pará. Floresta e Ambiente, 20(4), 500-509. https://doi.org/10.4322/floram.2013.046
» https://doi.org/10.4322/floram.2013.046 -
Silveira, J. T., da Rosa, A. P. C., de Morais, M. G., Victoria, F. N., & Costa, J. A. V. (2023). An integrative review of Açaí (Euterpe oleracea and Euterpe precatoria): traditional uses, phytochemical composition, market trends, and emerging applications. Food Research International, 173, 113304. https://doi.org/10.1016/j.foodres.2023.113304
» https://doi.org/10.1016/j.foodres.2023.113304 -
Soeiro, L., & Koury, S. E. C. (2020). O trabalho análogo ao escravo na cadeia produtiva regional do açaí: uma análise acerca das relações e das condições de trabalho na cadeia de valor. Revista do Direito do Trabalho e Meio Ambiente do Trabalho, 6(2), 38-54. https://doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9857/2020.v6i2.7032
» https://doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9857/2020.v6i2.7032 - Steege, H., Pitman, N. C., Sabatier, D., Baraloto, C., Salomão, R. P., Guevara, J. E., ... & Silman, M. R. (2013). Hyperdominance in the Amazonian tree flora. Science, 342(6156), 1243092.
-
Teixeira, T. (2024). Variegated forms of corporate capture: The state, MNCs, and the dark side of strategic coupling. Global Networks, 24(1), e12433. https://doi.org/10.1111/glob.12433
» https://doi.org/10.1111/glob.12433 -
Tregidgo, D. et al., (2020). Vulnerability of the Açaí Palm to Climate Change. Human Ecology, 48, 505-514. https://doi.org/10.1007/s10745-020-00172-2
» https://doi.org/10.1007/s10745-020-00172-2 - Vasconcellos, M., Vasconcellos, A. M. A.; Andrade, H. C. P. ; & Nebot, C. P. (Orgs.). (2018). Gestão social & território: Práticas participativas para desenvolvimento territorial (Vol. 500). Edunama.
- Viana, G. (2001). Impactos ambientais da política de globalização na Amazônia. In: Viana, Gilney; Silva, Marina; Diniz, Nilo (org). O desafio da sustentabilidade: um debate socioambiental no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.
-
Vidal, T. D. C. S., Simão, M. O. D. A. R., & de Almeida, V. F. (2021). A sustentabilidade da produção de óleos e manteigas vegetais em comunidade amazônica-RESEX Médio Juruá. Research, Society and Development, 10(3): e32710313478-e32710313478 https://doi.org/10.33448/rsd-v10i3.13478
» https://doi.org/10.33448/rsd-v10i3.13478 -
Villas-Bôas, A., Junqueira, R., ...Rezende, R. (2018). As Reservas Extrativistas da Terra do Meio: uma experiência de desenvolvimento alternativo para a Amazônia. Desenvolvimento e Meio Ambiente, 48, 214-235. https://doi.org/10.5380/dma.v48i0.59017Vurro, C., Romito , S., Costanzo, L.A., Ghobadian , A., & Russo, A. (2024). Alliance management capabilities in sustainability-oriented collaboration: Problematization and new research directions. International Journal of Management Reviews, 26(1), 8-33. https://doi.org/10.1111/ijmr.12346
» https://doi.org/10.5380/dma.v48i0.59017» https://doi.org/10.1111/ijmr.12346 -
Winkler, H. (2020). Towards a theory of just transition: A neo-Gramscian understanding of how to shift development pathways to zero poverty and zero carbon. Energy research & social science, 70, 101789. https://doi.org/10.1016/j.erss.2020.101789
» https://doi.org/10.1016/j.erss.2020.101789
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
29 Set 2025 -
Data do Fascículo
2025


Nota: elaborada a partir de Bittencourt, Potiguar & Santos 2024, p. 37;