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Biblioteca do futuro: sonho ou realidade?

EDITORIAL

Biblioteca do futuro:

sonho ou realidade?

Discussões sobre a chamada biblioteca do futuro, com variadas interpretações e conceituações, surgem na década de 50, quando Vannevar Bush expõe seu conhecido projeto Memex. Desde então, acompanhando a vertiginosa explosão tecnológica, inúmeros estudos teóricos, projetos de pesquisas, experimentações, práticas e programas institucionais começam a ser desenvolvidos. Pode-se então afirmar que atualmente já existe um corpo expressivo de conhecimento na área, demonstrado por vasta literatura internacional.

No Brasil, especulações quanto à remodelação das bibliotecas surgem neste final da década de 90, com esparsos debates em eventos técnico-científicos e com alguns trabalhos em revistas especializadas.

Ao reconhecer esta área como emergente, o Comitê Gestor da Internet Brasil1 1 . O Comitê Gestor Internet-Brasil foi instituído em meados de 1995 pelo Ministério das Comunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia com o objetivo de coordenar a evolução de serviços Internet no país. Informações adicionais podem ser encontradas em <URL: http://www.cg.org.br> cria, em novembro de 1996, o Grupo de Trabalho sobre Bibliotecas Virtuais2 2 . O endereço do GT/BV na Internet é: <URL: http://www.cg.org.br/gt/gtbv/gtbv.htm> . Este Grupo, sob coordenação do IBICT, compõe-se de membros institucionais e individuais (especialistas) cuja atuação no campo profissional, no ensino e/ou pesquisa tem estreita relação com a área. Com a proposta de contribuir para o desenvolvimento de bibliotecas virtuais no país, o GT/BV definiu uma série de atividades como prioritárias para a implementação e dinamização do setor. Dentre elas, destaca-se a organização deste número temático da revista Ciência da Informação, o qual visa a contribuir para o desabrochar de discussões e reflexões, canalizando os esforços nacionais neste veículo de comunicação3 3 . Faz-se, necessário, neste momento, evidenciar que a Comissão Especial para estruturação deste número temático contou com a excelente e inigualável participação de duas outras professoras, as quais rendemos carinhosos agradecimentos. São elas Patrícia Zeni Marchiori da Universidade Federal do Paraná e Jussara Pereira Santos, Presidente da Associação Brasileira de Ensino em Biblioteconomia e Documentação, período 1995-1997. .

A resposta à chamada de trabalhos para a composição deste número evidencia a situação do tema no contexto brasileiro, refletindo um cenário de grande dinamismo. A concentração de relatos de experiência e iniciativas de diferentes bibliotecas e sistemas de informação demonstra a incessante busca destes profissionais na adequação a um novo ambiente tecnológico, ainda que de maneira empírica. Por outro lado, vislumbra-se que o corpo teórico de conhecimento se encontra ainda em construção, propondo questionamentos e reflexões, de modo a estabelecer consensos e diretrizes.

Neste sentido, os artigos aqui incluídos se encaixam sobremaneira nesta empreitada de desbravamento do tema, com a participação das professoras Patrícia Zeni Marchiori e Marília Levacov, que trabalham o aspecto conceitual da biblioteca do futuro. A contribuição da bibliotecária Márcia Rosetto destaca um aspecto eminentemente urgente na área, ou seja, a normalização das atividades quanto à recuperação de informação em redes eletrônicas.

Não menos premente é a discussão sobre os direitos autorais neste novo ambiente eletrônico, discutida pelo presidente da Associação de Profissionais da Informação e Documentação da França, Jean Michel, em Ponto de Vista.

Os Relatos de Experiência exemplificam parte das respostas que profissionais de bibliotecas especializadas, universitárias e estaduais estão oferecendo para a solução de situações específicas. Neste sentido, Yara Rezende ressalta a agilidade, eficiência e eficácia no acesso à informação (independentemente de sua localização física e geográfica) como o cerne da organização estrutural da biblioteca virtual da Natura Cosméticos, dando total ênfase a produtos e serviços voltados ao cliente. Já Maria José Resmer e Olga Maria Soares da Costa, ambas da Companhia de Informática do Paraná/Celepar, apresentam a metodologia de conversão do seu banco de dados em MicroIsis para acesso via servidor WWW. Adiciona-se, a estas experiências, a expressiva reestrutura do Banco de Dados DEDALUS da Universidade de São Paulo, relatada por Rosali Fávero Krzyzanowski, Inês Maria de Morais Imperatriz, Márcia Rosetto e Mariza Leal de Meirelles Do Couto. Enriquece estas experiências brasileiras Lourdes Feria Basurto, Maria Gregoria Carvajal Santilla e Marco Antonio Jauregui Medina, apresentando a Biblioteca Eletrônica de Colima no México, que se trata de um excelente centro de referência na América Latina. Encerrando esta seção, ressaltam-se as experiências promovidas pelo professor José Manuel Moran no uso da Internet na Educação, abrindo espaços para especulações sobre o uso dessa nova mídia nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, incluindo-se aí o papel das bibliotecas do futuro.

A seção Documentos oferece, por outro lado, mais um instrumental de trabalho para os interessados no tema, indicando informações bibliográficas e locais específicos para aprofundar pesquisas. De grande valia são as contribuições dos professores Neusa Dias de Macedo e Murilo Bastos Cunha. A primeira, com a rica análise e interpretação da Revisão analítica da Biblioteca do Futuro, publicada pelo Council on Library Resources dos Estados Unidos, que constitui profunda revisão do estado-da-arte sobre a biblioteca do futuro no período de 1983 a 1994. A segunda contribuição é uma bibliografia anotada de compilação livre na qual se identificam aspectos diferenciados do desenvolvimento das bibliotecas digitais. Ainda nesta seção estão incluídas as Orientações Estratégicas para o Programa de Implementação de Bibliotecas Virtuais no Brasil, de autoria do GT/BV do Comitê Gestor, cujo texto descreve as linhas norteadoras da atuação para o biênio 97/98.

Para a suprir parte do programa de trabalho definido no documento anteriormente mencionado, várias atividades identificadas como prioritárias e básicas foram delegadas a diferentes comissões de trabalho. A seção Comunicações torna público algumas etapas e/ou resultados já obtidos. O primeiro deles se trata do relato do workshop Design de Bibliotecas Virtuais Centrado no Usuário: a abordagem do Sense-Making para estudos de necessidades e comportamento de busca e uso da informação, promovido como parte do Programa de Capacitação Docente do GT/BV, que contou com a participação especial da professora doutora Brenda Dervin. Outra comunicação descreve a Base de Dados Futura, que objetiva disponibilizar, em um ágil e único local na Internet via servidor WWW, informações bibliográficas internacionais e nacionais sobre a biblioteca do futuro. Este produto foi possível graças ao trabalho conjunto de profissionais da Escola de Comunicações e Artes e da Bireme. A terceira comunicação destaca o trabalho de acompanhamento da participação das bibliotecas brasileiras na Internet, sob responsabilidade da Secretaria Técnica do GT/BV, o qual evidencia o avanço acelerado ocorrido de setembro de 1996 até a divulgação deste número temático.

Finalmente, as duas Resenhas aqui incluídas proporcionam visões diferenciadas sobre a atual era virtual e/ou digital, apresentadas com extraordinária perspicácia pelos professores Waldomiro de Castro Vergueiro e Ida Regina Chitto Sttumpf.

Com certeza, esta coletânea de trabalhos sobre a biblioteca do futuro - seja ela virtual, digital, eletrônica, polimídia, sem paredes, biônica ou qualquer outra denominação possível - irá contribuir sobremaneira para o debate da temática e definição do assunto, suscitando novos rumos de pesquisa e experimentações. Pode ser este o caminho para se tornar realidade a efetiva consolidação de um novo e arrojado perfil para a biblioteca brasileira no mundo virtual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sueli Mara S. P. Ferreira

Universidade de São Paulo

Escola de Comunicação e Artes

Departamento de Biblioteconomia e Documentação

smferrei@usp.br

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    . O Comitê Gestor Internet-Brasil foi instituído em meados de 1995 pelo Ministério das Comunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia com o objetivo de coordenar a evolução de serviços Internet no país. Informações adicionais podem ser encontradas em <URL:
  • 2
    . O endereço do GT/BV na Internet é: <URL:
  • 3
    . Faz-se, necessário, neste momento, evidenciar que a Comissão Especial para estruturação deste número temático contou com a excelente e inigualável participação de duas outras professoras, as quais rendemos carinhosos agradecimentos. São elas Patrícia Zeni Marchiori da Universidade Federal do Paraná e Jussara Pereira Santos, Presidente da Associação Brasileira de Ensino em Biblioteconomia e Documentação, período 1995-1997.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Out 1998
    • Data do Fascículo
      Maio 1997
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