Concepção dos Annales da história Autodenominada de Nova História, o grupo construiu a "história-problema". Trata-se daquilo que Eric Hobsbawn (19-- apud CARDOSO; VAINFAS, 2011, p. 7) chamou de nouvelle vague da historiografia francesa. Ponto básicos: A crença no caráter científico da história que, no entanto, é uma ciência em construção: isso conduziu, em especial, à afirmação da necessidade de passar de uma "história-narração" a uma "história-problema" mediante a formulação de hipóteses de trabalho. O debate crítico permanente com as ciências sociais, sem reconhecer fronteiras entre elas que sejam estritas e definitivas; sendo menos estruturada que tais ciências, a história delas importou problemáticas, conceitos, métodos e técnicas, incluindo, desde 1930, a quantificação sistemática e o uso de modelos de certas áreas – cada vez mais numerosas – de estudos históricos, movimento ampliado ainda pela generalização dos computadores. A ambição de formular uma síntese histórica global do social, explicando a vinculação existente entre técnicas, economia, poder e mentalidades, mas também as oposições e as diferenças de ritmo e fase entre os diferentes níveis do social. O abandono da história centrada em fatos isolados e também uma abertura preferencial aos aspectos coletivos, sociais e repetitivos do histórico, substituindo a anterior fixação em indivíduos, elites e fatos "irrepetíveis": daí o interesse maior pelas temáticas econômicas, demográficas e relativas às mentalidades coletivas. Uma ênfase menor do que no passado nas fontes escritas (embora elas continuem sendo as mais usadas, no conjunto, pelos historiadores, sem excluir os dos Annales), favorecendo a ampliação do uso da história oral, dos vestígios arqueológicos, da iconografia, etc. A tomada de consciência da pluralidade dos níveis da temporalidade: a curta duração dos acontecimentos, o tempo médio (e múltiplo) das conjunturas, a longa duração das estruturas; além de que o próprio tempo longo, estrutural, é diferencial em seus ritmos dependendo de quais estruturas se trate (o mental, por exemplo, muda mais lentamente do que o econômico, e este mais do que o técnico). A preocupação com o espaço, primeiro por meio da tradicional ligação com a geografia humana; depois, através da história, ainda mais espacialmente pensada, inaugurada com os estudos de mares e oceanos: o Mediterrâneo, de Fernand Braudel; o Atlântico, de Frédéric Mauro; o Atlântico e o Pacífico, de Pierre e Huguette Chaunu etc.; e, o tempo todo, a sólida tradição francesa da história regional. A história vista como "ciência do passado" e "ciência do presente" ao mesmo tempo: a história-problema é uma iluminação do presente, uma forma de consciência que permite ao historiador – homem de seu tempo –, bem como aos seus contemporâneos a que se dirige, uma compreensão melhor das lutas de hoje, ao mesmo tempo em que o conhecimento do presente é condição sine qua non da cognoscibilidade de outros períodos históricos (CARDOSO; VAINFAS, 2011, p. 7-8). |
Pontos comuns entre as concepções Marxista e dos Annales O reconhecimento da necessidade de uma síntese global que explique tanto as articulações entre os níveis que fazem da sociedade humana uma totalidade estruturada quanto as especificidades no desenvolvimento de cada nível. A convicção de que a consciência que os homens de determinada época têm da sociedade em que vivem não coincide com a realidade social da época em questão. O respeito pela especificidade histórica de cada período e sociedade (por exemplo, as leis econômicas só valem, em princípio, para o sistema econômico em função do qual foram elaborados). A aceitação da inexistência de fronteiras estritas entre as ciências sociais (sendo a história uma delas), se bem que o marxismo seja muito mais radical quanto à unidade delas. A vinculação da pesquisa histórica com as preocupações do presente. Alguns dos membros do grupo dos Annales – mas nem todos, nem a maioria – se aproximaram à noção marxista da determinação em última instância pelo econômico (CARDOSO; VAINFAS, 2011, p. 9). |
Paradigma "pós-moderno"
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Concepção da história (ou melhor, das histórias) Definição do que seria a história-disciplina formulada por Keith Jenkins (19-- apud CARDOSO; VAINFAS, 2011, p. 14): A história é um discurso mutável e problemático – ostensivamente a respeito de um aspecto do mundo, o passado –, produzido por um grupo de trabalhadores cujas mentes são de nosso tempo (em grande maioria, em nossa cultura, historiadores assalariados) e fazem seu trabalho em modalidades mutuamente reconhecíveis que são posicionadas epistemológica, ideológica e praticamente; e cujos produtos, uma vez em circulação, estão sujeitos a uma série de usos e abusos logicamente infinitos mas que, na realidade, correspondem a uma variedade de bases de poder existentes em qualquer momento que for considerado, as quais estruturam e distribuem os significados das histórias ao longo de um espectro que vai do dominante ao marginal (CARDOSO; VAINFAS, 2011, p. 14). |