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Relatos de caminhoneiros sobre a prevenção do HIV e o material educacional impresso: reflexões para educação em saúde

Truck drivers' conceptions of HIV and educational materials for prevention: reflections for health education

Resumo

Itabaiana (SE) é considerada a capital nacional dos caminhoneiros. A rota mais frequentemente utilizada por esses profissionais liga o nordeste do Brasil à cidade de Santos (SP), considerada, no passado, a capital mundial da AIDS. Levando-se em conta, ainda, características como baixa escolaridade, constante trânsito e cultura machista relacionadas com esse grupo, justificam-se os objetivos dessa pesquisa, que buscou identificar os conhecimentos e as crenças socialmente compartilhadas entre os profissionais do transporte de carga do município de Itabaiana a respeito da AIDS e da prevenção do HIV, especialmente a eficácia dos materiais impressos no processo de educação em saúde. Foram entrevistados sete profissionais, e o relato obtido mostrou indicadores sobre os seus saberes acerca da contaminação, da prevenção e do portador de HIV, além da (in)eficácia dos materiais impressos utilizados nas campanhas de prevenção com relação aos propósitos educativos a que se destinam.

Palavras-chave:
Aids; Caminhoneiro; Campanha; Prevenção; Educação em saúde

Abstract

The city of Itabaiana, Sergipe State, Brazil, is considered the national capital of truckers. Besides, it is one of the most used routes connecting the northeastern of Brazil to the city of Santos, in São Paulo State, considered, in the past, the world capital of AIDS. To justify this study, we took into consideration also other features, such as low education and the well-characterized macho culture in this group. We aimed to identify how much knowledge and beliefs about AIDS and HIV prevention are socially shared among these professionals in the city of Itabaiana, focusing in the effectiveness of the printed materials in the process of health education. Seven individuals were interviewed and their answers were structured and analyzed to obtain their knowledge profiles about AIDS-related important factors such as contamination/transmission, prevention and HIV status. In addition, we evaluated the effectiveness of the printed materials used in campaigns for prevention and educational purposes from the point of view of these workers.

Keywords:
Aids; Trucker driver; Prevention; Health education

Introdução

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), causada pelo Human Immunodeficiency Virus (HIV), é um grave problema de saúde na atualidade. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil conta com, aproximadamente, seiscentos e sessenta mil casos confirmados de Aids. No Estado de Sergipe, o número de casos tem aumentado consideravelmente e, entre os anos de 2000 a 2012, foram registrados 1.957 casos no Sistema Nacional de Vigilância em Saúde (SINAN) (BOLETIM..., 2012BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO AIDS DST. Brasília: Ministério da Saúde. v. 9, n. 1, 2012. Disponível em: <http://www.AIDS.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2012/52654/vers_o_preliminar_boletim_AIDS_e_dst_2012_14324.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2015.
http://www.AIDS.gov.br/sites/default/fil...
).

Dentre as cidades de Sergipe, destaca-se Itabaiana que, até 2014, encontrava-se entre os três municípios sergipanos com maiores índices de notificação de AIDS, com 138 casos registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) (BRASIL, 2015BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de informação de agravos de notificação. Disponível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb>. Acesso em: 29 ago. 2015.
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). Itabaiana está localizada na região central do Estado de Sergipe, a 58 km da capital. Segundo dados da Revista Carga Pesada (ROCHA, 2008ROCHA, G. Itabaiana mora "em cima" do caminhão: cidade sergipana tem a maior taxa de caminhões por habitantes do Brasil: 1 para 20. Carga Pesada, Londrina, n. 151, 2008. Disponível em: <http://www.cargapesada.com.br/edicoesanteriores/edicao151/edicao151.php?id=175>. Acesso em: 02 jun. 2015.
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), Itabaiana é a cidade que tem a maior taxa de caminhões por habitantes do Brasil: 1 para 20. O transporte rodoviário de cargas é o motor da economia local.

Os caminhoneiros passaram a ser foco de atenção por pertencerem a uma categoria excluída dos serviços de saúde, devido às longas jornadas de trabalho e aos muitos dias nas estradas (NASCIMENTO, 2003NASCIMENTO, E. Desenvolvimento de pesquisa-ação com caminhoneiros de estrada: trabalhando na problematização às questões voltadas à sexualidade DST/Aids e drogas. 2003. 242 f. Tese (Doutorado em Enfermagem Psiquiátrica) - Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003.). Esses profissionais têm pouco ou nenhum acesso aos serviços de saúde devido ao tempo que ficam longe de suas cidades. Além disso, comumente apresentam problemas de saúde, como: obesidade, hipertensão, alterações nos níveis de colesterol e ácido úrico, dores na coluna, diabetes, problemas dentários, assim como não fazem a prevenção do câncer de próstata (NASCIMENTO; BUENO; LOPES, 2001NASCIMENTO, E.; BUENO, S. M. V.; LOPES, E. C. Projeto caminhoneiros: conscientizando para prevenção da AIDS. DST: Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Rio de Janeiro, v. 13, n. 6, p. 4-7, 2001.).

Alguns trabalhos apontam que os caminhoneiros têm maiores chances de apresentar comportamento vulnerável à contaminação por HIV, especialmente por conta de fatores ligados ao estresse causado pelos vários dias em viagens e com uma vida considerada itinerante. Estudos ainda apontam que os caminhoneiros de rota longa, ou seja, que fazem, regularmente, percursos de, no mínimo, 1.000 km, devido à necessidade de viajarem continuamente por várias cidades e países, podem contribuir para a disseminação da epidemia da AIDS (FERRAZ, 2005FERRAZ, E. A. (Org). Caminhoneiros: parcerias do asfalto - conhecimento, atitudes e práticas sobre o HIV/Aids em Uberlândia. Rio de Janeiro: BEMFAM, 2005.; NASCIMENTO, 2003NASCIMENTO, E. Desenvolvimento de pesquisa-ação com caminhoneiros de estrada: trabalhando na problematização às questões voltadas à sexualidade DST/Aids e drogas. 2003. 242 f. Tese (Doutorado em Enfermagem Psiquiátrica) - Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003.; NASCIMENTO; BUENO; LOPES, 2001NASCIMENTO, E.; BUENO, S. M. V.; LOPES, E. C. Projeto caminhoneiros: conscientizando para prevenção da AIDS. DST: Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Rio de Janeiro, v. 13, n. 6, p. 4-7, 2001.; ROCHA, 2008ROCHA, G. Itabaiana mora "em cima" do caminhão: cidade sergipana tem a maior taxa de caminhões por habitantes do Brasil: 1 para 20. Carga Pesada, Londrina, n. 151, 2008. Disponível em: <http://www.cargapesada.com.br/edicoesanteriores/edicao151/edicao151.php?id=175>. Acesso em: 02 jun. 2015.
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; TELES et al., 2008TELES, S. A. et al. Comportamentos de risco para doenças sexualmente transmissíveis em caminhoneiros no Brasil. Revista Panamericana de Salud Publica, Washington, v. 24, n. 1, p. 25-30, 2008.; VILLARINHO et al., 2002VILLARINHO, L. et al. Caminhoneiros de rota curta e sua vulnerabilidade ao HIV, Santos, SP. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 4, p. 61-67, 2002. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000500009>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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).

Nas pesquisas realizadas por Masson e Monteiro (2010)MASSON, V. A.; MONTEIRO, M. I. Vulnerabilidade a doenças sexualmente transmissíveis /AIDS e uso de drogas psicoativas por caminhoneiros. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 1, p. 79-83, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672010000100013>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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, Teles et al. (2008)TELES, S. A. et al. Comportamentos de risco para doenças sexualmente transmissíveis em caminhoneiros no Brasil. Revista Panamericana de Salud Publica, Washington, v. 24, n. 1, p. 25-30, 2008., Vilarinho et al. (2002)VILLARINHO, L. et al. Caminhoneiros de rota curta e sua vulnerabilidade ao HIV, Santos, SP. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 4, p. 61-67, 2002. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000500009>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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, foi verificado um alto índice de visitas a profissionais do sexo, por caminhoneiros. Nestes estudos foi constatado, também, o uso inconstante de preservativo nas relações sexuais ocasionais.

Teles et al. (2008)TELES, S. A. et al. Comportamentos de risco para doenças sexualmente transmissíveis em caminhoneiros no Brasil. Revista Panamericana de Salud Publica, Washington, v. 24, n. 1, p. 25-30, 2008. constataram, em um estudo com caminhoneiros do Brasil, que, em viagens prolongadas por um período superior a 15 dias, havia um aumento no número de visitas a profissionais do sexo (58,3%). Os dados também mostraram que o uso de preservativo com parceiras ocasionais ainda é baixo e é menor com parceiras fixas.

De acordo com Sedano (2010)SEDANO, G. S. et al. Educação em saúde: um desafio do enfermeiro do trabalho na atenção à saúde dos caminhoneiros. Revista de Pesquisa:cuidado é fundamental, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 760-769, abr./jun. 2010. Disponível em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/493/pdf_16>. Acesso em: 26 set. 2013.
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, a educação para a saúde do caminhoneiro pode ocorrer a qualquer momento e local, porém, deve-se considerar: qual ambiente é o mais propício para a aprendizagem, a disponibilidade de tempo do indivíduo, e quais os outros membros da família que podem participar da atividade. Além disso, é essencial o aconselhamento, tendo em vista os problemas de saúde apresentados por esta categoria.

O conhecimento de conceitos científicos, no caso de grupos vulneráveis, pode ser essencial para a construção de caminhos para o autocuidado e preservação da vida humana. Nesse sentido, Pedrosa (2006)PEDROSA, J. I. Promoção da saúde e educação em saúde. In: CASTRO, A. (Org). SUS: ressignificando a promoção da saúde. São Paulo: Hucitec, 2006. p. 77-95.considera a Educação em Saúde como um conjunto de práticas pedagógicas de cunho participativo e transversais a vários campos de atuação, desenvolvidas com diversos atores sociais, com o propósito de sensibilizá-los para aderirem a projetos que contemplem as estratégias propostas.

Diante da escassez de produção científica relativa ao trabalho dos motoristas de caminhão no Brasil, Masson e Monteiro (2010)MASSON, V. A.; MONTEIRO, M. I. Vulnerabilidade a doenças sexualmente transmissíveis /AIDS e uso de drogas psicoativas por caminhoneiros. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 1, p. 79-83, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672010000100013>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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enfatizam a necessidade de pesquisas nesse campo para que seja possível avaliar as situações de riscos de contaminação a que estão submetidos esses profissionais.

Diante do exposto, o presente trabalho teve por objetivo identificar os conhecimentos e as crenças socialmente compartilhadas entre os profissionais do transporte de carga do município de Itabaiana, SE, a respeito da AIDS e da prevenção do HIV, especialmente, a eficácia dos materiais impressos no processo de educação em saúde. Esse estudo se mostra importante para subsidiar futuras propostas de educação em saúde com formatos que sejam adequados à compreensão dos sujeitos pertencentes ao grupo.

Metodologia

Este trabalho foi desenvolvido em duas etapas, a partir de uma abordagem qualitativa, por meio da aplicação de sete entrevistas semiestruturadas a caminhoneiros da cidade de Itabaiana, SE.

Na primeira etapa, três desses profissionais responderam a um roteiro de questões que abordavam tópicos sobre a AIDS e fatores relacionados à contaminação e prevenção por HIV. O roteiro foi elaborado a partir de uma revisão bibliográfica sobre trabalhos relacionados à saúde do caminhoneiro; em seguida, foi submetido a uma validação qualitativa: pela apreciação de três pesquisadores da área de Educação em Ciências e por um pré-teste respondido por um profissional do transporte de cargas abordado em uma atividade de avaliação da saúde do caminhoneiro, promovida pela Polícia Federal e instituições parceiras, na cidade de Aracaju.

Na segunda etapa, outros quatro caminhoneiros relataram seus entendimentos acerca de quatro panfletos e um cartaz educativos voltados à prevenção da contaminação pelo HIV. Esses materiais foram selecionados após visitas a três instituições: duas de Itabaiana, o Serviço Social do Transporte/Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST SENAT) e a Unidade Central de Testagem e Aconselhamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e AIDS (UCTA); e uma de Aracaju, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Solicitou-se aos sujeitos que lessem e comentassem o material apresentado, considerando três aspectos: o desenho geral; o conteúdo escrito, e as imagens contidas nos mesmos. Ressalta-se que materiais voltados especificamente aos profissionais do transporte de cargas não foram encontrados nas visitas efetuadas.

O cartaz focava na vulnerabilidade humana à AIDS e no combate ao preconceito. Seu conteúdo escrito apresentava frases curtas e diretas, contendo uma linguagem formal. O design do material compreende: um tamanho de fonte para a leitura com distância em torno de um metro, o uso de negrito para destaques e um plano de fundo.

O panfleto 1 abordava uma mensagem preventiva e informativa sobre a AIDS, além de se basear em conteúdo persuasivo para que as pessoas fizessem a sorologia do HIV. O conteúdo escrito é prolixo em suas informações. Organiza-se de forma a destacar frases importantes no texto, além de figuras que parecem estar à parte no material. As imagens utilizadas fundamentam o conteúdo persuasivo do texto escrito.

O panfleto 2 continha informações de cunho preventivo, cujo foco está na vulnerabilidade humana à AIDS e no combate ao preconceito. Observa-se uma linguagem técnica e formal em textos longos. O desenho geral continha marcas d'água de coloração neutra. As imagens estavam em formato de desenhos caracterizados por prosopopeias, com baixa resolução.

O panfleto 3 também é um material de cunho preventivo e persuasivo, mas tem o diferencial de aprofundar suas informações para o nível microscópico da doença. A escrita é de fácil compreensão e leitura, com parágrafos e tópicos de frases curtas. O design do material apresenta cores, com fonte de tamanho maior, se comparado aos demais, e destaque de frases impactantes.

O panfleto 4 foi centrado em conteúdo preventivo, focando o uso do preservativo. A parte escrita aparece em balões de diálogo. O design parece atrativo, contendo parte escrita e imagens bem distribuídas e em proporções de tamanho que facilitam a compreensão. As imagens variam em tamanho e proporção.

Em relação aos critérios para a seleção dos entrevistados, priorizou-se que eles fossem profissionais do transporte de cargas em rotas longas ou curtas, residentes na cidade de Itabaiana ou arredores, que se disponibilizassem participar da entrevista, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os entrevistados foram identificados por meio de códigos, para garantir o anonimato, possibilitando a explicitação de características censitárias, conforme segue:

a) Etapa 1: o indivíduo 1 tem 39 anos de idade, 16 anos de profissão, e declarou ter nível Médio completo. O de número 2 tem 34 anos de idade, 19 anos de profissão e nível Fundamental incompleto (até a 5ª série). O indivíduo 3 declarou ter 27 anos de idade, cinco anos de carreira no transporte e Ensino Fundamental completo.

b) Etapa 2: o indivíduo 4 tem 42 anos, casado, possui dois filhos e Ensino Fundamental incompleto. O indivíduo 5 tem 39 anos, casado, com dois filhos, e Ensino Médio incompleto. O indivíduo 6 tem trinta anos, relação estável com parceira e Ensino Fundamental incompleto. E o de número 7 tem 24 anos, um filho e seu nível de escolaridade é Ensino Fundamental incompleto.

A análise dos dados foi realizada de modo a mostrar o panorama do discurso dos entrevistados acerca da prevenção do HIV e dos materiais instrucionais impressos (cartaz e folders) utilizados nas atividades educativas. Trechos significativos que representassem diferentes formas de abordar as questões foram evidenciados, destacados e interpretados. Por fim, buscou-se inferir, no quadro geral das falas destacadas, os principais posicionamentos do grupo com relação aos objetivos desta pesquisa.

A partir de dois dos critérios utilizados para a escolha dos entrevistados, tidos como mais relacionados à construção dos conhecimentos e crenças investigados, foi possível considerar que os caminhoneiros consultados apresentam características que abrangem uma diversidade representativa do grupo, conforme segue: (1) o grau de escolaridade, desde nível Fundamental incompleto a Médio completo, representando, satisfatoriamente, o perfil apontado em outras pesquisas, como as de Vaz (2007)VAZ, M. As identidades dos caminhoneiros: estudo sobre a exploração sexual comercial contra meninas nas rodovias do estado da Bahia. Salvador: Secretaria do Desenvolvimento Social de Combate à Pobreza: Universidade Federal da Bahia, 2007. e Masson e Monteiro (2010)MASSON, V. A.; MONTEIRO, M. I. Vulnerabilidade a doenças sexualmente transmissíveis /AIDS e uso de drogas psicoativas por caminhoneiros. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 1, p. 79-83, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672010000100013>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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sobre o grupo; (2) quanto ao tempo de serviço, trataram-se de profissionais tanto iniciantes quanto experientes na atividade.

Assim, as falas apresentadas partiram de perfis que podem ser considerados diversos, satisfatoriamente para o atendimento dos objetivos desta pesquisa, mesmo diante do pequeno número de entrevistas. Ainda, como consideração sobre o número de entrevistados, aponta-se que, em análise realizada durante a transcrição das entrevistas, foi possível identificar indicadores de saturação do discurso, conforme recomendado por autores que discutem a constituição do corpus em abordagens qualitativas, a saber: Flick (2004)FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004., Gaskell e Bauer (2002)GASKELL, G.; BAUER, M. W. Para uma prestação de contas pública: além da amostra, da fidedignidade e da validade. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 446-470., Gaskell (2002)GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 64-89..

Por fim, no sentido de contribuir para uma leitura crítica dos dados apresentados, aponta-se que os resultados se mostram apenas indicadores das possíveis posições do grupo investigado diante do tema, e que análises futuras com outros instrumentos de coleta serão necessárias para aprofundamento da questão, a partir dos propósitos de triangulação.

Resultados e discussão

Os resultados foram agrupados em quatro subtópicos, que apresentam as análises das falas dos entrevistados sobre:

- a síndrome;

- a prevenção e a contaminação pelo HIV;

- o portador de HIV, e;

- o material educativo impresso de prevenção do HIV.

A síndrome

Quando os indivíduos foram questionados sobre AIDS, a palavra "medo" apareceu em duas respostas das três entrevistas.

Rapaz... um desespero muito grande [...] uma vez e eu fui fazer um exame numa clínica até particular aqui em Itabaiana [...] quando falei que era caminhoneiro a primeira coisa que ele [o médico] falou... falou faz um exame HIV [...] eu fiquei com medo. [Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

Essa doença, é uma doença mortal né... então é isso que eu tenho medo né... [Indivíduo 2, 34 anos, 19 anos de profissão, casado]

O terceiro indivíduo, apesar de não citar a palavra "medo", mostrou, em seu relato, uma relação entre a síndrome e a morte.

Rapaz... Tá arrombado né... é uma doença da pé [...] porque se o cara tiver com ela, se arromba... morre... logo, logo... e o cara tem que se prevenir por causa disso, da AIDS. [Indivíduo 3, 27 anos, cinco anos de profissão, solteiro]

Atualmente, os prospectos oficiais têm compreendido a AIDS como uma manifestação crônica, considerando os tratamentos empregados pela medicina contemporânea. No entanto, as respostas dos entrevistados parecem refletir a visão que surgiu nos anos 1980 com o alastramento da epidemia: a imagem da AIDS vinculada à ideia de morte e de sofrimento. Meneghin (1996, p. 400)MENEGHIN, P. Entre o medo da contaminação pelo HIV e as representações simbólicas da AIDS: o espectro do desespero contemporâneo. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 399-415, 1996. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62341996000300005>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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relata que este "[...] sentimento surge no momento em que as pessoas identificam a AIDS como uma séria ameaça à integridade física e à própria vida". A esse respeito, Joffe (2008)JOFFE, H. "Eu não", "o meu grupo não": representações sociais transculturais da AIDS. In: GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em representações sociais. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 297-320. pontua que o medo está relacionado à ameaça do sentido de ordem e da sensação de controle que os indivíduos têm sobre o mundo. Além disso, segundo Saldanha (2005)SALDANHA, A. A. W.; COUTINHO, M. P. L.; FIGUEIREDO, M. A. C. AIDS: trajetória e tendências de epidemia - a legitimação de um universo simbólico. In: COUTINHO, M. P. L. Representação social e práticas de pesquisa. João Pessoa: Ed. UFPB, 2005. p. 153-172., a caracterização inicial da AIDS pela ciência médica, e reforçada pela mídia, estabeleceu uma relação direta entre AIDS, morte e contágio pelo sexo.

Por outro lado, apareceu, no discurso do indivíduo 1, a possibilidade de convivência com o vírus HIV, a partir do relato sobre a experiência de uma outra pessoa.

Quando começou era só pegou morreu, pegou morreu, e hoje num é assim... eu tenho colega caminhoneiro aqui, conhecido, não vou citar nome, tem AIDS e ta vivendo... ta vivendo normal. [Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

Para alguns dos entrevistados, ser infectado pelo HIV é o mesmo que ter AIDS, isso aparece tanto no trecho anterior, como no seguinte.

[...] Inclusive eu tenho dois amigos que têm AIDS... eles são caminhoneiros... um mora na Paraíba e outro mora em Brasília... e tem HIV... [Indivíduo 2, 34 anos, 19 anos de profissão, casado]

Para o Ministério da Saúde, o doente é o indivíduo que tem AIDS, ou seja, que apresenta imunodeficiência por redução expressiva dos linfócitos T CD4+, portanto, está vulnerável a doenças oportunistas. O portador de HIV, que não manifestou essas características, não é considerado doente, tendo apenas a carga viral e a contagem dos linfócitos T CD4+ monitoradas regularmente (BRASIL, 2004BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Critérios de definição de casos de AIDS em adultos e crianças. Brasília, 2004. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/criterios_aids_2004.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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).

A transmissão e prevenção do HIV

Todos os entrevistados responderam que reconheciam a importância do uso de preservativos nas relações sexuais, e suas justificativas basearam-se, sobretudo, nas ofertas de profissionais do sexo, que surgem na rotina profissional de viagens.

Eu acho importante assim, se vai fazer sexo seja lá onde for e com quem for, que tenha o uso da camisinha, que saiba que essa doença existe e que é verdadeira [...]. [Indivíduo 2, 34 anos, 19 anos de profissão, casado]

Cê sabe que tem muita puta em estrada, é o que mais tem... e tem que ter cuidado, muitos num têm [...] geralmente a carne é meia fraca... acontece né? Mas né, sempre com prevenção né? Claro... e ... eu sei que num pode... na estrada... a verdade é essa [...] felizmente, infelizmente não sei... cada um é cada um, mas é o que tem... é se prevenir e pronto![Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

Quando questionados se acreditavam que os colegas de profissão usavam preservativo, um deles respondeu:

Têm uns aí que arriscam sem camisinha... inclusive eu tenho dois amigos que têm AIDS... eles são caminhoneiros... [Indivíduo 2, 34 anos, 19 anos de profissão, casado]

Ferreira (2008)FERREIRA, M. P. Nível de conhecimento e percepção de risco da população brasileira sobre o HIV/Aids, 1998 e 2005. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 42, supl. 1, p. 65-71, 2008. relata que as informações disponíveis sobre HIV/AIDS nem sempre são suficientes para determinar as práticas de prevenção. Entretanto, é possível relacionar o medo de uma possível infecção com a prática da prevenção. Isto é enfatizado no relato de um dos entrevistados que mostra um comportamento de autocuidado:

A maioria já tão consciente já, hoje... a maioria já tão consciente, são doido mais não... [Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

Embora todos os caminhoneiros entrevistados tenham relatado usar preservativo nas relações sexuais ocasionais, eles afirmaram conhecer colegas que não costumavam ter o mesmo cuidado. Essa dissociação com o "eu", especialmente quando se trata de tema pessoal, pode proporcionar a coleta de dados em um contexto no qual uma pergunta direta poderia não ter efeito. Nesta pesquisa, quando as questões do roteiro solicitavam que o entrevistado falasse sobre os comportamentos dele e dos colegas, geralmente, ele projetava os comportamentos de risco nos demais sujeitos do grupo. Estudos posteriores poderão considerar se esse apontamento pode estar atrelado à crença da invulnerabilidade pessoal frente ao vírus, geralmente construída na adolescência, conforme apontou Pagan (2004)PAGAN, A. A. Um estudo das representações sociais acerca da AIDS manifestadas por pré-adolescentes e adolescentes de escolas públicas de Cuiabá em 2002 e 2003. 2004. 250 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2004..

A menção às profissionais do sexo como espécie de "vetores" do vírus remete ao discurso de Joffe (2008)JOFFE, H. "Eu não", "o meu grupo não": representações sociais transculturais da AIDS. In: GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em representações sociais. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 297-320. de que a imputação do risco ao outro faz com que os grupos investigados se sintam livres de qualquer risco de contaminação. Quanto a esse aspecto, Joffe (2008, p. 319)JOFFE, H. "Eu não", "o meu grupo não": representações sociais transculturais da AIDS. In: GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em representações sociais. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 297-320. afirma que "[...] a projeção da responsabilidade sobre grupos estranhos é um mecanismo de defesa que afasta tanto o próprio grupo como o 'eu', da AIDS, deixando intacta a sensação de controle".

Corroborando com essa questão, Coelho (2006)COELHO, A. B. Representações sociais de homens infectados pelo HIV acerca da AIDS. 2006. 143 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. pontua que as noções dos riscos de infecção são sempre atribuídas a outro, como se as possibilidades de infecção não fizessem parte da realidade de cada um.

Rapaz... o único meio é... prevenção né? Eu acho né... quem usa suas drogas de seringa que eu num sei... o que é isso mas eu vejo falar... usar descartável... e usar camisinha né? Fora isso é difícil pegar né? Eu acho... [Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

Ou evitar [o sexo casual] ou se acontecer usar camisinha... [Indivíduo 2, 34 anos, 19 anos de profissão, casado]

Para esse grupo, a imagem da contaminação pelo HIV está, sobretudo, ligada ao sexo, em consonância com as campanhas preventivas, focadas especialmente no uso do preservativo, como afirmaram os entrevistados ao serem questionados sobre quais informações costumavam receber nas campanhas de prevenção. Os panfletos aparecem no discurso:

Óia... passa o vídeo geralmente... tem sempre uma moça, um rapaz falando...como é... como não é... oferece camisinha de graça... geralmente é isso... [Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

Panfleto... é... dando um incentivo... pro cara usar preservativo... [Indivíduo 3, 27 anos, cinco anos de profissão, solteiro]

O papel das campanhas de conscientização por meio de impressos parece exercer uma influência relevante na atividade de prevenção; e, devido à sua especificidade com relação ao grupo que geralmente apresenta pouca escolaridade, será discutido neste texto, no tópico Relatos sobre o material educativo impresso.

Quando questionados sobre as formas de contaminação da doença, os entrevistados mostraram conhecer diversas formas de transmissão que poderiam afetar a própria saúde, além das relacionadas com o sexo desprotegido.

Claro que sei... com certeza... uma transfusão, um sangue, uma relação sexual, uma coisa assim... fora isso... um beijo num pega... diz que não pega... já fiz... já fiz perguntas né? Palestras assim...não pega... isso é besteira... [Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

O sexual né... negócio de sangue... coisa assim... é... é...barba... é ... usar um Prestobarba... coisa assim...[Indivíduo 3, 27 anos, cinco anos de profissão, solteiro]

O contato com material biológico "sangue" parece ser um ponto convergente na compreensão destes profissionais sobre a contaminação. Ainda assim, é interessante que nenhum dos entrevistados, que se declararam casados, aponte o sexo desprotegido com a esposa como possível fonte de contágio, e, por esse motivo, relataram não utilizar preservativo nas relações sexuais com as parceiras fixas.

A esse respeito, Oltramari e Camargo (2010)OLTRAMARI, L. C.; CAMARGO, B. V. Aids, relações conjugais e confiança: um estudo sobre representações sociais. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 2, p. 275-283, abr./jun. 2010. verificaram que, para os profissionais que vivem algum tipo de conjugalidade, o risco está associado aos grupos com orientações e práticas sexuais consideradas diferentes do padrão monogâmico. Percebeu-se, também, que a responsabilização da epidemia ainda é imputada aos que antigamente eram chamados de "grupos de riscos". Ou seja, em uma relação conjugal entendida como estável, os riscos para contaminação são reduzidos, logo, não haveria necessidade de prevenção.

O estudo de Villarinho et al. (2002)VILLARINHO, L. et al. Caminhoneiros de rota curta e sua vulnerabilidade ao HIV, Santos, SP. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 4, p. 61-67, 2002. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000500009>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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mostrou que o uso casual da camisinha por estes profissionais é a principal fonte de vulnerabilidade ao HIV/AIDS, o qual depende do vínculo estabelecido com a parceira.

Para Coelho (2006)COELHO, A. B. Representações sociais de homens infectados pelo HIV acerca da AIDS. 2006. 143 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006., a identidade do homem tido como forte, inatingível e infalível frente aos riscos pode levá-lo a práticas sexuais sem proteção, mais ainda com a parceira fixa. Esse comportamento tem sido considerado grande contribuinte para o aumento de mulheres contaminadas. Na fala de um dos profissionais, fica claro que a relação sexual com a sua companheira não apresenta riscos, desde que ele mesmo se previna nas possíveis relações externas.

Essa doença, é uma doença mortal né... então é isso que eu tenho medo né... quer dizer... eu morrer e prejudicar os outros também... a mulher que tá em casa em que não tem nada a ver... E Deus o livre aconteça uma coisa dessa... doença mortal... então... tenho medo... [Indivíduo 2, 34 anos, 19 anos de profissão, casado]

Conforme Oltramari e Camargo (2010)OLTRAMARI, L. C.; CAMARGO, B. V. Aids, relações conjugais e confiança: um estudo sobre representações sociais. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 2, p. 275-283, abr./jun. 2010., este é um comportamento atribuído às questões de gênero existentes em nossa sociedade, que legitima a traição masculina e abomina a traição feminina.

O portador

Ao serem questionados sobre as pessoas com HIV/AIDS, alguns pontos de vista se destacaram. No primeiro, o discurso sobre o portador é indulgente, se comparado a outros do passado, apesar de estruturar-se em termos de sorte ou azar, o que pode ter implicações perigosas favorecendo a vulnerabilidade.

Rapaz... nada... é a pessoa normal... infelizmente pegou, deu azar... vai ter que viver a vida... hoje em dia com esses tratamento... a pessoa que pega veve quase do mesmo jeito... hoje... num deve ter preconceito né? Eu não tenho nenhum preconceito de pegar na mão e abraçar... num tenho nada disso... sabe que num pega né? Mas tem gente que tem né? [Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

Quando dizem "infelizmente pegou, deu azar", ao mesmo tempo em que se sensibilizam com o outro contaminado, parecem acreditar que o aspecto da sorte, e não do autocuidado, seja o fator de risco para a contaminação.

Essa representação se mostra diferente daquela apontada por Joffe (2008, p. 303)JOFFE, H. "Eu não", "o meu grupo não": representações sociais transculturais da AIDS. In: GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em representações sociais. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 297-320., no aspecto de acolhimento do portador.

[...] As consequências que recaem sobre as pessoas tendem a ser vistas como controláveis. Contrair AIDS está relacionado com escolha. As pessoas com AIDS são julgadas como estando "em falta" ou dignas de acusação, porque contraíram um vírus. Indivíduos são considerados diretamente responsáveis pela AIDS. (JOFFE, 2008JOFFE, H. "Eu não", "o meu grupo não": representações sociais transculturais da AIDS. In: GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em representações sociais. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 297-320., p. 303)

A visão dos entrevistados em relação ao portador, talvez por conhecerem membros do próprio grupo contaminados, está atrelada à indulgência e ao acolhimento, o que parece uma evolução quanto a relatos do passado, que culpabilizavam e demonizavam o portador, segundo a descrição de Joffe (2008)JOFFE, H. "Eu não", "o meu grupo não": representações sociais transculturais da AIDS. In: GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em representações sociais. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 297-320..

Outro tipo de relato, sobre o portador, diz respeito a uma cena onde um profissional do transporte se reconhece vítima de preconceito. O trecho seguinte sugere um portador que é tido como "safado" e "vagabundo", quando o individuo 1 relata uma imagem do outro, no caso, um profissional da saúde, construída sobre o próprio grupo. Os termos utilizados remetem à ideia de que a AIDS é uma forma de castigo para um determinado tipo de comportamento:

[...] Quando falei que era caminhoneiro a primeira coisa que ele [o médico] falou... falou faz um exame de HIV [...] Um preconceito com caminhoneiro... no caso ele [o médico] quis dizer que todo caminhoneiro é safado, vagabundo... [Indivíduo 1, 39 anos, 16 anos de profissão, casado]

Na fala anterior, o caminhoneiro relata uma situação em que se viu vítima de preconceito em uma consulta médica, por ter sido considerado vulnerável a comportamentos de risco sem qualquer evidência ou diálogo anterior que caracterizasse esse risco.

Um terceiro relato sobre o portador revela a prática do que é considerado, na legislação brasileira, como crime de homicídio, a não-preocupação de um indivíduo contaminado com a preservação das parceiras.

[...] Um amigo... aquele que tem AIDS [...] eu acho uma coisa muito errada que ele faz... assim eu acho que ele tem revolta porque tem a doença né... e ele diz que sai com mulher por aí sem camisinha, quer dizer tá colocando doença... [Indivíduo 2, 34 anos, 19 anos de profissão, casado]

Essa fala ressalta a percepção de avaliação e reprovação do comportamento do colega, atribuindo sua atitude à revolta por estar infectado.

Considerando a impressão expressa nos relatos destes profissionais, nesta segunda parte do texto buscamos analisar as suas concepções sobre os materiais educativos que são distribuídos como forma de conscientização e divulgação dos métodos de prevenção e conhecimento sobre HIV/AIDS.

Relatos sobre o material educativo impresso

Parte dos entrevistados mostrou interesse pelos materiais educativos impressos para prevenção da AIDS, como é percebido em seus relatos:

É bom néh? [...] é bacana [...] eu creio que aprende néh? [Indivíduo 4, 42 anos, Ens. Fund. incompleto]

Desde mil novecentos e não sei quantos eu vejo esses folhetozinhos já que vem crescendo a cada dia e tá melhorando. [Indivíduo 5, 39 anos, Ens. Médio incompleto]

Um deles discordou do potencial educativo do material impresso devido à falta de tempo para observar, além de mostrar desconhecimento destes materiais, afirmando nunca ter recebido. No momento da entrevista, apesar de ter aceitado participar, ele demonstrou relutância em observar os materiais impressos.

  • Entrevistadora: Então, o senhor já recebeu algum desses panfletos?

  • Indivíduo 4: que é "panfreto" que fala?

  • Entrevistadora: esses aqui ó que te mostrei.

  • Indivíduo 4: não não.

  • Entrevistadora: nunca recebeu?

  • Indivíduo 4: não!

  • Entrevistadora: já que o senhor nunca recebeu mas assim... já participou de alguma campanha dos postos de saúde ou de outro local?

  • Indivíduo 4: não não...

  • Entrevistadora: nunca participou.

  • Indivíduo 4: não... num tenho tempo pra isso não! [Indivíduo 4, 42 anos, Ens. Fund. incompleto]

De acordo com Masson e Monteiro (2010)MASSON, V. A.; MONTEIRO, M. I. Vulnerabilidade a doenças sexualmente transmissíveis /AIDS e uso de drogas psicoativas por caminhoneiros. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 1, p. 79-83, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672010000100013>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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, o trabalho dos caminhoneiros lhes ocupa grande parte do tempo. Isso justifica o seu comportamento de rejeição em observar o material impresso, gerando desinformação e a manutenção da vulnerabilidade desta categoria. Para Villarinho et al. (2002)VILLARINHO, L. et al. Caminhoneiros de rota curta e sua vulnerabilidade ao HIV, Santos, SP. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 4, p. 61-67, 2002. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000500009>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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, a vulnerabilidade do caminhoneiro é inerente à cultura desta classe profissional; e uma sugestão seria a elaboração de propostas de prevenção em âmbito nacional, respeitando as peculiaridades regionais, que possam dar apoio a caminhoneiros, preferencialmente, nos seus locais de trabalho.

Mesmo valorizando os materiais educativos impressos, uma parte deles sugeriu que palestras seriam mais eficientes, pois teriam a oportunidade de tirar dúvidas e facilitaria o acesso à informação daqueles que têm dificuldade na leitura.

Ou panfleto ou palestras... é... palestra você sempre... você tem a oportunidade de perguntar tirar uma dúvida é melhor néh? [...] que nem eu que já participei de muitas palestras já por aqui pelo Brasil. [Indivíduo 5, 39 anos, Ens. Médio incompleto]

Rapaz por outras formas pela pessoa que explique pessoalmente é melhor [...] é... na língua falada no caso. [Indivíduo 6, trinta anos, Ens. Fund. Incompleto]

Através de panfleto é a coisa melhor e [...] palesta pra insiná e educar e avisar que tem esse vírus tá intendendo?[Indivíduo 7, 24 anos, Ens. Fund. incompleto]

Percebe-se que alguns dos indivíduos apontaram as palestras como importantes instrumentos de construção de conhecimentos sobre a AIDS. De acordo com Pagan (2004)PAGAN, A. A. Um estudo das representações sociais acerca da AIDS manifestadas por pré-adolescentes e adolescentes de escolas públicas de Cuiabá em 2002 e 2003. 2004. 250 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2004., a partir de um estudo nas escolas públicas do município de Cuiabá, MT, uma das principais formas de discussão e conhecimento sobre a AIDS, naquele local, eram as palestras, além de outras variáveis citadas pelos estudantes entrevistados. No entanto, compreende-se que a informação fornecida em palestras e materiais impressos ainda é insuficiente para redução de vulnerabilidades, pois são necessárias atividades que realmente possam acessar a autoestima e o autocuidado, partindo do autoconhecimento.

Em um estudo elaborado na década de 1980, sobre avaliação de materiais educativos, Kubota et al. (1980)KUBOTA, N. et al. Avaliação de material educativo: adequação de quatro volantes sobre alimentação da criança de 0 a 12 meses de idade. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 101-122, 1980. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89101980000100009>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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já alertavam para a adequação dos materiais impressos à compreensão do público-alvo, além de se complementar a distribuição do material por outras práticas educativas, com orientações sobre seu conteúdo.

A educação em saúde representa um processo complexo, portanto, utilizar somente o material impresso não traz resultados satisfatórios, resultando na pouca validade de ações educativas (FREITAS; REZENDE FILHO, 2011FREITAS, F. V.; REZENDE FILHO, L. A. Modelos de comunicação e uso de impressos na educação em saúde: uma pesquisa bibliográfica. Interface: comunicação, saúde e educação, Botucatu, v. 15, n. 36, p. 243-255, jan./mar. 2011.; KUBOTA et al., 1980KUBOTA, N. et al. Avaliação de material educativo: adequação de quatro volantes sobre alimentação da criança de 0 a 12 meses de idade. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 101-122, 1980. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89101980000100009>. Acesso em: 28 ago. 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89101980...
). Em vista disso, a distribuição de materiais educativos vinculada às palestras é uma sugestão válida dos caminhoneiros para o controle e prevenção da AIDS nesta categoria.

Outra questão observada foi o desinteresse por materiais educativos impressos que apresentavam informações escritas em excesso, em detrimento da quantidade de imagens.

Eu gosto mais de imagem... eu sou preguiçoso pra lê. Caminhoneiro é geralmente preguiçoso pra lê. [Indivíduo 5, 39 anos, Ens. Médio incompleto]

O material escrito e o seu papel no contexto da educação em saúde é de relevância para: a promoção da saúde, prevenção de doenças, desenvolvimento de habilidades e favorecimento da autonomia do leitor-alvo. Portanto, profissionais da saúde devem participar do processo de criação e desenvolvimento de avaliação do material educativo, buscando reduzir qualquer fator que prejudique o processo de comunicação, bem como, adotando e aprimorando mecanismos que facilitem a leitura, melhorem a legibilidade e motivem o leitor (MOREIRA; SILVA, 2005MOREIRA, M. F.; SILVA, M. I. T. Legibilidade do material educativo escrito para pacientes diabéticos. Online Brazilian Journal of Nursing, Niteroi, v. 4, n. 2, 2005. Disponível em: <http://www.nepae.uff.br//siteantigo/objn402moreiraetal.htm>. Acesso em: 16 fev. 2014.
http://www.nepae.uff.br//siteantigo/objn...
).

Ao ser questionado se já recebeu algum tipo de material impresso sobre AIDS, o indivíduo 5 confirmou ter recebido, mas que não teria sido pelo Governo, e sim em eventos. A partir deste ponto, criticou a falta de atuação governamental na divulgação desses materiais impressos. Em contrapartida, o entrevistado de número 7, mais jovem e escolarizado que o primeiro, elogiou o Governo, por considerar, inclusive, que a entrevista desta pesquisa era de ordem preventiva e de atuação governamental.

Apesar de um dos entrevistados ter apontado que nunca havia recebido um panfleto, o discurso dos demais sujeitos mostra que o contato com os materiais impressos acontece, frequentemente, nos postos de combustíveis, e, também, em locais de eventos diversos, tais como na festa dos caminhoneiros, que acontece todos os anos no município de Itabaiana, além de campanhas em rodovias (BR), promovidas com a parceria da Polícia Rodoviária Federal.

Nas festas geralmente... ééé... nos postos [postos de combustíveis], na cidade nóis já teve aqui [município de Itabaiana], também na festa dos caminhoneiro tem... várias festas que tem espalhada pelo Brasil. [Indivíduo 5, 39 anos, Ens. Médio incompleto]

Rapaz foi em campanha de BR mesmo. É... Policia Rodoviária Federais pára e [...] fala sobre prevenção. [Indivíduo 6, trinta anos, Ens. Fund. incompleto]

Só na festa dos caminhoneiro... tem uma festa dos caminhoneiro aqui em Itabaiana Sergipe que é uma tradição... aí todo meio do ano tem uma festa dos caminhoneiro aqui pá nóis... aí o palesteiro[palestrante] sobre AIDS dá esse "confleto" [panfleto] a nóis [...] já ganhei já... na estrada...em São Paulo, no Belo Horizonte, no Goiás, em Maceió... já ganhei em vários lugares isso aí. [Indivíduo 7, 24 anos, Ens. Fund. Incompleto]

O relato do caminhoneiro 7 remete aos dados de que, desde o ano de 2006, mais de 67 mil profissionais de transporte de cargas de todo o país participaram de uma grande mobilização promovida pelo SEST SENAT e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), cuja campanha denomina-se "Comandos Saúde nas Estradas". Em vários trechos de rodovias nacionais, os caminhoneiros são abordados para realizar exames de saúde e orientações de prevenção às DST's e AIDS, além de receberem materiais informativos (COMANDOS..., 2013COMANDOS de saúde nas rodovias mobiliza caminhoneiros em todo o país. [S.l.: s.d.], 2013. Disponível em: <http://www.cnt.org.br/Paginas/Agencia_Noticia.aspx?n=8852>. Acesso em: 16 fev. 2014.
http://www.cnt.org.br/Paginas/Agencia_No...
). Além disso, a Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe tornou-se parceira da campanha na BR 101, levando o teste de detecção precoce da AIDS e da Sífilis na unidade móvel "Fique Sabendo" para os caminhoneiros (SEST SENAT, 2013SEST SENAT. Comandos de saúde nas rodovias. Brasília, [s.d.]. Disponível em: <http://www.sestsenat.org.br/Paginas/Comandos-de-Saude.aspx>. Acesso em: 26 set. 2013.
http://www.sestsenat.org.br/Paginas/Coma...
).

Houve preferência por um material educativo impresso com imagens, porque facilitaria o entendimento do tema abordado.

  • Entrevistadora: [...] o senhor entende melhor quando tem parte escrita ou imagens?

  • Indivíduo 7: as duas coisas... todas duas... porque num é todo mundo que sabe lê tem gente que só sabe lê por escrito e por imagem deduz de todas outras coisas.

Quanto ao design dos materiais, o que mais chamou a atenção dos entrevistados foi a palavra "AIDS", inclusive seu destaque gráfico. Isso nos leva a inferir que cores fortes (geralmente, vermelho e preto), aumento do tamanho da fonte, além do interesse que a própria temática AIDS gera, foram os responsáveis por atrair a atenção dos sujeitos.

Só da AIDS néh? [...] mais da AIDS néh? Bom chamou a atenção... tá falando aqui sobre AIDS néh? [...]. [Indivíduo 4, 42 anos, Ens. Fund. incompleto]

O entrevistado de número 5 também citou que as imagens foram o que mais lhe chamou a atenção no design do material, justificando a sua importância devido ao índice de analfabetismo entre os caminhoneiros, além de tornar o material mais atrativo. Seu discurso apontou indicativos sobre baixa autoestima, o que é um fator de vulnerabilidade, especialmente quando qualifica a própria categoria como "burros". Políticas de melhoria da autoimagem são fundamentais para a diminuição da vulnerabilidade nesse grupo. Um panfleto indecifrável pode fazer com que o sujeito se sinta ainda menos competente para lidar com a cultura, facilitando a criação de comportamentos autodestrutivos e desprotegidos.

As ilustrações que mostra o que a gente deve fazer e o que não deve néh [...] me chamou a atenção. Principalmente esses que tem figuras porque a pessoa ... vê bem néh...? [...] geralmente tem muito caminhoneiro analfabeto né? cê sabe que tem néh, não totalmente... mas um pouco... de burro de memória... a maioria é burro. [Indivíduo 5, 39 anos, Ens. Médio incompleto]

As imagens são formas de expressão e comunicação que são utilizadas desde a antiguidade (ALVARES; SCHMITT, 2007ÁLVARES, M. R.; SCHMITT, V. Análise de imagem: da teoria à prática. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM DESIGN, 4., 2007, Rio de Janeiro. Disponível em: <https://flankus.files.wordpress.com/2009/12/analise_de_imagem_-_da_teoria_a_pratica.pdf >. Acesso em: 16 fev. 2014.
https://flankus.files.wordpress.com/2009...
). Como forma de comunicação, as imagens adquirem importância extraordinária, permeando a vida cotidiana com mensagens visuais que direcionam a organização da atividade humana em sociedade (GONÇALVES; FERRAZ, 2009GONÇALVES, R. M.; FERRAZ, C. B. O. A linguagem imagética na escola e no ensino da geografia. In: ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO EM GEOGRAFIA, 10., 2009, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre, 2009. p. 1-20. Disponível em: <http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/GT5/tc5%20(14).pdf >. Acesso em: 16 fev. 2014.
http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/...
). Dessa forma, as imagens fazem parte do design e layout do material educativo impresso, tornando-se essenciais na sua constituição e elaboração.

Segundo Moreira, Nóbrega e Silva (2003)MOREIRA, M. F.; NÓBREGA, M. M. L.; SILVA, M. I. T. Comunicação escrita: contribuição para a elaboração de material educativo em saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 56, n. 2, p. 184-188, 2003. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672003000200015>. Acesso em: 28 ago. 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672003...
, o layout e o design do material facilita a leitura, além de torná-lo mais atraente ao leitor, mas, para isso, é necessário adotar uma série de medidas na elaboração de um material impresso, como, por exemplo: cores, tamanho das fontes e sombreamento; capa de efeito atrativo; organização da mensagem para facilitar a ação desejada; medidas dos espaços em branco, margens e marcadores.

Ao fazer a leitura dos materiais impressos, o entrevistado 7 apresentou dificuldades para compreender a mensagem do texto, estabelecendo conclusões dissonantes com a proposta do material. Seguem alguns trechos extraídos dos materiais apresentados e os comentários dos entrevistados.

No cartaz, havia um texto com a seguinte afirmação: "A cada dia é diagnosticado um novo caso de AIDS em Sergipe. A AIDS não é um problema só dos outros. Todos estamos vulneráveis. Faça a sua parte!".

Rapaz isso aqui tá dizendo que não é um problema... mas é viu ... sóóó ... xiii... isso eu não aceito bem porque isso não é um poblema? a AIDS é um poblema... por todo caso que seja a AIDS é um plobema[...] Pra mim é um problema mesmo que seja curado com o coquetel essas coisa... é um problema. [...]. [Indivíduo 7, 24 anos, Ens. Fund. incompleto]

Texto do Panfleto 1: "A AIDS não tem cura, mas tem tratamento".

Agora que tá a verdade... a AIDS ainda não tem cura mas tem trabalho néh? [...] Tratamento... isso... desculpa... mas tem tratamento... só que não é uma cura... é um tratamento pra se viver mais um pouquinho... então é um problema na vida do ser humano a AIDS... é um dos problemas pro cara carregar nas costa... a AIDS é um probema por isso que não dou valor pra esse papel [cartaz] aqui que você me deu porque [...] esse [panfleto 1] ainda é melhor que esse [cartaz] ... justamente... a AIDS é um problema na vida do ser humano. [...] Esse aqui [panfleto 1] eu dou valor agora o outro [cartaz] eu não dou [...]. [Indivíduo 7, 24 anos, Ens. Fund. incompleto]

Observe que o entrevistado Indivíduo 7 se atenta somente para um trecho da frase do cartaz e, a partir disso, tira suas conclusões por meio de interpretações pessoais, algumas vezes diferentes daquelas propostas.

Na observação do panfleto 1, o entrevistado 7 confunde a palavra tratamento com a palavra trabalho. Além disso, pela dificuldade de interpretação do cartaz, ele rejeita o seu conteúdo, considerando o panfleto 1 de melhor qualidade na escrita. Portanto, a sua dificuldade de leitura e interpretação orienta-o a uma conduta de rejeição ao cartaz e valorização do panfleto 1.

Moreira e Silva (2005)MOREIRA, M. F.; SILVA, M. I. T. Legibilidade do material educativo escrito para pacientes diabéticos. Online Brazilian Journal of Nursing, Niteroi, v. 4, n. 2, 2005. Disponível em: <http://www.nepae.uff.br//siteantigo/objn402moreiraetal.htm>. Acesso em: 16 fev. 2014.
http://www.nepae.uff.br//siteantigo/objn...
apontam que, no Brasil, apesar do grande número de analfabetos e de pessoas com baixa escolaridade, há o predomínio de material educativo impresso, no entanto, não há praticamente estudos avaliando a adequabilidade desse material quanto à legibilidade, apelo visual ou nível de leitura. É necessário, portanto, avaliar o índice de legibilidade do material escrito impresso, a fim de que a estrutura do texto seja compatível com o grau de escolaridade do leitor-alvo.

As afirmações do entrevistado 7 mostram que frases escritas no sentido positivo e curtas podem ser mais adequadas do que aquelas que envolvem o termo "não".

De acordo com Moreira, Nóbrega e Silva (2003)MOREIRA, M. F.; NÓBREGA, M. M. L.; SILVA, M. I. T. Comunicação escrita: contribuição para a elaboração de material educativo em saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 56, n. 2, p. 184-188, 2003. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672003000200015>. Acesso em: 28 ago. 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672003...
, pessoas analfabetas ou que possuem baixa escolaridade e habilidade de leitura podem aprender com o material escrito, mas, para isso, é necessário que, no processo de planejamento do design sejam empregados mecanismos que reduzam barreiras de compreensão da mensagem, e técnicas que motivem o indivíduo ao interesse pelo material educativo.

Pode-se inferir que a baixa escolaridade dos caminhoneiros, atrelada à falta de tempo devido às excessivas horas de trabalho, não contribuam para o incentivo à prática de leitura, tornando-se um comportamento característico da categoria (PENTEADO, 2008PENTEADO, R. Z. et al. Trabalho e saúde em motoristas de caminhão no interior de São Paulo. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 17, n. 4, p. 35-45, 2008. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902008000400005>. Acesso em: 31 ago. 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902008...
; VAZ, 2007VAZ, M. As identidades dos caminhoneiros: estudo sobre a exploração sexual comercial contra meninas nas rodovias do estado da Bahia. Salvador: Secretaria do Desenvolvimento Social de Combate à Pobreza: Universidade Federal da Bahia, 2007.). No entanto, ainda de acordo com Vaz (2007)VAZ, M. As identidades dos caminhoneiros: estudo sobre a exploração sexual comercial contra meninas nas rodovias do estado da Bahia. Salvador: Secretaria do Desenvolvimento Social de Combate à Pobreza: Universidade Federal da Bahia, 2007., apesar da pouca escolaridade, o gosto pela leitura concentra-se em materiais que tragam informações associadas a caminhões e estradas.

De acordo com Masson e Monteiro (2010)MASSON, V. A.; MONTEIRO, M. I. Vulnerabilidade a doenças sexualmente transmissíveis /AIDS e uso de drogas psicoativas por caminhoneiros. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 1, p. 79-83, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672010000100013>. Acesso em: 28 ago. 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672010...
, os baixos níveis de escolaridade na categoria são proporcionais aos níveis de conhecimento sobre prevenção de AIDS. Dessa forma, é necessária a implementação de intervenções de caráter educativo para a promoção da saúde e prevenção de doenças entre os caminhoneiros.

Apesar de todos serem alfabetizados e razoavelmente bem informados, a prevenção é vista, por alguns destes profissionais, como desnecessária; no entanto, o discurso comum foi que o caminhoneiro precisa se prevenir. Portanto, não basta estar bem informado, e sim mobilizado e sensibilizado, a fim de modificar comportamentos comuns à categoria (VILLARINHO et al., 2002VILLARINHO, L. et al. Caminhoneiros de rota curta e sua vulnerabilidade ao HIV, Santos, SP. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 4, p. 61-67, 2002. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000500009>. Acesso em: 28 ago. 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002...
)

A sugestão que os entrevistados fazem, para o conteúdo escrito, é continuar com as informações voltadas à prevenção, e que sejam acrescentadas informações sobre outras formas de contágio e transmissão, como seringas contaminadas, por exemplo.

Para alguns dos entrevistados, as imagens foram de suma importância para a compreensão e entendimento sobre a prevenção da AIDS, tornando-se preferência dos caminhoneiros em detrimento do conteúdo escrito, como se percebem nos relatos.

[...] aqui eu tô vendo que você me deu um papel certo e ideal pra quem vai fazer sexo com segurança. Insina como você usar a camisinha, insina como você tirar a camisinha e insina como você [usar] a camisinha com alguém... intão pra mim aqui cês tão insinando o sexo com sigurança... a realidade do mundo ... a realidade do mundo [...] gostei dessa aqui porque ói... insina como tirar a camisinha como botá no no... [...] no órgão genital... insina a tirar do órgão genital... insina a jogar fora... tanto se preocupa com a gente que nem cum meio ambiente... intão é nota mil pro governo bonito nota mil pro governo tá entendendo? Porque tem muita gente no mundo que não tem o raciocínio de hoje ainda sabe...daquele tipo antigo que é ignorante tal... aí veno[verbo ver] as imagens vê chocante aí passa... [...] a intendê melhor... [Indivíduo 7, 24 anos, Ens. Fund. incompleto]

De acordo com Sousa e Paiva (2012)SOUSA, J. H. M.; PAIVA, M. S. Representações sociais da AIDS entre jovens universitários: traçando a vulnerabilidade a partir das relações de gênero. Diálogos & Ciência, Salvador, n. 30, p. 165-169, 2012., a vulnerabilidade à infecção pelo HIV possui relação: com comportamentos individuais, em especial, os relacionados à sexualidade, gênero e comportamento dos parceiros; com as condições sociais que deveriam garantir acesso aos serviços de saúde, e com a existência de políticas públicas eficazes. Para Garcia e Sousa (2010)GARCIA, S.; SOUZA, F. M. Vulnerabilidades ao HIV/AIDS no contexto brasileiro: iniquidades de gênero, raça e geração. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 19, supl. 2, p. 9-20, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902010000600003>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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, as questões relativas ao gênero devem ser a principal preocupação envolvida no contexto da AIDS, justificando sua inclusão nos programas e políticas de saúde do Brasil.

Na concepção de alguns dos entrevistados, as imagens eram excelentes e autoexplicativas, portanto, não deram sugestão de mudança. No entanto, para o entrevistado 4, as imagens não o atraíram, se recusou a dar qualquer opinião. Além disso, ele tratou como algo infantil para a sua faixa etária, revelando um comportamento de rejeição ao material educativo.

Não não não modificaria nenhuma... as imagens tá insinando adequadamente como se usar os preservativo e educando e botando na mente das pessoas que as imagem é forte... as pessoa que não usa preservativo pode pensar que amanhã ou depois eu posso tá com essa doença intão eu vou usá preservativo. [...] não num acrescentaria nada não. [Indivíduo 7, 24 anos, Ens. Fund. Incompleto]

  • Entrevistadora: [...] bom então com relação às imagens [...] te atraiu de alguma forma?

  • Indivíduo 4: não não... [...]

  • Entrevistadora: deixa eu mostrar...

  • Indivíduo 4: ... eu tô cum quarenta e dois anos ... num sou mais criança... [Indivíduo 4, 42 anos, Ens. Fund. incompleto]

De acordo com Moreira, Nóbrega e Silva (2003)MOREIRA, M. F.; NÓBREGA, M. M. L.; SILVA, M. I. T. Comunicação escrita: contribuição para a elaboração de material educativo em saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 56, n. 2, p. 184-188, 2003. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672003000200015>. Acesso em: 28 ago. 2015.
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, as ilustrações do material devem estar adequadas ao seu público-alvo. Portanto, se o material impresso é voltado para um público adulto/idoso, devem-se evitar imagens com motivos infanto-juvenis e vice-versa. Para Freitas e Rezende Filho (2011)FREITAS, F. V.; REZENDE FILHO, L. A. Modelos de comunicação e uso de impressos na educação em saúde: uma pesquisa bibliográfica. Interface: comunicação, saúde e educação, Botucatu, v. 15, n. 36, p. 243-255, jan./mar. 2011., os materiais impressos, geralmente, procuram "amenizar" contextos de sofrimento e dor nos conteúdos e imagens, no entanto, o resultado final é um estilo textual e gráfico de simplificação excessiva das informações.

Considerações finais

Os caminhoneiros apresentam características próprias que dificultam o processo de atenção à saúde, especialmente, pelo constante trânsito desses profissionais em diversas cidades do país, além de fatores como a pouca escolaridade e a cultura machista que permeiam seus referenciais de vida. Diante disso, compreende-se fundamental que os mesmos sejam sensibilizados para o autocuidado. Nessa perspectiva, as ações de educação em saúde são fundamentais para esse grupo.

No caso da prevenção contra o HIV, além do processo de educação científica para a compreensão dos fatores que envolvem a contaminação, aliam-se esforços para a melhoria da autoestima e a reflexão sobre os fatores sociais e o preconceito que tangem a questão. Neste trabalho, buscou-se explicitar os entendimentos e as crenças de um grupo de profissionais do transporte de carga da cidade de Itabaiana-SE sobre a AIDS, e alguns dos materiais utilizados na educação em saúde sobre essa temática.

Apesar de considerarem a AIDS como doença fatal, pela dificuldade de distinguirem o indivíduo contaminado com HIV e o doente com AIDS, alguns membros do grupo apresentaram a compreensão de que a síndrome pode ser vista como uma doença crônica. O uso do preservativo nas relações sexuais foi considerado, pelos entrevistados, como fundamental, mas ainda aparecem concepções de que a contaminação está ligada ao azar, indicando o desuso efetivo do preservativo em parte dos relacionamentos. O uso do preservativo se dá nas práticas sexuais com parceiros casuais, no entanto, a motivação está na preocupação com a saúde das parceiras fixas, que pareceu ser mais importante do que a preocupação consigo próprio.

Há um sentimento de indulgência com o portador do HIV, também uma relação entre a contaminação e o castigo por práticas tidas como reprováveis, se comparadas ao princípio da monogamia. Um dos entrevistados apresentou essa visão quando falou do olhar do outro, no caso, um profissional de saúde, sobre o próprio grupo.

A dificuldade de leitura ou, mesmo, a falta do hábito de ler, manifestadas pelo grupo, são fatores que influenciam negativamente o aprendizado por meio de material impresso. Após esta análise, foi possível apontar a necessidade de alterações na estrutura de folders e cartazes, buscando a redução da quantidade de texto, o uso de imagens autoexplicativas, excluindo-se orientações na forma negativa: orientações sobre as medidas a serem tomadas podem ser mais adequadas do que aquelas sobre o que se deve evitar.

Agradecimentos

À Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC), Programa Primeiro Projeto (PPP), pelo financiamento da pesquisa, Fundo Tecnológico (FUNTEC) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

À Universidade Federal de Sergipe (UFS) pelo suporte logístico.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015
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