Resumo
Com base na chamada virada estética das RI e aproveitando as qualidades críticas e epistêmicas do cinema, este artigo explora como alguns filmes brasileiros de ficção científica (FC) oferecem uma interpretação sensível e reflexiva do Brasil e de seu lugar no mundo, que deve ser valorizada no estudo da política internacional. Dentro dessa proposta, o artigo analisa quatro filmes emblemáticos da escassa historiografia do cinema brasileiro de ficção científica - O Quinto Poder (1962), Os Cosmonautas (1962), Brasil Ano 2000 (1969) e Bacurau (2019) - a fim de identificar em que medida eles resultaram na reprodução ou no reforço de entendimentos mais convencionais e representações consensuais da política internacional ou, ao contrário, expuseram, questionaram e/ou criticaram as representações dominantes do Brasil e seu lugar no mundo. A categoria analítica de ‘mundialização’ é emprestada do pensamento pós-colonial para designar o processo pelo qual os cineastas constroem ou desconstroem os imaginários que tornam a realidade brasileira inteligível, local e globalmente. Como o artigo pretende mostrar, a maneira como o Brasil é visto no mundo nesses filmes de ficção científica contribui para ampliar debates importantes e incentivar o pensamento crítico sobre questões que informam a maneira como o Brasil e seu lugar no mundo são interpretados por seus próprios agentes culturais e artistas. O artigo também mostra que o movimento epistemológico sugerido pela virada estética das RI e o conceito de mundialização proporcionam uma lente mais matizada que fornece interpretações do Brasil e, até certo ponto, da política internacional que são mais enraizadas localmente e, portanto, mais ricas do que aquelas que as teorias ortodoxas de RI distantes e centradas no Ocidente podem permitir.
Palavras-chave
estética; ficção científica; política internacional; distopias; mundialização do Brasil