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Estado da arte: Dez anos de Grupos de Trabalho (GTs) sobre ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia (2005-2015)

State of the art: Ten years of Working Groups (GTs) on the teaching of Sociology in the Brazilian Congress of Sociology (2005-2015)

Resumo:

O presente trabalho apresenta um levantamento das produções científicas sobre o ensino de Sociologia no Ensino Médio apresentadas no Congresso Brasileiro de Sociologia (CBS) da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), durante os anos de 2005 a 2015, perfazendo dez anos de discussões sistemáticas e contínuas sobre o ensino de Sociologia na escola. Os aspectos analisados versaram sobre: (1) o desenvolvimento quantitativo; (2) as temáticas pesquisadas; (3) o caráter metodológico e as bases teóricas; (4) os atores e as instituições envolvidas no interesse acadêmico-profissional sobre o ensino de Sociologia na educação básica. Considera-se a configuração de redes humanas de pesquisadores e de um eixo regionalizado de produção e difusão das pesquisas, e que o aumento quantitativo contribui de forma significativa no desenvolvimento qualitativo das pesquisas e da construção do conhecimento sobre a temática do ensino de Sociologia na escola básica.

Palavras-chave:
Ensino de Sociologia; Educação básica; Estado da arte; Congresso Brasileiro de Sociologia

Abstract:

This work presents a survey of the scientific production on the teaching of Sociology in High School education presented in the Brazilian Congress of Sociology (CBS) of the Brazilian Society of Sociology (SBS), during the years 2005 to 2015, comprising ten years of ongoing systematic discussions about the teaching of Sociology in school. The analyzed aspects related on: (1) the quantitative development; (2) the themes researched; (3) the character of methodological and theoretical bases; (4) the actors and institutions involved in the academic-professional interest on the teaching of Sociology in basic education. Focused are the configuration of human networks of researchers and of a regional axis research production and dissemination. It is suposed that the quantitative increase contributes in a significant way in the qualitative development of research and the construction of knowledge on the subject of the teaching of sociology in basic school.

Keywords:
Sociology teaching; Basic education; State of the art; Brazilian Congress of Sociology

Introdução

Neste trabalho realizamos um levantamento das produções científicas sobre o Ensino de Sociologia no Ensino Médio apresentadas no Congresso Brasileiro de Sociologia (CBS) da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), durante os anos de 2005 a 2015, perfazendo dez anos de uma discussão sistemática e contínua sobre o ensino de Sociologia na escola. Como bem assinala Moraes (2011)MORAES, Amaury Cesar de. Ensino de Sociologia: periodização e campanha pela obrigatoriedade. Caderno Cedes, v. 31, n. 85, p. 359-382, 2011 <http://www.cedes.unicamp.br> (20 nov. 2015).
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as cronologias são construções, cuja objetividade das datas, revela escolhas e pode ser tensionada, questionada diante de outras interpretações da realidade. Nessa consciência que demarcamos esses dez anos e assim o fazemos pela existência, desde 2005, de um Grupo de Trabalho – GT específico sobre a temática de ensino de Sociologia na escola.

Antes, porém, de realizarmos uma breve historicização, é preciso esclarecer que consideramos com Handfas e Maiçara (2015HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43., p. 25) que “por produção científica entendemos a atividade intelectual sistemática, amparada por instrumental teórico e metodológico, cujos resultados contribuem para a circulação de ideias e ampliação do conhecimento sobre a temática pesquisada”. Anita Handfas, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vem realizando, sistematicamente, trabalhos de estado da arte sobre o ensino de Sociologia na educação básica, tendo publicado no ano de 2011 na Revista Inter-Legere levantamento das dissertações e teses, disponíveis no Banco de Dissertações e Teses da Capes, apresentadas entre os anos de 1993 e 2010 e, no ano de 2015, publicou, conjuntamente com Maiçara, no livro Conhecimento escolar e ensino de Sociologia (Handfas; Maiçara, 2015HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43.) uma continuidade deste trabalho estabelecendo como prazo final de análise o ano de 2012.

Os resultados desses trabalhos de estado da arte apontam: (1) crescimento das pesquisas sobre a Sociologia na educação básica a partir do ano 2000, sobretudo a partir do ano de 2008, ano da Lei 11.684, e que se encontra em ascensão; (2) predominância das pesquisas sobre currículo e práticas pedagógicas e metodologias de ensino em detrimento de outras temáticas como concepção sobre a Sociologia escolar, institucionalização das ciências sociais, trabalho docente e formação do professor; e, (3) em relação ao tipo de pesquisa a prevalência da pesquisa empírica, seguida por documental, histórica e teórica (Handfas; Maiçara, 2015HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43.).

Refletimos também com Ferreira (2002FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Revista Educação & Sociedade, v. 23, n. 79, p. 257-272, 2002 <10.1590/S0101-73302002000300013>.
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, p. 59) que o objetivo de trabalhos de estado da arte não são somente o “de conhecer o já construído e produzido, para depois buscar o que ainda não foi feito, […] de dar conta de determinado saber que se avoluma cada vez mais rapidamente e, de divulgá-lo para a sociedade”. Conhecer e congregar as tendências do desenvolvimento das pesquisas sobre o ensino de Sociologia na escola básica é uma intenção que não se advoga na pretensão de dar conta do que é produzido, mais do que isso, do que é refletido, conhecido, dinamizado. A pretensão é o diálogo, é a atenção ao movimento. Isto posto, também, na medida em que, não é a diferença que nos mobiliza, mas o empenho em identificar, questionar, dialogar e elaborar possíveis respostas a uma necessidade experenciada/sentida. Assim, “estado da arte” ou “estado do conhecimento” são denominações amplas que devem ser lidas na delimitação e no movimento do corpus selecionado. O estado da arte aqui apresentado é uma possibilidade, é uma história possível que demarca além de temáticas de interesse e prevalecentes, e, avanços nas pesquisas sobre o ensino de Sociologia, a constituição de redes humanas e olhares sobre si.

Desenvolvimento

O 1º Congresso Brasileiro de Sociologia ocorreu no ano de 1954 na cidade de São Paulo, entre os dias 21 e 27 de junho, e, em 2015 o evento realizou a sua 17ª edição, na cidade de Porto Alegre, entre os dias 20 e 23 de julho. O congresso realizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) mantém desde 1987 uma periodicidade bienal. Assim, podemos demarcar que o Congresso Brasileiro de Sociologia constitui-se como um importante espaço de convergência e difusão1 1 Os Anais constituem meio de divulgação da produção científica, assim como, um registro dessa história. No site da SBS estão disponíveis os trabalhos apresentados no 1º, 3º e 4º CBS e posteriormente do 11º ao 16º. O levantamento dos trabalhos analisados neste estado da arte teve como fonte de pesquisa os Anais disponíveis no site da SBS <http://www.sbsociologia.com.br/home/index.php?formulario=congressos&metodo=0&id=3>. das pesquisas sociológicas desenvolvidas no país. Se o estado da arte sobre dissertações e teses representa “o que há de mais sistemático na produção científica sobre o ensino de Sociologia no Brasil” como pontuam Handfas e Maiçara (2015HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43., p. 25), consideramos interessante e pertinente um estado da arte das produções apresentadas no CBS, pois firma-se como um espaço amplo de discussão entre os pares de um campo do conhecimento em que se concentram tanto graduandos, pós-graduandos e docentes do ensino superior e ensino básico.

Especificamente, em relação à temática do ensino de Sociologia no 1º Congresso Brasileiro de Sociologia Florestan Fernandes proferiu o trabalho O ensino de Sociologia na escola secundária brasileira que se tornou referência fundamental na história do ensino de Sociologia no Brasil, pela sua defesa da Sociologia como disciplina curricular obrigatória na escola secundária. Outro texto apresentado no 1º CBS é de autoria de Oracy Nogueira e intitulado Duas experiências no ensino de Sociologia, em que esse professor e cientista social realiza um relato reflexivo sobre experiências de ensino de Sociologia no ensino superior.

Após a primeira realização do CBS constam no site da SBS os Anais do 3º CBS realizado em Brasília, DF, de 10 a 11 de julho de 1987 e do 4º CBS, realizado no Rio de Janeiro, de 1º a 2 de junho de 1989. Contudo, não há registros de trabalhos sobre a temática do ensino de Sociologia nestas edições do evento. No ano de 2003, no 11º CBS, realizado em Campinas, SP, de 1º a 5 de setembro, foram identificados dois trabalhos que tratam do tema do ensino de Sociologia no GT Educação e Sociedade:2 2 É preciso enfatizar que o levantamento ocorreu sobre os trabalhos apresentados somente nos grupos de trabalho, isentando a análise sobre mesas redondas ou palestras proferidas sobre essa temática. Licenciatura em Ciências Sociais e núcleo de ensino/Unesp: trabalho diferenciado na formação de professores de Sociologia, de autoria de Sueli Guadelupe de Lima Mendonça; e, Ensino de Sociologia nos cursos universitários para outros profissionais: possibilidade de conhecimento ou apenas informação, de autoria de Renata Viana de Barros Thomé.

As edições subsequentes foram realizadas nas seguintes cidades e datas: 12º Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Belo Horizonte, MG, de 31 de maio a 3 de junho de 2005; 13º Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Recife, PE, de 29 de maio a 1º de junho de 2007; 14º Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado no Rio de Janeiro, RJ, de 28 a 31 de julho de 2009; 15º Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Curitiba, PR, de 26 a 29 de julho de 2011; 16º Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Salvador, BA, de 10 a 13 de setembro de 2013; 17º Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Porto Alegre, RS, de 20 a 23 de julho de 2015.

Em 2005 o GT 6 intitulado Experiências de ensino em Sociologia: métodos e materiais didáticos inaugura a existência de um GT específico sobre a temática do ensino de Sociologia no CBS. O GT 9 Ensino de Sociologia sobre este título inicia no ano de 2007. Em 2009 o GT 7 Ensino de Sociologia foi coordenado por Amaury Cesar de Moraes da Universidade de São Paulo (USP). No ano de 2011 o GT 9 Ensino de Sociologia esteve sob a coordenação de Amaury César de Moraes (USP) e de Anita Handfas (UFRJ). Sobre a responsabilidade de Anita Handfas (UFRJ) e de Ileizi Fiorrelli Silva, da Universidade Estadual de Londrina (UEL) aconteceram os GTs 10 – Ensino de Sociologia dos anos de 2013 e 2015. Assim, o levantamento, mapeamento e análise dos trabalhos compreendem a edição de 2005 até o ano de 2015, perfazendo dez anos de existência de um GT específico sobre a temática do ensino de Sociologia.

A análise dos trabalhos versou pela identificação quantitativa da produção, especificando as contribuições das diferentes regiões do país, assim como por universidade e por pesquisadores. Além dos temas de pesquisa, dos tipos de pesquisa em relação à metodologia e as bases teóricas mais expressivas foram tabuladas. Esses aspectos analisados possibilitaram responder questões sobre: (1) o desenvolvimento quantitativo das pesquisas sobre o ensino de Sociologia; (2) as temáticas pesquisadas, o que está sendo pesquisado; (3) o caráter metodológico e as bases teóricas das pesquisas sobre ensino de Sociologia, como estão sendo pesquisados; (4) os atores e as instituições envolvidas no interesse acadêmico-profissional sobre o ensino de Sociologia na educação básica, quem está pesquisando.

Os primeiros dados se referem ao número de trabalhos aceitos e trabalhos completos enviados para publicação nos Anais do evento. Nosso levantamento indicou o aumento quantitativo considerável dos trabalhos principalmente no intervalo de 2005 a 2007, período denominado por Moraes (2011)MORAES, Amaury Cesar de. Ensino de Sociologia: periodização e campanha pela obrigatoriedade. Caderno Cedes, v. 31, n. 85, p. 359-382, 2011 <http://www.cedes.unicamp.br> (20 nov. 2015).
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como “Anos de campanha” que compreende o Parecer CEN/CEB nº 38/06 que tornava obrigatório o ensino de Filosofia e Sociologia como componente curricular na educação básica e antecede a aprovação da Lei 11.684 de 2008 que institucionaliza a Filosofia e a Sociologia em todas as séries do ensino médio; e, sobretudo nos anos de 2011 e 2013, o que configura a ascensão da realização de pesquisas sobre a temática do ensino de Sociologia na escola básica. O quadro abaixo demonstra a quantificação.

Quadro 1
Relação de trabalhos aceitos3 3 É importante elucidar que as análises para a construção deste estado da arte referiram-se somente sobre trabalhos que abordavam especificamente o ensino de Sociologia na educação básica, do mesmo modo como procederam Handfas e Maiçara (2015), assim dos 156 trabalhos aceitos enviados aos GTs sobre ensino de Sociologia no CBS (2005-2015), 151 tratavam estritamente desta temática, sendo cinco, portanto, desconsiderados para as análises. e completos no GT sobre ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia (2005-2015)

A variação pode ser também percebida pelo gráfico abaixo.

Gráfico 1
Relação de trabalhos aceitos e completos no GT sobre ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia (2005-2015).

As análises das linhas do gráfico acima permitem considerar uma ascendência na participação nos Gts sobre ensino de Sociologia. Apesar do expressivo aumento no ano de 2013 e na posterior redução no ano de 2015, em relação aos trabalhos aceitos o número de trabalhos em 2015 permaneceu superior ao ano de 2011.

Contudo, estes dados precisam ser relativizados na relação com o Encontro Nacional sobre Ensino de Sociologia na Educação Básica – Eneseb. O decréscimo numérico dos trabalhos aceitos e completos no ano de 2015 não prefigura, no nosso entender, um declínio da produção científica sobre o ensino de Sociologia na escola, somente uma diminuição da participação dos pesquisadores no GT 10 Ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia, isto dito, pois no ano de 2015 o Eneseb,4 4 Em 2015 o Eneseb ocorreu conjuntamente com o CBS. O Eneseb, assim como o CBS também tem uma periodicidade bianual. Suas edições anteriores foram: 3º Eneseb entre os dias 31/05/13 a 3/06/13 em Fortaleza, CE; 2º Eneseb entre os dias 23 a 26 de julho de 2011 em Curitiba, PR; 1º Enesb entre os dias 25 e 27 de julho de 2009 no Rio de Janeiro, RJ. na sua 4ª edição, antecedeu o 17º CBS, sendo realizado de 17 a 19 de julho na cidade de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre, o que pode ter ocasionado consequentemente a concentração das apresentações dos trabalhos no Eneseb em detrimento do CBS. Ressalva-se, porém que em 2009 e 2011 o CBS e o Eneseb ocorreram consecutivamente, excetuando o ano de 2013. O que faz compreender o aumento expressivo dos trabalhos aceitos neste ano do evento, sendo 16 a mais do que em 2011 e 11 a mais do que em 2015, 4 a mais dos trabalhos completos em relação a 2011 e 12 a mais em relação ao ano de 2015.

Seguramente, os dados acima são satisfatórios apenas para a configuração de um panorama geral do desenvolvimento quantitativo de participações no GT sobre o ensino de Sociologia na educação básica, mas que permite inferir sobre o interesse crescente no desenvolvimento de pesquisas sobre esta temática. Contudo, para nos aproximarmos dos espaços de produção e de circulação desse conhecimento, consideramos importante incorporar outros dados a este quadro, como o mapeamento das regiões e das instituições com maior participação no decorrer desses dez anos. O gráfico abaixo mostra um comparativo entre as regiões participantes.

Gráfico 2
Participação por região brasileira no GT sobre ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia (2005-2015)

Constatamos a maior participação das Regiões Sudeste, Sul e Nordeste em detrimento das Regiões Norte e Centro-Oeste e relacionamos ao fato de que das seis edições do CBS analisadas entre os anos de 2005 a 2015, duas ocorreram na Região Sudeste (2005 e 2009), duas na Região Sul (2011 e 2015) e duas na Região Nordeste (2007 e 2013). Assim, é necessário considerar que essa linha de realização do CBS Nordeste-Sudeste-Sul obstaculariza uma maior circulação, participação e difusão das pesquisas no campo da Sociologia por todas as regiões geográficas do Brasil. Com efeito, se os dados quantitativos assinalam a distribuição das pesquisas por regiões do Brasil, consideramos necessário identificar e localizar as instituições de ensino com maior participação para constatar as instituições que vem se consolidando ou estão consolidadas na pesquisa sobre o ensino de Sociologia na educação básica. O quadro abaixo mostra quantitativamente o número de trabalhos completos enviados5 5 Para a construção deste quadro optamos por expor somente as instituições que figuravam com três ou mais trabalhos completos enviados ao GT sobre ensino de Sociologia no CBS (2005-2015). pelas instituições e sistemas de ensino.

Quadro 2
Relação de trabalhos completos por instituição e sistema de ensino no GT sobre ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia (2005-2015)

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) tem papel destacado na participação no CBS mantendo não somente uma constância, mas um número significativo de trabalhos por evento. Seguida da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de São Paulo (USP). A consolidação destas instituições sobre a temática do ensino de Sociologia na educação básica está vinculada a existência dos laboratórios de ensino nas IES.

O Laboratório Virtual e Interativo de Ciências Sociais (Laviecs/Ufrgs), criado sobre a coordenação de Luiza Helena Pereira, em 2006, desenvolve pesquisas sobre os temas Sociologia e realidade escolar e Práticas pedagógicas e mediação didática em ensino da Sociologia, assim como, cursos de extensão e de especialização sobre o ensino de Sociologia para o ensino médio, hoje tendo como líderes Daniel Gustavo Mocelin e Leandro Raizer. Na UFRJ o Laboratório de Ensino de Sociologia Florestan Fernandes (Labes/UFRJ) que desenvolve pesquisas sobre três aspectos: (1) As Ciências Sociais no Brasil e a constituição da Sociologia como disciplina escolar; (2) A Sociologia na Educação Básica; e, (3) O mapa da Sociologia na Educação Básica no estado do Rio de Janeiro. O Labes/UFRJ tem como coordenadoras Anita Handfas e Júlia Polessa Maiçara. O Laboratório de Ensino de Sociologia (LES) da Universidade de São Paulo, coordenado por Ana Paula Hey, desenvolve como projeto o site USP ensina Sociologia que objetiva a produção e divulgação de materiais didáticos para o ensino de Sociologia no ensino médio e o desenvolvimento de pesquisas sobre essa temática. Como laboratório de ensino é importante destacar também o Laboratório de Ensino Pesquisa e Extensão Formação inicial e continuada de professores das Ciências Sociais, elaboração de materiais didáticos e pesquisas sobre juventudes e desigualdades socioeducacionais (Lenpes), da Universidade Estadual de Londrina, que desenvolve cursos de formação continuada na área das Ciências Sociais e projetos de pesquisa como Juventudes no ensino médio: um estudo sociológico em escolas públicas da região de Londrina, coordenado por Ângela Maria de Sousa Lima e tendo como colaboradora Ileizi Luciana Fiorelli Silva. Também é importante destacar a participação crescente nas últimas três edições do evento de trabalhos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em que registra-se a existência do Laboratório de Pesquisa em Ensino de Ciências Sociais (Lapis), com a coordenação de Ana Laudelina Ferreira Gomes.

Nesse sentido, os laboratórios de ensino têm funcionado como um espaço privilegiado de promoção a pesquisa vinculado ao desenvolvimento de práticas didático-metodológicas para o ensino de Sociologia no ensino médio. Objetivam a relação escola-centros acadêmicos, no sentido, tanto de aproximar de modo preparatório e com olhar investigativo os alunos dos cursos de formação de professores de Sociologia com a escola básica, como, por outro lado, (re)aproximar os professores em exercício nas escolas com a universidade. Monteiro, Diniz e Santos (2013)MONTEIRO, José Marciano; DINIZ, Paulo Cesar Oliveira; SANTOS, Valdonilson Barbosa dos. O papel dos laboratórios de pesquisa e prática de ensino em ciências sociais: o desafio na formação de professores no Cariri Paraibano. Inter-Legere, n. 13. p. 250-267, 2013 <http://www.periodicos.ufrn.br/interlegere/article/view/4175> (20 nov. 2015).
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em artigo sobre o papel dos laboratórios de pesquisa e prática de ensino em ciências sociais, ao analisarem as experiências metodológicas dos Laboratórios de Pesquisa e Prática de Ensino em Ciências Sociais (Lappcs) do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais, do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA/UFCG), pontuam que os laboratórios possibilitam: (1) o contato prévio do licenciando em Ciências Sociais com a escola; (2) o contato com a pesquisa sobre o ensino de Ciências Sociais; e (3) o desenvolvimento de novas perspectivas metodológicas para o ensino de Ciências Sociais.

Dessa forma, é interessante ler o depoimento de Joana D'Arc Moreira Nolli em relação a sua participação durante a sua formação como graduada e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) no Laboratório de Ensino de Sociologia (LES) desta instituição.

A minha participação no LES me colocou perante uma realidade que me ensinou a preparar materiais didáticos, a conhecer os métodos de ensino, e resultou até mesmo em desenvolvimento de artigo para apresentação em congresso e, posteriormente, em publicação eletrônica. […] foi pela minha participação no LES que adquiri conhecimentos diretamente relacionados ao ensino de Sociologia e vivenciei a luta incessante e perseverante daqueles que pensam em mudanças qualitativas para a educação e, consequentemente, para a realidade social e, portanto, precisam pensar politicamente. Também foi a minha participação no projeto que me direcionou para o ensino de Sociologia e me levou a exercer a profissão com comprometimento […] (Nolli, 2009NOLLI, Joana D'Arc Moreira; FERREIRA, Carolina de Castro (Carolina de Castro Ferreira). Da graduação à profissão: trajetórias de ex-alunas do curso de ciências sociais da Universidade Estadual de Londrina (UEL) que participaram da consolidação do laboratório de ensino de Sociologia (LES). In: César Augusto de Carvalho (org.). A Sociologia no ensino médio: processo em construção. Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina, Eduel, 2009. v. 1, p. 209-217., p. 216).

Ao relacionarmos a participação em um determinado lócus de discussão temática, com a filiação institucional somos implicados na observação das trajetórias dos atores sociais, na identificação dos professores-pesquisadores, que difundem e desenvolvem o campo de pesquisa sobre o ensino de Sociologia e se consolidam como referências de saber sobre esta temática. Assim temos destacada a participação6 6 A ordenação dos professores-pesquisadores ocorreu de forma decrescente em relação à quantidade de trabalhos completos enviados ao CBS entre os anos de 2005-2015. de Luiza Helena Pereira, Mauro Meirelles e Leandro Raizer da Ufrgs; Anita Handfas, Júlia Polessa Maiçara e Alexandre Barbosa Fraga da UFRJ; Cassiana Tiemi Tedesco Takagi; Roberta dos Reis Neuhold e Thiago Oliveira Lima Matiolli da USP; Sueli Guadelupe de Lima Mendonça e Maria Valéria Barbosa Veríssimo da Unesp/Marília; Fátima Ivone de Oliveira Ferreira e Rogério Mendes de Lima do Colégio Pedro II; Ângela Maria de Sousa Lima da UEL; Amurabi Oliveira e Helson Flávio da Silva Sobrinho da Ufal; Diogo Tourino de Sousa da UFV; Josevânia Nunes Rabelo da UFS; e, Danyelle Nilin Gonçalves da UFC.

Contudo, depreendemos que esses dados inserem-se na dinâmica dos diferentes percursos profissionais que redirecionam e difundem as pesquisas para outras instituições. Os professores Amurabi Oliveira (docente Ufal 2010-2014 e da Ufsc a partir de 2014) Leandro Raizer (docente do IFRS 2010-2015 e da Ufrgs a partir de 2015) e Thiago Ingrassia (com formação pela Ufrgs e docente da Uffs desde 2010) são exemplos desse movimento acadêmico que contribui para o desenvolvimento e a propagação das pesquisas sobre o ensino de Sociologia na educação básica, ao mesmo tempo em que, por outro lado, evidenciam que as pesquisas sobre um determinado tema relacionam-se tanto ou mais aos interesses dos professores-pesquisadores do que institucionais ou contextuais.

Outro dado interessante denuncia a pouca expressividade da participação de professores da educação básica,7 7 Não desconsideramos a hipótese de pós-graduandos atuarem concomitantemente como professores da educação básica, contudo, as informações de identificação nos trabalhos não permitem elaborar outros dados se não estes apresentados aqui. Seria de toda forma interessante analisar como os licenciados em Sociologia/ciências sociais e professores da educação básica circulam entre esses espaços e ressignificam práticas pedagógicas e de pesquisa. excetuando o Colégio Pedro II (Rio de Janeiro), com apresentação de pesquisas no GT sobre ensino de Sociologia na educação básica. Essa constatação insere a pesquisa sobre o ensino de Sociologia na discussão presente de outras disciplinas e cursos de formação do fosso existente entre a educação básica e os centros acadêmicos, por mais que os laboratórios de ensino pretendam essa proximidade. O quadro abaixo demonstra a quantidade de trabalhos por sistema de ensino da educação básica.

Quadro 3
Relação de trabalhos completos no GT sobre ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia (2005 - 2015), por sistema de ensino da educação básica

Contudo, para além de identificar e mapear os trabalhos apresentados nos GTs sobre ensino de Sociologia em relação a autoria e instituição que permitem visualizar os campos de produção e circulação dessas pesquisas, é necessário caracterizar os aspectos teórico-metodológicos, as temáticas, os tipos de pesquisa e as principais bases teóricas que delineiam modos de observação, compreensão e concepções sobre o ensino de Sociologia na educação básica. Dessa forma, os trabalhos8 8 As análises sobre os aspectos teórico-metodológicos de temas de pesquisa, tipos de pesquisa e base teórica referencial foram realizadas sobre os trabalhos completos (131 trabalhos) pelo fato de ter acesso ao texto de forma integral. foram categorizados em seis temas amplos: (1) Práticas pedagógicas, metodologias, recursos (livros didáticos), didáticas; (2) Institucionalização da Sociologia como disciplina (os primeiros manuais, história da disciplina escolar, disputas pela implantação da Sociologia no ensino médio e ensino fundamental, ensino da Sociologia como disciplina em outros cursos de graduação, licenciatura em Sociologia); (3) Formação docente (formação básica e continuada); (4) Percepções sobre o ensino de Sociologia no ensino médio (discentes, docentes, sentidos); (5) Currículo (orientações curriculares, legislação); e, (6) Trabalho docente (saberes docentes, condições de trabalho do professor de Sociologia); além de serem identificadas pesquisas de estado da arte.9 9 Pesquisas de estado da arte se referem a metodologia, mas que aqui, preferimos relacionar conjuntamente com a caracterização sobre temas na perspectiva de que as pesquisas de estado da arte se realizam de forma ampla ao tema do ensino de Sociologia na escola básica tendo por base a produção de dissertações e teses. O gráfico abaixo traz a representação percentual pela quantidade de trabalhos analisados.

Gráfico 3
Classificação dos trabalhos por tema nos GTs sobre ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia (2005-2015)

Desta perspectiva, é possível elaborar considerações que podem exprimir tendências das pesquisas sobre o ensino de Sociologia na educação básica, na relação com o espaço de difusão desse conhecimento. A primeira observação se relaciona a maior prevalência de pesquisas sobre práticas pedagógicas, metodologias, recursos (livros didáticos) e didáticas de ensino de Sociologia. Assim, como também identificado nos trabalhos de Handfas e Maiçara (2015HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43., p. 36) sobre dissertações e teses, há uma “aproximação dos temas de interesse com a aplicabilidade da Sociologia no contexto escolar”. As práticas pedagógicas aparecem tanto nas pesquisas de investigação em campo, como relatos reflexivos de experiências pedagógicas.

Para Handfas e Maiçara (2015HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43., p. 36) o interesse pela “dimensão prática da Sociologia na escola”, está vinculado: (1) a sua recente existência como disciplina escolar; e (2) ao fato de muitos pesquisadores terem experiência na educação básica, fazendo de suas próprias práticas objeto de reflexão. É possível refletir também que o modo de ensino é uma inquietação sempre presente na reflexão sobre o ensino de Sociologia na escola média, do desenvolvimento de práticas pedagógicas, da transposição didática e da tradução da linguagem sociológica, que pode ser encontrada tanto no campo da história do ensino de Sociologia no clássico texto de Florestan Fernandes O ensino de Sociologia na escola secundária brasileira (1954) até nas Orientações Curriculares Nacionais (2006).

Identificamos em segundo plano um número significativo de trabalhos na categoria ampla da Institucionalização da Sociologia como disciplina em que também abarcamos a história da disciplina escolar, a análise dos primeiros manuais didáticos, as disputas pela implantação da Sociologia no ensino médio e ensino fundamental, inclusive a institucionalização do ensino da Sociologia como disciplina em outros cursos de graduação. Contudo, a análise dos dados pormenorizados revela um declínio de trabalhos sobre esta temática no ano de 2015 em relação às edições anteriores do CBS. Passada a luta e a efervescência pela institucionalização da Sociologia como disciplina escolar obrigatória em todas as séries do ensino médio o foco de atenção torna-se as práticas pedagógicas, a formação docente, as percepções e os sentidos sobre o ensino de Sociologia.

A formação docente básica e continuada representa um tema de interesse constante e relaciona-se tanto com a formação de professores de Sociologia para o ensino médio, na problematização entre o bacharelado e a licenciatura, como na atenção com professores em atuação na disciplina de Sociologia na educação básica, não formados especificamente na licenciatura em Sociologia ou Ciências Sociais. O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica (Pibid)10 10 Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica fomentado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes) que objetiva o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. também configura-se como um objeto de reflexão sobre a contribuição na formação docente e o impacto das suas ações no ambiente escolar.

Percepções e sentidos sobre o ensino de Sociologia no ensino médio de professores, professores em formação e estudantes da educação básica relacionam-se diretamente a sua reintrodução como disciplina obrigatória curricular em todas as séries do ensino médio, relaciona-se a sua legalização e a sua legitimação social. Percepções e sentidos sobre o ensino de Sociologia relacionam-se a definição de objetivos, da sua função e efeitos como disciplina escolar. Os trabalhos sobre esta temática tiveram um acréscimo considerável no ano de 2009, logo após a Lei. 11.684, justamente pela discussão sobre por que ensinar Sociologia na escola.

A temática sobre currículo aparece em nossa análise não de forma expressiva, pois assim qualificamos os trabalhos que se debruçaram estritamente sobre as orientações curriculares para o ensino de Sociologia. Trabalho docente também se configurou como um tema pouco expressivo o que denota ainda a insuficiência da problematização para as condições de trabalho do professor e seus efeitos na prática pedagógica. O que depreendemos, por fim, dessas análises por meio da leitura dos trabalhos e pesquisas é a imbricação dos aspectos de constituição, formação e atuação da Sociologia como disciplina escolar e, que assim, por mais que haja recortes de análise e categorizações a compreensão da Sociologia na escola ocorre pelo conjunto e dinamização de todos os seus aspectos.

Outra base de análise dos trabalhos que participaram dos GTs sobre ensino de Sociologia no CBS (2005-2015) se refere ao tipo de pesquisa, aos principais critérios metodológicos adotados. Neste sentido, três tipos de pesquisas foram elencados: (1) Pesquisa empírica; (2) Pesquisa documental; e (3) Pesquisa teórica. Os trabalhos na forma de relatos de experiência também foram classificados. O Gráfico 4 retrata a categorização dos tipos de pesquisa.

Gráfico 4
Classificação dos trabalhos por tipos de pesquisa nos GT sobre ensino de Sociologia no Congresso Brasileiro de Sociologia (2005-2015)

Há uma prevalência das pesquisas empíricas, utilizando como técnicas de pesquisa a aplicação de questionários, entrevistas e estudos de caso, também foram identificadas pesquisas do tipo de pesquisa-ação e pesquisa-participante (em menor quantidade). As pesquisas empíricas relacionam-se ao seu objeto de estudo em que, sobretudo práticas pedagógicas e a formação docente são analisadas. A pesquisa documental se refere tanto a análise de legislações, documentos oficiais, tanto atuais como históricos, grades curriculares, programas de ensino, projetos de formação de cursos de licenciatura em Sociologia. Ou seja, “entendemos por documento qualquer registro que possa ser usado como fonte de informação, por meio de investigação” (Prodanov, Freitas, 2013PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. de. Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013., p. 56) que envolva observação, leitura, reflexão e crítica. Os relatos de experiência apareceram de forma significativa e se relacionaram tanto a práticas na escola básica como relatos de estágio e de professores formadores dos cursos de licenciatura em Sociologia na reflexão sobre suas práticas. A pesquisa bibliográfica que se configura de modo prevalecente na compreensão das funções do ensino de Sociologia, na relação entre concepções da ciência do social com a sua possibilidade didática e seus efeitos na formação da juventude escolarizada.

Por fim, o último elemento de análise foi sobre os referenciais teóricos o qual a vastidão de autores utilizados e o modo como são utilizados a torna complexa. Dessa forma, optamos pela simplificação em elencar os autores mais citados nos trabalhos, realizando a categorização entre os autores das ciências sociais e da área da educação, na consciência do entrelaçamento entre essas áreas do saber tendo como foco a educação e de forma específica o ensino de Sociologia. Assim, tivemos como principais referências utilizadas do campo das Ciências Sociais, em ordem decrescente de citações: Pierre Bourdieu, Florestan Fernandes, Anthony Giddens, C. Wright Mills, Zigmunt Baumann, Antonio Gramsci, Bernard Lahire, Boaventura de Souza Santos, Karl Marx, Max Weber, Basil Bernestein, Emile Durkheim, Peter Berger. Em relação ao campo da educação foram utilizados, sobretudo Paulo Freire e Demerval Saviani, sendo citado também, em menor expressividade, Maurice Tardif sobre as questões de práticas pedagógicas e trabalho docente e Tomaz Tadeu da Silva em relação ao currículo.

Consideramos, contudo a necessidade e a proficuidade de estreitar ainda mais o diálogo entre essas duas áreas do conhecimento, sobretudo no que diz respeito a contribuição da educação sobre didáticas e metodologias, práticas pedagógicas, trabalho docente, gestão escolar e educacional que influenciam a disciplina de Sociologia na escola básica. Da mesma forma, ao fazermos esta observação aqui, consideramos que se há uma preocupação da Sociologia na tradução da linguagem sociológica, ponderamos sobre a necessidade do desenvolvimento de didáticas e metodologias em conformidade com a linguagem, com os sentidos e as especificidades do ensino de Sociologia na educação básica.

Dito isso, outro aspecto que consideramos positivo em relação as referências bibliográficas utilizadas é a constatação do significativo embasamento nas pesquisas e trabalhos realizados por professorespesquisadores brasileiros.11 11 Seria de toda forma também produtivo a tomada de conhecimento tanto sobre as experiências da Sociologia na escola como a relação com pesquisas sobre o ensino de Sociologia em outros países. Temos como exemplo a publicação de Michael DeCesare professor do Departamento de Sociologia do Merrimack College, Estados Unidos, que publicou na revista Educação e Realidade, no ano de 2014, o artigo intitulado 95 anos de ensino de Sociologia no Ensino Médio. Amaury Cesar Moraes, Amurabi Oliveira, Anita Handfas, Ileizi Fiorelli Silva, Luiza Helena Pereira, Mário Bispo dos Santos, Simone Meucci, entre outros, constituem-se como referências e demarcam redes humanas de produção, desenvolvimento, circulação e difusão do conhecimento sobre ensino de Sociologia no ensino médio.

Considerações finais

Neste artigo nos propusemos a realizar o estado da arte do ensino de Sociologia na educação básica, tendo por base as pesquisas e os trabalhos apresentados nos GTs sobre ensino de Sociologia do Congresso Brasileiro de Sociologia, evento realizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia. Escolhemos este evento pela sua importância histórica e acadêmica. Fizemos esta escolha a fim de conhecer e compreender outras dinâmicas de produção, circulação e difusão do conhecimento. Nesse sentido, compreendemos que outros trabalhos possam ser realizados nesta perspectiva que servem tanto como uma historicização como um complemento aos trabalhos de estado da arte sobre dissertações e teses. Delimitamos um tempo, pelo registro da história, que demarcou dez anos da existência de um grupo de trabalho (GT) específico sobre o ensino de Sociologia na educação básica (2005-2015).

Objetivamos responder as questões sobre o desenvolvimento quantitativo das pesquisas sobre o ensino de Sociologia; as temáticas pesquisadas, o caráter metodológico e as bases teóricas das pesquisas; e os atores e as instituições envolvidas no interesse acadêmico-profissional sobre o ensino de Sociologia na educação básica.

Verificamos, de forma geral, a ascensão numérica da participação no GT sobre ensino de Sociologia no decorrer desses dez anos, no evento do CBS. A quantificação dos trabalhos foi relacionada às regiões de produção, as instituições e sistemas de ensino. Nesse sentido, percebeu-se um eixo regionalizado de produção na coexistência com o eixo de realização do CBS. O que tornaria interessante uma maior dinamização do evento como modo de circulação e mesmo de incentivo a produção de pesquisas. Constatamos, da mesma forma, a quantificação das pesquisas na relação com os Laboratórios de Ensino das Instituições de Ensino Superior e sua importância na consolidação do ensino de Sociologia na educação básica como um campo de prática e de pesquisa e ainda, de uma prática refletida.

Identificamos os pesquisadores, professores que se efetivam como referências sobre o ensino de Sociologia na escola ao revelar trajetórias constantes de participação e desenvolvimento de pesquisas e também como difusores desta temática de pesquisa ao realizarem seus percursos profissionais. Se há referências sobre instituições de ensino superior, há pouca expressividade da participação dos professores de escola, inserindo desde já os espaços de discussão sobre o ensino de Sociologia na educação básica no fosso entre escola e universidade. É preciso, contudo, demarcar a importância, na contramão dessa tendência, de Mário Bispo dos Santos, professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal, e dos professores Fátima Ivone de Oliveira Ferreira e Rogério Mendes de Lima do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Contudo, é necessário repensar formas de participação dos professores de escola para a efetivação do diálogo entre escola e universidade e para que ambas as esferas de educação e formação tenham sentidos recursivos e ressignificadores de práticas e pesquisas.

Em relação a caracterização das pesquisas constatamos a preponderância das práticas pedagógicas, metodologias, recursos (livros didáticos), didáticas como tema de pesquisa, o que corrobora as análises de Handfas e Maiçara (2015)HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43. do estado da arte sobre dissertações e teses (1993-2012) cujos resultados indicam um

olhar para a sala de aula, no sentido de compreender as formas de implementação da disciplina nos currículos, nos recursos didáticos na prática pedagógica do professor de Sociologia, do que para uma compreensão mais ampla dos processos didáticos, históricos e sociológicos que envolvem a presença da Sociologia no contexto escolar (Handfas, Maiçara, 2015HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43., p. 39-40).

Ao mesmo tempo em que concordamos com as autoras pontuamos que as análises microcontextuais de práticas pedagógicas, metodologias de ensino de caráter mais descritivo, como demarcam Handfas e Maiçara (2015)HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43., não são suficientes se justamente perdem-se do horizonte, ou melhor, dos condicionamentos amplos dos processos didáticos, históricos e sociológicos da Sociologia como disciplina na escola. Além disso, a escolha temática deve ser relativizada no tempo e contexto de produção como é possível verificar pelo tema da institucionalização da Sociologia como disciplina, que apesar de certa constância, tem diminuído seu foco de interesse passado o fervor da legitimação da mesma como obrigatória em todas as séries do ensino médio pela Lei 11.684 de 2008. Assim, se há tendências temáticas de pesquisa é preciso questionar os seus motivos.

Moraes (2011)MORAES, Amaury Cesar de. Ensino de Sociologia: periodização e campanha pela obrigatoriedade. Caderno Cedes, v. 31, n. 85, p. 359-382, 2011 <http://www.cedes.unicamp.br> (20 nov. 2015).
http://www.cedes.unicamp.br...
ao relatar sobre a luta pela obrigatoriedade do ensino de Sociologia e filosofia entre os anos de 1998-2008 que culminou na Lei 11.684/2008, encerra o seu texto afirmando que o “debate agora passa a ser sobre a formação do professor de Sociologia e os conteúdos a serem lecionados, mas isso é outra história” (Moraes, 2011MORAES, Amaury Cesar de. Ensino de Sociologia: periodização e campanha pela obrigatoriedade. Caderno Cedes, v. 31, n. 85, p. 359-382, 2011 <http://www.cedes.unicamp.br> (20 nov. 2015).
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, p. 376). Após a realização de uma descrição das reformas educacionais brasileiras de inclusões e exclusões da Sociologia na educação básica, Cigales (2014)CIGALES, Marcelo Pinheiro. O ensino da Sociologia no Brasil: perspectiva de análise a partir da história das disciplinas escolares. Revista Café com Sociologia, v. 3, n. 1, p. 49-67, 2014. <http://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista/article/view/100> (12 mar. 2014).
http://revistacafecomsociologia.com/revi...
também conclui que a Lei 11.684, de 2 de junho de 2008, encerra a discussão sobre a importância desta disciplina para a educação escolar. Ressaltada a importância da permanência da discussão sobre a formação dos professores, materiais didáticos, conteúdos curriculares e metodologias de ensino.

Nada obstante, destacamos que a obrigatoriedade não põe fim a reflexão sobre a funcionalidade, a importância da Sociologia no ensino médio e que nem este “encerramento” deve ser mirado. A própria história curricular nos demonstra a dinamicidade dela mesma. E se a Lei 11.684 efetiva a Sociologia como disciplina curricular em todos os anos do Ensino Médio, a legitimidade da mesma não ocorre somente pela obrigatoriedade legal, mas é decorrência de toda a dinâmica da sua efetivação e produção de sentidos nas diferentes esferas dos sistemas de ensino. As pesquisas, dessa forma, quer sejam sobre conteúdos, metodologias de ensino, formação de professores podem atuar no sentido da sua legitimação social, que não necessariamente condiz com a legalização, e da consolidação da sua relevância na formação dos jovens. Além disso, ter como pressuposto que a importância da Sociologia como disciplina escolar está encerrada, pode significar a sua própria naturalização.

A pesquisa empírica como preponderante em relação ao tipo de pesquisa denota a importância dada a observar o campo de pesquisa e revelar a concepção dos atores envolvidos na estrutura e dinâmica escolar em que se efetiva o ensino de Sociologia, com a utilização, sobretudo de técnicas de entrevista e aplicação de questionários. São relevantes os trabalhos caracterizados como relatos de experiência que demonstra a preocupação do desenvolvimento de práticas refletidas tanto na formação básica como na formação de professores, ou seja, podemos inferir que pelo caráter intrínseco das ciências sociais como problematização das relações sociais, como ciência empírica que se volta para o cotidiano os professores de Sociologia constituem-se como reflexivos da sua própria prática.

Em relação aos referenciais teóricos é prevalecente a fundamentação em teorias críticas da educação com foco na reprodução escolar, na relação entre escolarização e classe social, sobretudo com Pierre Bourdieu (2007)BOURDIEU, Pierre. A distinção: a crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2007. e, da denominada Nova Sociologia da Educação, com Basil Bernestein (1996)BERNESTEIN, Basil. A estruturação do discurso pedagógico: classe, código e controle. Vozes: Petrópolis, 1996., cujo foco centra-se na compreensão da organização estrutural curricular como aparelho ideológico. Se até a década de 60 os estudos da Sociologia da Educação e, de uma Sociologia Crítica da Educação embasavam-se em perspectivas macrossociais pela relação da distinção entre as classes sociais e o sistema escolar, a década de 70 com a Nova Sociologia da Educação inaugura a pesquisa sociológica na educação em nível microssocial em que escola, currículo, relações sociais dentro do espaço escolar tornam-se o foco de atenção (Mitrulis, 1983MITRULIS, Eleny. Educação e currículo: promessas e contribuições da Nova Sociologia da Educação. Revista da Faculdade de Educação, n. 9, v. 2, p. 93-106, 1983.). Contudo, de forma generalizada, a despeito das especificidades teórico-metodológicas, as inegáveis contribuições tanto da Sociologia Crítica da Educação como da Nova Sociologia da Educação para a compreensão da educação escolar centra-se na relação entre conhecimento e poder, na percepção do conhecimento, da escola como construções sociais e por isso passíveis de serem questionados e transformados.

Florestan Fernandes que desenvolve a Sociologia crítica no Brasil tem relevância considerável nos trabalhos sobre ensino de Sociologia na escola, sobretudo em função do seu texto O ensino de Sociologia na escola secundária brasileira proferido no 1º Congresso Brasileiro de Sociologia do ano de 1954, em que realiza uma defesa a inclusão do ensino de Sociologia na escola. Anthony Giddens (1997)GIDDENS, Anthony. LASCH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora Estadual Paulista, 1997., teórico da modernidade, e de uma modernidade reflexiva tem contribuição destacada justamente na compreensão da reflexividade para o desenvolvimento de si numa sociedade em que as atividades locais, as ações cotidianas “são influenciadas, e às vezes, até determinadas, por acontecimentos ou organismos distantes” e “produzem consequências globais” (Giddens, 1997GIDDENS, Anthony. LASCH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora Estadual Paulista, 1997., p. 74-75). Dessa forma, pensar o ensino de Sociologia na escola no seu aspecto reflexivo também encontra fundamentação nesta perspectiva sociológica.

A questão da reflexividade também é encontrada em Charles Wright Mills (1975)MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. com a imaginação sociológica e torna-se referência constante nas reflexões sobre o sentido, os efeitos do ensino de Sociologia para os jovens na relação entre história, estrutura social e biografia no desenvolvimento da capacidade reflexiva pela problematização e compreensão da relação indivíduo-sociedade. Por esta especificidade, a Sociologia na escola adquire um caráter formativo. Peter Berger na teorização da realidade como construção social, defende em Perspectivas sociológicas (2011) o interesse da Sociologia como essencialmente teórica, cujo objetivo é a compreensão da sociedade. A consciência sociológica, a observação metódica da realidade não está desatrelada, porém da descoberta e aquisição de valores humanos como humildade, altruísmo, respeito diante da diversidade e da condição humana.

Em relação aos teóricos da educação e da pedagogia, Paulo Freire (2002)FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessárias à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. e Demerval Saviani (1999)SAVIANI, Demerval. Escola e democracia: polêmicas do nosso tempo. 32. ed. Campinas: Autores Associados, 1999., que também se inserem em concepções críticas da educação, embora Saviani elabore uma crítica as teorias críticasreprodutivistas,12 12 Esta crítica às teorias crítico-reprodutivistas que Saviani realiza pode ser encontrada no livro Escola e democracia: polêmicas do nosso tempo, editado pela editora Autores Associados (1999). são os mais citados. Contudo, conforme Silva (2007)SILVA, Tomaz T. da. Documentos de identidade: uma introdução as teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. há diferenças essenciais nas respectivas compreensões sobre a relação entre educação e política desses educadores brasileiros. Se em Pedagogia da autonomia (2002), Freire defende que a prática educativa ao envolver sujeitos com e de opções, conteúdos e métodos social e culturalmente escolhidos tornase política, por não ser neutra; Saviani separa educação e política, demarcando uma especificidade pedagógica no conhecimento, que ao chegar às classes subordinadas pode transformar-se num instrumento político. Nesse sentido, as opções teóricas das pesquisas sobre o ensino de Sociologia na escola se embasadas em Freire ou em Saviani denotam concepções diferenciadas da própria construção do conhecimento e da função escolar.

Por fim, pontuamos a importância e a proficuidade da utilização dos referenciais teóricos e a familiaridade com a produção nacional sobre o ensino de Sociologia na escola básica. Podemos dizer que os cientistas sociais, professores de Sociologia, sejam em formação ou tendo trajetórias acadêmicas e professorais consolidadas são, e desculpem-nos a informalidade, um povo que se lê. O que contribui de forma significativa no desenvolvimento qualitativo das pesquisas sobre a temática do ensino de Sociologia na escola básica, quer seja sobre os aspectos históricos, institucionais, curriculares, de práticas pedagógicas, da formação docente, de objetivos e sentidos, ou seja, nos avanços da pesquisa sociológica sobre o ensino de Sociologia.13 13 É preciso ressalvar, como pontua Amurabi Oliveira, em aula no dia 29 de março de 2016 na Universidade Federal de Santa Maria, que esta característica também pode resultar na repetição de dados e na reprodução de concepções sobre o ensino de Sociologia na educação básica, sobretudo no aspecto histórico. O que constitui redes humanas que através de eventos como o Congresso Brasileiro de Sociologia pelo GT Ensino de Sociologia cujo Estado da Arte aqui se debruçou e também do Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia, de caráter nacional e os eventos regionais, tem a fortalecer e difundir e assim, contribuir para uma constante problematização e desenvolvimento de pesquisas para a qualidade do ensino de Sociologia na educação básica, para a contribuição desse saber na formação dos jovens.

  • 1
    Os Anais constituem meio de divulgação da produção científica, assim como, um registro dessa história. No site da SBS estão disponíveis os trabalhos apresentados no 1º, 3º e 4º CBS e posteriormente do 11º ao 16º. O levantamento dos trabalhos analisados neste estado da arte teve como fonte de pesquisa os Anais disponíveis no site da SBS <http://www.sbsociologia.com.br/home/index.php?formulario=congressos&metodo=0&id=3>.
  • 2
    É preciso enfatizar que o levantamento ocorreu sobre os trabalhos apresentados somente nos grupos de trabalho, isentando a análise sobre mesas redondas ou palestras proferidas sobre essa temática.
  • 3
    É importante elucidar que as análises para a construção deste estado da arte referiram-se somente sobre trabalhos que abordavam especificamente o ensino de Sociologia na educação básica, do mesmo modo como procederam Handfas e Maiçara (2015)HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia P. O estado da arte da produção científica sobre o ensino de Sociologia na educação básica. In: Anita Handfas; Julia P. Maçaira; Alexandre Barbosa Fraga (orgs.). Conhecimento escolar e ensino de Sociologia: instituições, práticas e percepções. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. p. 20-43., assim dos 156 trabalhos aceitos enviados aos GTs sobre ensino de Sociologia no CBS (2005-2015), 151 tratavam estritamente desta temática, sendo cinco, portanto, desconsiderados para as análises.
  • 4
    Em 2015 o Eneseb ocorreu conjuntamente com o CBS. O Eneseb, assim como o CBS também tem uma periodicidade bianual. Suas edições anteriores foram: 3º Eneseb entre os dias 31/05/13 a 3/06/13 em Fortaleza, CE; 2º Eneseb entre os dias 23 a 26 de julho de 2011 em Curitiba, PR; 1º Enesb entre os dias 25 e 27 de julho de 2009 no Rio de Janeiro, RJ.
  • 5
    Para a construção deste quadro optamos por expor somente as instituições que figuravam com três ou mais trabalhos completos enviados ao GT sobre ensino de Sociologia no CBS (2005-2015).
  • 6
    A ordenação dos professores-pesquisadores ocorreu de forma decrescente em relação à quantidade de trabalhos completos enviados ao CBS entre os anos de 2005-2015.
  • 7
    Não desconsideramos a hipótese de pós-graduandos atuarem concomitantemente como professores da educação básica, contudo, as informações de identificação nos trabalhos não permitem elaborar outros dados se não estes apresentados aqui. Seria de toda forma interessante analisar como os licenciados em Sociologia/ciências sociais e professores da educação básica circulam entre esses espaços e ressignificam práticas pedagógicas e de pesquisa.
  • 8
    As análises sobre os aspectos teórico-metodológicos de temas de pesquisa, tipos de pesquisa e base teórica referencial foram realizadas sobre os trabalhos completos (131 trabalhos) pelo fato de ter acesso ao texto de forma integral.
  • 9
    Pesquisas de estado da arte se referem a metodologia, mas que aqui, preferimos relacionar conjuntamente com a caracterização sobre temas na perspectiva de que as pesquisas de estado da arte se realizam de forma ampla ao tema do ensino de Sociologia na escola básica tendo por base a produção de dissertações e teses.
  • 10
    Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica fomentado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes) que objetiva o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica.
  • 11
    Seria de toda forma também produtivo a tomada de conhecimento tanto sobre as experiências da Sociologia na escola como a relação com pesquisas sobre o ensino de Sociologia em outros países. Temos como exemplo a publicação de Michael DeCesare professor do Departamento de Sociologia do Merrimack College, Estados Unidos, que publicou na revista Educação e Realidade, no ano de 2014, o artigo intitulado 95 anos de ensino de Sociologia no Ensino Médio.
  • 12
    Esta crítica às teorias crítico-reprodutivistas que Saviani realiza pode ser encontrada no livro Escola e democracia: polêmicas do nosso tempo, editado pela editora Autores Associados (1999).
  • 13
    É preciso ressalvar, como pontua Amurabi Oliveira, em aula no dia 29 de março de 2016 na Universidade Federal de Santa Maria, que esta característica também pode resultar na repetição de dados e na reprodução de concepções sobre o ensino de Sociologia na educação básica, sobretudo no aspecto histórico.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2016

Histórico

  • Recebido
    30 Jul 2016
  • Aceito
    23 Set 2016
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